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 SOBRE A DEFICIÊNCIA VISUAL

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Pessoas com deficiência visual foram "aprender" a cozinhar à FCNAUP

Notícias Universidade do Porto | 22.12.22


>>  Reportagem: https://youtu.be/oZVCiqRQ9mU

A iniciativa “NATAL COM SENTIDO(S)” teve como objetivo promover estilos de vida saudáveis junto de uma população sujeita a maiores riscos alimentares.

A Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP) promoveu, no passado dia 21 de dezembro, a iniciativa “NATAL COM SENTIDO(S)”, destinada à promoção de estilos de vida mais saudáveis entre pessoas com deficiência visual.

Num contexto em que é sabido que os cegos e amblíopes estão sujeitos a maiores riscos nutricionais, nomeadamente a obesidade, procurou-se com esta iniciativa transmitir conhecimento e ferramentas para aumentar a qualidade de vida daquela população, particularmente através da alimentação.

Ao longo do dia, utentes da ACAPO – Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, juntaram-se a docentes e investigadores da FCNAUP para vários workshops e atividades onde foram trabalhados aspetos como a escolha de alimentos, o planeamento e preparação de refeições, mas também a confeção de biscoitos de Natal.

O momento alto do dia decorreu no Laboratório de Gastro da FCNAUP, onde os participantes foram desafiados a confecionar e degustar pratos saudáveis.

A iniciativa contou com o apoio da ACAPO, da Associação Mundo a Sorrir, do Centro de Desporto da U.Porto (UPFit), da Câmara Municipal do Porto, da Associação de Estudantes da FCNAUP (AEFCNAUP) e da Fundação Eng.º António de Almeida.

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MJA | 27.Dez.2022


 

Como um engenheiro cego desenvolveu uma App de Inteligência Artificial para ajudar pessoas com perda de visão

Helena Pozniak | The Guardian | 4 de Nov. de 2022


O designer de um aplicativo de leitura de texto inovador, que começou como um projeto paralelo da Microsoft, explica como agora é uma tábua de salvação para pessoas cegas e com problemas de alfabetização.

É uma lata de feijão ou tomate? É fácil se você puder ver o rótulo - mas imagine se você fosse cego ou com visão parcial - você poderia dizer a diferença? E agora considere, como você distinguiria entre analgésicos ou outros comprimidos sem ser capaz de ver ou ler? Quase uma em cada cinco pessoas tomou uma dose errada por engano porque não conseguiu ler a embalagem, sugere uma pesquisa da empresa de saúde do consumidor Haleon.

Shaikh, que ficou cego aos sete anos de idade, desenvolveu um aplicativo para a Microsoft chamado Seeing AI para ajudar as pessoas cegas a navegar no dia a dia. Quando a câmara de um telefone é apontada para um objeto, o aplicativo usa inteligência artificial (IA) para descrevê-lo de forma audível. Ele pode narrar situações da vida real, como descrever alguém passando, por exemplo, e ler um texto, como um menu.

Agora Shaikh voltou sua atenção para a questão da saúde e os desafios em torno da embalagem. Ele ajudou a empresa de saúde do consumidor Haleon a adaptar o aplicativo Seeing AI – lançado pela primeira vez em 2017 – para funcionar sem problemas com seus produtos de saúde e bem-estar. Ao apontar um telefone para um código de barras num item, um indivíduo pode agora ouvir uma descrição e encontrar facilmente informações sobre a dose, sabor ou como usar um produto. “Ninguém quer esperar por ajuda para ler a embalagem de analgésicos ou de um produto de saúde”, diz ele.

Muito esforço foi feito nos bastidores para carregar informações específicas de 1.500 produtos num banco de dados, diz Tamara Rogers, diretora de marketing da Haleon. A pesquisa da empresa revela que mais de nove em cada 10 (94%) pessoas acham importante que todos possam aceder às informações nos rótulos e instruções dos produtos de saúde, e que a alfabetização é uma barreira significativa.

“A linguagem médica é bastante desafiadora e nem todo mundo consegue ler ou seguir informações e instruções complicadas”, diz Rogers.

Ela acrescenta: “Queremos fazer nossa parte pela inclusão. A capacidade de gerenciar sua saúde de maneira independente é importante. Estabelecemos uma meta de alcançar 50 milhões de pessoas até 2025 e apoiá-las para melhorar a saúde todos os dias.”

Embora o aplicativo Seeing AI já leia o texto, seu refinamento mais recente torna mais simples encontrar as informações. A embalagem geralmente não parece um livro e o texto pode ser confuso. Com sinais de áudio, o aplicativo orienta os usuários para o código de barras na embalagem do produto, a fim de alinhar o código com a câmera do dispositivo e fornece os principais detalhes com um simples toque. “Tornamos mais fácil alternar entre diferentes tipos de informação”, diz Shaikh.

E embora a tecnologia tenha surgido originalmente para ajudar pessoas cegas, também provou ser uma tábua de salvação para pessoas que lutam para ler ou não têm o inglês como primeira língua, diz Rogers. No Reino Unido, cerca de 2 milhões de pessoas são cegas ou têm baixa visão, mostram os números do NHS, e mais de 8,5 milhões lutam para ler, de acordo com o National Literacy Trust. “O aplicativo fala com você – você pode usá-lo em casa ou nas compras”, diz Rogers. “Há um monte de pessoas que são cuidadoras, deficientes visuais ou que não sabem ler letras miúdas que lucrarão com isto.”

Lançado em 13 de outubro para coincidir com o Dia Mundial da Visão, o aplicativo atualizado agora está disponível gratuitamente em dispositivos Apple, e a Microsoft também está dando um passo importante para disponibilizar o Seeing AI para usuários do Android no futuro.

A colaboração entre a Microsoft e a Haleon é um marco no caminho rumo a uma maior inclusão, diz Shaikh. Ao longo dos anos, ele experimentou em primeira mão a liberdade que a tecnologia traz - desde o computador da sala de aula que lia o texto pela primeira vez até seu próprio software hoje. “Vi na escola como a tecnologia pode melhorar vidas e ajudar a nivelar o campo de jogo.”

Quando ele criou o Seeing AI como um projeto paralelo enquanto trabalhava na Microsoft, ele teve o insight para saber o que era necessário. Pode ajudar as pessoas a distinguir entre denominações de notas, descrever uma rua principal e reconhecer um amigo. Ele também pode descrever imagens, o que, por sua vez, permite que pessoas cegas participem mais da comunicação social online. “E isso ajuda na inclusão social”, diz Shaikh. “Agora estamos realmente usando a tecnologia de ponta da IA e da realidade aumentada para ajudar pessoas com deficiências.”

Ele continua: “Pense nesta tecnologia como um amiguinho no seu ombro, sussurrando no seu ouvido enquanto você vive a sua vida. Esse é o poder da IA. Estamos levando os mais recentes desenvolvimentos em tecnologia e ciência para resolver problemas que as pessoas encontram nas suas vidas diárias. Isso dá-te autonomia, independência.”

Descubra como a Haleon está tornando a rotulagem de saúde acessível para todos. Baixe a App Microsoft Seeing AI gratuitamente na Apple App Store.

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MJA | 8.Dez.2022


 

Fintar a cegueira: como é que se vê futebol não vendo

Matilde Ortigão Delgado | Expresso | 17.11.2022


Daqui a alguns dias, um pouco por todo mundo, milhões de pessoas vão estar sentadas em frente à televisão com um objetivo aparentemente simples: ver futebol. Mas na Europa, uma em cada trinta pessoas experienciam perda de visão. Quatro cegos portugueses contam como é ver um jogo quando não se consegue ver. A audiodescrição ajuda.

Quando vai ao estádio, Luís é dos que gostam de ficar perto do relvado e com o rádio ligado. Gosta dos cânticos à entrada, de vibrar com quem está ao lado. Gosta de saber de que cor é o equipamento com que a sua equipa vai jogar, e a do adversário também. Se os seus atacam de norte para sul ou de sul para norte. É mais um como os outros, embora seja diferente de quase todos.

Luís é cego.

A partir de domingo, um pouco por todo mundo, milhões de pessoas vão estar sentadas em frente à televisão com um ob700aparentemente simples: ver futebol. Acompanhar o Mundial do Catar. Onze de cada lado, e uma bola pelo meio. O futebol é isto. Esta é a parte fácil. Para Luís, e para milhares como ele – na Europa uma em cada trinta pessoas experienciam perda de visão - o problema está nas outras três letras. Ver. Como é que um cego vê futebol?

Eunice Santos é benfiquista, cega e voltou a encontrar motivos para sorrir num hat trick de Taremi.

Eunice é defesa. Taremi é ponta de lança. Um dia vai enfrentá-lo em campo, ou assim o espera. “Não me seria devolvida a visão, nem a vida que perdi, mas tornar-me-ia na pessoa mais feliz do mundo”. O sonho não é apenas jogar com Taremi, é fazê-lo com “uma bola das nossas”, ela que foi a primeira mulher portuguesa a praticar futebol para cegos.

Cego desde bebé, o jovem Sebastian Filoramo não quis ficar de fora da febre dos cromos. E adaptou o seu álbum do Mundial 2022 para invisuais

Tem 12 anos e, como qualquer criança, gosta dos álbuns de cromos do Mundial e tem direito a usufruir dele. Uma vez que os próprios álbuns não estão preparados para pessoas invisuais, o jovem venezuelano Sebastian Filoramo, com a ajuda do pai e da professora, garantiu que não vai ficar de fora da febre dos cromos.

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MJA | 18.Nov.2022



Ele é cego e queria coleccionar cromos do Mundial. Acrescentou-lhes braille

Reuters | Público | 10 de Novembro de 2022


- Sebastian começou a coleccionar cromos e, depois, decidiu torná-los mais acessíveis. Acrescentou-lhes braille e quer conseguir reunir os 600 que completam o álbum. -

Um rapaz cego de 12 anos, fã de futebol, encontrou uma forma de participar no vício dos cromos do Mundial, ao acrescentar-lhes braille.

Sebastian Filoramo, da cidade ocidental de Barquisimeto, na Venezuela, fez nascer a ideia com o apoio dos seus pais e professora há uns meses. Comprou e etiquetou os autocolantes com uma máquina de braille.

“O meu pai é um génio, pensa em tudo”, diz Filoramo, que perdeu a visão quando era bebé. “Ele disse-me: ‘Queres preencher o álbum? Então vamos adaptá-lo’.”

Enquanto personalizava os autocolantes, Filoramo usou adesivo transparente para escrever os nomes e números em braille e, depois, o pai ajudou-o com as colagens nas pontas dos autocolantes, para o guiar na organização dos jogadores” dentro do álbum.

Para completar o álbum do Mundial, que começa a 20 de Novembro, no Qatar, são precisos 600 autocolantes.

“O Sebastian tem sempre ideias brilhantes”, refere Yohelis Nelo, a professora que ajudou o jovem a etiquetar os cromos. “Concordei em ajudá-lo, mas disse-lhe que tinha de terminar os trabalhos de casa primeiro”, brincou.

Filoramo, que usava uma camisola da Argentina, disse que ainda lhe faltavam muitos cromos. O momento mais entusiasmante enquanto coleccionava foi quando conseguiu o autocolante de Lionel Messi, jogador da Argentina.

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MJA | 11.Nov.2022



Trabalhadores com Deficiência e Quotas

Pedro Sousa Carvalho | 26 Outubro 2022


Já existe desde 2011 em Portugal um sistema de quotas no Estado para empregar pessoas com deficiência. Em 2019, as quotas foram alargadas ao setor privado, mas a lei determinou um período de transição de quatro ou cinco anos, consoante o tamanho da empresa.

A partir de 1 de fevereiro de 2023, as empresas com mais de 100 trabalhadores já serão obrigadas ao cumprimento da quota para trabalhadores com deficiência; e a 1 de fevereiro de 2024, a obrigatoriedade será alargada a empresas mais pequenas, com 75 a 100 trabalhadores.

Será que as nossas empresas já estão preparadas? Os últimos números mostram que apenas 0,58% (13.702 pessoas) do total de recursos humanos das empresas privadas com 10 ou mais trabalhadores eram pessoas com deficiência.

Estando atrasadas para chegar à quota obrigatória de 1% ou 2%, há entidades como o Inclusive Community Forum (ICF) que estão a ajudar as empresas a acelerar este processo. Na semana passada, 45 grandes empresas em Portugal, - tais como a L'Oréal, EDP, Ikea, os grandes bancos ou grandes retalhistas como a Jerónimo Martins e a Sonae MC, - aceitaram fazer parte do programa do ICF chamado Compromisso com a Inclusão, que visa precisamente incentivar a contratação de pessoas com deficiências.

Expresso@news.impresa.pt

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MJA | 26.Out.2022


 

Novo medicamento pode tratar uma das principais causas de cegueira

TV Europa | 04 Outubro 2022

Medicamento inovador mostra ser eficaz no tratamento para a forma avançada de degeneração macular relacionada à idade. O pegcetacoplan é o primeiro medicamento que mostra poder retardar a progressão da doença ocular.

Atualmente não há tratamento para a atrofia geográfica, a forma “seca” avançada de degeneração macular relacionada à idade (DMRI). Esta é uma das principais causas de perda de visão entre pessoas com 65 anos ou mais. Mas cientistas consideram que a situação pode mudar nos próximos meses, dado que um novo medicamento mostrou que pode retardar a progressão da doença ocular.

Os cientistas indicam que se as agências dos medicamentos, como a FDA dos EUA, aprovarem o novo medicamento os pacientes passarão a ter uma nova esperança. Os dados mais recentes, sobre o novo medicamento, foram apresentados na 126ª reunião anual da Academia Americana de Oftalmologia de 2022.

A atrofia geográfica afeta a retina, uma parte do olho que envia informações ao cérebro para permitir a visão. A atrofia geográfica refere-se à área da retina onde as células definham e morrem. As regiões de atrofia resultam num ponto cego no campo visual. O novo medicamento chamado pegcetacoplan é conhecido como inibidor do sistema complemento, o que significa que tem como objetivo evitar a morte celular.

Os dados do estudo apresentado na reunião referem-se a dois ensaios clínicos de fase três que envolveram mais de 1.200 pacientes com DMRI seca em estágio avançado. Os pacientes foram randomizados em três grupos: um recebeu 15 miligramas de pegcetacoplan mensalmente; outro recebeu 15 miligramas a cada dois meses e o terceiro não recebeu nenhum tratamento. Os pacientes incluídos no estudo possuíam lesões subfoveais e não subfoveais.

Após um ano de tratamento, a área de atrofia reduziu de 16 a 18% em pacientes tratados a cada dois meses, e de 19 a 22 % com a dosagem mensal.

Ainda mais importante, o efeito pareceu acelerar ao longo do estudo de 2 anos, especialmente entre 18 meses e dois anos, com reduções de 25 a 29% com a dosagem a cada dois meses e de 24 a 36% com a dosagem mensal.

Os ensaios levados a cabo “representam o mais longo estudo de inibição do sistema complemento para reduzir a progressão da atrofia geográfica, disse o investigador principal”, Rishi P. Singh. “Os resultados são encorajadores tanto para pacientes como para médicos, dada a deficiência visual dessa condição e a falta de tratamentos eficazes”.

Embora os resultados sejam promissores, é importante que as pessoas com atrofia geográfica entendam que o novo medicamento não reverteu a perda de visão. Os investigadores lembram que, se o novo medicamento vier a ser aprovado pelas agências de medicamentos, a maioria das pessoas irá necessitar de tratamento durante um longo período.

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MJA | 19.Out.2022


 

PAN Madeira recomenda “prudência” na utilização de dispositivos electrónicos"

DNotícias | 13 Outubro 22


Aproveitando o assinalar do Dia Mundial da Visão, o PAN Madeira, em comunicado de imprensa, constata que “a vaidade do Governo Regional colocou as nossas crianças em ‘maus lençóis’”, porque “a entrega de tablets aos nossos alunos e a aposta não fundamentada no digital vai provocar graves problemas de visão às crianças e jovens da Madeira”.

Com esta comemoração, a Organização Mundial da Saúde pretende chamar a atenção para os perigos que a visão corre, como por exemplo a deficiência visual.

O PAN Madeira não quer que o tempo volte para trás, mas recomenda aos Secretários Regionais da Educação e da Saúde - Prudência - para o excesso de tempo aos écrans a que as crianças e os jovens estão expostas, pois a luz dos ecrãs pode aumentar até 23% a morte das células da retina e os danos causados podem ser irreversíveis.

“Os dispositivos electrónicos – telemóveis, tablets ou computadores – tomaram conta da nossa vida. A sua utilização, quando em excesso, pode provocar doença ocular e sintomas tais como visão desfocada, olhos secos e vermelhos, irritação e cansaço ocular e dores de cabeça”, referem na nota enviada esta manhã.

O PAN Madeira recorda ainda que a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadiana de Pediatria recomendam que as crianças e jovens até aos 12 anos não sejam expostas a tantas horas de ecrãs e a tantos meios tecnológicos.

É, no entender do partido, demasiado negativo, que por “modas”, um governo imponha e defenda como projecto de sucesso a exposição de mais horas aos écrans em especial e aos meios tecnológicos em geral.

“E este governo que ainda há pouco tempo chamou irresponsáveis aos pais que não vacinaram os filhos, comete a irresponsabilidade de colocar sobre as crianças e jovens o risco de virem a sofrer problemas de desenvolvimento e/ou de visão ao expô-los a um número inusitado de horas à frente dos ecrãs/ tablets”.

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MJA | 15.Out.2022


 

Tertúlia no Café Santa Cruz em Coimbra assinala o 'Dia Mundial da Bengala Branca'

Campeão das Províncias | 11 de Outubro 2022


Uma tertúlia, que visa debater os conceitos de orientação e mobilidade e a importância da utilização da bengala na vida das pessoas com deficiência visual, vai decorrer no próximo dia 15 de Outubro, pelas 16h00, no emblemático Café Santa Cruz, em Coimbra.

