A GNR de Viseu anunciou que vai distribuir livros em braille, com
conteúdos de segurança, aos cegos do distrito com mais de 50 anos, numa
iniciativa que prevê ainda o aconselhamento para a prevenção de burlas.
Segundo o responsável pelas relações públicas da GNR de Viseu, José
Machado, a acção conta com a colaboração da delegação de local da
Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), que foi
“fundamental para identificar os invisuais do distrito”.
“Caminhar com um amigo no escuro é melhor
que caminhar sozinho na claridade.”
(Helen Keller)
A exposição O conceito da exposição 'Diálogo no Escuro' é mostrar como é
o mundo sem o sentido da visão. Os visitantes são conduzidos por guias
deficientes visuais através de salas totalmente escuras e especialmente
construídas, em que cheiro, som, vento, temperatura e textura apresentam
as características de ambientes cotidianos como parques, ruas,
mercearias, cidades e cafés.
Interação Os visitantes aprendem a interagir sem a visão, usando seus
outros sentidos. Através dessa inversão de papéis, as rotinas diárias
tornam-se uma nova experiência. Pessoas que podem ver são levadas para
fora do seu ambiente familiar. Os guias com deficiência visual
proporcionam segurança e sentido de orientação aos visitantes.
Compreensão
Durante e após a visitação, o público tem a oportunidade de fazer
perguntas que normalmente não tem a chance de fazer a uma pessoa com
deficiência visual reduzindo as barreiras de ambos os lados e ajudando a
compreensão mútua. Como uma “plataforma de comunicação”, a ênfase não é
sobre deficiência visual, mas sim sobre a importância da compreensão,
empatia e solidariedade.
O passeio em si dura pouco mais de uma hora, mas os efeitos podem durar
uma vida.
Histórico
A pedra fundamental para a empresa social Diálogo no Escuro foi lançada
em 1986, quando o premiado filósofo Andreas Heinecke trabalhava
como jornalista e escritor para uma empresa de radiofusão na Alemanha.
Um dia, ele foi designado para organizar um treinamento para um
jornalista de 28 anos que perdera a visão em um acidente de carro.
Inicialmente confrontado com o sentimento de pena, Andreas começou a
perceber que sua compaixão era equivocada. Ele descobriu que ser
deficiente visual é uma outra forma de vida, pois contém grande
quantidade de recursos. Para sua surpresa, foi o colega deficiente
visual que lhe mostrou como lidar com mudanças fundamentais na vida,
obrigando-o a questionar o que torna uma vida verdadeiramente valiosa.
Ele ficou fascinado com o mundo das pessoas que convivem com uma
deficiência visual e ficou chocado com a discriminação contra elas. Isso
inspirou o conceito de superar barreiras e promover o intercâmbio entre
pessoas com deficiência visual e que possuem plena visão, que é a idéia
básica de Diálogo no Escuro.
Desde então, ele se dedicou a encontrar novas formas de diminuir as
lacunas em toda a divisão humana através de um encontro humano direto.
Andreas tem um PhD em Filosofia e é professor de empreendedorismo Social
na European Business School, na Alemanha. Ele foi premiado várias vezes
pelo seu trabalho e é reconhecido mundialmente por suas realizações.
Objetivos
A exposição tem como objetivo mudar a mentalidade das pessoas sobre
deficiência e diversidade, além de aumentar a tolerância sobre o
“outro”.
Em 2014, um total de 581.759 pessoas viveram a experiência de
Diálogo no Escuro.
Foram realizadas 24 exposições ao redor do mundo.
A exposição gerou emprego para 441 deficientes visuais.
Diogo Santos, sete anos, sofre de amaurose congénita de Leber, uma forma
hereditária de perda de visão. Um caso raro que acontece à nascença.
Perdeu a visão nessa altura.
Nos primeiros cinco anos, frequentou o infantário da cidade, mas desde o
ano letivo 2014/2015, altura em que passou para o primeiro ciclo,
Mirandela deixou de ter capacidade de resposta, porque não existe uma
escola de referência nem foi colocada qualquer professora especializada
em Braille.
O Estado criou uma rede de escolas de referência para a inclusão de
alunos cegos ou baixa visão. Na região transmontana, só havia duas: ou o
Agrupamento de Escolas Abade de Baçal, em Bragança, ou Diogo Cão, em
Vila Real, escola sobre a qual recaiu a escolha.
A rotina diária foi completamente alterada. Diogo levanta-se todos os
dias às sete horas para, meia hora depois, estar à porta de casa pronto
a viajar até Vila Real, onde frequenta a escola, numa turma com mais 25
alunos. São cerca de 60 quilómetros de táxi. "A escola contratou uma
empresa para levar o Diogo e outra menina de Cabanelas", conta o pai,
Miguel Ângelo.
O regresso acontece cerca das 17.30 horas, com a chegada a casa às 18.15
horas. São 120 quilómetros diários. "Chega sempre muito cansado e temos
menos tempo para conviver porque à noite tem de deitar-se cedo para
descansar", conta Isabel Pereira, a mãe do Diogo. No entanto, apesar do
cansaço, "a sua ambição em aprender ajuda a ultrapassar tudo", conta o
pai.
Pai e mãe confessam que os primeiros meses de escola foram muito
difíceis, mas agora começam a adaptar-se. "Temos a noção que esta
situação pode aguentar-se até ao 12.º ano, mas como ele gosta e toda a
comunidade escolar tem sido fantástica, temos de aguentar", dizem.
Foi lá que aprendeu Braille, o alfabeto convencional cujos carateres são
indicações por pontos em alto-relevo que Diogo distingue por meio do
tato."Aqui está o mês de outubro de 2016", descreve, com orgulho, num
trabalho de casa.
Recentemente, o Agrupamento de Escolas Diogo Cão fez a entrega de
diplomas a alguns alunos que ingressaram no quadro de mérito e
excelência pelo seu percurso académico. Diogo foi um dos distinguidos.
"Não estava a contar, só me disseram no dia anterior", conta.
A família não esconde o orgulho com a distinção. "Não foram muitos os
alunos a receberem esse diploma e o facto de ele ter resultados
brilhantes, com todas as limitações e o sacrifício que tem diariamente,
faz-nos sentir muito orgulhosos", refere o pai.
Com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de pacientes que convivem
com algum tipo de deficiência visual no Brasil, a empresa global
farmacêutica Novartis desenvolveu três aplicativos – ViaOptaNav, ViaOpta
Daily e ViaOptaSim – com diferentes funções que auxiliam a rotina de
quem enfrenta dificuldades para enxergar.
O ViaOptaNav é capaz de identificar informações sobre instalações
específicas de acessibilidade em torno dos usuários com deficiência
visual, como pavimentação tátil, cruzamentos e semáforos com som. A
ferramenta ainda determina a sua posição exata e encontra destinos ou
pontos de referência próximos, localizando, por exemplo, farmácias,
hospitais e bancos.
Já o ViaOpta Daily reúne seis diferentes funções para ajudar no dia a
dia, como previsão do tempo, lupa, detector de cores e o reconhecimento
de pessoas e itens de uso diário, tais como dinheiro e objetos. Com
ajuda do dispositivo, o usuário aponta a câmera para uma direção e, após
alguns segundos, a narração irá informar o que está em sua frente,
auxiliando-o a se localizar em ambientes desconhecidos.
As duas ferramentas ganharam versões em português e estão habilitados
com tutoriais de áudio, proporcionando mais independência e confiança
para a realização das tarefas como leitura, identificação de objetos e
instalações de acessibilidade. Outra novidade é que os apps foram
adaptados para relógios inteligentes, como o AppleWatch, permitindo ao
usuário navegar com orientação de voz e vibração de seu acessório.
Profissionais O ViaOptaSim simula oito doenças oculares, entre elas
Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI)3 – principal causa de
perda de visão em idosos – e Edema Macular Diabético (EMD), doença que
mais causa cegueira em idade produtiva, ambas condições tratáveis e
potencialmente reversíveis. O app auxilia os profissionais de saúde a
educar os pacientes sobre deficiência visual.
A mulher cega que mudou de personalidade
e de repente conseguiu ver
SARAH KAPLAN
(Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post)
14/12/2015
Uma mulher com múltiplas personalidades é cega em certos casos mas não
noutros.
O que se passará no seu cérebro que possa explicar esta bizarra
situação?
Há mais de uma década que B.T. não via nada. Na sequência de um acidente
traumático quando era nova, os médicos tinham-lhe diagnosticado uma
“cegueira cortical”, causada por lesões nos centros cerebrais do
processamento visual. Portanto, arranjara um cão-guia e habituara-se à
escuridão.
Para além disso, B.T. tinha de lidar com outros problemas de saúde –
nomeadamente, mais de dez personalidades completamente diferentes que se
disputavam o controlo do seu corpo. E foi enquanto procurava tratamento
para a sua perturbação de identidade dissociativa que recuperou de
repente a capacidade de ver. Mas não foi enquanto B.T., uma alemã de 37
anos, mas na “pele” de um rapaz adolescente que ela por vezes “vestia”.
Após meses de terapia, todas as personalidades de B.T., excepto duas,
recuperaram a visão. E como B.T. oscilava entre personalidades, a sua
vista ligava-se e desligava-se como um interruptor eléctrico na sua
mente. O mundo aparecia para depois voltar a mergulhar na escuridão.
Num artigo na revista Psych, os médicos de B.T. explicam que a sua
cegueira não foi causada por lesões cerebrais, como fora inicialmente
diagnosticado. Trata-se, pelo contrário, de algo mais parecido como um
problema psicológico e não fisiológico.
O estranho caso de B.T. revela muitas coisas acerca da extraordinária
força da mente – sobre como ela pode controlar o que vemos e quem somos.
À procura de respostas Para perceber o que acontecera a B.T. (que é apenas
identificada pelas suas iniciais no artigo), os seus terapeutas – os
psicólogos alemães Hans Strasburger e Bruno Waldvogel – retraçaram toda
a sua história clínica até ao diagnóstico inicial de cegueira cortical.
O seu processo clínico daquela altura mostra que ela fora submetida a
uma série de testes de visão – com a ajuda de lasers, óculos especiais,
raios de luz a atravessar a sala – e que tudo isso confirmara a sua
aparente cegueira. Como não tinha lesões nos olhos, concluiu-se que os
problemas de visão de B.T. eram devidos a lesões cerebrais causadas pelo
seu acidente (o relatório não especifica exactamente o que ocorreu nesse
acidente).
Waldvogel não tinha qualquer razão para duvidar daquele diagnóstico
quando B.T. lhe foi referida, 13 anos mais tarde, para o tratamento da
sua perturbação de identidade dissociativa (que antes era conhecida pelo
nome de transtorno de personalidade múltipla). B.T. apresentava mais de
dez personalidades, cada uma delas de idade, género, hábitos e
temperamento variáveis. Até falavam línguas diferentes: algumas
comunicavam apenas em inglês, outras apenas em alemão, algumas em ambas
as línguas (B.T. tinha passado uns tempos num país anglófono em criança,
mas vivia na Alemanha).
Quatro anos após o início da psicoterapia, uma coisa estranha aconteceu:
logo após uma sessão, enquanto se encontrava num dos seus vários estados
de rapaz adolescente, B.T. viu uma palavra na capa de uma revista. Era a
primeira palavra que lia visualmente em 17 anos.
No início, a vista recuperada de B.T. restringia-se ao reconhecimento de
palavras inteiras nessa personalidade específica. Quando inquirida,
respondia que nem sequer conseguia ver as letras isoladas que compunham
as palavras, mas apenas as próprias palavras. Mas a sua visão foi-se
expandindo gradualmente, abrangendo primeiro processos de ordem superior
(como a leitura) e a seguir processos de ordem inferior (como o
reconhecimento de padrões), até a maioria das suas personalidades se
tornarem capazes de ver a maior durante parte do tempo. Quando B.T.
alternava entre personalidades visuais e invisuais, a alternância
correspondente afectava a sua visão.
Foi então que Waldvogel começou a ter dúvidas sobre as causas da perda
de visão da doente. Parecia pouco provável que uma lesão cerebral
susceptível de provocar cegueira cerebral pudesse sofrer uma cura
instantânea depois de tanto tempo. E mesmo se fosse esse o caso, nada
explicava como é que a visão de B.T. continuava a ligar-se e
desligar-se. Claramente, qualquer coisa de diferente estava a acontecer.
Uma das explicações – a de que B.T. estaria a mentir acerca da sua
incapacidade visual – foi refutada quando lhe foi feito um
electroencefalograma. É que, quando B.T. se encontrava nos seus dois
estados invisuais, o seu cérebro não apresentava nenhuma das respostas
eléctricas aos estímulos visuais características das pessoas que vêem –
apesar de os olhos de B.T. estarem abertos e de ela estar a olhar
directamente para os estímulos.
Waldvogel e Strasburger pensam que a cegueira de B.T. é psicogénica (de
origem psicológica e não física). Alguma coisa aconteceu – talvez
relacionada com o acidente – que fez com que o seu corpo reagisse
cortando as suas capacidades visuais. Mesmo hoje, duas das suas
identidades retêm esse mecanismo de defesa.
“Esses estados poderão representar uma hipótese de recuar”, disse
Strasburger ao site de neurociências Brain Decoder. “Em situações
particularmente intensas do ponto de vista emocional, a doente sente por
vezes o desejo de cegar, para assim ‘não precisar de ver’”.
Não é assim tão invulgar que o cérebro de uma pessoa a impeça de ver,
mesmo quando os seus olhos funcionam normalmente, dizem os
investigadores. Quando os nossos dois olhos vêem imagens ligeiramente
diferentes – por exemplo quando olhamos de lado –, o nosso cérebro
elimina uma dessas imagens para evitar que fiquemos confusos devido a
essa contradição. O cérebro também intervém no processamento visual
quando focamos o olhar em objectos específicos do nosso campo de visão.
O poder do cérebro A origem da “filtragem” de informação que impedia B.T. de ver
todas as coisas para as quais olhava poderá residir no núcleo geniculado
lateral, uma espécie de centro de retransmissão neural que envia a
informação visual, via os circuitos sinápticos, para os processadores de
informação cerebrais.
Porém, talvez o mais interessante seja o que a história de B.T. nos diz
sobre a perturbação de identidade dissociativa (PID), a síndrome que
parece estar na base da sua perda de visão.
Embora a PID esteja listada na “bíblia” da psiquiatria – o Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – desde 1994 (tendo
sido reconhecida sob a designação de “transtorno de personalidade
múltipla” durante uma década e meio antes disso), o seu diagnóstico
ainda suscita bastante cepticismo tanto entre os peritos como entre os
doentes. Antes de se tornar um diagnóstico psiquiátrico, a PID foi
conhecida durante anos, juntamente com uma série de outras perturbações
psiquiátricas, como “histeria”, um termo que nos dá uma ideia da forma
como eram vistas a doença e as suas vítimas.
Os críticos modernos fazem notar a ausência de consenso em termos de
critérios de diagnóstico e de tratamento e responsabilizam as histórias
sensacionalistas sobre doentes com PID, tais como no telefilme “Sybil”,
de 1976, por terem gerado uma “epidemia” de diagnósticos de PID. Nos
anos 1990, inúmeros doentes processaram psiquiatras por os terem
submetido a tratamentos duvidosos contra o transtorno de personalidade
múltipla que afirmavam nunca ter padecido – e muitos começaram a
acreditar que a PID não era tratada pelos psiquiatras, mas antes
induzida pelo poder da sugestão.
No mínimo, pensa-se que a PID possa ser apenas um produto da
fragmentação do pensamento a altos níveis – um colapso que ocorre quando
o cérebro tem de lidar com emoções complexas.
Mas Strasburger e Waldvogel afirmam que os seus resultados sugerem que a
PID pode acontecer a níveis muito mais básicos – a níveis biológicos.
Afinal de contas, não eram apenas funções cognitivas de alto nível, como
a leitura, que a doença de B.T. afectava. Mesmo coisas básicas como a
percepção da profundidade eram difíceis para ela. E os médicos de B.T.
podiam visualizar directamente toda a actividade que decorria no seu
cérebro no electroencefalograma.
Este estudo de caso mostra que a PID “é uma síndrome legítima, de base
psico-fisiológica, de stress psicológico”, disse ao Brain Decoder
Richard Kluft, professor de psiquiatria clínica da Escola de Medicina da
Universidade Temple (EUA) que não participou no estudo. A doença não é
apenas um produto da cultura e das sugestões dos psiquiatras, salientou.
Tal como no caso de B.T., “representa uma tentativa da mente para
compartimentar a sua dor”.
Alerta é da Agência Europeia dos Direitos Fundamentais
As crianças com deficiência estão mais expostas a maus-tratos, adverte a
Agência Europeia dos Direitos Fundamentais, que refere que a Estratégia
Nacional para a Deficiência em Portugal reconhece esse risco, mas não
define objetivos para a combater.
A análise da Agência Europeia dos Direitos Fundamentais (FRA, na sigla
em inglês) surge num relatório divulgado a propósito do Dia
Internacional das Pessoas com Deficiência, que se assinala hoje.
De acordo com a FRA, apesar de as leis internacionais, europeias e
nacionais reconhecerem o direito à proteção contra todos os tipos de
violência, as crianças com deficiência têm mais probabilidade de sofrer
maus-tratos, desde abusos sexuais a 'bullying' na escola, seja em casa
ou em instituições.
“As crianças com deficiência enfrentam barreiras significativas para
usufruírem dos seus direitos fundamentais. São frequentemente excluídas
da sociedade, vivendo algumas vezes em instituições ou outras
instalações longe das suas famílias”, lê-se no relatório.
Acrescenta que é-lhes negado o acesso a serviços básicos, como saúde e
educação, e permanece o estigma e a discriminação, bem como a violência
sexual, física e psicológica.
Relativamente a Portugal, a FRA aponta que a Estratégia Nacional para a
Deficiência (ENDEF 2011-2013) reconhece que as pessoas com deficiência
são alvo de discriminação e aponta as crianças como um grupo
particularmente vulnerável, ao mesmo tempo que sugere a criação de um
sistema nacional de intervenção precoce de apoio a crianças com
deficiência intelectual.
“No entanto, o documento não refere quaisquer medidas específicas de
prevenção ou combate da violência contra crianças com deficiência”, diz
a FRA.
Por outro lado, na sequência de entrevistas realizadas em Portugal, a
agência europeia dá conta de casos em que o peso que recai sobre as
famílias ou cuidadores pode contribuir para situações de violência
doméstica.
Outro fator de risco que surge no estudo tem a ver com o facto de
algumas famílias verem a deficiência como um constrangimento, e a
investigação revelou que a vergonha e a desilusão levam alguns pais a
isolar os filhos.
Um representante português disse que a perceção negativa da deficiência
faz com que as pessoas “sintam vergonha e humilhação quando existe um
membro na família com deficiência, principalmente se for uma criança”.
Foi também identificado em Portugal que os pais são por vezes
aconselhados, por funcionários das escolas, a colocarem os filhos em
escolas ou instituições específicas para pessoas com deficiência, devido
à pressão feita pelos pais das restantes crianças.
No seu relatório, a FRA aproveita para pedir aos Estados membros que
adotem medidas legais que protejam os menores, defendendo que “as
crianças com deficiência devem viver sem medo numa sociedade em que
estejam plenamente integradas”.
O relatório, que vai ser apresentado na conferência do Dia das Pessoas
com Deficiência, prevista para os dias 07 e 08 de dezembro, conclui
defendendo a luta contra a discriminação e a segregação, a coordenação
do trabalho dos profissionais implicados e a promoção da prevenção como
aspetos que poderiam melhorar a proteção das crianças com deficiência.
Portugal contraria convenção da ONU
sobre pessoas com deficiência
3/12/2015
António Cotrim/LUSA
As pessoas com uma deficiência intelectual ou psicossocial, surdez-mudez
ou cegueira podem ser impedidas, em Portugal, de exercer os seus
direitos, como votar, casar ou gerir bens, contrariando a Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
A denúncia é feita pelo Observatório da Deficiência e Direitos Humanos
(ODDH) por ocasião do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, que
se comemora esta quinta-feira, e surge no seguimento de um relatório que
foi enviado à Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência das
Nações Unidas.
Mais conhecido como regime de interdição, esta disposição do Código
Civil “consiste na coartação do exercício de direitos de determinadas
pessoas que demonstrem incapacidade [em] poder governar a sua pessoa e
os seus bens”, lê-se na página da internet do Instituto Nacional de
Reabilitação (INR).
De acordo com o INR, “podem ser interditos todos aqueles que possuam uma
anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira”.
Por outro lado, este regime de interdição pode ser pedido quer pelos
progenitores, cônjuges, curador, qualquer parente em linha de sucessão
ou o Ministério Público.
Em declarações à agência Lusa, a coordenadora do ODDH apontou que o
regime de interdição é normalmente pedido por familiares de pessoas com
deficiência com receio que elas possam ser exploradas, desbastar
património ou incorrer em algum tipo de situação de risco.
“Para prevenir isso preferem que elas fiquem com esse estatuto, como uma
espécie de inimputáveis”, salientou Paula Campos Pinto, estimando que
haja um número elevado de pessoas nesta situação apesar de desconhecer
quantas ao certo.
Na opinião da responsável, este regime retira às pessoas com deficiência
a possibilidade de exercerem os seus direitos, remetendo-os para um
estatuto de menores.
“Não podem votar, não podem vender os seus bens, não podem adquirir
outros bens, assinar qualquer tipo de contrato. Ficam numa situação
equiparada a menores”, sublinhou Paula Campos Pinto.
Segundo a coordenadora do ODDH, esta disposição legal vai contra o que
está definido na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, que defende a criação de sistemas próprios para estas
pessoas, de modo a que elas sejam devidamente apoiadas, “e não ser-lhes
pura e simplesmente retirado o exercício da sua cidadania”.
Paula Campos Pinto apontou que esta é uma área preocupante porque está
“muito distante daquilo que a convenção preconiza”.
“Há aqui necessidade de uma revisão ao nível da legislação, que seja
acompanhada da criação de estruturas de apoio para que estas pessoas,
que tenham mais dificuldades, tenham onde recorrer para o apoio à
decisão e não lhe sejam apenas coartados os direitos como atualmente
acontece”, defendeu.
A coordenadora do ODDH explicou que Portugal está obrigado a apresentar
regularmente relatórios à Comissão dos Direitos das Pessoas com
Deficiência, no seio da ONU, desde que assinou e ratificou a Convenção
das Pessoas com Deficiência.
Paralelamente, a sociedade civil, no caso o ODDH, pode também apresentar
o seu relatório, designado relatório sombra, onde dá conta das situações
preocupantes em termos de aplicação da convenção.
Para além do regime de interdição, o ODDH aponta também lacunas ao nível
das acessibilidades, mas também da educação, onde há um “grande
desfasamento” entre a legislação e a sua aplicação, no que diz respeito
aos recursos disponíveis.
Bruxelas propõe regras sobre acessibilidade
de deficientes a serviços e produtos
Agência Lusa
2/12/2015
A Comissão Europeia propôs que sejam adotados requisitos comuns de
acessibilidade a pessoas com deficiência a produtos e serviços
essenciais, como os transportes e a caixa multibanco.
A Comissão Europeia propôs que sejam adotados requisitos comuns de
acessibilidade a pessoas com deficiência a produtos e serviços
considerados essenciais, como os transportes e a caixa multibanco, entre
outros.
Os serviços e produtos em causa foram escolhidos em consulta com os
cidadãos, organizações da sociedade civil e empresas e entre eles
contam-se as caixas automáticas (ATM) e os serviços bancários, os
computadores pessoais, os telefones e equipamentos de televisão, os
serviços de telefonia e audiovisuais, os transportes, os livros
eletrónicos e o comércio eletrónico.
A diretiva (lei europeia) hoje proposta deverá fomentar a inovação e
multiplicará a oferta de produtos e serviços acessíveis para os cerca de
80 milhões de pessoas com deficiência na União Europeia (UE).
Na elaboração dos requisitos, foi considerada a necessidade de garantir
a proporcionalidade, em particular para as pequenas e as microempresas,
com a inclusão de uma “cláusula de bom senso” para evitar que os
requisitos de acessibilidade tenham encargos desproporcionados, estando
também previstas medidas de conformidade menos rigorosas para as
microempresas.
As pessoas com deficiência passarão a dispor de uma maior oferta de
produtos e serviços acessíveis a preços mais competitivos.
A melhoria da oferta destes produtos e serviços pode também beneficiar
os cidadãos mais velhos que têm necessidades semelhantes em matéria de
acessibilidade, bem como pessoas que se deparem com dificuldades
decorrentes de um acidente, uma doença temporária ou um ambiente onde as
condições de luz ou ruído, por exemplo, não sejam as melhores.
Cerca de 80 milhões de cidadãos da UE são, em maior ou menor grau,
afetados por uma deficiência.
Em virtude do envelhecimento demográfico, prevê-se que este número venha
a aumentar para 120 milhões até 2020, segundo a Comissão Europeia.
Inclusão, acesso e capacitação dão o mote às comemorações da efeméride,
dia 3 de dezembro, na Gulbenkian, em Lisboa.
No dia 3 de dezembro comemora-se o Dia Internacional das Pessoas com
Deficiência, efeméride que tem por objetivo sensibilizar a população
mundial para a necessidade de construir uma sociedade inclusiva e para
todos.
Em Portugal, o Instituto Nacional para a Reabilitação, entidade
responsável pelas comemorações nacionais da data, promove, no dia 3 de
dezembro, quinta-feira, um evento sob o tema adotado pela Organização
das Nações Unidas (ONU) "A inclusão importa: acesso e capacitação para
todos" (Inclusion matters: access and empowerment for people of all
habilities)
O tema da iniciativa, a decorrer no auditório 2 da Fundação Calouste de
Gulbenkian, em Lisboa, visa chamar a atenção para os direitos das
pessoas com deficiência, no âmbito da Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência.
De acordo com informação disponibilizada ONU, cerca de 15 por cento da
população mundial vive com algum tipo de deficiência.
O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência foi instituído pela
Organização das Nações Unidas, em 1992, e coincide com o dia em que foi
adotado o Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiência pela
Assembleia-Geral da ONU, em 1982.
A GNR indicou esta quarta-feira que vai assinalar, na quinta-feira, o
Dia Internacional das Pessoas com Deficiência com a realização de
diversas ações de sensibilização em todo o país para promover "os
direitos e garantias" destas pessoas.
Em comunicado, a GNR refere que as ações de sensibilização são dirigidas
à comunidade escolar, com o intuito de lhes transmitir valores no âmbito
da cidadania relacionados com a não discriminação às pessoas com
deficiência, a adoção de comportamentos no sentido de evitarem ser
vítimas de crimes, e, aos seus cuidadores, para melhor compreenderem os
objetivos do Programa de Apoio a Pessoas com Deficiência.
Segundo a Guarda Nacional Republicana, estas ações têm origem no
Programa de Apoio a Pessoas com Deficiência, criado pela corporação em
2014 e que visa promover "os direitos e garantias de condições de vida
dignas às pessoas com deficiência".
O programa procura envolver, de forma proactiva, "os cidadãos para
atender, compreender, respeitar as necessidades e diferenças de cada um,
permitindo a igualdade de oportunidades, e para prevenção de situações
de negligência, violência e maus-tratos a pessoas com deficiência".
A GNR realiza também, na quinta-feira, sessões de cinoterapia e
hipoterapia em vários pontos do país, iniciativa que contribui
"ativamente nos processos terapêuticos e de ensino-aprendizagem" das
pessoas com deficiência. Aquela força de segurança adianta que este é um
"recurso terapêutico inovador, onde profissionais das áreas de
psiquiatria, pedagogia, fisioterapia e psicologia contam com a ajuda de
cães e cavalos que agem como coterapeutas e auxiliam os profissionais de
saúde a trabalharem a fala, o equilíbrio, a expressão de sentimentos e a
motivação".
A Sentiri dá feedback háptico para ajudar as pessoas que não conseguem
ver a desviarem-se de obstáculos, sendo que também pode ser conectada a
um smartphone para tirar proveito do Google Maps e definir um trajeto
seguro.
Criada pela empresa Chaotic Moon, a Sentiri é uma fita para a cabeça
equipada com sensores que ajuda as pessoas impossibilitadas de ver a
andar sem bater obstáculos graças a feedback háptico. O dispositivo
recorre a infravermelhos para detetar objetos e possui vários níveis de
vibração que ajudam o utilizador a conseguir contornar os obstáculos que
vão aparecendo pelo caminho.
A Sentiri pode ser conectada a um smartphone e tirar partido de uma
aplicação como o Google Maps para se definir um trajeto em que a
tecnologia, teoricamente, consegue levar em segurança uma pessoa do
ponto A ao ponto B, revela o Engadget.
Apesar da Sentiri ter sido pensada para cegos, a Chaotic Moon prevê que,
no futuro, ela também possa ser usada para fins militares. Contudo, a
empresa ainda não tem prevista a data de lançamento nem o preço deste
dispositivo.
Pode saber mais sobre o projeto Sentiri no vídeo abaixo:
A socialista não conseguiu ser eleita para a bancada parlamentar do
PS nas últimas legislativas. Agora, chega ao Governo de Costa com um
objetivo definido: “Representar as pessoas com deficiência”,
independentemente das suas opções partidárias.
Durante o último período de campanha eleitoral, a imprensa anunciou
que as legislativas trariam à Assembleia da República, pela primeira
vez, uma deputada cega. Apesar de se encontrar numa posição elegível na
lista socialista para o círculo de Lisboa, Ana Sofia Antunes ficou a um
lugar de entrar no Parlamento, mas com o novo Governo de António Costa
consegue fazer História: é a primeira secretária de Estado cega.
A nova responsável para a Inclusão de Pessoas com Deficiência tem 34
anos, é formada em advocacia e trabalhou durante vários anos na Câmara
de Lisboa. Ana Sofia Antunes assessorou o vereador da Mobilidade na
autarquia, Nunes da Silva, e também foi lá que exerceu funções de
assessoria jurídica. Atualmente, a socialista preside à Associação dos
Cegos e Amblíopes e é provedora do cliente na EMEL (Empresa Municipal de
Mobilidade e Estacionamento de Lisboa).
O convite de António Costa para integrar a lista de candidatos ao
Parlamento pelo círculo de Lisboa foi “agridoce”, revelou a agora
secretária de Estado numa entrevista concedida ao “Diário de Notícias”
em agosto passado. “É um momento de alegria, mas também de tristeza:
porque é que isto só está a acontecer em Portugal agora?”, defendeu,
considerando o atraso de Portugal nestas matérias “constrangedor”.
Na mesma entrevista, Ana Sofia Antunes explicava também que o lugar que
ambicionava conseguir na bancada parlamentar socialista serviria para
chamar a atenção para os obstáculos que as pessoas com deficiência
enfrentam, causa que poderá abraçar a partir desta quinta-feira, como
secretária de Estado para a Inclusão de Pessoas com Deficiência.
“Não faria sentido nenhum, tendo esta oportunidade, não constituir como
minha principal prioridade o trabalho em prol das pessoas com
deficiência”, esclareceu, na altura.
O trabalho que Ana Sofia Antunes desenvolveu na Câmara de Lisboa - o seu
plano de acessibilidade pedonal para a capital teve grandes apoios por
parte de António Costa - e a sua posição no que toca à representação de
pessoas com deficiência podem ser trunfos para a nova legislatura. É que
a nova secretária de Estado não considera que a sua cor partidária seja
“relevante” para alcançar os objetivos: “As pessoas sentem-se
representadas por uma pessoa com deficiência, independentemente da
bancada”.
A Oficina de Literacia Emergente para a Cegueira (OLEC) - 6 Pontos a
Dançar, Contos vão Contar - é um projeto em curso, distinguido e apoiado
por uma Menção Honrosa do Prémio BPI Capacitar 2014, que almeja ser um
serviço especializado, impulsionador do acesso e disseminação de
materiais no domínio da literacia emergente na cegueira.
Para acompanhar este projeto, visite o nosso blog - "6 pontos a dançar,
contos vão contar - Oficina de Literacia Emergente para a Cegueira
(OLEC)", em:
https://caipdvolec.wordpress.com/
Uma pulseira inteligente desenvolvida por um jovem mexicano promete
dar mais autonomia a quem tem deficiência visual. A Sunu Band registra o
entorno a partir de tecnologia sonar e transmite por vibrações a
presença de obstáculos em seu caminho, ajudando o usuário a seguir seu
trajeto.
Criado por Marco Trujillo apenas como um projeto acadêmico, o
protótipo foi testado por crianças cegas, que foram capazes de superar
várias provas, como sair de um labirinto.
Os pais de alguns dos garotos se entusiasmaram com os resultados,
resolveram investir no projeto e convencer o jovem a levá-lo adiante.
Trujillo, então, abriu uma startup, a Sunu, para aperfeiçoar a pulseira
e viabilizar sua produção. Quase quatro anos depois, o produto está
pronto para ir para o mercado, com custo de lançamento de 199 dólares
(cerca de R$ 750).
“O funcionamento é como o de um sensor de estacionamento, mas com
vibração em vez de bips”, explica Trujillo.
A pulseira fica na mão oposta à usada pela bengala-guia. Movimentos
leves permitem direcionar o ultrassom, como se fosse uma lanterna. O
dispositivo avalia o ambiente e, a partir de amostras de eco 30 vezes
por segundo, produz uma vibração de maior ou menor intensidade,
dependendo da distância do objeto que o produziu. Desta forma, o cego
pode interpretar as vibrações e desviar dos obstáculos ao seu redor.
A adaptação ao dispositivo é rápida, afirma o empreendedor. “Nos
testes realizados, constatamos que a curva de aprendizagem é mais curta
do que a das bengalas.”
Estão abertas as inscrições para 4 sessões de formação sobre
Empregabilidade Jovem, orientadas por Irina Francisco e Alexandre
Almeida.
Datas e horários:
28 de novembro, 14h/18h, Lisboa;
5 de dezembro, 14h/18h, Coimbra;
18 de dezembro, 14h/18h, Porto;
19 de dezembro, 09:30h/13:30h, Braga.
Prazos de inscrição:
- Lisboa - 26 de novembro;
- Coimbra - 3 de dezembro;
- Porto e Braga - 16 de dezembro.
Destinatários:
Jovens com deficiência visual e idades compreendidas entre os 18 e os 30
anos, desempregados ou à procura do primeiro emprego.
Objetivos:
• Partilhar experiências de procura de emprego;
• Identificar competências pessoais e profissionais;
• Valorizar os pontos fortes e aprender a contornar os pontos fracos;
• Construir um bom currículo;
• Conhecer as estratégias mais eficazes de procura de emprego;
• Refletir criticamente sobre como abordar a deficiência visual no
currículo e na entrevista de emprego.
