Diagnóstico da
Inclusão
Escolar
na Grande Florianópolis

Aluno cego e professora exploram
um globo terrestre em relevo
- xilogravura francesa de 1897 -
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INTRODUÇÃO
| Formulação da situação
problema; Questionamentos de
pesquisa;
Objectivos da pesquisa; Justificativa do estudo |
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Há três décadas se vem
ensaiando a inclusão
escolar no Brasil.
Actualmente o que se
observa são pressões
sociais quanto à
inclusão
escolar e a abertura de
oportunidades para
pessoas “deficientes”,
seja na
escola regular ou no
mercado de trabalho. No
contexto brasileiro, há uma série de leis que
procuram assegurar
direitos às pessoas com deficiência: a
Constituição Federal de
1988 garante que “todos
são
iguais perante a lei,
sem distinção de
qualquer natureza (...)”
(BRASIL,
1988) e a LDBEN ― Lei de
Diretrizes e Bases da
Educação Nacional de
1996 proclama que toda
criança tem direito à
educação (BRASIL,
1996). No entanto, a
educação sempre
apresentou um carácter excludente, e diante da
possibilidade de todos
os cidadãos brasileiros terem direito à
educação, a escola é
levada à necessidade de
se
reestruturar. Aceitar
todos na escola ― uma
escola com histórico
selectivo ― de
facto não era e não
tem sido algo simples e
fácil.
Durante minhas
experiências docentes,
somadas a leituras e
escutas sobre inclusão
escolar, deparei-me
diversas vezes com
indagações de
professores (e inclusive
futuros professores) que desacreditavam que
estudantes cegos
possuíam potencial para acompanhar a turma, ou
mesmo poder realmente
concluir o ensino
médio e ingressar na
universidade como
qualquer outro
estudante. Em algumas salas de aula
os estudantes cegos
podem ser
resultado do que se
conhece na psicologia
educacional como efeito “Pigmaleão”. O efeito
“pigmaleão” trata das
consequências das
expectativas dos
pesquisadores sobre suas
investigações (FLORES MENDOZA, NASCIMENTO e CASTILHO,
2002, p.20), ou seja,
que
inconscientemente os
pesquisadores
trabalhariam e
conduziriam suas
investigações em busca
dos resultados por eles
esperados. Essa ideia
foi
aplicada e testada no
ensino em uma escola
nova-iorquina que serviu
de
palco para realização da
pesquisa. Nesta escola
os professores
receberam a “notícia” de
que entre seus
estudantes estariam
presentes
alguns estudantes
excepcionais, com índice
de inteligência acima do normal. Evidentemente
essa informação criou
expectativas que
contribuíram para que o
comportamento dos
professores e os olhares destinados aos
estudantes fossem
“inconscientemente”
alterados. A
pesquisa demonstrou que
se as expectativas dos
professores forem
positivas, então seus
estudantes têm bons
desempenhos; e se, ao
contrário, elas forem
negativas, os estudantes
apresentam baixo
rendimento.
Há uma falsa concepção
de que estudantes com
necessidades
educacionais especiais ― NEE não podem ou não
conseguem aprender
como os demais. No que
diz respeito à cegueira,
os estudantes
apresentam a maioria dos
requisitos necessários
para acompanhar a
turma. No entanto, o
descrédito de
professores em relação a
estudantes
com cegueira muitas
vezes é agravado pelo
desconhecimento em
psicologia cognitiva e
no que diz respeito à
própria cegueira e suas implicações. O reflexo
deste desconhecimento da
escola e dos
professores pode vir a
afirmar, inclusive,
dificuldades
metodológicas
por parte dos
educadores. Em minha trajetória como
educadora instigavam-me,
e ao mesmo
tempo preocupavam-me, as
dificuldades encontradas
pelos professores
em sala de aula, sejam
elas de cunho
pedagógico, político,
cognitivo ou
emocional. No entanto,
ao longo dessas
experiências docentes,
percebia
que as indagações e
preocupações iam além do
ensino de geografia. Ao
leccionar em 2007 fui
surpreendida pelo dilema
da educação inclusiva. Crianças com autismo,
síndrome de Down e
deficiência mental em
sala
de aula tornaram-se
provocações suficientes
para que eu buscasse
repensar o “outro” e a
minha prática educativa.
O convívio com
estudantes com NEE em
sala de aula foi um
primeiro despertar: a professora de geografia
precisava aprender a
aprender, e aprender a ensinar! Ao lado disso,
o anseio em investigar o
ensino de geografia
para estudantes com NEE
ficou ainda mais
manifesto a partir das
ricas
experiências que
vivenciei como
pesquisadora do CNPq ao
longo de três
anos na produção e
padronização de mapas
tácteis no Laboratório de Cartografia
Táctil e
Escolar ― LabTATE da
Universidade Federal de Santa Catarina. Ser
professora de geografia
e observar como os
estudantes cegos
compreendiam o espaço e
sua representação por
meio
de mapas e maquetes me
impulsionava na busca em
conhecer como
ocorria a mediação do
conhecimento geográfico
para estudantes com
cegueira. Nós que enxergamos
‘aprendemos’ a ver o
mundo diariamente.
Observamos uma paisagem
e identificamos a
profundidade dos objectos, suas perspectivas,
distâncias, tamanhos e
dimensões. Nós temos a percepção simultânea de
objectos enquanto que
para pessoas com
cegueira é habitual uma
percepção sequencial
através do tacto. Os
cegos
constroem seu mundo
através de percepções
auditivas, tácteis e
olfactivas
a partir de sequências
de impressões. Portanto,
o espaço para o cego é reduzido ao seu corpo,
diferentemente de nós
que reconhecemos o
espaço através do campo
visual. Diante desta
maneira “ocularcêntrica” de ver o mundo, o ensino
de geografia se torna
ainda mais peculiar
quanto à apresentação do
espaço geográfico, da
paisagem, a partir do momento que lança mão de
distintas e
diferenciadas
apresentações do
espaço além do sentido
da visão. Por outro lado, os
recursos
didáctico-pedagógicos
utilizados actualmente no ensino de
geografia no Brasil, por
exemplo, mostram-se
desfasados e ineficientes
quanto à acessibilidade
das informações para
pessoas cegas. Os mapas,
globos e atlas escolares
ainda são
direcionados a um
público que vê, o
que impossibilita o uso
dos
mesmos por uma
significativa parcela da
população, população
esta que
soma mais de 148 mil
brasileiros (IBGE,
2000). Nesta perspectiva, as
questões que motivaram o
estudo elucidam
algumas temáticas que me
acompanham e transpassam
minha vivência
como educadora, e com o
desenvolvimento da
pesquisa procurei
responder as seguintes
questões: Como se dá o processo
educativo de estudantes
com cegueira
matriculados em turmas
regulares de ensino na
região da Grande
Florianópolis? Como ocorre o processo
de formação dos
professores de
geografia e das salas de
recursos tendo em vista
a responsabilidade do papel destes
profissionais na
mediação do conhecimento
com estudantes
cegos? Qual tem sido o apoio
aos professores ― materiais
didáctico-pedagógicos, formação
continuada e/ou cursos
de capacitação,
disponibilidade de
pesquisa sobre educação
inclusiva, etc. ― durante o
período em que têm
atendido estudantes com
cegueira? Com a finalidade de
discutir e analisar
essas questões, a
pesquisa
foi desenvolvida na
perspectiva de
compreender como se dá o
processo
educativo de estudantes
com cegueira na região
da Grande Florianópolis e, mais especificamente
no que tange ao ensino
de Geografia. Para
tanto,
a investigação delineou
três objectivos
específicos: identificar
as
dificuldades dos
educadores quanto ao
ensino de geografia e a
inclusão
de estudantes com
cegueira em sala de
aula, analisar as actuais metodologias de ensino
realizadas por
professores considerando
as
tessituras do
conhecimento geográfico
e avaliar as condições
materiais
do trabalho desses
professores no que
concerne ao ensino de
geografia. A região da Grande
Florianópolis, composta
por 22 municípios, é
a região mais
representativa do estado
de Santa Catarina quanto
ao
número de pessoas cegas
e com deficiência
visual. Em decorrência
desta
peculiaridade, a região
foi escolhida para
realização da presente
pesquisa. O município de
Florianópolis é
procurado por esta
população
por diversos motivos,
além de ser a capital do
estado e oferecer
maiores
oportunidades de emprego
e educação, o município
de Florianópolis é
principalmente procurado
por sediar a Associação
Catarinense para a
Integração do Cego ― ACIC, o que faz com que
pessoas com cegueira e com deficiência visual o
escolham em busca de
apoio e recursos. Dentre os municípios da região
da Grande Florianópolis
que participaram da
pesquisa, foram
selecionados aqueles que
recebem em suas escolas matrículas de estudantes
cegos no ensino regular,
neste caso os
municípios de
Florianópolis e de São
José.
A partir da
identificação das
instituições de ensino,
foram
analisados os Centros de
Apoio Pedagógico para
Atendimento às
Pessoas com Deficiência
Visual ― CAP do
município de
Florianópolis e
da Fundação Catarinense
de Educação Especial ― FCEE e o centro de
apoio didáctico-pedagógico da
ACIC, os quais são
responsáveis em
fornecer materiais
didácticos adaptados e
acessíveis para o
ensino-aprendizagem do
estudante cego
matriculado no ensino
regular. Foram realizadas
entrevistas com os
sujeitos participantes
da
pesquisa: os professores
de geografia de turmas
com estudantes cegos, os
professores das salas
de recursos que realizam
o atendimento
educacional
especializado ― AEE e os
estudantes cegos do
ensino
fundamental e médio que
possuem em sua grade
curricular a disciplina de geografia. E por fim
foi realizada a análise
e discussão das
informações obtidas. A pesquisa se torna
significativa ao
investigar as questões suscitadas e por poder
contribuir nas
discussões quanto o
ensino para
estudantes cegos, na
medida em que se
compreende como se dá a aprendizagem geográfica
para pessoas desprovidas
da visão. Portanto,
pode ser importante para
orientar as práticas
educacionais de
professores
que se deparam com essa
realidade, bem como de
professores em
formação. A pesquisa pode ainda
contribuir para reflexão
de
questionamentos quanto à
inclusão de estudantes
cegos em turmas
regulares e os desafios
impostos ao ensino de
geografia, pois são
escassas as
bibliografias
brasileiras nesta
temática, contando
somente
com dois trabalhos na
Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
Nesse sentido, uma vez
que as peculiaridades
conceituais da geografia permeiam a natureza do
ensino-aprendizagem de
estudantes com
cegueira, a realização
desta pesquisa pode
basilar a elaboração de
novos
métodos, modelos e
teorias de ensino.
I. EM BUSCA DE UMA
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
1.1 A Educação Especial
e a Política de Educação
Inclusiva
O último século foi
marcado pela intensidade
de discursos que
defendem a democracia e
igualdade de direitos.
Lutas históricas de
movimentos sociais pela
garantia de
oportunidades para todos
foram
alvo de numerosos e
intensos debates: o
direito da mulher ao
voto, as
questões de género em
destaque, as acções de
acessibilidade, os
movimentos sindicais e
agrários, dentre outras.
A era actual, palco de
inúmeros actores sociais,
poderia ser
nomeada de diversas
formas, tantas quantas
as perspectivas nela
postas em cena, mas sob
o aspecto democrático em
prol da
igualdade, ela pode ser
batizada com a “era dos
direitos” (BRASIL,
2001). Dentre os direitos
garantidos à população,
a Constituição Federal brasileira proclama que
a educação é um direito
de todos (BRASIL,
1988). Entretanto,
apesar da proclamação do
princípio constitucional brasileiro de “Educação
para Todos”, o que se
percebe é uma lenta e gradual caminhada em
busca de uma real
democratização da
escolarização. A partir do momento que
a escola universaliza o
acesso a todas as
pessoas, pessoas
deficientes, que até
então eram excluídas
dessa
realidade, passam a ter
também uma oportunidade
de frequentar este
ambiente. No entanto, a
escola foi criada para
estudantes considerados “normais”, e neste caso,
os estudantes
deficientes não se
enquadravam
nos padrões
homogeneizadores da
escola. Dessa maneira,
para atender
esse público
“diferente”, foram
criadas as instituições
especiais de
educação. É preciso dizer que
existem diferentes
olhares sobre o conceito
de
deficiente, porém aqui
não temos o objectivo de
apresentar mudanças e mais mudanças de termos
eufemísticos para
designar a mesma coisa,
o
“outro”. Ao longo do
trabalho não estamos nos
referindo aos
indivíduos,
ou às suas deficiências
específicas, mas
procuramos através das
palavras
evidenciar as discussões
acerca da construção e
invenção do “outro”
deficiente. Diante de
diversas denominações
enunciadas em variadas bibliografias, estaremos
usando o termo
deficiente, e ao nos
referir
ao contexto educacional
buscaremos utilizar o
termo Necessidades
Educacionais Especiais ― NEE que foi
adoptado pelo
Congresso Mundial
sobre Necessidades
Educacionais Especiais,
realizado em Salamanca
em
junho de 1994. No Brasil, as primeiras
tentativas e propostas
de auxílio aos
deficientes deram-se no
século XIX com base nas
experiências
estadunidenses e
européias. A inserção de
políticas de educação
especial
fundamentou-se
principalmente a partir
da criação de dois
institutos: o
Imperial Instituto dos
Meninos Cegos (hoje,
Instituto Benjamin
Constant -IBC) criado em
1854, e o Imperial
Instituto dos Surdos-
Mudos (actualmente,
Instituto Nacional de
Educação de Surdos ― INES)
criado em 1857, ambos
instalados no Rio de
Janeiro. De acordo com Mazzotta
(BRASIL, 2001, p.27-28)
a Educação
Especial ― EE pode ser
encarada como uma
modalidade de educação escolar que
-
entende-se como um
processo educacional
definido em uma proposta
pedagógica,
assegurando um conjunto
de recursos e serviços educacionais especiais,
organizados
institucionalmente para
apoiar, complementar, suplementar e, em alguns
casos, substituir os
serviços educacionais
comuns, de modo a
garantir
a educação escolar e
promover o
desenvolvimento
das potencialidades dos
educandos que
apresentam NEE, em todos
os níveis, etapas e
modalidades de educação.
Observa-se, contudo, que
a EE foi criada como uma
medida
substitutiva ao ensino
comum, e que esse novo
modelo de ensino
selectivo foi fortemente
ancorado em um
pensamento
médico-terapêutico.
De acordo com Beyer
(2006), ao se analisar a
história da EE é
possível identificar a
presença de dois
paradigmas que norteiam
seus
parâmetros e acções: o
pensamento
médico-terapêutico (clínico-médico) e o pensamento
pedagógico-inclusivo (sistêmico).
Essas duas vertentes
de pensamento acabam por
conduzir a EE a viver um
momento de crise.
O pensamento
médico-terapêutico é
bastante criticado por
educadores,
já que esta linha
acredita que a criança
possui limitações
orgânicas e
funcionais que a impedem
de aprender. Contraposto
a este, o paradigma
pedagógico-inclusivo vê
toda criança como capaz
de aprender, desde
que encontre condições
pedagógicas e
psicossociais para tal
conquista.
Este último pensamento
foi muito influenciado,
principalmente, pelos
estudos de Vygotski. O
psicólogo russo
acreditava que “a
possibilidade
de transformação do
pensamento, da linguagem
e da própria
aprendizagem é muito
maior do que as mudanças
decorrentes dos
esforços terapêuticos na
recuperação sensorial,
motora ou até mesmo
comportamental da pessoa
com NEE” (BEYER, 2006,
p. 105).
A EE era a principal
referência em
atendimentos para
estudantes
com deficiências,
condutas típicas e altas
habilidades e ainda hoje apresenta um predomínio
de acções terapêuticas,
contudo, observa-se que discursos crescentes
apregoam seu papel
pedagógico como suporte
à
educação inclusiva.
Considera-se que os
paradigmas da EE
permeiam
quatro momentos
históricos: a exclusão
de estudantes com NEE do sistema escolar, o
atendimento especial na
escola, a integração
escolar e
a inclusão escolar. Contudo, vale salientar
que a integração e a
inclusão são
conceitos distintos. A
integração escolar e a
inclusão escolar são
conceitos que muitas
vezes aparecem de
maneira confusa e como sinónimos em discussões
sobre o tema, portanto,
é preciso apontar que a integração é uma
proposta diferente da
inclusão. De acordo com
Fávero,
Pantoja e Montoan (2007,
p. 37) na “ótica da
integração é a pessoa
com
deficiência que tem que
se adaptar à sociedade”,
à escola. Na inclusão escolar, não é o
estudante que se adapta
à escola, como acontecia
nas
práticas de integração,
mas sim a escola que,
“consciente de sua
função,
coloca-se à disposição
do aluno, tornando-se um
espaço inclusivo”
(BRASIL, 2001, p. 29).
Os primeiros registros
sobre a integração
escolar de alunos com NEE foram na década de
70, primeiramente na
Dinamarca, e em seguida na Itália e nos Estados
Unidos. No final da década de 80
e início da década de
90, as discussões
sobre exclusão social e
inclusão escolar ganham
terreno nas discussões internacionais (Apêndice
A). A inclusão escolar
passa a ser vista como um novo modelo de
actuação pedagógica a ser
almejado e instituído
pelas
reformas educacionais de
diversos países. Esses
anseios passam a
difundir-se
principalmente a partir
da realização de
encontros
internacionais na década
de 90, como a Declaração
Mundial sobre
Educação para Todos em
Jomtien, na Tailândia em
1990, e a
Conferência Mundial
sobre NEE, Acesso e
Qualidade em Salamanca,
na
Espanha em 1994. As tentativas de
realizar o atendimento
especial na escola
brasileira surgiram
principalmente na década
de 60 (Apêndice B). De acordo com Almeida
(2007a, p. 96) a Lei n.
4024/61 ― LDBEN de
20/12/1961 (BRASIL,
1961) em seus artigos 2
e 88 estabelecia que “a
educação é um direito de
todos e será dada no lar
e na escola, e que a e educação de excepcionais
deve, no que for
possível, enquadrar-se
no
sistema geral de ensino,
afim de integrá-los na
comunidade”.
Em 1969 foi aprovada no
Brasil uma nova
Constituição que
afirmava que o direito à
educação deve ser igual
a todos e que o ensino de 1º grau é obrigatório
para todos, dos sete aos
14 anos de idade, e
gratuito nos
estabelecimentos
públicos de ensino. Até
então, os
atendimentos para
estudantes com NEE no
Brasil eram realizados
em
escolas e classes
especiais. Somente em
1988, a nova
Constituição, em
seu Artigo 208, § III,
“estabelece por
princípio que o
atendimento aos
portadores de
deficiência deve ser
realizado
preferencialmente na
rede
regular de ensino”. A
partir de então, as leis
que procuram garantir direitos às pessoas
deficientes começam a
incidir em várias
instâncias:
direito à educação,
direito ao trabalho e
direito à
acessibilidade. Com a proclamação da inclusão
social, e principalmente
a escolar, as crianças com NEE ganharam mais um
aporte que incentivava a
integração no
sistema educacional
regular. Desde a década de 90 o
governo federal tem
fomentado um
conjunto de acções nas
várias áreas dos
serviços públicos como
parte do
que tem sido denominado
de “políticas de
inclusão social e
escolar”, o
Bolsa-Família, o
Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil e o Programa Educação
Inclusiva são alguns
exemplos desta política (KASSAR, 2006).
Foi a partir dessa
década que a frequência
de estudantes com
NEE na escola regular
ganhou mais aparato
governamental, uma vez que as crianças com NEE
passam a ser amparadas
pela Política Nacional de Educação Especial
criada em 1994 e pela
LDBEN de 1996. De
acordo com o artigo 86
da LDBEN (BRASIL, 1996)
os sistemas de
ensino assegurarão aos
educandos com NEE:
-
I ― Currículos, métodos,
técnicas, recursos
educativos e organização
específicos para
corresponder às suas
necessidades;
-
II ― Terminalidade
específica para aqueles
que não
possam atingir o nível
exigido para conclusão
do
ensino fundamental;
-
III ― Professores com
especialização adequada
em
nível médio ou superior,
para atendimento
especializado, bem como
professores do Ensino Regular capacitados para
a integração desses
educandos nas classes
comuns;
-
IV ― Educação especial
para o trabalho, visando
a
sua efectiva integração
na vida em sociedade, inclusive condições
adequadas para os que
não
revelem capacidade de
inserção no trabalho
competitivo, mediante
articulação com o
Sistema
de Formação
Técnico-Profissional, e
as áreas do
Trabalho e da
Assistência Social;
-
V ― Acesso igualitário
aos benefícios dos
programas sociais
suplementares
disponíveis para o nível de Ensino
Regular respectivo.
Em 2001 o Plano Nacional
de Educação estabelecia
objectivos e
metas para a educação de
pessoas com NEE. Em 2003
foi elaborado o
Plano Decenal para Todos
e a partir de 2004 o
Programa Educação
Inclusiva: Direito à
diversidade começou a
ser introduzido nos
municípios do país. Quanto ao Programa de
Educação Inclusiva, de
acordo com as
Diretrizes Nacionais
para Educação Especial
na Educação Básica
(BRASIL, 2001), o Brasil
fez opção pela
construção de um sistema educacional inclusivo ao
concordar e mostrar
consonância com os
postulados produzidos na
Tailândia e em
Salamanca. Dessa
maneira, actualmente, a legislação
brasileira posiciona-se
pela permanência de
estudantes com NEE,
preferencialmente, em
salas regulares de
ensino
com o suporte de
Atendimento Educacional
Especializado ― AEE. Diante deste contexto, a
defesa em prol da
Educação Inclusiva EI faz com que a EE passe
por um momento delicado.
Beyer (2006)
apregoa que as escolas
especiais tiveram sua
contribuição assim que criadas, já que o
sistema escolar formal
não atendia crianças
deficientes.