Inserida nas comemorações do Dia Mundial da Bengala Branca, que se assinala neste dia, esta tertúlia, que é promovida pela Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), vai contar com a presença da delegação de Coimbra da ACAPO para celebrar a autonomia e independência das pessoas com deficiência visual e também o seu 30.º aniversário.

Nesta tertúlia, os participantes serão consciencializados para a importância do envolvimento de toda a comunidade na eliminação de obstáculos que dificultem ou impeçam a livre e autónoma movimentação das pessoas com deficiência visual. No final, os presentes poderão desfrutar de um agradável momento de Fado de Coimbra no espaço do Café Santa Cruz que, desde 1910, está classificado como Monumento Nacional.

Todas as informações sobre esta tertúlia podem ser consultadas no site da ACAPO: https://www.acapo.pt/agenda/tertulia-dia-mundial-da-bengala-branca.
 

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MJA | 12.Out.2022


 

Educação Especial: uma gota no oceano da Educação

0,019% do orçamento da Educação. Um milhão e meio de euros que fariam toda, mas toda a diferença, para a vida e o futuro destas cerca de quatro centenas de crianças em escolas de ensino especial.

João Muñoz de Oliveira
Observador | 22 set 2022

No início de um novo ano letivo, somos confrontados com números enormes: milhares de alunos sem professor, milhares de professores em falta nas escolas. Porém, é para um número mais pequeno que queria hoje chamar a atenção dos leitores, o número dramático de alunos que frequentam atualmente as escolas de educação especial e que se arriscam de um dia para o outro a ficar de fora do sistema educativo que as deveria acolher e acompanhar. Estamos a falar de 470 alunos, em escolas que os Governos têm vindo a asfixiar aos poucos, mantendo os subsídios que remontam a 2008.

Para quem não acompanhe de perto esta realidade, convém clarificar.

As escolas de ensino especial são estabelecimentos de ensino privado que recebem alunos com necessidades de acesso ao currículo especialmente severas e que necessitam de apoios que a escola pública não está em condições de assegurar. Estes apoios traduzem-se num espaço escolar totalmente dedicado a si, uma equipa multidisciplinar de docentes e técnicos e toda uma estrutura escolar especializada. São alunos maioritariamente oriundos de famílias de baixos recursos, que não conseguem mobilizar os recursos adicionais necessários para o acompanhamento do percurso escolar fortemente adaptado.

A Declaração de Salamanca sobre Princípios, Política e Práticas na área das necessidades educativas especiais, assinada por mais de 300 delegados à Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais que se realizou naquela cidade espanhola a 10 de junho de 1994, foi subscrita por Portugal. É um documento que estabelece princípios fundamentais de políticas educativas baseadas numa ideia de educação inclusiva, fomentando a capacitação das escolas para atender todas as crianças, sobretudo as que têm necessidades educativas especiais.

Ao longo das quase três décadas que nos distanciam daquele tempo, Portugal deveria e poderia ter feito mais e melhor nesta área específica. A agenda da educação inclusiva foi uma bandeira política de sucessivos Governos, mas nunca foi uma agenda verdadeiramente central, a que fossem alocados os recursos necessários. Isto teve um resultado perverso. Por um lado, não foram criadas as condições necessárias para que todos pudessem frequentar o ensino geral e, por outro lado, algumas ofertas especiais que dão resposta aos casos mais graves sofreram um desinvestimento brutal. Está à vista o resultado, com o que resta dos estabelecimentos de educação especial à beira de desaparecer por completo. Fica a sensação, porventura injusta, de que a agenda da educação inclusiva tem servido mais para ocultar as necessidades das crianças do que para atender a cada uma na sua especificidade.

No caso dos colégios de educação especial, frequentados por alunos encaminhados pelo Ministério da Educação que não encontram apoio nas escolas de ensino geral, o apoio financeiro foi minguando, ano após ano. Em 2008, a sua existência foi inclusivamente posta em causa pelo Governo da altura, que acabou a eito com a educação especial – Decreto-Lei n.º 3/2008 –, tendo obrigado o Partido que suportava o Governo a chamar o diploma ao Parlamento e a reverter algumas das medidas que haviam sido decididas pelo Executivo, nomeadamente a extinção dos colégios de educação especial.

Recorde-se que, à época, o Governo tinha uma maioria absoluta e que o partido político que suportava essa maioria no Parlamento foi determinante para reverter a direção política errada que estava a ser seguida. Salvaram os deputados alguns cacos de uma peça partida, mas o golpe foi demasiado violento para que esse segmento educativo voltasse alguma vez a recuperar.

Os mais céticos dirão que se trata de uma gota de água: 470 crianças e jovens, num universo de 1,3 milhões de alunos em Portugal. Porém, é responsabilidade do Estado garantir a plena integração de todos os cidadãos e atender de modo particular aos mais frágeis.

Na já mencionada Declaração de Salamanca constata-se que os governos são instados a “adotar como matéria de lei ou como política o princípio da educação inclusiva, admitindo todas as crianças nas escolas regulares, a não ser que haja razões que obriguem a proceder de outro modo” (negrito meu).

Ora os estabelecimentos de educação especial privados, que trazem a resposta educativa que a escola pública não está em condições de assegurar, recebem do Estado uma verba anual por aluno inferior ao custo de educação de um aluno sem dificuldades numa escola pública estatal. Turmas com menos alunos, mas com mais profissionais na sala; mais docentes, psicólogos e outros técnicos com formação específica.

O número mágico que permitiria dar a estas crianças a esperança da Educação (e quantas não perseveram e vencem por causa da educação e atenção que recebem nestes estabelecimentos de ensino?) é um milhão e quinhentos mil euros! O que corresponde a 0,019% (leu bem, zero vírgula zero dezanove por cento) do orçamento da Educação em Portugal, que é de cerca de oito mil milhões de euros. Uma pequena gota de água no oceano da Educação para Todos. Um milhão e meio de euros que fariam toda, mas toda a diferença, para a vida e o futuro destas cerca de quatro centenas de crianças.

Para terminar, desafio o leitor a uma consulta e a uma ação. A consulta é aos valores dos custos de funcionamento dos gabinetes ministeriais em 2020 (a tendência é que atualmente sejam superiores). A ação é de que assine a petição pública para defesa da educação especial. Junte a sua ação à nossa. Para que o Governo, com a concordância dos partidos com assento parlamentar, permita que a gota que falta se possa juntar ao oceano de recursos que deveria existir numa Educação para Todos. Há sinais positivos vindos do Ministério da Educação, cumpre-nos dar-lhe o respaldo que possa ser necessário junto dos restantes ministérios.


Vice-Presidente da AEEP — Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo

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MJA | 25.Set.2022


 

Especialistas em córnea vencem prémio Champalimaud de Visão

Inês Malhado | JN
15 Set 2022


O holandês Gerrit Melles e o sueco Claes H. Dohlman, conhecido como "pai da ciência moderna da córnea", são os vencedores do Prémio António Champalimaud de Visão 2022. O maior prémio mundial na área da visão, no valor de um milhão de euros, entregue esta tarde em Lisboa, distinguiu as investigações dos dois médicos-cientistas no tratamento de doenças da córnea. O júri considerou que os seus conhecimentos melhoraram as intervenções cirúrgicas e possibilitaram transplantes com córneas artificiais.

As investigações dos médicos-cientistas Gerrit Melles e Claes Dohlman permitiram tratar a cegueira de milhões de pessoas em todo o mundo, associada a lesões e distúrbios da córnea, e impediram que outras fiquem cegas no futuro.

Num comunicado enviado às redações, a Fundação Champalimaud apontou que os "dois médicos-cientistas mudaram e aceleraram de forma decisiva o caminho para o tratamento" da cegueira ao contribuírem com "um conhecimento mais aprofundado da camada externa transparente do olho, bem como a possibilidade de garantir uma abordagem melhorada e mais económica à cirurgia e ao transplante da córnea".

Gerrit Melles, médico-especialista em córnea e fundador Netherlands Institute for Innovative Ocular Surgery, em Roterdão, contribuiu para o melhoramento da cirurgia da córnea, aumentando a esperança e a qualidade de vida a milhões de pessoas operadas. O tratamento de doenças na córnea com o uso mínimo de técnicas cirúrgicas invasivas, desenvolvido por Gerrit Melles nos últimos 20 anos, acelerou a reabilitação visual dos pacientes e diminuiu o risco de complicações que requereriam tratamentos adicionais. Em 2016, foi reconhecido como "uma figura lendária da cirurgia córnea" pelo The Ophthalmologist - publicação jornalística dedicada à área da oftalmologia. De acordo com a Fundação Champalimaud, as abordagens cirúrgicas de Gerrit Melles "representam a maioria destas cirurgias em diversos países e estão a expandir-se em todo o mundo".

A investigação que Clares H. Dohlman tem desenvolvido ao longo da sua vida deu-lhe o título de "pai da ciência moderna da córnea". Aos 100 anos de idade, o médico-cientista sueco é agora premiado pela córnea artificial que desenvolveu, capaz de devolver a visão aos pacientes, especialmente a daqueles que se encontram num estado demasiado danificado para conseguir beneficiar de um transplante adicional, através de doadores. A córnea artificial, conhecida como "Boston Cornea" (ou "KPro"), inicialmente pensada na década de 60, é atualmente usada a nível global. Segundo a Fundação Champalimaud, estima-se que mais de 700 dos maiores especialistas em córnea do mundo tenham sido formados por Dohlman. Apesar de se ter reformado dos cargos administrativos em 1989, continua a ser um mentor para a comunidade da Harvard Medical School.

Desde 2006 que o prémio na área da visão, no valor de um milhão de euros, reconhece contribuições inovadoras no alívio dos problemas da visão e investigações genéricas na área da visão. São premiados nos anos ímpares trabalhos desenvolvidos no terreno por instituições na prevenção e no combate à cegueira e doenças da visão, principalmente nos países em vias de desenvolvimento. Nos anos pares, como é o caso desta edição, o prémio é atribuído às pesquisas científicas de grande escala que tenham contribuído para avanços significativos na compreensão e preservação da visão.

No painel de jurados estão especialistas internacionais e figuras públicas envolvidas na luta contra as causas e problemas que se vivem nos países em vias de desenvolvimento.

A edição de 2022 contou com a colaboração da "Apoio da Visão 2020" - iniciativa global para a prevenção da cegueira, lançada em colaboração com a Organização Mundial da Saúde e com a Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira. Foram reconhecidos os avanços no tratamento de doenças na córnea, uma das principais causas de cegueira.

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MJA | 15.Set.2022


 

Cegos temem trotinetes “desenfreadas” nas cidades: “Muitos já evitam sair de casa”

Lusa e P3 | Público
16 de Agosto de 2022

As dificuldades sentidas por pessoas cegas ao circularem num passeio público não são de hoje; as trotinetes são apenas o mais recente obstáculo numa longa lista. São “inúmeros” os relatos de acidentes, diz ACAPO.

O uso “desenfreado e sem civismo” de trotinetes fez aumentar o medo de usar o espaço público nas pessoas cegas, agudizando o sentimento de isolamento de quem não vê, denunciou esta terça-feira a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (APACO). “O medo de ter acidentes, de se magoarem, de tropeçarem numa trotinete mal parada leva a que muitos evitem sair de casa”, disse à Lusa o presidente da associação, Rodrigo Santos.

As dificuldades sentidas por pessoas cegas ao circularem num passeio público não são de hoje; as trotinetes são apenas o mais recente obstáculo numa longa lista. “É o carro parado só cinco minutos, é a carrinha de caixa aberta que só está a fazer uma descarga, é a mota estacionada em cima do passeio”, enumerou o responsável.

“O que acontece a muitos invisuais é que quando a bengala se apercebe da trotinete já está demasiado perto e o choque já não é evitável”, explicou Rodrigo Santos, até porque é um veículo silencioso. “O medo que isto aconteça leva a que muitos invisuais deixem de circular no espaço público”, lamentou.

Em muitos municípios, o uso de trotinetes está regulamentando, como acontece, por exemplo, no Porto, onde o regulamento dos Serviços de Partilha em Modos Suaves de Transporte da Câmara Municipal estipula que é “proibida a circulação de veículos de serviços de partilha em arruamentos pedonais, praças, jardins urbanos e passeios”, mas são diários os relatos de desrespeito pela lei.

“Infelizmente, chegam-nos vários relatos de trotinetes a circular nos passeios, em velocidades de automobilismo, em corridas. É muito giro para os turistas mas perigoso para um peão, ainda mais para um invisual. O problema não está na trotinete, mas no uso desenfreado e sem civismo de quem a usa”, salientou.

Rodrigo Santos explicou que “são inúmeros” os acidentes relatados pelos associados da ACAPO: “São várias as mazelas físicas de encontrões, atropelamentos, quedas. E depois há a questão das bengalas que ficam partidas e isso para um invisual é ficar duplamente impedido de ver”, chamou a atenção.

Além das trotinetes a circular, à ACAPO chega outra queixa, a das trotinetes mal estacionadas: “É ver junto dos interface de transportes públicos, seja no Cais do Sodré, no Oriente, em Lisboa, seja na Trindade ou em S. Bento, no Porto, as inúmeras trotinetes abandonadas, amontoadas e espalhadas. É em passadeiras, é junto às paragens.” “Vai além da imaginação”, enumerou. Na zona histórica de Lisboa, as coimas por estacionamento irregular podem chegar aos 300 euros.

Segundo o responsável, o mau uso de trotinetes e o desrespeito pelas leis de circulação daquele veículo têm consequências “além das físicas” e “até mais graves”. “O medo de ter acidentes, de se magoarem, de tropeçarem numa trotinete mal parada leva a que muitos invisuais evitem sair de casa”, denunciou. “O que é que isto provoca? Aumenta o sentimento de solidão, isolamento, de falta de integração na vida das cidades. São mazelas que vão muito além das físicas.”

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MJA | 12.Set.2022



Comentário sobre o Relatório de Avaliação Intercalar do Modelo de Apoio à Vida Independente em Portugal

Centro de Vida Independente | 25 Julho, 2022
 

No passado dia 13 de Julho de 2022, o Instituto Nacional para a Reabilitação realizou a “Conferência Pública De Divulgação Da Avaliação Intercalar Do Modelo De Apoio À Vida Independente Em Portugal“, no auditório do CITEFORMA, durante a qual foram apresentados os resultados, pelo Professor Doutor Luís Capucha, coordenador do estudo no CIES-ISCTE. Na sessão de abertura, esteve ainda presente a Senhora Secretária de Estado para a Inclusão, Ana Sofia Antunes.

De acordo com os resultados obtidos, divulgados no relatório redigido pela equipa de avaliação, os ganhos e as vantagens do serviço de assistência pessoal são inequívocos, sendo que os principais contributos apontados pelas pessoas destinatárias foram ao nível da melhoria da qualidade de vida, da promoção da autonomia e da menor dependência em relação à família. Uma larga maioria concorda que este serviço é indispensável e mudou a sua vida. Este impacto positivo é confirmado, tanto por familiares, como por assistentes pessoais e equipas técnicas. Desta forma, as evidências são claras, consistentes e perentórias quanto ao caráter fundamental da assistência pessoal para o empoderamento e a inclusão das pessoas com deficiência na vida em comunidade.

Apesar de a posição oficial do Governo Português ser a de que este relatório não vincula a sua posição em relação ao projeto, ao longo do mesmo, são apontados diversos temas que nos preocupam e que nos suscitam questões. Gostaríamos, assim, de ver clarificada a sua posição relativamente ao explanado de seguida.

Metodologia e resultados
Em primeiro lugar, a Teoria da Mudança, que serve de base ao relatório, entra em conflito com algumas das conclusões apontadas para o futuro do MAVI, como a “diminuição da dependência familiar” e a “melhoria da conciliação da vida familiar, profissional e pessoal das Pessoas com Deficiência e Incapacidade e suas famílias”, uma vez que a secção das conclusões refere várias medidas que, pelo contrário, perpetuam a dependência em relação às famílias e/ou às instituições.

Através dos dados divulgados no relatório, podemos verificar que a maioria das pessoas destinatárias usufrui de 10h semanais de apoio, ou menos. Apesar de grande parte da amostra indicar que as horas estão ajustadas às suas necessidades, é também referido que a maioria das pessoas, e respetivas famílias, pretende aumentar este número. Este valor leva-nos a questionar se as reais necessidades estão a ser, de facto, suprimidas, ou se existe uma cultura de “poupança” relativamente às horas de serviço prestadas. Perante esta incongruência, não entendemos a razão pela qual não são feitas recomendações relacionadas com o aumento do número de horas, ou o controlo do número de horas atribuído versus o número de horas necessário, e se essa atribuição está de facto a ser realizada de forma correta e em consonância com o decreto-lei que rege o MAVI.

Modelo de Financiamento
Relativamente ao financiamento do serviço, o estudo recomenda que a Assistência Pessoal passe a ser comparticipada pelas pessoas com deficiência e/ou suas famílias, como os restantes apoios sociais, tendo em conta os rendimentos do agregado familiar. De acordo com a notícia publicada pelo jornal Público, no dia 24 de julho de 2022, esta recomendação deriva de uma opinião da amostra de dirigentes, sendo que 82,6% destas considera que as pessoas com deficiência e suas famílias devem comparticipar a sua própria assistência pessoal. Sob o argumento de garantir a continuidade e o alargamento da resposta social, ainda que hipotética, esta solução viola a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e põe em causa os princípios básicos da Vida Independente e do próprio projeto.

Primeiro, a própria questão, assim como a quem esta foi colocada, violam a Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e o Comentário Geral Nº 5 da mesma:

De acordo com a Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, no seu Artigo 4º, número 3: “No desenvolvimento e implementação da legislação e políticas para aplicar a presente Convenção e em outros processos de tomada de decisão no que respeita a questões relacionadas com pessoas com deficiência, os Estados Parte devem consultar-se estreitamente e envolver ativamente as pessoas com deficiências, incluindo as crianças com deficiência, através das suas organizações representativas.“.