Editas Medicine, uma empresa de biotecnologia, pretende utilizar
métodos avançados de engenharia genética para tratar a cegueira
Uma empresa de biotecnologia privada, a Editas Medicine, anunciou que
pretende iniciar os primeiros testes utilizando uma técnica inovadora e,
assim, criar seres humanos geneticamente modificados. A tecnologia tem
como objetivo tratar uma doença rara que provoca a cegueira, noticia o
The Telegraph.
Katrine Bosley, a presidente-executiva da Editas Medicine, anunciou numa
conferência dos EUA, que a empresa pretende iniciar a experimentação da
tecnologia em pacientes cegos daqui a dois anos, em 2017.
Os cientistas da Editas Medicine acreditam que se usarem a CRISPR, uma
inovadora tecnologia de edição genética, irão conseguir editar o ADN de
doentes que sofram de Amaurose Congénita de Leber (ACL), uma doença rara
e degenerativa que impede que a retina funcione normalmente. A doença
provoca uma perda grave de visão desde o nascimento e, com o passar dos
anos pode levar à cegueira total.
A técnica CRISPR, também conhecida como Repetições Palindromicas Curtas
Agrupadas e Regularmente Interespaçadas, tem sido usada por muitos
cientistas e funciona como uma espécie de “tesoura molecular” que remove
áreas mutantes do ADN.
Darren Griffin, professor de Genética na Universidade de Kent, na
Inglaterra, acredita que a tecnologia é uma esperança para pessoas que
sofram de alguma anomalia genética.
"A tecnologia CRISPR está a oferecer uma série de aplicações
interessantes, incluindo opções de tratamento para doenças genéticas”.
Mas a técnica CRISPR gera alguma controvérsia porque muda o código
genético das pessoas, fazendo com que seja transmitido aos descentes
nessa “nova forma”. Alguns críticos também temem que as mudanças
genéticas possam ter consequências inesperadas para outras partes do
genoma e, além disso, levar os pais a querer ter o bébé perfeito,
escolhendo as características físicas que eles podem vir a ter.
Se os planos da Editas Medicine avançarem, a empresa será o primeiro
laboratório do mundo a conseguir modificar os genes de um ser humano e
eliminar milhares de doenças hereditárias causadas por erros de genes,
tais como a doença de Huntington e a fibrose cística.
"A aparência conta. E muito. Afinal, vivo em um mundo de pessoas que
enxergam", diz a deficiente visual Florinda Trombetta.
Um salão de cabeleireiros em Milão, a capital da moda italiana,
oferece cursos de beleza para mulheres cegas que querem cuidar da
própria aparência sozinhas. A ideia nasceu da amizade entre a
proprietária do centro de beleza, Tiziana Ghislotti, com uma deficiente
visual.
"Um dia eu estava na academia de ginástica secando meus cabelos e a
Tiziana se aproximou oferecendo ajuda para enxugá-los. A princípio
fiquei um pouco ofendida, porque apesar de ser cega, posso usar o
secador sozinha. Mas logo depois, a sua naturalidade e simpatia me
conquistaram", conta à BBC Brasil Florinda, de 34 anos, funcionária de
uma Consultoria de Recursos Humanos.
Meses depois, enquanto dava conselhos à amiga sobre como escovar os
cabelos em casa, Tiziana percebeu que poderia ser útil a outras
deficientes visuais. A partir daí, ela elaborou os cursos gratuitos
realizados no próprio salão, duas vezes ao mês, depois do expediente.
"Não é um trabalho fácil, é um desafio para mim e para as minhas
assistentes. Até conhecê-las, a gente não fazia ideia das inúmeras
dificuldades que as pessoas cegas enfrentam cotidianamente para realizar
até mesmo os gestos mais simples. Mas no final, quem ganha somos nós,
que passamos a conhecer uma realidade diferente", afirma Tiziana, que é
proprietária de um dos salões de beleza mais movimentados da cidade.
Durante os encontros, que duram cerca de três horas, cada assistente
se dedica a duas alunas. As instruções para penteados e maquiagens são
personalizadas, com base no tipo de cabelo e de pele, biotipo, estilo de
vida e, naturalmente, gosto pessoal. "Elas se cuidam muito, querem se
informar sobre os produtos, sobre a moda. São mulheres que trabalham,
são dinâmicas e esportivas. É importante que elas tenham em quem
confiar", afirma Tiziana, que tem 40 anos de profissão.
A aparência conta Para Florinda, que perdeu a visão aos 20 anos por causa de
uma doença degenerativa, é importante manter um bom aspecto.
"Sei que todos me olham porque sou diferente, porque caminho com uma
bengala branca. E já que sou constantemente alvo de atenção, quero que
me vejam não apenas como deficiente, mas como alguém de boa aparência.
Afinal, vivo num mundo de pessoas que enxergam."
Ela afirma que estar bem penteada e com as mãos cuidadas a fazem
sentir-se bem. "No curso aprendi um segredo precioso para enxugar os
cabelos com o secador sem que eles se armem. E funciona realmente. As
sugestões que nos dão são muito válidas. Agora, quando chego ao
escritório, os colegas notam e elogiam cada pequena diferença no meu
visual."
Florinda passou a praticar esportes depois de perder a visão. Ela e o
marido, com quem é casada há 9 anos e que também é cego, participaram da
Paraolimpíada de Londres, em 2012. Ele, como campeão de beisebol, ela de
canoagem. Recentemente, Florinda aprendeu a esquiar. "Faço descida
livre. É adrenalina pura".
"Sou muito esportiva e não abro mão do que posso fazer com autonomia
para ficar mais bonita, como pentear-me e vestir-me bem. E apesar de ter
um pouco de dificuldade em me maquiar, uso um pouco de base, rímel e um
brilho nos lábios."
Confiança Também para Giovanna Gossi, de 49 anos e cega desde a
infância por causa de um glaucoma congênito, a aparência conta. E muito.
"Para quem não pode se ver no espelho, a preocupação com o próprio
aspecto é ainda maior", diz a telefonista de um instituto financeiro.
"Não vejo o meu rosto e, portanto, tenho que confiar nas pessoas".
No curso, além de técnicas específicas para escovar ou amarrar
cabelos finos, ela recebeu sugestões de maquiagem e conselhos para
substituir alguns cosméticos por produtos mais fáceis de serem
utilizados, como trocar a base líquida pelo pó compacto.
"Nas aulas, desenvolvemos um método que agradou a todas. Basta passar
o pincel no estojo de pó três vezes e iniciar a aplicação abaixo das
bochechas, de dentro para fora, duas vezes em cada lado do rosto, depois
espalhar pela testa, descer passando pelo nariz até o queixo, sem deixar
nenhuma parte de fora, e esfumaçá-lo no início do pescoço", ensina.
Combinando cores Também em Milão, Giovanna e outras deficientes visuais
fizeram um curso com uma personal shopper de quem receberam dicas de
como comprar roupas adequadas a cada fisionomia e estilo, além de aulas
de postura e lições sobre como caminhar de salto alto. "É claro que
quando você corre para pegar o 'tram' (espécie de bonde sobre trilhos,
comum em Milão), vai tudo por água abaixo", brinca.
Exigente e atenta às novidades da moda, Giovanna recorre a uma amiga
na hora de ir às compras e combinar cores. "Não posso usar somente preto
e branco porque são cores que, juntas, ficam sempre bem. Há muitos
outros tons que podem ser misturados".
E embora o namorado não seja deficiente visual, Giovanna diz não
confiar no seu gosto.
"Jamais vou sair para comprar roupas com ele", conta. "Qualquer coisa
que eu vista, até uma camisa de homem, o comentário dele é sempre o
mesmo. 'Belíssima!'".
É possível curar a cegueira provocada pelas cataratas, em cinco
minutos e gastando menos de 50 euros? A resposta vem do Nepal. É que um
oftalmologista nepalês já fez com que mais de 100.000 doentes
recuperassem a visão, através de um método revolucionário.
O sistema usado pelo doutor Sanduk Ruit é reconhecido pela
conceituada publicação científica American Journal of Ophthalmology e
consiste em operar as cataratas através de micro-cirurgias, com recurso
apenas a um microscópio e um bisturi.
As cataratas são extraídas do olho do paciente e é-lhe colocada uma
lente. Não há suturas e o doente apenas precisa de 24 horas de descanso
para recuperar.
Este procedimento, pela sua rapidez, eficiência (equivalente à dos
equipamentos mais modernos) e baixo custo já é ensinado em algumas
universidades dos Estados Unidos, sendo conhecido como Método Nepal.
Este reconhecimento fez com que Ruit tenha conquistado maior
credibilidade.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, há cerca de 20 milhões de
vítimas de cataratas cegas em todo o mundo, a maior parte delas nos
países menos desenvolvidos.
Com o objectivo de mudar a vida a estes milhões de doentes, Ruit e o
também oftalmologista Geoffrey Tabin, lançaram o projecto Cure Blindness
Himalayan Cataract Project para angariar fundos e assim poderem
prosseguir com a missão de erradicar a cegueira reversível.
Num projeto em parceria FENPROF-CNOD (Confederação Nacional dos
Organismos de Deficientes), co-financiado pelo INR (Instituto Nacional
de Reabilitação), vai realizar-se no próximo dia 21 de novembro, em
Lisboa, um encontro nacional subordinado ao tema "A deficiência e o (no)
exercício da profissão docente".
A iniciativa decorerrá na Escola Secundária D. Pedro V e o programa da
manhã inclui uma sessão de abertura (10h30), com comunicações de Ana
Simões (FENPROF) e Jorge Silva (CNOD) e depois, a partir das 11h00, três
conferências, seguida de um período de debate:
"O Professor cego: pedagogia e suplência multissensorial”, por
Deodato Guerreiro
“Tecnologias Acessíveis e de Apoio em Contextos Educativos“, por
Francisco Godinho
“Estudos internacionais sobre docentes com deficiência – Revisão
da Literatura” Paula Campos Pinto e Patrícia Neca
Após o intervalo para almoço, o encontro prosseguirá com um espaço
aberto ao testemunho de docentes, que falarão das suas experiências e
das suas reflexões. Entre outras, estão previstas intervenções de Ana
Paula Figueiredo, Carla Badalo, Isabel Camalhão, Joaquim Cardoso,
Joaquim Lagartixa e Lurdes Gonçalves.
Na sessão de encerramento intervirão Mário Nogueira (Secretário Geral da
FENPROF), José Reis (Presidente da CNOD) e José Madeira Serôdio
(Presidente do INR).
Serão creditadas seis horas como formação de curta duração para todos os
docentes de qualquer grupo de recrutamento.
O prazo das inscrições para este encontro nacional termina a 13 de
novembro. / JPO
Já experimentou o surf? Acha que a deficiência visual o(a) impede?
Inscreva-se junto da Delegação de Leiria da ACAPO e venha surfar nas
águas da Nazaré. A atividade está prevista para 14 de novembro.
Contacte a Delegação pelo telefone 244 849 850 ou pelo e-mail
leiria@acapo.pt.
Tendo noção do quão visual é o "feed" de notícias no Facebook, a
empresa encontra-se agora a trabalhar numa solução que permita aos
invisuais "ver" as imagens que os amigos partilham.
"Se pensar o quanto o feed de notícias é visual - e provavelmente é
grande parte - e a frequência com que as pessoas fazem um comentário ou
dizem algo sobre o que é partilhado, mas sem dizer realmente o que está
na foto", consegue perceber-se a necessidade da aplicação que os
engenheiros da Facebook estão a desenvolver, diz primeiro engenheiro
cego daquela rede social, Matt King.
O Facebook liga 1500 milhões de pessoas em todo o mundo, mas é
complicado de acompanhar para aqueles que são invisuais. "Então, para
alguém como eu [invisual], é um pouco como, ok, o que se está a passar
aqui? Do que é que estão a discutir?", acrescenta King, em declarações
ao site "TechCruch", especializado em tecnologia.
De momento, os invisuais têm acesso a "screen readers", ferramenta que
permite identificar o que o ecrã mostra, o que permite perceber o que é
escrito na rede, mas não tem qualquer efeito nas fotos que são
mostradas.
Para combater isso, procuram desenvolver um objeto de reconhecimento,
baseado em inteligência artificial, para ajudar os invisuais a ter uma
ideia do que está nas fotos que as pessoas partilham na rede. Numa
mensagem áudio que começa com "esta imagem poderá conter", a ferramenta
descreveria tópicos da mesma. Por exemplo, numa foto de um pôr do sol
numa praia a descrição poderia ser natureza, nuvens, exterior.
King confessa que a aplicação ainda está longe de ser vista como um
produto final. "Pode não estar a 100% ainda, mas mesmo que esteja apenas
a meio, o nível de comprometimento e a alegria que tenho é como ir de 0%
para 50% do que é possível", diz.
"É um passo enorme, mas apenas vai ficar melhor daqui para a frente.
Considero que a boa vontade da Facebook em investir em áreas como esta
realmente excitante e apenas mais uma forma de ligar as pessoas com
deficiências a uma grande experiência", acrescenta o engenheiro.
King, que se encontra a trabalhar na rede social há apenas quatro meses,
confessa que tem noção que a tecnologia relacionada com os "screen
readers" ainda está pouco desenvolvida. Porém, procura melhorar a
experiência na rede, e mesmo na web, para aqueles que não conseguem ver
o que os rodeia.
É cego desde nascença, pratica atletismo há 20 anos e já conquistou sete
medalhas de ouro em campeonatos do Mundo e da Europa. Nuno Alves começou
a treinar quando saiu do campo para ir viver para a cidade. "Faltava-me
um bocadinho de actividade física para libertar a adrenalina", contou ao
CM o atleta natural de Tourém.
É na pista que Nuno se esquece que a cegueira o diferencia dos demais
atletas. "A única coisa que penso é que tenho de ganhar aos outros e
mais nada. Tento ouvir a informação do guia sobre os adversários e penso
chegar à meta o mais rápido possível".
Com 40 anos, quando não está a correr, o medalhado é assistente
operacional e trabalha na Fundação para a Ciência e Tecnologia. Sente-se
triste "por não poder ser atleta a tempo inteiro", já que o que recebe
por mês por ser atleta paralímpico está longe de chegar. É que em
Portugal "não se vê o desporto para deficientes da mesma maneira que
outros desportos", o que influencia o desempenho face aos adversários de
outros países.
No entanto, não é por isso que Nuno deixa de acordar muito cedo, e de se
deitar tarde, para poder conciliar os treinos e o trabalho. Nota-se que
é uma pessoa de objetivos - as medalhas conquistadas são as primeiras a
falar por ele, nesse campo - e o próximo é o campeonato do mundo.
Ouro, hino e lágrimas
"A primeira vez que fui campeão do mundo senti-me realizado e emocionado
por pôr o hino a tocar por Portugal". Foi em 2007, em São Paulo, recorda
o atleta.
Ricardo Abreu também é atleta, neste caso atleta guia, ou seja,
acompanha Nuno em todos os treinos e provas. Fá-lo há três anos, altura
em que deixou o seu percurso individual para começar os treinos
específicos para exercer a sua tarefa. "É uma função muito gratificante
e vivo as vitórias como se fossem minhas", diz com orgulho.
Já Nuno, refere-se a Ricardo sempre com um sorriso no rosto. Explica que
o guia tem de ter um nível muito elevado para estar à altura deste tipo
de desafio, mas não só: "também tem de ser um amigo. Nós passamos muitas
horas por semana juntos e estar acompanhado por uma pessoa com quem
temos boa relação é determinante".
"Nuno não é cego"
O Clube de Atletismo de Pedro Pessoa na Sobreda, em Almada, que este ano
começa a época com 60 atletas, é o clube que Nuno escolheu para
continuar a praticar desporto. Para Pedro Pessoa, presidente e
treinador, "Nuno não é cego".
O responsável desportivo sublinha que há um trabalho diário para que o
atleta tenha os melhores resultados possíveis. "Todos os exercícios que
faço com os outros tento fazer com ele. Nunca o exclui. Uma vez fomos
correr para a praia e eu disse-lhe logo que não fosse encostado a mim.
Dei-lhe duas opções: ou vais para dentro de água ou vais para a areia
seca. E deixei-o ir à vontade. Deixei-o livre".
"Não há mais cegos em Portugal? Eu treino-os!"
O treinador garante que não recebe qualquer apoio do Estado português
por ter um atleta invisual. "Ter o Nuno no clube, ou não ter, é igual a
nível de apoios". Mas não é isso que o trava, pelo contrário. O que o
motiva é de tal ordem grande que não hesitou em aproveitar a reportagem
do CM para deixar um convite: "Eu posso treinar mais cegos. Será que não
há cegos em Portugal? Em Almada não há cegos? Não há miúdos? Eu
aceito-os".
Campeão da Europa de 5 mil metros e vice-campeão de 1500 metros, Nuno
recebeu o Prémio de Mérito Desportivo do Estado Português em setembro. O
prémio monetário é para dividir entre o treinador, o atleta e o clube,
mas o presidente decidiu diferente, para melhor, entenda-se.
Pedro Pessoa deliberou, juntamente com a direção que o acompanha, que o
dinheiro destinado ao clube será dividido pelos atletas guias, Ricardo
Abreu e João Montes (outro guia que acompanha Nuno, mas apenas nalguns
treinos). "Este prémio só nos é atribuído pelos prémios que o Nuno tem
ganho. É igual para os atletas sem deficiência. Se não ganhasse, não
recebia nada", justifica o presidente.
Mais esforço, menos apoio
O Comité Paralímpico de Portugal confirmou ao CM que o valor da bolsa de
alto rendimento mensal, para atletas do escalão 1, como é Nuno Alves, é
de 518€. Já o Comité Olímpico confirmou que um atleta olímpico, do mesmo
escalão, recebe 1375€/mês. O mesmo desporto, os mesmos treinos e as
mesmas conquistas. A diferença está, neste caso, nos menos 857€ a que
Nuno não tem direito, simplesmente por... ser cego.
Services for visually impaired elderly persons in Europe
A Research Study organized by the International Council for Education
and Rehabilitation of People with Visual Impairment (ICEVI-EUROPE ) and
the European Blind Union (EBU), in cooperation with the Vrije
Universiteit Amsterdam, regarding the availability of services for
visually impaired elderly persons in Europe.
No âmbito do Dia Mundial da Visão, que este ano se celebra a 8 Outubro,
a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) organiza a 1ª “Semana da
Visão” em Portugal.
De 8 a 15 de Outubro, a SPO irá
promover uma série de iniciativas que alertam para os problemas visuais
dos portugueses. O principal objetivo é sensibilizar a população para as
causas de cegueira que é possível prevenir, incentivando esta prevenção.
Maria João Quadrado, presidente da SPO, afirma que “as pessoas
preocupam-se cada vez mais com um estilo de vida saudável, mas muitas
esquecem ou desconhecem a necessidade de cuidar da saúde dos seus olhos.
A grande maioria das deficiências visuais podem ser evitadas e/ou
tratadas. As principais, como a miopia, hipermetropia, astigmatismo e
presbiopia podem ser corrigidos com óculos, lentes de contato ou
cirurgia refrativa. Outros problemas como a catarata, a degenerescência
macular da idade, a retinopatia diabética e o glaucoma podem levar a
perda da visão quando não detetados atempadamente”.
Entre as várias iniciativas que a SPO vai dinamizar na Semana da Visão,
a presidente destaca os rastreios. “O rastreio para a prevenção da
cegueira é das estratégias com melhor relação custo-benefício e a
observação regular pelo oftalmologista é o mais indicado. As crianças
devem ser observadas aos 3 anos, de forma a detetar defeitos que passam
despercebidos aos pais”.
Os cuidados com a visão devem manter-se ao longo da vida. “Aos 40-50
anos, quando surge a presbiopia, deve consultar-se um oftalmologista e
iniciar o despiste de glaucoma. Em idades mais avançadas é obrigatória a
observação anual para despiste de catarata, glaucoma e degenerescência
macular da idade. O envelhecimento da população significa que o risco de
desenvolver deficiência visual relacionada com a idade é cada vez maior.
Cerca de 65 por cento das pessoas com deficiência visual têm 50 anos ou
mais e em Portugal temos vindo a assistir a um aumento de casos de baixa
visão por degenerescência macular da idade e retinopatia diabética.
Nestas situações é obrigatório o exame oftalmológico anual”, defende
Maria João Quadrado.
O Dia Mundial da Visão tem como objetivo lembrar que as principais
causas de cegueira no mundo podem ser prevenidas e/ou tratadas se as
populações tiverem acesso a cuidados de saúde adequados. Neste dia (8 de
Outubro) iniciam-se na baixa do Porto os rastreios ao público com
divulgação de vários folhetos informativos sobre algumas das patologias
cujo tratamento pode fazer alterar o percurso para a perda de visão. No
dia 12 de Outubro, os rastreios e ações de sensibilização chegam a
Coimbra e a semana encerra a 15 de Outubro com as ações de rua a
decorrerem no centro de Lisboa (ver mais informação abaixo).
Durantes estas ações, as estátuas que existem nas praças onde irão
realizar-se os rastreios, estarão vendadas, simbolizando o combate à
cegueira promovido durante esta “Semana da Visão”.
A cada cinco segundos há um adulto a ficar cego no mundo, enquanto a
cada minuto o mesmo acontece com uma criança. O Programa da Visão 2020
pretende a prevenção das doenças evitáveis até 2020, de forma a oferecer
a todos o direito à visão.
Horas e locais dos rastreios:
12 de Outubro (Das 9h às 18h) – Coimbra – Praça da República
15 de Outubro (Das 9h às 18h) – Lisboa – Praça do Comércio
Poucas coisas são mais assustadoras do que deixar de ver. O Dia Mundial
da Visão, comemorado esta quinta-feira, é o pretexto para conhecermos
uma sumidade entre os oftalmologistas
Só quem nunca cegou pode julgar que é exagero chamar "santo" a um
oftalmologista.
Para Abel Rodrigues Fernandes, a palavra até peca por defeito. Dos 60
aos 65 anos, Abel viveu na escuridão quase total. E hoje, meses depois
de recuperar a visão, ainda se emociona quando recorda os tempos em que
via menos de cinco por cento. "Ninguém imagina o que é a pessoa pensar
que ficará cega para sempre. Eu estava louco!", conta o dono do
restaurante Fortaleza da Luz, perto de Lagos.
Uma doença da córnea obrigou-o a fazer dois transplantes, que correram
mal, e a sua situação foi-se degradando. "Vivia com medo de tudo. Não
andava sozinho e temia não chegar a conhecer a cara dos meus netos." Até
que uma sobrinha lhe marcou consulta com Joaquim Murta, diretor do
serviço de oftalmologia do Centro Hospitalar de Coimbra e coordenador na
clínica Idealmed. O olho esquerdo estava perdido, por causa da tensão
ocular que lhe comprimia o nervo ótico. Mas, para o olho direito,
Joaquim Murta prometia a cura, através de uma técnica inovadora,
desenvolvida pela sua equipa: o transplante ultrafino, que recorre a um
laser de femtossegundo, que corta através da libertação de um gás, com
extrema precisão. Assim há menos rejeição e uma maior taxa de sucesso.
"Logo que saí da sala de operações comecei a ver normalmente. Eu tinha
os pensos, mas espreitei por um buraquinho e percebi que via tudo o que
estava à minha volta", recorda Abel. "Hoje vejo 100% do olho direito.
Voltei a ser eu próprio. Conduzo, faço a minha vida. Aquela operação
devolveu-me tudo."
Joaquim Murta está habituado à gratidão dos doentes. "Em oftalmologia,
há uma grande perceção do que se faz. Está tudo à mostra, tudo se
quantifica." Também está habituado ao pioneirismo. O centro que dirige
acaba de ser referenciado como o único em Portugal com capacidade para
operar tumores oculares. Até há pouco tempo, os doentes tinham de ser
encaminhados para um hospital suíço. "O tratamento é uma quimioterapia
suprasseletiva [extremamente localizada], que exige uma equipa
multidisciplinar, bem treinada", nota.
Com exceção de duas situações muito específicas, "não há nada que se
faça no estrangeiro que não façamos aqui", sublinha o médico. "Coimbra é
um exemplo a nível europeu. Só haverá outro instituto na Europa (em
Inglaterra) com as mesmas características: temos bons clínicos,
condições para a investigação e uma relação estabelecida entre a clínica
e a investigação básica. Tudo isto em conexão com redes internacionais.
E aí é que se faz a diferença." Mas ainda há muito a fazer para melhorar
a saúde visual dos portugueses.
"Mais de metade dos oftalmologistas só faz privada. Além disso, estão
mal distribuídos. Por isso estamos a trabalhar numa rede de
referenciação que permita encaminhar os doentes de acordo com as
necessidades." E há ainda um caminho que tem de ser feito pela Ciência.
""Muitas doenças nomeadamente da retina ou do nervo ótico ainda não se
conseguem tratar convenientemente" admite o especialista. "No entanto ,
fruto de intensa investigação, muito se tem avançado nos últimos anos
possibilitando recuperar doentes que outrora estavam condenados à
cegueira". Raras vezes a expressão "luz ao fundo do túnel" faz tanto
sentido.
Pelos seus olhos
Alguns problemas podem ser prevenidos, ou tratados, se
diagnosticados a tempo. Diabéticos, hipertensos, maiores de 65 anos e
pessoas com problemas de tiroide devem ser vigiadas por um
oftalmologista; crianças até aos 2 anos têm também de ser avaliadas
(mesmo que pelo pediatra); aos 45 anos, recomenda?-se igualmente uma
consulta
A estátua de Joaquim António de Aguiar (conhecido por “Mata-frades”), no
Largo da Portagem, vai estar de olhos vendados na próxima
segunda-feira, um gesto que simboliza o combate à cegueira. A acção
decorre no âmbito da 1.ª Semana da Visão, organizada pela Sociedade
Portuguesa de Oftalmologia (SPO), entre esta quinta-feira – Dia Mundial
da Visão – e 15 de Outubro.
Estão abertas, até 9 de outubro, as inscrições para as 3.ªs Olimpíadas
do Braille, a decorrer no próximo dia 17 do referido mês, no
Auditório da Estação do Metropolitano do Alto dos Moinhos, em Lisboa.
Mais uma vez, estão previstos quatro escalões de participação, de acordo
com as seguintes faixas etárias:
1.º escalão: participantes com deficiência visual dos 8 aos 12
anos;
2.º escalão: participantes com deficiência visual dos 13 aos 20
anos;
3.º escalão: participantes com deficiência visual e idade
superior a 20 anos;
4.º escalão: participantes sem deficiência visual.
Aos três primeiros classificados de cada escalão, será atribuído um
voucher para aquisição de produtos tiflotécnicos, cujo valor difere
consoante a classificação dos participantes.
O sistema de leitura e escrita Braille, quando corretamente utilizado,
constitui um meio fulcral para a melhoria da qualidade de vida das
pessoas com deficiência visual, facultando-lhes o acesso à palavra
escrita e, com ele, a melhoria da sua autonomia. Pensando no Braille nos
dias de hoje, apesar dos meios tecnológicos existentes, continua a ser
inquestionável o seu papel como potenciador do acesso à educação,
cultura, informação, lazer e, consequentemente, a uma plena participação
social. Conhecer e utilizar corretamente o sistema Braille é pois um
processo evolutivo e contínuo, tanto melhor alcançável se a ele se
dedicar algum empenho pessoal. Nessa linha de pensamento, a ACAPO está
certa de ter contribuído para estimular o uso deste sistema, ao
dinamizar o concurso as “Olimpíadas do Braille”, que teve a sua primeira
edição em 2011.
Este concurso é bienal, assegurando-se assim que os seus objetivos
tenham continuidade no tempo, recompensando-se o cada vez maior
interesse e domínio demonstrados no que toca a este sistema de leitura e
escrita para pessoas cegas, tanto por aqueles que são os seus
utilizadores habituais como por quem, por necessidade profissional ou
interesse pessoal, a ele se dedica.
Já na sua terceira edição, este concurso tem vindo a registar grande
aceitação, ajudando a ACAPO a concretizar dois dos seus grandes
objetivos: divulgar o sistema de leitura e escrita Braille e
garantir, através da sua valorização, a autonomia das pessoas com
deficiência visual.
OBJETIVOS:
a) Promover o Braille como sistema universal de leitura e
escrita para as pessoas com deficiência visual e como instrumento de
trabalho para quem com elas conviva;
b) Dar visibilidade ao sistema Braille enquanto facilitador da
autonomia pessoal e do desenvolvimento social, cultural e
profissional;
c) Estimular e incentivar a utilização do sistema Braille;
d) Reconhecer a prioridade da utilização do Braille na vida
quotidiana da pessoa com deficiência visual;
e) Estimular e incentivar o gosto pela escrita e pela leitura
tátil;
f) Revelar competências ao nível das regras de escrita em
Braille;
g) Incrementar o entusiasmo por uma leitura tátil, rápida e
fluente;
h) Combater o estigma associado à leitura tátil, enquanto
sistema característico de um determinado grupo de pessoas;
i) Promover o convívio tiflológico, fomentando a partilha de
saberes e de experiências entre os participantes;
j) Aproximar a comunidade em geral deste sistema de leitura e
escrita;
k) Promover o uso do sistema Braille por pessoas sem deficiência
visual mas que, por motivos profissionais ou lúdicos, possam vir a
interessar-se pela sua utilização;
l) Mobilizar um conjunto de saberes sobre personalidades com
deficiência visual que se destacaram na sociedade do seu tempo;
m) Dar a conhecer a vida da ACAPO no percurso feito ao longo de
vinte e cinco anos.
Consulte o Regulamento e inscreva-se.
Para mais informações, contacte o Departamento de Relações Externas da
ACAPO, pelo telefone 213 244 500 ou pelo e-mail
rp.dn@acapo.pt. Projeto cofinanciado pelo Programa de
Financiamento a Projetos do INR I.P.
Experiência poderá resultar na cura da Degenerescência Macular
Relacionada com a Idade, apontada como a causa mais comum de perda de
visão nas pessoas acima de 55 anos
Uma equipa de investigadores está a levar a cabo uma experiência que tem
como principal objetivo curar a perda de visão recorrendo a células
estaminais.
Na primeira cirurgia realizada no mês passado no Hospital Oftalmológico
de Moorfields, da Universidade de Londres, foram transplantadas na parte
posterior da retina de uma mulher de 60 anos, uma capa de células
pigmentadas (o epitélio pigmentário retinal) fundamentais para a visão,
produzidas em laboratório a partir de células estaminais de um embrião
criado num tratamento de fertilização in vitro. Os resultados são
aguardados com grande expectativa.
“Só lá para o Natal é que saberemos como é que estará a visão da doente
que já foi operada, e por quanto tempo irá mantê-la, mas já sabemos que
as células parecem estar saudáveis e posicionadas no local certo”,
contou à BBC o professor Peter Coffey, que lidera o “The London Project
to Cure Blindness” (Projeto Londrino para a Cura da Cegueira).
Este projeto científico já tem cerca de dez anos e pretende reverter a
perda de visão em doentes com Degenerescência Macular Relacionada com a
Idade (DMRI). Esta doença afeta a área central da retina (mácula) e
provoca uma perda da visão central, na maior parte dos casos nos dois
olhos, dificultando a leitura, a identificação de cores e de rostos.
Como a visão periférica não é atingida, os doentes não cegam por
completo. A DMRI é apontada como a causa mais comum de perda de visão
nas pessoas acima de 55 anos.
Nesta fase do projeto serão operados dez doentes com DMRI exsudativa.
Esta forma da doença, a mais grave, caracteriza-se pelo desenvolvimento
de vasos sanguíneos defeituosos na mácula que sangram causando danos
importantes e rápidos. Estes doentes serão acompanhados durante um ano
para verificar os resultados da intervenção.
TECNOBLIND: O protagonismo das pessoas
com deficiência visual no trabalho
TecnoBlind
Acaba de surgir uma Organização Não Governamental que pretende atuar em
todo o Brasil, via internet, oferecendo cursos à distância,
atuando na defesa da acessibilidade na Web e promovendo eventos
periódicos com assuntos relativos à deficiência visual. É a TECNOBLIND.
Venha conhecer!
Nosso evento de inauguração será no dia 17 de outubro, sábado, à partir
das 19 horas. E o tema será "O protagonismo das pessoas com deficiência
visual no trabalho".
Inscreva-se no site
http://www.tecnoblind.org.br/trabalho2015 - O evento será
aberto a qualquer interessado e você poderá participar estando em
qualquer lugar com acesso à internet. Sabemos que ainda há muito por
fazer no contexto da pessoa com deficiência visual no trabalho. A
resistência das empresas, ausência de acessibilidade no ambiente
laborativo e a falta de preparo dos gestores são assuntos que carecem de
ampla discussão e aprimoramento.
Participe dessa discussão e ajude a construir uma sociedade mais
inclusiva no que diz respeito ao acesso e manutenção da pessoa com
deficiência no mercado de trabalho. Contaremos com palestrantes de
reconhecida atuação na área e os participantes poderão interagir por
meio de perguntas e manifestações.
Após as palestras e discussões, a Diretoria da TECNOBLIND promoverá um
cafezinho virtual onde serão apresentados os objetivos da entidade e
colheita de idéias e sugestões para a nossa atuação. A interação com as
pessoas com deficiência visual é fundamental para a evolução das ações
da Tecnoblind. Por isso sua presença é fundamental. Não deixe de
participar!
Programação
Dia 17 de outubro de 2015
• 19h00 - Mesa de abertura;
• 19h10 - O prejuizo da terceirização para as pessoas com deficiência;
• 19h30 - A atuação das instituições de e para cegos na inclusão das
pessoas com deficiência no mercado de trabalho;
• 19h50 - A legislação relativa às pessoas com deficiência no trabalho;
• 20h10 - O subaproveitamento das pessoas com deficiência no
funcionalismo público;
• 20h30 - A experiência de uma pessoa com deficiência na iniciativa
privada;
• 20h40 - Espaço para perguntas e discussões;
• 21h00 - Apresentação da entidade pela diretoria;
• 22h00 - Encerramento.
A escola pública tem poucos docentes para dar resposta às necessidades e
os pais deixaram de receber subsídios para recorrer a apoios no privado.
Há cinco mil professores do quadro e 1.200 contratados para mais de 78
mil alunos com necessidades educativas especiais.
Segundo o Jornal de Notícias, os sindicatos apontam cortes nos recursos
humanos e subsídios atribuídos aos país para procurarem ajuda no privado
a rondar os 30 milhões, quando a verba em 2014 foi de 198.232.208 euros.