De facto, estas
instituições foram
integradoras, mas a
visão que se tem
actualmente é que a
escola especial segrega,
já que a política
educacional
proclama a inclusão. Portanto, desde a LDBEN,
as escolas estão sendo
“convocadas”
institucionalmente a
adequar-se à educação
inclusiva. A educação inclusiva é uma inovação
educacional que exige
desafios por parte da escola, gestores
educacionais,
professores, estudantes
e da própria
sociedade. Além de
investimentos e recursos
específicos para tal
realização, a escola
necessita responder “ao
desafio da valorização
da
diferença, ao desafio da
diversificação do
currículo, ao desafio do
planejamento educacional
e principalmente ao
desafio das heurísticas
de
ensino” (RODRIGUES,
2007, p. 33).
O Estado de Santa
Catarina é um dos
estados precursores no
que
concerne à EE e a EI,
eclodindo no cenário
nacional e internacional como referência de
políticas públicas
educacionais. De acordo
com a
Fundação Catarinense de
Educação Especial ― FCEE
(SANTA
CATARINA, 2002), diante
dos movimentos
internacionais e da
política
educacional brasileira
no final dos anos
cinquenta, as primeiras
ideias
sobre EE em Santa
Catarina floresceram em
1954, porém, somente em 1957 o atendimento
público em EE em Santa
Catarina teve início
oficialmente. Em 1962, com a criação
da Divisão de Ensino
Especial da
Secretaria da Educação,
deu-se um novo impulso
aos atendimentos da
EE, esse atendimento
expandindo-se para o
ensino suplectivo, para atendimentos aos
deficientes visuais e
auditivos. Em seguida,
em 1968,
foi criada a Fundação
Catarinense de Educação
Especial ― FCEE, objecto da Lei n. 4.156.
No ano seguinte, o
Conselho Estadual de
Educação estabeleceu, no art. 91 da Lei do
Sistema Estadual de
Ensino, nº 4.394/69, que
“a
educação de excepcionais
deve, no que for
possível, enquadrar-se
no
sistema geral de
educação, a fim de
integrá-los na
comunidade e,
conforme as deficiências
apresentadas, poderá ser
proporcionada em
classes anexas a
estabelecimentos comuns
ou em unidades
independentes”. Até então, as práticas
de EE realizadas com
estudantes com NEE
estavam bastante
atreladas ao modelo
clínico-terapêutico. As
políticas
em prol da EE e da EI em
Santa Catarina emergem
oficialmente a partir da década de 80, com a
criação e adopção dos
serviços na rede regular
de
ensino, com o propósito
de atender os estudantes
que estavam ainda, em sua grande maioria, nas
classes especiais. A
partir desse momento, a FCEE -que já no fim da
década de 70 vinha
desenvolvendo acções de implantação de serviços
de EE na rede regular de
ensino ― passou a ser considerada instituição
de referência no Brasil,
sendo requisitada a
divulgar suas
experiências e modelos
de atendimento
“integracionistas”
(SANTA CATARINA, 2002).
E foi em 1987, com a
reformulação do
sistema estadual de
ensino, que se garantiu
a efectivação da política
de
integração das pessoas
com NEE. Para o acesso e
permanência do
estudante na escola
regular foram propostos
serviços de EE: salas de recursos para cegos e
surdos, classes
especiais e salas de
apoio
pedagógico para
estudantes cujo processo
de ensino-aprendizagem apresentasse resultados
desfavoráveis (SANTA
CATARINA, 2002).
Em 1988 a experiência de
integração escolar de
pessoas com
NEE, em um nível mais
abrangente, se destaca
no país (SANTA
CATARINA, 2002).
Reafirmando as políticas
de EE, foi assinada a Portaria nº 011/87/SE,
que garantia o “acesso à
matrícula no ensino
regular aos estudantes
portadores de
deficiência”, e
estabelecia as
diretrizes de uma
política de educação em
Santa Catarina, tendo
como
objectivo geral
“assegurar matrículas a
toda criança na faixa
etária de 7 a
14 anos”. Porém, os serviços
oferecidos ainda estavam
pautados na EE. As
acções estatais em
direção à EI só
começaram a ganhar
expressividade
em 1994 com a
redefinição das
diretrizes para
estruturação e
funcionamento do serviço
de apoio pedagógico no
ensino fundamental
(1ª a 4ª série). Esse
documento estabelecia
que a escola, ao
constatar
terem se esgotado todas
as alternativas
pedagógicas no espaço de
sala
regular, poderia “propor
a estruturação do
Serviço de Apoio
Pedagógico, como forma
de atendimento
alternativo às crianças
com
NEE” (SANTA CATARINA,
1994, p. 13). Nota-se que
actualmente
os aparatos
constitucionais, federal
e
estadual, em prol da EI
são bastante
solidificados, mas será
que esse
conjunto de leis,
decretos, portarias,
assegura por si só o
direito à
educação do estudante
com NEE? Os problemas que abarcam
este tema não são tão
simples de se
resolver. Existe um
descompasso entre o que
se almeja e se propõe em lei, e a real
viabilidade operacional
das escolas públicas e
privadas. De
acordo com Fávero,
Pantoja e Mantoan
(2007), o que se vê na
realidade
como justificativa mais
forte para a exclusão de
crianças com NEE no
ensino regular é a
impossibilidade prática
da inclusão. Veiga-Neto (2001, p. 109) já
afirmava que apesar
das políticas de
inclusão terem sido
impostas pelo governo, a
inclusão acaba
esbarrando na
“resistência de muitos
educadores
conservadores”, e de
outro lado, enfrenta
dificuldades de “ordem
epistemológica ou mesmo
prática”, dificuldades
que permanecem ainda nos
dias de hoje. O
despreparo dos
profissionais da escola
― director,
coordenador pedagógico,
equipe de limpeza e
cozinha, auxiliares de
sala e principalmente
professores; a escassez
e as
defasagens de recursos
pedagógicos e até mesmo
físicos ― materiais de apoio, estrutura física
da escola, etc. ― são
algumas dessas
dificuldades.
1.2 O “outro” da
educação
A sociedade em cada
época é marcada por um
modo de produção
que traz consigo as
relações de poder e de
apropriação da natureza.
A
população estrutura-se
de acordo com essas
relações e faz com que tenha grande importância
nesta estruturação a
capacidade de
desenvolver determinado
tipo de ofício. No decorrer da história,
os indivíduos
classificados como
“deficientes” tentam se
encaixar nos padrões
considerados desejáveis
e
aceitáveis nos
diferentes momentos. Foi
assim no chamado mundo primitivo, no período
esclavagista, no período
feudal e assim é no
actual
sistema capitalista.
Independentemente do
momento histórico, as pessoas deficientes
sempre foram
estigmatizadas, vistas
pela sociedade
como um empecilho e
incómodo. Nos tempos
mais remotos, a
necessidade de se
estabelecer no grupo era
avaliada pela
competência de
executar determinadas
tarefas: caçar, plantar,
colher, cuidar de
crianças,
constituir família,
entre outras. Em grande
parte destes afazeres,
as
pessoas deficientes
provavelmente
encontravam inúmeros
obstáculos
para desenvolver tais
obrigações e estarem
assim contribuindo para
o
grupo. A exclusão gerada
pela incapacidade de
desenvolver determinada tarefa era uma espécie
de selecção natural, onde
os mais fortes
sobreviviam e os
debilitados eram
desprezados. No período esclavagista
a selecção passa a ser
ainda mais
excludente onde as duas
classes dominantes, o
clero e a nobreza,
estabeleciam as leis e
as executavam. Os
escravos eram
exclusivamente
força de trabalho. Dessa
maneira, o indivíduo
deficiente era visto na sociedade como
empecilho, pois não
“possuía” competência
para
desenvolver as funções
solicitadas nos
trabalhos quotidianos.
No período feudal, o
paradigma até então
vivido irá se reforçar com os dogmas cristãos.
A deficiência passa a
ser relacionada com o pecado e também com
castigos divinos. A
transição do feudalismo
para o capitalismo trouxe
profundas mudanças na
filosofia, na arte, na religião, na cultura e
principalmente no modo
de produção, nas
relações
materialistas e na forma
de pensar o homem. Como
afirma Bianchetti
(2001), o sistema
capitalista se impõe a
todas as outras formas
sociais de
vida e trabalho. Se na
Idade Média a diferença
estava associada ao
pecado, agora passa a
ser relacionada à
disfuncionalidade, o
corpo
passou a ser visto como
uma máquina, que deve
estar em perfeito
funcionamento para
operar.
Neste contexto, a
exigência do actual
mercado capitalista,
produtivo e consumista,
não é atendida por
pessoas “incapazes”,
“portadoras de
deficiências”. O “deus”
dos dias actuais se chama
capital,
e o pecado na religião
do capital é não ser
produtivo (BIANCHETTI, 2001, p. 39).
No entanto, podemos
encontrar em um homem de
negócios, a
quem uma lei obrigava
empregar em sua empresa
pessoas deficientes,
uma análise bastante
racional sobre o tema da
inclusão. Henry Ford
assim se expressa (DE
MASI e PALIERI, 2000, p.
16-17):
-
[...] “se devêssemos
assumir um surdo para um trabalho para o qual é
necessário ouvir, um
manco
onde é necessário
correr, eu desobedeceria
ao
Estado. O papel
empresarial não é fazer
caridade
cristã. Porém, posso
assumir tranquilamente a
um
cego para um emprego no
qual os olhos não são necessários”. E conta, a
seguir, a pesquisa que
fez
nos seus
estabelecimentos:
“Resultou que na
fábrica desenvolviam-se
7882 tarefas
diferentes”,
escreve. “Entre estas,
949 foram definidas como trabalho pesado, que
requeriam homens
robustos,
com uma perfeita
capacidade física,
portanto,
homens que, do ponto de
vista físico, não
tivessem praticamente
defeito algum; 338
tarefas
requeriam homens de
força e estatura física normal, as 3595 tarefas
que sobravam não
demandavam qualquer tipo
de esforço físico. As
actividades mais leves
sofreram uma segunda
classificação para
descobrir quantas dentre
elas
requeriam o uso de todas
as faculdades.
Descobriram que 670
podiam ser delegadas a homens sem pernas, 2637
a homens com uma
perna só, 2 a homens sem
braços, 715 a homens
com um só braço e 10
actividades poderiam ser realizadas por cegos.
E finaliza: “Isto
significa que a
indústria desenvolvida
pode
oferecer trabalho
assalariado a um número
mais elevado de homens-padrão do que aquele que
em geral se encontra em
qualquer comunidade
normal” (DE MASI e
PALIERI, 2000, p.17).
Nota-se, assim, que o
modelo de sociedade em
que vivemos não
aceita o diferente, e
que as normas sociais
estabelecidas são
produtos da
acção dos seres humanos
em situações construídas
historicamente, o que não quer dizer que
indivíduos deficientes
não podem adaptar-se ao contexto. Adaptam-se
sim, mas de forma
diferente, com
peculiaridades
no exercer da actividade,
seja ela uma profissão
ou simplesmente o ato de aprender.
Neste sentido, é preciso
-
compreender o discurso
da deficiência, para
logo
depois revelar que o
objecto desse discurso
não é a
pessoa que está em uma
cadeira de rodas ou
aquele que usa uma
prótese auditiva, ou
aquela
que não aprende segundo
o ritmo e a forma como a norma espera, senão os
processos históricos, culturais, sociais e
económicos que regulam e controlam a maneira pela
qual são pensados e
inventados os corpos, as
mentes, a linguagem, a sexualidade dos outros.
[...] A deficiência não
é
uma questão biológica,
mas uma retórica
cultural.
A deficiência não é um
problema dos deficientes e/ou de suas famílias
e/ou dos especialistas.
A
deficiência está
relacionada à ideia
mesma da
normalidade e à sua
historicidade (SKLIAR, 2003, p. 158).
Compreender a diferença
como algo produzido ao
longo do
processo sociocultural
da humanidade nos exime
de cair em armadilhas que discursam que é
preciso tolerar o
diferente, aceitar o
diferente,
respeitar o diferente.
Nesse sentido Silva
(2004, p.100) enfatiza
que
antes de tolerar,
respeitar e admitir a
diferença, é preciso
explicar como
ela é ativamente
produzida. É curioso observar que o
ser diferente passa
muitas vezes a ser
sinónimo de mau, daquilo
que não tenho e que não
gostaria que fizesse
parte de mim, é aquele
que funciona como um
“depositário de todos os males”, e ainda como o
“portador das falhas
sociais” (DUSCHATZKY e SKLIAR, 2001, p. 124). O
outro é, em síntese,
aquele espaço que não somos, que não desejamos
ser, que nunca fomos e
nunca seremos
(SKLIAR, 2003, p. 177).
Diante desta maneira de
pensar, somos levados a identificar a
deficiência no outro,
como se não fosse uma
questão
social e sim um problema
da diferença que estaria
em um outro
específico, em um outro
particular. É o que
Skliar (2003) chama de alteridade deficiente,
ou seja, uma expressão
que remete não ao
indivíduo ou ao grupo de
indivíduos deficientes
ou à sua deficiência
específica, mas à sua
invenção, à sua produção
como outro. As questões de
alteridade que abarcam
as diferenças estão
enraizadas desde a época
grega, conforme nos
mostra Brandão (1997)
ao se referir à
mitologia grega:
Procrusto possuía dois
leitos de ferro no
caminho entre Mégara e
Atenas, nos quais
estendia todos os
viajantes
que conseguia
aprisionar. Os leitos
possuíam medidas
padronizadas, os
prisioneiros que não se
encaixavam sofriam uma
intervenção: ou
amputavam-se os pés dos
que ultrapassavam a cama
pequena, ou
distendiam-se as pernas
dos que não preenchiam o
comprimento do leito
maior. O importante era
que todos estivessem no
padrão estabelecido.
O outro na sociedade é
olhado como um ser
incapaz dentro do
padrão normal, do padrão
de beleza, de consumo,
de conhecimento e de
“n” possibilidades.
Dessa maneira, as
retóricas da normalidade
e a
proibição da diferença
supõe unicamente afirmar
a mesmidade
(SKLIAR, 2003), ou seja,
repetir o mesmo ao invés
de compreender o
outro a partir de sua
identidade, suas
opiniões e seus desejos.
Ao depararmos com a
realidade actual
percebe-se que tudo
segue a
dinâmica da mesmidade,
por isso quando é
vivenciado o “diferente”
a
primeira reação é a
estranheza ou até mesmo
a indiferença e
exclusão.
Assim acontece às
pessoas deficientes: são
vistas como seres
diferentes
que não se encaixam no
considerado “padrão” ou
são classificadas como pessoas defeituosas
incapazes de contribuir
para os meios de
produção
capitalista. Esse olhar colonizador
sobre o outro pressupõe
que o
reconhecemos a partir de
nossos julgamentos e
concepções. É um outro que não enxergamos como
indivíduo, como ser, mas
a partir de únicas
marcas de identificação:
o cego, o surdo, o
louco, o aleijado, etc.
São
terminologias com
conotações pejorativas
que se referem ao
problema
de origem do indivíduo
como noções de
incapacidade. A
noção de incapacidade e
insuficiência criadas ao
outro nos levam a pensar
que, para que esse outro
esteja inserido na
normalidade social, é
preciso que ele esteja
curado, corrigido,
próximo do que se espera
como normal. [NOTA:
Foucault descreveu em
Os anormais (2001)
alguns ensaios sobre as
figuras de anormalidade
e o indivíduo a corrigir,
os quais podem
corresponder à imagem do
outro deficiente (VEIGANETO, 2001; SKLIAR, 2003).]
A estrutura educacional
brasileira está pautada
nessa concepção
colonial de reconhecer o
outro. Essa maneira
considera que alguns
detêm o conhecimento e
outros não sabem nada. A
prática educativa
baseada nessa concepção
é a que Paulo Freire
denomina “pedagogia
bancária”. A abordagem
de Paulo Freire (1999)
sobre a concepção da
educação como um
processo dialético,
reflete que não é
possível conceber que exista
alguém que sabe tudo e
alguém que nada sabe, alguém que somente
ensina e alguém que
somente aprende. Todos aqueles que estão
envolvidos no processo
educativo ensinam e
aprendem, transformam-se
(FREIRE, 1999, p. 52).
Todavia, quando se
tem o “outro” na
educação, essa concepção
se torna ainda mais
forte.
Sou incapaz de perceber
o outro a partir de sua
identidade, eu vejo o outro a partir de suas
diferenças, diferenças
essas que não estão
presentes em mim: “É
melhor ser igual a mim
do que ser igual a ele”, “coitadinho do cego que
não pode ver”, “ele
seria tão mais feliz se pudesse enxergar o mundo
como eu”. Colonizar o
outro é esperar que
ele seja como nós, que
fale e expresse como
falamos, que sinta e
veja
como vemos, que aprenda
no mesmo ritmo em que
aprendemos. É
esperar que o melhor
para o cego seria que
pudesse ver e aprender
como
os outros estudantes. O
que se pretende é “fazer
do outro um outro
parecido”, nas palavras
de Skliar (2003, p.
116). Não será esse um discurso que reafirma a
perversidade da
mesmidade e da
normalidade? [NOTA:
Para mais
esclarecimentos sobre as
discussões que vêem a
educação, e
principalmente a
educação especial, como
um campo disciplinar
colonial e colonizado,
ver trabalhos de Pérez De Lara (1998), Skliar
(1997, 1998, 2000),
McLaren, (1997) e Bhabha
(1992).]
Nos escritos de Oliver
Sacks, em específico o
livro a Ilha dos
daltónicos (SACKS, 1997,
p. 23), o autor
apresenta o escritor H. G.
Wells e seu conto
“A
terra dos cegos”. Neste
conto há um viajante que durante uma viagem pela
América do Sul se perde
e encontra por acaso
uma região onde só
viviam cegos. Ao chegar
a essa região o viajante de Wells a
princípio sente desprezo pelos cegos,
considerando-os
lamentáveis,
incapacitados ― mas logo
os papéis se invertem, e o viajante descobre que
é ele quem está sendo visto como demente,
sujeito a alucinações provocadas pelos órgãos
irritáveis e móveis de
seu
rosto (que os cegos, com
seus olhos atrofiados,
só
conseguem conceber como
uma fonte de ilusão). Tal conto remete ao
Ensaio sobre a Cegueira
de José Saramago
(1995), onde toda uma
população se torna cega
e, a única personagem que
vê não mais faz
parte do contexto, é ela
na verdade a estranha, a diferente, a
“deficiente”. Só existe sensação de
perda para aquele que
tinha algo e o
perdeu. Para o cego, a
cegueira não é uma perda
da visão, é uma
condição, que o faz
perceber o mundo de uma
maneira diferente
daqueles que vêem
[NOTA: Neste caso nos
referimos a cegos congênitos].
O deficiente não vive a
partir de sua
deficiência, mas a
partir do
desenvolvimento daquilo
que para ele
resulta ser um
equivalente funcional.
No caso dos cegos são
aguçados e
desenvolvidos
principalmente os
sentidos do tacto e da
audição. Quem de
nós que enxergamos
consegue perceber com
tanta destreza o mundo através das mãos como os
cegos? Ou talvez ter uma
memória auditiva e
factual tão aguçada? A
comparação ou indicação
do que é melhor ou
pior, enxergar ou não
enxergar, torna-se,
portanto, sem sentido.
Da
mesma maneira que a
comparação entre a
pessoa que vê e o daltónico também não faz
sentido. Enquanto o
primeiro vê diversas
nuances de cores, o
daltónico com visão
acromática não vê cores,
mas
reconhece na paisagem
uma variedade
indescritível de
texturas.
-
os cegos podem à sua
maneira, construir um mundo completo e
suficiente, ter uma
“identidade
cega” completa e nenhum
sentimento de
incapacidade ou
inadequação, e que o
“problema”
de sua cegueira e o
desejo de curá-la, por conseguinte, é nosso,
não deles” (DIDEROT
citado por SACKS, 1997,
p. 152).
As situações descritas
anteriormente evidenciam
que as ideias
sobre os estudantes
cegos no ensino regular
nada mais são do que
reflexos de uma
alteridade produto de um
processo psicossocial (SKLIAR, 2003). Este
cenário remete à
necessidade de
compreender as
razões e o processo
histórico da diferença,
pois torna possível
considerar
o outro como ele
simplesmente é, com suas
experiências e
significações,
sem estar atrelado a
rótulos que foram
estabelecidos
socialmente. Dessa maneira, os
olhares e expectativas
que recaem sobre os
estudantes cegos no
ensino regular devem ser
desmistificados quanto à
ideia de que estes
estudantes são incapazes
de aprender, ou que
devam
obedecer a um ritmo de
aprendizagem padrão, ou
que por não enxergarem não possuem condições de
ler textos, realizar
cálculos matemáticos, tocar e compreender um
mapa ou assistir a um filme.
II. O ENSINO DE
GEOGRAFIA PARA
ESTUDANTES COM
CEGUEIRA
2.1 O Ensino de
Geografia e a
representação do espaço geográfico
Há alguns anos,
aprendíamos na escola
que a geografia é a
ciência que estuda a
Terra. Etimologicamente
falando está correto:
Geo
significa Terra e grafia
estudo. Hoje é um pouco
diferente, os olhares à ciência foram ampliados.
Actualmente, os estudos
de geografia não se
limitam simplesmente ao
conhecimento do planeta
Terra, mas sim a
estabelecer relações
entre a sociedade e a
natureza com o objectivo
de
estudar, analisar e
tentar explicar o espaço
produzido pelo homem, ou seja, o espaço
geográfico. Compreender este espaço
nos permite actuar sobre
o mesmo, nos
faz reconhecer nosso
papel na transformação e
na construção deste
ambiente, e ainda mais,
nos faz perceber que
fazemos parte deste
espaço. Assim, o ensino
de geografia se torna
fundamental ao nos
possibilitar a
observação e compreensão
da realidade, do espaço.
É por
meio da análise do
espaço vivido e
percebido que o
estudante se
reconhecerá como sujeito
e autor desse espaço. A
geografia que o
estudante aprende “deve
permitir que ele se
perceba como
participante
do espaço que estuda” (CALLAI,
2000, p. 58). A apropriação do espaço
geográfico por pessoas
com cegueira é
tão ou mais importante
que para aqueles que
vêem pois, a
compreensão do espaço
pelo cego lhe concede
autonomia. Contudo, a observação do espaço
geográfico por
estudantes cegos não se
dá pela
visão, como acontece comumente por estudantes
que vêem. Nós
que enxergamos
reconhecemos a realidade
pela identificação
visual de
signos, enquanto que o
cego ao analisar um
espaço qualquer elabora
em
sua mente uma sequência
linear de informações
que o permite
compreender o que está
sendo explorado. É certo que há distintas
variáveis que determinam
a capacidade
das pessoas cegas
reconhecerem o espaço e
representarem-se nesse espaço. De acordo com
Ochaita, Huertas e
Espinosa (1991, p.54) a idade, a experiência
visual prévia, a
experiência com o espaço
por meio
da aprendizagem, assim
como o tamanho e a
complexidade do espaço são algumas dessas
variáveis.