De acordo com o Comentário Geral Nº 5 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência: “(i) O financiamento para a assistência pessoal deve ser fornecido com base em critérios personalizados e levar em consideração os padrões de direitos humanos para o emprego decente. O financiamento deve ser controlado e alocado à pessoa com deficiência com o objetivo de pagar qualquer assistência necessária. Baseia-se numa avaliação das necessidades individuais e das condições de vida. Os serviços individualizados não devem resultar na redução ou aumento do orçamento pessoal.“. Ainda tendo em conta o que este refere, é da responsabilidade do Estado garantir as condições para que as pessoas com deficiência vivam na comunidade.

Esta recomendação, bem como a questão associada, entram em conflito com o “Model National Personal Assistance Policy”, que refere, no seu número 2, que destinatários de assistência pessoal não devem ser responsabilizados pelo pagamento da mesma, independentemente dos seus rendimentos ou rendimentos do agregado familiar.

Desde logo, e segundo a filosofia de
Vida Independente, a assistência pessoal é um pilar fundamental para que as pessoas com deficiência tenham total controlo sobre a gestão das suas próprias vidas e exerçam o direito à autodeterminação e liberdade individual, em condições de igualdade em relação às pessoas sem deficiência. Sendo este um direito humano fundamental, não pode, em circunstância alguma, constituir um fator adicional de exclusão e desigualdade socioeconómica. Ora, a comparticipação financeira por parte das pessoas com deficiência entra em conflito com o princípio da universalidade do serviço, uma vez que irá excluir grande parte das pessoas que realmente necessita devido às elevadas carências económicas, já amplamente documentadas ao nível da comunidade das pessoas com deficiência. Além de representar uma discriminação direta, esta medida reforça o fosso da desigualdade e acrescenta mais uma despesa para as famílias.

De acordo com o Estudo de Avaliação do Impacto dos Custos Financeiros e Sociais da Deficiência, realizado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, as pessoas com deficiência são penalizadas, financeiramente, no seu dia-a-dia. Esta penalização, em função da discriminação e custos extra dos serviços prestados, varia entre os 5000€ e os 25000€ por ano. Deste modo, adicionar outra penalização ao grupo social que menos rendimento aufere, mais dificuldade tem em obter trabalho ou trabalho devidamente remunerado, traduz-se numa desproporcionalidade apenas, e só, aplicada às pessoas com deficiência.

Por outro lado, calcular o valor da comparticipação com base no rendimento do agregado familiar, ainda que a pessoa com deficiência não viva sozinha, reforça a situação de dependência em relação à família, perpetua a ideia de que a pessoa com deficiência não existe como ser individual e dificulta o seu (já difícil) processo de autonomização e independência física, psicológica, emocional e financeira. Esta modalidade retira também o papel de poder da própria pessoa, levando a família, e os/as próprios/as assistentes pessoais, a confundir o locus de controlo do serviço. Como consequência desta abordagem, poderá ainda estar a colocar-se em risco a integridade física e emocional da pessoa com deficiência, que ficará mais vulnerável a abusos, negligência e manipulação por parte de familiares e coabitantes.

Além disto, é apontada a questão da sustentabilidade económica da resposta como uma justificação para a recomendação em causa. Tratando-se de um direito fundamental, a vertente económica não pode orientar a ação e a visão estratégica do processo. À semelhança das áreas da Educação e da Saúde, a presente área vale per se, no sentido de garantir as melhores condições aos seus cidadãos e cidadãs para que tenham uma vida digna e plena, independentemente das circunstâncias.

Consideramos ser esta uma das principais razões (entre outras) para que a gestão do projeto não deva estar a cargo de IPSSs, cujo modelo de negócio assenta na comparticipação pelos serviços prestados. Consequentemente, as equipas técnicas dos CAVI não são isentas nas suas opiniões sobre os modelos de financiamento a adotar na futura legislação. Neste sentido, os CAVI e respetivas equipas técnicas não se podem pronunciar sobre uma medida da política a desenvolver, devendo-se cingir às questões técnicas que não são geridas pelas pessoas destinatárias.

A recomendação assenta no velho pressuposto de que as pessoas com deficiência devem ser responsabilizadas através do pagamento dos serviços que lhes são prestados. Esta é uma forma de penalização desproporcional que não é exigida a mais ninguém, o que consiste num ato de discriminação direta contra as pessoas com deficiência. A responsabilização das pessoas, no caso da assistência pessoal, deverá apenas reportar-se às horas de apoio executadas, férias e outros dados relevantes para aferir a correta aplicação das verbas alocadas ao serviço prestado.

Adaptação de outras respostas e coordenação
Vemos com preocupação a frequente confusão entre assistência pessoal e outros serviços, como apoio domiciliário, CACI, residências autónomas, etc. Além de irem contra o Artigo 19º da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, estes serviços não são controlados pelas pessoas com deficiência e, por isso, violam um dos princípios basilares da assistência pessoal. Esta perda de controlo perpetua o atual estado de dependência em relação a familiares e instituições, não permitindo às pessoas com deficiência exercer o direito a uma Vida Independente.

Apesar de defendermos um modelo de desinstitucionalização, este não pode ser confundido com a criação de residências autónomas ou outras soluções que se configurem como “guetos” onde as pessoas com deficiência são colocadas e controladas por terceiros. Este tipo de soluções tem sido apresentado como formas alternativas às grandes instituições, mas perpetuam o seu caráter desumanizado, despersonalizado e de violação do direito à individualidade, assim como a contínua usurpação dos rendimentos das pessoas com deficiência para manter o modelo financeiro dessas mesmas instituições.

Outros esclarecimentos
Por último, mas não menos importante, acreditamos que a linguagem espelha e constrói o pensamento individual e coletivo, pelo que gostaríamos de esclarecer algumas confusões ao nível da terminologia utilizada ao longo do relatório.


“Pessoas com deficiência ou incapacidade”: referem-se a duas condições não dependentes. De acordo com o modelo social, no qual assenta o paradigma de base da assistência pessoal, a deficiência resulta da interação entre as incapacidades individuais e o meio ambiente que a sociedade nos proporciona.
“Assistentes profissionais”: todas as pessoas que trabalham como Assistentes Pessoais são profissionais, não havendo distinção entre pessoas profissionais e não profissionais no âmbito do projeto-piloto em análise.

“Linguagem gestual”: a nomenclatura correta é “Língua Gestual”, oficialmente reconhecida como língua oficial em Portugal.

Consideração final
Para concluir, se estamos a ser exigentes com o presente relatório, é porque acreditamos convictamente nas potencialidades da assistência pessoal, defendemos a sua implementação com base em direitos humanos e na Vida Independente e não pretendemos ceder em nenhum dos aspetos que consideramos fundamentais para garantir que as pessoas com deficiência tenham uma vida digna, plena e em condições de igualdade relativamente às pessoas sem deficiência. Da parte do Governo Português, na pessoa da Senhora Secretária de Estado para a Inclusão, assim como de todos os organismos envolvidos no projeto-piloto, não esperamos menos que a máxima exigência e o cumprimento pleno dos Documentos Oficiais de defesa dos direitos humanos, tal como nos é exigido a nós, enquanto cidadãos e cidadãs individuais. Terminamos reforçando o pedido inicial de uma resposta às questões aqui levantadas, para que a melhoria do projeto seja baseada num processo de co-criação envolvendo todas as partes interessadas, mas dando o protagonismo devido ao núcleo central de todo o modelo: as pessoas com deficiência.

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MJA | 1.Ago.2022



Chegou ao fim formação de Audiodescritores

Sandra S. Gonçalves

DN | 19 Jul 2022

Dotar os profissionais, fora de Lisboa e Porto, com preparações técnicas para proporcionar o recurso da audiodescrição ao público com deficiência visual. Foi com este objectivo que a criação da Rede de Teatros com Programação Acessível desenvolveu um curso de audiodescritores.

A primeira parte do curso foi realizada no Teatro Municipal Baltazar Dias, no Funchal, entre os dias 30 de Março e 8 de Abril, tendo uma duração de 60 horas de formação intensiva, distribuídos por dez dias consecutivos.

A segunda parte do curso, com uma duração de 20 horas, ocorreu entre os dias 13 e 17 de Julho, em Lisboa, no São Luiz Teatro Municipal. No dia 17 de Julho, os formandos assistiram ao espectáculo 'A Praia' que contou com audiodescrição, no São Luiz Teatro Municipal.

Por fim, na terceira parte do curso, os formandos estiveram envolvidos na audiodescrição de três produtos audiovisuais em contexto real.

No futuro, os formandos do curso de audiodescritores poderão prestar os seus serviços a membros da Rede de Teatros com Programação Acessível e a diferentes organizações culturais em diferentes locais do país.

A Acesso Cultura contou com o apoio de diversos parceiros, incluindo a Câmara Municipal do Funchal, a Secretaria Regional de Turismo e Cultura da Madeira, a Direcção Regional de Cultura do Norte, a Direcção Regional de Cultura do Algarve, Ágora - Cultura e Desporto do Porto e El Corte Inglés Portugal.

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MJA | 31.Jul.2022


 

TrackAI da Huawei mostra promessa na deteção precoce de deficiência visual

Marco Trigo

Tekgenius |  Julho 27, 2022


Todos os dias, e a cada minuto, uma criança fica cega, e as luzes e cores do mundo fecham-se potencialmente para sempre. Fundamental para o tratamento de muitas deficiências visuais é a deteção precoce, para a qual faltam meios, principalmente entre as crianças de segmentos mais desfavorecidos da sociedade. Para combater este flagelo com profundo impacto no desenvolvimento global das crianças, a Huawei partilhou mais informações sobre o seu TrackAI, que desde 2019 já permitiu fazer mais de 4500 rastreios visuais.

Nas palavras de Simon Zhang, diretor de marca do Huawei Consumer Business Group, “a deficiência visual é um problema que interfere com o desenvolvimento geral e com a vida social das crianças. Na sua maioria, os problemas oculares são difíceis de detetar, uma vez que examinar crianças muito jovens é sempre complexo — com os mais novos a comunicação é desafiante porque, muitas vezes, estes ainda não sabem expressar exatamente o que sentem. Foi a pensar nisso que a equipa da Huawei quis promover um dispositivo fácil de usar, portátil e acessível, para ajudar os profissionais não treinados a identificar precocemente estas crianças, na esperança de alcançar um mundo onde não existem jovens com deficiência visual”.

No âmbito do projeto, foi desenvolvida uma colaboração única entre a Huawei e a start-up DIVE Medical. O papel da DIVE (Device for an Integral Visual Examination) é apresentar diferentes estímulos num ecrã de alta resolução e captar o olhar do paciente utilizando um rastreador ocular. A plataforma HiAI da Huawei foi utilizada em combinação com a DIVE para criar um modelo de inteligência artificial capaz de analisar automaticamente os dados de observação recolhidos e estimar a probabilidade de um paciente ter um desenvolvimento visual anómalo. Assim, é utilizado um smartphone Huawei juntamente com o dispositivo DIVE para controlar a execução da exploração visual e a qualidade dos dados recolhidos, bem como visualizar os resultados do rastreio em tempo real. Com essa informação, o técnico pode, mais facilmente, concluir se a criança precisa ou não de ser encaminhada para um especialista.

O projeto TrackAI tem tido êxito na deteção de anomalias visuais em crianças mais novas, uma vez que, nesta idade, é frequente as crianças não cooperarem o suficiente para realizar os rastreios visuais tradicionais, tornando difícil para os profissionais a deteção de potenciais problemas oculares nos controlos de saúde regulares. Felizmente, com esta tecnologia tudo se torna mais simples.


TrackAI celebra marcos globais significativos desde o seu lançamento

Até à data, este projeto alcançou resultados impressionantes, tendo sido concluídos 4.500 exames oculares em vários países, entre 2019 e 2021. Só em Espanha, o Hospital Universitário Miguel Servet completou mais de 1.800 rastreios com o projeto TrackAI, desde setembro de 2020.

Ao resolver os desafios do diagnóstico oftalmológico em crianças muito pequenas, o TrackAI já teve um impacto positivo na vida de muitas famílias. Em Madrid, o projeto TrackAI permitiu detetar hipermetropia – um dos erros refrativos mais comuns em crianças – numa criança de quatro anos que, à partida, não tinha quaisquer problemas visuais diagnosticados. No México, um paciente de três anos apresentou, num exame médico regular, um risco elevado de estrabismo durante o rastreio TrackAI, tendo sido revelado o contraste na acuidade visual entre o olho esquerdo e o direito.

“Ao lançar o projeto de rastreio TrackAI para testar uma população considerável de crianças, fomos capazes de confirmar o seu enorme potencial. Nos últimos anos, obtivemos informações sobre o desenvolvimento visual de crianças muito pequenas e crianças com perturbações neurocognitivas, que são sempre muito difíceis de explorar”, partilha a Dra. Victoria Pueyo, Oftalmologista Pediátrica e Cientista Chefe da DIVE Medical. “Também recebemos um feedback muito positivo de todos os profissionais envolvidos no projeto”.


Planos do TrackAI para 2022

Este ano, o TrackAI deverá ter um impacto ainda maior, sendo já antecipado que mais de 2.000 crianças vão poder beneficiar deste projeto, uma vez que a ideia será expandi-lo de forma a cobrir mais países da Europa, África e América Latina, tais como França e África do Sul. Entretanto, a DIVE está a atualizar o software e também os dispositivos utilizados, que passam agora a ser o Huawei P50 e Huawei Matebook E para, assim, melhorar a precisão desta tecnologia.

Neste momento, e após as fases iniciais de desenvolvimento da validação, o projeto de rastreio TrackAI está pronto para ser expandido para fora dos centros hospitalares. Em 2022, o projeto será alargado a escolas e jardins de infância, a fim de levar os rastreios visuais precoces a mais crianças em todos os países envolvidos. Através deste projeto, será também assegurado que todas as crianças com elevada probabilidade de terem problemas visuais sejam encaminhadas para um oftalmologista, que realizará um exame completo para fornecer um diagnóstico e iniciar o tratamento adequado, caso necessário.

“Esta colaboração permitiu-nos alcançar um progresso incrível no desenvolvimento e na implementação da nossa plataforma de rastreio visual, o que demonstra que as grandes empresas tecnológicas e os investigadores devem trabalhar em conjunto para dar resposta aos desafios da atualidade. Com o apoio da Huawei, conseguimos alcançar milhares de crianças e estamos entusiasmados por continuar nesta viagem rumo à erradicação de todas as perturbações visuais evitáveis”, afirma Marta Ortín, CTO da DIVE Medical.

À medida que o projeto cresce, continua a beneficiar mais crianças e as suas famílias, fornecendo uma solução precisa e rápida para a deteção precoce de problemas visuais. Este ano, a Huawei anuncia, pela primeira vez, o lançamento do TrackAI em França, colaborando com um hospital e escolas locais. A equipa pretende realizar 400 rastreios neste país e ajudar, assim, a prevenir doenças visuais das crianças francesas . Desta forma, a Huawei espera mostrar, uma vez mais, o seu empenho em disponibilizar tecnologias que fazem, de facto, a diferença na vida das pessoas, como é o caso do TrackAI, um projeto que vai continuar a ter um impacto positivo e do qual se espera que se torne uma importante ferramenta para o diagnóstico precoce de crianças com deficiência visual em todo o mundo.

Nas palavras de Simon Zhang, “a Huawei está empenhada em fazer a diferença na procura de novas formas de desbloquear a saúde para todos. Ao alargar a cobertura do projeto TrackAI, esperamos oferecer a mais pessoas o acesso a programas de rastreio visual precisos para diminuir a taxa de deficiências visuais não detetadas, trazendo maior valor às crianças , às suas famílias e às comunidades em todo o mundo”.

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MJA | 30.Jul.2022


 

Problemas de visão não tratados podem aumentar o risco de demência em 44%.

Darby Tashe

O Ribatejo | 25 Julho, 2022


De acordo com uma recente revisão sistemática e meta-análise de 16 estudos envolvendo 76.373 indivíduos, idosos com problemas de visão não tratados podem ter maior chance de desenvolver demência.

Os resultados do estudo, que foram relatados no jornal revisado por pares envelhecimento e saúde mental, mostram que mais pesquisas são necessárias para determinar como tratar problemas de visão em idosos e como óculos ou cirurgia de catarata, podem prevenir problemas cognitivos e demência.

“Este estudo está entre os primeiros a avaliar a relação entre problemas de visão e resultados cognitivos em adultos mais velhos por meio de um exame abrangente de todos os estudos populacionais disponíveis em inglês. Nossas descobertas se somam à crescente evidência de que a perda de visão é um fator de risco para demência.”

O autor principal, Professor Associado Bibi Xu, do Centro de Informática Médica da Universidade de Pequim afirma: “Embora as razões por trás disso permaneçam obscuras, eles sugerem que diagnosticar e tratar doenças oculares pode ser benéfico – para melhorar a qualidade de vida de uma pessoa e também para retardar ou interromper a perda de memória”.

No Reino Unido, acredita-se que até 1 milhão de pessoas tenham demência e, com a idade, esse número deve aumentar. Espera-se que esse número aumente para 1,6 milhão em 2050. Também se espera que a demência custe US$ 56 bilhões em 2050, em comparação com £ 30 bilhões hoje.

A vida das pessoas é severamente afetada por essa condição. À medida que a doença progride, os indivíduos terão mais perda de memória, bem como alterações de personalidade e comportamento. Eles acabarão sendo completamente dependentes de outros para cuidar deles.

Os pesquisadores incluíram 16 estudos envolvendo 76.373 participantes, com cinco estudos transversais e 11 estudos longitudinais publicados antes de abril de 2020. Desses estudos, os autores examinaram a relação entre deficiência visual e resultados cognitivos em idosos. Eles descobriram que:

Pessoas com problemas de visão eram mais propensas a desenvolver comprometimento cognitivo e demência, independentemente de a deficiência visual ter sido autorrelatada ou diagnosticada por meio de medidas objetivas.