Na escola pública os professores têm dezenas de alunos a seu cargo e
ficam limitados a poucas horas de apoio individual. Por outro lado,
também os centros de recursos de inclusão (CRI), que dão apoio às
escolas, ameaçaram suspender os seus serviços na semana passada.
A lei dita que as turmas que integram crianças com Necessidades
Educativas Especiais tenham um número mais reduzido de alunos, mas, de
acordo com a Fenprof, a lei não está a ser respeitada. Muitas chegam até
a ter mais alunos com NEE do que o previsto, denuncia Mário Nogueira.
Quem não se encanta com os clássicos “A Bela Adormecida”, “Branca de
Neve”, “Chapeuzinho Vermelho”, “Cinderela”, “João e Maria”, “João e o Pé
de Feijão”, “Os Três Porquinhos”, “Peter Pan”, “Robin Hood” e
“Rapunzel”?
A novidade agora é que crianças com deficiência visual poderão ter
acesso a adaptações dessas histórias em formato inclusivo. Os exemplares
são impressos em braille e fonte ampliada e têm imagens em relevo, além
de serem ilustrados com cores vibrantes.
Há também um CD com a leitura das histórias com ou sem audiodescrição
(recurso que transforma imagens em palavras), com efeitos sonoros e
lúdicos, que têm como objetivo estimular os diferentes sentidos dos
pequenos leitores.
A Fundação
Dorina Nowill para Cegos imprimiu 3.000 kits da Coleção Clássicos
Acessíveis, que chegarão gratuitamente a bibliotecas, escolas públicas e
instituições que atuam com pessoas com deficiência visual em todo o
país. Brevemente, eles também estarão à venda no site da ONG.
“É um projeto inédito que permite que a criança cega ou com baixa visão
leia sozinha, com amigos ou parentes, que a leitura aconteça de pai para
filho, de professor para aluno”, afirma Ana Paula Silva, coordenadora de
acesso ao livro da fundação. “É uma quebra de barreiras e uma forma de
incluir por meio dos contos de fadas”, completa
No sentido de promover o direito ao voto dos cidadãos com deficiência,
nas eleições da Assembleia da República no dia 4 de outubro, foi
preparado um folheto, elaborado em leitura fácil, e um vídeo, que inclui
legendagem e interpretação em língua gestual portuguesa.
Estes materiais são o resultado de um esforço conjunto do Instituto
Nacional para a Reabilitação, I.P. (INR, I.P.), a Comissão Nacional de
Eleições (CNE), a Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), a
Federação Nacional de Cooperativas de Solidariedade Social (FENACERCI),
a Federação Portuguesa das Associações de Surdos (FPAS) e a Federação
Portuguesa para a Deficiência Mental (HUMANITAS).
Nestes ficheiros encontrará informação sobre o que é uma eleição, quem
pode votar, como confirmar a sua situação eleitoral, como votar, entre
outras informações relacionadas com a participação das pessoas com
deficiência na vida política.
→
Para mais informação sobre as eleições regionais, consulte:
De Abril a Setembro, o Centro Cirúgico de Coimbra assegura um conjunto
de visitas guiadas à exposição VISÕES. O INTERIOR DO OLHO HUMANO. Não
perca a oportunidade de aprofundar os seus conhecimentos sobre esta área
científica absolutamente fascinante.
Falam da vida que existe nesse interior escondido. Falam do estilo de
vida de cada um, do ADN que herdaram, das lesões que tiveram de
enfrentar….
São duas formas de produção de conhecimento e estão presentes nas
imagens desta mostra. A exposição ajuda-nos a ultrapassar a deformação
cultural que nos leva a julgar que Arte e Ciência nunca se encontram.
Não é verdade. Arte e Ciência têm a mesma missão (criar), recorrem ao
mesmo instrumento (talento) e são as duas únicas vias de descoberta da
verdade livre. Esta exposição exemplifica este encontro perfeito entre
Arte e Ciência.
Reúne um leque de fotografias reais, captadas no interior do olho
humano, acabando por se relevar um instrumento de comunicação inovador
entre Ciência e Arte. São histórias de sucesso da medicina e da
Oftalmologia portuguesa, mas não só, porque a física, a matemática, a
arquitetura, a engenharia de estruturas, ou simplesmente, a estética
estão presentes e existem, obrigatoriamente, dentro de cada olho humano.
Uma alga que vive no meio da água e da sujeira pode ser responsável por
devolver aos cegos a capacidade de enxergar. A Chlamydomonas reinhardtii
tem uma estrutura simples, é unicelular, possui duas caudas parecidas
com chicotes circundando seu corpo e ainda uma estrutura parecida com um
olho, que nem chega a ser um olho de fato, que ela usa para encontrar
luz e, assim, realizar a fotossíntese.
Apesar da simplicidade, esse organismo vem sendo apontado como possível
responsável pela cura da cegueira. Isto porque, assim como acontece em
um olho humano, a estrutura que a alga utiliza para "enxergar" faz uso
de proteínas fotossensíveis. Entre elas, uma em especial chama a
atenção: a canal-rodopsina-2 (ChR2). Transplantada para um olho humano,
ela poderia devolver a ele a capacidade de enxergar novamente.
A ChR2 já funciona
Algo que anima os cientistas e também aqueles que desejam ter a cegueira
curada é o fato da proteína canal-rodopsina-2 já ter sido utilizada com
sucesso em pesquisas semelhantes. Atualmente, neurocientistas empregam a
ChR2 em células cerebrais para tornar neurônios sensíveis à luz — um
processo chamado de optogenética.
A proteína foi usada em laboratório para implantar memórias falsas em
ratos e teve as suas características de fotossensibilidade estimuladas
por meio do uso de fibras ópticas. O resultado foi que os pequenos
animais demonstraram ter lembranças de algo que não haviam vivido de
fato, criando um resultado semelhante ao do filme “A Origem”, de
Christopher Nolan.
Pesquisa em evolução
As pesquisas e testes realizados pela RetroSense foram licenciadas por
Zhuo-Hua Pan, um pesquisador especializado em olhos da Universidade
Estadual de Wayne. Ele estuda como restaurar a visão depois que cones e
bastonetes morreram, que é o que acontece em pessoas com retinite
pigmentosa.
Quando se pensa em doenças genéticas de humanos, o óbvio é imaginar a
utilização de outros genes humanos para tentar curá-las. Entretanto,
proteínas humanas são muito sensíveis, demandando a implementação
conjunta com outras diversas proteínas. Assim, os cientistas teriam que
inserir um conjunto de genes dentro de um ser humano, algo visto como
quase impossível pelos pesquisadores.
A partir daí, em 2003, Pan divulgou um artigo científico no qual
indicava o uso das proteínas canal-rodopsina-2 retiradas de algas
Chlamydomonas reinhardtii. Com a necessidade de usar uma proteína e um
gene, as características da ChR2 se mostraram ideais e os cientistas
começaram a inseri-las em células de mamíferos.
“Funcionou perfeitamente, mesmo no começo”, revelou Pan à revista Wired.
“Era, basicamente, muita, muita sorte”, complementa o especialista.
Testes em humanos devem começar em breve
Recentemente, o órgão do governo dos Estados Unidos que regulamenta a
produção e venda de remédios e alimentos, a Foods and Drugs
Administrarion (FDA, uma espécie de Anvisa de lá), autorizou a
RetroSense a iniciar os primeiros testes da nova técnica em seres
humanos.
A empresa planeja recrutar 15 pacientes cegos acometidos da doença
ocular genética retinite pigmentosa. Ela causa a degeneração da retina e
quem a tem vai perdendo a visão de forma gradual — ou seja, pelo menos
por enquanto, cegos de nascença não serão cobaias do experimento. De
acordo com a RetroSense, os testes devem começar já no último trimestre
de 2015.
Assim como os cientistas que fizeram os neurônios de ratos sensíveis à
luz, os pesquisadores da RetroSense também vão implantar a ChR2 nos
neurônios retinianos para torná-los fotossensíveis. A diferença está no
meio de transporte da proteína: aqui, eles usarão um vírus em vez de
fibra óptica.
A ideia de utilizar vírus em tratamentos genéticos para curar doenças
genéticas não é exatamente novidade. Isso já foi tentado inúmeras vezes,
com estes organismos servindo de veículo para carregar genes saudáveis
até o local da doença. A diferença aqui é que o gene em questão não vem
de outro ser humano, mas sim de uma alga.
Indo direto ao ponto
O olho é uma estrutura bastante complexa e confusa, repleto de camadas e
microrganismos. Assim, a RetroSense mira apenas a última camada dos
neurônios retinianos, chamados de células ganglionares da retina. Pela
lógica, torná-los fotossensíveis pode superar as camadas anteriores
danificadas pela doença e corrigir o problema da cegueira.
O resultado esperado não é, logo de cara, uma visão 100% plena e
funcional. Os ratos de laboratório nos quais este método foi testado
aparentemente enxergavam feixes de luz. Algo assim é esperado nos
humanos que servirem de cobaia, ao menos em um primeiro momento.
O fato é que a optogenética está caminhando firme rumo à sua
implementação em seres humanos. Depois de mais de 15 anos de pesquisa,
em breve teremos as primeiras respostas de pessoas que tiveram ChR2
implementadas em suas retinas. A torcida é para que os resultados sejam
positivos.
Os ipads têm um aplicativo chamado Baby Finger, em que as crianças podem
tocar imagens Muriel Sanders, pesquisador da Universidade do Kansas,
EUA, acredita que o iPad pode ajudar a melhorar as vidas e perspectivas
de crianças com deficiência visual cortical (DVC), uma doença
neurológica severa resultante de danos cerebrais e que impede seus
portadores de processarem informações visuais.
Com a tela brilhante, o iPad é uma espécie de réplica de uma caixa de
luz - mas sua interatividade, som e cor são muito mais atraentes para as
crianças.
Alguém com disfunção cortical visual grave vai gastar muito tempo
olhando para as luzes. Elas podem simplesmente sentar e olhar para uma
luz dentro de uma casa ou para fora da janela. Até podem lançar
brevemente um olhar a algo que passa, mas não olham para o rosto de
pessoas e nem para objetos. Por isso essas pessoas parecem ser cegas.
Os iPads – que parecem uma caixa de luz – têm um aplicativo chamado Baby
Finger, em que as crianças podem tocar imagens e formas coloridas que
aparecem no fundo branco.
Assim como o iPhone já está sendo usado com crianças com autismo para
ajudá-las a ajustar a sobrecarga sensorial, há um grande potencial para
usar o dispositivo como ferramenta de ensino para crianças com
deficiência visual. Ele não só pode ser usado para ajudá-las a interagir
com a tela, como também pode ensiná-las a controlar as coisas que veem.
Os pais das crianças com DVC foram os primeiros a notar o potencial do
iPad como ferramenta terapêutica para seus filhos. A perspectiva de uso
do aparelho para esse fim começou a se espalhar pela internet, mas
nenhuma pesquisa formal foi realizada ainda.
Uma intervenção precoce em crianças com DVC não é apenas crucial para
seu desenvolvimento, mas também pode ajudá-las a ter uma visão melhor à
medida em que crescem.
Sanders frisou que esta é apenas uma pequena amostra e ainda falta uma
pesquisa formal para documentar o poder do iPad para ajudar estas
crianças.
“Usando o iPad, os meninos não só podem interagir com a tela, mas
podemos ensinar através de uma série de passos a controlar as coisas
nessa tela”, considerou a médica, que agora procura financiamento para
realizar uma pesquisa mais profunda.
Durante os testes iniciais, Muriel contou com a colaboração de
especialistas do Junior Blind of America, uma instituição que se dedica
a trabalhar com crianças cegas.
Cegos e amblíopes foram ao Douro à vindima: pousaram as bengalas,
pegaram nos baldes e tesouras e tatearam as videiras para cortarem uvas.
Fernando Gabriel, 74 anos, toca a videira, desvia as folhas e procura os
cachos das uvas. Segue à risca as instruções dadas pelo monitor da
Quinta da Avessada, no planalto de Favaios, concelho de Alijó. “Temos
que procurar os cachos. Explicaram para se pôr a mão por baixo, para
cortar em cima e deitar no balde”, afirmou à agência Lusa. Fernando é
cego desde os 18 anos, trabalhou como telefonista, está reformado e fez
questão de vir com o grupo da delegação do Porto da Associação dos Cegos
e Amblíopes de Portugal (ACAPO) à procura de uma nova experiência.
Com a ajuda da mulher, Teresa Gonçalves, avança para uma outra videira.
Às vezes encontra os cachos emaranhados e é “mais trabalhoso” encontrar
o pé da uva, onde coloca a tesoura, mesmo encostada ao dedo, e corta.
“Uma das recomendações que nos fizeram foi de chegarmos com os 10 dedos
ao final”, gracejou.
Esta foi também a primeira vez que Maria do Céu Francisco, 57 anos,
vindimou. “Correu bem. Consegui apanhar um balde dos grandes de uvas,
não é aquele pequenino, dos outros grandes”, frisou. Ficou cega aos três
anos e foi muito protegida pela mãe, que nunca a deixou trabalhar.
“Mexer nas folhas, pegar o cacho na mão, ser eu a cortar, saber que esse
cacho vai dar vinho para outras pessoas beberem, é uma coisa muito
importante. Eu achava o vinho muito caro, mas agora, vendo o trabalho
que ele dá, acho que o preço está muito justo”, sublinhou.
O casal Francisco, 48 anos, e Alexandra Figueiredo, 41 anos,
aventurou-se nesta vindima com a ajuda da filha que ia saltitando entre
os dois para ajudar e dar algumas instruções. “Está a ser muito
interessante. Estou a gostar muito”, sublinhou Francisco.
Para além da visão reduzida, Susana Monteiro, de 34 anos, tem uma
deficiência motora no braço direito que a obriga a sentir e cortar
apenas com a mão esquerda. “Correu bem. Eu parto para as coisas sempre
com um pensamento positivo, tentando não bloquear e não complicar as
coisas só por complicar”, frisou.
Susana faz parte da direção da ACAPO e referiu que, quando sentiu perda
de visão, deixou de sair de casa sozinha. Hoje já o faz outra vez e
disse que é feliz, como qualquer outra pessoa.
“Recusamo-nos a ficar isolados, a ficar em casa. Nós não somos os cegos
e os coitadinhos. Somos pessoas que temos mobilidade reduzida e há
coisas que nós não fazemos, mas lutamos para que sejamos autónomos e
fazemos muitas atividades”, afirmou Paula Costa, de 48 anos e presidente
da delegação do Porto da ACAPO.
Este grupo já experimentou conduzir jipe e, depois da vindima, segue-se
o caiaque.
Paula perdeu 95% da visão há 10 anos. “Quando vamos para as vinhas, para
uma aldeia, para o monte, vemos a paisagem. Quando perdemos a visão não
vemos a paisagem mas, se calhar, sentimos o resto que as pessoas com
visão não sentem, que é o barulho dos pássaros, os ruídos, os cheiros”,
explicou. Nesta experiência na vinha, destacou o barulho das tesouras, o
toque das folhas, o sabor das uvas.
A Quinta da Avessada recebe milhares de turistas durante o ano. No
período de vindima o número de visitantes praticamente duplica nesta
unidade que possui uma enoteca, onde se conta a história do Douro e se
desvendam os segredos da produção de vinho e do moscatel de Favaios.
“É a primeira vez que estamos a ter cegos a cortar uvas. Cortaram 20
bombos de uvas em 45 minutos, ninguém cortou os dedos e ficaram todos
muito satisfeitos”, salientou o proprietário, Luís Barros. A equipa da
quinta preparou-se para um cuidado extra com este grupo mas, segundo o
responsável, “não foi preciso”. “Eles conseguem-se orientar muito bem e
cortaram muito melhor do que algum pessoal do campo”, brincou.
A vindima foi acompanhada pelos sons do acordeão e do bombo e ainda
houve tempo para um baile improvisado.
Às mãos de António Travassos chegam doentes de todo o mundo, à procura
de um tratamento para os seus casos considerados sem solução. Cego dos
dois olhos, Martinho Santos Martins foi um deles. Hoje sorri de
felicidade.
Cinco horas e 18 minutos foi o tempo que três médicos do Centro
Cirúrgico de Coimbra levaram a fazer uma cirurgia inédita, a primeira em
todo o mundo, que ao doente valeu a luz do dia. A troca de uma parte do
olho foi feita como uma simples mudança peças de uma engrenagem que já
não funciona… mas de um olho para o outro. Dois dias após a intervenção,
o doente a quem tinha sido diagnosticada uma cegueira irreversível já
conseguia contar os cinco dedos de uma mão à distância de um metro.
“Se a cegueira é curável, só há uma solução: é fazer tudo aquilo que
podemos para curar o doente. Essa é a nossa missão”, diz António
Travassos, cirurgião oftalmologista fundador do Centro Cirúrgico de
Coimbra, que não pousou o bisturi quando, em Dezembro de 2014, Martinho
Santos Martins ali entrou com uma cegueira bilateral. “Estava
completamente deprimido quando chegou, e hoje só consegue sorrir. Mesmo
com os olhos ainda tapados, o senhor só sorria.”
O doente de Bragança, com 69 anos, foi submetido, no final de Julho
deste ano, a uma translocação (ou deslocação) do segmento anterior do
olho, uma cirurgia nunca realizada com sucesso até hoje. António
Travassos, o cirurgião principal, conseguiu o “enxerto perfeito”. Ou
seja, recortou um círculo perfeito para poder transplantar toda a córnea
(a parte da frente do olho que cobre a íris e a pupila) e ainda uma
coroa circular de esclera (a região branca do olho) do olho esquerdo
para o olho direito.
O resultado surpreendeu até o médico, que nunca deu certezas de cura ao
doente. Depois da cirurgia, Martinho Santos Martins, que ao entrar no
bloco operatório não controlava as lágrimas, percorria então os
corredores do Centro Cirúrgico de Coimbra de forma autónoma, e com a
visão recuperada no olho direito de 1/10 (do ponto de vista legal, a
cegueira existe quando o melhor olho tem uma acuidade inferior a esse
valor).
Apesar de todas as dificuldades ao longo do tempo, a esperança nunca
abandonou o doente que desde cedo conviveu com a cegueira. O olho
direito, se não o atraiçoam as memórias da infância, nunca tinha tido
visão. A zona da córnea encontrava-se esbranquiçada (leucocórnea), o que
impedia Martinho Santos Martins de ver desse olho. Mais tarde na vida,
uma trombose no olho esquerdo roubou-lhe a única janela para o mundo.
Foi operado em França, onde esteve emigrado, e tentou ainda tratamentos
em Espanha, mas nada trouxe a visão a Martinho Santos Martins. A
cegueira era irreversível para os médicos que o observavam – com a
excepção de António Travassos, a quem recorreu, já quase sem esperança,
no final de 2014.
“Com o exame de visometria, concluímos que o olho direito do doente,
embora estando cego, tinha uma acuidade de visão de 2/10, porque as
estruturas da parte posterior estavam funcionais”, diz António
Travassos. Este foi o motivo que levou o médico a avançar confiante para
a cirurgia, mas sempre com a ameaça de ter de extrair o olho.
Houve uma primeira cirurgia em Coimbra, que consistiu em trocar a córnea
do olho esquerdo – o olho que estava também cego pela trombose mas que
tinha a córnea saudável – para o olho direito, com a córnea
esbranquiçada desde a infância. E para o olho esquerdo transplantou-se a
córnea de um dador. “Conseguimos resultados, do ponto de vista
anatómico, para o olho esquerdo, e do ponto de vista funcional para o
olho direito [que conseguiu agora recuperar a visão]”, diz António
Travassos. “Nada fazia prever o que aconteceu depois”, diz ainda o
médico.
Após esta primeira cirurgia, o inesperado por todos surgiu: o doente
teve uma rejeição da sua própria córnea no olho direito. “Ninguém
esperava que o melting da córnea acontecesse após a cirurgia. O doente
tinha recuperado a visão e voltou a perdê-la.” O melting da córnea é uma
reacção auto-imune rara, que consiste na inflamação da córnea, como se
derretesse até à sua perfuração.
“Em vez de retirarmos o olho, resolvemos esperar que tudo estabilizasse,
para encontrar uma solução.” E foi isto que a equipa de médicos fez.
Após algum tempo, surgiu então a hipótese de uma nova cirurgia devolver
a visão a Martinho Santos Martins.
A técnica nunca tinha sido realizada em parte nenhuma do mundo, mas
António Travassos, famoso por resolver situações aparentemente sem
solução, avançou para a sala de operações. “Nunca pude dar esperanças ao
doente. Mesmo antes de entrar em cirurgia tive de lhe dizer que havia a
hipótese de ter de se eviscerar o olho. Entrou no bloco sem controlar as
lágrimas.”
A segunda cirurgia, na qual participaram ainda os oftalmologistas José
Galveia e Sofia Travassos, filha de António Travassos, teve os seguintes
passos: transportou-se toda a córnea (que o doente já tinha recebido de
um dador) e a coroa circular de esclera do olho esquerdo para o olho
direito, aquele que tinha tido a reacção auto-imune. Por isso se designa
translocação. Quanto à córnea que foi rejeitada, voltou para o olho
esquerdo, aquele que se mantém cego.
A coroa de esclera funcionou como uma espécie de aba para se deslocar
toda a córnea, sem se alterar o ângulo da câmara anterior. A manutenção
do ângulo da câmara anterior evitou complicações, como o desenvolvimento
de hipertensão ocular, que levariam ao insucesso da intervenção. O caso
clínico bem sucedido terá os seus resultados publicados no Atlas de
Oftalmologia RL- Eye, uma edição do Centro Cirúrgico de Coimbra.
“Esta cirurgia prova que nunca devemos desistir de fazer o melhor por
cada doente e, neste caso específico, tínhamos de tentar proporcionar
melhor qualidade de vida, porque este era um caso em que a alternativa
era deixar manter o doente na cegueira”, diz António Travassos. “É uma
verdadeira lição. A lição de que não devemos retirar um olho que tenha
ainda percepção luminosa. É sempre possível pensar de maneira
diferente.”
Geralmente, os doentes com a córnea esbranquiçada ficam sem tratamento,
ou são submetidos a uma cirurgia para substituir parte da córnea por
matéria orgânica inerte e transparente (queratoprótese). Mas esta nunca
foi uma hipótese ponderada por António Travassos: “Em toda a minha vida,
vi quatro doentes com queratoprótese. Todos eles sofreram inúmeras
complicações e voltaram a cegar.”
Com a cirurgia da translocação de uma parte dos olhos feita há mais de
um mês, o doente não teve até agora qualquer tipo de complicações. “Em
oftalmologia também se fazem milagres”, diz Martinho Santos Martins,
citado num comunicado do centro. E o prognóstico é que possa ir
recuperando gradualmente alguma visão. “Conseguimos ainda manter o olho
esquerdo que, apesar de não ter visão, de um ponto de vista anatómico e
estético era importante”, diz o médico. “Se nesta fase não tivermos
complicações, a probabilidade de as termos no futuro é mínima.”
“Continuar a sonhar”
António Travassos fundou o Centro Cirúrgico de Coimbra há 16 anos, e
hoje recebe lá doentes de pelo menos 44 países. “As pessoas andam por
todo o lado e quando começam a ficar desesperadas chegam aqui ao
centro.”
Dos países árabes chega uma grande parte destes doentes, geralmente
pessoas com um estatuto económico e social muito elevado. “Uma vez
operei uma irmã de um rei sem saber quem era. Mas, para mim, o que
interessava era que tinha ali uma doente como todos os outros”, conta
António Travassos. “Há pouco tempo tive também o caso de um doente árabe
que não recebeu um visto de Portugal para vir ao centro tratar-se. Isto
é muito estranho, sobretudo quando se quer desenvolver o turismo de
saúde.”
A tecnologia de ponta que usa, como bisturis de diamante, permite-lhe
aperfeiçoar cada vez mais a sua arte. A gravação em 3D das cirurgias é
outro aspecto inédito do seu trabalho. “Em Dezembro de 2009 só se falava
no filme 3D ‘Avatar’, e eu pensei: por que não aplicar isto na
cirurgia?” Com a ajuda da empresa Sony, que cedeu o equipamento, começou
a filmar todas as intervenções cirúrgicas, o que resulta hoje em mais de
três milhões e meio de imagens. “Hoje temos memória futura. Não podemos
chegar a conclusões científicas [só] com o que os outros escreveram.
Temos de documentar, é assim que se faz ciência.”
Com mais de 60.000 cirurgias realizadas, o médico de 65 anos fez parte
da sua formação nos Estados Unidos, onde praticou cirurgia em macacos.
“Foi na altura um privilégio, porque os macacos eram muito caros.”
Quando, em 1981, regressou a Portugal para integrar os Hospitais da
Universidade de Coimbra, encontrou casos complicadíssimos para começar a
sua carreira. “São hoje os meus grandes amigos, os doentes daquela
época, pelos quais lutei para lhes devolver a visão.”
Hoje, no Centro Cirúrgico de Coimbra, António Travassos salva da
escuridão os milhares de doentes que todos os anos lhe chegam ao
consultório. “Há sempre uma aprendizagem contínua. Esta é a luta contra
a cegueira. E a possibilidade de pormos os doentes a ver é que nos faz
andar nesta loucura constante de continuar a sonhar.”
Raquel Santiago foi contemplada com uma bolsa da Bayer HealthCare para
estudar novas estratégias de combate à retinopatia diabética, uma das
principais causas de cegueira a nível mundial.
Segundo a UC, Raquel Santiago vai receber uma bolsa do "Global
Ophthalmology Awards Program" (GOAP), no valor de 50 mil dólares (44 mil
euros), para desenvolver o estudo "Gerir a inflamação na retinopatia
diabética por bloqueio do recetor A2A de adenosina".
"Estudos anteriores desenvolvidos pela equipa da investigadora
demonstraram que o bloqueio deste recetor previne a ativação das células
da microglia (células do sistema imunitário) e a morte de células da
retina", refere a instituição, em comunicado.
Raquel Santiago, citada na nota, explica que "em situações normais, as
células da microglia estão constantemente a vigiar o microambiente que
as rodeia, tendo um papel muito importante na homeostasia do sistema
nervoso central, mas na diabetes as suas funções estão modificadas,
promovendo a resposta inflamatória que pode contribuir para a morte
celular na retina".
Segundo a investigadora, o seu estudo pretende verificar se ao bloquear
o recetor A2A de adenosina é possível travar a morte das células da
retina e, desta forma, a progressão da doença.
A equipa de Raquel Santiago prepara-se para iniciar um conjunto de
experiências em modelos animais de diabetes, que serão tratados com um
bloqueador de recetores A2A de adenosina, para estudar como reage a
retina e se as células da microglia ficam menos reativas.
De acordo com o comunicado da UC, estima-se que, após 20 anos com
diabetes, cerca de 90 por cento dos doentes com diabetes tipo 1 e mais
de 60 por cento dos doentes com diabetes tipo 2 sofrem de retinopatia
diabética.
"Se for possível encontrar uma terapêutica que permita o tratamento numa
fase mais inicial, o impacto na qualidade de vida do doente com
retinopatia diabética será muito elevado", salienta Raquel Santiago,
considerando que "os atuais tratamentos são dirigidos às fases avançadas
da patologia, extremamente invasivos e pouco eficazes".
A investigadora do Instituto de Imagem Biomédica e Ciências da Vida
(IBILI) da Faculdade de Medicina da UC recebe o prémio no dia 19, em
Nice (França), durante o EURETINA - Congresso Europeu das doenças da
retina.
Cientistas descobriram, numa experiência com ratos, que o Meis1 é um dos
genes implicados no desenvolvimento correto do olho, durante a fase
embrionária, pelo que qualquer disfunção no gene pode gerar microftalmia
(globo ocular mais pequeno).
Os resultados da investigação, publicados na revista Development,
revelam que o gene Meis1 coordena a expressão de um grande número de
genes, por sua vez responsáveis pela formação, pelo desenvolvimento e
pela diferenciação da retina neural nos estádios iniciais de formação do
olho, assim como de outras partes do organismo.
"Vimos que a falta do gene Meis1 reduzia muito a formação do esboço do
olho. Uma só cópia alterada era suficiente para o conseguir", afirmou,
citada hoje pela agência noticiosa Efe, uma das coordenadoras da
investigação, Paola Bovolenta, do Centro de Biologia Molecular "Severo
Ochoa", em Madrid, Espanha.
Posteriormente, através de análises genómicas, a equipa identificou "os
genes alterados na ausência de Meis1" e viu que o gene "coordena um
número muito grande de genes implicados no desenvolvimento do olho, que
tem um papel fundamental na formação deste órgão e que as suas mutações
podem gerar microftalmia", adiantou Paola Bovolenta.
A microftlamia é uma malformação congénita, pouco frequente, que faz com
que o olho não se desenvolva bem e que a criança nasça com um ou os dois
globos oculares mais pequenos do que o normal e com diversos graus de
incapacidade visual, que podem chegar à cegueira.
A anomalia é responsável direta por 11 por cento dos casos de cegueira
infantil nos países desenvolvidos, salienta a Efe.
O defeito pode ser hereditário, aparecer de forma espontânea ou ser
gerado por agentes externos (como o medicamento Talidomida,
comercializado na década de 60 e que provocou uma série de casos de
malformações nos fetos). Na maior parte das situações, a microftlamia
tem origem em mutações genéticas.
Segundo a investigadora Paola Bovolenta, a microftalmia "também pode vir
acompanhada por defeitos na face, no ouvido ou no sistema muscular", uma
vez que é provocada "por mutações em genes que são importantes para o
desenvolvimento de tecidos distintos".
No estudo participaram igualmente cientistas do Centro Helmholtz de
Munique, na Alemanha, e da Universidade da Austrália Ocidental.
A Câmara Municipal do Funchal colocou este domingo em funcionamento os
equipamentos que permitem a acessibilidade em segurança ao mar para
pessoas invisuais e com dificuldades de locomoção, na praia Formosa, na
zona oeste do concelho.
O presidente da autarquia, Paulo Cafôfo, realçou a importância do
projeto na construção de uma "sociedade inclusiva", mas também tendo em
conta alguns "fatores de mercado", como o facto de grande parte dos
turistas que visitam a Madeira serem idosos, com dificuldades de
locomoção próprias da idade, que passam agora a dispor de melhores
condições de acesso ao mar.
Este foi um dos seis projetos selecionados pelo orçamento participativo,
em que a Câmara Municipal recolheu dezenas de propostas apresentadas por
cidadãos. No total, vão ser investidos 300 mil euros, sendo que projeto
de acessibilidade ao mar para pessoas com necessidades motoras especiais
absorve a maior fatia.
O projeto inicial, da autoria de Hernâni Silva, destinava-se apenas a
pessoas com dificuldades motoras, mas a autarquia alargou o seu âmbito,
instalando equipamentos que permitem o acesso ao mar também para
invisuais e que são únicos ao nível nacional.
O sistema consiste, basicamente, num aparelho de pulso e três boias
sinalizadoras que prestam informações ao banhista, orientando-o sobre o
caminho a seguir para entrar e sair da água. Por outro lado, existem
duas cadeiras flutuáveis, uma cadeira de aproximação ao mar e muletas
adaptadas para as pessoas com dificuldades de locomoção.
Hernâni Silva, que usa cadeira de rodas para se deslocar, explicou que a
ideia do projeto nasceu no âmbito de um grupo que há muitos anos
reivindica melhores acessibilidades.
No caso do acesso ao mar, ele próprio, que se descreve como "amante da
praia", era forçado a deslocar-se às piscinas naturais do Porto Moniz,
no norte da ilha, para poder ir a banhos em segurança.
"Alguma coisa estava mal. Com mar a toda a volta, não se justificava que
não houvesse uma praia com as devidas acessibilidades na zona do
Funchal, uma infraestrutura melhorada", salientou.
A invenção teve origem numa empresa startup sul-coreana que tem como
objetivo tornar as novas tecnologias mais acessíveis a todos
Um dos grandes problemas que a comunidade cega enfrenta é ter de ouvir
as mensagens recebidas no telemóvel em alta voz. Além de ser uma solução
pouco privada, pode tornar-se incomodo para as pessoas em redor. O Dot,
uma criação de uma startup sul-coreana, que é, ao mesmo tempo, um
smartwatch, uma pulseira fitness e até um leitor de e-books, permite que
os seus utilizadores leiam as suas mensagens discretamente.
Dot aparenta ser um relógio, mas, em vez do vulgar mostrador tem buracos
perfurados com ímanes no seu interior que sobem conforme o conteúdo das
mensagens, em braille. Quando o utilizador recebe uma mensagem de texto,
os "dots" correspondentes surgem em braille e basta passar o dedo por
cima do mostrador para ler a mensagem.
"Até agora, se recebesses uma mensagem no iOS [o sistema operativo da
Apple] da tua namorada, por exemplo, terias que ouvir a Siri lê-la
naquela voz, o que é impessoal," disse o CEO da Dot, Eric Ju Yoon Kim, à
Tech in Asia. "Não preferirias lê-la tu próprio e ouvir a voz da tua
namorada dizê-lo na tua cabeça?"
Outra característica que diferencia este produto da tecnologia existente
é o seu preço. Em geral, produtos tecnológicos que respondem às
necessidades particulares dos deficientes físicos têm preços muito
elevados. Um computador portátil, por exemplo, que consegue retransmitir
mensagens em braille pode custar mais de 2750 euros, enquanto que o Dot
custará apenas 275 euros.
O Dot será lançado em Dezembro e sincronizará com aparelhos iOS e
Android via Bluetooth.
Cerca de 80 por cento dos diabéticos não têm acesso ao rastreio anual à
visão, acabando muitos deles com retinopatia que, em alguns casos,
termina em cegueira, denunciou hoje o diretor do Programa Nacional para
a Diabetes (PND). José Manuel Boavida falava à agência Lusa a propósito
de um conjunto de recomendações da Assembleia da República com vista ao
reforço das medidas de prevenção, controlo e tratamento da diabetes.
Uma das recomendações é "o reforço do rastreio sistemático da diabetes
e, em especial, da retinopatia diabética, entre os grupos populacionais
que apresentem risco acrescido de desenvolvimento dessa doença, junto
dos cuidados primários ou de outras instituições de proximidade".
Segundo José Manuel Boavida, apesar da importância dos rastreios para
controlo da retinopatia diabética junto desta população doente, apenas
20 por cento (%) das pessoas com diabetes têm garantido o seu rastreio
anual, segundo os últimos dados, que são de 2013.
O especialista lamenta esta fraca cobertura, justificando que "um
rastreio é muito mais barato do que a observação médica".
Este rastreio é feito com recurso a aparelhos colocados para o efeito
nos centros de saúde e onde os utentes podem ir avaliando anualmente o
estado da sua visão e eventuais complicações associadas à diabetes.