Vale observar,
inclusive, que o espaço
geográfico e suas
relações,
― objecto essencial nas
aulas de geografia ―, deve ser cautelosamente apresentado aos
estudantes. É importante
que o professor realize recortes espaciais para
que as análises do
espaço geográfico tenham significado para os
estudantes. Não se pode
querer ensinar tudo, o excesso de informações
pode gerar desgaste para
professores e
estudantes,
especialmente estudantes
que não vêem e que necessitam, muitas
vezes, maior esforço de
abstracção que os demais estudantes.
Para tornar o
conhecimento e a
compreensão do espaço geográfico mais próximo
da realidade dos
estudantes, os
professores de
geografia ao
apresentarem o espaço
geográfico podem
procurar
apresentar os conteúdos
geográficos
relacionando-os com a
vivência
do estudante, com o seu
espaço vivido. Neste
sentido, Kaercher
(2001) aponta que no
ensino fundamental é
necessário partir das paisagens visíveis e não
de conceitos, muitos
deles ainda abstratos aos estudantes. O autor
propõe que os conceitos
podem ser
trabalhados durante o
ensino médio. Por esse viés de
pensamento, é simples
notar que a facilidade
de
assimilação de conceitos
como setor secundário da
economia, ou seja,
as actividades
industriais, é bem mais
perceptível para
estudantes que
moram no ABC Paulista do
que para estudantes de
Angelina em Santa
Catarina. Da mesma
forma, o conceito de
espaço rural está muito
mais
próximo da percepção de
estudantes que moram em
pequenos
municípios do interior.
A partir do momento que
o professor usar de sua
sensibilidade
para apresentar
conteúdos mais próximos
à realidade dos
estudantes,
este professor criará
condições para que os
estudantes tenham
subsídios
para formular os seus
próprios conceitos. A
vivência, ao assimilar o conceito com o
objecto, o
significado com o
significante,
possibilita uma
aprendizagem mais
completa, realmente
interiorizada. Tal
prática tem
como base a afirmação de
Castrogiovanni (2001b,
p. 82-83), de que “o
ensino de geografia deve
priorizar a análise do
espaço vivido e as
práticas do espaço
percebido, transpondo-as
para as representações
do
espaço concebido”. Ao se pensar em
apresentar o espaço
geográfico para pessoas cegas, além das relações
estabelecidas entre as
experiências dos
estudantes e os
conceitos geográficos, o
professor precisa também
reflectir sobre a
possibilidade de
transpor a realidade
para uma realidade
que possa ser lida pelas
mãos.
As explicações
oralizadas pelo
professor em sala de
aula podem
muitas vezes não ser
suficientemente claras
para descrever
determinados
conceitos, como por
exemplo, o conceito de
ilha. A conceituação de
ilha
como “uma porção de
terra cercada de água” é
entendida pelo cego
como uma porção de terra
completamente envolta
por água, não só no
perímetro como também em
cima e em baixo. A preocupação com a
transposição de
informações para
caracteres em relevo,
passíveis de serem lidos
por pessoas com
cegueira,
aconteceu pela primeira
vez no século XVIII, com
o francês
Valentin
Hauy. Tal prática foi
motivada pelo interesse
de uma criança cega em decifrar as depressões
deixadas em papel pela
escrita de Hauy. No
século seguinte, em
1829,
Louis Braille,
cego desde criança e ex-estudante
da escola Hauy, inventou
um sistema especial
composto por
seis pontinhos em alto
relevo que ficou
conhecido em todo o
mundo e
tornaria possível a
escrita para cegos.

Nas últimas décadas a
Universidad Autónoma de
Madrid na
Espanha tem realizado
numerosas investigações
sobre a capacidade dos cegos para captar
relações espaciais
mediante o tacto. Dentre
os estudos,
as investigações de
Ochaita e Huertas (1988)
demonstram que o
exercício de estabelecer
relações espaciais é
bastante complexo para o estudante cego e aponta
que estas relações se
dão de duas maneiras:
pelo
reconhecimento do espaço
próximo e pelo
reconhecimento do espaço distante.
O estudo do espaço
próximo ao estudante é
feito pelo
reconhecimento e
representação espacial
na área em que o
estudante
pode abarcar com o
braço, obtendo a
informação mediante o
tacto ativo.
Vale apontar que há
diferenças entre o tacto
passivo e o tacto ativo,
ou
sistema háptico. No
tacto
passivo as informações
são recebidas de forma não intencional, como as
sensações despertadas
enquanto vestimos uma camiseta ou quando
sentimos na pele o calor
de um dia ensolarado. Já no
tacto ativo ou sistema
háptico, há uma busca
intencional da
informação pelo
indivíduo que toca (GIBSON,
1966 citado por
OCHAITA e ROSA, 1995).
Quanto ao estudo de
espaços mais distantes,
como uma sala de
aula, uma escola, o
caminho de casa ao
trabalho, um município,
espaços
que não são abarcados
mediante a aproximação
dos braços, estes são acessíveis por
estudantes cegos
utilizando informações
de outras
modalidades sensoriais,
como a audição, o
movimento e a
propiocepção. Os estudos do espaço
próximo e de espaços
mais distantes
apresentados por Ochaita
e Huertas (1988) estão
também citados na
literatura brasileira
nos trabalhos de Almeida
(2001) e Almeida e
Passini
(2002). No entanto os
autores brasileiros
denominam de espaço
vivido, o espaço próximo, e de
espaço percebido e
espaço concebido, o
espaço
distante.
Estudos sobre os espaços
vivido, percebido e
concebido são
comumente feitos em sala
de aula durante as aulas
de geografia. E para
apresentarem o espaço
geográfico aos
estudantes, os
professores fazem
uso principalmente da
fala, de textos e de
imagens. As imagens utilizadas
como recurso didáctico em
sala de aula
podem ser exemplificadas
de diferentes maneiras:
por figuras, como
representações
ilustrativas de um
relevo acidentado
apresentado por um
croqui; por fotografias,
como uma fotografia da
ponte Hercílio Luz em Florianópolis ou uma
fotografia aérea da
cidade onde está
localizada a
ponte; e, sobretudo por
meio de mapas. Os mapas são recursos
didácticos que traduzem
representações
planas, esquemáticas e
generalizadas da
superfície terrestre
(OLIVEIRA, 1977). Podem
ser utilizados como
instrumento de
localização e
identificação e,
principalmente, como
forma de
comunicação e expressão.
Mas vale ressaltar que a
leitura de mapas se
dá pela interpretação e
compreensão simbólica, o
que reafirma a
necessidade de
conhecimentos
cartográficos por parte
do professor e dos
estudantes. Para as pessoas que
vêem é comum verem
mapas não só nas
salas de aula e livros
didácticos, mas também
nos meios de comunicação como os jornais, as
revistas, a televisão,
na rede mundial de
computadores, etc. Mesmo
que não os usem
directamente, são muitas vezes estimulados a
localizarem algum lugar
específico ou fenómenos específicos como os
climáticos, portanto,
para elas os mapas já
não são
novidade. Da mesma forma que para
pessoas que vêem os
mapas são
de grande utilidade,
para as pessoas cegas o
benefício que podem
obter
pela concepção do espaço
com a ajuda dos mapas é
maior do que se
pode conceber.
Concorda-se com Almeida
e Passini (2002) quando afirmam que a
representação do espaço
expressa pelos mapas
permite ao
educando atingir uma
nova organização
estrutural de sua
actividade
prática e da concepção
de espaço. Contudo, para
pessoas que não
vêem, a percepção
espacial pode ser
adquirida, interpretada
e
expandida além do
sentido visual. Sá, Campos e Silva
(2007, p. 16) enfatizam
que
-
as rectas, as curvas, o
volume, a rugosidade, a textura, a densidade, as
oscilações térmicas e
dolorosas, entre outras,
são propriedades que
geram sensações tácteis e
imagens mentais
importantes para a
comunicação, a estética,
a
formação de conceitos e
de representações
mentais.
Nesse sentido, os mapas
tácteis, ao representar o
espaço
geográfico em alto
relevo por meio de
texturas que serão lidas
pelo tacto,
reproduzem uma
“saliência perceptiva
semelhante à da cor”
para as
pessoas que vêem (OCHAITA
e ROSA, 1995, p. 185).
Os mapas tácteis são de
grande utilidade na
compreensão do
espaço geográfico, na
apreensão de conteúdos
escolares e no próprio dia-a-dia do estudante
cego. Os instrumentos de
orientação espacial,
além de necessários para
o aprendizado escolar,
auxiliam na locomoção, na autoconfiança, no
aumento da auto-estima e
trazem independência
para o cego. De acordo
com Nogueira (2009a),
-
os mapas tácteis auxiliam
o deficiente visual na sua autonomia na vida
prática, sendo
facilitadores
de orientação e
mobilidade em centros
urbanos e
espaços públicos
externos (praças,
parque,
escolas, campi
universitários) e
internos de
edifícios de grande
circulação (terminais rodoviários, metroviários,
aeroviários, bancários, shopping centers).
A linguagem cartográfica
e seus múltiplos
símbolos são de difícil compreensão para
expressiva parcela da
população, e para as
pessoas
cegas não é diferente. A
leitura e compreensão da
representação
cartográfica utilizada
nos mapas exigem um
conhecimento prévio de extrema importância,
tais como orientação
espacial, escala,
coordenadas
geográficas e
simbologia. A
familiaridade com estes
conceitos auxilia o
observador ― que pode
ser uma pessoa que
vê ou com cegueira ― a
obter uma melhor clareza
na leitura e compreensão
do espaço geográfico
traduzido pelos mapas.
As pesquisas de Bonfim
(2006), Sann (2007),
Loch e Fuckner
(2003, 2005), Cavalcanti
(2006) e Voges e Chaves
(2007) apontam que
a maioria dos
professores de geografia
não domina as bases
epistemológicas da
ciência geográfica e,
por consequência, tem dificuldades em
trabalhar noções básicas
de geografia e
cartografia na
geografia escolar. As
dificuldades abarcam
conceitos tidos como
incompreensíveis ou de
difícil compreensão,
como escala e projecção,
e
até mesmo a própria
representação espacial. Muitas críticas quanto à
didáctica e a prática do
ensino do mapa
recaem sobre os
professores, visto que é
de responsabilidade do professor a
correcta ou
incorrecta utilização do
mapa. Mas, o que houve
no
período de sua formação
que o impede de executar
tal tarefa? O
professor não consegue
fazer a transposição
didáctica porque não foi
lhe
ensinado durante a
formação. O professor
não foi preparado para “alfabetizar
espacialmente”
(OLIVEIRA, 1977). Alfabetizar
espacialmente é tão
importante quanto
ensinar o
estudante a ler, a
escrever e a realizar
cálculos matemáticos, já
dizia
Oliveira (1977). A
cartografia nos permite
ler e escrever as
características dos
lugares, nos auxilia na
interpretação de
paisagens e,
consequentemente, na
compreensão do espaço
geográfico. Logo, é
importante considerar
que a “geografia utiliza
a linguagem cartográfica como metodologia para a
construção do
conhecimento geográfico” (CASTELLAR, 2006, p.45),
o que faz com que sejam
significativos
seus conhecimentos por
parte de professores e
estudantes.
2.2 A linguagem
cartográfica
2.2.1 A Cartografia
Escolar e a apropriação
do espaço A Cartografia é uma
ciência que utiliza a
representação gráfica para atingir o seu
principal objectivo: a
representação da
superfície curva
da Terra em uma
superfície plana. Essa
representação plana é
expressa
por meio de mapas. Construir um “mapa” para
ilustrar um percurso,
abrir um guia de
ruas para traçar o
melhor caminho e
assistir à previsão do
tempo na
televisão são acções que
fazem parte do
quotidiano
de grande parte da
sociedade. Porém, muitas
vezes, estas tarefas
tornam-se árduas,
exigindo
uma maior desenvoltura
que envolve uma série de
conhecimentos que
só são adquiridos num
processo de
alfabetização
diferenciado. Sendo o mapa uma
representação da
realidade expressa
através
de símbolos, para que se
possa ler e compreender
suas informações é
preciso conhecer o
significado de sua
simbologia. A
familiaridade com
estas representações
auxiliará o observador a
obter uma melhor clareza na leitura e compreensão
das informações que os
mapas trazem.
Em sala de aula o mapa é
um dos recursos
didácticos mais
utilizados por
professores ao ensinar
geografia. Mesmo que não
os usem
directamente, na grande
parte das escolas, há
sempre um mapa do Brasil ou um Planisfério fixado
na parede das salas de
aula. Embora os professores
frequentemente recorram
aos mapas para
localizar e identificar
lugares, o uso deste
recurso vai além, o mapa oferece possibilidades
para que professores e
estudantes realizem
análises, relações,
correlações e sínteses
das informações por ele transmitidas. Contudo, é
preciso ensinar os
estudantes a lerem e a compreenderem esta
linguagem. Dessa maneira, a
cartografia escolar
aparece como uma opção metodológica que pode
ser utilizada a todo o
momento nas aulas de
geografia. De acordo com
Almeida (2001) esta
metodologia de trabalho fundamenta-se em teorias
sobre a representação
espacial e em estudos sobre o ensino de mapas.
É preciso deixar claro
que a ideia que se tem
de trabalhar as
noções de cartografia
isoladamente do ensino
de geografia é uma visão errónea e equivocada da
proposta metodológica da
cartografia escolar.
Os estudiosos da
cartografia escolar não
objectivam em nenhum
momento torná-la uma
disciplina. A
cartografia escolar e o
ensino do
mapa devem servir de
suporte metodológico à
ciência geográfica na interpretação e
compreensão da
realidade. Diante da possibilidade
da cartografia escolar
permear todo o
ensino de geografia, a
professora Maria Elena
Simielli (2004)
apresenta
uma proposta de ensino
do mapa, e com o mapa,
para o ensino
fundamental e médio. A
proposta da professora
sugere que durante as séries iniciais, 1.º ao
5.º ano do ensino
fundamental, seja
realizada a
alfabetização
cartográfica, pois
acredita ser o “momento
em que o aluno
tem que iniciar-se nos
elementos da
representação gráfica
para que
possa posteriormente
trabalhar com a
representação
cartográfica”
(SIMIELLI, 2004, p. 95).
A alfabetização
cartográfica se
estenderia até o 6.º ano e eventualmente
no 7.º ano. A partir de
então, nos anos
subsequentes, o
estudante já teria
condições de estar
realizando análises
e correlações das
informações presentes no
mapa. No ensino médio, teoricamente, o
estudante já alcançaria
mais um nível de
entendimento
do mapa e, além de
trabalhar com a
localização, a análise e
a correlação,
teria também condições
para realizar sínteses. Dessa maneira, a autora
apregoa que o estudante
do ensino
fundamental seria
considerado um mapeador
crítico, que trabalha
com o
produto cartográfico já
elaborado, enquanto que
no ensino médio,
pretende-se que este
estudante possa ser um
mapeador consciente, ou
seja, o estudante é
participante efectivo do
processo (SIMIELLI,
2004,
p.99). Portanto, para
que os estudantes
alcancem este nível de
abstracção
e interpretação da
realidade por meio dos
mapas, é de suma
importância
que sejam alfabetizados
cartograficamente. Ao analisar a produção
científica brasileira a
respeito da
cartografia escolar,
encontram-se diversos
autores que afirmam a necessidade de práticas
de alfabetização
cartográfica nas séries
iniciais
do ensino fundamental.
Os trabalhos de Oliveira
(1977), Paganelli
(1985, 1993, 1996),
Almeida (2001, 2002,
2007c), Passini (2007), Castellar (2006),
Simielli (1991, 1993),
Castrogiovanni (1995,
2001a,
2007), Costella (2001) e
Nogueira (2009b) são
alguns exemplos. A significativa
importância da
introdução da
alfabetização
cartográfica nas séries
iniciais pode ser
vislumbrada nos
Parâmetros
Curriculares Nacionais
de Geografia de 1.ª à 4.ª
série (BRASIL, 1997)
que preconizam que ao
final do primeiro e
segundo ciclos, o
estudante
deve ser capaz de ler,
interpretar e
representar o espaço por
meio de
mapas simples. Isso engloba entender os
mapas como constituídos
de uma
linguagem própria a
partir de símbolos que
têm seu significado, e
são
concebidos com funções
específicas como
orientação, localização
e
representação. O que
significa que cada
estudante pode
representar o
espaço geográfico em
diferentes mapas, os
quais contarão com
características
específicas e peculiares
de acordo com o assunto
em foco
e a intenção de
representação de seu
elaborador. Para introduzir a
alfabetização
cartográfica em sala de
aula para
crianças de séries
iniciais, o professor
dispõe de diversas
actividades,
descritas hoje em
variadas bibliografias.
O professor pode,
inclusive,
contar com a
possibilidade de
trabalhar o desenho
infantil na elaboração de croquis dos espaços
onde se inserem as
escolas, ou seja, uma representação
esquemática de um
recorte da paisagem, e
em seguida, na
criação de um mapa de um
percurso realizado no
entorno da escola ou
do caminho que o
estudante percorre de
casa até a escola. Para Simielli (2004), o
desenvolvimento da
capacidade de leitura e de comunicação oral e
escrita por meio de
desenhos, plantas,
fotos,
maquetes e mapas,
permite a percepção do
domínio do espaço e é considerado importante
para o estudo do espaço
concreto dos estudantes do 1º ao 5º ano. Seja
este espaço mais próximo
dele, como o espaço da sala de aula, da escola,
e do bairro, para depois
nos dois últimos anos se falar em espaços
maiores, como município,
estado, país e
planisfério. Com estes conteúdos
interiorizados, a
criança terá facilidade
de
assimilar conceitos
essenciais em séries
subsequentes: escala,
projecção,
simbologia e coordenadas
geográficas, os quais
são vistos hoje como um “bicho-de-sete-cabeças”
por grande parte dos
estudantes do ensino
fundamental e médio. Cabe ressaltar que estes
conceitos devem ser
trabalhados
gradualmente desde as
séries iniciais até o
ensino médio, e com o cuidado de
os transpor
para a linguagem do
estudante. Desta forma,
os
conhecimentos e
habilidades
cartográficas são
desenvolvidos e
aprofundados desde o 1.º
ano até o 3.º colegial,
para então possibilitar
ao
estudante a realização
de análises geográficas.
Almeida (2001, p.11)
afirma que
-
conhecer como as
crianças percebem e
representam o espaço
pode auxiliar muito o trabalho docente.
Especialmente na
preparação de
actividades de ensino que
contribuam para a
aquisição gradativa de
diferentes modos de
representação espacial,
cada vez mais próximos daqueles dos adultos.
A maneira como as
crianças percebem e
representam o espaço é amplamente discutida nos
estudos da escola de
Genebra por Piaget e
seus colaboradores
(PIAGET e INHELDER,
1993; PIAGET, 1983). Os estudos de Piaget
sobre o conhecimento do
espaço estão
centrados no
desenvolvimento
cognitivo. As análises
quanto à aquisição
de conceitos espaciais
são realizadas a partir
dos estágios de
desenvolvimento, ou
seja, o período sensório-motor, o
período pré-operatório, o
período das operações
concretas e o período
das operações
formais. No período
sensório-motor, do
nascimento até os dois
anos de
idade, e durante o
período pré-operatório,
de dois anos até os sete
anos
de idade, a
representação do espaço
pela criança elabora-se
apoiada em
objectos fixos que ela
toma como referencial,
antes mesmo da
constituição de um
esquema corporal
dissociado do próprio
corpo e da
representação global do
espaço. São as chamadas
Relações Topológicas
elementares, que são
estabelecidas desde o
nascimento até por volta
dos
sete anos de idade.
Envolvem relações de
proximidade, de
separação, de
ordem, de envolvimento e
de continuidade, como
noções de dentro e
fora, em cima e em baixo,
direita e esquerda,
perto e longe, frente e
atrás. Entre os sete e os onze
anos de idade,
aproximadamente, durante
o período das operações
concretas, a criança
passará a perceber a
dissociação entre os
objectos que observa. A
representação do espaço tridimensional é dada a
partir de oito e nove
anos de idade e a
criança
passa a utilizar esses
referenciais para
determinar perspectivas.
São as
chamadas Relações
Projectivas, que
consistem em coordenar
os dados
segundo relações de
reciprocidade, ou seja,
a criança passa a
conservar a
posição dos objectos e
alterar o seu ponto de
vista.
Já a partir dos nove
anos de idade, as
Relações Euclidianas
passam a se desenvolver.
A criança situa objectos
um em relação ao
outro, obtendo uma noção
de coordenadas, além de
englobar o lugar do
objecto e seu
deslocamento em uma
mesma estrutura (ALMEIDA
e
PASSINI, 2002). Somente a partir dos 11
anos de idade, o início
do período das
operações formais, é que
a criança terá condições
plenas de
compreender as relações
espaciais a partir de um
sistema de
coordenadas (OCHAITA e
HUERTAS, 1988). Com base na teoria
piagetiana da evolução
do conhecimento
espacial em crianças que
vêem, os estudos de
Ochaita e Rosa (1995) sobre desenvolvimento
cognitivo de crianças
cegas trazem informações valiosas para
compreensão da cegueira
e suas implicações no
ensino do
espaço para estes
estudantes. Os autores apontam que o
desenvolvimento
psicológico de um
bebé cego é semelhante
ao de um bebé que vê durante os
primeiros
quatro meses de vida,
quando, então, as
crianças que vêem
são
estimuladas pela visão a
segurarem e irem em
busca de objectos,
enquanto que a criança
cega só toma
conhecimento do objecto
se o objecto
emitir sons. Assim, na
primeira infância de uma
criança cega, há um
atraso de cerca de seis
meses em relação à
coordenação
visual-manual.