O risco de desenvolver comprometimento cognitivo foi 137% maior entre pessoas com problemas de visão em comparação com aquelas sem.

Pessoas com problemas de visão no início do estudo tiveram um risco aumentado de 41% de desenvolver comprometimento cognitivo e um risco aumentado de 44% de desenvolver demência, em comparação com aqueles que não tiveram.

“Encontrar maneiras de prevenir ou retardar o início da demência pode ajudar a reduzir seu impacto devastador na vida dos indivíduos afetados e suas famílias, particularmente à luz da crescente carga de doenças.”

A identificação de fatores de risco modificáveis ​​é um primeiro passo crítico para o desenvolvimento intervenções eficazes para atingir este objetivo, diz Zhou.

“Nossas novas descobertas destacam a importância de exames oftalmológicos regulares para adultos mais velhos – permitindo que quaisquer problemas potenciais com sua visão sejam detectados e tratados precocemente. Eles também sugerem que quaisquer mudanças auto-relatadas na visão de uma pessoa não devem ser ignoradas.”

Os autores agora recomendam que pesquisas futuras sejam necessárias para examinar a eficácia do tratamento de problemas de visão em idosos para prevenir comprometimento cognitivo e demência.


Referência: “A relação entre deficiência visual e resultados cognitivos em idosos: uma revisão sistemática e meta-análise” por Gui-Ying Cao, Zi-Shuo Chen, Shan-Shan Yao, Kaipeng Wang, Zi-Ting Huang, He-Xuan Su, Yan Lu, Carson MD Fries, Young Hwa Ho e Baby Show, 18 de maio de 2022, disponível aqui: Envelhecimento e saúde mental. DOI: 10.1080 / 13607863.2022.2077303
O estudo foi financiado pela Fundação Nacional de Ciências Naturais da China e pelo Fundo de Sementes de Medicina da Universidade de Pequim para Pesquisa Interdisciplinar.

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MJA | 28.Jul.2022


 

Queixa por discriminação

INR | 05 Jul 2022


É proibido discriminar, direta ou indiretamente, pessoas com base na deficiência e no risco agravado de saúde, de acordo com a Lei n.º 46/2006.

A aplicação desta lei implica prevenir e remediar os atos que se traduzam na violação de quaisquer direitos fundamentais, ou na recusa ou condicionamento do exercício de quaisquer direitos económicos, sociais, culturais ou outros, por quaisquer pessoas, em razão da deficiência.

Neste âmbito, o Instituto Nacional para a Reabilitação recebe as queixas apresentadas, encaminha-as para as entidades competentes e elabora um relatório anual sobre a aplicação da referida lei.

Caso queira denunciar situações de discriminação, preencha e envie este Formulário de Queixa de Discriminação por Deficiência ou Risco Agravado de Saúde.

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MJA | 26.Jul.2022


 

Em 2021, houve três queixas por dia por discriminação contra pessoas com deficiência

CNN Portugal | 26 Julho 2022


O "Relatório anual 2021 sobre as práticas de atos discriminatórios em razão da deficiência e do risco de saúde agravado", que foi elaborado pelo Instituto Nacional de Reabilitação, concluiu que no ano passado houve, em média, três queixas por dia por discriminação contra pessoas com algum tipo de deficiência.

O documento, que é esta terça-feira divulgado pelo jornal Público, indica que, da totalidade dos processos - 1195 -, metade foram concluídos ou arquivados (578), a maior parte porque a situação se resolveu (311) mas muitos por ter sido considerado que não existia prática discriminatória - 206 no total.

Os números revelam que, em 2021, houve um aumento no número de queixas em relação ao ano anterior, em que se registaram 1023 processos.

Sobre o tipo de queixas mais frequente, de acordo com o relatório, lideraram as queixas relacionadas com recusa ou limitação de acesso aos cuidados de saúde, que foram 39,60% no total, seguindo-se as associadas ao exercício de direitos e aos transportes públicos, com 5,42% cada uma; quanto à fruição de bens e serviços, o número de queixas chega a 4,46%.

Paula Campos Pinto, do Observatório da Deficiência e dos Direitos Humanos, lamenta que os dados sejam inespecíficos e genéricos, uma vez que não é possível saber, por exemplo, o que quer dizer "recusa ou limitação de acesso aos cuidados de saúde": "A pessoa sentiu-se discriminada nos cuidados prestados nalgum estabelecimento de saúde? Não teve prioridade e era suposto? Não obteve resposta adequada à sua situação? Não sabemos", lamenta.

Segundo este relatório, a Provedoria de Justiça recebeu a maior parte das denúncias, 967; o Instituto Nacional de Reabilitação recebeu 72 queixas, a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes recebeu 66, a Comissão Nacional de Eleições recebeu 43 e a Inspeção-Geral de Educação e Ciência recebeu 14.

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MJA | 26.Jul.2022



Educação Inclusiva é uma reforma estrutural da educação

Portugal.gov  | 2022-07-01


O Ministro da Educação, João Costa, referiu a importância da educação inclusiva e disse que as escolas devem ter como missão «levar cada um dos alunos mais longe» e não apenas uma elite que já tinha tudo para o sucesso.

O Ministro falava durante uma sessão de apresentação dos resultados do Sistema de Monitorização da Implementação do Regime Jurídico da Educação Inclusiva em Portugal, em Lisboa, onde referiu que «a educação inclusiva é uma reforma estrutural da educação».

Esta reforma, referiu João Costa, «passa pelo desenho de uma escola que não serve o discurso falacioso da meritocracia, mas desenha uma escola para uma missão muito clara de levar cada um mais longe, mas não de uma elite que já tinha tudo para o sucesso».

O Ministro disse que o percurso de construção de uma escola cada vez mais inclusiva começou «há várias décadas», quando Portugal aderiu à declaração de Salamanca, de 1994. Trata-se de uma resolução das Nações Unidas sobre educação especial que apresenta procedimentos-padrões para a equalização de oportunidades para pessoas com deficiência.

Segundo o Ministro, esta nova visão começou a ser desenhada em 2016 e contou com o trabalho de «escolas que já faziam a diferença, porque não viam a diversidade como um problema mas como um trunfo ou como uma missão». Em 2018 foi então aprovado o decreto-lei com as novas regras da educação inclusiva.

«Cada um de nós tem capacidade para aprender»

Para João Costa, esta mudança faz com que todos os alunos tenham «um lugar na sala de aula», sendo o currículo o principal instrumento para a inclusão:

«Cada um de nós tem capacidade para aprender. Nenhum de nós tem o direito de dizer que alguns de nós não aprendem», afirmou.

O Ministro disse que esta mudança trouxe também vantagens para os alunos que não estão identificados como tendo necessidades especificas e que passaram a crescer e ter contacto com os outros. Disse ainda que, dentro de alguns anos, será preciso fazer uma avaliação do que está a acontecer no terreno.

Monitorização e formação

Em 2020, a área governativa da Educação pediu apoio à Direção-Geral de Apoio às Reformas Estruturais da Comissão Europeia para a conceção de um sistema de monitorização para avaliar a eficácia e implementação do diploma sobre educação inclusiva.

Para já está em desenvolvimento um programa de formação muito alargado, «que se vai iniciar muito brevemente», sendo uma das missões a «redução da dimensão burocrática que a nova legislação pode ter criado».

Durante o encontro, no qual participaram responsáveis de escolas com projetos de inclusão, João Costa saudou ainda o trabalho realizado pelas escolas:

«É com a vossa voz e com o vosso ‘input’, de quem está no terreno, que conseguimos melhorar as politicas e saber se estamos no caminho certo», disse.

 

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MJA | 21.Jul.2022



Livraria WOOK disponibiliza 800 obras em braille na plataforma online

Notícias de Coimbra com Lusa | 18-07-2022


Oitocentos títulos em braille estão disponíveis a partir de hoje na livraria ‘online’ WOOK, numa parceria com a Santa Casa da Misericórdia do Porto que resulta numa oferta que vai dos clássicos da literatura aos infantojuvenis e dicionários.

Produzidos pelo Centro Professor Albuquerque e Castro (CPAC) – Imprensa em Braille da Santa Casa da Misericórdia do Porto, os 800 títulos serão transacionados através da WOOK, a maior livraria online portuguesa, e distribuem-se por 21 categorias, refere o comunicado.

Entre a oferta figuram clássicos da literatura infantojuvenil como “O Principezinho”, “A Fada Oriana”, “O Cavaleiro da Dinamarca”, autores portugueses clássicos e contemporâneos como “Novos Contos da Montanha”, de Miguel Torga, “A Sibila”, de Agustina Bessa Luís, “Os Cus de Judas” de António Lobo Antunes, o “Ensaio sobre a Cegueira” e “Memorial do Convento”, ambos de José Saramago, elencou à Lusa a fonte.

Desta forma, acrescenta a fonte, a WOOK quer “divulgar o serviço da CPAC” ao mesmo tempo que ”facilita o acesso a estes títulos através de um canal online consultável a partir de todo o mundo, já que até este momento apenas era possível adquirir os títulos diretamente no CPAC”.

“O objetivo é ir continuamente aumentando a quantidade de títulos disponíveis, atualizando a oferta em catálogo através da articulação com o CPAC e as centenas de editoras com que a WOOK trabalha”, acrescenta a fonte.

“O preço médio dos livros ronda os 12,50 euros. O valor está dependente de vários fatores, nos quais se incluem a dimensão e o número de volumes da obra. A título de exemplo, os leitores vão encontrar livros infantis com um volume a 3,18 euros ou 6,36 euros com dois volumes, mas temos também livros de maior dimensão que podem chegar aos 40 euros”, explicou.

O CPAC foi fundado em 1956 e dedica-se, em exclusivo, à produção de livros destinados à comunidade de pessoas com deficiência visual, refere o comunicado.

A totalidade das receitas resultantes da venda dos livros em braille revertem a favor do CPAC e da Santa Casa da Misericórdia do Porto.

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MJA | 19.Jul.2022



Aliu é cego e fotografa como quem ouve

Ana Marques Maia

Público | 29 Junho 2022


Guineense é co-autor do projecto fotográfico "Do Teu Ombro Vejo o Mundo", que venceu, pela mão do fotojornalista João Silva, recentemente os Prémios Novos Talentos Fnac. “Eu sentia que ele via mais cores do que eu”, contou João ao P3. "Do Teu Ombro Vejo o Mundo" encontra-se, presentemente, em exposição no espaço Narrativa, em Lisboa, onde ficará até ao dia 1 de Agosto.

Foi ainda antes da pandemia que o fotojornalista João Silva conheceu Aliu Baio, em Lisboa - e assim que conheceu a sua história, percebeu que merecia ser partilhada com o mundo de uma forma especial. “O Aliu nasceu cego de um olho, em 1994, na Guiné-Bissau”, pode ler-se na sinopse do projecto que desenvolveu ao longo de 2019, intitulado Do Teu Ombro Vejo o Mundo, que venceu a última edição do prémio Novos Talentos Fnac.

Em Junho de 1998, quando estalou a guerra civil em Bissau, Aliu tinha apenas quatro anos. “Num dia como tantos, brincava com os irmãos na estrada de sempre quando veículos militares e soldados interpelaram a população local”, descreve João. “Assustado, fugiu com os seus amigos e irmãos para um campo de plantação de caju, onde acidentalmente feriu o olho que lhe permitia ver.” Sem acesso a cuidados médicos devido à guerra, o estado da sua visão sofreu deterioração até se extinguir. “Aliu Baio é cego, mas apesar disso a sua condição não o limita”, explica o fotojornalista. De nenhuma forma. A prova disso é a sua predisposição para a fotografia. E para a música. E para o teatro. E para a boa disposição, em geral. “O Aliu tem mil projectos.”

Inicialmente, João pretendia apenas acompanhar Aliu na sua rotina. “Imaginava esta história contada através de uma linguagem mais fotojornalística”, explica ao P3, em entrevista, a partir de Braga. A sua abordagem, no entanto, mudou. “O trabalho foi crescendo, amadurecendo com o tempo.” Abriu, assim, portas à experimentação e à criatividade de Aliu, que partilha a autoria do projecto. “Fui-lhe dando câmaras fotográficas descartáveis para a mão e ele foi fotografando.” As fotografias de João vieram ao mundo a preto e branco e as de Aliu a cores. “Eu sentia que ele via mais cores do que eu”, diz João, entusiasticamente. Mas como? “Ele não foi sempre cego.”

Mesmo antes de João conhecer Aliu, ele já fotografava. “Eu não sabia, mas o iPhone tem um modo de funcionamento para invisuais que descreve o que está no enquadramento; o Aliu usava-o com muita regularidade.” O guineense não fotografa com o olhar, mas utiliza os outros sentidos – e os sentidos de outros. “A audição é muito importante para o Aliu no momento de fotografar. Quando passa uma mota, por exemplo, ele espera pelo momento em que se aproxima para apontar a câmara e premir o botão. Ele apercebe-se de texturas sonoras e tenta captá-las visualmente.” E apoia-se noutras pessoas para perceber o que o rodeia, de forma a poder controlar, pelo menos, o que irá estar contido no enquadramento. É apoiado nos ombros de outros que Aliu vê o mundo.

Ao longo dos muitos meses de convivência, João e Aliu desenvolveram uma proximidade que se torna evidente nas imagens que compõem a série fotográfica de ambos. “O Aliu é uma pessoa muito especial. É extremamente alegre, intuitivo, bem-humorado.” Vive numa instituição para cegos, em Parede; estudou Psicologia na faculdade e é baterista numa banda de jazz chamada Vertigem. “Mesmo relativamente à sua condição de cego, ele mantém o bom humor. A bio da sua conta de Instagram apresentava-o como ‘médico cirurgião e sniper nas horas vagas’. Ele é esse tipo de pessoa.”


João Silva, que foi colaborador do PÚBLICO, foi distinguido, em 2015, com o Prémio Estação Imagem, com o projecto Paralelos e é, presentemente, o fotógrafo oficial do Sporting Clube de Braga.

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MJA | 18.Jul.2022



Atestado Médico de Incapacidade Multiuso

Dinis Brito, Médico de família

JN  | 09 Julho 2022
 

  1. Pedi o atestado médico multiuso e ainda não me chamaram, o que posso fazer?

  2. Quais os direitos de quem tem deficiência visual monocular em Portugal?

  3. Tenho uma doença degenerativa e 80% de incapacidade. Quais os meus benefícios?


1) Infelizmente esta tem sido uma dificuldade reportada em vários pontos do país. Grande parte dos recursos humanos adstritos às juntas médicas de avaliação de incapacidade integraram as estruturas de combate à pandemia de covid-19 causando constrangimentos no normal decorrer das juntas. Sugiro que contacte a Unidade de Saúde Pública da sua área de residência e exponha a sua situação. Relembro que segundo o Decreto Lei 291/2009 de 12 de outubro: “O adjunto do delegado regional de saúde deverá convocar a junta médica e notificar o requerente da data do exame, a realizar no prazo de 60 dias a contar da data da entrega do requerimento”.

2) Segundo a tabela nacional de incapacidade, que é a utilizada para a avaliação da incapacidade em direito civil, a diminuição da acuidade visual mesmo que unilateral pode contribuir para aumentar a pontuação na percentagem final de incapacidade, dependendo da acuidade visual do outro olho também. A título de exemplo: se existir uma acuidade visual superior a 0.7 num olho, mas inferior a 0.6 no outro olho é atribuída uma percentagem de desvalorização que é tanto maior quanto mais baixa for a acuidade visual do olho afetado.

3) As pessoas com uma incapacidade atribuída igual ou superior a 60% podem usufruir dos seguintes benefícios fiscais: redução no pagamento de impostos, pois uma parte dos rendimentos fica isenta de impostos. Assim, trabalhadores por conta de outrem ou trabalhadores independentes têm uma isenção de 15% e os pensionistas uma isenção de 10%. Essas isenções são válidas desde que o valor isento de impostos não exceda os 2500 euros; redução no valor de retenção na fonte; isenção de imposto sobre veículos (ISV), desde que cumpram alguns quesitos nas emissões de CO2, e de IVA na compra dos mesmos; isenção do imposto único sobre circulação (IUC). Em relação ao imposto municipal sobre imóveis (IMI), imposto municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis (IMTI) e imposto de selo (IS), não existem benefícios.

 

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MJA | 16.Jul.2022



Visão: como a proteger durante o Verão?

Raúl Alberto de Sousa

Observador| 28 jun 2022


A utilização de óculos de sol como forma de proteger os olhos deve obedecer a alguns requisitos: bloquear entre 99 a 100 % da radiação UVA e UVB e filtrar entre 75 a 90 % da luz.

O verão é sinónimo de férias e descontração, no entanto o aumento da intensidade e exposição à radiação ultravioleta (UV) requer cuidados de saúde redobrados. Em doses baixas, a radiação UV tem efeitos benéficos por conduzir à produção de vitamina D, essencial para a fixação de cálcio nos ossos, por exemplo. A exposição à luminosidade em espaços abertos tem efeitos preventivos na incidência e desenvolvimento da miopia. Contudo, a exposição direta e prolongada à radiação solar, incluindo a UV, tem efeitos nocivos, tanto para a pele como para os olhos e anexos oculares.

A
exposição à radiação UV está associada ao desenvolvimento de alterações oculares que dependem da duração e intensidade da exposição. A exposição curta e intensa pode causar foto queratite, pterígio, pinguécula.

A queratite é uma inflamação da córnea, normalmente aguda quando causada pela radiação UV, que pode ser acompanhada de alguma hiperémia conjuntival, vulgo olho vermelho.

A pinguécula e o pterígio são alterações da conjuntiva bulbar, sito na parte branca externa e visível a olho nu do globo ocular, de cor amarelada que podem estar vascularizadas, apresentando crescimento e comprometendo a visão, ou podem ser avascularizadas, sem crescimento nem envolvimento da córnea e da visão, para além do aspeto estético, não necessitando de tratamento. No caso do pterígio, é tratável através de procedimento cirúrgico.