Para o diretor do PND, "há claramente aqui uma responsabilidade direta
das Administrações Regionais de Saúde (ARS)", que acusa de
"inoperância".
José Manuel Boavida garante que os ganhos são imensos, até porque dos
150 mil diabéticos rastreados só cerca de dez por cento precisa de ir a
uma consulta de oftalmologia.
"Isto quer dizer que 90 por cento dos doentes ficaram descansados, pois
o seu olho não precisava de consulta. E assim evitámos que a situação
progredisse", adiantou.
Para José Manuel Boavida, a recomendação do Parlamento é "um puxão de
orelhas ao Ministério da Saúde, no sentido em que há um conjunto de
medidas absolutamente básicas e necessárias".
O médico recordou que "a retinopatia diabética só dá queixas quando a
situação se torna praticamente irreversível. Se as situações forem
detetadas precocemente nunca chegarão a existir. Deixará de haver
cegueira por causa da diabetes e a diabetes é a principal causa de
cegueira na população adulta".
Para o presidente do PND, por causa da "inércia" de quem decide, "muitas
pessoas têm perdido a visão".
Além da cegueira, outra das consequências da retinopatia diabética é a
subvisão, a qual impede que os doentes consigam "fazer a sua vida com
autonomia".
Devido à "falta de rastreio, não só os diabéticos perdem a visão, como
têm de fazer mais tratamentos muito mais caros, injeções no olho,
operações. Enfim, custos muito maiores do que o próprio rastreio. É
tapar o sol com a peneira".
Entrevista a Ana Sofia Antunes, candidata a
deputada do PS pelo círculo de Lisboa
>> Como é que surgiu esta ideia de ser candidata a deputada pelo PS?
Surgiu como um convite por parte de António Costa que eu, depois de
ponderar devidamente, aceitei.
>> Trabalhou muito com ele na Câmara Municipal de Lisboa?
Não muito diretamente com ele. Mas assessorei durante vários anos o
vereador da Mobilidade na Câmara de Lisboa, o professor Nunes da Silva,
e fazia assessoria jurídica na câmara. Em função da minha área de
interesse, o facto de ser uma pessoa com uma deficiência e de estar
muito ligada ao movimento das pessoas com deficiência, fiz sempre muita
pressão na câmara com um plano de acessibilidade pedonal, que teve
grande apoio e incentivo de António Costa. Era outra das minhas tarefas.
O executivo era dirigido por António Costa, com o qual trabalhei muito,
embora indiretamente, ao nível da revisão da regulamentação da câmara,
em 2012 e 2013.
>> E a cidade está agora bem equipada?
Isso ainda é um bocadinho uma miragem, mas temos agora bons instrumentos
para começar a fazer obra física, é isso que interessa. Não podemos
avançar para a obra sem planificação, mas toda a planificação serve de
muito pouco se não tomarmos a decisão de fazer o que interessa, que é
obra física no espaço público. Há coisas que já começaram a ser feitas
nas passadeiras - rebaixamentos e sinais sonoros, por exemplo -, mas
temos de reconhecer que ainda há muito para fazer.
>> Os direitos dos deficientes serão o seu principal cavalo de batalha
na Assembleia da República?
Obviamente que sim, por todas as razões. Sou uma pessoa com uma
deficiência visual congénita [de nascença]. Não faria sentido nenhum,
tendo esta oportunidade, não constituir como minha principal prioridade
o trabalho em prol das pessoas com deficiência. Sinto uma grande alegria
porque nunca uma pessoa com uma deficiência fora indicada para a
Assembleia da República nem para qualquer outro cargo de relevo, de
eleição ou nomeação. É um momento de alegria, mas também de tristeza:
porquê só agora. Porque é que isto só está a acontecer em Portugal
agora?
>> E tem alguma explicação para isso? Passará por alguma incapacidade de
o movimento associativo dos deficientes se organizar de forma eficaz e
constituir um grupo de pressão com poder?
Não creio que isso passe pela incapacidade de organização dos
deficientes. A nossa capacidade de organização não é diferente da que
existe nos outros países europeus. Não estamos atrás deles, pelo
contrário. Mas há muitos anos que há ministros deficientes noutros
países - como a Suécia ou Inglaterra ou a Grécia -, e já nem sequer
falamos em deputados, que são imensos. Já houve países com presidentes
da República com deficiência. Obviamente que a pressão tem de ser feita,
mas tem de ser aberto espaço para os deficientes e esse espaço não
existe na representação política, como não tem existido em diversos
outros níveis da vida social.
>> Sente alegria nas pessoas que conhece no associativismo de defesa dos
deficientes?
A notícia ainda não foi muito divulgada mas da parte das pessoas que me
conhecem há um sentido de alegria.
>> E independentemente das opções partidárias?
Não noto que isso seja relevante. As pessoas sentem-se representadas por
uma pessoa com deficiência, independentemente da bancada.
>> É jurista. O que é premente fazer no ordenamento legislativo
português em defesa dos deficientes?
A grande prioridade para os deficientes é sentirem que têm uma vida
digna. E isto não é uma questão legal, é uma questão social. Isto está
na mente das pessoas, na forma como se aceitam umas às outras. A
possibilidade de uma pessoa sentir que tem uma vida digna passa por
vários aspetos. Olhe, por exemplo, pela educação. As pessoas sentem que
há cada vez mais restrições a educação para deficientes. A educação
especial fornecida pelo Estado recuou brutalmente: professores de apoio
que existiam foram retirados, houve equipamentos que deixaram de
funcionar, escolas de referência deixaram de funcionar. E quando o
Estado diz que vai apostar em escolas de referência porque não tem meios
para equipar condignamente todas as escolas, e assim só aposta nalgumas.
Se vamos selecionar só algumas, então teremos de fazer espaços de
privilégio. Não posso dizer a uma criança de Vila Real que tem de fazer
70 quilómetros por dia para aceder a uma escola de referência, e depois
esta escola não tem o apoio que devia ter. E não falamos só de escola
básica. Continua a revelar o nosso terceiro-mundismo o facto de os
apoios educativos para crianças com deficiência se limitarem ao ensino
obrigatório. Em 2015, um deficiente que entre numa universidade está na
maior parte dos casos por sua conta. E no acesso ao emprego. Se falamos
em níveis altíssimos de desemprego jovem [um terço, é o número
normalmente usado], então para os jovens com deficiência esse valor pode
triplicar. Em 2012, um estudo da ACAPO revelava 60% de desemprego entre
jovens cegos. Isto passa por uma mudança de mentalidades - mas também
uma necessária revisão dos mecanismos de apoio a empresas que contratem
pessoas com deficiência. Tudo isso tem de ser revisto. E no Estado
também: o decreto-lei 29/2001 obriga a que uma em cada três vagas sejam
ocupadas contratando-se uma pessoa com deficiência. Não foram poucos os
casos em que para se contratar quatro pessoas se abriam dois concursos
para duas pessoas cada, porque abaixo de três vagas não é necessário
cumprir a quota. Essa lei foi muito contornada.
>> Diria que a sua intervenção terá um pendor quase suprapartidário?
Esta causa não é de esquerda nem de direita - é uma causa. Mas eu sou
uma mulher de esquerda. E senti neste programa do PS uma preocupação com
as condições de vida das pessoas com deficiência - e acredito nisso,
pelo trabalho que fiz com António Costa na Câmara de Lisboa. Acredito
que ele é o homem com a garra necessária para assumir esta cruzada, para
pagar estas múltiplas dívidas de consciência.
>> Mas dá um tempo a António Costa? Acha que ao fim de um ano pode
chegar à conclusão de que isto é mais do mesmo e ir embora?
Não acredito que tenha de chegar a esse ponto. Pelo menos nesta fase
ainda não acredito. Acredito que à frente desta lista está uma pessoa
com capacidades para se ir mais além e para nos representar nesta luta,
para nos dar abertura para trabalharmos os instrumentos legais de que
precisamos.
La cataracte soignée par une molécule cousine du
cholestérol
Fabien Goubet
La chirurgie ne sera peut-être bientôt plus la seule solution pour
soigner cette affection qui rend opaque le cristallin. Une approche
thérapeutique inédite recourt à une molécule cousine du cholestérol, le
lanostérol, qui est directement injectée dans l’œil
Si en lisant cet article vous voyez apparaître un voile dans votre champ
de vision et que la lumière agresse votre rétine, c’est peut-être que la
cataracte vous guette. Pour l’heure, la seule option thérapeutique passe
par la case chirurgie. Mais des travaux publiés ce jeudi 23 juillet dans
la revue Nature laissent entrevoir une nouvelle approche pour soigner ce
trouble ophtalmique, basée sur un traitement médicamenteux à base de
lanostérol, un précurseur du cholestérol.
La cataracte est provoquée par une opacification du cristallin, lentille
située juste derrière l’iris. Le rôle de ce dernier est double,
«concentrer les rayons lumineux sur la rétine et «faire l’autofocus» en
changeant de forme», explique Damien Gatinel, chirurgien à la Fondation
ophtalmologique Adolphe de Rothschild (Paris). Sa transparence
s’explique par la nature particulière des cellules qui le constituent:
leur milieu interne, le cytoplasme, est dépourvu d’organites, la
machinerie cellulaire dont font partie le noyau et les mitochondries.
Contrairement à celui de toutes les autres cellules connues, leur
cytoplasme est donc totalement homogène et rempli d’une famille de
protéines appelées les cristallines. Parfaitement ordonnées les unes par
rapport aux autres, ce sont elles qui assurent la transparence en
laissant passer la lumière sans que celle-ci subisse de dispersion.
Mais le moindre grain de sable dans ce somptueux agencement, fruit de
millions d’années d’évolution, met à mal la transparence du cristallin.
Le vieillissement, les rayons ultraviolets ou encore certaines anomalies
génétiques altèrent en effet la structure des cristallines qui
s’agrègent entre elles et dispersent les rayons lumineux: le cristallin
devient opaque et c’est la cataracte. La seule issue à ce jour consiste
en une intervention chirurgicale où l’on retire le cristallin de sa
capsule pour le remplacer par une lentille synthétique en matériau
biocompatible.
Sans cette intervention, la cataracte entraîne la cécité. Près d’un cas
de cécité sur deux dans le monde est dû à une cataracte non opérée,
d’après l’Organisation mondiale de la santé. Pour les pays en
développement, où cette chirurgie demeure rare, un traitement
médicamenteux de la cataracte prendrait tout son sens. Un pas dans cette
direction vient d’être fait par une équipe sino-américaine. Ling Zhao,
de l’Université du Sichuan, et ses collègues sont en effet parvenus à
soigner les yeux de chiens atteints de cataracte sans aucune chirurgie,
simplement par injection d’une solution à base de lanostérol, un
précurseur biologique du cholestérol et d’autres stéroïdes.
Le lanostérol est une molécule que les scientifiques connaissaient déjà
pour sa relation avec la cataracte. Certains enfants ne possédant pas ou
peu de lanostérol (en raison d’une mutation génétique qui altère son
processus de fabrication) souffrent de cataracte dès leur plus jeune
âge. L’équipe de Ling Zhao a dès lors voulu vérifier si cette molécule
avait un quelconque effet sur le cristallin et en particulier sur
l’agencement des cristallines. Ils ont pour cela collecté les
cristallins de lapins atteints de cataracte et les ont laissé barboter
dans une solution de lanostérol. Résultat, au bout de six jours, une
grande partie de la transparence des cristallins a pu être restaurée.
Poursuivant les expérimentations in situ, Ling Zhao et ses collègues ont
injecté une solution contenant du lanostérol dans les yeux de chiens –
bien vivants, cette fois – atteints de cataracte. Même constatation: au
bout de quelques semaines, le cristallin des chiens est redevenu
beaucoup plus transparent qu’il ne l’était avant le traitement.
Par quel mécanisme le lanostérol a-t-il «rajeuni» le cristallin? Une
chose est sûre: la molécule a désagrégé les amas de cristallines qui se
sont convenablement réordonnées, comme l’ont confirmé des observations
microscopiques in vitro. Mais comment, les auteurs l’ignorent. Cela
pourrait venir des propriétés chimiques du lanostérol. De nature dite
amphipathique, il possède à la fois des parties insolubles et des
parties solubles dans l’eau, «ce qui lui permettrait de solubiliser
petit à petit les agrégats protéiques, avance Ling Zhao dans Nature. Le
lanostérol joue un rôle clé dans l’inhibition des agrégations de
cristallines et dans la formation de la cataracte.»
Cette découverte pourrait déboucher sur un traitement pharmacologique
qui constituerait une intéressante alternative à la chirurgie, concluent
les auteurs. «De nombreux facteurs génétiques ou métaboliques
contribuent à l’apparition de la cataracte. Rien ne garantit que le
lanostérol puisse guérir toutes les formes de cataracte connues»,
tempère Francine Behar-Cohen, directrice médicale de l’Hôpital
ophtalmique Jules-Gonin à Lausanne. La spécialiste y voit toutefois un
intérêt: un médicament éviterait la cataracte secondaire, une
opacification de la capsule du cristallin qui survient généralement
suite à l’implantation de la lentille synthétique.
Les travaux sur le potentiel thérapeutique du lanostérol devront donc
être poursuivis, notamment pour vérifier s’ils sont confirmés chez
l’homme. Et aussi pour trouver un mode d’administration plus simple, le
lanostérol ayant ici été encapsulé dans un nanovecteur injecté dans la
pupille à l’aide d’une seringue, et ce à de multiples reprises.
Autre point à vérifier, l’impact du lanostérol sur la souplesse du
cristallin, signale Francine Behar-Cohen. Car la cataracte s’accompagne
d’une rigidification du cristallin qui peine alors à faire la mise au
point. Egalement rigides, les lentilles artificielles obligent les
patients à conserver une presbytie résiduelle (difficulté à s’accommoder
à la vision de près) après l’opération. «Si le lanostérol permet aussi
de redonner sa souplesse au cristallin, cela pourrait retarder
l’apparition de la presbytie chez de nombreux patients», indique Damien
Gatinel.
En désagrégeant des amas de protéines, le lanostérol pourrait en outre
être utilisé dans d’autres maladies où l’agglutination des protéines
pose problème. C’est le cas de la maladie d’Alzheimer, dans laquelle se
forment dans le cerveau des plaques d’amyloïdes à l’origine des troubles
neurologiques.
Novas evidências a respeito da terapia genética aplicada em pessoas que
sofrem de cegueira demonstraram que essa técnica também é capaz de
reorganizar o cérebro dos pacientes – fortalecendo as vias neurais e
melhorando ainda mais a capacidade deles de enxergar. A constatação foi
feita por um grupo de cientistas da Universidade da Pensilvânia que já
havia observado resultados positivos com a técnica anteriormente.
Por meio de um estudo iniciado em 2007, dez voluntários cegos que
sofriam de amaurose congênita de Leber, uma doença genética que provoca
a degeneração progressiva da retina, receberam a injeção de um vírus
inofensivo em um dos olhos. Todos os pacientes da amostra tinham
mutações em um gene chamado RPE65. O vírus agiu inserindo “cópias”
saudáveis de RPE65, que foram colocados na retina.
Meses depois, como reportou a New Scientist, alguns voluntários que
antes tinham dificuldade em notar uma mão acenando a meio metro de seu
rosto conseguiram ler várias linhas em um gráfico. Outros foram capazes
até de andar por entre obstáculos em ambiente com baixa luminosidade –
algo que seria impossível antes da terapia.
O que ainda não estava claro sobre a terapia eram seus efeitos sobre
outros aspectos da visão – sobretudo quão bem as vias neurais associadas
à visão haviam se recuperado, mesmo após a função da retina ter
melhorado. As conexões no cérebro relativas à visão são compostas por
milhões de neurônios conectados. Tais conexões permanecem estimuladas
(fortalecidas) quando recebem sinais sensoriais, mas podem, por outro
lado, ficar fracas e desorganizadas quando subutilizadas, podendo levar
à cegueira.
Então, cerca de três anos depois da terapia, a equipe realizou uma
técnica avançada de ressonância magnética para analisar partes
específicas do cérebro. As digitalizações revelaram que as vias neurais
associadas com o olho tratado estavam semelhantes às de pessoas que não
tinham nenhum problema de visão. Quando comparadas com as vias neurais
do olho não tratado, as vias sadias estavam mais “fortes”.
Uma constatação, no entanto, surpreendeu os cientistas. Como a maioria
dos voluntários estavam na faixa dos 20 anos (um deles tinha 45), eles
esperavam que fosse mais difícil verificar alguma mudança cerebral, já
que após uma certa idade na infância (por volta dos sete anos) o cérebro
diminui drasticamente sua plasticidade, ou capacidade de se remodelar
conforme novas experiências, apresentando resistência para alterar tais
vias neurais.
“Pode ser que exista uma época crítica de plasticidade cerebral
acelerada, mas mostramos que isso não significa que você perde a
capacidade de reestruturar vias como um adulto", disse Manzar Ashtari,
neurocientista líder da pesquisa.
A descoberta é importante porque atesta que a plasticidade neuronal tem,
em ao menos alguma instância, influência na melhoria da visão. A equipe
agora busca aprovação da Administração Federal de Alimentos e
Medicamentos dos Estados Unidos para a terapia genética ser usada como
remédio prescrito para a amaurose congênita de Leber – seria, então, a
primeira droga de terapia gênica aprovada daquele país.
Castelo Branco recebe ação sobre cancro
da mama para mulheres cegas e amblíopes
Lusa - 09 Jul, 2015
A
Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), através do Núcleo Regional do
Centro, promove no sábado em Castelo Branco uma ação de educação para a
saúde sobre cancro da mama para mulheres cegas e amblíopes, foi hoje
anunciado.
Em comunicado, a LPCC refere que a iniciativa decorre nas instalações da
delegação de Castelo Branco da Associação dos Cegos e Amblíopes de
Portugal (ACAPO), no sábado, pelas 15:00, e é dinamizada por Natália
Amaral, médica e membro da direção da LPCC.
Esta ação, destinada às utentes e sócias da ACAPO, pretende garantir o
direito à informação sobre o cancro em condições adequadas às suas
necessidades específicas às pessoas com deficiência ou incapacidade
visual (cegos ou amblíopes) ao acesso.
O objetivo passa por sensibilizar todas as mulheres, independentemente
da sua condição, para a importância do diagnóstico precoce e para a
realização do rastreio do cancro da mama que a LPCC promove.
O projeto de Educação para a Saúde sobre Cancro da Mama para Mulheres
Cegas e Amblíopes, surge depois de a LPCC constar a inexistência em
Portugal de programas de informação e sensibilização para a prevenção e
diagnóstico do cancro da mama, para pessoas cegas e com baixa visão.
O cancro da mama é o tipo de cancro mais comum entre as mulheres (não
considerando o cancro da pele) e corresponde à segunda causa de morte
por cancro na mulher.
Em Portugal, anualmente são detetados cerca de 6.000 novos casos deste
tipo de cancro e 1.500 mulheres morrem com esta doença.
"Amor e Sexualidade"
Júlio Machado Vaz debate com os associados da ACAPO
Sábado, dia 18 de julho às 15h00
Associados e utentes da Delegação do Porto da ACAPO vão estar à conversa
com Júlio Machado Vaz, conceituado médico psiquiatra e sexólogo
português.
Num ambiente informal e descontraído, o evento proporcionará um
esclarecedor debate sobre “amor e sexualidade”, contribuindo para a
quebra de muitos dos tabus que ainda possam existir sobre estes temas.
A EyeFundusScope está entre 24 soluções desenvolvidas por alunos do
centro de investigação Fraunhofer AICOS e foi pensada especificamente
para doentes com diabetes, que afeta um número crescente de portugueses.
A aplicação usa o telemóvel para identificar lesões na retina e
possíveis alterações na visão (retinopatia diabética), ainda em estágio
inicial e pretende ajudar a prevenir a patologia ocular que representa a
maior causa de cegueira a nível global.
A solução desenvolvida por alunos de mestrado do centro de investigação
faz a aquisição de imagens do fundo do olho por meio de um adaptador
ótico acoplado a um smartphone e depois trabalha a informação, usando
algoritmos de visão e aprendizagem computacional. Desta forma, a
aplicação Android estima o risco a que um determinado paciente está
sujeito.
O comunicado do centro de investigação Fraunhofer AICOS explica que a
retinopatia diabética é uma patologia ocular que tem origem na
desregulação fisiológica provocada pela diabetes. Esta patologia é a
maior causa de cegueira a nível global e estima-se que cerca de 90% dos
pacientes diabéticos sofram dela há mais de 20 anos.
A falta de sintomas normalmente complica a sua deteção em estágios
iniciais, que é essencial para evitar alterações irreversíveis na visão.
Esta é uma das soluções desenvolvidas pelos alunos de mestrado deste
centro de investigação que recebe alunos de várias faculdades,
permitindo-lhes desenvolver o seu trabalho de investigação em ambiente
profissional e incentivando a criação de soluções tecnológicas de
utilidade prática.
Entre os 24 projetos que foram desenvolvidos no último ano há ainda
outra solução para doentes com diabetes. Um conjunto de sensores e uma
outra aplicação para smartphone foram utilizados para analisar a marcha
dos doentes diabéticos, permitindo identificar lesões dos nervos
(neuropatia) e com isto prevenir danos nos pés e melhorar o diagnóstico
e tratamento dos pacientes.
O projeto Sensores de pressão plantar (Early Detection of Peripheral
Neuropathy in Diabetes Patients) consistiu no desenvolvimento do
algoritmo e na identificação das metodologias mais apropriadas para a
deteção da neuropatia diabética, diferenciando, com precisão, diabéticos
com e sem neuropatia através da análise da marcha de vários pacientes.
O recurso a sensores de pressão plantar e acelerómetros permitiu
extrair para a análise 57 parâmetros relacionados com a intensidade e
duração das pressões plantares, centro de pressão, velocidade,
comprimento da passada, variabilidade, entre outras.
Aprenda gratuitamente inglês, francês ou alemão com a ACAPO e a
Cambridge School. Cursos em Almada, Coimbra, Funchal, Lisboa e Porto.
Inscrições abertas a partir das 10h desta terça-feira - 7 de Julho.
A Academia Brasileira de Oftalmologia (ABO), a Academia Americana de
Oftalmologia (AAO) e a Associação Pan-Americana de Oftalmologia (PAAO)
foram as primeiras a faze soar o alerta e agora é a Sociedade Portuguesa
de Oftalmologia (SPO) a informar sobre os riscos associados às cirurgias
estéticas para mudança da cor dos olhos.
Segundo a informação avançada num comunicado, estes procedimentos são
“de caráter meramente estético”, e têm por base “a aplicação repetida de
laser na íris ou a colocação intraocular de um implante entre a íris e a
córnea pretendem transformar olhos castanhos em olhos azuis”. Contudo,
“a aplicação de laser sobre uma íris castanha, a camada superficial de
melanina é destruída, deixando-a com uma tonalidade azulada, isto é, com
menos concentração de melanina”, alerta a associação nacional.
“Os implantes de íris alteram a cor dos olhos através da colocação de um
objeto estranho dentro do olho. Estes implantes não estão aprovados pelo
Infarmed para uso intraocular pelo que a sua utilização é proibida no
nosso país”, revela.
Redução irreversível da visão, pressão intraocular aumentada, glaucoma,
catarata, lesão corneana (que pode levar à necessidade de um transplante
de córnea), uveítes e inflamação intraocular são alguns dos riscos
associados a estas cirurgias estéticas.
A resposta é sim. Na Jordânia, a Real Academia promove atividades que
ensinam crianças deficientes visuais a pintar e desenhar. E até a
escolher quais cores desejam usar em seus trabalhos.
Os jovens e crianças aprendem a distinguir as cores com a ajuda do
olfato, já que os materiais têm cheiros diferentes para cada tonalidade.
O resultado das aulas de arte ganharam uma exposição no país. Nos
trabalhos da mostra, é possível ver cores vibrantes e desenhos
retratando pessoas, barcos e paisagens.
Uma empresa austríaca apresentou o primeiro tablet em braile, usando uma
tecnologia que cria relevo tátil para mostrar gráficos e mapas para
deficientes visuais e pessoas com visão reduzida.
A tela do Blitab cria pequenas bolhas líquidas para gerar texto ou
imagens em braile e relevo tátil, enquanto a tecnologia correspondente
permite que arquivos de textos sejam convertidos em brailes a partir de
pen-drives, browsers ou etiquetas NFC.
A fabricante, Blitab Technology, afirma que a tecnologia
“revolucionária” pode inaugurar a era digital para os deficientes
visuais. A empresa planeja desenvolver um smartphone em braile, como
próximo passo.
“Criamos o primeiro tablet tátil para deficientes visuais”, afirma Slavi
Slavev, diretor de tecnologia e cofundador da Blitab Technology. “O que
estamos fazendo é criar uma tecnologia completamente nova que produz
braile de forma inédita sem qualquer elemento mecânico”.
“Queremos resolver uma grande questão, que é a alfabetização de pessoas
cegas. A tecnologia é bastante escalável, então podemos produzir imagens
e coloca-las em qualquer representação tátil na forma de mapas e
gráficos, figuras geométricas, servindo como uma ferramenta educacional
para pessoas cegas”.
Outros aparelhos atualmente no mercado são mecânicos e permitem que
apenas uma linha de braile seja gerada de cada vez. Eles também custam o
triplo do Blitab, que sai por 2 500 euros, cerca de 6 mil reais.
“Atualmente, existem soluções que são extremamente caras”, afirma
Slavev. “Esses aparelhos foram desenvolvidos há 40 anos e, como ninguém
ofereceu qualquer inovação desde então, isso é tudo o que existe no
mercado”.
O Blitab atualmente está em estado de protótipo e busca investidores.
Caso a rodada de financiamento dê certo, a startup quer começar a vender
o produto a partir de setembro de 2016.
“Acreditamos que as pessoas com deficiência visual devam ser incluídas
na era digital na qual vivemos, com smartphones e tablets, mas também
garantindo que elas tenham capacidade de fazer tudo que pessoas que
enxergam fazem, como navegar na internet, ler e baixar livros”, afirma
Slavev.
Um implante intraocular desenvolvido pelo Hospital das Clínicas de
Ribeirão Preto (HCFMRP), da Universidade de São Paulo (USP), se mostrou
eficaz para tratar doenças que podem provocar cegueira e para melhorar a
visão dos pacientes, anunciou nesta terça-feira o centro universitário.
O implante tem aproximadamente o tamanho da ponta de um lápis e é
formado pela associação de um componente biodegradável (PLGA) associado
a um medicamento, neste caso, a dexametasona.
Implantado dentro do olho, a inovação libera gradativamente o
medicamento, o que garante que o fármaco se dissolva no olho durante um
período de seis meses sem necessidade do uso diário de colírios ou
medicamentos orais.
Fruto de dez anos de pesquisa, a novidade foi testa com sucesso em dez
pacientes que participaram do estudo clínico no HCFMRP. Os resultados
mostraram que a inovação atua em doenças vasculares da retina que levam
à redução da visão e, em casos mais avançados, à cegueira, informou a
universidade em comunicado.
A técnica foi desenvolvida por uma equipe comandada pelo oftalmologista
Rubens Siqueira especialmente para tratar uveíte, retinopatia diabética,
toxoplasmose ocular, degeneração macular (relacionada à idade), retinite
por citomegalovírus e endoftalmite.
O trabalho contou ainda com a participação da Faculdade de Farmácia da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Está previsto para janeiro o início da segunda fase do estudo. Nesta
etapa o implante será testado em 50 pacientes.
O professor Rodrigo Jorge, que também participa da pesquisa, declarou
que, uma vez aprovado, o tratamento poderá beneficiar vários pacientes
portadores diversas doenças da retina, que afetam principalmente a
população mais idosa, entre 50 e 70 anos.
Ainda de acordo com o professor, essas doenças atingem cerca de 30
milhões de pessoas atualmente no Brasil.
A ideia inicial é de que o tratamento seja destinado a doenças da
retina, porém o implante poderá futuramente ser utilizado também no
tratamento de doenças em outros órgãos e tecidos do corpo.
O Brasil ainda não possui qualquer tecnologia similar. Nos Estados
Unidos e na Europa, no entanto, um dispositivo semelhante, chamado de
OZURDEX, custa cerca de R$ 6,2 mil, mas a venda ainda não foi liberada
no Brasil.
O preço da nova tecnologia ainda não foi definido. Contudo, o professor
Rubens Siqueira acredita que a grande vantagem do produto nacional com
relação ao estrangeiro será o custo mais baixo e a maior facilidade de
implantação no olho, pois foi desenvolvido com um diâmetro menor que o
produto importado.
O implante intraocular também beneficiará à medicina veterinária. Além
do tratamento oftalmológico, ele poderá atuar em outras doenças,
utilizando o mesmo sistema de liberação de fármacos.
Uma das vantagens é a facilidade de aplicação, nos animais domésticos.
Já nos selvagens, criados em zoológicos ou criadouros, onde a contenção
para tratamento pode apresentar risco de morte para algumas espécies, os
sistemas de liberação de fármacos podem ser decisivos para manutenção da
visão ou cura de doenças.
Outro benefício é a possibilidade de liberar apenas a quantidade exata
de medicamento, permitindo maior eficiência no controle de doenças.
Doenças oculares representam até 80% dos casos de oftalmopatias
diagnosticados em caninos, felinos, equinos e bovinos.
Os resultados do estudo foram apresentados neste ano durante o Congresso
Internacional da Sociedade Americana de Especialistas em Retina, que
aconteceu em Toronto, no Canadá.
Uma em cada 30 crianças do concelho
de Braga sofre de ambliopia
Paula Maia
Correio do Minho
2015-06-09
Uma em cada 30 crianças do concelho de Braga é portadora de Ambliopia
moderada a grave, caracterizada pela diminuição da acuidade visual de um
ou dos dois olhos. A patologia é também conhecida por ‘olho preguiçoso’,
devido ao facto do mesmo não se ter desenvolveu adequadamente na
infância.
Os dados são do Projecto Pimpolho, um projecto pioneiro a nível
nacional, que resulta de uma parceria entre o Hospital e Câmara
Municipal de Braga e que envolveu, de Maio de 2014 a Maio de 2015, 881
de 71 Jardins-de-Infância públicos e privados do concelho, com idades
compreendidas entre os 3 e os 4 anos de idade. Os resultados deste
estudo foram apresentados ontem, no Hospital de Braga, pelos promotores
da iniciativa.
Semanalmente, durante este ano, 30 crianças foram avaliadas numa
consulta oftalmológica de prevenção da Ambliopia. Sandra Guimarães,
médica do Serviço de Oftalmologia do Hospital de Braga e responsável
pelo projecto, explicou que este é um processo de avaliação “não
invasivo” e essencial para a detecção deste problema que passa muitas
vezes despercebido a pais e educadores.
Das 881 crianças avaliadas, 42 foram detectadas com Ambliopia. Destes,
29 eram casos de Ambliopia moderada a grave e 19 de Ambliopia ligeira.
Além desta patologia, foram ainda detectados outras patologias
associadas à visão.
Todas as crianças portadoras de Ambliopia estão a ser acompanhadas pela
unidade bracarense.
Sandra Guimarães refere que se não for detectada e tratada na infância,
a patologia pode afectar para sempre a saúde e qualidade d e vida das
crianças. Sendo tratável até aos 60 meses, o tratamento torna-se menos
eficaz depois desta faixa etária. “O ideal é a criança ser tratada antes
dos cinco anos de idade”, diz a médica, acrescentando que o tratamento
pode atingir os 100% quando respeitado este período. Se tal não
aconteceu pode acarretar cegueira, baixa visão ou visão subnormal, não
passível de se corrigida para o resto da vida.
Refira-se que, a nível mundial, a prevalência da doença é de 1,4%, sendo
a causa principal de baixa visão e cegueira na criança.
João Ferreira, presidente da Comissão Executiva do Hospital de Braga,
referiu que esta é mais uma das iniciativas de resultam da parceria com
a autarquia bracarense no âmbito da prevenção. “É nossa responsabilidade
zelar pela saúde do concelho. Seremos sempre parceiros, com a câmara e
outras entidades, que pretendam levar a cabo iniciativas do género”.
O presidente da câmara de Braga, que também marcou presença na
apresentação deste primeiro ano do Projecto Pimpolho, frisou que a
iniciativa constituiu uma boa ilustração do espírito de parceria entre a
câmara e o hospital.
Ricardo Rio disse ainda que o projecto “é também uma demonstração do
compromisso que as entidades têm para como bem-estar da população”,
enaltecendo o papel do Hospital de Braga que investiu recursos neste
projecto que não tem qualquer retorno económico.
O autarca sublinhou também o carácter “verdadeiramente inovador” do
projecto que é único no país e que, além da Ambliopia, permite detectar
outras patologias associadas à visão.
Uma equipa de 25 profissionais de saúde foi deslocada para o município
da Quiçama, na província de Luanda, para investigar um surto de
oncocercose que já provocou cegueira a mais de duas dezenas de pessoas.
De acordo com informação oficial divulgada pela direção de saúde pública
do Governo Provincial de Luanda, estão no terreno enfermeiros, médicos,
epidemiologistas e técnicos do programa de luta antivectorial.
Além do tratamento aos doentes afetados em 2015, esta equipa de
profissionais de saúde pública está igualmente a recolher amostras,
nomeadamente da água, para posterior análise no Laboratório Nacional de
Saúde Pública.
Transmitida por uma mosca preta, denominada "zimúlio", a oncocercose é
geralmente encontrada em regiões próximas de rios e com vegetação
abundante, provocando igualmente infeções na pele, que se manifestam
pela despigmentação e prurido persistente, sendo conhecida precisamente
por "cegueira dos rios", pela sua consequência mais gravosa.
De acordo com dados da Programa Africano de Luta Contra a Oncocercose
(APOC), esta doença coloca em risco - pela cegueira - mais de 2,5
milhões de pessoas em 44 municípios de Angola, sendo endémica em nove
das suas 18 províncias.
O Governo angolano tem em execução oito projetos sob direção
comunitária, que cobrem mais de 3.240 comunidades endémicas, apoiadas
pela Organização Mundial de Saúde e o APOC.
Entre 2005 e 2010, Angola beneficiou de uma contribuição financeira do
APOC, para combater esta doença, na ordem dos 1,3 milhões de dólares
(1,1 milhões de euros).
Escolas regulares não têm recursos
para crianças com deficiência
- Observatório da Deficiência -
Lusa | SAPO notícias
29 Mai, 2015
A maioria das escolas regulares tem falta de recursos para as crianças
com necessidades especiais, alertou hoje o Observatório da
Deficiência, apontando que, quando os recursos não chegam ou
tardam, é o futuro educativo destas crianças que fica comprometido.