No que se refere ao
desenvolvimento motor,
as crianças cegas na
maioria das vezes não
engatinham e só começam
a andar sozinhas por
volta dos 19 meses. Quanto ao reconhecimento
do espaço no período das
operações
concretas, que
compreende a etapa
escolar de crianças
entre os sete e os
onze anos de idade, em
geral, os cegos
apresentam um atraso de
três a
sete anos nas pesquisas
de carácter figurativo ou
espacial (tarefas
espaciais, compreensão
de imagens, etc.). No
entanto, no período de operações formais, este
atraso é anulado entre
os 11 e 15 anos de
idade. Na adolescência, os
autores asseveram que
-
os cegos são capazes de
resolver problemas de forma hipotética
dedutiva na mesma medida
que
os estudantes que
vêem, e que esse
tipo de
pensamento permite-lhes
solucionar, não somente
as tarefas que têm um
formato verbal, mas
também aquelas com
material manipulativo ou espacial (OCHAITA e
ROSA, 1995, p. 191).
Quanto à representação
espacial em crianças
cegas de diferentes
idades e em diferentes
ambientes, relacionado
ao trabalho de Piaget, Ochaita, Huertas e
Espinosa (1991, p. 66)
concluíram que
-
las pautas o etapas de
desarrollo de la
representación espacial
en los ciegos son
semejantes a las
obtenidas en videntes
[...],
aunque con un retraso de
2 ó 3 años respecto a éstos, retraso que
empieza a superarse,
precisamente, sobre los
13 años.
De acordo com Ochaita e
Huertas (1988), enquanto
o estudante
que vê compreende
as relações topológicas,
em geral, por volta dos 7 anos de idade, o
estudante cego de
nascimento é capaz de
conceber
essas relações próximo
aos 11 anos. Quanto às
relações projectivas e euclidianas, que em
estudantes que vêem
são desenvolvidas a
partir
dos 8, 9 anos de idade,
em estudantes cegos
seriam compreendidas a partir dos 14 anos.
Aprofundando um pouco
mais a questão espacial,
além dos
estudos baseados na
psicologia evolutiva de
Piaget, Ochaita e
Huertas
(1989) apresentam outra
vertente quanto ao
desenvolvimento e
aprendizagem do espaço
que consideram
relevantes para o ensino
de
geografia. Neste caso,
as abordagens estariam
voltadas ao estudo do espaço geográfico e
estariam baseadas na
psicologia ambiental.
Diferentemente da
primeira abordagem, onde
os estudos para a
compreensão do espaço se
dariam pelo que se
consideram relações
espaciais básicas:
topológicas, projectivas
e euclidianas, a
psicologia
ambiental pauta-se nas
investigações que
utilizam os mapas
cognitivos e
a percepção do ambiente.
Os autores assinalam que
-
en este tipo de
investigaciones suele
estudiarse no
solo cómo se desarrollan
en los niños los
componentes espaciales o
localizacionales
implicados en la
representación de un
entorno,
sino también los
llamados componentes
atributivos o de
significado, como el
valor y
función que se atribuye
a esos lugares
(OCHAITA e HUERTAS,
1989, p. 14)
Nesta abordagem
metodológica as pessoas
podem realizar
diferentes
representações diante de
espaços e ambientes
distintos (um
bairro, uma cidade, um
país, etc.). Essas
representações podem ser expressas através de
desenhos, da construção
de maquetes, por
descrições verbais, etc.
De acordo com Hart (1979
citado por OCHAITA e
HUERTAS,
1989) esta abordagem
estaria estabelecida em
três etapas na evolução dos mapas cognitivos.
-
Na primeira etapa, entre
os quatro e os sete anos
de idade,
aproximadamente, as
crianças construiriam
seus mapas de acordo com
o
que o autor chama de
sistemas de referência
egocêntricos. A criança, centrada em seu próprio
corpo, representaria
lugares que lhe são
familiares como sua
casa, sua escola, dando
conta simplesmente das relações topológicas.
-
Na segunda etapa, a
partir dos sete anos de
idade, as crianças
organizariam seus mapas
de acordo com sistemas
de referência
parcialmente coordenados
em grupos fixos. Estes
grupos seriam grupos
familiares, escolares,
etc., que internamente
apresentariam relações espaciais
projectivas e
euclidianas, porém, ao
relacionarem os grupos entre si, as crianças
apresentariam relações
espaciais de carácter
primitivo
ou topológico.
-
Por último, a terceira
etapa, por volta dos
onze anos de idade
―
período das relações
concretas e início dos
pensamentos abstratos ― a
criança seria capaz de
organizar seus mapas em
sistemas de referência coordenados de forma abstrata, que supõe uma
organização projectiva e euclidiana dos
diferentes grupos
representados no mapa.
É a partir deste momento
que as crianças estariam
aptas a
compreenderem as
informações transmitidas
pelos mapas geográficos.
Mediante o conhecimento
das abordagens pautadas
na psicologia
evolutiva e na
psicologia ambiental, os
autores sugerem três
proposições
para o ensino do espaço
geográfico: actividades
que avaliem e
identifiquem o nível de
desenvolvimento espacial
dos estudantes,
actividades que utilizem
mapas cognitivos para
apontar o conhecimento dos estudantes sobre
distintos lugares, e por
fim, actividades
relacionadas
à geografia e ao
conhecimento
cartográfico.
[NOTA: Embora a psicologia
evolutiva de Piaget
permeie grande parte dos
trabalhos de cartografia escolar apresentados nas
últimas décadas, os
trabalhos de Vygotski
quanto o papel da
interação social na formação do
psiquismo tem levantado
importantes experiências
quanto ao
desenvolvimento do
estudante cego. Para
mais informações ver
trabalhos de Bianchetti,
Da
Ros e Deitos (2000),
Cavalcanti (2005),
Ventorini (2007) e
Nuernberg (2008).]
Dessa maneira, as
pesquisas realizadas
sobre o conhecimento
espacial de crianças,
que vêem e que não
vêem, oferecem aos professores de geografia
importantes subsídios
que podem servir de
orientação sobre como e
quando ensinar
determinados conteúdos
para
estes escolares. Ao expor como se dá a
compreensão do espaço
por estudantes
cegos, não se deve tomar
o conhecimento por
acabado e inalterável. Pelo contrário, as
relações entre a
psicologia e o ensino de
geografia
devem-se dar,
principalmente, a partir
de um processo educativo construtivo e interativo.
Nesse sentido, o
conceito de zona de
desenvolvimento proximal
de Vygotski é um caminho
que precisa ser
experienciado por
professores e estudantes
em sala de aula. As comparações entre
como se dá o
desenvolvimento espacial
de
estudantes cegos e dos
que vêem não devem
ser encaradas como
uma forma negativa de
reafirmar a incapacidade
do cego, mas
demonstrar que apesar
dos atrasos nas relações
espaciais apontados em estudantes cegos, eles
são capazes de
compreender as tarefas
espaciais
que tanto são
solicitadas em sala de
aula ao utilizar um
mapa. Portanto, é possível
perceber que a
experiência visual não é
a
única condicionante na
compreensão espacial de
crianças em idade
escolar, contudo, a
transposição de imagens
visuais para percepção háptica ou por meio da
elaboração de mapas
cognitivos é uma
proposta
metodológica que carece
de aprofundamento por
parte dos professores de geografia. E é sobre
a cartografia táctil que
nos deteremos no próximo tópico.
2.2.2 A cartografia
táctil A cartografia
táctil é um
segmento específico da
ciência
cartográfica que tem por
objectivo a elaboração e
produção de mapas e
produtos cartográficos
destinados às pessoas
cegas e com baixa visão (NOGUEIRA, 2009a).
Dentre os recursos
cartográficos utilizados
por professores e
estudantes cegos em sala
de aula, no que diz
respeito ao ensino de geografia, o
mapa táctil
é o mais usual entre
eles. Os mapas tácteis
são
representações gráficas
em relevo, elaborados
com o objectivo de
auxiliar
pessoas cegas e com
baixa visão quanto a
orientação, localização
e
análises geográficas. Quando se pensa em
utilizar mapas tácteis no
ensino, logo
aparecem vários
questionamentos:
― Como
fazer um mapa táctil?
― De
que
forma transformar
informações gráficas que
são lidas por pessoas
que vêem para
informações gráficas que
possam ser lidas por
pessoas
cegas ou com baixa
visão?
― Como tornar os
mapas compreensíveis
para
estudantes cegos?
― Qual a
escala mais apropriada?
Até que ponto pode-se fazer generalizações
cartográficas? Entretanto, elaborar e
criar mapas para
estudantes cegos e com baixa visão exige do
educador, além de
conhecimentos
cartográficos já
salientados, uma
compreensão da linguagem
táctil e das sequências
do
desenvolvimento dentro
desta modalidade. Nesse sentido, Grifin e
Gerber (1996) apontam
quatro sequências
que precisam ser
consideradas antes da
produção de um recurso
táctil:
-
a) A consciência da
qualidade táctil que as
crianças podem
começar a conhecer a
partir do uso de
distintas texturas
contrastantes entre si.
A princípio são
desenvolvidas noções
de macio e áspero, mole
e duro, e com o
aperfeiçoamento da
percepção táctil as
crianças ainda
desenvolveriam noções de leve e pesado, grande e
pequeno;
-
b) O reconhecimento da
estrutura e da relação
das partes com o todo
que se daria a
partir da exploração de
formas simples e
pequenas pela criança
cega. O facto de segurar
o objecto nas
mãos tendo noção do todo
auxiliaria na
compreensão de
formas maiores que a
criança não conseguiria
abarcar com as
mãos e os braços. O
desenvolvimento da
concepção e
reconhecimento de
objectos mais complexos,
como um
automóvel, pode ser
favorecido com a
apresentação de
miniaturas deste objecto.
A partir do momento que
a criança
tem clareza das formas
de natureza
tridimensional, devem
ser
apresentadas as formas
bidimensionais, como
desenhos e
mapas;
-
c) A compreensão de
representações gráficas
é caracterizada
mediante a maneira
organizada que os
estudantes cegos têm
de explorar o ambiente,
relacionando objectos
reais e suas
representações.
Novamente nesta
sequência, a utilização
de
um automóvel de
brinquedo auxiliaria os
estudantes cegos a
compreenderem as
representações
sugeridas. Depois que a criança conhece a forma
natural de um automóvel
e sua
forma em miniatura, a
representação deste
objecto poderá ser
representada
graficamente em um
desenho, por exemplo, tendo assim compreensão
do objecto verdadeiro e
sua
representação.
-
d) A utilização de
simbologias dar-se-á a
partir da compreensão das representações
gráficas. Na simbologia,
a representação
não precisa ter
semelhança com o
original, mas
simplesmente
significar o objecto.
Muito do que se conhece
actualmente sobre as
experiências de
produção e elaboração de
recursos didácticos para
pessoas cegas e com
baixa visão foram
desenvolvidos a partir
de pesquisas na
Organización
Nacional de Ciegos
Españoles (ONCE). A ONCE é uma instituição
sem fins lucrativos
criada em 1938 na
Espanha e tem como
objectivo melhorar a
qualidade de vida das
pessoas
cegas e com deficiência
visual. No campo
educacional, a ONCE
procura
favorecer a inclusão
escolar e social de
estudantes com cegueira
e
deficiência visual
grave, para tanto,
dispõe de diversos
serviços
educativos e recursos
pedagógicos para este
público. Algumas das
experiências espanholas
estão descritas em
livros publicados pela instituição e nas
revistas Integración e
Entre dos mundos.Quanto à criação e
produção de um mapa
táctil, a primeira
experiência foi
realizada em 1837, por
Samuel Gridley, com a publicação de um atlas
táctil na escola de
Perkins para cegos nos
Estados
Unidos (VENTORINI,
2007). A pesquisa de Clara
Pratt também traz
contribuições de grande valor ao publicar, em
1937, o livro “Geography
Pratical”, no qual
sugere
actividades para ensinar
geografia a estudantes
com cegueira
(HUERTAS; OCHAÍTA;
ESPINOSA, 1993 citados
por VENTORINI,
2007). Não muito
diferente desta, a
abordagem de Reginald
Golledge
sobre a geografia e
ensino para deficientes,
publicada no trabalho Geografia e o
Deficiente: Mundos de
Diferenças, em 1992 nos
Estados Unidos, traz também suas
contribuições ao tema (VASCONCELLOS, 1993).
Entretanto, os
questionamentos sobre o
mapa táctil como recurso pedagógico e como as
crianças compreendem a
linguagem táctil expressa por meio dos mapas
começam a ser apontados
com mais frequência nas pesquisas internacionais
a partir da década de
50. [NOTA: Um histórico mais
minucioso sobre o mapa
táctil como recurso
didáctico em
bibliografias
internacionais ao longo
das últimas décadas pode
ser explorado nos
trabalhos de
Vasconcellos
(1993), Ventorini (2007)
e Sena (2008)]
Além das pesquisas da
Universidad Autónoma de
Madrid, já
citadas anteriormente
nos trabalhos de Ochaita,
Huertas, Rosa e
Espinosa, actualmente
também são relevantes no
cenário internacional os trabalhos Ungar e Blade
et al (1993, 1994, 1995,
1996, 2001, 2004),
Coll et al. (1995) e
Papadopoulos (2005). Na América Latina,
destacam-se as pesquisas
quanto aos
materiais e métodos na
elaboração e construção
de representações
gráficas tácteis
desenvolvidas pelo
Centro de Cartografia
Táctil da
América Latina, na
Universidade Tecnológica
Metropolitana, no Chile. O “Centro...” conta com
apoio de pesquisadores
brasileiros, argentinos, peruanos e chilenos.
Dentre os pesquisadores
pode-se citar Barrientos, Coll, Huentelemu, Perez,
Pino, Sena e Carmo (SENA,
2008). No Brasil, as
investigações sobre a
temática foram
desenvolvidas,
especialmente, a partir
da década de 90 com a
professora Regina Araújo Almeida (Vasconcellos).
Em sua tese de
doutorado, defendida em
1993
(VASCONCELLOS, 1993), a
autora pesquisa e
desenvolve uma
linguagem gráfica visual
e táctil no tratamento e
comunicação da
informação geográfica.
Para tanto, avaliou e
desenvolveu técnicas de construção e reprodução
da representação gráfica
táctil em mapas e
diagramas. A partir de então,
várias outras pesquisas
sobre o ensino de
geografia e a
cartografia táctil têm se
destacado no cenário
brasileiro.
Traçando um panorama
sobre as principais
pesquisas relacionadas à temática, é possível
reunir os trabalhos em
grupos de pesquisa,
principalmente
desenvolvidos nas
universidades das
cidades de São
Paulo, Florianópolis e
Rio Claro. O Laboratório de Ensino
e Material Didáctico de
Geografia, do
Departamento de
Geografia da Faculdade
de Filosofia, Letras e
Ciências
Humanas da Universidade
de São Paulo ― LEMADI,
coordenado pela
professora Regina Araújo
Almeida, tem
desenvolvido inúmeras pesquisas sobre
linguagem gráfica táctil
no ensino de geografia ―
produção e elaboração de
mapas, maquetes,
gráficos e esquemas
tácteis.
Dentre os principais
trabalhos publicados
pelos pesquisadores do LEMADI, além dos
trabalhos da professora
Regina, destacam-se
também os trabalhos de
Sena (2002, 2008) e
Carmo (2003, 2005,
2009). Os trabalhos da
professora Regina (VASCONCELLOS,
1993;
ALMEIDA, 2002, 2005,
2007b) discutem a
importância da
cartografia
escolar e da cartografia
táctil para professores e
estudantes. A autora faz um levantamento
bibliográfico das
principais pesquisas
realizadas sobre
cartografia, ensino e
deficiência visual até
1993. Seus trabalhos são referências nacionais e
internacionais no que
diz respeito a
metodologias
de construção e
aplicação da cartografia
táctil no ensino de
cartografia e
geografia. Sena (2002) em sua
dissertação de mestrado
aborda o estudo do
meio para deficientes
visuais como metodologia
no ensino de geografia. E em sua tese de
doutorado desenvolve uma
proposta metodológica de desenvolvimento e
associação de recursos
didácticos adaptados a
pessoas
com deficiência visual (SENA,
2008). Na pesquisa de
doutorado a
autora esboça a produção
e utilização dos
recursos didácticos
tácteis, e a
associação destes
recursos adaptados para
o ensino de geografia,
tendo a
cidade de São Paulo como
área de estudo para
desenvolvimento do
trabalho. Em parceria com Sena,
Carmo (2003, 2005)
apresenta diversos
trabalhos que versam
sobre a produção de
mapas tácteis e a
linguagem
gráfica táctil no ensino
de geografia. As
pesquisas das autoras
abarcam
experiências brasileiras
e latino-americanas. Em
seu trabalho mais
recente, Carmo (2009)
apresenta discussões
sobre a educação
inclusiva e o ensino de geografia.
As abordagens relatam a
experiência da autora com a formação
continuada de
professores em
cartografia táctil nas escolas no estado de São
Paulo.
O Laboratório de
Cartografia Táctil e
Escolar, do Departamento
de
Geociências, Centro de
Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal de Santa
Catarina ―
LabTATE,
coordenado pela
professora
Ruth Emilia Nogueira,
foi o primeiro
laboratório criado no
Brasil
voltado ao ensino e
estudo da cartografia
táctil. Fundado em 2006 a
partir
do projecto: Mapa Táctil
como instrumento de
inclusão social de
portadores de
deficiência visual, nos
últimos anos tem
apresentado uma
gama de trabalhos
relacionados ao ensino
de geografia,
cartografia
escolar e cartografia
táctil.
Dentre os principais
trabalhos publicados
pelos pesquisadores do LabTATE nesta área,
destacam-se os trabalhos
de Loch (2005a, 2005b), Nogueira (2008a, 2008b,
2009a, 2009b, 2009c),
Almeida (2005, 2006,
2009a, 2009b), Andrade
(2008), Golin (2009),
Voges (2007) e Chaves (2007a, 2007b, 2009).
As investigações da
equipe de pesquisadores
do LabTATE
abordam a alfabetização
cartográfica, a
padronização e
elaboração de
mapas tácteis para o
ensino e para orientação
e mobilidade, mapas
tácteis
sonoros em trilhas
ecológicas, o ensino de
geografia por meio dos mapas, ensino de
geografia e educação
inclusiva, e mapas
tácteis
acessíveis via web.
Parte dessas
experiências foi
recentemente
apresentada no livro
"Motivações hodiernas"
para ensinar geografia (NOGUEIRA, 2009b), a
primeira referência
brasileira que versa
sobre o
ensino de geografia e a
cegueira. O LabTATE também
disponibiliza grande
parte de sua produção científica em seu
endereço eletrónico,
além de bases digitais
para
produção de mapas
tácteis,
bem como oferece suporte
metodológico
quanto à produção e
utilização dos mapas
tácteis no ensino. A Universidade Estadual
Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” ― UNESP, Campus de Rio
Claro, apresenta
importantes pesquisas
quanto
às representações
espaciais de estudantes
cegos e quanto ao
desenvolvimento de
materiais didácticos
tácteis para o ensino de
geografia
e cartografia. Desde 2000 os
pesquisadores
desenvolvem e divulgam
materiais
didácticos que auxiliam
na compreensão e
utilização da linguagem cartográfica e
táctil.
Dentre os principais
trabalhos estão as
pesquisas de
Freitas (2006) e
Ventorini (2003, 2005,
2006, 2007, 2009). As experiências são
frutos de três projectos
de pesquisa:
Cartografia Táctil:
elaboração de material
didáctico de geografia e
cartografia para
portadores de
deficiência visual;
Construindo e
aprimorando material
didáctico táctil e sonoro
visando a integração de cegos no ensino
fundamental; e
Cartografia Táctil e
MAPAVOX: uma
alternativa para
construção de mapas e
jogos tácteis
(CURRÍCULO, 2009). Este
último, em parceria com
a Universidade Federal
do Rio de Janeiro,
objectiva ampliar as
possibilidades de uso do
software Mapavox na
geração de material
didáctico táctil. No
projecto os pesquisadores constroem e utilizam
conjuntos didácticos
tácteis e sonoros, como maquetes, mapas e jogos
didácticos, para serem
utilizados por
professores no ensino de
geografia e cartografia.
Em sua dissertação de
mestrado, Ventorini
(2007) aprofunda as
experiências quanto à
utilização de maquetes
sonoras com estudantes
cegos, com baixa visão e
normo-visuais. Na
pesquisa a autora
investiga
como as pessoas
deficientes visuais
organizam os objectos no
espaço e
que estratégias usam
para constituir suas
representações.
A UNESP, Campus
Presidente Prudente,
desenvolveu, na década de 90, pesquisas
referentes à
alfabetização
cartográfica para
estudantes
cegos e com baixa visão.
Os trabalhos de
Meneguete e Eugênio
(1997a,
1997b, 1998) são algumas
destas pesquisas. São
também relevantes
algumas experiências na
Universidade Federal de
Uberlândia, efectuadas
pelas pesquisas de
Crozara e Sampaio (2008)
e Almeida e Sampaio
(2008), que versam sobre
o ensino de geografia
para estudantes cegos e
com baixa visão e a
construção de material
didáctico táctil
para o ensino. E as
experiências na
Universidade
Federal do Rio Grande do
Sul, realizadas pelas
pesquisas de Londero
(2001) e Rossi (2000,
2003) que discutem sobre
o ensino de geografia para deficientes
visuais. Observa-se dessa maneira
que as pesquisas, apesar
de
demonstrarem objectivos
específicos e distintos,
trazem em comum
abordagens quanto à
utilização de materiais
didácticos tácteis no
ensino de
geografia, bem como
apresentam técnicas e
métodos de construção e aplicação destes
materiais. Não obstante,
vale lembrar que não
basta
simplesmente a produção
do mapa táctil e de
recursos didácticos
adaptados, mas sim uma
apropriação deste
conhecimento por parte
dos
educadores que irão
desfrutar deste
instrumental no ensino
de diversas
disciplinas em sala de
aula, beneficiando
principalmente o ensino
de
geografia.
III. CAMINHOS
METODOLÓGICOS DA
PESQUISA
A pesquisa foi realizada
com base nos modelos de
investigação
descritiva com abordagem
qualitativa dos dados.