A exposição prolongada à radiação UV está associada ao desenvolvimento de catarata e degeneração macular. A catarata é o nome dado à condição ocular caraterizada pela apresentação de opacidades no cristalino, a lente que está por detrás da pupila. A degeneração macular é uma alteração degenerativa da retina afetando a mácula, zona da retina com um poder de resolução de imagem mais elevado. Ambas as condições são causa de cegueira, sendo que a catarata tem tratamento cirúrgico simples e eficaz. A degeneração macular, dependendo do tipo, ou tem tratamento para atrasar a progressão ou pode não ser tratável de todo, comprometendo significativamente a visão em ambos os casos

Portanto, proteger os olhos é essencial, devendo esta prática ter início na infância.

Uma das formas mais comuns de proteger os olhos da radiação ultravioleta é a utilização de
óculos de sol, no entanto, há certos requisitos que os mesmos devem ter, tais como: bloquear entre 99 a 100 % da radiação UVA e UVB; filtrar entre 75 a 90 % da luz; não ter qualquer distorção ou imperfeição; e ter lentes que permitam um reconhecimento de cor apropriado. De notar que o nível de filtragem da luz não tem qualquer relação com a filtragem de radiação invisível ao olho humano, como é o caso da radiação UV. Por este motivo, é essencial o aconselhamento e apoio técnico na avaliação do que as lentes possam conter, os filtros pretendidos, o nível de escurecimento adequado à situação pretendida, entre outras especificações técnicas, como a resistência física e química. Recorde-se que um óculo de sol é equipamento de proteção individual e que deve cumprir normas de qualidade, como garantia de segurança e eficácia para a sua função.

Além disso, há outras formas de proteger a saúde da visão, como a utilização de um chapéu de sol com abas largas; utilização de óculos de sol mesmo quando se usam lentes de contacto com proteção UV; evitar a luz solar nos períodos do dia de maior intensidade solar. Consultar anualmente o optometrista é fundamental.

A Organização Mundial de Saúde lança o SunSmart Global UV App para IOs e Android para sensibilizar e ajudar a proteger dos perigos da radiação solar, em particular a pele e os olhos. A aplicação indica o nível do Índice UV para os próximos 5 dias, de um até onze. A partir de um valor de três, as atividades ao ar livre devem ser adaptadas à necessidade de proteção dos olhos e da pele.

Estes hábitos e práticas promovem a saúde da visão e previnem deficiência visual e cegueira. Devem ser implementados durante todo o ano, com principal atenção durante a época do verão, no caso de Portugal. Nesta altura, tenha cuidados redobrados com os seus olhos.

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MJA | 1.Jul.2022


 

TBA - Teatro Bairro Alto | Miquelina e Miguel

7 Julho - às 19h30 espectáculo COM AUDIODESCRIÇÃO

Miguel Pereira é coreógrafo e o seu trabalho sempre foi desenvolvido com ligação ao corpo, ao movimento e à dança. Mas nunca deixou de usar a palavra, o diálogo e o texto para também questionar o que pode ser uma peça de dança. Esta sua nova peça nasce da condição de saúde da sua mãe, Miquelina, que se encontra mentalmente mais debilitada, mas que, nesse processo, ganhou uma nova consciência do corpo e até uma nova forma de relacionamento com o Miguel. O espetáculo tem audiodescrição no dia 7 de julho às 19h30. Como sempre, gostaríamos de contar com a vossa presença.

O TBA é um edifício acessível ao público com mobilidade condicionadae  dispõe de um percurso podotátil. Em todo o espaço, a sinalética é rebaixada, com revelo e em braille. Continuamos a trabalhar para reduzir as barreiras para que o nosso espaço e eventos sejam acessíveis a um maior número de pessoas.

Nunca é demais lembrar:
O TBA fica na Rua Tenente Raúl Cascais, 1-A, junto ao Largo do Rato, em Lisboa.
A estação de metro com elevador mais próxima do TBA é a estação do Rato (linha Amarela).
Podem saber mais sobre a nossa política de acessibilidade e de inclusão no site do TBA.

e-mail para bilheteira@teatrodobairroalto.pt
telefone: 218758000 (de terça a domingo, entre as 15h e as 20h)

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MJA | 23.Jun.2022



Apple prepara-se para utilizar Eloquence nos seus sistemas operativos

ACAPO | 20 Junho 2022


Com o lançamento da primeira versão Beta do IOS 16.0, a Apple disponibilizou o popular sintetizador de voz Eloquence, a voz que o Stephen Hawking utilizava para falar.

Se os testes correrem bem, as pessoas com deficiência visual terão ao seu dispor um conversor de texto para voz que lhes permitirá aceder à informação. Para a ACAPO é importante que a gama de sintetizadores de voz disponíveis aumente para os diversos sistemas operativos, já que cada pessoa tem as suas preferências de configuração de tecnologias de apoio, o que lhes permitirá aceder à informação de forma mais confortável. Não são poucas as vezes em que os cidadãos com deficiência visual são obrigados a utilizarem vozes diferentes quando mudam de sistema operativo. Na verdade, podemos comparar esta condicionante à possibilidade de se obrigar as pessoas a mudarem para óculos diferentes sempre que utilizarem equipamentos com outos sistemas operativos.

Nos iPhones parece que a voz do Eloquence fica distorcida, dando a sensação que está a falar demasiadamente alta para as colunas, independentemente do volume do iPhone. Já num iPad os resultados foram bastante satisfatórios, não se sentindo o problema dos iPhones. No que concerne à transmissão da voz por Bluetooth para um altifalante externo, constata-se que existem ruídos, dando a sensação que existem interferências na transmissão.

Um sintetizador de voz é um programa que recebe texto, interpreta-o adicionando-lhe as regras fonéticas de cada idioma e por fim converte o texto em voz.

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MJA | 21.Jun.2022



Campanha de Valorização do Cidadão Cego arranca Hoje na Lourinhã

ALVORADA | 15/06/2022


Decorre a partir desta quarta-feira, dia 15, uma campanha local e sensibilização comunitária para a valorização do cidadão cego, promovida pelo Município da Lourinhã. A iniciativa apresenta estes cidadãos como pessoas resilientes e capazes de se adaptarem à sua condição, com exemplos de conquistas pessoais.

Segundo a autarquia, a campanha focar-se-á “nas suas histórias de superação, coragem e amizade, histórias essas que serão veiculadas através de spots na RCL, cartazes e conteúdos nas redes sociais”.

Os objectivos da campanha passam por consciencializar a sociedade para a importância da inclusão dos cidadãos cegos nos vários aspectos da vida social, económica, cultural e política; sensibilizar a comunidade para a criação de condições para o desenvolvimento de aptidões e aspirações, sem discriminação; valorizar as conquistas pessoais dos visados, independentemente da sua condição.

Os participantes fazem parte do Serviço de Apoio à Deficiência Visual da Lourinhã, um serviço municipal, em funcionamento desde 2017, que apoia cidadãos amblíopes e cegos do concelho da Lourinhã, nas vertentes apoio na orientação & mobilidade; apoio nas novas tecnologias; iniciação ao Braille; acções lúdico-culturais; apoio a actividades de vida diária; consultoria em acessibilidade; e educação cívica.

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MJA | 15.Jun.2022



FPF «cria» Rádio para os jogos em Alvalade para as pessoas invisuais

MaisFutebol | 3 junho 2022


A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) vai disponibilizar um «serviço de comentário áudio descritivo» nos jogos que a Seleção Nacional vai realizar no Estádio de Alvalade, frente à Suíça e à República Checa.

A iniciativa, explica a FPF, «tem como público-alvo as pessoas com deficiência visual», que terá assim «hipótese de ouvir um relato mais descritivo e inclusivo que lhe permitirá ter uma melhor noção daquilo que se está a passar no campo».

Pede o organismo que queiram usufruir desta funcionalidade que se faça acompanhar de um rádio FM e auscultadores, lembrando que «a maioria dos smartphones mais recentes não têm recetor de rádio FM». A emissão será difundida na frequência 104.80 MHz FM.

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MJA | 14.Jun.2022



Roma expõe obra de Caravaggio para deficientes visuais

Estadão - Agências ANSA | 02/06/2022

Modelo tátil da obra de Caravaggio está no Palácio Barberini, em Roma.
Modelo tátil do quadro, com legendas em braile e dois QR codes que levam a conteúdos de áudio, está localizado no Palácio Barberini


O Palácio Barberini, localizado em Roma, disponibilizou para pessoas com deficiência visual um dos mais famosos quadros do pintor italiano Caravaggio (1571-1610).

Apoiado pela Fundação Roma e idealizada pela Associação de Museus Voluntários (ODV), o projeto envolveu a criação de um quadro tátil da obra Giuditta e Oloferne, uma das mais prestigiadas do artista milanês.

A placa tátil, que foi criada pelo estúdio de arquitetura Architalab e testada por pessoas com deficiência visual, repropõe a pintura em forma tridimensional. O quadro fornece informações iconográficas dos diferentes elementos e personagens que foram representados na obra original.

O quadro foi trabalhado através do módulo de escultura Scullpt 3D, que deu maior espessura ao baixo-relevo da pintura. Ele foi colorido com tintas de base sintética resistentes ao desgaste e ao toque.

A especial obra de Caravaggio é completada por várias legendas em braile e dois QR codes que levam a conteúdos de áudio.

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MJA | 13.Jun.2022


Mais de 250 pessoas com deficiência apresentadas a empresas pela mão da Valor T

Dinheiro Vivo/Lusa | 01 Maio 2022


A agência de emprego para pessoas com deficiência Valor T, lançada a 1 de maio do ano passado, já apresentou mais de 250 candidatos a empresas e tem uma "carteira" de mais de mil pessoas registadas.

Precisamente um ano após o lançamento da Valor T a diretora do projeto, Vanda Nunes, fez à Lusa um balanço dos primeiros 12 meses e traçou propostas para o próximo ano, salientando sempre que mais do que os números o balanço positivo do primeiro ano reflete-se no trabalho que foi feito com cada candidato a um trabalho e com cada empresa.

A Valor T é um projeto da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), desenvolvido em pareceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e o Instituto Nacional para a Reabilitação (INR), que se assume como um centro de emprego exclusivo na procura de ofertas de trabalho para pessoas com deficiência, avaliando as competências e as características de cada candidato para encontrar o trabalho que melhor se lhe adapte.

Qualquer pessoa com deficiência, seja ela motora, intelectual, visual ou auditiva, e com interesse em tentar encontrar emprego através da Valor T deve aceder à plataforma (
www.valort.scml.pt) e inscrever-se.

Neste último ano os números refletem o que está a ser feito, como mais de seis mil emails trocados com candidatos a emprego e outras tantas mensagens, ou mais de cinco mil chamadas telefónicas. Mas os números são redutores, diz a responsável.

O que diferencia o Valor T é "o contributo, para mostrar o que é possível fazer desde que haja um modelo de trabalho focado na capacidade e não na incapacidade", com candidatos e empresas "a contribuírem para que o trabalho digno seja mesmo para todos", afirma, concluindo que o trabalho do projeto deve ser avaliado pelas oportunidades que cria.

Com apenas um ano a Valor T, diz Vanda Nunes, teve como primeira prioridade conhecer as pessoas, relacionar-se com elas, acompanhá-las, avaliar o que sabem fazer, mas também o que querem fazer, mas também os sonhos e os medos.

"Trabalhamos com cada pessoa e empresa com todo o tempo, o T é de talento, mas também de tempo", afirma a responsável, de acordo com a qual há já mais de 150 empresas registadas na Valor T, ainda que várias delas ainda sem condições para iniciar a contratação de pessoas com deficiência.

O ano que agora chega ao fim, resume Vanda Nunes, foi o ano de "lançar as sementes", primeiro de ouvir empresas e associações, depois apresentar a plataforma, "acessível a todas as áreas da deficiência", depois receber candidatos a emprego, depois fazer entrevistas (mais de 800) de forma remota, nomeadamente devido à pandemia de covid-19. "Mas a pandemia não nos fez baixar os braços, pelo contrário", afirmou.

Com as tais "sementes" lançadas, com candidatos apresentados a empresas e com alguns já a trabalhar, especialmente nos grandes centros urbanos, "o próximo desafio é dar continuidade a este trabalho, pessoa a pessoa" e chegar a todo o país.

Ao fim de um ano, 41% dos candidatos da Valor T são da área da Grande Lisboa, 18% do Porto, seguindo-se Setúbal e Braga. Ainda que em todos os distritos haja candidatos a emprego é preciso consolidar essa rede do resto do país, afirma Vanda Nunes.

Segundo Vanda Nunes, 40% dos candidatos são pessoas com uma deficiência motora, seguindo-se 18% com deficiência cognitiva, e depois deficiência visual. Cerca de 60% são homens e a média de idades ronda os 35 anos. E se há uma "faixa de candidatos jovens muito considerável" há também pessoas desempregadas de muito longa duração.

É para eles que a equipa de Vanda Nunes trabalha, há um ano, eram sete pessoas e agora são 18, entre psicólogos, juristas, da rede colaborativa da própria SCML, da área social, da área da economia para lidar com as empresas.

A lei 4/2019 estabelece um sistema de quotas de emprego para pessoas com deficiência, com um grau de incapacidade igual ou superior a 60%. Segundo a lei empresas médias devem admitir 01% de trabalhadores com deficiência e as grandes 02%. Para as grandes a lei aplica-se já no próximo ano (01 de fevereiro) e para as empresas com até 100 trabalhadores em 2024.

Vanda Nunes diz no entanto que muitas das empresas que estão a trabalhar com a Valor T não o fazem por causa da lei das quotas.

Das palavras de Vanda Nunes percebe-se que trabalhar com pessoas com deficiência é bom para as empresas, mas também para os restantes trabalhadores.

E dá um exemplo. "Estar a trabalhar com um colega que saiu de casa de cadeira de rodas faz-nos pensar duas vezes quando nos preocupamos com as nossas pequenas coisas".

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MJA | 4.Mai.2022


 

VII Jornadas Deficiência Visual & Intervenção Precoce

“A Participação da Criança com Deficiência Visual nos seus Contextos Naturais”

caipdv | Auditório do Hospital Pediátrico de Coimbra|  6 e 7 de Maio de 2022


Para esclarecimentos adicionais, contacte a equipa de secretariado através dos telefones: 239 483 288/967 132 727 ou do e-mail formacao@anip.net

fonte: caipdv OLEC

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MJA | 23.Abr.2022


 

Praia Acessível - Praia para Todos!

INR | 15 Dez 2021

O objetivo central deste Programa .... visa que cada vez mais praias portuguesas passem a assegurar condições de acessibilidade e de serviços que viabilizem a sua utilização e desfrute, com equidade, dignidade, segurança, conforto, independência e a maior autonomia possível, por todas as pessoas que as desejem visitar, independentemente da sua idade e de possíveis dificuldades de locomoção ou outras incapacidades que, transitória ou permanentemente, condicionem a sua mobilidade.

Os requisitos de cumprimento obrigatório que determinam a atribuição da classificação de "acessível" a uma zona balnear, permitindo o hastear do respetivo galardão, são os seguintes:

  • Acesso pedonal fácil e livre de obstáculos, a partir da via pública envolvente, até uma entrada acessível da zona balnear;

  • Estacionamento ordenado e com lugares reservados para viaturas ao serviço das pessoas com deficiência condicionadas na sua mobilidade, portadoras de cartão de estacionamento, localizados o mais próximo possível dessa entrada e ligados até ela por um percurso pedonal sem quaisquer barreiras;

  • Rede de percursos pedonais acessíveis na praia, totalmente livre de obstáculos e de interrupções, que se iniciará nessa entrada acessível e incluirá passadeiras no areal, sempre que este exista, e, nos restantes casos, um percurso pavimentado, firme, estável e contínuo. Caso existam desníveis, os degraus terão de ser complementados por rampas suaves com corrimãos e/ou meios mecânicos de elevação acessíveis a pessoas com mobilidade condicionada (ascensores ou plataformas elevatórias). Esta rede de percursos acessíveis conduzirá necessariamente: à Zona de banhos de sol e sombras (chapéus de sol, toldos, colmos, barracas), e o mais próximo possível da água; e a Instalações sanitárias e um Posto de primeiros socorros adaptados às necessidades das pessoas com mobilidade reduzida.

  • Presença de Nadador-salvador;

  • Informação ao público à entrada da praia e na página eletrónica do município, detalhando as condições de acessibilidade e os serviços de apoio disponibilizados às pessoas com mobilidade condicionada.


Indicam-se alguns exemplos de outras boas práticas que, embora não sendo de cumprimento obrigatório, melhoram inquestionavelmente as condições de desfrute das praias por estas pessoas, pelo que são recomendadas numa perspetiva de melhoria contínua do Programa:
 

  • Equipamentos anfíbios para o banho e/ou o passeio na praia de pessoas com mobilidade reduzida (cadeiras de rodas, andarilhos, canadianas, etc.);

  • Vestiários, duches, bebedouros e lava-pés acessíveis a todos;

  • Espaços de acolhimento e apoio, com sombra, reservados a pessoas com mobilidade condicionada e a pessoas com cães de assistência;

  • Acolhimento personalizado e orientação de pessoas com deficiência visual;

  • Bares de praia, restaurantes e lojas acessíveis a todos;

  • Atividades lúdicas e pedagógicas acessíveis e inclusivas;

  • Informação ao público em formatos alternativos, incluindo os acessíveis a cegos;

  • Código de cores para daltónicos "ColorAdd" em bandeiras indicadoras do estado do mar e em contentores para recolha seletiva de resíduos;

  • Mapas táteis da praia, com indicações em Braille, à entrada da zona balnear;

  • Sistemas para encaminhamento e acesso ao banho com autonomia de pessoas cegas e para emissão de alertas de segurança de pessoas surdas.