A 01 de junho comemora-se o Dia Internacional da Criança e, aproveitando
o destaque dado nesta data aos mais pequenos, o Observatório da
Deficiência e dos Direitos Humanos (ODDH) alerta para as dificuldades
que se têm registado na aplicação da legislação sobre a educação
inclusiva e para a falta de recursos humanos e materiais adequados.
"Aquilo que se verifica, na prática, é que estes recursos chegam
tardiamente ou nunca chegam e, portanto, isto compromete seriamente o
sucesso educativo destas crianças", defendeu a coordenadora do ODDH, em
declarações à Lusa.
De acordo com Paula Campos Pinto, dados e estudos feitos pelo
Observatório mostram que "tem havido alguma dificuldade" na aplicação da
legislação, já que, apesar de ser "bem conseguida", muitas vezes não é
acompanhada pela "dotação de recursos humanos e materiais adequados".
"As crianças estão colocadas nas escolas, mas quando essas escolas não
dispõem dos recursos, quer do ponto de vista humano, quer do ponto de
vista material para promover, por exemplo, a interação destas crianças
com outras crianças, para auxiliar os professores nas turmas para que
possam receber estas crianças e saber trabalhar com elas, quando isto
não acontece, ou não acontece no `timing` adequado, compromete todo o
processo", sublinhou a investigadora.
Por isso, alertou, "acaba por ser uma inclusão que é apenas física, mas
que não se traduz em resultados positivos para o progresso académico
destas crianças".
Em causa fica também a inclusão social destas crianças, uma dimensão
igualmente importante da sua presença na escola, e que, não sendo
concretizada, traz muitas vezes "anticorpos" e "alguma rejeição".
"Quer por parte das outras crianças e dos outros pais, quer até por
parte do corpo docente e quer muitas vezes também das próprias famílias
de crianças com deficiência que acabam por pensar que é melhor que elas
se mantenham em instituições segregadas, porque aí, ao menos, recebem
uma atenção adequada", apontou Paula Campos Pinto.
A investigadora lembrou que falta pouco para se começar a pensar no
arranque do próximo ano letivo e pediu, por isso, que tudo seja
organizado de forma mais atempada.
"[Que] os professores sejam colocados logo no início do ano, os recursos
cheguem às escolas na altura devida, que as crianças possam ter as
terapias de que necessitam ao longo do ano para que essa inclusão seja
uma realidade e seja efetiva e se traduza em resultados positivos para
as crianças", apelou.
Outro dos pontos destacados pelo ODDH tem a ver com a falta de dados
estatísticos e de estudos sobre estas temáticas e sobre a situação das
crianças com deficiência em Portugal, alertando a investigadora para o
facto de esta ausência de dados impedir que sejam desenhadas políticas
públicas mais ajustadas à realidade.
Para o ODDH, falta também um Plano Nacional específico para acompanhar
os direitos das crianças com deficiência, alertando que, desde que a
Estratégia Nacional de Deficiência chegou ao fim, em 2013, não foi
criada outra até agora.
Médica oftalmologista Sara Pinto alertou na TVI24 para as doenças
oculares que podem resultar da exposição às substâncias nocivas do
tabaco.
Que fumar faz mal quase todos sabem, mas que faz mal à visão poucos
imaginam, alertou a médica oftalmologista Sara Pinto, nesta sexta-feira,
na TVI24.
“Não parece que as pessoas estejam muito alertadas, mas é muito
importante estar, porque o tabaco ao ter substâncias nocivas que entram
dentro do nosso organismo vão ser distribuídas por todo o corpo e também
no olho. O olho é um órgão muito rico em vasos, muito vascularizado,
portanto muito suscetível às alterações provocadas pelas substâncias
nocivas do tabaco”, explicou.
Fumar pode, segundo a clínica, agravar doenças como a diabetes ocular e
a deiscência macular, uma das principais responsáveis pela cegueira no
mundo ocidental.
“Um dos principais efeitos do tabaco é atuar ao nível dos pequenos
vasos, o que faz com que todas as doenças do olho, que são provocadas
por alterações dos pequenos vasos, sejam mais suscetíveis e até
agravadas pelo facto de as pessoas fumarem, como é o caso da diabetes,
da deiscência macular, que muitas pessoas não conhecem”, afirmou Sara
Pinto.
Não há, porém, uma “relação definida” entre a quantidade de fumo e a
cegueira, no entanto “sabe-se que o tabaco é um fator predisponente”,
esclareceu a oftalmologista, que não deixa de fora os fumadores passivos
nem os espaços onde é permitido fumar, “que aumentam a exposição e o
risco”.
Um em cada quatro portugueses fuma
Segundo um inquérito Eurobarómetro, um em cada quarto portugueses (25%)
é fumador. Comparando com 2012, são mais dois pontos percentuais. Desde
essa altura, 12% deixaram de fumar.
O inquérito, que foi divulgado em Bruxelas, indica, ainda, que quase
dois terços (63%) dos portugueses nunca fumaram. Os homens (34%) fumam
mais do que as mulheres (18%), em linha com a média da UE: 31% e 22%,
respetivamente.
Na União Europeia (UE), a média de fumadores é, atualmente, de 26%. É na
faixa 25-39 anos que se concentra a maior percentagem de fumadores
portugueses (38%), seguindo-se a dos 40-54 (35%), a dos 15-24 (22%) e
mais de 55 anos (13%).
Os cigarros de maço são o produto de tabaco mais fumado, fazendo as
preferências diárias de 83% dos consumidores portugueses, seguindo-se os
de enrolar, para 16%. Um outro dado é que a maioria dos fumadores em
Portugal (55%) começou na faixa entre 15 e os 18 anos, 21% começaram a
fumar antes dos 15 anos e 20% entre os 19 e os 25.
e para assinalar este dia a ACAPO Coimbra vai apresentar no âmbito da Feira
Cultural de Coimbra uma peça de teatro intitulada
"Sentinela e Pé de Chumbo!" que se irá realizar no Coreto do Parque
Manuel Braga às 14h30.
Na Floresta, repleta de animais, flores, árvores e cor, vivem 8 anões muito
divertidos, a quem a Branca de Neve vai usualmente visitar. No entanto, há uns
tempos para cá, novos habitantes chegaram à floresta…os terríveis e assustadores
Gigantes!
Mas o Gigante Pé de Chumbo, ou vulgarmente conhecido por Gigante O Fraco, é um
gigante diferente de todos os outros, pois não gosta de assustar nenhum anão, e
aliás, deseja ser amigo de um deles! Depois de várias tentativas hilariantes mas
falhadas desta amizade proibida, o Pé de Chumbo consegue finalmente aproximar-se
de um anão… O Sentinela! Daí nasce uma forte amizade entre ambos, que os leva a
descobrirem-se a si mesmos, muito graças à ida ao País das Cores, onde as cores
ganham vida e, apesar das constantes zaragatas entre elas, mostram como a sua
harmonia se traduz numa bela mensagem.
Toda esta amizade é um processo de descobrimento das capacidades e limitações de
cada um, percebendo que todos temos o nosso valor e que a amizade, o carinho e a
partilha são elementos fundamentais no desenvolvimento pessoal. A chave será
sempre a esperança, não devendo nunca desistir dos nossos objetivos e ambições,
pois o “sonho comanda a vida”. Ver não será só com o olhar mas sim com todos os
sentidos e até mesmo com o coração! Ser diferente não é ser fraco ou inferior,
é, pelo contrário, um ato de grande coragem – é preciso ter coragem para se
assumir como diferente – e ser diferente pode ser algo muito bom. Afinal quem
faz o mundo avançar ao longo da história?
Convidamos todos os pequenos e até mesmo os graúdos a virem ver o trabalho
incrível que os utentes e associados da ACAPO têm vindo a desenvolver !
Os mecanismos pelos quais a deficiência visual aumenta o risco de
mortalidade são mal compreendidos, segundo a opinião de pesquisadores
estadunidenses que buscaram avaliar os efeitos diretos e indiretos da
auto-avaliação da deficiência visual sobre o risco de mortalidade,
através de mecanismos mentais, práticas de bem-estar e cuidados
preventivos.
Usando os dados completos de 12.987
participantes adultos na Pesquisa 2000 Medical Expenditure Panel (MEPS)
com ligação à taxa de mortalidade, pesquisadores utilizaram duas
variáveis latentes que representam tanto o bem-estar mental quanto os
cuidados preventivos precários para examinar as vias de efeito múltiplo
de auto-avaliação sobre as causas de mortalidade entre os portadores de
deficiência visual.
A conclusão foi que os cuidados preventivos
mal realizados não estavam relacionados com o aumento de mortalidade e
que o bem-estar mental diminui o risco de mortalidade entre portadores
de deficiência visual .
Ou seja, portadores de deficiência visual
aumentam o risco de mortalidade direta e indiretamente através do
impacto adverso que a cegueira causa sobre o bem estar mental. Com este
resultado, os pesquisadores sugerem que seja uma prioridade da saúde
pública diagnósticos mais precisos e tratamento da depressão - e outras
condições de saúde mental - em pessoas que vivem com deficiência visual.
Um exemplo da importância deste tipo de
prioridade vêm do Canadá, onde cientistas examinaram se pacientes com
doenças oculares relacionadas à idade tais como degeneração macular
(DMRI) ou glaucoma são mais propensos a mostrar sinais de depressão,
comparados com um grupo de adultos mais velhos com boa visão.
Eles recrutaram 315 pacientes (81 com DMRI
e 91 com glaucoma) das clínicas de oftalmologia de um hospital de
Montreal a partir de setembro de 2009 até Dezembro de 2011. Eles
avaliaram os sintomas depressivos utilizando a Avaliação de Espaço de
Vida. Além disso, os pesquisadores utilizaram regressão logística para a
saúde, levaram em conta questões demográficas e fatores sociais.
Eles observaram que 78 pessoas preencheram
os critérios para a depressão (25%) e que todos os grupos com doença
ocular foram mais prováveis de ficarem deprimidos do que o grupo
saudável. O tempo de vida pareceu mediar a relação entre a doença do
olho e depressão.
Tanto nos casos de aumento de mortalidade
quanto nos de depressão, além da interligação entre eles, fica notório a
importância da maior atenção das famílias, dos médicos e da sociedade
para as necessidades da boa saúde mental e dos desafios de mobilidade de
pacientes com doença ocular.
Uma criança cega precisa escrever uma redação sobre as cores das flores. O vídeo
mostra o desafio do menino para conseguir cumprir a tarefa. A tradução para o
português foi feita para o blog "Assim como Você", de Jairo Marques.
A falta de visibilidade é uma das muitas razões pelas quais as pessoas com
deficiência (PcD) acabam sofrendo com o preconceito e a exclusão social. Para
ajudar na inclusão social e na autoaceitação de crianças com deficiência, uma
marca de brinquedos decidiu inovar.
Trata-se das
'Makie Dolls', da marca Makies . Elas são bonecas personalizadas de
acordo com a deficiência ou característica da criança. A marca criou a
linha em resposta a uma recente campanha no Facebook intitulada de
'#ToyLikeMe' (brinquedo como eu, em português). A hashtag pedia que as
empresas criassem brinquedos inclusivos e mais parecidos com as crianças
reais. Muito legal, não é?
As Makie Dolls
são da Grã Betanha, feitas por encomenda e custarão um preço salgado:
cerca de 69 libras, o equivalente a 326 reais. As características e
acessórios são criadas por meio da tecnologia de impressão 3D.
Os ativistas da campanha '#ToyLikeMe' ficaram felizes com a iniciativa,
porém não pretendem parar com os esforços. A ideia é que grandes
empresas como Mattell, Playmobil e Lego também criem brinquedos mais
parecidos com as crianças portadoras de deficiência.
Um jogo de computador criado pela Universidade de McGill, no Canadá, promete
ajudar aqueles que sofrem de problemas oculares, como a ambliopia, também
conhecida como 'olho perguiçoso' .
De acordo com o comunicado da Ubisoft, empresa especializada no desenvolvimento
e comercialização de jogos de computador e parceira da Universidade de McGill, o
'Dig Rush' "submete os olhos a vários níveis de contraste que surgem no jogo".
Estes exercícios ajudam a treinar o cérebro e melhorar a perceção visual,
através de uns óculos 3D e um tablet. O médico pessoal de cada paciente/jogador
pode recomendar um ajustamento das definições de acordo com as necessidades de
cada um.
"Esta terapia foi testada clinicamente e permite aumentar, significativamente, a
acuidade visual das crianças e adultos que sofrem deste problema. Com a
autorização da Ubisoft, estamos capazes de ajudar os médicos a apoiar e
acompanhar o progresso dos seus doentes", explica Joseph Koziak, CEO da
Amblyotech, outra empresa parceira do projeto, citado pelo mesmo comunicado.
Durante os testes do jogo, desenvolvido na Universidade McGill, no Canadá,
conseguiu ver-se uma "grande melhoria na visão de crianças e adultos".
Brevemente, o 'Dig Rush', ainda na fase experimental, vai começar a ser vendido
nos Estados Unidos, embora a Amblyotech preveja que o produto chegue em breve a
mais países do mundo.
A ambliopia é uma doença que afeta cerca de três por cento das crianças em todo
o mundo, sendo uma das principais causas que levam à cegueira.
Em pouco mais de dez anos, a incidência desta doença entre estudantes
universitários em Portugal praticamente duplicou. O facto de a população PASSAR
cada vez menos tempo ao ar livre é um dos factores que explicam o aumento da
incidência deste problema de visão.
Estamos a VER cada vez pior. Passamos oito (ou mais) horas dentro de portas, no
trabalho ou na escola; o TEMPO livre é escasso e muito dele é passado com os
olhos postos em livros ou nos ecrãs, cada vez mais pequenos, de televisões,
computadores, tablets e smartphones; e os momentos de lazer vividos ao ar livre
são ainda mais raros. Esta combinação de factores EXPLICA o facto de a miopia se
ter convertido numa uma epidemia global. Em Portugal, os poucos estudos
existentes mostram que a doença tem crescido de forma galopante ao longo da
última década entre os mais jovens.
“Esta é uma doença de países desenvolvidos”, explica o investigador da
Universidade do Minho (UM) Jorge Jorge, que lidera o Laboratório de Investigação
em Optometria Clínica Experimental, um dos poucos laboratórios científicos
nacionais que se tem dedicado ao estudo da miopia. O aumento da prevalência
desta patologia começou a ser notada em meados do século XX, com o aumento da
escolaridade obrigatória. Por isso, durante muito tempo, a investigação sobre
esta doença concluiu que havia uma correlação forte entre o número de horas que
as crianças passavam a ler e a estudar e a existência deste problema de visão.
O que não se conhecia era a explicação para isto acontecesse. Até que, em 2008,
uma equipa da Universidade Nacional da Austrália, em Camberra, mostrou que é a
falta de actividade ao ar livre o principal factor que potencial o seu
desenvolvimento. “A exposição à luz ajuda à libertação de dopamina, um
neuro-transmissor que PROTEGE o olho”, explica Maria João Quadrado, presidente
da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO). Por outro lado, o facto de as
crianças passarem muito mais tempo em actividades no interior, faz com que
utilizem muito mais a visão central e menos a visão periférica, o que também
contribuiu para que não haja um crescimento simétrico do globo ocular, explica a
mesma responsável.
O principal foco das investigações têm sido as crianças e os jovens, porque é
nestas idades que a doença de desenvolve mais. Todavia, os estudos mais recentes
têm sublinhado também a existência da chamada miopia tardia, que surge em
adultos, mas cujas causas são exactamente as mesmas: o contacto escasso com a
luz solar.
A equipa da universidade australiana que descobriu este efeito está agora a
DESENVOLVER um novo trabalho, a partir do qual já concluiu que, para que haja um
efeito protector da luz solar na saúde dos nosso olhos, será preciso passar pelo
menos três horas por dia com mais de 10 mil lux (unidade de medida para a luz)
de iluminação. “A iluminação nas nossas casas ou das escolas anda nos 500, 600.
Valores como estes só se conseguem ao ar livre”, explica Jorge Jorge. “Se
pensarmos quanto tempo por dia os nossos filhos estão ao sol ou a apanhar luz
solar directa, se calhar concluímos que não estão nenhuma ou que estão menos de
uma hora”, acrescenta o mesmo especialista.
São muito recentes os dados sobre a prevalência da miopia em PORTUGAL. Um
trabalho divulgado no mês passado pelo grupo de Jorge Jorge na UM mostra um
“aumento brutal” da miopia entre os estudantes universitários. Nos últimos 12
anos, o número de estudantes do primeiro ano das licenciaturas da Escola de
Ciências da UM que sofre de miopia praticamente duplicou, passando de uma taxa
de 22%, em 2002, para 42%, quando o estudo foi repetido no ano passado.
“Este é um trabalho dedicado a uma população específica e, provavelmente, na
população geral o valor será ligeiramente menor”, avisa Jorge, sublinhando,
ainda assim, a “importância de PERCEBER este aumento bastante grande” da
prevalência da patologia em pouco mais de uma década.
Entretanto, este laboratório da UM começou também a ESTUDARa miopia em
populações mais jovens, em escolas da região, e encontrou um cenário de
progressão gradual da incidência da doença ao longo da vida. Entre as crianças
com 6 a 8 anos de idade, a prevalência de miopia é inferior a 5%, “um valor
residual”, segundo Jorge Jorge. Mas, de acordo com os mesmos dados preliminares
do estudo – referentes ao ano lectivo 2013/2014 –, entre os adolescentes o
número de míopes sobe já para os 20%.
E este é um número que não para de AUMENTAR nos anos seguintes, como a
investigação do Laboratório de Investigação em Optometria Clínica Experimental
da UM vem demonstrando. O primeiro grupo de alunos, que foi testado em 2002, foi
acompanhado ao longo dos três anos de curso. A prevalência de miopia entre eles
aumentou 5 pontos percentuais durante esta fase da sua vida académica,
fixando-se nos 27% no final da licenciatura.
O laboratório prevê começar no próximo ano o primeiro trabalho a larga escala,
que considerará toda a população portuguesa e que vai permitir traçar o primeiro
retrato do estado da miopia em Portugal. Os dados destes primeiros trabalhos
permitem desde já CONCLUIRque o país “está a assistir a um fenómeno que já se
verifica noutros países, nomeadamente nos países asiáticos, onde tem havido uma
grande incidência de prevalência da miopia”, comenta Jorge Jorge.
Um artigo publicado em Março na revista Nature alertava que esta doença estava a
TOMAR “proporções epidémicas”. As estimativas então publicadas apontavam que,
até ao final desta década, cerca de 2,5 mil milhões de pessoas de todo o mundo
terão miopia – ou seja, mais de um terço da população mundial. A Organização
Mundial de Saúde prevê também que reste número possa duplicar até 2050, sendo a
prevalência superior nos países ditos desenvolvidos.
Neste momento, na Europa e nos Estados Unidos, cerca de metade dos jovens têm
este problema, o que é o dobro dos valores que eram registados há 50 anos.
Todavia, em nenhuma outra região do globo há tantos míopes como na Ásia. Há 60
anos, o número de chineses com este problema de visão não ultrapassava os 20%,
hoje a patologia afecta 90% dos adolescentes. Em Seul, capital da Coreia do Sul,
96,5% dos rapazes com 19 anos têm miopia. E as taxas de prevalência estão sempre
acima dos 80% em Singapura, Hong Kong e Taiwan, tendo duplicado ao longo do
último meio século.
A miopia é aquilo que popularmente se descreve como ver mal ao longe. “Um olho
míope é um olho mais comprido do que o normal e, por isso, a imagem é focada
mais à frente, o que dificulta a visão”, explica a presidente da Sociedade
Portuguesa de Oftalmologia, Maria João Quadrado.
Se num nível menos grave, este é um problema sem grandes repercursões na vida de
uma pessoa, desde que compensado com o uso de óculos ou lentes de contacto, a
partir de um terminado número de dioptrias, habitualmente oito, passa a
considerar-se a miopia muito alta, à qual se "associam complicações graves”,
segundo Maria João Quadrado. Cerca de 20% de míopes têm este nível elevado da
doença, estando assim mais expostos ao aparecimento de cataratas, glaucoma e
descolamentos de retina que, em casos extremos, podem provocar cegueira.
“Há pessoas que ficam incapacitadas de conduzir ou de desempenhar determinados
tipos de profissões”, acrescenta Jorge Jorge. Por isso é que este especialista
alerta para o perigo de, “dentro de 20 anos”, a miopia vir a tornar-seum
“problema de saúde pública em Portugal, com custos elevados”. Neste momento, a
nível mundial, são gastos cerca de 2 mil milhões de euros anuais em formas de
compensação da miopia, de acordo com a Agência Internacional de Prevenção da
Cegueira.
Actualmente, a forma mais comum de intervenção em caso de miopia é corrigir os
seus efeitos, através de óculos, lentes de contacto ou cirurgia (laser ou
implantação de lente intra-ocular). Mas a investigação dos últimos anos tem
permitido ABRIR um novo campo com a criação de técnicas de retenção da
progressão de miopia. Estes meios ópticos “têm características que impedem o
crescimento do olho”, afirma Jorge Jorge. As técnicas que têm tido melhores
resultados passam pelo uso de lentes de contacto que permitem moldar a imagem da
retina periférica e eliminar o estímulo de crescimento que o olho até ali tinha.
Estas terapias são “ligeiramente mais caras” do que o tradicional uso de óculos
e ainda desconhecidas da população, começando apenas agora a ENTRAR em Portugal,
através de algumas clínicas. Mas, estima Jorge Jorge, será possível em poucos
anos que esta seja uma técnica oferecida com muita frequência, tal como já
acontece em países asiáticos.
Porém, antes do remédio, tem de estar a prevenção, DEFENDE o cientista. Por um
lado, há uma responsabilidade que cabe às próprias famílias. “Ao fim-de-semana,
em vez de LEVAR os filhos a passear no shopping, é melhor levá-los a passear na
praia ou no parque, garantindo que estão ao ar livre e recebendo o número de
horas necessárias de luz solar”, defende.
Há também uma responsabilidade que é da escola. O laboratório de Jorge Jorge
começou a fazer um trabalho de mapeamento das condições existentes nas escolas
da região, que espera poder alargar a todo o país – se o FINANCIAMENTO a que se
candidataram da Fundação para a Ciência e Tecnologia for aprovado. “As salas de
aula precisam de ter mais luz, melhor iluminação e janelas com mais luz a
entrar. Mas também é preciso aumentar o tempo dos intervalos e obrigar os alunos
a irem para fora brincar, em vez de ficarem nos corredores a jogar no
telemóvel”, propõe. A inspiração é um projecto-piloto lançado recentemente na
China, em que existem turmas para as quais foi aumentado o número de horas de
exposição solar, com a criação de uma disciplina de Ar: “Durante uma hora e meia
têm que vir cá para fora. Não estão a fazer nada, estão a apanhar luz do sol”.
A Huggies (marca de fraldas infantis) criou uma ação que permite a mães cegas
conhecerem os seus filhos e verem-nos de um modo especial. Com a ajuda do
aparelho de ecografia e de uma impressora 3D, o rosto do bebé é reproduzido para
que a mãe possa tocar no filho. A campanha conta ainda com uma versão com
audiodescrição pensada precisamente para as pessoas com deficiência visual.
Tatiana Guerra foi uma das escolhidas para PARTICIPAR da Campanha do Dia das
Mães da Huggies deste ano! Ela é a estrela da Campanha “Conhecendo Murilo”.
'Duvidavam que eu pudesse cuidar
dos meus filhos', diz mãe cega
Marina Holanda | 10/05/2015
Laura Freitas é mãe de dois meninos e possui deficiência visual. Com dupla
jornada, ela fala que sempre se sentiu igual a muitas mães.
Laura Freitas tem deficiência visual desde que nasceu e enfrenta o desafio de
ser mãe há 14 anos, quando teve o primeiro filho. Ela conta que as dificuldades
não são muito diferentes das mulheres que enxergam. “Duvidavam que eu pudesse
cuidar dos meus filhos por ser cega. As pessoas ficam curiosas e se reprimem em
perguntar, mas eu gosto de responder. Sei que eu posso. É importante que as
pessoas também saibam. Sempre acreditei que eu ia conseguir. E eu amo ser mãe!
Foi o melhor presente que Deus me deu” afirma.
Com 32 anos, Laura é mãe de Gabriel, 14 anos, e Vinícius, de 8 anos. Trabalha
como revisora de braile no Centro de Referência em Educação e Atendimento
Especial do Ceará (Creaece), em Fortaleza. Ela diz que está afastada por falta
de material. “Trabalho de dois a três períodos. A dificuldade maior é não ter
com quem deixar os meus filhos”. Para isso, recorre muitas vezes ao auxílio da
mãe Marta.
A cegueira de Laura é hereditária. “Eu nasci assim”, afirma. Ela explica que a
sua adaptação com foi 'desde sempre'. No caso de pessoas que já enxergaram um
dia, mas que depois perderam a visão, a adaptação é diferente. “Sempre me senti
igual”, disse.
Diferenças e adaptações
Na casa de Laura, os objetos permanecem distribuídos sempre no mesmo lugar para
facilitar a localização e locomoção dela. “Na minha casa, eu sou independente.
Gosto de cozinhar, fazer sobremesas...”, conta.
Acompanhada do mais novo, ela destaca o que há de especial na sua relação com os
filhos. “Filho de cego é mais atencioso, mais responsável. Eles têm o cuidado de
avisar quando vão sair de perto de mim, diferente de quando estão com a avó,
ficam mais livres”, explica.
Táticas
“O que eu encontro de mais diferente, é que no início, muitas coisas eu
precisava perguntar. Coisas relativas a cores em atividades da escola, ou
medições. Uma das táticas que eu tinha, quando eu ia dar remédio ao bebê, por
exemplo, era aproximar o conta-gotas do meu ouvido para escutar quantas gotas
estavam caindo. Ia no instinto. No segundo filho, já foi mais fácil.”
A realidade das mães cegas são distintas e variam em cada caso. Segundo a
experiência de Laura com outras mulheres do Creaece, há mães com deficiência
visual que se tornam muito dependentes da ajuda de outras pessoas e que terminam
por se acomodar a essa condição. “Eu ando e saio só, porque eu quis assim.
Incentivo eu tive pouco. Se eu fosse rica, eu tinha era mais [filhos]!” conta
Laura entre risos. “Eu digo pra ela que nós somos duas mulheres sofredoras, mas
fortes” completa Marta, mãe de Laura.
O Governo vai suportar até metade os custos de adaptação dos postos de trabalho
para funcionários que adquiram deficiência e vai compensar os patrões pela menor
produtividade desses trabalhadores, aprovou esta quinta-feira o Conselho de
Ministros.
As medidas fazem parte do “Programa de Emprego e Apoio à
Qualificação das Pessoas com Deficiência e Incapacidade” e, de acordo com
o documento, o Governo pretende apoiar até 50% os custos de adaptação do posto
de trabalho em relação às empresas que mantenham nos seus quadros funcionários
que “adquiram deficiência ou incapacidade no decurso da vida profissional”.
Em matéria de emprego apoiado, o Governo vai ajudar as empresas com os custos da
menor produtividade dos trabalhadores com deficiência ou capacidade de trabalho
reduzida.
Quer isto dizer que, “tendo por referência um valor indexado ao IAS [Indexante
dos Apoios Sociais] ”, que está atualmente em 419,22 euros, o Governo vai
atribuir “uma percentagem do salário negociado pelo empregador com o
trabalhador”, que será tanto maior quanto a incapacidade do funcionário. “Este
modelo permite que possam ser abrangidos alguns trabalhadores com capacidade
intelectual e possibilidade de acesso a profissões mais qualificadas,
considerando o desenvolvimento tecnológico."
Relativamente às medidas de apoio à integração, manutenção e reintegração no
mercado de trabalho, onde se insere o apoio à adaptação do posto de trabalho, o
Programa inclui outras medidas.
Por um lado, o Governo quer que as entidades formadoras façam o acompanhamento
pós-colocação dos formandos que, no final da formação, fiquem empregados por 12
meses, “beneficiando dos apoios previstos para os centros de recursos”.
Por outro lado, este acompanhamento pós-colocação é alargado às empresas que
mantenham ao serviço trabalhadores que adquiram deficiência na vida adulta e
profissional.
De acordo com a informação do Programa, as ações de apoio à colocação têm a
duração de um ano.
Relativamente às medidas previstas para a qualificação profissional, o Governo
pretende que as pessoas que tenham adquirido deficiência em adultos possam ser
abrangidas pela formação inicial com vista a uma requalificação profissional e
conseguirem permanecer no mercado de trabalho.
Prevê igualmente “uma fase de recuperação e atualização de competências” para
quem tenha uma deficiência adquirida ou precise de uma nova qualificação ou
reforço das competências profissionais por via do agravamento da sua
deficiência.
O “Programa de Emprego e Apoio à Qualificação das Pessoas com Deficiência e
Incapacidade” traz também a marca “Entidade Empregadora Inclusiva”, que
substitui o Prémio de Mérito, e visa promover “a distinção pública de práticas
de gestão abertas e inclusivas” por parte das entidades empregadoras, ao mesmo
tempo que quer sensibilizar a opinião pública para a problemática da
empregabilidade das pessoas com deficiência.
Esta marca não inclui nenhum prémio monetário, vai ser atribuída de dois em dois
anos e poderão candidatar-se os empregadores dos setores público, privado,
cooperativo e da economia social.
Esta distinção está igualmente prevista para as pessoas com deficiência que
tenham criado a sua própria empresa ou emprego.
Ganhou um prémio atribuído pelo Instituto Nacional de Reabilitação, uma menção
honrosa internacional como projecto de mestrado e agora apresenta-se finalmente
ao público. Falamos da Mensagem, em Braille, um projecto que começou na Escócia,
pela mão do designer Bruno Brites, e que é apresentado este sábado, no Festival
IN, na FIL, a tempo das celebrações dos 80 anos da obra.
«Temos com os livros uma relação mais emocional do que de acesso à informação»
«O cego era eu», conta Bruno Brites quando começou a aventura pelo mundo dos
livros em Braille. A primeira etapa desta viagem começou no Duncan and
Jordanstone College of Art and Design, na Escócia, para onde Bruno rumou em
2010, para fazer o Mestrado em Design. Na mala levava uma pergunta: «Sendo eu um
designer gráfico, um agente de comunicação, até que ponto seria possível
comunicar na ausência dos sentidos? Estamos habituados a comunicar visualmente
mas e se de repente não pudermos comunicar dessa forma?».
A partir daí, nunca mais sossegou. Primeiro tentou explorar criativamente o
Braille com conceitos de bolds, itálicos, diferentes tamanhos de letras (ou
melhor, de pontos). Mas aí deparou-se com a primeira dificuldade: «Não dava para
explorar tipograficamente o Braille no interior do livro, porque se eles já são
grandes, iam ficar enormíssimos - um único livro do Harry Potter pode ter 50
volumes em Braille. Mas se em vez disso explorasse a estética do livro, as
capas, o ser mais apelativo ao toque, o criar uma relação emocional, isso sim
podia dar margem de trabalho».
Regressado a Portugal, já com uma menção honrosa no International Design Awards
para a sua tese de mestrado, juntou-se à ACAPO - Associação dos Cegos e
Amblíopes de Portugal e à Casa Fernando Pessoa. Foi aí que 'pescou' a Mensagem.
«Essa resiliência que está muito associada à Mensagem, escrita em 1934, foi o
que quisemos transpor para aqui. Era o livro certo para entregar este projecto
ao mundo. E sendo o Braille um veículo de acesso ao conhecimento, foi juntar 2+2
e criar este movimento inclusivo à boleia do Fernando Pessoa».
O resto da história foi o design e a emoção a falar mais alto. «Os nossos
colaboradores disseram que a cortiça é um material muito agradável de ler, por
que é suave e quente, em oposição à cerâmica, que é suave, mas fria, o que
acabou por fazer também uma ligação com a simbologia da terra vs. mar, vindo a
cortiça literalmente da terra e ter esse lado mais quente, e a cerâmica estar
associada ao mar e ao desconhecido. Depois temos a representação simbólica do
barco com um ponto em madeira». Mas até aí chegar, Bruno debateu-se com a dúvida
de como se representa um barco para uma pessoa cega. «Muitas vezes não existe
essa percepção conceptual e abstracta do que é um barco e nós não queríamos cair
no erro comum de fazer uma imagem a duas dimensões achando que a pessoa cega vai
perceber que aquilo é um barco. E nesse sentido achámos que o melhor era ir por
esse caminho do abstracto e simbólico».
E porque quer ser um livro inclusivo, a cultura táctil convive tranquilamente
com a cultura visual. A obra divide-se em duas partes, uma em Braille e outra
escrita a negro, com referências sobre onde está cada poema nas duas metades do
livro. Foram aliás as suas características de inclusão e acessibilidade que lhe
garantiram no ano passado o Prémio Engenheiro Jaime Filipe atribuído pelo
Instituto Nacional de Reabilitação. De resto, todos os processos de encadernação
são artesanais e por isso não é de estranhar que esta seja uma edição especial,
limitada a 30 exemplares. Mas mesmo assim não é para estar fechada a sete
chaves. Alguns livros já estão disponíveis para consulta na ACAPO, na Casa
Fernando Pessoa, na Fundação Calouste Gulbenkian, no Instituto Nacional para a
Reabilitação e na Biblioteca Nacional.
Com 160 mil pessoas com deficiência visual em Portugal e 20 mil cegas, das quais
apenas duas mil sabem ler Braille, poder-se-ia pensar que estamos a falar de uma
obra para um nicho. Mas é precisamente essa ideia que Bruno quer desconstruir.
«Claro que há gadgets tecnológico que podem facilitar a leitura a pessoas cegas
mas isto tem consequências em hábitos de leitura e ao nível da dinamização da
parte cognitiva do cérebro. Da mesma maneira que nós, normovisuais, não vamos
deixar de ler livros só porque temos televisão ou computador. Temos essa
afectividade e relação emocional com os livros, mais até emocional do que de
acesso a informação. Se isso faz sentido para nós, por que não faz sentido para
as pessoas cegas?».
Com o implante de um chip fotovoltaico na zona da retina é possível usar luz de
infravermelhos para aumentar a capacidade de visão em cegos.
A Pixium Vision, empresa de investigação tecnológica na área da visão, está a
desenvolver um dispositivo que ajuda a devolver parte da visão a quem seja
vítima de cegueira, recorrendo apenas a óculos especiais e a um implante na
retina.
Este implante trata-se de um pequeno chip fotovoltaico, que recebe imagens em
infravermelhos através dos óculos, que não só estimula o cérebro como também
ajuda a carregar todo o dispositivo.