Para Cás (2008, p.94), a pesquisa descritiva é
dada através de um facto,
de uma população, um
grupo de pessoas ou de
uma área de interesse de
pesquisa. Para o autor, o pesquisador deve
observar, registrar e
analisar seus elementos
ou seus
componentes,
correlacioná-los e
analisá-los objectivando
à elaboração de
um corpo sistematizado
de conhecimentos para a
solução de problemas. Já na análise
qualitativa, o
pesquisador trabalha com
a diversidade de
dados do objecto da
pesquisa. A pesquisa
descritiva está pautada
nos 3
grandes grupos de
técnicas utilizadas nas
ciências sociais e
humanas
para recolha de
informações:
-
o inquérito, que pode
tomar uma forma oral (a entrevista) ou escrita
(o questionário); a
observação, que pode
assumir uma forma
directa sistemática ou uma forma
participante, e a
análise
documental. Com efeito,
a análise documental, uma espécie de análise
de conteúdo que incide sobre documentos
relativos a um local ou
a uma
situação, corresponde,
do ponto de vista
técnico, a
uma observação de artefactos escritos (LESSARD-
HÉBERT, GOYETTE e BOUTIN,
2008, p.143-144).
Ao longo do processo de
investigação, as
entrevistas e
observações,
consideradas como uma
pesquisa de campo,
tiveram um
papel muito importante,
porém, em nenhum momento
se distanciaram
do aprofundamento
teórico-metodológico,
mas conduziam em busca
de
uma compreensão e
reelaboração de
atitudes, reflexões e
interrogações. As instituições
escolares da Grande
Florianópolis atendem
muitos
estudantes cegos, porém,
para delimitar o objecto
de estudo, a escolha
dos actores da pesquisa ― estudantes cegos e
professores ― deu-se a
partir
da selecção daqueles que
actuam e estudam em
séries que possuem a
disciplina de Geografia
na grade curricular, ou
seja, do 6.º ano do
ensino
fundamental ao 3.º ano do
ensino médio e na
Educação de Jovens e
Adultos -EJA. Na rede
municipal de ensino
foram identificadas a Escola Básica Municipal
Batista Pereira e a
Escola Básica Municipal Donícia Maria da Costa.
Na rede estadual de
ensino foram
identificados
o Instituto Estadual de
Educação - IEE e o Centro
de Educação de
Jovens e Adultos - CEJA.
E na rede particular
foram identificados o Colégio Tradição e o
SESI -Serviço Social da
Indústria de Santa
Catarina.
Identificadas e
localizadas as
instituições, foi feito
contacto com a
Secretaria Municipal de
Educação e com as
directoras do IEE e do
CEJA
para solicitar
autorização para
realizar a pesquisa. Nas
instituições
particulares o contacto
foi feito com a
directora
do Colégio Tradição e com a supervisora de
educação do SESI.
Durante este contacto
inicial,
procurou-se apresentar
sucintamente o projecto
de pesquisa e o intuito
de
investigar o ensino de
geografia para cegos.
Dentre as instituições contactadas, o Colégio
Tradição não manifestou
interesse em participar da pesquisa alegando que
participava de outros
projectos investigativos
e
que não dispunha de
tempo livre para a
realização das
entrevistas e
observações. Dessa maneira, a
pesquisa contou com o
total de cinco
instituições, dezasseis
estudantes, quatro
professores de
geografia, um
professor de educação de
jovens e adultos e sete
professores de AEE.
Em seguida foram obtidas
informações sobre a
localização das salas de recursos junto às
Secretarias Municipal e
Estadual de Educação.
Ao tomar conhecimento
dos sujeitos da pesquisa
e suas
respectivas instituições
escolares, foi preciso
conhecer os materiais
didácticos adoptados no
processo educativo do
estudante cego, e
identificar as
instituições
responsáveis pela
produção desses
materiais. As escolas da rede
municipal e o IEE contam
com o apoio do
Centro de Apoio
Pedagógico para
Atendimento às Pessoas
com
Deficiência Visual ― CAP
da prefeitura; as
escolas da rede estadual contam com o apoio do
CAP da FCEE e da ACIC; e
o SESI conta com o apoio da FCEE e com
parcerias com a ACIC e o
IBC.
A partir do levantamento
dos dados e
identificação das
instituições escolares,
centros de apoio,
professores e
estudantes, foram
realizadas as
observações, as
entrevistas e a análise
documental
(FIGURA 1).

FIGURA 1. Demonstrativo
da metodologia de
trabalho
As observações foram
realizadas durante a
investigação nos
estabelecimentos, nos
primeiros contactos com
as instituições e durante
as entrevistas. As
análises do espaço
escolar deram-se a
partir de
observações
participantes, ou seja,
o próprio investigador é
o
instrumento principal de
observação. Isto
significa que o
investigador
pode compreender o mundo
social do interior, e
foi por meio dessa
observação que se
recolheu dados (sobre
acções, opiniões e
perspectivas)
aos quais um observador
exterior teria
limitações. As entrevistas foram
agendadas pessoalmente
ou por telefone, e
foram norteadas por um
roteiro inicial
pré-estabelecido e
centrado em
três blocos temáticos: a
inclusão escolar, o
ensino de geografia e cartografia e os
materiais didácticos
(Apêndices C e D).
Procurou-se com
a entrevista
semi-estruturada
flexibilidade ao
analisar as respostas
dos
entrevistados, e quando
possível, eram
acrescidas outras
perguntas, visto
que o quotidiano escolar
é amplo, diversificado
e, por conseguinte,
apresenta outros pontos
de vista e perspectivas
que a princípio poderiam não ter sido abordados
no roteiro inicial. A fim de preservar a
identidade dos
participantes da
pesquisa foi
criado um conjunto de
códigos para nos
referirmos aos
estudantes e
professores, desta
maneira, aos professores
de geografia foi dado o código PG, aos
professores de AEE o
código PAEE e aos
estudantes
com cegueira foi
atribuído o código E.
Como são vários sujeitos participantes entre
professores e
estudantes, a cada um
deles foi
atribuído um número. O
código criado a partir
das letras e do número será sempre o mesmo
durante toda a análise
do trabalho. O tratamento dos dados
obtidos nas entrevistas
individuais de
professores e estudantes
foi organizado e
codificado de acordo com
a
temática de estudo: a
inclusão escolar e o
ensino de geografia.
Para
auxiliar nas análises
das respostas às
questões fechadas do
roteiro de
entrevista foram
elaboradas tabelas e
gráficos. Quanto às
questões
abertas, foi reproduzida
a narrativa de cada
participante e para as análises foram
selecionados os trechos
julgados mais
significativos. As
transcrições literais
das entrevistas
concedidas pelos
professores de
geografia, professores
de AEE e estudantes
foram destacadas por
aspas
ao longo do texto. Assim, pois,
apresenta-se a descrição
de cada uma das
instituições escolares e
dos centros de apoio
pedagógico envolvidos na pesquisa, bem como os
objectivos e atribuições
do atendimento
educacional
especializado. Segue
também a descrição da
metodologia
utilizada nas
entrevistas e,
sobretudo, dos sujeitos
participantes da
investigação: os
estudantes cegos, os
professores de AEE e os
professores de sala
regular.
3.1 O Atendimento
Educacional
Especializado, as
Estruturas
Escolares e os Centros
de Apoio Pedagógico
3.1.1 O Atendimento
Educacional
Especializado ― AEE
A Educação Especial é um
campo disciplinar que
perpassa todos
os níveis e etapas da
educação básica e
superior. O Capítulo V
da
LDBEN (BRASIL, 1996) no
seu Artigo 58 preconiza
que a EE deve ser
oferecida,
“preferencialmente na
rede regular de ensino,
para educandos
portadores de
necessidades especiais”.
E a lei ainda determina
nos
parágrafos subsequentes
que:
-
§ 1º. Haverá, quando
necessário, serviços de
apoio
especializado, na escola
regular, para atender as peculiaridades da
clientela de educação
especial.
-
§ 2º. O atendimento
educacional será feito
em
classes, escolas ou
serviços especializados, sempre que, em função
das condições
específicas
dos alunos, não for
possível a sua
integração nas
classes comuns de ensino
regular.
A EE oferece o serviço
de Atendimento
Educacional
Especialiazado ― AEE que
“funciona em moldes
similares a outros
cursos que complementam
os conhecimentos
adquiridos nos níveis de ensino básico e
superior, como é o caso
dos cursos de línguas,
artes,
informática e outros” (FÁVERO,
PANTOJA e MANTOAN, 2007,
p.
27). A EE no ensino básico
para estudantes com
deficiência está
atrelada ao AEE. Vale
observar, inclusive, que
a proposta do AEE não é substituir a escola,
muito menos o professor
de sala regular,
tampouco
realizar actividades de
reforço escolar, mas o
AEE deve servir de apoio pedagógico aos
estudantes que
apresentam diagnóstico
de deficiência,
condutas típicas e altas
habilidades. Nesta perspectiva, os
objectivos do AEE são
(BRASIL, 2008):
-
I - prover condições de
acesso, participação e aprendizagem no ensino
regular aos alunos com deficiência, transtornos
globais do
desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação;
-
II - garantir a
transversalidade das
acções da
educação especial no
ensino regular;
-
III - fomentar o
desenvolvimento de
recursos
didácticos e pedagógicos
que eliminem as
barreiras
no processo de ensino e
aprendizagem; e
-
IV - assegurar condições
para a continuidade de estudos nos demais
níveis de ensino.
As salas de recursos
multifuncionais [NOTA: De acordo com o
Programa de Implantação
de Salas de Recursos Multifuncionais, de 2005
a
2009 foram implantadas
15.551 salas em todo o
país, deste total, 655
equipadas com recursos específicos para
produção braille e
10.655 recursos
específicos para baixa
visão. Para mais
informações ver endereço
eletrónico da Secretaria
de Educação Especial do
Ministério da
Educação:
http://www.mec.gov.br/seesp.] são os
ambientes dotados
de equipamentos,
mobiliários e materiais
didácticos e pedagógicos
para a
oferta do atendimento
educacional
especializado (BRASIL,
2008). As
práticas de AEE no
município de
Florianópolis ocorrem
nas
denominadas Salas
Multimeios.
E as práticas de AEE
direccionados aos
estudantes da rede
estadual de ensino
ocorrem através
do Serviço de
Atendimento Educacional
Especializado ― SAEDE.
3.1.2
A Estrutura Escolar
Municipal, Estadual e
Particular
A
E.B.M. Batista
Pereira e a
E.B.M.
Donícia Maria da Costa são escolas geridas e
mantidas pela Prefeitura
Municipal de Florianópolis e oferecem
ensino fundamental
completo, do 1º ao 9º
ano.
A E.B.M. Batista Pereira
está localizada no sul
da ilha de Santa
Catarina, na Avenida
Baldicero Filomeno, nº
3000, Ribeirão da Ilha.
Já
a E.B.M. Donícia Maria
da Costa está localizada
no noroeste da ilha, na Rodovia Virgílio Várzea,
s/n, bairro Saco Grande.
As escolas passaram por
grandes reformas há
cerca de 15 anos e
tentaram adaptar um
pouco a sua estrutura
física aos padrões de acessibilidade. As
escolas possuem dois
pavimentos e contam com opções de rampa, escadas
e banheiro adaptado.
Contudo, a escola E.B.M. Batista Pereira
não é sinalizada com
pisos guia [NOTA:
Os pisos podotácteis ou
pisos guia foram criados
na tentativa de
possibilitar a melhor orientação e mobilidade
no trajeto para as
pessoas cegas, conforme
as leis municipais de
acessibilidade], o que
dificulta
a circulação do
estudante cego
matriculado na escola.
Diferentemente da E.B.M. Batista Pereira,
a E.B.M. Donícia Maria
da Costa sobressai aos olhos de quem a conhece,
mais parece uma escola
modelo ― é toda
sinalizada com pisos
guia e o teto de
acrílico poupa o uso de
energia
elétrica. As salas de
aula, sala multimeios,
biblioteca, banheiros,
direção
e sala dos professores
estão voltadas para um
único pavimento central,
o
que facilita a
memorização e
espacialização dos três
estudantes cegos
que por ali circularam
em 2009.
Nas escolas estão
instaladas as salas
multimeios que estão
equipadas com
computador, impressora,
máquina Perkins
Braillers
(máquina de escrever em
braille), alfabeto
braille e materiais
adaptados,
e contam com o suporte
de dois professores que
realizam o AEE. O Instituto Estadual de
Educação ― IEE e o
Centro de Educação
de Jovens e Adultos
-CEJA são instituições
públicas mantidas pelo Governo do Estado de
Santa Catarina que
oferecem ensino gratuito
à
população. O IEE foi criado em 10
de junho de 1892 e
atende estudantes da
Educação Infantil ao
Ensino Médio. Está
localizado na Avenida
Mauro
Ramos, na área central
do município de
Florianópolis, e é
considerado o
maior colégio de Santa
Catarina. Com
características bastante
distintas,
tanto na sua estrutura
física como em termos
organizacionais e
funcionais, o CEJA
(Apêndice G), situado à
Rua General Bittencourt,
nº
234, no centro de
Florianópolis, oferece
educação para jovens e
adultos
que não tiveram acesso
ou possibilidade de
conclusão da
escolaridade
básica na idade
adequada. O CEJA oferece o EJA
pela modalidade à
distância, por meio do ensino modularizado, que
é uma modalidade de
ensino que permite ao estudante estudar, na
maior parte do tempo, em
casa ou em outro local. Cada disciplina possui
um conjunto de módulos
correspondentes ao
Ensino Fundamental ou
Médio. Os módulos são
materiais didácticos
específicos para estudo
à distância, uma espécie
de apostila produzida pela Secretaria Estadual
de Educação que serve de
suporte base para o
professor e o estudante.
A acessibilidade destas
escolas estaduais ainda
é incipiente. Os
prédios possuem rampas
de acesso, mas não
oferecem o piso guia. No IEE a situação ainda se
agrava, já que as salas
que estudam os dois
estudantes cegos estão
voltadas para a Avenida
Mauro Ramos, que
acentua ainda mais o
barulho neste ambiente.
Quanto aos equipamentos e materiais de apoio,
também não houve
preocupação das escolas
com a
aquisição e adequação
para o ingresso dos
estudantes cegos.
Entretanto, o CEJA é favorecido com
o AEE e conta com a
presença de um SAEDE
e dois profissionais que
oferecem apoio
pedagógico aos oito
estudantes
cegos matriculados em
2009. Neste SAEDE há
diversos livros
didácticos,
paradidácticos e de
literatura em braille e
em áudio, mapas tácteis,
globo
adaptado, computador com
leitor de tela, reglete,
máquina de escrever,
entre outros.
Além do CEJA, o SESI
-Serviço Social da
Indústria de Santa
Catarina também oferece
a EJA com suporte e
apoio para estudantes com cegueira e com baixa
visão (Apêndice H). A
unidade do SESI que
fez parte da
investigação está
localizada à Rua
Farroupilha, nº 150,
bairro Campinas, no
município de São José e
possui grande
representactividade
quanto ao ensino para
estudantes cegos na
região da
Grande Florianópolis.
Durante o ano de 2009, o
programa de EJA do
SESI contou com dez
estudantes cegos, nove
estudantes com baixa
visão e treze estudantes
que vêem. Na unidade SESI em
Joinville está o centro
de produção de
material braille e de
áudio. É também nesta
unidade que os
profissionais
do SESI de São José
receberam treinamento e
formação para
trabalharem com a
inclusão escolar. O SESI
conta também com mais cinco unidades no Estado
de Santa Catarina que
produzem e distribuem material acessível e
livro em braille.
Os materiais didácticos
são os mesmos módulos
utilizados pelo
CEJA. Além dos livros em
braille, o SESI
disponibiliza os livros
em
áudio e em formato
digital, assim como o
CEJA. O estudante cego recebe, na íntegra,
somente o livro em
áudio, e os livros em
braille são
fornecidos
separadamente, já que a
produção depende da
demanda. Os
módulos em formato
digital foram cedidos
pela FCEE e a
transcrição
dos materiais utilizados
pelos professores em
aula é feita no próprio SESI. Para realizar a
transcrição e a
adaptação de materiais
utilizados
em sala de aula, o SESI
possui uma sala de
recursos que conta com a supervisão e orientação
de dois profissionais
com formação em
pedagogia. A sala de
recursos possui diversos
materiais adaptados ― globo, atlas, mapas,
calendário, régua,
calculadora, esquemas
didácticos,
fita métrica, etc., e
também dispõe de
reglete, máquina
Perkins,
computadores com
programas de voz e
impressora braille.
3.1.3 Os Centros de
Apoio Pedagógico
O Centro de Apoio
Pedagógico para
Atendimento às Pessoas
com
Deficiência Visual ― CAP, institucionalizado
pelo Ministério da
Educação através da
Secretaria de Educação
Especial, é um centro de produção de materiais
para estudantes cegos e
com baixa visão
matriculados na rede
regular de ensino. Entre
os anos de 1998 e 2007 foram criados os CAPs e
os NAPPBs ― Núcleo de
Apoio Pedagógico e
Produção Braille, que
receberam um conjunto de
equipamentos e a
formação para gestores e
profissionais em todo
país (BRASIL, 2009). O CAP tem por
objectivo
garantir a esses
estudantes o acesso ao conteúdo programático
desenvolvido na escola
de ensino regular. Para promover, garantir e
facilitar o atendimento
ao estudante cego e ao estudante com baixa
visão no que se refere
aos recursos específicos necessários à sua
escolarização, o CAP
produz livros didácticos
e
literários em braille,
livros de literatura
infantil adaptados,
jogos
adaptados e livros em
áudio.
O CAP também promove
a formação continuada de
professores e demais
recursos humanos da
comunidade, visando a
melhoria e ampliação dos
serviços e programas
de AEE (ARAÚJO, 2009;
SILVEIRA, 2009). O CAP
da rede estadual
de ensino ainda oferece
reabilitação visual e
adaptação de prótese
ocular. Além de atender as
escolas municipais, o
CAP do município de
Florianópolis também
produz material
didáctico-pedagógico para
estudantes da rede
particular do município
e do IEE. O CAP da rede estadual de ensino,
vinculado à FCEE, atende
as escolas estaduais em Santa Catarina, escolas
particulares, como o
Programa SESIEscola e demais instituições
públicas e particulares
em outros municípios do Estado.
Além dos CAPs da
Prefeitura Municipal de
Florianópolis e da
FCEE, os estudantes
cegos da região da
Grande Florianópolis
contam
também com o apoio do
Centro de Produção de
Material Acessível da ACIC. A experiência de
produção de material
didáctico e pedagógico na ACIC começou em 2004,
porém como a instituição
não recebe nenhuma
ajuda financeira,
contando somente com
seus próprios recursos,
o
auxílio aos estudantes
cegos acaba sendo
limitado e restrito.
Actualmente, a ACIC
produz livros e textos
em braille que irão
assistir estudantes
associados à
instituição. Durante o
ano de 2009 foram
assistidos três
estudantes do CEJA
-Telessala na Fundação
Vidal
Ramos e dois estudantes
de graduação na Unisul.
A produção do livro em
braille é feita para as
disciplinas de
português, matemática,
química e física. Para
as demais disciplinas, como geografia, história
e ciências são
produzidos livros em
áudio que
poderão ser lidos por
sintetizadores de voz.
Para as disciplinas
exactas
que são transcritas para
o braille, a ACIC conta
com uma equipe de
adaptação gráfica,
responsável em adaptar
as tabelas, gráficos,
mapas e
figuras. Além dos livros e textos
didácticos para o ensino,
a ACIC também
se encarrega de produzir
livros de literatura em
áudio. A instituição
conta com um estúdio
para gravação de livros
com leitores humanos, mas aguardam por
recursos e por
voluntários para darem
início ao
projecto. No entanto, a
instituição tem
encontrado muitas
dificuldades
quanto à produção
braille. Além da falta
de recursos, há também a
falta
de funcionários para
realizarem essa tarefa,
actualmente a ACIC conta com quatro pessoas: dois
bolsistas que fazem a
digitalização, uma
professora que faz a
transcrição e um revisor
braille. Das quatro
impressoras braille que
possuem para impressão
dos materiais, duas
estão em manutenção em
Porto Alegre, e as duas
que estão operando
acabam ficando
sobrecarregadas, o que
impossibilita que a
produção do
livro acompanhe a
demanda do tempo do
estudante. Algumas
instituições, como a
Fundação Dorina Nowill
para Cegos, doam
materiais e livros para
a biblioteca da ACIC,
mas nem sempre esse
material chega a tempo
para o estudante que
precisa.
3.2 As entrevistas
De acordo com Lessard-Hébert, Goyette
e Boutin (2008) existem diversas maneiras de
relacionar-se com os
sujeitos da pesquisa no intuito de estabelecer
relações de confiança
durante a investigação:
a
neutralidade, a
confidencialidade, o
envolvimento e a
clareza. Durante a investigação,
procurou-se encontrar a
neutralidade ao
apresentar aos
professores e estudantes
que a pesquisa e seus
objectivos
não se tratavam de uma
avaliação pessoal, e sim
uma análise de um
conjunto de práticas e
acções que fazem parte do
quotidiano de escolas que recebem estudantes
cegos.A confidencialidade, ao
manter sigilo das
informações
apresentadas pelos
professores e estudantes
durante o período de
entrevistas, evitando
assim comentários que
pudessem trazer
desavenças
e ou situações
constrangedoras aos
entrevistados. O envolvimento, que
procurou ser despertado
nos entrevistados
mostrando-lhes a
importância do seu papel
de colaborador para
divulgação do modelo
actual de ensino e
possível aperfeiçoamento
e
revalorização do mesmo.
E por fim a clareza.
Durante a realização das
entrevistas eram
feitas as transcrições
dos textos gravados e
reafirmadas as
principais
questões que tratava a
pesquisa. Dessa maneira,
a clareza nos objectivos da investigação
fundamentavam os
procedimentos realizados
durante as
entrevistas, procurando
assim inspirar confiança
nos sujeitos envolvidos.