+ info: https://www.inr.pt/programa-praia-acessivel

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MJA | 3.Fev.2022


Teatro para todos. “A audiodescrição ‘permite-me’ ver o mundo”

SCML | 24 janeiro 2022


A peça “Ilhas” subiu ao palco este domingo, 23 de janeiro, e teve a particularidade de ser também destinada a invisuais. Munidas de um auricular, Joana, Maria e Carla, ouviram a audiodescrição que lhes permitiu “ver com palavras” um espetáculo no Teatro D. Maria II.

A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e o Teatro D. Maria II, no âmbito de um projeto de acessibilidade, que tem como intuito possibilitar o acesso universal ao edifício, à programação e a outras iniciativas desenvolvidas ao longo da temporada. O objetivo é que ninguém deixe de ir ao teatro, seja qual a for a condição que possua.

Foi com natural entusiasmo, curiosidade e alguma ansiedade que Joana, Maria e Carla, utentes do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos (CRNSA), equipamento da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa – se preparavam para assistir à peça “Ilhas”, no Teatro D. Maria II, este domingo. Uma peça que traduz as imagens em palavras…

As pessoas cegas ou com baixa-visão que vão assistir à peça têm a possibilidade de entrar mais cedo, fazer um reconhecimento prévio do espaço, conhecer os atores e, depois, no espetáculo, com um auricular, ouvir a tradutora que fará a audiodescrição. O objetivo é descrever todos os movimentos, ações e todos os elementos de cenário. Como descrever um sorriso, uma careta, uma cara triste, uma expressão de surpresa ou de irritação, ou um movimento de dança para pessoas com deficiência visual? Este é um dos desafios da audiodescrição. Transformar o teatro numa experiência completa para quem não vê.

Os testemunhos
Joana Ribeiro, 27 anos, de Lisboa, não esconde a sua ansiedade e emoção. É a primeira vez que irá assistir ao teatro com recurso à audiodescrição. No átrio que antecede a sala Garrett, Joana conta que parece um sonho tornado realidade. Com apenas 5% de visão, a jovem utente do CRNSA faz teatro amador na SMUP, na Parede, e está bastante nervosa com o facto de assistir a esta peça de teatro. “Já era tempo da verdadeira inclusão. Nós estamos muito limitados, e esta iniciativa é uma oportunidade na igualdade de direitos”, diz sem rodeios. A sua mãe, Maria Ribeiro, destaca a “oportunidade” da iniciativa e a “diferença” que um espetáculo acessível pode fazer na vida de um cego ou com baixa-visão.

Já Maria Serra, 21 anos, tem cegueira congénita, mas uma vontade enorme de conhecer o mundo que a rodeia. A utente do CRNSA, é repetente nestas andanças. Já assistiu ao espetáculo “A Bela e o Monstro”, e ficou fã. “A audiodescrição ‘permite-me’ ver o mundo”, diz a jovem estudante no 12º ano. Maria e Sofia, a sua mãe, enaltecem as vantagens deste recurso e destacam a importância deste projeto para a igualdade de direitos e para a inclusão dos que, infelizmente, têm uma limitação. Através das palavras, “eu já consigo ´ver´ e perceber uma história”, diz sorridente.

Por outro lado, Carla Carvalho, 47 anos, escriturária, foi diagnosticada com baixa-visão há cerca de dois anos e meio. O céu caiu-lhe em cima, mas reergueu-se com a ajuda do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos. Na sua estreia num espetáculo com recurso a audiodescrição, a escriturária não esconde a sua curiosidade e espectativa. “Esta iniciativa é importante e sensibiliza para a problemática da inclusão”, defende Carla.

Respeito e valorização
O sentimento é geral entre as utentes. Sentem-se respeitadas e valorizadas, pois podem frequentar o teatro, compreender melhor os mais variados temas e conhecer várias obras, o que acaba encantando pessoas dos mais diversos públicos, com e sem deficiência visual.

Isabel Pargana, diretora do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, defende “a participação em experiências diversificadas, de âmbito cultural, recreativo, desportivo ou outro, que promovam um maior sentimento de pertença e de inclusão na sociedade e que sejam suficientemente desafiadoras para um crescimento pessoal e social”. A responsável pelo CRNSA afirma que “assegurar a audiodescrição numa peça de teatro é, sem dúvida, abrir a porta da cultura a novos públicos e contribuir para a igualdade de oportunidades, nomeadamente através da eliminação de barreiras de comunicação, tornando acessível, através de linguagem verbal, a informação que é, muitas vezes, apropriada visualmente”.

Cláudia Belchior, presidente do Conselho de Administração do Teatro Nacional D. Maria II, sublinha que “o teatro, e mais ainda uma casa com missão de serviço público como o Teatro Nacional D. Maria II, é um espaço para todos. Tendo isto em mente, só faz sentido pensar a nossa programação de uma forma integrada, envolvendo todos os públicos. A audiodescrição é, por isso, uma ferramenta muito importante e que tentamos disponibilizar em cada vez mais sessões dos nossos espetáculos, permitindo que o público cego ou com algum tipo de deficiência visual possa deslocar-se ao Teatro, em total igualdade de oportunidades, e usufruir de uma experiência única.”

A responsável pelo Teatro D. Maria II defende que “a parceria com a Santa Casa é de extrema importância para o Teatro Nacional D. Maria II, uma vez que nos ajuda a prosseguir a nossa missão de sermos um Teatro mais democrático, inclusivo e acessível a todas e a todos.” E continua: “A Misericórdia de Lisboa tem estado ao lado do Teatro Nacional D. Maria II desde há três anos em duas vertentes. Por um lado, no envolvimento de públicos jovens, seniores e colaboradores da Santa Casa em atividades artísticas, como espetadores ou num âmbito formativo. Por outro, como patrocinador para a Acessibilidade, criando condições para que todos os públicos com necessidades específicas possam aceder ao edifício, à programação e às atividades do Teatro. Um dos grandes objetivos é continuar a trabalhar para que a nossa oferta para públicos com outras necessidades específicas seja cada vez mais alargada, sendo disso exemplo as sessões com Interpretação em Língua Gestual Portuguesa, Audiodescrição e as Sessões Descontraídas.

O teatro é um lugar de todos e para todos
Esta é uma prioridade do D. Maria II e da Santa Casa. Porque o teatro só se faz com todos, são já acessíveis a pessoas com mobilidade condicionada todos os espaços do edifício, uma conquista alcançada com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, patrocinador do D. Maria II para a área da acessibilidade.

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MJA | 30.Jan.2022


Como é que uma pessoa com deficiência visual faz um autoteste à covid-19 sozinha? Não faz

Mara Tribuna | Expresso 

22 Janeiro, 2022


Os autotestes à covid-19 não são acessíveis para pessoas cegas ou com baixa visão. A alternativa é recorrer a uma farmácia ou pedir ajuda, porque fazerem o teste sozinhos não é uma opção. A solução não teria de passar por criar um autoteste novo – isso “não se justifica”, diz a presidente da Associação de Apoio e Informação a Cegos e Amblíopes. No entanto, “seria importante” fazer uma adaptação para que o resultado fosse detetado por outro sentido que não a visão, sugere o presidente da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal.

Sempre que Teresa Ribeiro e Rodrigo Santos precisam de fazer um teste à covid-19 deslocam-se a uma farmácia ou a um laboratório. Normalmente, os profissionais estão sensibilizados e “ajudam-nos muito”, diz Teresa. Mas, por vezes, debatem-se com “a dificuldade genérica de lidar com uma pessoa com deficiência visual enquanto cliente”, conta Rodrigo: “transmitem informações do género ‘sente-se ali’, sem especificar onde é o ‘ali’”.

Enquanto centenas de portugueses fazem diariamente autotestes à covid-19 em casa, as pessoas com deficiência visual não têm a mesma facilidade. Em Portugal, os últimos dados disponíveis – referentes ao Censos 2011 – davam conta de 900 mil pessoas com dificuldades em ver, entre as quais 28 mil com cegueira.

Teresa Vaz é presidente da Associação de Apoio e Informação a Cegos e Amblíopes (AAICA) e explica que, da mesma forma que não consegue fazer um teste de gravidez, também não consegue fazer um autoteste à covid-19. Quando o faz em casa é com a ajuda de um familiar ou então com uma aplicação que se chama Be My Eyes. No entanto, como tem dificuldade em colocar a zaragatoa no nariz, prefere ir a uma farmácia. Fazer um autoteste sozinha não é, de todo, uma opção: “Se fechar os olhos, o que é que vê? Nada. É isso que eu vejo!”.

A forma de ultrapassarem esta dificuldade é igual a muitas outras: recorrem a pessoas que veem. Rodrigo Santos, presidente da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), explica que uma das hipóteses é “recorrer a familiares, vizinhos, amigos” ou usar plataformas como o Be My Eyes: “permite encontrar voluntários que, através de um smartphone, descrevem à pessoa cega o que está a ser captado pela sua câmara”. Há ainda quem recorra a “assistentes pessoais, no âmbito dos centros de apoio à vida independente” e a ACAPO também disponibiliza ajuda em algumas delegações do país: “encontramos alguém que possa ajudar a pessoa com deficiência visual a realizar o teste”.

Apesar das dificuldades que as pessoas com deficiência visual encontram, não é motivo para não conseguirem ser testadas, diz Teresa Vaz. “No século XXI, todos fazemos testes se quisermos, tem a ver com a atitude da pessoa. Se temos mobilidade para sairmos, e se vamos à farmácia comprar medicamentos e gotas para os olhos, também podemos ir fazer um teste”, afirma.

Rodrigo Santos também não tem conhecimento de pessoas cegas ou com baixa visão que não façam testes com tanta regularidade por causa dos obstáculos. Até porque a testagem nas farmácias contribui para que as pessoas, na dúvida, prefiram fazer o teste lá, tendo garantia de que vai ser bem feito e o resultado fidedigno, adianta.

“Não se justifica” criar um teste novo, mas adaptação “seria importante”
“Se pedirmos ajuda a alguém na farmácia, é suficiente”. Por isso, a presidente da AAICA acha que “não se justifica” criar um autoteste à covid-19 especificamente para pessoas com deficiência visual. “É preciso facilitar, em vez de complicar”, simplifica Teresa Vaz.

Já Rodrigo Santos, da ACAPO, diz que tudo o que pudesse melhorar a acessibilidade e a autonomia na realização dos testes “seria importante”. Isso não significa criar um novo teste, mas fazer uma adaptação. “O teste rápido que dá o resultado através de coloração poderia, por exemplo, despoletar outro tipo de reação que pudesse ser percecionada por um sentido que não a visão – um som ou um aumento de temperatura do recipiente”, sugere.

Por outro lado, também importa explicar como funcionam os testes rápidos, continua o presidente da associação. “Se é fácil para alguém que vê regularmente imagens na televisão sobre como se realizam os testes, imagens que também podem ser vistas nas ilustrações das próprias embalagens, a verdade é que muitas pessoas com deficiência visual nem fazem ideia nenhuma em que consiste um teste rápido, apenas se associa à existência de uma espécie de cotonete, não sendo habitualmente explicado de forma verbal como se faz a recolha, a análise e como se apura o resultado”, conclui.

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MJA | 29.Jan.2022



FC Porto inova no apoio ao adepto com deficiência

FCPorto  | 25 Janeiro 2022

 

Novo serviço já estará disponível na receção ao Marítimo

O FC Porto vai estrear uma série de funcionalidades no apoio ao adepto com deficiência. A partir deste domingo, dia em que os azuis e brancos recebem o Marítimo em mais uma jornada do campeonato, os adeptos com deficiência poderão beneficiar de um acompanhamento personalizado nas bancadas Norte e Sul do Estádio do Dragão.

No âmbito da parceria estabelecida entre o FC Porto e a Semente - associação sem fins lucrativos com o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social formada por colaboradores da LIPOR e respetivos familiares - celebrou-se um protocolo que promove diversas atividades de voluntariado em dias de jogo no Estádio do Dragão.

Tendo como meta melhorar o acesso e promover a inclusão das pessoas com deficiência no anfiteatro portista, realizou-se uma formação no Auditório do Museu do FC Porto para que todos os voluntários ficassem a par da visão estratégica e dos objetivos da iniciativa inovadora potenciada pelos Dragões.

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MJA | 26.Jan.2022



ACAPO volta a apresentar queixa por discriminação no acesso ao voto antecipado

Estela Silva / LUSA | 17 jan 2022


A Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal queixou-se ao MAI sobre a discriminação nas condições de acesso ao voto antecipado. É uma "violação dos mais elementares direitos humanos", sublinhou.

A Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) voltou a queixar-se à Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna (SGMAI) sobre discriminação nas condições de acesso ao voto antecipado, repetindo-se críticas e problemas de atos eleitorais anteriores.

De acordo com um comunicado esta segunda-feira divulgado pela ACAPO, as pessoas com deficiência visual “estão impedidas de solicitar, pela Internet e das mesmas formas que qualquer outro cidadão, o seu voto antecipado”, pelo que volta a apresentar queixa por discriminação por razões semelhantes às que motivaram uma participação contra a SGMAI nas autárquicas do ano anterior.

No comunicado, a associação recorda problemas em atos eleitorais anteriores, nomeadamente nas eleições autárquicas de setembro de 2021, denunciando barreiras que impossibilitavam os cidadãos cegos e com baixa visão de requerer online o voto antecipado ou consultar o seu local de recenseamento, sendo-lhes solicitado um código de segurança presente numa imagem que não conseguiam ler sem ajuda.

“As pessoas com deficiência visual estão, pois, impedidas de solicitar, pela Internet e das mesmas formas que qualquer outro cidadão, o seu voto antecipado porque, apesar de saber deste problema há mais de um ano, o Estado português nada fez nesta matéria, que permanece assim desde 2019″, denuncia a ACAPO, acusando o Estado português de violação dos direitos humanos ao não respeitar convenções internacionais ratificadas, nas quais se prevê voto e acesso a meios digitais em igualdade para todos os cidadãos.

Se a questão da consulta do recenseamento eleitoral acabou por ter solução ainda antes das últimas autárquicas, na do voto antecipado nas legislativas do final do mês o problema agrava-se, diz a ACAPO.

“Quatro meses depois, eis que novas eleições voltam a revelar uma vez mais a manutenção desta barreira no sítio web do pedido de voto antecipado. Uma barreira que é ainda mais grave, porque só existem duas formas alternativas de pedir o voto antecipado: por correio, ou através de autenticação com chave móvel digital ou cartão de cidadão. É uma barreira ainda mais grave porque este processo tem um tempo muito curto para ser realizado por qualquer cidadão”, critica a ACAPO, em comunicado.

Perante o que considera ser “a discriminação das pessoas com deficiência” e uma “violação dos seus mais elementares direitos humanos em condições de igualdade”, a ACAPO apresentou queixa contra a SGMAI.

“Não deixaremos de exigir responsabilidades a quem as tem, para que esta violação de um dos direitos mais relevantes de um estado democrático não fique impune. Independentemente da resolução que venha a ser dada a este problema, queremos que fique registada, e que seja devidamente sancionada, esta inadmissível discriminação das pessoas com deficiência visual, que não precisava, e não devia existir”, afirma a associação em comunicado.

A exigência de responsabilidades decorrerá “seja em que instâncias for, porque a cidadania é mais do que boas intenções ou palavras, é ação e respeito pela lei e pelos direitos humanos”, acrescenta a associação.

No comunicado, a ACAPO apela ainda aos seus associados que queiram requerer o voto antecipado, que o façam “dirigindo uma carta, com o seu nome, número de identificação civil, morada e município onde pretendem votar antecipadamente em mobilidade, para a SGMAI, mas enviando essa carta em Braille”.

“É nosso direito correspondermo-nos em Braille com as entidades públicas, direito que devemos fazer valer”, conclui o comunicado assinado pelo presidente da direção nacional da ACAPO, Rodrigo Santos.

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MJA | 22.Jan.2022



Lucas Tchata, o professor dos deficientes visuais do Cuando Cubango

DW.COM | 11.01.2022
Autoria Adolfo Guerra (Menongue)

Na província angolana do Cuando Cubango, um professor dedica-se a ensinar braile e outros conteúdos aos deficientes visuais em Menongue. Lucas Tchata perdeu a visão em 1984, mas não desistiu dos estudos.

Segundo o censo geral da população e habitação realizado em 2014, Angola tem mais de 650.000 portadores de deficiência, o que representa 2,5% da população. Destes, 58.921 são deficientes visuais.

Ver vídeo aqui: https://www.dw.com/pt-002/lucas-tchata-o-professor-dos-deficientes-visuais-do-cuando-cubango/av-60276873

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MJA | 16.Jan.2022


Instituição chinesa sem fins lucrativos usa tecnologia de conversão de texto em fala para expandir o acesso a audiolivros para deficientes visuais

Microsoft


Na China, produzir audiolivros exige muito tempo e dinheiro, por isso, as pessoas com deficiência visual acabam carecendo de textos necessários, seja para educação, trabalho ou diversão. Por esse motivo, a instituição sem fins lucrativos Hongdandan Visually Impaired Service Center usou o Custom Neural Voice, uma nova funcionalidade de conversão de texto em fala dos Serviços Cognitivos do Microsoft Azure, e a plataforma Audio Content Creation para criar rapidamente audiolivros de alta qualidade com o uso de IA. [...]

Criação mais rápida de audiolivros
Um audiolivro convencional, que é lido por um voluntário ou locutor, pode levar semanas, ou até meses, para ser produzido. A Hongdandan queria acelerar o processo e aproveitar que a IA pode fazer exatamente isso.

A plataforma Audio Content Creation disponibiliza vozes previamente produzidas com o uso de IA. Usando a tecnologia TTS, essas vozes leem qualquer texto com muito mais naturalidade do que as tecnologias anteriores. A Microsoft oferece mais de 140 vozes neurais pré-produzidas em mais de 60 idiomas para clientes que desejam adicionar rapidamente funcionalidades de leitura ou dar voz a um chatbot. Essa tecnologia de conversão de texto em fala neural (NTTS) é capaz de converter texto em um audiolivro digital em questão de minutos.