Até agora foram feitos testes em ratos de laboratório e conseguiu-se
restabelecer a visão em 20/250, sendo que de acordo com o Engadget a eficácia em
humanos deve situar-se em 20/120. O que serve para que o utilizador deste
dispositivo já não seja considerado cego de acordo com os critérios
estabelecidos pelos EUA.
O concurso europeu de ensaios, Onkyo Braille, está de regresso. Gerido pela
União Europeia de Cegos, com o patrocínio das empresas Onkyo Corporation e
Braille Mainichi, este concurso tem como objetivo promover o uso do Braille como
um fator chave para o acesso das pessoas cegas à informação e sua inclusão
social. Este ano, os autores são convidados a abordar o tema principal – a
importância do Braille– sob diferentes pontos de vista:
O papel do Braille na promoção da
participação das pessoas com deficiência visual na vida política,
económica, cultural, social e familiar;
O Braille na era da tecnologia;
O futuro do Braille;
As vantagens e desvantagens do Braille,
entre outros.
Os autores dos trabalhos são ainda encorajados a serem criativos nas suas
abordagens, podendoutilizar diversos estilos, como uma carta, um poema ou uma
entrevista.
Podem submeter os seus trabalhos a concurso, todos os utilizadores de
Braille,incluindo as pessoas sem deficiência visual, que residam num país
europeu ou em Israel, independentemente da idade.
Os trabalhos devem respeitar um limite de 1000 palavras (10% de tolerância) e
ser remetidos até ao dia 30 de abril, obrigatoriamente em língua portuguesa, e
opcionalmente em língua inglesa para o endereço Avenida D. Carlos I, nº 126, 9.º
andar, 1200-651 Lisboa ou para o e-mail relacoesinternacionais@acapo.pt. Cada
candidato não poderá submeter mais do que um trabalho a apreciação.
Os trabalhos serão pré-selecionados por um júri nacional e enviados ao painel
dejurados da União Europeia de Cegos, responsável pela seleção final e
atribuição dos prémios. Um ano mais, os prémios a concurso são bastante
aliciantes, com valores que podem ir desde os 500 aos 2000 dólares.
Para obter mais informações contacte o Departamento de Relações Internacionais
da ACAPO.
“Hoje, só fica cego quem perder o timing do tratamento”. A declaração é do
médico oftalmologista Paulo Augusto de Arruda Mello Filho, participante do
40º Congresso da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo –
Retina 2015 -, evento internacional encerrado nesta segunda-feira, 20
de abril, em Florianópolis. Entre as muitas causas para a perda total de visão,
o diabetes é fator de extrema relevância, e que, segundo o especialista, “virou
epidemia, em função da má alimentação e do sedentarismo”, características do
estilo de vida atual.
Mas existem outras causas que prejudicam a saúde dos olhos, como degeneração
macular relacionada à idade, obstruções dos vasos da retina e glaucoma. Todas
doenças que, se identificadas a tempo, podem ser controladas com o tratamento.
Especialmente ao se levar em conta as avançadas pesquisas científicas e as
surpreendentes inovações tecnológicas para o setor, que estão permitindo
resultados mais favoráveis e menor risco de progressão para a cegueira.
Entre as mais importantes alternativas, um tratamento revolucionário com
medicamento aplicado dentro do olho. “É um procedimento rápido, seguro, indolor,
feito com injeção”, explica Paulo Mello, referindo-se ao
Ozurdex ®, um implante intravítreo de
dexametasona, indicado para tratamento do edema da mácula após oclusão do ramo
de veia retiniana ou de oclusão de veia retiniana central. É indicado para
tratar de processos inflamatórios do fundo do olho.
Outra iniciativa fundamental é o Jetrea ®,
um medicamento recém aprovado no Brasil, lançado agora durante o Retina 2015 e
que permite tratamento até então somente possível com procedimento cirúrgico. “É
uma nova e espetacular ferramenta para terapias da perda de visão grave, em
pacientes com tração vitreomacular e com buraco de mácula inicial”, celebra o
médico André Vieira Gomes, palestrante no evento e presidente da Sociedade
Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV). Trata-se de uma enzima que, ao ser
injetada, age diretamente na gelatina do olho – o vítreo –, ajudando a fechar o
buraco macular, e reduzindo os sintomas causados pela tração vitreomacular.
Retinografia
Se os medicamentos superam expectativas com seus resultados, as máquinas
atualmente disponíveis também se tornam essenciais. “Temos ao nosso dispor
equipamentos que permitem a fotografia da retina num ângulo muito grande, e
também capazes de realizar tomografia com alta resolução”, comemora André Gomes.
O oftalmologista cita os aparelhos de retinografia e de angiografia como
essenciais para os diagnósticos cada vez mais precisos, com uma elevada
definição de imagens digitais – o que facilita amplamente os procedimentos
médicos necessários.
“Já podemos contar com uma série de computadores de alta performance e com
instrumentos que nos permitem atuar de forma mais impactante. São uma nova
geração de equipamentos, inclusive microscópios, utilizados para a melhora dos
resultados cirúrgicos”, enfatiza André Gomes que também é professor na USP
(Universidade de São Paulo).
Ele exalta a importância da reunião científica para disseminar conhecimento, com
debates dinâmicos e acompanhados por apresentações imponentes – como aconteceu
agora, durante o Retina 2015. “Conseguimos realizar um evento com extrema
organização, sofisticado, e de grande importância”, finaliza o oftalmologista,
revelando a enorme satisfação de ver a Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo
como a terceira melhor organização do setor no mundo – ficando atrás apenas para
a americana ASRS (American Society of Retina Specialists) e a europeia Euretina
(European Society of Retina Specialists).
Dupla de homens chineses tem história comovente: Um é cego, o outro não tem os
dois braços. No entanto, nada disso os deixa inválidos. Em dez anos, plantaram
juntos 10 mil árvores para proteger a comunidade onde vivem das cheias.
Estes dois homens, Jia Haixia e Jia Wenqi, amigos desde a infância,
complementam-se um ao outro de forma perfeita ao trabalharem, enquanto são os
olhos e os braços de cada um.
Há 13 anos que os dois fazem no seu dia-a-dia uma caminhada para um terreno de
oito hectares na China rural. Usam um martelo e uma vara metálica e plantam o
máximo de árvores possível. A forma como trabalham em equipa faz com que
consigam plantar mais do que seria normal.
"Eu sou as mãos dele, ele é os meus olhos", afirma Haixia. "Fazemos uma boa
equipa", acrescenta o homem de 54 anos que perdeu a visão em 2000 depois de um
acidente fabril. Wenqi teve os seus braços amputados aos três anos de idade
quando tocou num cabo elétrico desprotegido e sofreu um choque elétrico de alta
voltagem.
NetFlix começa a exibir filmes e séries
em versões para cegos
abril de 2015
No Netflix tem trabalhado bastante para melhorar continuamente a experiência dos
nossos usuários ao assistir a filmes e shows, incluindo o fornecimento de um
conteúdo mais acessível para pessoas com deficiência em todos os seus
dispositivos. Com o sucesso estonteante de Demolidor, que narra a história de um
herói cego, a empresa decidiu que iria expandir o seu repertório para
deficientes visuais, adicionando áudio-descrições em determinados títulos, a
começar pela aclamada série do herói da Marvel.
A áudio-descrição é uma faixa de narração que descreve o que está acontecendo na
tela, incluindo ações físicas, expressões faciais, figurinos, cenários e
mudanças de cena. Os usuários poderão escolher narração de áudio, como quem
escolhe a trilha sonora em um idioma diferente.
Nas próximas semanas, mais títulos serão adicionados, incluindo as temporadas
atuais e anteriores de House of Cards, Orange is the New Black, Unbreakable
Kimmy Schmidt e da série aventura épica Marco Polo. O Netflix está ativamente
empenhado em aumentar o número de traduções de filmes e séries para
áudio-descrição, especialmente em outros idiomas no futuro.
A jogada é uma excelente ideia por parte do serviço de streaming, e ela não
poderia ter chegado em melhor hora.
"O IMPACTO DA TECNOLOGIA NA REABILITAÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL"
17, 18 e 19 Abril 2015
A Associação de Profissionais de Reabilitação de Pessoas com Deficiência Visual
(ASPREH), em colaboração com a Universidade do Minho, com a Faculdade de
Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, a Área Metropolitana do Porto e o
Lions Clube Internacional, convidam-no(a) para as VII Jornadas
Científico-Técnicas da ASPREH 2015, que terão lugar nos dias 17, 18 e 19 de
abril de 2015.
Local: Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa, 91 – 4200.450 Porto
Programa:
17 Abril | 2015
16:00 – 20:00 Realização de 5 cursos de formação acreditados pelo
Conselho Científico-Pedagógico de Formação Contínua de Professores de 12 horas
(0,48 créditos), limitado a 25-30 participantes/curso.
Cursos de Formação:
“A comunicação com pessoas surdocegas”
“A utilização da tecnologia de consumo como ajuda visual”
“Determinação de parâmetros críticos da leitura”
“Tecnologia adaptativa em Orientação e Mobilidade” (VAGAS PREENCHIDAS)
“Conteúdos digitais acessíveis: powerpoint, word, html e ePub. O que há de comum
e o que os distingue?”
18 Abril | 2015 10:00 – 12:00 Assembleia de sócios da ASPREH
13:00 – 14:00 Receção aos participantes e entrega da documentação
14:00 – 14:30 Cerimónia de abertura
14:30 – 16:30 Mesa 1: Paradigmas da tecnologia moderna
– Ramón Hirujo (ASPREH) Viabilidade dos implantes retinais
– Jorge Fernandes (Fundação para a Ciência e a Tecnologia) O potencial dos
acervos bibliográficos digitais para as pessoas com incapacidade para ler ou
manusear material impresso
– Paulo Rocha (Hospital de São João) Sistemas de ampliação
16:30 – 17:00 Intervalo para café
17:00 – 19:00 Mesa 2: Contextos e limites da oftalmologia
– Amândio Rocha-Sousa (Hospital de São João) Percursos e recursos das
Deficiências Visuais
– Cristina Freitas (Hospital de Braga) Prognóstico das causas mais comuns das
deficiências visuais
– Vasco Miranda (Hospital de Santo António) Compreender a Baixa Visão em Idade
Pediátrica
19:00 Encerramento dos trabalhos
19:30 – 22:30 Jantar turístico
19 Abril | 2015 08:30 Abertura do secretariado
09:00 – 10:30 Mesa 3: Suportes tecnológicos à mobilidade
– Benito Codina (Universid de La Laguna) Programa de voluntariado universitário
em habilidades de deslocação “Mira por mis Ojos”
– Joaquin Herrera (ASPREH) Aplicações e dispositivos como ajudas na deslocação
das pessoas cegas
– Mário Sequeira (RTP) Ver a RTP, Ouvindo
10:30 – 11:00 Intervalo para café
11:00 – 12:30 Mesa 4: Tecnologia como fator de inclusão
– António Filipe Macedo (Universidade de Minho) Aspetos psicofísicos da leitura
– Begoña Coco (Facultad de Ciencias de la Salud de la UEMC) Fatores preditivos
do êxito de um programa de reabilitação visual na leitura para pacientes com
limitações no campo central
– Carlos Mourão Pereira (KU Leuven) Invisibilidade: consciência multi-sensorial
inclusiva
12:30 – 13:30 Comunicações livres
13:30 Cerimónia de encerramento
Investigação nas últimas duas décadas sobre a coroideremia,
responsável por 4% dos casos de cegueira no mundo, dá ao presidente
demissionário da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e a sua equipa prémio de
200.000 euros.
É uma doença genética rara, afecta principalmente os homens e os primeiros
sinais surgem logo na infância, com a perda da visão nocturna. Depois dos 50
anos, as pessoas estão praticamente cegas. Nos últimos 20 anos, Miguel Seabra,
presidente demissionário da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), e a
sua equipa dedicaram-se a estudar a coroideremia, que causa uma degeneração da
retina. Além de descobrirem a sua causa, ajudaram a desenvolver uma terapia
genética que está actualmente a ser testada e tem tido bons resultados. Por
estes avanços, o cientista é distinguido esta quarta-feira com o Grande Prémio
Bial de Medicina 2014, no valor de 200.000 euros.
A cerimónia de entrega tem lugar na Faculdade de Medicina da Universidade de
Coimbra. Além de Miguel Seabra, que chefia o grupo da unidade de Mecanismos
Moleculares da Doença, no Centro de Investigação de Doenças Crónicas (CEDOC), em
Lisboa, a candidatura inclui as investigadoras Tatiana Tolmacheva, do Imperial
College de Londres, no Reino Unido, Sara Maia e Cristiana Pires, ambas do CEDOC.
“[O prémio] representa o reconhecimento científico do trabalho efectuado ao mais
alto nível, dado o [seu] prestígio”, considera Miguel Seabra, numa resposta dada
ao PÚBLICO por escrito na terça-feira. O investigador começou a trabalhar neste
tema há quase 25 anos, primeiro nos Estados Unidos e depois no Imperial College.
Na altura, sabia-se pouco sobre a doença, responsável por 4% dos casos de
pessoas cegas a nível mundial e que surge numa em cada 50.000 pessoas.
“Conheciam-se as manifestações clínicas, sabia-se que se tratava de uma doença
genética, transmitida através do cromossoma sexual feminino X”, conta Miguel
Seabra. Em 1992, deu-se o primeiro passo. “Descobrimos que os doentes não têm a
proteína REP-1, produzida a partir do gene CHM, cujas mutações causam a
coroideremia. A falta de REP-1 nas células da retina impede-as de transportar de
um modo eficiente os nutrientes necessários e de excretar os produtos tóxicos.
As células acabam por morrer, resultando em cegueira para o indivíduo.”
Estes resultados permitiram desenvolver um diagnóstico da doença e uma terapia
genética que introduz o gene activo nas células da retina. Os resultados dos
primeiros ensaios clínicos, em 2014, foram positivos. “Todos os olhos [dos
doentes] injectados tiveram melhorias ou a estabilização da visão”, explica o
investigador, referindo que, se os ensaios clínicos futuros tiverem resultados
semelhantes, “a terapia pode ser oferecida a todos os doentes”.
Esta é a 16ª edição do prémio bienal do grupo farmacêutico português para
“incentivar a investigação médica e promover a divulgação”, segundo a
instituição. Além do grande prémio, o Prémio Bial de Medicina Clínica 2014, de
um montante de 100.000 euros, foi atribuído a uma equipa liderada por Jorge
Polónia, médico e investigador da Universidade do Porto, sobre o impacto do sal
na saúde dos portugueses.
Houve ainda duas menções honrosas, no valor de 10.000 euros cada. Uma atribuída
à equipa de Tiago Bilhim, da Universidade Nova de Lisboa, por uma técnica pouco
invasiva para tratar a hiperplasia benigna da próstata, o tumor benigno mais
frequente nos homens com mais de 60 anos. A outra foi dada à equipa de José
Castillo, da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), pelo
desenvolvimento de uma terapêutica que permite minimizar as lesões provocadas
pela morte de células do cérebro em caso de AVC ou de doenças
neurodegenerativas. Com Ana Gerschenfeld.
Uma equipa de cientistas em Lausana, na Suíça, desenvolveu lentes de contacto
inteligentes que através de um tecnologia telescópica permitem ampliar a visão
cerca de 3 vezes.
Uma equipa de cientistas da Escola Politécnica Federal de Lausana (EPFL), na
Suíça, está a desenvolver lentes de contacto inteligentes com uma tecnologia
telescópica, capazes de ampliar a visão cerca de três vezes e destinadas a
melhorar a visão de quem sofre de degeneração macular relacionada com a idade
(AMD), diz a CNN.
Uma fina camada telescópica feita de espelhos e filtros será incorporada nas
lentes com cerca de 1.55 milímetros de espessura. Desta forma, quando a luz
entra no olho, é projetada nos vários espelhos, permitindo aumentar a visão. O
design das lentes é baseado num ‘telescópio’ atualmente implementável na retina
de pacientes de AMD, um tipo de tratamento mais invasivo que as lentes.
A degeneração macular relacionada com a idade (AMD) é uma doença que provoca a
perda de visão central, devido ao dano gradual da retina e é a terceira
principal causa de cegueira do mundo. A “AMD é o maior problema onde a
magnificação é uma ajuda visual comprovada”, afirma Eric Tremblay, cientista no
EPFL, na Suíça, segundo a CNN.
Com um par de óculos complementar às lentes, os pacientes poderão fazer a
transição entre visão ‘regular’ e ‘ampliada’, através de uma tecnologia LCD
incorporada nos óculos. O mecanismo regista o movimento do olho e literalmente
“num piscar de olhos”, é possível alterar a polarização das lentes, permitindo
ampliar o campo de visão.
O mais recente protótipo das lentes foi revelado pela equipa em fevereiro, mais
ainda está a ser trabalhado pela equipa.
Uma equipe de biohackers da Califórnia conseguiu com sucesso uma sensação
temporária de visão noturna através da injeção de um simples coquetel químico
diretamente no olho. Incrivelmente, a solução lhes permitiu ver quase 50 metros
no escuro por um breve período de tempo.
O grupo, chamado de Ciência para as Massas, queria ver se uma espécie de
clorofila química – clorina e6 (ou CE6) – criaria o efeito esperado. Esta
mistura química é encontrada em alguns peixes de águas profundas e muitas vezes
usada para tratar o câncer e a cegueira noturna.
Em 2012, uma mistura que, quando absorvida pela retina, agiria para induzir a
visão noturna foi patenteada. Ela daria a capacidade de ver objetos próximos em
condições de pouca luz.
Os detentores da patente alegaram que a substância era segura para uso no
tratamento de uma condição conhecida como cegueira noturna, mas também para
melhorar a visão noturna em pessoas saudáveis. Os hackers do Ciência para as
Massas basicamente usaram esta mesma fórmula, mas criaram a sua própria mistura
através da adição de insulina e dimetilsulfóxido (o que aumenta a
permeabilidade) à solução salina (normalmente, apenas insulina é usada em
conjunto com CE6 e a solução salina). O composto funciona influenciando as
hastes sensíveis à luz da retina a trabalharem no escuro.
O bioquímico Gabriel Licina se ofereceu para ser a cobaia. 50 microlitros de CE6
foram injetados nos seus olhos. “Para mim, foi um rápido borrão preto-esverdeado
em toda a minha visão, e em seguida, se dissolveu em meus olhos”, conta Licina.
E então eles esperaram. Os efeitos deveriam começar a funcionar dentro de uma
hora. Após este tempo, eles foram para um campo escuro e testaram os novos
superpoderes de Licina.
E funcionou. Tudo começou com formas, penduradas a cerca de 10 metros de
distância. Em pouco tempo, eles foram capazes de aumentar as distâncias, e
Licina ainda reconheceu símbolos e identificou objetos em movimento.
“Em outro teste, colocamos pessoas de pé numa floresta”, diz ele. “A 50 metros,
poderíamos descobrir onde elas estavam”. Licina teve uma taxa de sucesso de
100%. O grupo de controle, que não foi dosado com CE6, só acertou em um terço
das vezes.
•Rato é primeiro animal a ganhar sexto sentido biônico: visão noturna
O aumento da amplificação de luz pode ter efeitos adversos sobre a estrutura
celular do olho se usado de forma inadequada, e alguns dos materiais
utilizados nesta mistura não devem ser administrados em seres humanos ou
animais. Os autores afirmam que o objetivo do estudo foi “apenas para fins
informativos e de investigação”.
Há muitas aplicações possíveis. Além de tratar doenças, a CE6 poderia ser usada
para melhorar a visão noturna em soldados, patrulheiros noturnos, policiais,
motoristas, trabalhadores de fábrica e qualquer outra pessoa envolvida em
trabalho, viagens e diversão depois que o sol se põe.
Plataforma CE4BLIND pretende ajudar à leitura de textos, ementas de
restaurantes ou ao reconhecimento de embalagens alimentares.
O Inesc Tec - Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores - Tecnologia e
Ciência (Inesc Tec) do Porto, juntamente com a Universidade do Texas e a Acapo —
Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, está a desenvolver uma plataforma
digital móvel para garantir uma maior autonomia dos invisuais nas suas
actividades diárias.
A plataforma CE4BLIND pretende tirar partido dos últimos avanços tecnológicos ao
nível dos dispositivos móveis e câmaras miniaturizadas, permitindo aos cegos e
às pessoas com capacidade de visão reduzida mais facilidades nas actividades
quotidianas.
João Barroso, investigador do Inesc Tec e responsável pelo projecto, explica que
com a CE4BLIND será possível "a leitura automática de texto de livros, revistas,
ementas de restaurantes ou o reconhecimento de embalagens alimentares", tudo com
"recurso a técnicas de visão por computador". No projecto vão ainda ser
exploradas novas formas de interpretação de dados 3D de objectos estáticos e em
movimento, o que irá permitir uma melhor percepção do mundo real.
Actualmente existem diversos meios adaptados às necessidades das pessoas cegas
e/ou com capacidade de visão reduzida, desde smartphones, que possibilitam o
reconhecimento de objectos através de uma fotografia, a tablets com teclados
braille.
A plataforma em desenvolvimento será concebida de forma a não ser necessário
alterar as rotina dos invisuais, através de uma interface natural, e será usada
por um grupo de utilizadores de uma forma adaptada às suas características e
limitações.
No âmbito da parceria, a Universidade do Texas, em Austin, Estados Unidos, fica
responsável pela ligação do projecto às empresas e pela colocação no mercado de
produtos inovadores na área de apoio aos cidadãos com necessidades especiais. Já
a Acapo vai disponibilizar recursos humanos para a realização de testes
extensivos com a plataforma.
O projecto CE4BLIND é o mais recente na área. Em 2008 surgiu o projecto
SmartVision, que fornecia ao utilizador invisual instruções para chegar a um
determinado destino. Seguiu-se o Blavigator, onde se desenvolveu uma bengala
electrónica que sinaliza obstáculos.
Com a revolução digital, “os dedos passaram
a ser os olhos” de quem não vê
Público
ANDREIA SANCHES
27/03/2015
Acapo assinala 25 anos e faz o balanço
do que mudou na vida de quem tem deficiência visual. Mas “ainda há muito
trabalho a concretizar da parte de quem programa e disponibiliza
serviços online”.
Quando começou a estudar, Ana Sofia Antunes usava uma máquina de braille, “com
um professor de apoio, no ensino básico, que raramente aparecia”. Na faculdade,
começou por andar com um gravador às costas, gravava as aulas, como tinham de
fazer todas as pessoas com deficiência visual como ela, e ouvia em casa, onde
escrevia em braille os apontamentos. “Nessa altura, tinha um telemóvel, um
tijolo, que tinha teclas mas que não tinha nenhum sistema de voz — que
permitisse ler SMS ou responder. Só podia receber e fazer chamadas. E todos os
números para os quais queria ligar tinham de estar decorados na minha cabeça.”
No 2.º ano da universidade, os pais gastaram uma fortuna para que tivesse um
computador portátil. Adquirir tecnologia adaptada era caríssimo. Não foi assim
há tanto tempo. E, no entanto, de lá para cá aconteceu uma “verdadeira
revolução”.
O balanço é feito por Ana Sofia Antunes, 33 anos, formada em Direito, presidente
da direcção nacional da Acapo — Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, a
propósito dos 25 anos da associação. Actualmente, existem múltiplas aplicações
que contribuem para a autonomia “e consequente integração das pessoas com
deficiência visual” na sociedade. “Hoje tenho um iPhone com o qual escrevo
mensagens. Posso pegar nele e consultar a meteorologia, posso, com ele, fazer o
reconhecimento de um objecto — quando vou à dispensa, lá em casa, se não consigo
distinguir dois produtos porque as caixas são iguais, fotografo-as e peço ao
iPhone para fazer o reconhecimento do objecto e ele vai dizer-me se a caixa é de
salsichas ou cogumelos...”
Há aplicações para smartphones que informam em alta voz, mal se aponta para uma
nota, se ela é de 5 euros, 20 ou 50; que “dizem” qual a cor da camisola que está
pendurada no guarda-fatos; que “lêem” rótulos de embalagens e outras que lêem
livros e jornais; que mostram a localização de um hospital, através de programas
de GPS adaptados a cegos e a pessoas com baixa visão. Ana Sofia já não tem que
decorar números de telefone, porque eles estão gravados, numa lista que lhe é
acessível. “São muitos os ganhos”, diz, explicando que hoje, o trabalho da Acapo
também passa muito por promover workshops aos seus associados sobre a utilização
das novas tecnologias. “Mas mesmo no âmbito da tecnologia, ainda há muitas
barreiras que persistem”, lamenta.
De tudo isto se falou nesta sexta-feira, em Lisboa, num encontro promovido pela
Acapo com jornalistas, a propósito dos 25 anos da associação — a escritura de
constituição da Acapo tem a data de 20 de Outubro de 1989, mas foi a 3 de Março
de 1990 que tomaram posse os primeiros órgãos nacionais. As celebrações do
aniversário prosseguem até ao próximo mês de Outubro.
“Estão a acontecer coisas revolucionárias”, segundo Jorge Fernandes, do
departamento para a sociedade da informação da Faculdade de Ciências e
Tecnologia, também presente no encontro desta sexta-feira. Uma das mais recentes
é esta: os tablets passaram a trazer de raiz teclados braille. Fernandes
exemplificou como se faz: ao tocar no ecrã, o software identifica e posiciona
automaticamente as teclas por debaixo dos dedos (são seis as que compõem o
caracter em braille). Um sistema de voz vai informado que caracteres estão a ser
criados com a combinação escolhida por Jorge Fernandes: “J” — ouve-se. “O”, “R”,
“G” “E”. Resume o especialista: “Os dedos passaram a ser os meus olhos.”
“Ainda há muito trabalho a concretizar da parte de quem programa e disponibiliza
informação e serviços online”, diz a presidente da direcção nacional. Desde
logo, num tempo em que tudo está em constante mudança, é preciso que a
preocupação com a acessibilidade acompanhe o ritmo. “Temos muitas vezes muitos
dissabores porque, por vezes, um site de informação que até já foi acessível
introduz uma mudança de design qualquer ou uma nova funcionalidade e, por um
passo simples, a acessibilidade que até existia para pessoas com deficiência
visual perde-se.”
Outro exemplo referido: as máquinas de bilhetes no Metro de Lisboa deixaram de
ser acessíveis para cegos depois das últimas alterações introduzidas. Restam as
bilheteiras físicas que nem sempre estão abertas. “É uma pena, porque não era
assim”, diz Graça Gerardo, vice-presidente da direcção nacional.
O acesso aos livros é outra preocupação da Acapo. Alguns sites de algumas
editoras estão preparados para que cegos possam comprar livros, mas não para que
os possam ler — o que obriga à solução arcaica de “scannear” os livros para que
possam ser sujeitos a um programa de reconhecimento de texto. A Acapo alerta
ainda para a necessidade de Portugal “ratificar o Tratado de Marraquexe”, que
visa facilitar a transcrição de livros em formatos acessíveis (braille, áudio,
etc.) e o seu intercâmbio entre diferentes países, “aumentando assim,
exponencialmente, a bibliografia para pessoas com deficiência visual”.
“Para os bancos nacionais todos os cegos estão interditos", diz a Acapo. Banco
de Portugal diz que está disponível para com a Acapo, ou qualquer outra
associação, fazer a análise da situação e resolver eventuais problemas.
São cada vez mais as queixas de associados da Acapo — Associação dos Cegos e
Amblíopes de Portugal “que se vêem impedidos de celebrar contratos de abertura
de conta bancária e outros”. A denúncia foi feita nesta sexta-feira, pela
direcção nacional da associação, num encontro com jornalistas, em Lisboa.
A associação diz mesmo que vai “recorrer aos meios judiciais que tem ao seu
dispor para proteger os seus associados” contra o que considera ser uma prática
discriminatória.
“Os bancos recusam que uma pessoa cega abra uma conta”, diz na Ana Sofia
Antunes, presidente da direcção nacional da Acapo. Alegam que não conseguem
garantir que essa pessoa tome conhecimento do conteúdo dos documentos que lhe
são dados a assinar e que as pessoas cegas não sabem ler. “Mas as pessoas sabem
ler e sabem escrever, só que não é com o código utilizado pelas pessoas que
estão nos bancos”, prossegue.
A actuação dos bancos, pelo menos de alguns, estará relacionada, segundo Ana
Sofia Antunes, com novas orientações, emitidas recentemente, do Banco de
Portugal (BdP). Contactado pelo PÚBLICO o BdP faz saber através do gabinete de
comunicação que "está inteiramente disponível para, em conjunto com a ACAPO e/ou
com qualquer outra associação similar, analisar a situação relatada e, sendo o
caso, adotar as medidas necessárias tendentes à sua eliminação".
Acrescenta contudo a seguinte nota: "No que se refere às normas regulamentares
do Banco de Portugal sobre prevenção do branqueamento de capitais e
financiamento do terrorismo (Aviso nº 5/2013, de 18 de Dezembro) e, em
particular, aos requisitos ali previstos para abertura de contas bancárias,
julgamos não preverem as mesmas quaisquer procedimentos que possam inibir ou
dificultar o relacionamento das instituições de crédito com as pessoas
portadoras de deficiência visual."
A Acapo conta outra realidade, onde as dificuldades estão bem presentes. “As
pessoas cegas sabem ler e são os bancos que não disponibilizam formas de aceder
aos conteúdos, nomeadamente em formato electrónico, nem tão pouco autorizam os
seus funcionários a fazer uma leitura presencial” dos documentos, diz a
dirigente da Acapo.
“Os bancos exigem a presença de notário ou advogado para reconhecimento
presencial de assinaturas e termo de autenticação dos documentos assinados pelas
pessoas cegas, o que acarreta custos que os particulares têm de suportar.”
Nalguns casos, prossegue a Acapo, exige-se uma “assinatura a rogo” — ou seja,
alguém assina pela pessoa com deficiência visual, perante notário. Isto, “mesmo
quando as pessoas cegas sabem assinar”.
Na prática, diz a Acapo, aplica-se às pessoas cegas o regime de interdição
previsto no Código Civil — que diz no seu artigo 138 que
“podem ser interditos do exercício dos seus direitos todos aqueles que por
anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira se mostrem incapazes de governar
suas pessoas e bens”. Em suma: “Para os bancos nacionais todos os cegos estão
interditos.”
Para a Acapo, isto viola o direito internacional e nacional, nomeadamente a
Convenção sobre os direitos das Pessoas com Deficiência e a Constituição da
República Portuguesa.
‘Aos olhos de um cego’ &
'Feche os olhos para ver melhor'
- livros de Sérgio Sá -
Aos olhos de um cego:
Inclusão e convivência com o deficiente visual Sérgio Sá
‘Aos olhos de um cego’ o mundo pode ser rico de sons, sabores, toques e
aromas. Reconhecer o sentido desses sentidos é educar-se para uma nova e
expressiva forma de viver. Sérgio Sá, cego de nascença, propõe aos que
convivem com um deficiente visual – e mais especialmente aos pais e
educadores – uma abordagem sinestésica do mundo, na qual cada sentido
tem o seu papel e seu grau de importância para uma educação integral.
São orientações para o dia a dia de quem vê ou de quem não vê, das quais
ambos podem retirar boas lições de convivência.
FECHE OS OLHOS PARA VER MELHOR
Os limites dos sentidos e os sentidos dos limites
Sérgio Sá
O desenvolvimento de nossos próprios sentidos e a descoberta de novos
limites para suas expansões, é a proposta central que apresenta este
livro de Sérgio Sá. São reflexões e relatos de experiências vividas pelo
autor, em um depoimento sensível e tocante sobre sua condição de
deficiente visual e sua relação com o mundo.
Cego de nascença, Sérgio teve sua sensibilidade trabalhada com cuidado e
carinho, esculpida por uma família atenta e preocupada em “adequá-lo” à
vida numa sociedade tão preconceituosa quanto repressora. O fio condutor
da obra está na sugestão que o autor nos faz para que criemos novas
maneiras de ver, ouvir, sentir, lidar com o mundo. Para isso, devemos
reavaliar o potencial de nossos recursos físicos – tato, audição, olfato
e paladar -, mentais e espirituais – nossa capacidade de perdoar, de
compreender, de julgar sem condenar.
Temas como a integração social do deficiente físico, a supervalorização
da imagem nos dias atuais, conflitos entre individualismo e auto-estima
se apresentam de maneira simples e instigante: “A cultura da imagem, tão
forte, capaz de anestesiar os sentidos, (…) leva-nos a renunciar a
multiplicidade. Agora sei que não é preciso apenas ver para crer;
podemos também ouvir para acreditar, cheirar para compreender, sentir o
paladar para aprender, tocar para interagir!”
No próximo dia 26 de março, 5ª feira, às 19h00,
na Galeria Fernando Pessoa, no Centro Nacional de Cultura, o Coro do projeto Ver
pela Arte, constituído por crianças, jovens e adultos com deficiência visual na
sua maioria, apresenta a Audição da Páscoa.
O programa Ver pela Arte, coordenado pelo Centro Nacional de Cultura, tem como
objetivos a aprendizagem de música por alunos com deficiência visual abrindo, ao
mesmo tempo, caminho a que o ensino da música a deficientes visuais seja apoiado
e impulsionado nas escolas do país.
Lançado no presente ano letivo, este projeto-piloto é apoiado pelo programa
CIDADANIA ATIVA, conta com a parceria da Associação dos Cegos e Amblíopes de
Portugal (ACAPO) e o apoio da Faculdade de Motricidade Humana.
As aulas decorrem na Escola de Música de Nossa Senhora do Cabo, em Linda-a-Velha
e participam crianças a partir dos 6 anos, jovens e adultos com deficiência
visual.
O projeto abrange Formação Musical, Cultura Musical, História da Música e
Cultura das Artes, instrumento, Musicografia Braille, Estágio coral em formato
de workshop integrado na disciplina de Coro e desenvolvimento de competências
psicomotoras para a aprendizagem da Música.
Sendo a música uma arte acessível a todos, esta iniciativa incita à partilha
plena destes alunos com colegas de visão normal, promove competências sociais
potenciadoras de uma cidadania plena e consciente e atenua desigualdades no
acesso à informação e à cultura.
As mais-valias desta iniciativa incluem ainda a criação de uma biblioteca de
partituras em braille e de um Manual de Boas Práticas nesta área.
A entrada é livre e faz-se pelo Largo do Picadeiro, nº 10, 1º andar.
Tens
entre 15 e 17 anos e gostarias de
melhorar os teus conhecimentos de inglês?
A ONCE – Organização Nacional de Cegos Espanhóis – vai, uma vez mais,
proporcionar aos jovens associados efetivos da ACAPO a frequência
gratuita num curso intensivo de inglês no Centro de Recursos Educativos
da organização espanhola, em Pontevedra (Espanha).