Lessard-Hébert, Goyette
e Boutin (2008) ainda
acrescentam que
existem numerosas
tipologias de
entrevista. A escolhida
para esta
pesquisa foi a
entrevista do tipo
fenomenológico. Neste
caso, o
entrevistador se vê
exterior ao sistema,
porém, investiga as
percepções
dos que dele fazem parte
de modo a compreender o
funcionamento do
sistema. As entrevistas
realizadas com
professores e estudantes
foram
conduzidas por um
roteiro semi-estruturado
que versava sobre a
inclusão escolar, o
ensino de geografia e a
cartografia táctil e as metodologias de ensino.
As “conversas” com os
professores e
estudantes foram
gravadas em áudio e
posteriormente
transcritas,
reduzidas e formatadas
de acordo com o roteiro
elaborado. Das perguntas
pré-elaboradas
almejava-se obter
informações e
opiniões dos professores
sobre os seguintes
assuntos:
-
Formação profissional
e cursos complementares
recentes;
-
Tempo de magistério e
tempo de magistério com
estudantes cegos;
-
Número de estudantes
cegos atendidos;
-
Habilidades e
competências
profissionais;
-
Inclusão escolar de
estudantes cegos;
-
Facilidades e
dificuldades quanto à
inclusão;
-
Utilização de recursos
didácticos;
-
Metodologias de ensino
de geografia e mediação
do conhecimento
geográfico;
-
Utilização de
conceitos e recursos
didácticos para ensinar
geografia;
-
Alfabetização
cartográfica e mapas
tácteis;
-
Dificuldades quanto ao
ensino de geografia e
cartografia escolar.
Das perguntas
pré-elaboradas
destinadas aos
estudantes,
almejava-se obter
informações e opiniões
sobre os seguintes
assuntos:
-
Idade, série que
cursava e trajetória
escolar;
-
Recursos didácticos
existentes e utilizados
no dia-a-dia do
estudante;
-
O livro em braille:
qualidade, clareza,
compreensão, auxílio,
etc.;
-
Como estuda e como são
as aulas de geografia;
-
Geografia e mapa
táctil;
-
Inclusão escolar;
-
Sentimento em relação
à escola, aos estudantes
e ao aprendizado.
Os encontros com os
professores e estudantes
foram individuais,
na tentativa de buscar
maiores elementos para a
análise. Pessoalmente foram apresentados aos
participantes o projecto
de pesquisa, objectivos, metodologia e então
agendados os melhores
dias e horários para a entrevista. O
agendamento das
entrevistas realizadas
com os estudantes
do CEJA foram feitos
pela professora de AEE.
A dificuldade maior foi conciliar os horários
para realização das
entrevistas com os
professores
de geografia, pois
possuem uma extensa
carga horária de
trabalho com
poucos horários
disponíveis para
actividades extras. Para estimular a
espontaneidade dos
entrevistados,
começava-se a
entrevista com uma
pergunta em aberto. Para
os professores foi feito
o
questionamento sobre
como é o trabalho com
turmas em que estão
presentes estudantes
cegos. Para os
estudantes foi-lhes
pedido que
contassem um pouco da
sua trajetória escolar.
As questões amplas
buscavam suscitar
relatos de vida e
experiência profissional
e escolar
dos professores e
estudantes. O objectivo
foi investigar o que o
professor
já sabe, já conhece,
como acredita e como vê
a educação inclusiva e
sua
prática frente a
estudantes com cegueira.
Se o professor considera
o
conhecimento do
estudante cego ao
inserir sua metodologia.
Se o mapa
como linguagem é
importante para ensinar
geografia e se o
professor
conhece essa linguagem,
etc. E em relação aos
estudantes, procurou-se compreender como o
estudante cego vê o
mundo, como se vê na
sociedade e na escola.
Os entrevistados
responderam as questões
entre 40 minutos e
duas horas, mas, devido
à longa duração de
algumas entrevistas, foi necessário realizar mais
de um encontro com
alguns participantes.
3.3 Os sujeitos da
pesquisa
3.3.1 Os estudantes
Participaram da pesquisa
16 estudantes ao todo.
Os estudantes
estão matriculados em
turmas e escolas
conforme o quadro a
seguir:
Quadro 1. Os estudantes
entrevistados
Nº de
estudantes
|
Série
|
Escola
|
01
02
02
01
03
02
04
01
|
7º ano
7º ano
1º colegial
EJA ― Ensino
Fundamental
EJA ― Ensino Médio
EJA ― Ensino Médio
EJA ― Ensino
Fundamental
EJA ― Ensino Médio
|
E.B.M. Batista
Pereira
E.B.M. Donícia
Maria da Costa
IEE
CEJA
CEJA
CEJA ― Telessala
SESI
SESI
|
Os estudantes
entrevistados possuem
idades entre 14 e 49
anos e
todos fazem uso, directa
ou indirectamente, do
AEE. Apesar da grande
diferença de idade,
todos apresentam um
passado bastante comum:
a maior parte dos
estudantes convive com a cegueira desde que
nasceu e muitos que
tentaram estudar em
escolas
regulares na infância
encontraram diversas
barreiras, como a
diferença
de ritmo de
aprendizagem, o
desconhecimento dos
professores em
relação à cegueira e
suas implicações, a
falta de estrutura para
atender
suas necessidades, o
preconceito, a
humilhação, o desprezo
e, em muitos
casos, a indiferença.
Alguns dos estudantes
entrevistados perderam a
visão por
acidente ou em
decorrência de doenças
como sarampo, catarata, ambliopia e glaucoma.
Nestes casos,
principalmente, foi de
suma
importância o
desenvolvimento de
trabalhos de
reabilitação. É o caso de dois
estudantes angolanos que
vieram ao Brasil em
2001, acompanhando um
grupo de 24 pessoas à
procura da reabilitação para cegos e formação
educacional. Deste grupo
de 24 pessoas, alguns voltaram para o país de
origem, outros seguiram
para Curitiba e outros já estão cursando o
terceiro grau.A
ACIC é um centro de
referência nacional e
internacional no
que concerne às
actividades de
reabilitação. Foi em
busca deste auxilio
que vários dos
estudantes entrevistados
deslocaram-se do
interior do
estado para
Florianópolis.
[NOTA: O Programa de
Habilitação/Reabilitação
oferecido pela ACIC
conta com atendimento em Orientação e Mobilidade,
atendimento nas
Actividades da Vida
Diária, ensino do
Sistema
Braille (Escrita e
Leitura/Simbologia
Braille e Alfabetização
Braille), ensino da
escrita
cursiva, informática
(digitação, programa
Dosvox, introdução ao
Windows), ensino do
sorobã,
musicoterapia,
artesanato e actividades
físicas.] A maioria dos estudantes
entrevistados foi
alfabetizada em salas multimeios e iniciaram
os estudos directamente
no 6º ano do ensino
fundamental. Pela grande
incidência do número de
adultos nas escolas,
pode-se observar que
muitos desses
estudantes, em
decorrência das
dificuldades encontradas
em fazer parte do ensino
regular, abandonaram
os estudos e só depois
de alguns anos
retornaram para concluir
sua
escolarização. Essa
busca pela conclusão do
ensino médio está
atrelada
principalmente à
exigência profissional.
Para a participação de
cursos de
capacitação, como curso
de telemarketing e curso
de massagista, são
exigidos pela ACIC o
ensino médio e
fundamental,
respectivamente. E
muitas das vagas de
emprego oferecidas pela
Lei de Cotas (BRASIL, 1991) exigem uma
formação mínima dos
interessados.
3.3.2 Os professores de AEE
Ao todo foram
entrevistados seis
professores que realizam
o
Atendimento Educacional
Especializado -AEE. As
salas multimeios da E.B.M. Donícia Maria da
Costa e da E.B.M.
Batista Pereira contam
com
duas professoras em cada
uma das salas, o SAEDE ― DV do CEJA
conta com uma professora
e o SESI conta com um
professor.
Todos os professores são
formados em Pedagogia
com
habilitação em Educação
Especial e possuem mais
de 10 anos de
experiência em sala de
aula. Apesar de vários
professores já terem
trabalhado com
estudantes cegos, dois
deles possuem curta
experiência,
de apenas um e dois
anos. Muitas são as
atribuições de um
professor de AEE. Os
professores que realizam
o AEE com estudantes
cegos, além da
formação em Pedagogia
e/ou comprovação de
experiência na área,
devem também realizar
algumas tarefas, como a
transcrição para o
braille de materiais
didácticos específicos:
provas, exercícios,
textos, etc.;
orientar e acompanhar o
encaminhamento dos
livros didácticos
utilizados
pela escola para a
transcrição no CAP;
orientar e subsidiar o
professor
de sala de aula e a
turma na qual o
estudante cego está
matriculado;
promover palestras,
encontros com
professores,
funcionários da escola, estudantes e famílias;
participar de reuniões e
conselhos de classes da turma onde o estudante
está matriculado; propor
intervenções
pedagógicas em sala de
aula no intuito de
possibilitar a efectiva participação dos
educandos no ensino
regular; elaborar e
executar
planejamento de
actividades conforme as
especificidades dos
estudantes;
participar da elaboração
do projecto
político-pedagógico;
orientar o
professor da classe
regular quanto às
adaptações curriculares
no
contexto da metodologia,
avaliação e
temporalidade; entre
outras
(SANTA CATARINA, 2009a). O atendimento pelo
professor de AEE da rede
estadual e
municipal se dá de duas
formas (SANTA CATARINA,
2009a):
-
em sala
― quando o
serviço for instalado em
uma unidade
escolar da rede regular
ou congênere, com
atendimento organizado
em
sessões, conforme
orientações das
Diretrizes Estaduais e
Municipais,
ou;
-
itinerante ― quando
não houver possibilidade
de acesso do
estudante ao pólo de
atendimento, deverá
ocorrer o deslocamento sistemático do professor
― atendimento itinerante
― para as escolas nas quais os estudantes
estão matriculados,
garantindo-lhes
atendimento
semanal.
O professor de AEE do
SESI faz atendimentos
exclusivos para os
estudantes do SESI, e
conta também com a ajuda
de outro funcionário, formado em Pedagogia,
para à transcrição de
textos, adaptações de materiais e auxílio de
informática. Além dos professores de
AEE das salas
multimeios, também
participou da pesquisa
um professor de AEE que
realiza
acompanhamento em classe
na E.B.M. Donícia Maria
da Costa. Este
professor é formado em
Letras-Alemão e
auxiliava um estudante cadeirante que estudava
na mesma turma dos
estudantes que
participaram da
pesquisa. Este
estudante, devido a
dificuldades de
transporte casa-escola,
teria se ausentado da
escola e estava
recebendo
auxílio em casa pelos
professores do AEE. O
professor acompanhante permanecia na escola,
pois fazia mediações
entre o estudante
cadeirante,
os professores, a
família e a escola.
Portanto, em sala de
aula este
professor auxiliava, por
livre iniciativa, os
estudantes cegos.
Vale salientar,
entretanto, que o
professor de AEE que
estava
presente em sala de aula
na E.B.M. Donícia Maria
da Costa, bem como
os dois professores de
AEE da E.B.M. Batista
Pereira não são
profissionais com cargo
efectivo na rede
municipal, o que não
garante
que estarão
desempenhando suas
actividades nas mesmas
escolas no ano
de 2010.
3.3.3 Os professores de
sala regular
Foram entrevistados
quatro professores de
sala regular. Na E.B.M. Donícia Maria da
Costa, na E.B.M. Batista
Pereira e no IEE
foram entrevistados os
professores de geografia
que dão aulas para as turmas que possuem os
estudantes cegos
matriculados.
Quanto ao EJA, em função
do ensino ser
modularizado, nenhum
estudante cego estava
estudando a disciplina
de geografia no momento. Dessa maneira, em
nenhuma das escolas o
professor de geografia
estava
disponível para
participar da pesquisa.
Mesmo assim, foram
localizados
os professores e lhes
foram apresentados a
pesquisa e seus
objectivos
com o intuito de
realizar as entrevistas.
O professor do CEJA,
durante as
visitas feitas à escola
e entrevistas com
estudantes e professor
de AEE,
encontrava-se afastado,
e no SESI, o professor
responsável pela
disciplina de geografia
não se interessou em
participar da pesquisa. Diferentemente dos
últimos casos, o ensino
de geografia da
Telessala
não é ministrado por um
professor de geografia
com formação na área, mas sim por um
orientador de
aprendizagem que possui
formação em
alguma licenciatura ou
de Pedagogia. O
professor ― orientador
de
aprendizagem da
Telessala que participou
da pesquisa é formado em Física e capacitado na
metodologia do Telecurso
2000. Os professores
entrevistados possuem
experiências em sala de aula entre quatro e 23
anos, porém, em todos os
casos era a primeira vez que lecionavam para
estudantes cegos. Apesar
da presença do estudante cego em sala de aula,
nenhum dos professores
recebeu capacitação
especial, nem realizaram
cursos de formação na
área de inclusão ou
quanto à cegueira. Apesar da diferença de
idade, género e tempo de
magistério entre
os professores, nesta
pesquisa não houve
preocupação em criar com essas características
alguma variável
discriminante, mas sim,
identificar o que eles pensavam
quanto à inclusão
escolar, quais suas
metodologias
de trabalho e
conhecimento quanto à
geografia e cartografia
táctil. Diante do levantamento
de informações junto ao
AEE, às
estruturas escolares ― municipal, estadual e
particular –, aos
centros de
apoio pedagógico e aos
sujeitos participantes
da pesquisa, seguem os resultados das
entrevistas e as
análises realizadas a
partir das conversas
com professores e
estudantes. Buscou-se
levantar as
peculiaridades das
falas existentes em cada
uma das identidades e
espaços investigados, ao mesmo tempo que
procurou-se por meio dos
procedimentos de análise qualitativa, organizar,
classificar e
categorizar os dados na
tentativa de
formular novas
proposições.
IV. ANÁLISES E
DISCUSSÕES
4.1 A Educação
Inclusiva: trajetória
escolar de estudantes com cegueira no ensino
regular
Nos encontros com os
estudantes cegos, após a
apresentação da
pesquisa, era solicitado
a estes estudantes que
relatassem sua trajetória
escolar. Apesar de
experiências distintas,
todos os estudantes já
haviam
estudado em pelo menos
duas escolas de ensino
regular, com excepção do estudante E16 que
realizou seus estudos em
uma única escola. Embora os estudantes
apresentem diferentes
experiências de vida, idade,
género,
nacionalidade e tempo de
convivência com a
cegueira, os
desabafos são
consonantes: dos 16
estudantes cegos que
participaram da
pesquisa, a maioria
relata situações de
desrespeito, humilhação
e
indiferença durante as
tentativas de inclusão
no sistema regular de ensino. Os estudantes E6 e E9
contam que em algumas
escolas chegaram
a sofrer maus tratos
como castigos por uma
actividade não cumprida.
A
exposição durante horas
ao relento no período
nocturno era uma das
situações que viveram em
uma instituição para
cegos em Minas Gerais.
O estudante E13 relata
que durante o 4º ano (3ª
série) sofreu
agressões de estudantes
que enxergavam e se
aproveitaram de sua
situação. Este mesmo
estudante diz que em
outras escolas que
estudou
ficava isolado na sala
de aula durante o
recreio e que isso lhe
causava
muito sofrimento. O estudante E12 veio
para Florianópolis em
busca de recursos
para concluir seus
estudos. Conta que em
sua cidade natal não
havia
estrutura, e ao
relembrar de sua antiga
condição, acrescenta:
“aqui é um
paraíso, lá na escola eu
não fazia nada porque os
professores não
tinham essa “coisa” de
ensinar, não eram bem
acostumados”. No entanto, apesar do
contentamento inicial,
E12 conta que em
uma outra escola que
estudou sentia que os
professores não lhe
davam
atenção. Quando E12
solicitava que outro
estudante lhe ditasse o
texto
do quadro, os
professores o
repreendiam alegando que
era perda de
tempo e que atrapalharia
a turma. Experiência que também
foi vivida pelo
estudante E11: por não conseguir ler o que
estava escrito no
quadro, os colegas e os
professores
não lhe ditavam e
ignoravam sua presença
em sala de aula.
E2 é um estudante do
oeste catarinense que
veio para
Florianópolis também em
busca de auxílio. E2
conta que antes de vir para Florianópolis não
sabia que cego podia
andar sozinho,
frequentar a
escola ou que podia
aprender a ler e a
escrever. Diz que nunca
foi para a
escola porque era
discriminado. Embora
tenha vivido na infância
uma
experiência em uma
escola regular na
Educação Infantil, alega
que
sofria muito preconceito
e humilhações por parte
dos colegas da escola. As confusões eram
frequentes em sala de
aula, pois E2 procurava defender-se das
provocações a todo
momento, até que um dia,
a directora
da escola, conversando
com sua mãe e explicando
a situação, pediu para que ela o retirasse da
escola alegando que
“agora não seria o
momento,
mas quem sabe um dia”...
A história de E10 não é
muito diferente das
anteriores. E10
frequentou o ensino
regular até o 2º ano do
ensino médio em uma
escola
pública no município de
Brusque/SC. Durante sua
escolarização, E10
relata que os materiais
eram muito limitados às
suas necessidades.
Quanto à postura dos
professores e da escola,
ele conta que sentia que
a
escola lhe “passava de
graça”, pois via o
estudante cego com
bastante
limitação. Considera que
muito do seu aprendizado
se deu
verdadeiramente nas
salas multimeios, uma
vez que os professores
da
sala regular lhe
ignoravam. Os momentos
mais difíceis de sua
escolarização surgiram a
partir do 8º ano do
ensino fundamental,
quando
começou a ter
dificuldades com o
estudo das disciplinas
exactas ― química, física e
matemática,
principalmente por não
possuir material
adaptado que lhe
auxiliasse na
compreensão dos
conteúdos. Histórico
muito parecido com o do
estudante E11, que diz
ter abandonado os
estudos por não
conseguir acompanhar a
disciplina de
matemática,
retornando somente mais
tarde quando aprendeu a
estudar pelo sorobã. O relato dos estudantes
em relação às tentativas
de inclusão em
escolas regulares
demonstrou um grande
desconhecimento por
parte dos
professores e da própria
escola. A falta de
informações de como
trabalhar com o
estudante cego, bem como
a escassez ou
inexistência de
materiais fez com que
vários estudantes
abandonassem os estudos
ou
partissem em busca de
auxílio em outros
municípios, como
Florianópolis. O desconhecimento abarca
até mesmo familiares e
pessoas
próximas aos estudantes.
E5 conta que nunca
estudou porque a família achava que na escola não
ia aprender nada, pois
enxergava muito pouco na infância e teria
dificuldades em
acompanhar os escritos
no quadro e a
leitura dos livros. O
desestímulo é também
relatado ao se referir à
figura
dos professores. E5
descreve com indignação
que passou por
experiências em escolas
de Florianópolis em que
professores lhe diziam que nunca iria aprender
o braille ou que
dificilmente aprenderia
a
utilizar a bengala
sozinho. Situações
complexas e difíceis,
mas que
foram superadas pelo
estudante. A dificuldade em
acompanhar o ritmo de
estudos de uma turma
regular também é
apontada por muitos dos
estudantes, como
aconteceu
com E4, E8, E10, E11 e
E12, que por não
conseguirem superar tal dificuldade foram
levados a desistir dos
estudos. Facto que os
levou
posteriormente a
procurar o ensino
modularizado na educação
de jovens
e adultos, onde podem
estudar cada um em seu
próprio ritmo. Quando questionado aos
estudantes se sentiam
diferença entre as
escolas que já
estudaram, em suas falas
foi possível identificar
que
alguns alegaram a falta
de estrutura física
(12%), outros a falta de materiais (44%), outros
o comportamento dos
demais estudantes (25%), mas a grande maioria
(82%) relata que a
diferença mais agravante dentre todas é a postura
do professor. Além dos
relatos já mencionados quanto às atitudes dos
professores, as posturas
de E8 e E12 são
significativas ao
afirmarem enfaticamente
que os professores têm dificuldade em trabalhar
com o estudante cego.
Nesse sentido, o
estudante E8, ao
perceber e conviver com
as
dificuldades dos
professores em sala de
aula, disse que gostaria
que o
professor aprendesse a
“conviver com a gente”,
que eles tivessem
formação e que pudessem
preparar a aula de uma
maneira que os
estudantes cegos também
participassem. E ainda
acrescenta, “os
professores deveriam ser
preparados, conhecer os
materiais, como
trabalhar com o cego”.
E7 conta que passou por
situações em que o
professor lhe dava
uma actividade e não lhe
ensinava, não tinha
paciência e “mandava eu me virar”.
Actualmente, em relação à
postura dos professores
e suas
metodologias de
trabalho, todos os
estudantes cegos dizem
estar
satisfeitos como são
trabalhados os conteúdos
em sala de aula, porém, dois estudantes
ressaltaram o quanto é
importante aprender a
partir de
aulas práticas, e outros
dois apontaram a
importância da
utilização de
materiais adaptados e em
relevo. Quanto às metodologias
de trabalho dos
professores, são de
grande importância os
apontamentos feitos na
fala do estudante E16. Ele diz que “cada um
(professor) tem sua
maneira de trabalho e eu como estudante tenho que
me adaptar a maneira do
professor. Para
isso eu tenho que
aprender duas vezes: o
conteúdo e a forma de trabalho deles (do
professor)”.
E avança quanto à
postura dos professores
em sala de aula: “O
professor deve ser
objectivo, explicar bem,
ter vontade de ajudar.
Agora,
se você pega aquele
professor que não quer
ajudar, que não tem
interesse, que não é
interessado, que tanto
faz como tanto fez, aí
fica
difícil”. Nota-se na
fala do estudante o
quanto reconhece que o
interesse
do professor em auxiliar
o estudante cego é
fundamental. E continua dizendo que
uma das dificuldades
existentes no dia-a-dia da sala de aula é
“quando o professor não
está apto, quando ele se assusta, quando olha a
gente em sala de aula e
acaba se perdendo, não sei... Eu não sei se é
por não estar
interessado, por medo do desconhecido, ele não
quer ajudar a gente”. E
vai além em suas
críticas: “isso é o que
mais acontece, (o
professor) acaba
ignorando a
situação. Um aluno cego
no meio de quarenta!