Voluntários da Hongdandan e da Microsoft foram treinados para usar a plataforma Audio Content Creation, que não exige programação ou experiência técnica. Os voluntários podem ouvir gravações para sintonizar a pronúncia, o tom e muito mais, para personalizá-las conforme o estilo e o significado dos livros.

Personalização da experiência do audiolivro
A Hongdandan deu um passo além com a criação de duas vozes personalizadas e marcadas para os audiolivros que produz. Dong doou a própria voz para um deles. “Fiquei impressionada com a clareza com que ele captura as características da minha voz”, surpreende-se ela.

O processo é simples e leva uma fração do tempo que outros programas de TTS exigem. Primeiro, Dong gravou a leitura de quase 500 frases. Em seguida, o Custom Neural Voice usou esses dados da fala para treinar a voz sintética “Lina”, que soa natural, como se uma pessoa real estivesse falando. Quando o modelo de voz sintética é treinado e disponibilizado para converter texto em fala, os usuários conseguem ajustar ainda mais o áudio de várias maneiras, como entonação, volume e pronúncia.

Com esse processo simples, sem uso de código, os usuários não precisam de uma extensa tecnologia nem conhecimento de ciências da computação. Eles conseguem criar rapidamente vozes realistas e humanas com apenas um décimo dos dados que as tecnologias anteriores exigiam. “Ficamos surpresos com a rapidez com que a Microsoft conseguiu reproduzir a voz de Lina de forma tão natural com seus dados de fala e nos permitiu criar audiolivros educacionais com muito mais rapidez”, Zeng relata.
 

texto integral aqui: https://news.microsoft.com/pt-br/instituicao-chinesa-sem-fins-lucrativos-usa-tecnologia-de-conversao-de-texto-em-fala-para-expandir-o-acesso-a-audiolivros-para-deficientes-visuais/ (18 maio , 2021)

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MJA | 6.Jan.2022


4 de Janeiro é o Dia Mundial do Braille


A resolução seguinte, pela qual fica proclamado o Dia Mundial do Braille - 04 de Janeiro -, foi aprovada em Novembro de 2000 na V Assembleia Geral da União Mundial de Cegos realizada em Melbourne, na Austrália.

  • CONSIDERANDO QUE: o braille tem se revelado um meio eficaz de comunicação para os cegos, os surdo-cegos e para os deficientes visuais desde 1929, ano em que foi inventado em Paris (França) por Louis Braille;

  • CONSIDERANDO QUE: o braille é equivalente às letras comuns impressas;

  • CONSIDERANDO QUE: o braille é um sistema de leitura e escrita eficaz para os cegos, os surdocegos e os deficientes visuais;

  • CONSIDERANDO QUE: o braille é um elemento básico para a alfabetização, a independência e a consecução de um emprego;

  • CONSIDERANDO QUE: o braille significa para os cegos, os surdocegos e os deficientes visuais a possibilidade de usufruir de liberdade intelectual, segurança pessoal e igualdade de oportunidades;

  • CONSIDERANDO QUE: saber ler e escrever em braille é essencial para o desenvolvimento pessoal no meio social e económico,


A V Assembléia Geral da União Mundial de Cegos, celebrada na cidade de Melbourne, Austrália determina:

CONSIDERANDO QUE: a União Mundial de Cegos vem promovendo a alfabetização em braille em todo o mundo como direito humano fundamental para todos os cegos, os surdocegos e os deficientes visuais;

CONSIDERANDO QUE: a União Mundial de Cegos apoia firmemente a alfabetização em braille como ferramenta para garantir que as pessoas cegas, surdocegas e deficientes visuais tenham acesso à igualdade e à liberdade universais e a convicção de que podem tomar parte no futuro vibrante do mundo, no campo social, político e econômico.


QUE o dia 04 de Janeiro, data de nascimento de Louis Braille, seja declarado como Dia Mundial do Braille.

AINDA se resolve que a União Mundial de Cegos exorte a Organização das Nações Unidas a aprovar e declarar o dia 04 de Janeiro como "Dia Mundial do Braille". (nota: O que veio a acontecer em 2018)

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MJA | 4.Jan.2022


 

Bombeiros de Viana - em parceria com a Íris Inclusiva - lançam manual de primeiros socorros em braille

Fernando André Silva |O Minho | 03/01/2022


Já existe um manual de primeiros socorros em braille que pretende proporcionar às pessoas cegas e com baixa visão conhecimentos e competências básicos na área da atuação de primeira linha em situações de emergência. Foi lançado pelos Bombeiros Voluntários de Viana do Castelo em parceria com a Associação Íris Inclusiva e tem o apoio da Câmara local.

Em comunicado, a Íris Inclusiva salienta que o livro está escrito com grafia dupla (em braille e a negro), para que as pessoas sem dificuldades visuais também o possam ler.

“O seu conteúdo releva da partilha de necessidades e experiências ao longo de vários momentos formativos de encontro entre profissionais e pessoas cegas e com baixa visão e seus familiares, resultando numa síntese simples, clara e acessível, que pode ser utilizada por qualquer cidadão”, salienta a associação.

Explica a Íris Inclusiva que o braille é uma ferramenta essencial no contexto da educação, liberdade de expressão e opinião, bem como de acesso à informação e comunicação escrita.

“A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência reconhece a importância fulcral deste sistema de comunicação para a inclusão social das pessoas cegas, para a plena realização dos seus direitos e para o exercício completo da cidadania”, finaliza o comunicado.
 

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MJA | 3.Jan.2022


 

Fundação Dorina Nowill para Cegos reforça a importância do Sistema Braille na vida de pessoas cegas ou com baixa visão

Jornal Dia-a-Dia | Daniel Suzumura | 3 de janeiro de 2022


Celebrado anualmente em 04 de janeiro, o Dia Mundial do Braille reforça a importância da alfabetização de pessoas cegas ou com baixa visão. O Sistema Braille nasceu na França, em 1825 e a linguagem foi criada por Louis Braille que perdeu a visão aos três anos de idade. Anos após o ocorrido, ele desenvolveu um alfabeto que possibilita a escrita e leitura, através da combinação de 1 a 6 pontos entre si.

Até hoje, o Sistema Braille é a única forma de alfabetização de crianças cegas ou com baixa visão, pois incentiva o contato direto com textos escritos, além de acionar a mesma área do córtex cerebral que é utilizada com a leitura visual. Por se tratar de uma forma universal de escrita, também pode ser adaptado a diversos alfabetos do mundo – recentemente, ganhou escrita Guarani, no Paraguai.

Nos últimos anos a tecnologia vem se sobrepondo a essa linguagem – os recursos digitais, ao mesmo tempo que ajudam na educação e profissionalização de pessoas com deficiência visual, se tornam um risco para extinção do Sistema Braille, pois promovem outras formas de leitura.

“Mais do que nunca precisamos abraçar os recursos tecnológicos voltados à acessibilidade e utilizar essas ferramentas. No entanto, não podemos deixar de lado o Sistema Braille, que há quase 200 anos vem contribuindo para o aprendizado das pessoas cegas ou com baixa visão. É necessário entender que este método ainda é a forma mais importante de autonomia que as pessoas com deficiência visual podem ter”, comenta Regina Oliveira, Coordenadora de Editorial e Revisão da Fundação Dorina Nowill para Cegos.

Fredric K. Schroeder, vice-presidente da Federação Nacional dos Cegos dos EUA, vem alertando para o fato de que cerca de 90% das crianças cegas americanas já estão crescendo sem aprender a ler e escrever. Para ele, isso acontece justamente porque elas estão optando por recursos digitais em detrimento ao Braille, preferindo uma leitura passiva e não estimulante – um fenômeno que muitos chamam de desbraillização.

Se essa realidade não for mudada, em breve todas as crianças que nascerem cegas ou que perderem a visão na primeira infância, serão consideradas analfabetas funcionais. Por isso, o papel da sociedade é importante, pois, ao incentivar a alfabetização em Braille, o aluno passa a ter autonomia, e vai aprender ortografia e toda a simbologia das diferentes áreas do conhecimento (português, matemática, física etc.).

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MJA | 3.Jan.2022


 

Pianista cego Ignasi Cambra acusa TAP de discriminação

DN/Lusa | 01 Janeiro 2022


Companhia aérea, que não o deixou embarcar com o cão-guia, diz estar a rever as práticas.

O pianista espanhol Ignasi Cambra, cego, acusou a TAP de o ter "discriminado completamente" no dia 30 de dezembro, ao não deixá-lo embarcar com o seu cão-guia, e a companhia aérea lamentou o sucedido, garantindo estar a rever procedimentos.

Através das redes sociais, Ignasi Cambra disse que ficou "preso" durante algumas horas no aeroporto de El Prat -- Barcelona: "[A TAP] recusou deixar-me viajar com o meu cão-guia".

O músico adiantou que reservou o voo na quarta-feira (dia 29) à noite e tentou enviar o formulário necessário para o website para dizer que estava a viajar com um animal de assistência, mas o envio "não funcionou".

"Por isso, fui ao balcão, como faço sempre numa situação como esta, e eles simplesmente recusaram-se a levar-me com o meu cão, porque dizem que eu não os informei com mais de 48 horas de antecedência", referiu.

Perante o sucedido, o pianista deixou uma questão: "Como é suposto eu avisá-los com 48 horas de antecedência quando reservei o voo na noite anterior? Isto significa que, como cego que viaja com um cão-guia, não estou autorizado a reservar um voo de última hora como todos os outros?"

O músico sublinhou que tentou contactar o pessoal da companhia aérea portuguesa por telefone, durante uma hora, "sem sucesso". Finalmente, como "favor", explicou, foi-lhe permitido embarcar noutro avião, mas acabou por só chegar a Portugal ao meio-dia de sexta-feira.

Ignasi Cambra questionou, em tom irónico, se deve agradecer à companhia por fazer "uma exceção à sua regra".

A Lusa contactou a TAP, que, num comentário por escrito, "lamenta o ocorrido e o transtorno causado por esta situação", e garante que "está a rever os procedimentos no sentido de agilizar o processo de futuro".

Porém, salienta que para assegurar o melhor serviço possível no transporte de animais, e alertar todos os envolvidos, "é necessário reservar o serviço com antecedência".

Não tendo sido possível neste caso, "a TAP diligenciou para que o passageiro e o cão-guia fossem acomodados o mais rapidamente possível, no voo imediatamente seguinte, tendo assim embarcado algumas horas depois do originalmente previsto", concluiu.
 

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MJA | 2.Jan.2022


 

Argentina: uma Biblioteca Digital para todos

ONU Brasil


Por meio de financiamento da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), e em colaboração com editoras argentinas, a Tiflolibros/Tiflonexos Asoc Civil, uma biblioteca digital para cegos, produziu 800 livros didáticos em espanhol.

As obras são para pessoas com deficiência visual ou com incapacidade de leitura de material impresso. O acesso a estes livros foi facilitado pelo Tratado de Marrakech – cujo nome oficial é Tratado de Marrakech para facilitar o acesso a obras publicadas às pessoas cegas, com deficiência visual ou com outras dificuldades para acessar texto impresso, adotado em junho de 2013. A Argentina foi um dos Estados que adotou a convenção internacional.

Saiba mais em: www.tiflolibros.com.ar

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MJA | 2.Jan.2022


 

Trabalhar no escuro, brilhar na vida: a integração de pessoas com deficiência visual no mercado laboral

Sic Notícias | Filipa Traqueia | 23.12.2021


A cegueira tem peso na hora procurar trabalho. E não pelos melhores motivos: o estigma e o desconhecimento sobre a deficiência fecham muitas portas a quem quer uma oportunidade para integrar o mercado de trabalho e ser autónomo. Qual será o futuro de um jovem estudante cego quando terminar o curso? Dos que fizeram da resiliência o lema de vida e que conseguiram vencer no mundo do trabalho, aos casos de quem luta diariamente por uma oportunidade de voltar a mostrar as suas capacidades.

Entrar no mundo do trabalho é um objetivo per se. É um passo da vida que está associado à independência e à autonomia, mas o caminho até ao emprego de sonho nem sempre é fácil. O desemprego assombra os sonhos de quem acaba os estudos. Tomás Delfim tem 19 anos e está no segundo ano do curso de Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS), em Lisboa. Deseja fazer rádio ou jornalismo de investigação, mas está certo que a sua integração no mundo do trabalho vai ser mais difícil do que o normal. Por uma razão: é cego.

“Tendo em conta a realidade do país e a minha, tenho um bocado de receio de como será. Olhando para a minha deficiência e para as deficiências no geral, acaba por haver um estigma por parte dos empregadores. Acho que isso acaba sempre por atrapalhar na hora de me chamarem para alguma vaga.”

Nas mesas de estudo colocadas nos corredores da ESCS, Tomás alterna o sonho com a realidade. O jornalismo chegou à sua vida “muito repentinamente”, depois de ter ponderado uma carreira como psicólogo. A paixão é traduzida no som das letras que o tablet de Tomás vai emitindo, como se estivesse a ditar o texto do novo artigo que está a fazer para a revista estudantil ESCS Magazine, ou o guião do novo episódio do seu podcast “Ponto de Vista”.

Ao lado estão a bengala e a mochila. O símbolo do Sporting denuncia o gosto de Tomás pelo desporto, conta que joga golbol, desde os sete anos, na equipa de Alvalade e que integra também a seleção nacional. Talvez, no futuro, o jovem venha a ter a oportunidade de singrar nos meios de comunicação social e de ter uma rubrica semanal de rádio, como José Carlos Costa. Aos 65 anos é comentador desportivo na rádio Granada.FM e correspondente do jornal espanhol “Mundo Deportivo”. Cego de nascença, habituou-se a transformar os sons das várias modalidades em imagens e soma já 40 anos de carreira ligados à informação desportiva. Lembra que já fez muita coisa, incluindo comentário em jogos ao vivo.

Nos últimos 18 anos, os domingos são especiais: a sala de estar da sua casa transforma-se numa autêntica redação, com o rádio a relatar, em espanhol, o jogo entre o Real Sociedad e o Valência e o som metálico da pauta de braille a acompanhar o cravar nas folhas de todas as informações que compõem o seu programa de 20 minutos. Em cima da mesa estão vários telemóveis e um gravador. Um deles toca: é um amigo que tem mais resultados desportivos para lhe dizer.

“É um trabalho exaustivo que requer muita força de vontade e muita alegria”, partilha com um sorriso.

Durante a semana, José Carlos é telefonista de profissão e vai todos os dias do Ribatejo para a sede do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, em Lisboa. São já 46 os anos de serviço e começa a contar os meses para a reforma. Mas não do desporto, porque tem uma “dívida” para pagar. Foi esta atividade que lhe deu razões para ultrapassar as adversidades, nomeadamente os mais de dois anos em que esteve sem trabalho, à espera de colocação, e o atropelamento de que foi vítima.

“Em 1984, o serviço de Estudos do Ambiente foi extinto e eu fui mandado para casa à espera de colocação durante dois anos e meio. Foi a minha atividade desportiva que me salvou, que me fez não entrar em depressão”, conta, lembrando que se sentia como “um parasita da sociedade”.

Na sua mesa de escritório improvisado, no canto da sala, o comentador desportivo vai apontando, à mão, os resultados das várias modalidades: futebol (nacional e das ligas espanhola, francesa, italiana, alemã e inglesa), futsal, voleibol, andebol, basquetebol e hóquei em patins. Da direita para a esquerda, vai pontuando as sucessivas páginas com informação invisível aos olhos e interpretada pela ponta dos dedos. “Sinto que estou a fazer um serviço de utilidade pública”, diz, enquanto aponta mais um resultado nas folhas reutilizadas que usa para escrever o guião do programa. Escreve tudo à mão porque tem medo de perder a informação.

Às 21:00 o telefone volta a tocar: é hora de ir para o ar. No saco de plástico as folhas escritas estão já alinhadas e chega a hora de começar.

“Olá, muito boa noite Carlos Costa. Boa noite a todos os ouvintes da Granada.FM. Saudações desportivas para todos. Vamos então iniciar o nosso périplo pelo futebol distrital, começando com a Associação de Futebol do Algarve, que teve a sua sexta jornada.”

Mas no futuro do jovem Tomás poderá também estar um lado mais negro que atinge uma grande parte da população com deficiência visual: não conseguir trabalho. Hugo Manuel, de 43 anos, conhece bem essa realidade. Seguiu um percurso académico “igual ao de muitas pessoas” da sua geração, como faz questão de reforçar. Estudou jornalismo na ESCS e teve “o privilégio de ainda exercer durante algum tempo essa profissão”.

“É uma profissão que está um bocadinho vedada – como muitas outras neste país – a quem não vê e tive de arrepiar caminho por outras áreas.”

Criou uma empresa, que fechou devido à crise do subprime. Trabalhou na área comercial, mas, “depois de passar algum tempo por aquele trabalho fantástico que é o desemprego”, decidiu arregaçar as mangas e fazer um curso de massagista na Associação Promotora de Emprego de Deficientes Visuais (APEDV), em Lisboa. E o arregaçar das mangas foi literal, porque para fazer as massagens não pode ter nada nas mãos, nem mesmo a aliança. Depois do estágio e de ter visto o contrato de trabalho terminar, está de volta à APEDV à procura de mais uma oportunidade.

“Não sei se existe estigma. Eu acho que essencialmente existe muito não saber como: não saber como integrar, como lidar, como agir, como adaptar o posto de trabalho, não saber uma série de coisas.”

Hugo reconhece que a falta de oportunidades no mercado do trabalho atinge muitas pessoas, mas lembra que “as pessoas cegas, infelizmente, são muitas vezes desvalorizadas e desconsideradas naquilo que podem e sabem fazer”.

A taxa de desemprego em Portugal atinge 6,1% da população, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), referentes ao terceiro trimestre de 2021. Entre as pessoas com deficiência visual, o valor será cerca de dez vezes superior, segundo um estudo realizado pela Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) em 2012. A pandemia veio tornar o problema maior.