O curso, com uma carga letiva de 60 horas,
irá decorrer entre 27 de julho e 7 de agosto. Os interessados em
apresentar a sua candidatura devem respeitar quatro pré-requisitos:
ter entre 15 e 17 anos, durante o
período do curso;
possuir um nível
intermédio/intermédioalto de língua inglesa;
dispor de um domínio suficiente de
leitura e escrita emBraille, tinta ou informática; e
apresentar adequadas técnicas de
orientação e mobilidade.
A seleção do candidato será efetuada
mediante o seu desempenho numa prova, oral e escrita, que permitirá
avaliar os conhecimentos de inglês. Para obter informações adicionais ou
para apresentar a sua candidatura contacte o Departamento de Relações
Internacionais através do telefone 213 244 528 ou do e-mail
relacoesinternacionais@acapo.pt.
O período de inscrições decorre até ao dia 27 de março.
Enxergar cores e formas é uma habilidade que muitos
perdem em consequência, por exemplo, de doenças degenerativas, diabetes e ou
acidentes. De acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, estima-se que
existam 37 milhões de cegos no mundo. Como o anúncio de um milagre, matéria
publica no site da BBC anuncia que está próximo o fim da cegueira. Vejamos do
que se trata. Enquanto você olha para esta página, seus olhos fazem coisas
interessantes.
A corrente de luz a partir das palavras e imagens está saltando no globo ocular
e caindo sobre células fotorreceptoras na retina. Esta informação visual é
repassada para as células de saída e, em seguida, transmitida para o cérebro
como uma espécie de código, onde é reconstruído para fazer a composição das
letras nesta frase que você está lendo agora.
Doenças degenerativas dos olhos, no entanto, podem causar estragos sobre este
processo, diz a neurocientista Sheila Nirenberg, do Weill Medical College da
Universidade de Cornell, Nova Iorque, EUA. Quando elas danificam a retina, a
imagem na frente de você nesse processo nunca fica mais longe do que o globo
ocular; a cadeia está quebrada.
Isso é o que faz com que a tecnologia que Nirenberg construiu seja bastante
notável. Ela encontrou uma maneira de transmitir um código visual diretamente
para o cérebro, ignorando as células danificadas no olho. Em outras palavras,
ela pode ajudar os cegos a ver.
O movimento de responsabilidade social "Mais para Todos" conseguiu angariar mais
de um milhão de euros e anunciou esta quarta-feira os projectos vencedores.
Deficiência Visual:
Em Castelo Branco, a proposta Campanha ABC da Deficiência Visual, da Associação
de Cegos e Amblíope, pretende promover e dinamizar, junto da comunidade escolar,
campanhas de divulgação sobre a deficiência visual. Com esta iniciativa,
espera-se que todos os jovens passem a compreender a colaborar mais com os
colegas cegos.
Damon Rose é um jornalista da BBC que perdeu a visão na
infância e, hoje, vê luzes coloridas a todo momento. "Do que sinto mais falta é
da escuridão", afirma.
"As pessoas normalmente acham que as pessoas cegas vivem em uma escuridão
completa, mas na minha experiência isso está longe da ser verdade.
Eu acho que isso vai soar estranho vindo de uma pessoa que não enxerga, mas
quando as pessoas me perguntam o que eu mais sinto, a minha resposta é sempre
"escuridão".
Deixe-me explicar. Eu pertenço a um grupo muito pequeno de pessoas que não têm
visão alguma. Sou de fato cego. Sou um "total", como costumávamos dizer na
escola.
Eu perdi minha visão há 31 anos, graças a uma cirurgia mal feita, e no
certificado de registro da deficiência há três letras, hoje desbotadas, NLP -
ausência de percepção luminosa, na sigla em inglês.
O pressuposto lógico é que, quando a visão é extinta, a pessoa fica na
escuridão. Se você mergulhar debaixo dos cobertores na cama você não vê nada. Se
fechar os olhos, tudo fica preto. Então cegueira significa escuridão? Faz
sentido, certo? Aparentemente, não.
Embora eu tenha tido a ligação entre meus olhos e meu cérebro cortada, o mundo
não ficou preto. Todas as metáforas, analogias e floreios literários sobre
cegueira e escuridão devem deixar de ser usados, porque eu estou dizendo que é
longe de ser escuro. É exatamente o oposto.
O que substitui a visão colorida e 3D quando a perdemos? A resposta - pelo menos
no meu caso - é luz. Muita luz. Brilhante, colorida, em constante mudança,
muitas vezes perturbadora.
Nem sei como começar a explicar... Vou tentar. Agora eu estou vendo um fundo
marrom escuro, na frente e no meio tem uma luminescência turquesa. Na verdade,
acaba de mudar para verde ... agora está azul brilhante, com manchas amarelas, e
tem um laranja ameaçando entrar e cobrir tudo.
O resto do meu campo de visão é ocupado por formas geométricas, rabiscos e
nuvens que eu nunca conseguiria descrever - menos ainda antes que elas mudassem
de novo. Daqui a uma hora, tudo estará diferente.
Se eu tentar bloquear toda essa distração, fechando meus olhos, não funciona.
Isso nunca vai embora.
Tenho saudades daqueles momentos pacíficos de quase escuridão: caminhar durante
a noite olhando para as luzes da rua, as sombras em uma sala com uma lareira
acesa, ou viajar para casa tarde no carro do meu pai vendo olhos de gato
brilhando no meio da estrada.
Para mim, escuro passou a significar calma, e como esses fogos de artifício
"embutidos" na minha cabeça nunca vão embora, eu descrevo o que eu tenho como
uma espécie de zumbido visual.
Quando fiquei cedo eu achava que as luzes coloridas eram um sinal de que meus
olhos estavam tentando funcionar novamente. Isso me deu um pouco de esperança e
eu fiquei completamente fascinado. Eu costumava sentar e ficar olhando para
aquilo. Agora eu sei que é meu cérebro tentando compensar o fato de que ele não
recebe mais nenhuma imagem.
Algumas pessoas de fé já tentaram me dizer que eu estou vendo a vida após a
morte, e eu nunca sei como responder a isso. Mas o que eu nunca fui capaz de
descobrir é se outras pessoas que não têm nenhuma percepção luminosa também veem
o que eu vejo.
E, partindo do princípio de que enxergar completamente e dirigir um carro não
são opções, eles também anseiam por um pouco de escuridão?"
Chris James recuperou parte da visão, graças a um olho biónico. Este
homem sofre de retinite pigmentosa, uma doença genética incurável. James
é um dos pacientes que participou no ensaio clínico de um implante,
conhecido como "olho biónico", realizado no Hospital John Radcliffe, em
Oxford.
Através de uma operação, um chip foi implantado na cabeça do paciente. O
chip, semelhante ao utilizado nas câmaras dos telemóveis, permite a
conversão da luz que passa através dos olhos em impulsos elétricos, que
o cérebro pode interpretar como imagens.
Para já, Chris pode apenas distinguir os contornos de objetos que estão
a uma curta distância dos olhos, mas os médicos esperam que ele se
adapte a uma nova informação sensorial e que seja, eventualmente, capaz
de reconhecer rostos.
Já tinham sido feitas outras experiências com olhos biónicos, uma
tecnologia que está a progredir rapidamente, dando uma nova esperança
aos pacientes.
Exames para detectar câncer de mama estão sendo feitos por mulheres cegas na
Alemanha. A ideia já existe há alguns anos, e uma pesquisa inédita sugere que
pessoas cegas podem, de fato, detectar tumores mais cedo do que aquelas que
enxergam.
Esta ideia simples, mas surpreendente, passou pela cabeça de um médico alemão
uma manhã enquanto ele estava tomando banho: mulheres cegas poderiam fazer seu
trabalho muito melhor do que ele?
"Três minutos é o tempo que eu tenho para fazer exames clínicos das mamas", diz
o ginecologista baseado em Duisburg Frank Hoffmann. "Isso não é suficiente para
encontrar pequenos nódulos no tecido mamário, o que é crucial para detectar o
câncer de mama cedo."
Pessoas treinadas para ler em braille têm o tato altamente desenvolvido. Por
isso, Hoffmann supôs que as mulheres cegas e com deficiência visual seriam mais
qualificadas do que qualquer outra pessoa para realizar exames de mama em seus
pacientes.
A evidência agora é inequívoca, diz ele. Em um estudo ainda não publicado,
realizado com a Universidade de Essen, mulheres cegas
conseguiram detectar quase um terço a mais de nódulos que outros ginecologistas.
Hoffmann treinou pessoas cegas para fazer exames
"Mulheres que fazem autoexame podem sentir tumores de 2 cm ou maiores", diz
Hoffmann. "Os médicos costumam encontrar tumores entre um centímetro e dois
centímetros, enquanto os examinadores cegos encontraram nódulos com
tamanhos entre 6 mm e 8 mm. Isso faz uma diferença real. Esse é o tempo
que um tumor leva para se espalhar pelo corpo."
Experiência Na Alemanha e no Reino Unido, mamografias regulares são oferecidas
apenas a mulheres com 50 anos ou mais - mas, em ambos os países, o
câncer de mama é a maior causa de morte de mulheres entre 40 e 55 ano, e
na Alemanha, a idade das mulheres afetadas está caindo.
Hoffmann diz que fundou sua organização, Discovering Hands, para salvar
vidas pela detecção precoce. Ele desenvolveu um curso para treinar mulheres
cegas para se tornarem examinadoras médicas táteis (MTEs, na sigla em inglês), e
agora existem 17 trabalhando em clínicas em toda a Alemanha.
Uma delas, Filiz Demir, atende cerca de sete mulheres por dia, realizando exames
que podem durar até 45 minutos - o que seria pouco usual para um ginecologista.
Há pouco mais de um ano, Demir trabalhava em uma agência de viagens. Mas, quando
ela completou 35 anos, sua visão se deteriorou lentamente, e fazer seu trabalho
tornou-se cada vez mais difícil. Ela pediu demissão e aprendeu braille, mas não
conseguia sequer ser chamada para entrevistas de emprego.
"A cegueira era minha maior deficiência naquela época", diz ela. "Agora, minha
deficiência tornou-se minha força. Eu não sou dependente de ninguém e posso
ajudar os outros. É um ótimo sentimento."
Curiosa para saber como Demir e suas colegas trabalham, eu decidi fazer um
exame.
Usando tiras de fita marcadas com coordenadas em braille, o MTE faz uma "grade"
sobre o peito. Ela examina lentamente por esta grade de modo que possa indicar a
localização precisa se encontrar um nódulo.
Demir faz uma análise detalhada, mas os 30 minutos passam voando. É um ambiente
descontraído e relaxante, nem um pouco desconfortável e há ampla oportunidade de
fazer perguntas.
Depois de sete meses neste trabalho, Demir claramente se mostra aliviada por ter
encontrado principalmente tumores benignos. Apenas algumas semanas atrás ela
encontrou o primeiro maligno, que a balançou um pouco.
Mas é a minha vez de ser pega de surpresa quando ela remove as tiras em Braille
e cuidadosamente me diz que encontrou algo. Um nódulo de cada lado, na verdade.
Se eu fosse uma paciente regular na clínica, eu teria ido para a próxima sala
para um ultrassom. Infelizmente, tive de levar essa informação para meu
ginecologista em Berlim, onde fui encaminhada para um ultrassom e uma
mamografia.
Depois de algumas semanas de espera por uma consulta, o ultrassom finalmente
ficou pronto e não mostrou nada. O radiologista me disse que não fazia sentido
fazer uma mamografia - e sugeriu que o examinador provavelmente só sentiu um
pouco das minhas costelas.
O conselho de Hoffmann em situações do tipo é repetir o exame com o MTE algumas
semanas mais tarde, na primeira metade do ciclo menstrual. Se um nódulo ainda
puder ser detectado "a mamografia faz sentido", diz ele.
É exatamente esse ciclo de check-ups que podem levar a alarmes falsos, angústia
e cirurgias desnecessárias, de acordo com o professor Gerd Gigerenzer, diretor
do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano.
"Conheço muitas mulheres que ficaram assustados com alarmes falsos. Algumas
fizeram biópsia, que não mostrou nada, mas vivem suas vidas de mamografia em
mamografia."
Há pouco consenso sobre os benefícios dos programas de detecção de câncer de
mama e se exames regulares realmente salvam vidas. Gigerenzer adverte
explicitamente contra eles, e não se anima com a ideia de que agora é possível
detectar nódulos menores.
Especialistas alertam que
detecção precoce pode descobrir cânceres clinicamente irrelevantes.
"Quanto mais precisas forem as técnicas de diagnóstico, mais cânceres
clinicamente irrelevantes serão detectados", diz ele. "Isto pode levar a
cirurgias e radioterapias desnecessárias. Neste caso, a detecção precoce
só prejudica."
O método Discovering Hands, segundo ele, está fora de julgamento até que a
equipe possa fornecer provas que comprovem que a técnica de fato reduz a
mortalidade. Um estudo sobre o assunto está previsto para ser concluído e
publicado ainda este ano.
Paciente Enquanto isso, uma das pacientes de Hoffmann, Heike Gothe, me diz que deve
sua vida a uma dessas examinadoras. Ainda tendo que lidar com a morte prematura
de seu marido por doença, Gothe assumiu o comando do negócio da família, uma
pequena empresa de exportação internacional de sucesso. Mas não demorou muito
para que ela recebesse seu próprio diagnóstico.
"Eu tinha sentido um caroço no meu seio direito e fui ver o médico", diz Gothe.
"Eles confirmaram o que eu tinha encontrado e, em seguida detectaram um pequeno
nódulo no lado esquerdo, com apenas 2 milímetros de tamanho. Ele nem sequer
apareceu na ultrassonografia ou mamografia, apenas o MTE cego sentiu."
O encontro deste pequeno tumor pode ter salvado sua vida. Ambos os tumores foram
diagnosticados como malignos, mas com quimioterapia e radioterapia, ela superou
o câncer. Gothe é uma batalhadora, mas ela credita sua energia e positividade a
estes exames feitos por um MTE a cada seis meses. Segundo Gothe, é assim que ela
consegue dormir à noite e tocar seu negócio.
"O medo aparece de vez em quando", diz Gothe. "E só consigo lidar com isso
porque sei que estou em boas mãos."
Algumas companhias de seguros alemães também estão convencidas. Seis delas agora
cobrem os custos para os seus pacientes fazerem esses exames clínicos das mamas.
Enquanto novos MTES ocupam cargos permanentes em clínicas por toda a Alemanha e
na Áustria, o fundador do Discovering Hands, Frank Hoffmann, está em negociações
com Israel e Colômbia. Ele vê oportunidades ainda mais longe.
"Estou convencido", diz ele, "de que, especialmente em países que não são
tecnicamente tão avançados como a Alemanha, este modelo poderia melhorar a
qualidade de normas médicas muito dramaticamente."
III SEMINÁRIO ONLINE
DA ONCB - A INDEPENDÊNCIA E A AUTONOMIA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
VISUAL:
LOCOMOÇÃO, AUTOCONFIANÇA E PROTAGONISMO
28/03/2015 – Sábado
A independência e a autonomia das pessoas com deficiência visual foram
historicamente abaladas e, em alguns momentos, inviabilizadas, por
sociedades as quais relacionavam, equivocadamente, a falta da visão com
a capacidade de ir e vir, viver e residir só e desenvolver outras ações
da vida diária.
Consciente desse contexto histórico e de
sua influência ainda nos dias de hoje, a Organização Nacional de Cegos
do Brasil pretende abordar, nesse evento, a importância de construir e
aplicar um programa adequado de orientação e mobilidade, ter
conhecimentos das alternativas de atendimento, da importância dessa
habilidade para a auto estima, empoderamento e inclusão da pessoa cega
em todos os espaços que acabam, muitas vezes, por perpassar pela
condição de locomoção independente.
Data: 28/03/2015 – Sábado.
Programação
20h30 – Mesa de
abertura;
20h40 –A mobilidade e
independência da pessoa com deficiência visual: Prof. João Álvaro de
Moraes Felipe;
21h00 – O contexto de um
professor de Orientação e mobilidade com deficiência visual:
Vantagens e desvantagens para o orientando: Prof. Nelson santos
Cauneto;
21h20 – A orientação
familiar no processo de autonomia e independência da pessoa com
deficiência visual: Psicóloga Carla Azevedo;
21h40 – Depoimento:
Tornando-me autônoma e independente após os 50 anos: Vanilda da
Rosa;
22h00 – Espaço para
perguntas;
22h30 – Encerramento.
Inscreva-se – Vagas limitadas!
O Seminário
será realizado por meio do Teamtalk e as inscrições podem ser feitas no
site da ONCB, diretamente no link
http://www.oncb.org.br/independencia.
O evento será transmitido em tempo real pela rádio Mundo Cegal e poderá
ser acompanhado no link:
mundo Cegal.
Já imaginou poder fazer zoom com os seus
olhos? Sim, já é possível e apenas num “piscar de olhos” (literalmente),
segundo um artigo da revista Galileu.
A inovação consiste numas lentes de contacto telescópicas, desenvolvidas
no Instituto Federal Suíço de Tecnologia. Foram desenvolvidas
especialmente para doentes com degeneração macular, ou seja, que perdem
a visão gradualmente.
Segundo o artigo, são maiores que as lentes convencionais e cobrem a
“parte branca” dos olhos. São constituídas por espelhos pequenos de
alumínio em forma de “anel” em volta do centro do olho. Estes espelhos
aumentam a partir do momento em que os olhos são atingidos pela luz (tal
e qual como uma lente de uma câmara). Assim, o mundo parecerá cerca de
2,8 vezes maior do que é na realidade.
As novas lentes devem ser utilizadas com uns óculos electrónicos. Se
piscar uma vez, faz “zoom”, se piscar duas volta tudo ao normal. Ou
seja, se piscar um dos olhos, o fluxo de luz aumenta, se piscar o outro,
pode modificar a configuração para que a luz passe normalmente para o
olho, novamente.
Os investigadores testaram-na apenas mecanicamente. A lente revelou uma
falha no fluxo de ar, que já foi solucionada. Agora apenas resta que os
cientistas realizem os testes em seres humanos.
O sector do turismo vai dispor de uma nova
Certificação de Acessibilidade, a mais recente novidade da multinacional
alemã TÜV Rheinland, que vai estar em destaque na Bolsa de Turismo de
Lisboa (BTL), entre os dias 25 de Fevereiro e 1 de Março. Este ‘selo’ é
uma forma de auxiliar as unidades hoteleiras a melhorar as suas
instalações e ofertas, tornando-as “acessíveis a todo o tipo de
público”.
A certificação “permitirá aos operadores
hoteleiros distinguir a sua oferta dos demais concorrentes bem como a
captação de novos públicos”, explica a empresa em comunicado. Isto
porque concede especial atenção “a pessoas com deficiência motora,
visual, auditiva ou cognitiva ou, ainda, a crianças, pais com bebés,
mulheres na fase final de gravidez e pessoas idosas”.
De salientar que, em Portugal, o potencial
de negócio do Turismo Acessível ascende a mais de 500 milhões de euros.
Já na Europa, o seu valor bruto superou os 352 milhões de euros em 2012,
projectando-se “um aumento significativo nos próximos anos”. Segundo
dados da União Europeia, prevê-se um crescimento dos fluxos turísticos
no segmento das pessoas com necessidades especiais, espelhado num salto
de 783 milhões de viagens, em 2012, para cerca de 862 milhões em 2020.
A questão da acessibilidade é, de resto, um
dos principais focos do Turismo de Portugal, assente na estratégia
“Tornar Portugal num destino acessível para Todos”, que visa manter o
estatuto do país nas questões de acolhimento e hospitalidade —
destacadas como pontos fortes em Inquéritos Anuais de Satisfação do
Turista.
O programa «Abrir portas à diferença» é desenvolvido no sentido de
promover a possibilidade, a cidadãos portugueses portadores de
deficiência permanente, independentemente da sua idade, de viajarem por
todo o território continental, prevendo a estadia em regime de pensão
completa em unidades hoteleiras da Fundação INATEL.
Estes poderão aceder ao programa mediante o
contato efetuado pela Fundação INATEL junto do Instituto da Segurança
Social, I.P., do Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P. e de
associações representativas dos cidadãos portadores de deficiência e
incapacidade física.
Objectivos Proporcionar a integração e o desenvolvimento psíquico, físico e
social, permitindo o acesso ao gozo de férias organizadas a um número
significativo de pessoas, independentemente da sua idade, constituindo
um importante instrumento de promoção da igualdade de oportunidades e de
inclusão social.
Destinatários
Cidadãos portugueses, independentemente da idade, com deficiências e
incapacidades em grau igual ou superior a 60% e respetivos
acompanhantes.
O acesso ao programa carece de candidatura junto dos serviços da
Fundação INATEL. A candidatura poderá ser coletiva, apresentada por
instituições ou associações representativas dos cidadãos com
deficiências e incapacidades ou individual, quando o candidato se
apresenta em nome individual.
Valores de inscrição Os custos do programa são suportados pela entidade financiadora e
pelos participantes.
Considerando a necessidade de salvaguardar a vocação social e
integradora do programa, estabeleceu-se uma taxa única de pagamento para
o participante e uma outra para o acompanhante, promovendo o crescente
acesso aos cidadãos com deficiências e incapacidades.
Valor a pagar*: Participante (associado) 110,00€
Participante (não-associado) 130,00€
Técnicos especializados de acompanhamento aos participantes ou
acompanhantes familiares (associado) 130,00€
Técnicos especializados de acompanhamento aos participantes ou
acompanhantes familiares (não-associado) 150,00€
(1) Quarto individual:
10,00€ / noite = 50,00€ / 5 noites.
(2) Acresce valor de transporte, quando solicitado pela instituição ou
pelos Participantes, entre o local de partida e a unidade hoteleira de
destino. Neste caso, os custos inerentes à contratação dos referidos
meios de transporte são da responsabilidade da instituição ou dos
Participantes, de acordo com os valores apresentados pelas empresas
transportadoras.
Programa
Ao inscreverem-se, os grupos terão a oportunidade de usufruírem de um
conjunto de atividades lúdicas ajustado aos mesmos e às diferentes
realidades culturais e turísticas de cada região onde se realize.
No programa estão incluídos os seguintes serviços:
Estada com a duração de 6 dias e 5
noites;
Alojamento em unidades hoteleiras INATEL, em regime de pensão
completa;
Atividades diversas de caráter cultural e recreativo;
Acompanhamento permanente por animador sociocultural.
Quando solicitado por entidade coletiva ou
instituição que requer a inscrição, o transporte em autocarro próprio,
nos percursos entre o ponto de origem da viagem (ou aeroporto
selecionado) e a unidade hoteleira de destino poderá ser facultado pela
organização, sendo a primeira a responsável pelos custos inerentes.
Jovem de 26 anos tem apenas 5% de visão num olho e 1% no outro. Ainda
assim, tirou 20 valores na tese de mestrado.
Caracterizam-na desde cedo como “a mulher
que vai além do impossível”. O Jornal de Notícias foi conhecer Ana Sofia
Teixeira, uma jovem de 26 anos cuja ambição faz inveja até aos melhores.
Esta estudante da Universidade de Aveiro é
filha de dois primos direitos. Uma incompatibilidade sanguínea fez com
que nascesse com tignite pigmentar, mais conhecida como cegueira
noturna. Atualmente, tem apenas 5% de visão num olho e 1% no outro.
Mas nem isso a impediu de alcançar o sucesso. Ambiciosa desde tenra
idade, ingresso na universidade e recentemente conseguiu tirar 20
valores na tese de mestrado, dedicada ao tema ‘Sofrimento emocional na
deficiência visual’.
Foi, inclusivamente, a esforçar a vista nos estudos que perdeu parte da
capacidade de ver. Para a ajudar, usava uma ‘lupa TV’, que ampliava os
documentos impressos e, mais tarde, no computador.
A tese foi feita ao mesmo tempo que desenvolvia um estágio curricular e
outro extracurricular. Mas Ana Sofia não se fica por aqui. Vai continuar
na universidade a fazer uma investigação adicional ao trabalho
desenvolvido.
Ruben Portinhas é cego e faz da rádio um
dos grandes sonhos da vida. Não vê mas pode falar e a rádio é a vida de
Ruben Portinhas. Começou com o "bichinho" de informar tudo o sabia na
rua, registado com um pequeno gravador que mais tarde deu lugar à paixão
e necessidade de frequência escolar.
Apesar do poder da imagem e da informação interactiva, a rádio e o som
continuam a despertar grandes paixões. Um mundo mágico, com uma
importância especial para quem não vê.
O repórter João Torgal visitou um invisual licenciado em comunicação que
desde miúdo têm uma paixão genuína e persistente por ouvir e por fazer
rádio.
Pode parecer um desenho animado, mas isto
pode mudar a vida de pessoas com problemas de visão. Imagens como estas
são vistas por pessoas que utilizam os óculos inteligentes desenvolvidos
pela Universidade de Oxford, no Reino Unido. Os óculos foram projectados
para ajudar pessoas com problemas graves de visão. O projecto é liderado
por Stephen Hicks. A equipa de investigação utiliza câmeras de modo a
aumentar a visão.
O cientista assegura que trabalham também com pessoas consideradas
cegas, melhorando a percepção que têm de profundidade.
“Os óculos são uma parte do trabalho que temos vindo a desenvolver nos
últimos três anos e procuramos maneiras de melhorar a visão remanescente
das pessoas. Usando uma combinação de câmeras e um dispositivo somos
capazes de tornar os objectos que estão próximos mais fáceis de ver,
para evitar obstáculos e também permitir o reconhecimento facial”,
informa Hicks.
Os óculos estão dotados de câmeras tridimensionais, que podem detectar a
estrutura e a posição de objectos que estejam próximos. O programa
informático usa, depois, essa informação para bloquear o fundo e
destacar apenas o que está mais próximo ao utilizador.
O cientista relata que “transformamos isso num desenho animado de alto
contraste que introduzimos no interior de um par de óculos, então
podemos combinar a visão normal da pessoa com a visão avançada que
mostramos aqui. Isso permite que a pessoa use a visão remanescente como
se faz na generalidade, de modo a ver melhor o mundo.”
Na Europa, existem cerca de 30 milhões de pessoas cegas e amblíopes.
Esta tecnologia pode ser útil para aqueles que têm alguma visão
remanescente.
Os óculos não substituem a visão perdida, mas ajudam o utilizador a ter
uma melhor percepção espacial. Os cientistas asseguram que estes óculos
inteligentes permitem à pessoa maximizar a visão remanescente, através
de imagens adicionais, permitindo-lhes obter mais informação sobre
objectos e pessoas que estejam no seu ângulo de visão.
Os dispositivos podem ser adquiridos por cerca de 700 euros.
No âmbito do Programa Gulbenkian
Qualificação das Novas Gerações, a Fundação Calouste Gulbenkian continua
a apoiar atividades e ações inovadoras que promovam a educação,
designadamente no âmbito da intervenção precoce, reabilitação e
integração escolar e social das crianças e jovens com necessidades
educativas especiais.
Estes projetos devem identificar, projetar
e desenvolver experiências concretas, que permitam criar condições para
uma efetiva melhoria da qualidade das aprendizagens destas crianças e
jovens.
Estão abertas de 2 de Fevereiro a 5 de Março 2015 as candidaturas de
apoio a atividades e ações destinadas a promover a educação, no âmbito
da intervenção precoce, reabilitação e integração escolar e social de
crianças e jovens com necessidades educativas especiais, contemplando,
especialmente, as seguintes iniciativas:
a) Ações de formação para professores,
educadores e outros profissionais ligados à educação;
b) Ações de formação para pais e
encarregados de educação de crianças e jovens com necessidades
educativas especiais, promovidas por Associações de Pais, ou outras
instituições, preferencialmente ligadas a instituições de ensino.
c) Aquisição de equipamentos para melhoria
da qualidade do atendimento e da aprendizagem do público-alvo.
PANAYIOTIS KOUROUBLI
Ministro da Saúde e Segurança Social
do novo governo grego
Jornal de Negócios
Panayiotis Kouroubli - Ministro da Saúde e
Segurança Social do novo governo grego - é cego desde os 10 anos devido
à explosão acidental de uma granada do exército alemão. Foi deputado do
Pasok até 2011, saindo contra a austeridade.
É deputado pelo Syriza desde 2012 e fica à
frente de um dos ministérios que mais cortes sofreu.
Bainhe
vai voltar a ver graças a voluntários portugueses
por Luís Fonseca
agência Lusa | RR
28-01-2015
Na Guiné-Bissau, há muita cegueira
evitável. Muitos ficam cegos por causa de problemas para os quais já há
solução. Contra esta realidade, um grupo de voluntários portugueses
empreende a "Missão Visão".
Bainhe Chaque ri-se às gargalhadas quando
lhe perguntam como está, porque vai poder voltar a ver o que o rodeia:
"Já não tenho idade para me meter com mulheres, mas se passarem por mim
vou poder olhar para elas".
Aos 64 anos e sem gastar um tostão, o guineense acabou de ser operado às
cataratas, já em estado agravado, como quase todos os casos
diagnosticados na Guiné-Bissau: acabam em cegueira, mas podem ser
revertidos.
No país é muito difícil ter acesso a serviços de saúde. São raros e,
quando há, poucos têm dinheiro para os pagar ou informação para lá
chegar – a maioria da população é analfabeta.
"Muitas pessoas ficam cegas por causa de problemas para os quais já há
solução", explica à Lusa o médico oftalmologista Dionísio Cortesão.
Ele e outros dez médicos e enfermeiros são voluntários: pagaram as
viagens de avião de Portugal para a Guiné-Bissau, bem como todas as
outras despesas para ficar 11 dias a dar consultas e a realizar
cirurgias no Hospital de Cumura, nos arredores de Bissau.
É a quinta "Missão Visão", que funciona sob a alçada da fundação
católica João XXIII e que, ano após ano, angaria consumíveis e reúne
médicos e enfermeiros através do "passa a palavra".
Em oito dias de voluntariado, a equipa já tinha operado cerca de 70
pessoas e prestado quase 700 consultas. E havia ainda mais dois dias
pela frente.
"Cerca de quatro quintos dos doentes que operamos têm menos de 10% de
visão em cada olho ou são totalmente cegos", descreve Dionísio Cortesão.
"Quero é ver bem" Na Guiné-Bissau este grupo de médicos depara-se com problemas
comuns, como glaucoma, ou outros mais raros, como o tracoma, uma
inflamação crónica que podia ser evitada com um antibiótico no tempo
certo.
Mas a doença que se destaca "são as cataratas, aqui num grau muito mais
dramático" daquilo a que os médicos estão acostumados a observar na
Europa e com um impacto muito mais grave na vida dos pacientes.
É o caso de Amadu Balde, 75 anos, que perdeu quase toda a visão.
"Mal consigo ver quem está à minha frente", conta, depois da consulta
onde foi encaminhado para cirurgia. "Não tenho medo nenhum de ser
operado. Quero é ver bem."
As intervenções são feitas num bloco
operatório do Hospital de Cumura, no mesmo piso térreo das consultas,
duas portas ao lado, onde à equipa portuguesa se juntam médicos
guineenses.
"Aprendemos a usar esta tecnologia mais avançada", refere Seco Indjai,
médico da Guiné-Bissau que não perde a oportunidade de trabalhar com os
colegas portugueses. "Temos muita cegueira evitável e acho que isso pelo
menos vamos conseguir resolver" graças às indicações que recebeu,
realçou.
"Transformar vidas" A formação no exercício da actividade poderá fazer com que um dia se
cumpra o sonho do líder da missão, o oftalmologista Luís Gonçalves.
"O meu sonho era daqui a algum tempo poder vir cá, à Guiné, e não
precisar de fazer cirurgia nenhuma por estarem os colegas de cá a
trabalhar. E eu venho passar umas férias", descreveu.
Enquanto isso não acontece, outras missões repletas de trabalho diário
vão seguir-se. Esta quinta-feira à tarde é tempo de fazer o balanço e um
inventário que servirá para preparar a missão do próximo ano.
Os médicos oftalmologistas prometem regressar para "transformar vidas".
Pela primeira vez o museu adapta seis obras-primas para que os invisuais
possam ‘vê-las’ na exposição “Hoje toca o Prado”.
Através do tacto, os visitantes apreciarão
as diferentes texturas e volumes que compõem as obras. Velàsquez, Goya,
Da Vinci, El Greco, Van der Hamen e Correggio são os pintores escolhidos
para esta exposição de acesso gratuito para cegos.
“Finalmente sei o que é um primeiro plano”,
conta Ander Soriano segundo o testemunho de um invisual, depois de
‘tocar’ e ‘visualizar’ uma fotografia.
Soriano, director geral da empresa Estudios Durero e parte fundamental
da materialização das obras para esta exposição (patente de 20 de
Janeiro a 28 de Junho, no Museu do Prado, Madrid), aberta a todo o tipo
de públicos (os mais novos desfrutam dela em especial), conta muitos
anos a tornar possível que cegos possam desfrutar da arte. Das muitas
histórias curiosas que guarda e que mais o emocionou, é aquela em que um
homem lhe disse que finalmente sabia o que era um primeiro plano.
“Não somos pioneiros”, disse Fernando
Pérez, o comissário da exposição que se concretizou graças ao Museu do
Prado e à Fundação AXA, em colaboração com a ONCE - Organização Nacional
de Cegos Espanhóis. É evidente o entusiasmo de Pérez com a mostra (e
ainda mais é gratuita para os cegos e acompanhantes quando solicitado) e
a vontade de fazer mais e mais.
O pioneiro foi o Museu de Belas-Artes de Bilbau, que realizou há cinco
anos uma iniciativa como esta. Andre Soriano, parte também do projecto,
conta em 20 minutos porque seleccionaram determinados quadros, neste
caso, “Noli me tangere”, de Correggio; “La Gioconda “ de Leonardo da
Vinci; “A forja de Vulcano” de Velàsquez; “O Cavaleiro com a mão no
peito” de El Greco; “Natureza-morta com alcachofras, flores e
recipientes de vidro” de Van der Hamen; e “O Guarda-sol” de Goya:
“São mais acessíveis devido ao tamanho e
aos detalhes. Se tem muitos detalhes é muito complexo conjugá-los com os
volumes e os relevos, que é a forma como fazemos estas réplicas”. Há um
tamanho ideal? “ Sim, com a ONCE definimos o formato que seria ideal
para tocar e percorrer com as mãos: 1,80×1,20m.