Então vou explicar para os quarenta, e ele que
..., tó nem aí”. Na tentativa de procurar
auxiliar os professores,
o estudante E16
diz que por diversas
vezes perguntou aos
professores se eles
conhecem
algum material adaptado
que possa ajudá-los na
explicação do conteúdo. Disse inclusive que
solicita aos professores
que lhe entreguem com antecedência as
actividades e textos que
serão trabalhados em
aula para
que possa providenciar a
transcrição e produção
do material. Mas o
esforço do estudante é
inválido, o estudante
relata que os
professores
“esquecem e ignoram” seu
pedido. As vivências dos
estudantes em sala de
aula revelam mais uma vez as questões de
alteridade que estão
presentes no ensino. É desconsiderado o
conhecimento e interesse
desses estudantes.
“Nega-se o que o outro fala e
nega-se sua fala
possível” (SKLIAR, 2003,
p. 109).
Apesar do preconceito
descrito nas
experiências escolares,
actualmente todos os
estudantes se sentem bem
nas escolas em que
estudam. 82% dos
estudantes relatam que
se sentem respeitados e
que
gostam dos estudantes da
turma, dos professores e
dos funcionários da
escola. E10 chega a
desabafar: “aqui eu me
sinto gente”. E E16
acrescenta que “o
primeiro passo para a
inclusão social vem da
gente,
se a gente se exclui não
tem como acontecer a
inclusão”. Contudo, apesar do
contentamento em estar
fazendo parte do
espaço escolar descrito
nas entrevistas, durante
as observações na escola e no período das
entrevistas, foi
possível observar que os
estudantes
E12, E13 e E15 no
intervalo do recreio
ficavam muitas vezes
isolados
dos demais estudantes da
escola. Em conversas com
os professores, foi
exposto inclusive que
estes estudantes não
participam de actividades extra-classe, como
gincanas ou saídas de
estudo, e também são
liberados
de actividades
desportivas.
Diante das situações
expostas pelos
estudantes, podemos
inferir
que o comportamento dos
professores e da própria
escola nos leva a
perceber que a inclusão
de estudantes cegos no
ensino regular desafia tanto o sistema
educacional como a cada
um de nós em reconhecer
a
ipseidade do outro. As questões de
alteridade são cada vez
mais evidenciadas nos relatos dos estudantes
cegos: para seus
professores não era
importante a
compreensão do outro na
sua singularidade, não
viam a importância em ouvir e compreender o
outro, como se o que
tivessem para lhes
mostrar
fosse desprezível, dessa
maneira, era mais fácil
e cómodo ignorá-lo e
negligenciá-lo. Conforme aponta Skliar
(1997), se observarmos o comportamento dos
professores e estudantes
que conviveram com a
diferença em sala de
aula, podemos perceber
que esta maneira de agir em relação ao outro está
muito pautada em
concepções etnocêntricas
do
homem e da humanidade, o
que faz com que
estudantes deficientes convivam com situações
de intolerância, racismo
e desrespeito à sua
dignidade. A fala de Skliar
corrobora com a situação
apontada pelos
estudantes, o processo
de inclusão é testado
nas vivências do
dia-a-dia,
onde notamos a real
dicotomia entre a teoria
e a prática. Fica
evidenciado na inclusão
que a exclusão do outro
se dá de diversas
maneiras: quando é
desrespeitada a sua
identidade, quando é
humilhado
por não ser igual à
maioria, quando é
ignorado e evitado na
tentativa
cómoda de abster a
responsabilidade do
professor, quando
menosprezados no seu
saber e em suas
conquistas, quando por
nossas
limitações são impedidos
de participar
efectivamente da
comunidade
escolar.
4.2 A experiência em
relação à inclusão: o
olhar do professor
A presença de um
estudante cego em sala
de aula foi novidade
para todos os quatro
professores de geografia
que participaram da
pesquisa. Entre os seis
professores de AEE,
apenas um desconhecia
esta
realidade. Embora a LDBEN (BRASIL,
1996) assegure a
inclusão de
estudantes deficientes
em sala de aula, desde
1996, o desconhecimento desta realidade por
parte dos professores é
significativa. Parte do desconhecimento pode ser
atribuída à falta de
formação e capacitação
nos cursos de graduação
em pedagogia e,
principalmente, no curso
de
geografia. O curso de
Pedagogia da UFSC
oferece duas disciplinas
que
abordam o tema:
Diferença, estigma e
educação, e Educação
Especial:
conceitos, concepções e
sujeitos. Quanto ao
curso de Geografia da UFSC, as discussões
sobre o ensino para
estudantes com cegueira
e
baixa visão ficam
limitadas a dois tópicos
na disciplina de
Cartografia
Escolar.
O movimento em favor da
inclusão de estudantes
com NEE no
ensino regular constitui
ainda um grande desafio
aos professores e seus formadores (MANTOAN,
2002; MONTEIRO, 2006;
BEYER, 2006;
RODRIGUES, 2007 e
MANZINI, 2007). Ao se
falar em formação,
formação de professores
e professores, muitas
pesquisas tentam apontar caminhos que conduzam o
professor a atingir o
estudante e conseguir
ter
sucesso no processo
educativo. Dentre essas
pesquisas, Rodrigues
(1986, p.65) indica as
características
fundamentais do Educador Necessário e ressalta
que em primeiro lugar,
“ele deve estar
comprometido
politicamente com a sua
tarefa de educador”; em segundo lugar, que “o
professor comprometido
politicamente tem de ser tecnicamente
competente”. Para o
autor, nenhum professor
está
adequadamente preparado.
Por último, o autor
conclui afirmando que “se a escola se pretende
democrática, o educador
necessário para ela
deve assumir,
democraticamente, a sua
tarefa educativa”. Considerando o
desconhecimento de
grande parte dos
educadores,
principalmente daqueles
que leccionam a
disciplina de
geografia, e perante a
escassez de informação
sobre a cegueira e suas implicações na escola e
no quotidiano do
professor, foi de suma importância conhecer o
que os professores já
sabem e já conhecem
sobre o tema. Neste
sentido, os professores
foram indagados quanto
às
habilidades e
competências
profissionais que julgam
essenciais ao
considerar o ensino e o
ensino de geografia para
estudantes com
cegueira. O professor PG1 aponta a
importância em conhecer
a linguagem
do estudante, além de
julgar que tanto a
escola quanto os
professores
devem ter um
comprometimento no
processo educativo dos
estudantes.
E aponta que o professor
conhecendo a linguagem
do estudante cria
automaticamente uma
proximidade, e completa:
“é preciso ter contacto, ter trocas, ter
afetividade”. Os professores PG2 e PG3
apontam que seria
importante que os
professores fossem
preparados para
trabalhar com o
estudante cego,
preparação essa que
deveria começar na
graduação.O professor PG4 diz que
é importante que o
professor tenha
interesse em trabalhar
com estes estudantes.
Como durante a formação
a
maioria dos professores
não é orientada,
acredita que o interesse
vai
muito do perfil de cada
profissional. Alega
inclusive que é preciso
ter
sensibilidade de
observar o que o
estudante mais precisa.
É possível observar pela
fala dos professores de
geografia que
eles têm grande
preocupação com a
linguagem utilizada no
ensino com
estudantes cegos e com a
formação e preparação do
professor no que diz
respeito ao ensino para
estudantes com cegueira.
O professor PAEE1
apontou que é essencial
que se faça um
trabalho entre a teoria
e a prática. Que
conhecer as deficiências
e
“aprender a fazer,
fazendo” pode ser um
caminho, porém aponta
ainda
que o professor “deve
ser bem realista e saber
aceitar que não conhece, não sabe, não lembra”.
O professor PAEE2 diz
que julga essencial
saber trabalhar com a diversidade. Acredita
que é importante também
que o professor ensine para o estudante cego as
noções espaciais, porque
a partir desse
conhecimento o estudante
compreenderá e também
será beneficiado na
leitura do mapa, na
leitura do braille, na
noção espacial do corpo
e do
corpo no espaço. O professor PAEE3
considera que a
sensibilidade é de suma importância no processo
educativo. Aponta que o
professor não deve ver barreiras ao trabalhar
com o estudante cego.
Alega que é preciso
criar
empatia com o estudante.
Quanto ao ensino de
geografia, o professor acredita que a noção de
espaço deve ser
explorada de uma maneira
que o estudante cego
compreenda, e para isso
sugere a utilização de
recursos
tácteis como o mapa.
O professor PAEE4 coloca
que em “primeiro lugar a
boa
vontade do professor é a
porta de entrada da
inclusão”. E em segundo lugar, conhecer o
estudante, como o
estudante estuda, ter
curiosidade
para saber como o
estudante aprende, quais
são os materiais
didácticos
que utiliza, saber quais
as facilidades e
dificuldades que o
estudante
pode ter na disciplina,
etc. Os
professores PAEE5 e
PAEE6 acreditam que o
professor para
trabalhar com estudantes
cegos deve ter
flexibilidade para
aceitar o
ritmo diferenciado e
também flexibilidade com
o currículo. Apontam
que o professor deve
saber descrever bem, que
é através da descrição
do
professor que o
estudante se situará na
aula. [NOTA: Os professores PAEE5 e
PAEE6 preferiram ser
entrevistados juntos,
contudo, durante a
entrevista um
complementava a resposta
do outro.]
Nas falas dos
professores de AEE, ao
contrário dos
professores
de geografia que se
preocupam com a
linguagem e capacitação
no que
diz respeito à cegueira,
fica evidente a
preocupação com o
interesse e a
abertura dos professores
de sala regular quanto à
inclusão de estudantes com NEE. Outro aspecto
válido de observar é que
os professores de
AEE acreditam que a
sensibilidade do
professor de sala
regular ao
trabalhar com estudantes
cegos fará significativa
diferença no processo educativo.
Entre habilidades e
competências julgadas
essenciais, os
professores abordaram
aspectos de ordem
profissional e também de ordem pessoal, isso
quando essas
características não
fazem parte tanto
de uma quanto da outra
ordem, como a
alternativa do “aprender
a fazer
fazendo”; a
flexibilidade na adopção
do currículo; o
comprometimento
com o processo
educativo; e a
capacidade de uma boa
descrição do
conteúdo. Dentre as competências e
habilidades de ordem
profissional
foram citados o
conhecimento de todos os
aspectos que envolvem a cegueira e o ensino para
cegos; a necessidade de
conhecimento da
linguagem do estudante
cego; o trabalho de
relação entre teoria e prática; e saber ensinar
e explorar noções
espaciais. Dentre as disposições
pessoais requeridas para
o ensino de
estudantes cegos foram
referidos o contacto, a
troca, a afectividade e a criação de empatia com o
estudante; o interesse;
a sensibilidade para as NEE; o conhecimento das
limitações do outro e o
reconhecimento e
aceitação das próprias
incapacidades e
ignorância; a
flexibilidade para
aceitar ritmos de
aprendizagem diferentes;
não encarar como
barreira a
experiência da inclusão;
a boa-vontade, no
sentido de boa
disposição em
trabalhar com o
diferente. Diante deste panorama
apresentado pelos
professores de
geografia e professores
de AEE, seguem algumas
análises que
justificariam tais
posicionamentos.
4.2.1 Colaborações
necessárias para aulas
com estudantes
cegos
Três dos quatro
professores de geografia
que participaram da
pesquisa relataram que
ao estar em contacto pela
primeira vez com um
estudante cego em sala
de aula sentiram
desespero e angústia. Os
professores PAEE5 e
PAAE6 afirmaram que no
início do ano lectivo, há professores que chegam a
entrar em pânico diante
de tal situação.
Muitas dessas angústias
são geradas,
principalmente, por
conta
do desconhecimento do
professor. O professor
de sala regular acredita que para trabalhar com
um estudante cego é
preciso ler e escrever
em
braille.
Consequentemente, esse
desconhecimento causa
nos
professores certa
resistência em relação
aos estudantes. E surgem naturalmente as dúvidas:
Como vou ensinar alguém
que não vê? Como
ele vai ler a minha
avaliação? Como eu vou
corrigir os seus
trabalhos? Neste sentido, as
entrevistas demonstraram
o que os professores
de geografia e AEE
consideram como
fundamental para
orientar
professores no trabalho
com estudantes cegos em
sala de aula. A seguir são apontados alguns
desses aspectos. Foi quase unânime a
necessidade de terem
esclarecimentos sobre a cegueira e a
apresentação de
materiais didácticos (a
máquina Perkins, as
folhas para escrita, o
alfabeto braille, os
mapas tácteis e o globo adaptado, a calculadora,
o ábaco/sorobã, etc.). Além de
esclarecimentos sobre a cegueira e os
materiais de apoio
didáctico, dois
professores sentiram
necessidade de saber
sobre as condições
familiares e sociais dos estudantes: quando o
estudante perdeu a
visão, se já nasceu
cego, se já
estudou em outras
escolas, o que gosta de
fazer, como estuda, etc.
Os
professores também
citaram que seria
importante um curso de capacitação em braille e
de utilização do sorobã.
Todos os professores de
geografia sentiram
necessidade de
receber orientações de
como trabalhar com os
estudantes cegos. Essas orientações poderiam ser
oferecidas pela escola
através dos professores de AEE. Contudo, ao se
investigar as relações
entre professores de
geografia, professores
de AEE e coordenação
pedagógica, somente 30% dos professores
afirmaram que há
colaboração entre os
professores de
sala regular e os
professores de AEE, 30%
disseram que essa
colaboração não existe,
30% afirmaram que a
colaboração se dá
parcialmente e 10% dos
professores alegaram que
essa colaboração nem
sempre acontece.
Percebe-se que a falta
de orientações e
momentos de
trocas entre os
professores de geografia
e os professores de AEE
é um
grave problema que as
escolas vivenciam.
Segundo o professor PG3, “as conversas são
conversas de corredor,
no ponto do ónibus, na
hora
do almoço”. O professor
PG4 descreve que há um
momento para trocas
e planejamento entre os
professores estabelecido
na grade curricular da escola, contudo, “esse
período livre de uma
hora e meia é utilizado
para
adiantar correcções de
actividades, tirar
fotocópias, fazer coisas
pessoais,
etc.”.
Ao mesmo tempo os
professores de AEE
desabafam: “a sala
multimeios não é bem
aceita na escola porque
é um projecto do governo federal” diz o professor
PAEE3. O professor PAEE4
alega que “o AEE
é a área que mais
precisa de ajuda na
escola, mas o que parece
é que
não é bem-vindo”. É possível constatar nas
falas dos professores
que há um
considerável
desconhecimento por
parte dos professores de
geografia, e
que essa carência de
conhecimento é agravada
pelo distanciamento
entre
professores de geografia
e professores de AEE.
Para tentar minimizar
esta situação, a escola,
através da
coordenação pedagógica
em parceria com os
professores de AEE,
poderia realizar
dinâmicas e oficinas de
sensibilização para os professores conhecerem
um pouco mais sobre a
cegueira. Esclarecer
como o cego aprende,
como poderia melhorar a
aula para que eles
pudessem conceber o
conhecimento como os
outros estudantes que
vêem, enfatizar que
quanto mais o professor
souber descrever a aula para o estudante cego,
mais fácil ficará para o
estudante acompanhar o conteúdo, etc.
Entretanto, a
colaboração e
coordenação dentro da
escola também
são deficitárias. 30%
dos professores
entrevistados alegaram
que não
existe uma colaboração e
coordenação dentro da
escola, 30% disseram
que nem sempre essa
colaboração acontece,
20% apontam que a
colaboração e
coordenação dentro da
escola acontece
parcialmente, e
somente 20% dos
professores disseram que
existe efectivamente.
Isto
demonstra que além de
cursos de formação
continuada para
professores
e agentes educativos,
faz-se necessário um
comprometimento do
colectivo escolar.
Concordamos com Enricone
(2006) que é um conjunto de fatores, que vão
desde o conhecimento
sobre a cegueira, a
competência técnica dos
profissionais e o
compromisso com a
docência
que podem assegurar a
viabilidade da inclusão
escolar e o sucesso de estudantes cegos no
ensino regular.
4.2.2 Adaptações
necessárias no planejamento de aulas e
na
prática da docência
No universo escolar, as
dificuldades de inclusão
de estudantes
com NEE no ensino
regular resultam
principalmente do
processo
educacional adoptado pela
escola. Se os estudantes
chegam de maneira
“diferente” e são
tratados e avaliados de
forma igualitária, as
diferenças
de rendimento escolar
serão discrepantes. De
acordo com Lunardi
(2005, p.6), a forma
como uma diferença tem
sido considerada na
escola pode conduzir à
desigualdade e até mesmo
à exclusão escolar.
Desigualdade e exclusão
muitas vezes já
anteriores e exteriores
à
escola, e que a própria
escola ajuda a
ratificar. Quase todos os
professores
entrevistados contam que
a escola não
faz adaptações
curriculares
individualizadas, ou
seja, 80% dos
professores disseram que
não são feitas
adaptações curriculares,
10%
disseram que as
adaptações são
parcialmente realizadas
e 10% disseram
que são realizadas. Os
professores acreditam
que não é necessária uma adaptação curricular, e
sim uma adaptação de
materiais. Cabe aqui esclarecer que
quando se procurou
investigar a
adaptação curricular
realizada pela escola e,
consequentemente, pelos professores, a intenção
era compreender se a
escola respondia à
heterogeneidade dos
estudantes a partir de
estratégias de ensino e aprendizagem
diferenciadas, pois a
proposta pedagógica da
EI passa
pela oferta de
oportunidades de
aprendizagens
diversificadas. Ao
questionar sobre
adaptações curriculares,
buscou-se compreender
como o professor planeja a
sua aula, se considera
que todos os estudantes
são
diferentes, e portanto,
faz um planejamento que
abarque toda a turma, ou se considera que
todos os estudantes são
iguais e para tanto
acredita
que todos devem alcançar
os objectivos propostos
no planejamento de
uma única maneira. No
entanto, nota-se que os
professores entendem
por adaptações
curriculares a
perspectiva histórica de
diferenciação
curricular que, como
nota Roldão (SESI,
2008), era uma forma de sancionar a
estratificação social
através do currículo
escolar. Um
exemplo do que o autor
afirma pode ser
observado em algumas
escolas
que estabelecem grupos
homogêneos a partir de
critérios de
nivelamento, tais como
idade, sexo, condições
cognitivas, etc. Quanto
às
condições cognitivas, um
exemplo que reafirma a
estratificação social é quando a escola
classifica os estudantes
em turmas A e B,
considerando
para tanto o desempenho
dos estudantes, ou seja,
na turma A ficavam os que apresentavam melhor
desempenho, certamente
os que tiveram
melhores oportunidades
de estudo, e a turma B
os com rendimento mais baixo. Logo, houve uma
incompreensão da
pergunta por parte dos professores, situação
esta que foi contraposta
nas respostas da
pergunta
subsequente,
relacionadas às
adaptações
metodológicas.
Em relação à presença de
estudantes cegos em sala
de aula e as
adaptações metodológicas
por parte dos
professores, a grande
maioria
dos professores de
geografia (70%) realiza
estratégias
individualizadas
com estes estudantes.
Quanto às estratégias e
objectivos diferenciados
de
avaliação, 60% dos
professores afirmam que
realizam avaliações
específicas para o
estudante cego, 20% não
realizam, 10% nem sempre realizam e 10% realizam
parcialmente. Isso significa que
grande parte dos
professores
entrevistados
considera a limitação do
estudante ao realizar
uma actividade. Por
exemplo, em uma
avaliação escrita, é
ponderado o número de
questões
que possam ser
repetitivas; é dado ao
estudante um tempo
diferente dos
outros estudantes para
realizarem o trabalho,
ou até mesmo é concedida a oportunidade do
estudante realizar a
avaliação oralmente.
Dessa
maneira, o colectivo
escolar, e não somente
os professores, deve
procurar encontrar
maneiras de ofertar aos
estudantes oportunidades
de
aprendizagem
diversificadas. Contudo, ao investigar
mais especificamente a
prática pedagógica
dos professores
entrevistados, 50% deles
dizem que não faz
planejamento para grupos
heterogêneos, 30% dos
professores disseram
que fazem e 20% alegam
que fazem parcialmente.
Esse comportamento
aponta que a metade dos
professores
considera as turmas
homogêneas e que,
independente de ter ou
não um
estudante com NEE, o seu
planejamento é o mesmo.
O que contradiz
com as respostas
anteriores da grande
maioria dos professores.
Por um
lado essa contradição
com as análises
anteriores pode ser
entendida
como uma outorgação do
professor que se
reconhece como um
professor
que adopta princípios
inclusivos. A seguinte cena
acontecida durante um
dia de entrevistas com
os
professores PAEE5 e
PAEE6 elucida bem o que
foi dito anteriormente. Naquela ocasião,
estávamos na sala
multimeios quando os
estudantes
E12 e E13 chegaram e
disseram que foram
dispensados da aula de geografia, pois a
actividade planejada pelo
professor PG3 era a
apresentação de um filme
mudo. Como o professor
PG3, apenas naquele
momento, havia se dado
conta de que os
estudantes cegos não
teriam
como assistir o filme ― visto que não havia se
lembrado deles quando planejara a aula
―, não
encontrando outra
solução, dispensou-os.
Os
professores PAEE5 e
PAEE6 foram ter com o
professor de geografia e sugeriram que alguém da
turma narrasse o filme
para os estudantes
cegos, o que foi feito.
Depois de terminado o
filme, e reencontrados
os
estudantes cegos, a
satisfação: o grande
entusiasmo em que se
encontravam os alunos
deixou claro que uma
solução simples, que não foi encontrada pelo
professor PG3, talvez
pelo súbito embaraço,
pode
resultar (e resultou) em
sucesso. Situações como esta
poderiam ser evitadas se
as escolas
adoptassem processos de
avaliação e reflexão
sobre os trabalhos
efectuados. Quanto a
esses procedimentos, 40%
dos professores disseram que não há na escola
nenhum tipo de
avaliação, 30% alegam
que nem
sempre esses
procedimentos fazem
parte de sua rotina, e
somente 30%
dos professores
afirmaram que são
adoptados na escola
processos
avaliativos e reflexivos
sobre os trabalhos.
Porém é questionável até
que
ponto essa avaliação é
realmente significativa,
uma vez que o professor PAEE4 aponta que a
avaliação é feita uma
vez ao ano. E os
professores
de geografia alegam que
as avaliações ficam a
critério de cada
professor.