O “NÃO” DO DESCONHECIMENTO E DO ESTIGMA
Façamos um exercício: pense no seu trabalho e nas tarefas que executa diariamente. Acha que uma pessoa com deficiência visual conseguiria desempenhar essas funções? A primeira resposta a esta pergunta costuma ser “não”. A falta de conhecimento sobre os métodos de adaptação de postos de trabalho e a autonomia que uma pessoa cega tem no local de trabalho são um dos principais entraves à contratação. Este “não” é também a resposta que muitos cegos ouvem quando tentam procurar emprego.

“Quando enviava currículos era fantástico, geralmente era chamado para ir às entrevistas. Depois, quando chegava aos locais… Chegou a acontecer dizerem: ‘não, deve ser engano. Não tínhamos nenhuma entrevista marcada.’ Noutros casos diziam ‘o seu currículo é fantástico, mas, como não vê, não podemos dar-lhe esta vaga, como deve compreender’. Arranjavam uma série de barreiras para vedar o acesso ao mercado de trabalho”, conta Hugo.

A experiência é transversal: em alguma fase da vida, todas as pessoas com deficiência visual se confrontaram com este “não” que vai matando o sonho de uma carreira profissional. A partilha dos bons exemplos tem, para Graça Hidalgo, coordenadora pedagógica da APEDV, poder para mudar mentalidades. E lembra uma história que se passou quando estava a fazer telefonemas para encontrar um estágio para um formando do curso de massagista técnico auxiliar de fisioterapia. Após várias chamadas para clínicas, a responsável recebeu uma resposta que a marcou:

“Cego? Massagista? Só se for para ligar e desligar equipamentos”, disse a voz do outro lado do telefone.

“Pode fazer um bocadinho mais e eu garanto-lhe que, se quiser aceitar o desafio, vai ficar surpreendida”, respondeu Graça Hidalgo.

A coordenadora não se deixou ficar pela resposta inicial e conseguiu convencer a empresa a acolher o jovem durante o estágio. “Fez [o trabalho] de tal modo bem ou mal que havia doentes que só queriam o Leandro. Depois do estágio, ele foi contratado e penso que hoje ainda lá trabalha”, conta com orgulho.

Também Rodrigo Santos, presidente da ACAPO, defende que os casos de sucesso são o caminho para superar preconceitos que existem em diversas profissões. E realça que a inclusão de uma pessoa com deficiência visual num contexto empresarial “acaba por proporcionar uma mudança bastante positiva de mentalidade, transversal a toda a organização”.

Um estudo realizado pela associação há vários anos indicava que havia duas profissões primordiais entre as pessoas com deficiência visual: ou eram professores (se tivessem qualificações académicas de nível superior) ou eram telefonistas. Mas, atualmente, as novas tecnologias tornaram mais fácil a adaptação dos postos de trabalho e abriu-se um novo leque de possibilidades.

“A primeira barreira é sempre pensar que a pessoa, porque não vê, não consegue fazer determinadas coisas ou precisa de uma adaptação qualquer do posto de trabalho. E que essa adaptação não é razoável”, explica o presidente da ACAPO. “É preciso não encararmos as pessoas com deficiência como pessoas com uma limitação, mas percebermos que essa limitação só decorre porque o contexto onde estão não é inclusivo.”


FORMAÇÕES PROFISSIONAIS COMO UMA PORTA PARA O MUNDO DO TRABALHO

A ACAPO e a APEDV são duas das três associações em Lisboa que oferecem formações profissionais direcionadas a pessoas com deficiência visual em situação de desemprego. A ACAPO tem cursos nas áreas de atendimento ao público, secretariado e de trabalho administrativo, enquanto a APEDV disponibiliza formações de tecnologias da informação e comunicação, massagista técnico auxiliar de fisioterapia e artesanato. Mas nem sempre estes cursos abrem a porta para um posto de trabalho.

Isabel Veras, de 54 anos, já conhece bem as formações profissionais que estão disponíveis, já frequentou umas quantas. Nasceu com baixa visão e ficou cega depois de ter sido atropelada quando ia a caminho do trabalho. Na altura era embaladora numa empresa de plásticos, na zona centro, onde trabalhou durante nove anos.

Quando deixou o trabalho, ficou reformada da área das embalagens, uma situação que só descobriu quando tentava candidatar-se a um novo trabalho no mesmo setor. Depois disso, foi administrativa numa instituição de desenvolvimento e formação profissional, em Miranda do Corvo, onde era residente.

O sonho de poder ser independente e ter uma casa própria levou-a a deixar a instituição em 2008. Conseguiu cumpri-lo, mas, desde então, luta por voltar a ter um trabalho. Já perdeu a conta às formações e estágios que fez. Recorda alguns com carinho, mas mesmo fazendo um bom trabalho, no final, volta tudo ao início.

“Eu não quero mais formações, eu estou cansada das formações. Estou mesmo cansada. Porque nós criamos muitas expectativas e depois não se vê nada. Chegamos ao fim e é um estágio que acabou, pronto”, lamenta .

Tem procurado trabalho em várias áreas. Conta com a ajuda de Daniela Proença, assistente pessoal do Centro de Apoio à Vida Independente, que acompanha Isabel aos sítios onde vai deixar o currículo. Prefere entregar presencialmente, porque diz que as tecnologias não são fáceis de usar. A música dos vários rádios que tem espalhados pela casa acompanha esta busca por um emprego.

As formações que existem atualmente têm uma componente teórica e um estágio, que pretende tornar mais fácil a integração dos formandos no mercado do trabalho. São financiados pelo IEFP e incluem uma bolsa no valor de 168 euros, à qual acrescem os subsídios de transporte e de alimentação e o seguro de acidentes pessoais.

No entanto, Vítor Graça, presidente da Associação Promotora do Ensino de Cegos (APEC) – uma das primeiras escolas destinadas a pessoas com deficiência visual no país –, considera que os moldes em que se fazem as formações não responde à procura do mercado de trabalho.

“O mundo do trabalho está mais exigente, há mais competição. E, infelizmente, a maior parte das pessoas com deficiência visual não está devidamente preparada para várias áreas. Se não está preparada, não podemos pedir aos empresários que, só por ser deficiente, o coloque naquele posto de trabalho”, afirma. “De todas as formações, se calhar a única em que é ainda possível empregar algumas pessoas é a de massagista. Todas as outras têm pouca.”

A associação, que em tempos se destinava a ensinar as crianças com deficiência visual a ler e escrever, oferece agora formações “à medida”, com base nas necessidades do trabalhador.

“Nós entendemos que a formação deveria ser ao contrário, ou seja, quem devia ditar as regras do mercado não são as associações, mas sim as empresas”, acrescenta Vítor Graça, sublinhando que é também necessário tornar as formações mais inclusivas para pessoas com deficiência visual.

Segundo dados disponibilizados pela ACAPO, dos 750 apoios prestados ao emprego nos últimos cinco anos, foram conseguidas 80 integrações profissionais. A maioria aconteceu no âmbito de medidas de apoio ao emprego. Apenas 28 foram contratos de trabalho.

Na APEDV, os números não são o mais importante: “Basta conseguirmos mudar a vida de uma pessoa para a taxa de sucesso já ser boa”, afirma Graça Hidalgo. A coordenadora pedagógica da associação sublinha que a formação profissional para pessoas com deficiência visual “não pode ser medida só em resultados”.

“Há pessoa que têm muitas limitações e nós temos consciência que jamais vão conseguir um trabalho em que alguém os aceite e ainda lhes pague um salário. Mas essas pessoas também precisam de viver, também precisam de conviver, também precisam de aprender coisas novas. Também temos esse lado da história, não podem ser só números”, explica.

UM PERCURSO DESMOTIVANTE E A IMPORTÂNCIA DA RESILIÊNCIA

A desmotivação começa a notar-se no discurso de Isabel que só pede uma oportunidade para provar que é capaz. Mesmo assim, não desiste do seu sonho de poder ser novamente telefonista ou rececionista numa empresa. Também Hugo sublinha que vai “continuar a lutar” por um trabalho, mesmo tendo colocado de lado a possibilidade de voltar aos media, a área que estudou. O percurso pode ser longo e durar vários anos. A resiliência é o principal aliado de quem só quer ser útil.

António Pinão é psicólogo na APEDV, desde 1988, e reconhece que existe “uma desmotivação muito grande em relação à procura de formação com interesse em que se traduza num posto de trabalho”. Considera que há pessoas que se acomodam aos subsídios que recebem e que “lhes bastam para subsistir”.

“Nós temos autênticos profissionais da formação. Não quer dizer que sejam todos, mas há casos de pessoas que estão mais interessadas em ir passando por estes contextos formativos de instituição em instituição do que propriamente dirigirem o seu interesse para a obtenção de um posto de trabalho. Também sabemos que a dificuldade de arranjar trabalho desmobiliza e desmotiva. Que motivação é que eu tenho para fazer uma formação numa determinada área quando sei que depois de fazer formação ficarei à espera?”, questiona o psicólogo.

A palavra resiliência é também a que Graça Hidalgo usa para se referir à luta das pessoas com deficiência visual por um emprego.

“Quando temos uma pessoa qualificada, às vezes com mais do que um curso superior, com vontade de trabalhar e depois não consegue colocação no mercado de trabalho, não consegue ser subsistente – ganhar para pagar a sua casa, pagar a sua alimentação, pagar os seus gostos – isso é desconcertante, é desmotivador. Mas há uma coisa chamada resiliência que cada um de nós tem e acaba por conseguir superar.”

OS APOIOS DISPONÍVEIS PELO IEFP

Os estágios de inserção são uma das medidas de apoio que o IEFP tem para facilitar a transição de pessoas com deficiência e incapacidade para o regime de trabalho. Existe ainda a possibilidade de realizar contratos emprego-inserção – que incluem a realização de atividades socialmente úteis no âmbito de projetos promovidos por entidades coletivas públicas ou provadas sem fins lucrativos –, emprego protegido e emprego apoiado em mercado aberto. Nesta última vertente, o estado compromete-se a compensar a redução de produtividade que a pessoa com deficiência possa ter, quando comparado com um trabalhador sem deficiência.

Graça Hidalgo considera que os apoios “são simpáticos”, mas gostaria de ter “um miminho mais simpático” para oferecer às empresas quando tenta encontrar trabalho para os formandos da associação. Defende que esses apoios poderiam ser importantes “para quebrar o primeiro gelo” e critica a “burocracia” que está subjacente às candidaturas.

“É isso que mata qualquer vontade. Eu já tive empregadores que, de facto, recorreram aos incentivos da contratação e nós, que não temos financiamento nenhum para isso, acabamos por ajudar. Eu faço os projetos, ajudo a ir aos sítios certos, algumas palavras certas… Porque é tudo muito burocrático”.

Rodrigo Santo considera que os apoios não são “suficientes” para responder ao dinamismo do mercado de trabalho e defende que deveria haver uma “rede de apoios públicos mais focada no apoio especializado em função da própria deficiência no contexto de trabalho”. Esse apoio poderia permitir aos empregadores recorrer a um plano de financiamento de forma ocasional e esporádica para responder a alterações da função ou adaptar a formação às necessidades do trabalhador.

Sobre a implementação de quotas para pessoas com deficiência nas empresas públicas e privadas, o presidente da ACAPO considera que estas medidas trazem vantagens e desvantagens: se por um lado pode servir como forma de propagar bons exemplos e mudar mentalidades, por outro pode levar os empregadores a olharem para as pessoas com deficiência visual como "um nicho que fica bem ter ou que temos de ter para cumprir a legislação", o que "acaba por resultar num grande prejuízo para a vida profissional das pessoas com deficiência".

O IEFP tem também um programa de adaptação de postos de trabalhos e eliminação de barreiras arquitetónicas que permite financiar a compra de equipamentos adaptados ou eliminar obstáculos físicos que possam impedir o acesso da pessoa com deficiência. Este apoio pode ser pedido pelas empresas quando o trabalhador com deficiência tem um contrato com duração inicial mínima de um ano, um contrato sem termo ou é incluído nos quadros da empresa.

O QUE É PRECISO PARA ADAPTAR UM POSTO DE TRABALHO?

A secretária onde Patrícia Soares, de 30 anos, costuma trabalhar é praticamente igual à dos restantes funcionários da empresa. Tem um computador e uns fones, mas com uma linha de braille – que possibilita ler o que está escrito no ecrã. Enquanto escreve um e-mail no seu portátil, nada parece diferente, só quando desliga os fones é que se ouve uma voz rápida e mecânica.

“É um mito dizer que adaptar um posto de trabalho fica muito caro ou é muito complexo. Muitas vezes nem é preciso quase adaptação nenhuma. No meu caso pedimos [ao IEFP] apenas um OCR [um programa informático que converte imagens e ficheiros PDF em texto] e uma linha braille. Basicamente foi isso. De resto, a empresa atribuiu-me um computador – como atribuiu a qualquer outro trabalhador – onde instalámos um screen reader [leitor de ecrã], que também é completamente gratuito.”

Por baixo da secretária de Patrícia, está uma almofada que foi oferecida pela empresa. Era o posto de repouso da cadela-guia Orleans, que, entretanto, se reformou. Enquanto conta a sua chegada à empresa, a técnica de recrutamento destaca, por várias vezes, a receção e o apoio que sentiu.

“Houve uma abertura muito grande em adaptar as minhas necessidades à função, à realidade da empresa”, conta, indicando, como exemplo, que as salas e o elevador passaram a ser etiquetados com braille. “Isso permitiu-me não depender de ninguém. E não foram tomadas medidas só para a minha condição”, acrescenta.

Agora é Patrícia quem faz as perguntas para escolher o melhor candidato a integrar a empresa. Quando está a conduzir as entrevistas, é o tom de voz que lhe chama logo a atenção e através do qual consegue identificar a motivação da pessoa. Há uns anos, Patrícia estava do outro lado da mesa: depois de terminar o mestrado em psicologia social de organizações, começou a procurar um estágio profissional para poder integrar a Ordem dos Psicólogos, mas as perguntas que os recrutadores mais colocavam era sobre a sua deficiência.

“O que avaliavam era a minha deficiência, não as minhas competências”, explica, indicando como principal problema a falta de informação que “leva a que exista discriminação e preconceito no recrutamento”. “Não raras vezes, por ignorância, estamos a perder talento”, remata.

O TRABALHO COMO PARTE DA INTEGRAÇÃO NA SOCIEDADE

Para Patrícia, a possibilidade de trabalhar traz realização pessoal e abre possibilidade à concretização de projetos pessoais, como viajar, estudar ou evoluir na carreira. José Carlos Costa destaca a importância de estar com as pessoas e conviver. Vítor Graça reforça a ideia que “um emprego, para uma pessoa com deficiência, tem sempre um peso muito importante”.

“Todos os filhos têm, normalmente, orgulho nos pais. Se um pai ou uma mãe está em casa todos os dias, não se reveem naquele pai. É importante as pessoas terem emprego. É cego, sim, mas luta, vence para os filhos, é um exemplo. Para não falar do amor próprio que a pessoa passa a ter.”

Fernando Madaleno, de 58 anos, vê o trabalho como uma forma de se sentir integrado na sociedade. Há 30 anos, terminou o curso de fisioterapia no Hospital Curry Cabral. Na altura foi o único da sua turma a não conseguir encontrar um trabalho, mas encontrou quem lhe desse a mão. Depois de várias cartas – na altura ainda não havia e-mails – de candidatura rejeitadas, Salvino Ferreira, que era formador no curso, achou que o talento de Fernando não podia ser desperdiçado, por isso, quando decidiu abrir uma clínica, contratou-o logo. Uma parceria que se mantém ainda hoje.

Depois de ter sido contratado para a clínica, “a vida começou logo a dar certo”: casou-se e teve dois filhos que são já adultos e trabalham. Mesmo passadas várias décadas, não se cansa de agradecer a oportunidade que lhe foi dada: “O principal é alguém acreditar em nós”.

“Se o meu exemplo servisse para outros como exemplo… Mas é preciso que alguém acredite, é preciso que alguém dê a oportunidade, aquele primeiro passo. Se não, a pessoa anda aí a bater a todas as portas e todas se fecham.”

Salvino Ferreira tem baixa visão, o que faz com que esteja mais atento às dificuldades dos trabalhadores com deficiência visual. Desde que assumiu o papel de massagista, Fernando tem vindo a aperfeiçoar o seu trabalho e a sua confiança. Agora, são os pacientes que pedem para ser tratados por ele.

A sala de fisioterapia está cheia. Dois doentes estão deitados nas macas, enquanto outros dois se preparam para o tratamento. Fernando vai caminhando velozmente de um lado para o outro, com confiança, fazendo exercícios específicos às lesões de cada um dos pacientes. Enquanto faz as massagens, diz algumas piadas, fazendo rir os doentes que trata.

“Não me vejo com dificuldades de maior, talvez porque o senhor Salvino e a respetiva direção nunca me criaram obstáculos nenhuns, pelo contrário”, explica. “Não me atrapalho com qualquer coisa ou qualquer pessoa. Fui ganhando confiança na maneira de me relacionar com as pessoas. Não fico tímido, confio muito em mim e no meu trabalho. Isso dá-me de tal maneira confiança que sou capaz de passar dias sem me lembrar desta característica.”

É, de facto, uma característica, não uma limitação. E a mentalidade começa a mudar em Portugal: em 2015 foi criada a secretaria de Estado dedicada à inclusão de pessoas com deficiência, que é tutelada por Ana Sofia Antunes. Além da novidade da tutela, o cargo é assumido pela primeira governante cega no país.

“O facto de termos uma secretária de Estado que é, ela própria, uma pessoa com deficiência, mostrou a quem ainda não tinha visto que a deficiência não é uma limitação nem um impedimento”, afirma Rodrigo Santos, sublinhando que Ana Sofia Antunes “mostrou que as pessoas com deficiência também são capazes de assumir com sucesso cargos de responsabilidade, mesmo que essa responsabilidade seja grande.”
 

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MJA | 1.Jan.2022


 

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