Imaginem o Guernica, teriam que reduzi-lo e
adaptá-lo, o que não é impossível, fiz o cálculo, seria de 0,80×3m”,
responde Soriano, o que leva cinco anos desenvolvendo a técnica que
possibilita que os cegos ‘vejam quadros’. “Faz-se estudando a imagem e
definindo o volume com camadas e texturas relevadas. É uma técnica de
impressão digital com acumulação de tintas”, explica o especialista.
“A acessibilidade não é só rampas” comenta
Juan Torres, cego que percorre com as suas mãos as seis obras expostas
no Prado e que participou activamente na elaboração dos audioguias que
acompanham o visitante durante a visita. “Está muito bem conseguido, por
exemplo aprecio as texturas das diferentes peles”, disse Torres. “ E é
muito importante que a ideia da acessibilidade não se limite a colocarem
rampas, que a cultura esteja presente, e este é um exemplo de como se
pode fazê-lo. Porque não há-de haver cultura para nós? Não estamos
habituados a ter nada disto, por vezes, podíamos tocar numa escultura,
mas nada mais. É uma evolução enorme ter-se chegado aqui”. Relativamente
às sensações que são proporcionadas, Torres responde: “Fazes um primeiro
reconhecimento, e depois já te vais orientando. A sensação é muito
agradável”.
Cristina Velasco, da equipa de Estudios Durero, explica as dificuldades
que uma obra como o “Jardim das Delícias”, colocaria: “É quase
inacessível, as figuras são muito pequenas, está cheia de detalhes e é
enorme. Os retratos são mais fáceis”.
Partilha da sua opinião, outro dos cegos da
ONCE que está a visitar a exposição, José María Villenueva: “Os retratos
são os mais fáceis de imaginar. Emociona-me muito “A Gioconda”, veio-me
imediatamente à cabeça. Tenho 52 anos e sou cego desde 2008, já tinha
visto a obra. Mas das cores não me recordo exactamente, é a única coisa
de que não me lembro de toda a imagem que tenho da pintura”. Para José
María seria, se pudesse escolher, Sorolla o que mais gostaria de poder
‘tocar’. “Adorava, mas claro, são muito complicados por terem muito
detalhe. Entendo que uma paisagem impressionista é muito difícil”.
Destaca as virtudes do audioguia: “Primeiro
conta a história do quadro e logo depois incentiva a tocá-lo”. Ander
intervém, dada a importância do audioguia, para contar que quando se
trata de surdos e cegos (no caso de Bilbau) levam acompanhantes que lhes
guiam as mãos para tocarem as obras adequadamente.
“Alguém se preocupa connosco” Carlos Galindo, que perdeu totalmente a
visão quando era muito pequeno, destaca a importância que tem para ele
que alguém faça por eles, algo que não seja o básico. “ Emociona-me
sentir que há alguém que se preocupa connosco. Pelas obras sinto mais
curiosidade do que emoção” diz enquanto percorre as obras com as mãos,
“e também uma certa surpresa”.
Não imaginava estas obras antes? São como
as imaginava? “Não as imaginava”, responde com sinceridade Galindo, “A
pintura é uma arte para ser vista, e isto está muito bem, mas também sei
o que estou a perder. As cores, por exemplo. Nunca as verei como alguém
que vê. A música, ao contrário, posso desfrutá-la na sua plenitude”.
Desde há alguns meses a esta parte,
director do Museu Tiflológico da ONCE, Miguel Moreno, também está
presente e descreve com absoluta precisão enquanto toca com ambas as
mãos “A forja de Vulcano”: “ A textura da pele é uma maravilha. E isto é
uma barba cerrada…”. E acrescenta: “ ‘A Gioconda’ ou “O Cavaleiro com a
mão no peito” são mais fáceis, este é mais complicado, mas agrada-me.
Digo o que sinto: sobretudo uma grande curiosidade e logo depois surge
um sentimento de emoção e surpresa”.
"Luz
Interior" de Helena Flores recebe o
prémio NOVO TALENTO FNAC FOTOGRAFIA 2014
27-01-2015
O grande prémio Novo Talento FNAC Fotografia 2014 foi atribuído
a Helena Flores, pelo seu trabalho LUZ INTERIOR
- distinguido entre 174 portefólios.
Segundo a autora, "Luz Interior aborda o tema da cegueira. E, se para
alguns, a cegueira é sinónimo de escuridão, neste trabalho deixamos a
luz crescer na mão de Ana.
Ana é invisual desde o nascimento.
Deixou-se fotografar enquanto explorava as esculturas contemporâneas do
Parque de Serralves. E ousou mostrar como as diferenças entre ela e os
outros, os normovisuais, se esbatem quando regista em desenhos a
memória do que sentiu. Vemos (artifício nosso, com recurso ao
negativo), como transforma o negro em linhas de claridade, como traça
no papel os contornos das esculturas observadas pelos outros sentidos,
provando que a imagem e a memória dependem tanto destes como da
visão”.
Chega de bengalas.
Um sapato com GPS foi desenvolvido por dois jovens indianos para guiar pessoas
com deficiência visual. Eles já são um sucesso no país e devem ser inseridos no
mercado internacional. Já há pedidos de compra de 20 países até o momento, diz a
empresa. Um de seus inventores, Krispian Lawrence, assegurou à Agência Efe que
desde seu lançamento foram recebidos cerca de três mil pedidos de compra,
primeiro para a própria Índia e cada vez mais para o exterior.
Como funciona
Lechal, como são chamados, ou “leve-me contigo” em hindi, os calçados funcionam
com palmilhas com conexão Bluetooth. Elas recebem ordens de um telefone celular
no qual é estabelecido o percurso através do Google Maps.
Cada sapato vibra, para direita ou para esquerda, para indicar as curvas
necessárias no trajeto marcado. Os calçados ajudam pessoas com dificuldades de
visão a seguir uma rota, e tem outras tecnologias que advertem sobre os
obstáculos no caminho.
O calçado foi patenteado como o primeiro a utilizar este sistema de navegação
por satélite através do servidor do Google. O par, compatível com tecnologias
Android, IOS e Windows, é vendido acompanhado de baterias e de um carregador
universal como os utilizados para recarregar telefones celulares.
Além de marcar a rota, os aplicativos informáticos utilizados, disponíveis em
vários idiomas, permitem também conhecer dados como as calorias consumidas, a
distância percorrida e o tempo de percurso.
Criação
O design é obra de Lawrence e seu parceiro Anirudh Sharma, dois jovens de 30 e
28 anos, respectivamente, formados nos Estados Unidos, onde adquiriram
experiência em novas tecnologias e no campo das patentes. De volta a seu país,
ambos fundaram em 2011, no estado de Telangana, a empresa tecnológica Ducere
Technologies. Ela conta com 50 empregados, com uma média de idade que ronda os
25 anos e tem como produto principal estes sapatos.
Preço O calçado inteligente custa entre 100 e 150 dólares – de 260 a 400 reais –
mas a companhia tecnológica colabora com ONGs que podem adquirir o produto por
um valor menor.
Embora desenhados na Índia, os Lechal são fabricados na China. “Mas vamos
transferir a produção para Índia assim que pudermos”, contou Lawrence.
Outros tipos Os sapatos com GPS seguem a saga de invenções em calçado que nos últimos
anosproliferaram.
Em 2012, uma empresa dos Estados Unidos, GTX, começou a vender modelos com um
localizador por satélite pensados para o acompanhamento de pessoas com Alzheimer
que correm o risco de se perder.
Há também dois anos, um artista britânico, Dominic Wilcox, desenvolveu sapatos
com um chip no qual é gravado uma rota que depois vai indicando, por meio de
luzes led, a direção a seguir no pé direito e a distância restante até o destino
no esquerdo.
Wilcox se inspirou em Dorothy e sua travessia em O mágico de Oz com sapatos
mágicos que o permitiram voltar para casa.
Uma das vertentes da tecnologia com mais impacto na sociedade é quando esta
desenvolve métodos e alternativas para colmatar incapacidades do ser humano,
permitindo que os dispositivos usados possam tornar a vida das pessoas mais
fácil e sem limitações.
Nesse sentido, uma equipa de investigadores da Universidade de Wisconsin começou
a trabalhar num projecto muito interessante para invisuais.
Uma equipa de investigadores do Departamento de Engenharia Mecânica da
Universidade de Wisconsin está a utilizar uma avançada impressora de
sintetização selectiva a laser para desenvolver um projecto que consiste na
criação de partituras de música em 3D, especialmente desenvolvidas para pessoas
que tenham qualquer incapacidade visual.
Até ao momento, os músicos que fossem portadores de qualquer incapacidade visual
estavam a utilizar partituras escritas em braille, o que por vezes omitia
detalhes musicais de grande relevância.
Com este desenvolvimento, estes pormenores nunca mais serão omissos e os músicos
com capacidades visuais reduzidas passarão a poder interpretar todas as notas
musicais como qualquer outro artista.
A equipa de investigadores continua a melhorar este sistema contando com a ajuda
da pianista Yeaji Kim, uma sul coreana, invisual, que teve um dia a ideia de
criar um sistema mais preciso de partituras para pessoas cegas.
Ainda há um caminho a seguir até este sistema estar disponível ao mundo, mas,
segundo a pianista, com este sistema há muito mais pormenor na leitura das
partituras em relação ao tradicional método em braille.
Um casal de desempregados. Dois filhos com sete e cinco anos de idade. E apenas
419 euros para dar conta de todas as despesas mensais.
É neste sufoco que vivem Paulo e Marisa Leitão, ambos cegos que, no final de
junho, vão perder o único rendimento do agregado familiar, o subsídio de
desemprego da mulher.
Na semana passada, a família decidiu – por sugestão de uma amiga próxima –
partilhar a sua situação nas redes sociais. Através de um curto texto, publicado
no facebook dos dois cônjuges, expõem as dificuldades e a angústia de quem,
daqui a menos de meio ano, não terá qualquer tipo de rendimento.
Ainda que tenham colocado essa possibilidade, decidiram não divulgar o seu NIB,
de forma a que fique claro que a intenção passa apenas por encontrar trabalho.
Já ouviram falar na aplicação Be My Eyes? Já são utilizadores? Esta app permite
que um utilizador com deficiência visual, através de videochamada, possa
solicitar assistência e a aplicação irá procurar alguém online e disponível para
ajudar. Os pedidos de ajuda podem ir desde a identificação do prazo de validade
num produto, à distinção entre duas embalagens idênticas ou a conhecer o nome de
uma rua...
Organizações de pessoas com deficiência visual
unidas com a União de Cegos de Língua Portuguesa
Desde o dia 15 de dezembro de 2014, as pessoas com deficiência visual dos países
de língua oficial portuguesa passaram a falar a uma só voz, com a constituição
da União de Cegos de Língua Portuguesa (UCLP).
Criar uma organização internacional que reúna todas as associações de pessoas
com deficiência visual dos países de língua oficial portuguesa era uma ambição
antiga. Ana Sofia Antunes, Presidente da Direção Nacional da ACAPO, que durante
um mandato de quatro anos presidirá também a recém-criada UCLP, aponta algumas
reivindicações que marcarão a agenda de trabalho da organização: “a uma só voz
reivindicaremos a uniformização do código Braille
para a língua portuguesa e a ratificação do Tratado de Marraquexe, que visa
facilitar às pessoas com deficiência visual o acesso e a livre circulação das
obras publicadas, resolvendo o problema da escassez de livros”.
A constituição da UCLP decorreu durante a conferência internacional «Cooperar em
Português -O Papel das Organizações Tiflológicas dos Países da CPLP na Definição
e na Concretização de um Futuro Inclusivo».
Participaram nesta conferência internacional representantes de cada uma das
organizações que constituem a UCLP (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe), com exceção de Timor-Leste, membros
da Organização Nacional de Cegos Espanhóis (ONCE), da União Latino-americana de
Cegos (ULAC), da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), da União das
Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), do Gabinete de Conselheiros
Políticos do Presidente da Comissão Europeia e diversos especialistas na área
social. A Conferência, organizada em parceria com a Assembleia da República (AR)
CPLP e ONCE, decorreu no auditório do edifício novo da AR.
Surdo-cegueira, síndrome de Cornélia de Lange e hiperactividade são as
incapacidades. Não as crianças.
A colecção Meninos Especiais, da Associação
Pais em Rede, tem três novos títulos: O Mundo de Carolina (texto de Teolinda
Gersão e ilustração de Carolina Arbués Moreira), Martim, o Menino assim (José
Luís Peixoto e Vasco Gargalo) e À Velocidade do Pensamento (Afonso Cruz e Marta
Leite).
“Olá, sou a Carolina! Tenho treze anos. Esta é a minha irmã Joana. E esta
é a minha mãe. Toco no ombro delas e no teu, para te dizer isso.” Assim começa O
Mundo de Carolina. Mais adiante, há-de ficar registado: “Eu não vejo nem ouço.
Mas percebo tudo” (pág. 3).
Para a escritora, esta experiência “foi uma lição de vida”, diz ao PÚBLICO.
“Encontrei-me com a Carolina e a família, para perceber como interagiam, e
fiquei comovida, impressionada.”
Teolinda escreve, pela voz da menina:
“A minha mãe percebe tudo o que eu digo, porque eu tenho língua e falo, só
que não são palavras. Mas ela entende tudo, mesmo sem palavras. E aprendeu todos
os gestos para tocar em mim e falar comigo, os mesmos gestos que eu aprendi na
escola. Sabes que ela me adoptou, quando eu era pequena? Sou filha do seu
coração.”
Teolinda diz, pela própria voz: “Eu quis criar uma história positiva no livro. A
ligação à família, a importância da relação com o cão, o Tico. É tudo verdade: a
avó, o pai, que vive noutra casa, a irmã, os abraços, a alegria e a
sensibilidade. Só o episódio do incêndio é que é ficção.”
A escritora imaginou a criança a salvar a família de um incêndio. “(…) acordei
porque senti um cheiro horrível a gás. Comecei a tossir e levantei-me e o Tico
saltou logo e foi comigo acordar a minha mãe. Corremos todos, a tossir, para a
casa dos vizinhos e telefonámos aos bombeiros. Havia uma fuga de gás em nossa
casa, na cozinha, e teríamos morrido se eu não tivesse acordado” (pág. 18).
Heroína no lado de lá e de cá das páginas – foi isso que Teolinda Gersão quis
transmitir neste novo livro editado pela Associação Pais em Rede.
Dos três títulos iniciais da colecção foram vendidos 7500 exemplares: Um
Detetive em Cadeira de Rodas (texto de Luísa Ducla Soares e ilustração de Ana
Ferreira), Um Mundo só Meu (Alice Vieira e Paulo Guerreiro), É Bom Ter Amigos
(Luísa Beltrão e Tânia Bailão Lopes).
Mundo sensorial e feliz
Teolinda Gersão diz ter tomado consciência de que “as diferenças são menores do
que as igualdades” entre estas crianças especiais e nós. “Continuamos a ser
muito egoístas e consumistas. Mas os grandes valores são as pessoas e os
afectos. Andamos esquecidos do que é essencial”, diz a escritora, e realça “a
alegria, generosidade e capacidade de entrega da mãe de Carolina e de Joana”.
Ambas adoptadas. “Helena Tomás é uma pessoa admirável.”
Ficou também com grande admiração por aquelas crianças, “que têm uma enorme
vontade de viver e habitam num mundo muito sensorial e feliz”. Carolina não
consegue articular palavras, mas já aprendeu a ler em braille e a usar a língua
gestual portuguesa. É assim que comunica com o mundo.
A autora lembra que “integrar, ajudar, valorizar estas famílias faz parte do
exercício pleno de cidadania da parte de quem, aparentemente, não tem
incapacidades”.
Ilustrar para quem não vê
Para Carolina Arbués Moreira, foi grande o desafio de ilustrar as palavras de
Teolinda e o universo de surdo-cegueira da jovem (e sua homónima) Carolina. O
tempo era pouco e a responsabilidade muita. “Encontrei-me com ela, junto da sua
família na Casa do Artista, e conversei bastante com a mãe, Helena (enquanto a
irmã, Joana, tinha uma aula de dança). Contou-me as imensas coisas que a
Carolina consegue fazer sozinha: torradas, pôr a mesa, vestir-se, tomar banho”,
descreve ao PÚBLICO com entusiasmo. Elogia ainda o bom humor da menina e “a
vontade de comunicar, de conhecer, de rir!”.
A ilustradora escolheu desenhar a carvão e posteriormente digitalizar e editar
as imagens. Tentou ir ao encontro das necessidades da jovem. “Optei por não
representar as figuras realisticamente, sugerindo uma sensação mais palpável (e
talvez ambígua) sobre estas. Isto desloca-nos, distorce a noção de espaço e
obriga-nos a desvendar, por entre sobreposições e texturas, o que é cada objecto
e para que serve. Tal como a Carolina tem de fazer”, explica.
Com o apoio do Instituto Helen Keller, conseguiu que se fizesse uma edição
especial, com o texto em braille e os desenhos impressos em relevo. “A estrela
do livro não iria conseguir lê-lo sem esta solução.” Uma ideia que surpreendeu
todos no dia do lançamento, 5 de Dezembro, no Museu da Electricidade, em Lisboa.
Mas a menina não ficou lá muito satisfeita por aparecer de olhos fechados “Eu
não sou cega”, disse à mãe, Helena Tomás, que nos revela: “Ela continua a achar
que não é cega. E também diz que não é surda. Quando sente vibrações, diz que
está a ouvir.”
Com todas as suas limitações, “a Carolina sempre tenta dar a volta aos
problemas”, prossegue a mãe da menina. Adoptou-a quando esta tinha cerca de dois
anos e meio. Agora, tem 14.
Só um Natal a ver e ouvir
“Já se sabia que iria ter de fazer um transplante renal e sujeitar-se a diálise
peritoneal. Tudo isso estava programado, não era impeditivo [da adopção]”,
começa a contar. E continua, numa voz calma: “Quando ela ficou bastante doente,
precisamente durante a colocação do catéter para fazer a diálise peritoneal,
estava há cerca de quatro, cinco meses connosco. As coisas não correram muito
bem e ela ficou no SO. Foi aí, suponho, que apanhou o tal vírus [que desencadeou
a surdo-cegueira].” Tinha perto de três anos e estava ainda a decorrer o
processo de adopção.
“Nesse ano, passados três/quatro meses, ela deixou de ver e de ouvir, foi
gradual, mas rápido. Acabou por passar só o primeiro Natal connosco a ver e a
ouvir”, recorda Helena, 52 anos e assistente comercial. A partir daí foi uma
aprendizagem contínua, “inicialmente muito complicada, porque ela continuava a
falar, mas não nos ouvia nem via, nós ainda não sabíamos como chegar até ela”.
Quando Carolina entrou para a escola que ainda hoje frequenta, a António Aurélio
da Costa Ferreira, em Lisboa, a comunicação voltou a ser possível. Tinha quatro
anos. “É uma escola pública e pertence à Casa Pia, é uma ferramenta fundamental
para a minha filha.”
Crianças, jovens e adultos frequentam a António Aurélio. “Para além de outras
problemáticas e deficiências, está vocacionada para a surdo-cegueira. Não tem o
ensino regular, são aprendizagens adaptadas. Nesta fase, já iniciou o braille e
tem outras actividades: natação, snuzlan, ateliers de pintura, de culinária. Tem
um leque de actividades adaptadas para este tipo de crianças”, descreve, para
concluir: “A Carolina gosta muito de lá estar.”
Sentido de justiça
Helena tem outra filha, a Joana. É mais nova, tem 11 anos e foi adoptada quando
a Carolina tinha cinco. “É muito comunicativa, muito curiosa. Está numa escola
regular, mas tem dificuldades de aprendizagem, défice de atenção e um pouco de
hiperactividade. Às vezes, não é fácil lidar com ela”, diz.
A relação entre as irmãs é igual a tantas outras: “Tão depressa estão aos
beijinhos como às turras. São sobretudo as invasões de espaço que motivam os
conflitos. Mas são inseparáveis.” A Joana já “fala por gestos” com a irmã, mas,
como é muito “acelerada”, a mãe tem por vezes de fazer “tradução simultânea”.
Helena Tomás enaltece o sentido de justiça de Carolina e a sua percepção do
espaço e, sobretudo, do tempo. “Tem uma noção exacta dos dias, das semanas, dos
fins-de-semana, até quase ao pormenor das horas.” E conta um episódio recente:
“Estava numa aula de braille e disse à professora que o tempo tinha acabado. Ela
tinha um bloco de 45 minutos. A professora olhou para o relógio e disse: ‘Ok.
Realmente acabou o tempo’.”
Carolina já recebeu uma medalha de remo e, “há dois anos, ganhou um prémio de
mérito pela independência e competências”. Com o dinheiro, quis comprar um
relógio em braille. “Ela é super-inteligente e explora todas as suas
capacidades”, diz a mãe, com orgulho contido.
É sempre possível comunicar
Desde há dois anos que, de 15 em 15 dias, “as meninas passam o fim-de-semana com
o pai e alguns dias de férias, a avó também dá um apoio”. Helena Tomás diz que
voltaria a fazer tudo. Não se arrepende das decisões que tomou. “Nunca tive
qualquer depressão à conta de todas as questões que foram acontecendo. Uma coisa
é ficar triste e angustiada por não conseguir resolver no imediato determinadas
coisas, mas isso acontece com qualquer criança. É complicado, um pouco
trabalhoso e uma responsabilidade muito grande. Mas acho que nunca me vou
arrepender.”
Carolina “está toda feliz porque tem um livro com o nome dela”. Helena diz
também gostar do livro: “É importante e bastante interessante para o público a
que se dirige. Para as crianças conhecerem outras deficiências, que não assim
tão comuns, como a surdo-cegueira. E para perceberem como é sempre possível
comunicar, porque se trata mais de uma questão de comunicação, mesmo sem
sentidos dos quais quase todos usufruímos.”
Talvez preferisse que O Mundo de Carolina tivesse mais histórias da filha: “Mas
teria de ser um livro bem maior. No todo, ficou bem.”
A importância da música
Martim, o Menino assim tem a assinatura de José Luís Peixoto, que quis, com este
texto, “homenagear” o rapaz. O autor disse ao PÚBLICO que pretendeu “celebrar o
Martim e tudo o que ele traz à vida das pessoas que lhe são próximas”. Assim,
deu-lhe “o palco” e transformou-o “numa estrela”.
Depois de alguma timidez inicial no contacto entre os dois – “senti-me numa
espécie de blind dating, não sabia o que me esperava, ia conhecer uma família
inteira” –, a cordialidade passou à cumplicidade. “Eu também dancei e pintei com
ele”, conta. “No quarto do Martim há uma parede para se desenhar com giz, e ele
mistura dança e desenho. A música é muito importante” para o menino.
No livro (e fora dele), Martim é assim: “Agora, enquanto estamos aqui a falar, o
Martim está a dançar. Aponta para um lado, aponta para o outro, dá passos para a
frente e para trás. Roda a cintura, abana a cabeça, sabe bem o que faz” (pág.
2).
José Luís Peixoto ficou impressionado com a resposta dos pais do rapaz perante
as especificidades que a síndrome de Cornélia de Lange exige. “É impressionante
o trabalho deles, os enormes desafios a que dão resposta no dia-a-dia. Eu também
tenho filhos, mas sem necessidades especiais, e esta experiência fez-me
reequacionar as queixas” à volta do exercício da paternidade.
O autor gostou muito que as ilustrações (de Vasco Gargalo) espelhassem o rosto e
alegria de Martim.
Torrente de pensamentos
Para Afonso Cruz, que escreveu À Velocidade do Pensamento, o contacto com
Cláudia também foi uma “excelente e gratificante experiência”. O autor diz ter
sido bem aceite pela menina e ter tentado centrar-se nos gostos dela. “Daí o
básquete”, conta. “Depois, quis mostrar esta coisa torrencial de passar de um
pensamento para outro”, próprio da hiperactividade e que muito bem descreve na
história, que decorre num jogo daquela modalidade desportiva. “(…) Para que lado
é que tenho de correr? Um apito, o árbitro apitou, o que é aquilo na bancada?,
parece um animal, não, é um barrete que parece um cão, só lhe falta ladrar. Os
cães têm um grande olfacto e isso fascina-me, apesar de eu, passam-me a bola,
sentir que, perco a bola, é aborrecido levá-los à rua, mesmo sabendo que são
animais espectaculares” (págs. 11-12).
O autor diz ao PÚBLICO: “Pode até parecer invejável a cabeça conseguir vaguear
por tantas coisas em pouco tempo, mas é um problema.” E exemplifica: “Querer
voltar a casa e ir parar não se sabe onde.” Mas, tal como Teolinda Gersão, o
escritor quis mostrar no livro o lado positivo de tudo isto: “Ouço chamarem-me
outra vez, recebo a bola e encesto. Três pontos”, (pág. 20).
Esta autonomia é de tal forma valorizada que outros museus estão a contactar
o Centro Cultural Casapiano para tentar disponibilizar uma aplicação semelhante
Os surdos e cegos podem "ouvir" e "ver" o Centro Cultural Casapiano através de
uma aplicação pioneira desenvolvida por professores e alunos da Casa Pia que dá
autonomia a estes visitantes e está a receber o interesse de outros museus.
No caso de um visitante surdo, este recebe no início da visita um IPAD (tablet)
com a aplicação, através da qual pode ver a explicação da peça que quer conhecer
na sua língua: a gestual.
Uma das vantagens reside no facto de ser uma pessoa surda a traduzir o texto, o
que torna a comunicação mais "acessível", como explicou Paulo Vaz Carvalho,
especialista em língua gestual e professor no Centro de Educação e
Desenvolvimento Jacob Rodrigues Pereira.
Este docente destaca o pioneirismo desta aplicação, uma vez que permite uma
total autonomia a um visitante surdo.
"Nos outros museus com língua gestual, os visitantes têm de se dirigir a um
local específico e obtêm uma explicação generalista da instituição. A aplicação,
feita por um nativo da língua, permite ao visitante surdo passear livremente
pelo museu, voltar às obras sempre que queira", disse.
Esta autonomia é de tal forma valorizada que outros museus estão a contactar o
Centro Cultural Casapiano para tentar disponibilizar uma aplicação semelhante.
Para Paulo Vaz Carvalho, a grande vantagem deste projecto resulta dos seus
autores serem surdos que trabalham para surdos.
"Somos a melhor turma de surdos do país", disse, sublinhando que alunos e
professores do Centro de Educação e Desenvolvimento Jacob Rodrigues Pereira
foram os autores do projecto e, simultaneamente, as suas "cobaias".
Paulo Vaz Carvalho disse mesmo que vários museus têm manifestado interesse nesta
aplicação, destacando a sua inovação.
Também os cegos podem, através deste projecto, intitulado
VOS (Ver Ouvir e Sentir), conhecer sensações
únicas perante uma obra de arte, uma vez que podem tocar algumas peças.
Ao iniciar a exposição, cujo itinerário está indicado no chão (linhas guia), o
visitante cego recebe um livro com a explicação das obras na língua escrita e
também em braille.
Nesse livro, estão indicadas as obras que podem ser tocadas, e constam ainda
imagens em relevo tácteis que visam dar uma ideia dos quadros a quem não os pode
ver.
Sandra Barbosa, docente no Centro de Educação e Desenvolvimento Aurélio da Costa
Ferreira, da Casa Pia de Lisboa, disse à Lusa que a ideia é pioneira e está
ainda a dar os primeiros passos, mas que tem surpreendido positivamente estes
visitantes, que, até agora, têm sido alunos e professores da instituição.
João Louro, director do Centro Cultural Casapiano e coordenador do projecto,
disse à Lusa que não fazia sentido uma instituição como a Casa Pia, com elevado
historial de respostas para cegos e surdos, que visam sempre a sua autonomia,
não disponibilizar um instrumento que permita a estes visitantes usufruírem do
espaço livremente.
"A visita pode começar logo em casa, pois, no caso dos surdos, a aplicação pode
ser descarregada gratuitamente e o visitante ir desde logo escolhendo o que mais
quer ver", adiantou.
Também a directora da instituição, Cristina Fangueiro, ressalvou o papel da Casa
Pia nas deficiências sensoriais (surdez e cegueira), classificando o dia de hoje
como "muito especial".
Antes da apresentação da aplicação, através de professores e alunos cegos e
surdos, a instituição partilhou a história do Mundo de Carolina, um livro da
autoria de Teolinda Gersão, inspirado numa aluna surdocega da Casa Pia de
Lisboa, que esteve presente na iniciativa.
ESTAÇÃO
VIANA SHOPPING DÁ A CONHECER SISTEMA BRAILLE
ATRAVÉS DA INICIATIVA “SHOPPING PONTO A PONTO”
GERSON INGRÊS
14 Janeiro 2015
LISBOA – No âmbito das comemorações do Dia
Mundial do Braille e em parceria com a Associação Íris Inclusiva, o
Estação Viana Shopping recebe uma pequena Exposição, intitulada
“Shopping ponto a ponto”, iniciativa através da qual se pretende dar a
conhecer o sistema de leitura e escrita Braille, sensibilizar o público
em geral para a temática da inclusão social das pessoas com deficiência
visual e proporcionar um contacto com algumas ferramentas e materiais
associados à utilização do referido sistema.
Esta mostra estará patente até dia 19 de Janeiro, na Praça Central (piso
1). Nos dias 17 e 18 de janeiro, entre as 15H00 e as 17H30m, serão
dinamizadas atividades relacionadas com a temática, permitindo um
contacto mais direto e pedagógico com os materiais expostos.
Exposição sobre Braille no Museu da Imprensa de Fafe
O Museu da Imprensa de Fafe acolhe, durante o mês de Janeiro, uma
exposição dedicada ao Braille.
Subordinada ao tema “Janeiro mês de Louis Braille”, a exposição é a
primeira de um conjunto de atividades previstas no âmbito do protocolo
de colaboração entre a Câmara Municipal de Fafe e a ACAPO (Associação de
Cegos e Ambliopes de Portugal).
Para o próximo dia 26 de janeiro, está agendada uma tertúlia de “Poesia
em Braille”, na Casa da Cultura, às 15H00.
Estudo avaliou acessibilidade de 954 sites de escolas públicas e
concluiu que apenas 1% cumpre as normas.
Ter um site acessível significa permitir que todos, incluindo as pessoas
com deficiência, sejam capazes de aceder a ele. E 15 anos depois da
criação de uma lei que determina a existência dessa mesma acessibilidade
online, um estudo da Universidade Portucalense chumba as escolas
públicas lusas.
A análise feita a 954 sites conclui que apenas 1% cumpre as normas de
acessibilidade. Dados que, diz Victor Henriques, autor do estudo, são
pouco «encorajadores».
Um olhar mais atento aos conteúdos de sites de 305 escolas da Direção
Regional de Educação do Norte, mostra mesmo que «mais de 48% dos sites
das escolas não apresentam a sua oferta formativa e mais de 57% não
mostram o seu plano de estudos».
No dia 4 de Janeiro comemora-se o Dia Mundial do Braille, um sistema de
escrita e de leitura desenvolvido por Louis Braille que, a partir do
tato, facilita, entre outros objetivos, a inclusão das pessoas cegas,
permitindo que estas desenvolvam um vasto número de atividades
académicas, culturais e profissionais.
O braille é constituído por 64 sinais, gravados em relevo no papel,
obtidos pela combinação sistemática de seis pontos que, na sua forma
fundamental, se agrupam em duas filas verticais e justapostas de três
pontos, à imagem de uma sena de dominó ao alto.
Cada sinal não excede o campo táctil e pode ser identificado com
rapidez, pois, pela sua forma, adapta-se exatamente à polpa do dedo.
Em Portugal, existe o Núcleo para o Braille e Meios Complementares de
Leitura, que funciona no âmbito do Instituto Nacional para a
Reabilitação, I. P.
Este núcleo visa, por um lado, garantir a obtenção de padrões elevados
de qualidade quanto à concepção, uso, aplicação, modalidades de produção
e ensino do sistema braille e meios complementares de leitura para
pessoas cegas; sendo que, por outro lado, pretende avaliar e controlar o
sistema braille e os meios complementares de leitura.
O Dia Mundial do Braille consagra os princípios da dignidade, autonomia
individual, liberdade de escolha e independência presentes na Convenção
sobre os Direitos Humanos das Pessoas com Deficiência.
Comemorações Dia Mundial do Braille 2015
No âmbito das Comemorações do Dia Mundial do Braille 2015, o Instituto
Nacional para a Reabilitação, INR, I.P., e o Núcleo para o Braille e
Meios Complementares de Leitura realizam um evento sob o tema “O Braille
e os Seus Suportes Alternativos”, no próximo dia 6 de janeiro,
terça-feira, às 15horas, no Auditório do INR, I.P.
No âmbito da 1.ª edição do Prémio Concelho Mais Acessível, o Instituto
Nacional para a Reabilitação (INR), I.P. divulga a lista dos três
primeiros classificados de cada categoria.
Categoria I - Edificado (Propriedade Municipal) /
Espaço Público
Beja - Projeto Integrado de
Beneficiação da Baixa de Beja;
Ílhavo - Qualificação Urbana do Casco
Antigo da Cidade de Ílhavo;
Lousã - Lousã Acessível.
Categoria II - Lazer/ Património/ Turismo
Barcelos - Torre Medieval;
Batalha - Museu da Comunidade Concelhia
da Batalha;
Lousã - Lousã Acessível.
Categoria III - Transportes/ Comunicação/
Tecnologia
A escola Gracemor Elementary School, no Kansas, EUA, está a ser alvo de
duras críticas. Em causa está o castigo que foi aplicado a Dakota
Nafzinger. Este de menino de 8 anos nasceu com uma doença chamada
Anoftalmia Bilateral. Ou seja, Dakota nasceu sem os dois olhos.
A bengala que usava – que, segundo o site da Fox, era propriedade da
escola – foi lhe retirada depois de alegadamente ter batido noutra
criança no autocarro da escola.
Para a substituir, a escola deu-lhe um rolo velho usado para fazer
hidroginástica.
“Ele já passou por tanto. Porque é que alguém faria uma coisa destas?
Porque é que lhe tiraram aquilo que nós usamos todos os dias? [A
bengala] são os seus olhos”, disse a mãe de Dakota à Fox, mostrando o
descontentamento perante a conduta da escola.
O projecto “Livros para os sentidos, sentido para o livro”,
iniciado por José Guerra, na Biblioteca Municipal de Coimbra, em Janeiro
de 2011, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, já garantiu a
gravação digital em voz humana, de 126 audiolivros, distribuídos entre
histórias destinadas a crianças e ficção dirigida a um público
jovem-adulto e adulto.
Estas obras podem ser pedidas, sem
encargos, por pessoas portadoras de deficiência visual, para serem
ouvidas nos seus leitores de MP3, computadores ou telemóveis.