4.2.3 Situações que
constituem dificuldades
no trabalho com
o estudante cego em sala
de aula
Em consonância ao
desconhecimento por
parte dos professores e da própria escola, as
situações apontadas
pelos professores que constituíram
dificuldades em sala de
aula foram bastante
variadas. As mais significativas
apontadas pelos
professores foram:
-
1. O despreparo dos
professores (80%);
-
2. O desconhecimento do braille (70%);
-
3. A falta de tempo para
dar atenção para todos
os estudantes
em sala e inclusive o
estudante cego (60%);
-
4. O barulho e a
indisciplina dentro de
sala (50%);
-
5. A frequente troca de
professores ― tanto
professores de AEE
como de disciplinas
específicas ― (50%).
Além destas dificuldades
mais frequentes
enunciadas nas falas
dos professores, eles
apontaram que também
passam por situações
como a escassez de
recursos (40%), a demora
na transcrição do
braille
(20%) e a falta de
cobrança por parte da
família e da escola
(10%). Em relação à dificuldade
mais evidente no
quotidiano dos
professores que
participaram da
pesquisa, a saber, o
despreparo
profissional, os
professores apontam que
o desconhecimento de
trabalhar com estudantes
cegos não diz respeito
somente à presença ou não de materiais de
apoio didáctico em sala
de aula. Como apontado anteriormente, inclusive
pelos próprios
professores, o professor
não
sabe como lidar com o
estudante e reconhece
que conhecer a linguagem do estudante faz grande
diferença no dia-a-dia
da sala de aula. Os estudantes cegos,
desprovidos do sentido
da visão, têm seu
aprendizado,
principalmente, pelo
sentido da audição.
Diante desta
evidência, é preciso que
os professores tomem
conhecimento de que o uso da fala para
orientar suas acções é
uma possibilidade
valiosa para
atingir os estudantes
com cegueira. Para
tanto, o professor
precisa
verbalizar o que
acontece em sala de
aula: “Olha Paulo
(estudante
fictício), eu estou
distribuindo uma
actividade para os seus
colegas e fiz
uma para você que já
estou indo aí te levar”.
Ou então: “Turma,
observem o mapa do
Brasil político que
estou colocando no
quadro e
abram o livro na página
tal”. É fundamental que o
professor faça uma
descrição das suas
acções durante as aulas. Se
apenas escreve no
quadro, calado, o
estudante cego
não saberá o que está
acontecendo. São
comportamentos simples
que
orientam o estudante
cego em sala de aula,
mas para que efectivamente
aconteçam, o professor
precisa se “reler” como
professor. O desconhecimento do
braille foi apontado por
70% dos
professores, e por todos
os professores de
geografia, como uma
barreira
em sala de aula. Por não
conhecer essa linguagem,
o professor acaba
não auxiliando os
estudantes em produções
textuais, não consegue auxiliar o estudante
quando este não se
localiza no livro e
principalmente, não
consegue dar um retorno
imediato de suas
actividades como faz com
os outros estudantes da
turma, já que é preciso aguardar a transcrição
do braille pelo
professor de AEE.
Para
que esse
problema possa ser
minimizado, é
fundamental que os
professores de
sala de aula estejam em
constante contacto com os
professores de AEE,
e que estes professores
tenham fluência e
conhecimento do braille.
É
através das trocas de
experiências e do
auxílio na transcrição
do braille
que situações já
relatadas, como a
ausência de actividades
para os
estudantes cegos por
falta de planejamento do
professor, podem ser
evitadas. A partir do
momento que o AEE
realizar suas actividades conjuntamente com o
planejamento do
professor os riscos de
não
auxiliar estudantes em
sala de aula em virtude
do desconhecimento do braille será muito
menor. O agravante da falta de
tempo foi citado por
todos os professores
de geografia. O mesmo
problema para diferentes
situações. O professor PAEE2 aponta
que o trabalho com
conceitos e
conteúdos relacionados
com a vivência do
estudante é muitas vezes negligenciado por falta
de tempo para discutir
as experiências dos
estudantes. O professor PG4 coloca
que o descuido com o
estudante cego
em sala de aula ao
realizar uma actividade,
como por exemplo uma
avaliação, já aconteceu
mais de uma vez em
decorrência da falta de
tempo e organização do
professor em se
antecipar e encaminhar a
actividade para
transcrição para o
braille. O professor PG3 alega
que precisaria de mais
tempo com os
estudantes cegos para
poder descobrir como
aprendem, qual a
metodologia mais
adequada, etc. “Eu
preciso de mais tempo
para
descobrir aquele mundo,
o mundo dos cegos. Eu
ainda não faço parte
dele, eu ainda não estou
ali”. O barulho e a
indisciplina em sala de
aula citados pelos
professores são
situações que dificultam
sobremaneira o trabalho
com o
estudante cego,
especialmente porque
este estudante
utiliza-se da
audição no seu processo
de aprendizagem. O
próprio dinamismo de
uma sala de aula
apresenta diferentes
sons que precisam ser decodificados pelos
estudantes cegos: a fala
do professor, as
conversa
entre estudantes, a
movimentação de móveis e
pessoas, o barulho
externo à sala de aula,
etc. Todos esses nuances
de sons podem estar
acontecendo ao mesmo
tempo em que o estudante
está prestando
atenção na explicação do
professor. Ao contrário dos
estudantes do EJA que
convivem em turmas
com o número de
estudantes reduzido, os
demais estudantes
entrevistados convivem
em turmas de quase 40
pessoas, o que acentua ainda mais as
dificuldades expressas
pelos professores. O
professor
PG1 desabafa ao
descrever sua
dificuldade de dar aulas
em turmas com
estudantes cegos: “É
difícil você dar aula
para o estudante cego e
o
restante da turma ― ou
você dá aula para o cego
e se sobrar tempo
você dá para a turma e
vice-versa. Não é fácil
administrar o tempo de aula para trabalhar com
todos”. Neste sentido, o
professor PG3
também encontra grandes
dificuldades e comenta:
“Se você pára para
auxiliar os estudantes
cegos, a turma já está
ensandecida. Não dá para dar muita atenção”.
Diante das falas dos
professores é possível
constatar o quão é
importante o seu papel
no desafio da inclusão
de estudantes com
cegueira em sala de
aula. Apesar do medo do
desconhecido, do novo, do diferente, o
professor precisa
reconhecer que não estar
preparado
não o impede de ter
interesse em auxiliar o
estudante cego em seu processo de
aprendizagem. Contudo, parece
fundamental que o
professor tenha um
conhecimento prévio
antes de iniciar as
actividades com o
estudante
cego. Conhecer como o
estudante aprende, qual
a sua linguagem e
quais são os materiais
que lhe auxiliam no
ensino de geografia, por exemplo, são
conhecimentos essenciais
que facilitam o trabalho
do
professor. No entanto, é
preciso apontar que o
que está em questão não
é a capacidade
profissional do
professor, mas sim a sua
capacitação
profissional.
Nesse sentido, Denadai
(2009) e Monteiro (2006)
apregoam que
muitas das dificuldades
da inclusão de
estudantes com NEE se
referem
ao despreparo do
professor. E estar
realmente preparado,
pouquíssimos
professores estão,
todavia, recorrer à
capacitação profissional
é uma
saída, além de se
permitir aprender junto
com o estudante nas
experiências do
dia-a-dia da sala de
aula. No entanto, é importante
apontar que nesta
pesquisa tem-se
consciência da crise
educacional que tem
passado o sistema
público de
ensino brasileiro. A
falta de tempo, a
indisciplina e as turmas numerosas relatadas como
dificuldades pelos
professores são
situações
vividas no sistema
educacional em todo o
país. Situações estas
que
refletem a jornada de
trabalho excessiva e a
baixa remuneração da
profissão, os programas
assistencialistas de
educação que faz com que estudantes frequentem a
escola por obrigação e o
baixo investimento na contratação de novos
professores e construção
de novas escolas. Por esse caminhar de
reflexões, a proposta de
pesquisa não busca
discutir a
conjuntura educacional e
as políticas públicas em
favor da escola e da
classe docente, mas
apresentar
possibilidades de,
diante de tal cenário, construir alternativas
de auxilio a estudantes
com NEE. Para tanto,
comungamos com as
palavras de Rego (1998)
ao afirmar que cremos que mudanças
qualitativas dependem
também do envolvimento e transformação do
professor.
4.3 Estudantes com
cegueira em sala de
aula: o ensino de
geografia em questão
4.3.1 O ensino de
geografia para
estudantes com cegueira
Ao se falar em
Geografia, quais as
palavras lhe vêm à
mente?
Terra, mapa, clima,
vegetação, relevo,
latitude e longitude,
sociedade,
rural e urbano! É
infinita a pluralidade
de palavras que permeiam
a
ciência geográfica. Cada
pessoa terá uma resposta
diferente, que será
delineada de acordo com
a experiência única de
cada um com a
disciplina escolar. As experiências dos
estudantes que
participaram da pesquisa
em
relação ao ensino de
geografia foram bastante
peculiares. Alguns
gostavam da disciplina,
outros não gostavam, e
outros ainda não tiveram a oportunidade de
estudar geografia.
Aqueles estudantes que
não
estudaram geografia até
o presente momento
correspondem a 25% dos entrevistados. Esses
estudantes fazem EJA e
estavam iniciando o
ensino
fundamental. Como o
ensino é modularizado,
os estudantes só tiveram contacto com as
disciplinas de ciências
e português. Aos estudantes que
gostavam da disciplina
foi-lhes questionado
quanto às suas
preferências de conteúdo
nas aulas de geografia.
E6
aponta que gostou de
estudar os planetas, os
países, as placas
tectónicas,
e dizia “quero conhecer
o mundo através da
geografia”. E8 gosta de estudar o mapa. O
estudante, que já
enxergou na infância,
diz lembrar-se
dos contornos do mapa e
durante as aulas de
geografia tenta fazer associações na leitura
do mapa táctil. O
estudante ainda
descreve: “me
baseio na memória e faço
uma imaginação do que já
vi com os olhos e
do que estou vendo com
as mãos”. E9 conta que
gostava mais de
estudar sobre os pontos
cardeais e os países.
E12 gosta do globo, de assistir filmes e fazer
redação, além de estudar
sobre o Brasil e onde mora. E16 adora estudar
tudo de geografia, menos
a parte da
geopolítica. Dentre os
estudantes que
demonstraram interesse
pela
disciplina, são válidas
as declarações de E6 e
E16 que salientam em
suas
falas o desejo de cursar
geografia na UFSC. Os estudantes que
assinalaram não gostar
da disciplina de
geografia correspondem a
13% dos estudantes
entrevistados. É
oportuno
notar na fala do
estudante E10 o seu
descontentamento: “não
gostava
(de geografia) porque
não tinha acesso a nada.
Achava chato quando o professor mostrava o
mapa no quadro e não
explicava”. No relato do estudante, bem como nos
de outros que foram
apresentados ao longo
das
discussões, é possível
perceber que as aulas
estão voltadas para
estudantes que vêem
e não lhe oportunizaram
participar do
contexto. As entrevistas também
buscavam conhecer como
eram as aulas
de geografia a partir do
ponto do vista do
estudante. Para chegar a
tal
conhecimento, os
estudantes foram
questionados se o
professor
realizava alguma aula
prática para ensinar
geografia, se fazia uso
do
livro didáctico, se os
recursos didácticos
oferecidos pela escola
eram
suficientes para o
aprendizado e se os
estudantes conheciam
outros
recursos que lhes
auxiliariam nos estudos.
Apesar de dois
estudantes terem
evidenciado
anteriormente a
importância do trabalho
com o concreto em sala
de aula, somente 7%
dos estudantes disseram
que o professor realiza
aulas práticas para
ensinar geografia
(FIGURA 2). O estudante
E15 salienta, inclusive,
que
a escola possui
laboratórios de ensino
que poderiam ser
explorados
pelos professores,
contudo não são
utilizados.
O professor realiza aulas práticas?
|
Sim: 7% Não: 50% Parcialmente:
14% Não sabe: 29%
|
FIGURA 2. Realização de
aulas práticas de
geografia
|
Considerando que as
aulas são, na maior
parte das vezes,
realizadas dentro da
sala de aula, nas falas
dos estudantes fica
evidente
que o professor usa a
voz como principal
recurso. Esta afirmação
tem
como base as respostas
dos estudantes quanto ao
uso do livro didáctico e de outros recursos de
apoio didáctico. Nesse
sentido, 53% dos
estudantes
disseram que o professor
faz uso do livro
didáctico para ensinar geografia, 27% alegam
que o professor usa
parcialmente o livro e
os
demais 20% apontam que o
professor nem sempre
recorre ao livro em
sala de aula (FIGURA 3).
O professor usa
o livro
didáctico para
ensinar
geografia?
|
Sim:
53% Parcialmente:
27% Nem
sempre: 20%
|
FIGURA 3. Uso do
livro didáctico
pelo professor
em sala de aula
|
Quanto aos recursos
existentes na escola e
que poderiam auxiliar estudantes e
professores, 47% dos
estudantes apontam que
os materiais
existentes na escola
atendem às suas
necessidades. 40% dizem
que os
recursos oferecidos pela
escola são parcialmente
suficientes e 13%
dizem que os recursos
não atendem às suas
necessidades (FIGURA 4).
Os materiais
atendem às suas
necessidades?
|
Sim:
47% Não:13% Parcialmente:
40%
|
FIGURA 4.
Disponibilidade de
recursos didácticos
|
Ao considerar que 53%
dos estudantes apontam
que a escola não
atende por completo suas
necessidades no ensino,
no que diz respeito
aos recursos didácticos,
foi-lhes perguntado
quais recursos conheciam que poderiam lhes
auxiliar no seu processo
educativo (FIGURA 5).
Recursos que auxiliariam
o estudante cego:
|
Revistas IBC:
10% Máquina
Perkins: 10% Calculadora: 10% Livro em
áudio: 20% Internet: 20%
Material
adaptado: 30% Programas
de voz: 30% Computador: 80%
|
FIGURA 5. Recursos que
auxiliariam o estudante
cego em seu processo
educativo
|
Diante dos materiais
sugeridos pelos
estudantes, o computador foi o mais expressivo
entre os recursos.
Contudo, é válido
apontar que
este recurso está
disponível aos
estudantes nas salas de
informática e/ou
nas salas de recurso de
todas as escolas. Ao
sugerir o uso do
computador, os
estudantes se referiam a
ter acesso direto,
contínuo, que
poderíamos considerar
como a utilização do
recurso em casa ou na própria sala de aula.
Quanto ao uso do
computador em sala de
aula, o
governo federal oferece
computadores portáteis
aos estudantes cegos
matriculados no ensino
médio da rede pública de
ensino, porém, dos
oito estudantes do
ensino médio que
participaram da
pesquisa, somente
dois recebem o recurso
federal.
Os apontamentos dos
estudantes quanto aos
programas de voz
são bastante
pertinentes, uma vez que
todas as escolas possuem computadores. Todavia,
os estudantes relatam
que os computadores não possuem programas com
leitores de tela, o que
impossibilita o uso do recurso pelos
estudantes. Os materiais adaptados
aos quais se referem os
estudantes são
principalmente maquetes
e mapas. As maquetes são
inexistentes em
todas as escolas, já os
mapas, os estudantes têm
acesso ao recurso pelos livros
didácticos. No
entanto, os estudantes
da EJA são praticamente privados deste recurso.
Os módulos que são
utilizados no ensino não dispõem de mapas e os
estudantes só tomam
conhecimento deste
material quando o
procuram pessoalmente na
sala de recurso. Apesar
da
precariedade quanto ao
ensino de geografia por
meio dos mapas na EJA, alguns estudantes
apontam que já conheciam
o recurso pela ACIC ou por outras escolas que
frequentaram. Para conhecer as noções
espaciais do estudante a
partir de sua
compreensão cartográfica
na leitura do mapa
táctil, os estudantes
foram
questionados se
conseguem entender um
mapa táctil, se conseguem compreender o que o mapa
quer informar, se têm
alguma dificuldade em compreender e estudar
pelo mapa, se os mapas
os ajudam nos estudos e se os ajudam a entender
conceitos e conteúdos de
geografia. Na medida
do possível, as
perguntas buscavam,
ainda, identificar se o
estudante
usava o mapa somente
para localizar e
identificar lugares, ou
se
estabeleciam relações de
análises, interpretações
e correlações. Na tentativa de
contribuir com as
respostas, após a
entrevista era
apresentado um mapa
táctil em braillon do
município de
Florianópolis e,
em seguida, um mapa das
Regiões brasileiras para
averiguação dos
estudantes. O mapa das
Regiões brasileiras
salientava as cinco
regiões
brasileiras
estabelecidas pelo
Instituto Brasileiro de
Geografia e
Estatística - IBGE mais o
Distrito Federal. O mapa
do município de
Florianópolis, além do
limite municipal, trazia
em evidência a ponte
Hercílio Luz, a Lagoa da
Conceição e a Lagoa do
Peri, pois
acreditávamos que estes
pontos seriam familiares
aos estudantes. A
escolha dos dois mapas
levou em consideração os
apontamentos de
Castrogiovanni (2001b,
p. 82-83) ao afirmar que
“o ensino de geografia deve priorizar a análise
do espaço vivido e as
práticas do espaço
percebido, transpondo-as
para as representações
do espaço concebido”.
As expectativas geradas
em poder identificar as
noções espaciais
associadas ao mapa
táctil
pelos estudantes foram
desanimadoras em um
primeiro momento. Dos 16
estudantes que
participaram da
pesquisa,
quatro nunca haviam
“visto” um mapa em suas
mãos e somente nove
estudantes afirmaram com
veemência que conheciam
um mapa. Destes
nove estudantes, apenas
cinco faziam uso do
recurso no dia-a-dia da
sala
de aula. Tal situação
fez com que toda a
estratégia de entrevista
fosse
remodelada, as perguntas
antes mencionadas foram
substituídas por um
único questionamento. A
pergunta que foi mantida
se referia à
capacidade de
compreensão do mapa
táctil pelo estudante
(FIGURA 6).
Você consegue entender
um mapa táctil?
|
Sim: 19% Parcialmente:
68% Nem
sempre:
13%
|
FIGURA 6.
Compreensão do mapa
táctil
|
É importante assinalar
que após a resposta dada
a pergunta “Você
consegue entender um
mapa táctil?”, o mapa era
entregue ao estudante e por alguns instantes
esperávamos para saber
suas colocações e
opiniões
a respeito do que estava
sendo apresentado.
Apesar de apenas 19% dos estudantes afirmarem
conseguirem compreender
o mapa táctil, foi
observado durante a
apresentação do mapa que
somente um estudante
tinha segurança ao
informar o que lia e
compreendia do mapa. O estudante E15 tinha
pleno domínio da
simbologia do mapa:
compreendia o conceito
de escala, norte
geográfico e legenda,
além de
percorrer com facilidade
as informações e
decifrá-las sem muitas dificuldades.
Dois estudantes ao
tocarem o mapa
percorreram-no
rapidamente
com as mãos e em seguida
afastaram-no. Supõem-se
que tal
comportamento ocorreu
pelo desconhecimento da
linguagem táctil
apontada no mapa, e
consequentemente, ao
procurar evitar maiores perguntas por parte da
pesquisadora, os
estudantes acharam mais conveniente rejeitá-lo.
Os demais estudantes
demonstraram grande
interesse em
investigar o que o mapa
trazia. Alguns
estudantes movimentavam
e
cheiravam o mapa em
busca de outras
percepções. No intuito
de
explorar as informações,
os estudantes tacteavam
de um lado a outro à
procura do braille para
auxiliar na leitura do
mapa. Ao identificar o título e ler o que
transmitia, todos os
estudantes se
concentravam nas
mãos em busca de maiores
detalhes da
representação. A partir desse primeiro
reconhecimento, era
realizada a mediação
entre o recurso
didáctico
e o estudante. Na medida
em que ia sendo
apresentado oralmente ao
estudante o significado
do mapa, suas mãos
eram conduzidas a
explorar o que lhe
estava sendo transmitido
pela fala. Ao reconhecerem o que o
mapa queria lhes
informar, os estudantes ficavam surpresos. E4
dizia que nunca tinha
visto um mapa do
município e exclamava:
“sabe que isso é uma boa
pra gente entender
melhor? Um material
assim facilitaria muito
o estudo.” No entanto, enquanto o
mapa ia sendo
apresentado aos
estudantes,
era possível observar
que além do
desconhecimento de
conteúdos
cartográficos, alguns
estudantes cegos também
desconheciam conceitos geográficos, como os
conceitos de município,
ilha e baía. Em todas as situações,
com excepção da
experiência do estudante E15, foi necessário
realizar mediações do
conhecimento
cartográfico e
geográfico aos
estudantes. O
reconhecimento do mapa,
para a maioria
dos estudantes, se dava
através do título,
contudo, não
compreendiam os
elementos cartográficos
e as abstracções
representadas no mapa.
De facto,
a incompreensão do mapa
pelos estudantes
certamente se dá pela inexistência em seu
processo educativo de
uma alfabetização do
espaço,
uma alfabetização
cartográfica que
evidenciasse actividades
para o
desenvolvimento das
relações topológicas,
projectivas e
euclidianas, bem
como a compreensão dos
conceitos de orientação,
escala, simbologia e
projecção. E ainda mais,
para que estes
estudantes alcançassem a
abstracção do espaço
representado pelo mapa,
seria oportuno que
também
tivessem familiaridade
com os mapas. As
orientações de Ochaita e Huertas (1989, p.17) são
válidas neste propósito
pois afirmam que
-
los primeros niveles de enseñanza del entorno puede ser útil la
utilización de maquetas
en lugar
de dibujos, ya que
eliminan la incidência
de
muchos factores como la
bidimensionalidad, las destezas gráficas o la
utilización de ciertas convenciones.
Além das dificuldades
cartográficas e
geográficas demonstradas na apresentação dos
mapas aos estudantes,
também ficou evidente a importância na produção
e qualidade do mapa. As
dificuldades
apontadas na leitura do
mapa também alertavam
para uma melhor
generalização de
informações, ou seja, os
estudantes diziam que se
o
mapa trouxesse muitos
detalhes teriam
dificuldades na leitura,
outros
apontaram que nem sempre
o braille dos mapas nos
livros didácticos está legível, outro estudante
salienta que se na
legenda as informações
são
muito espaçadas acabam
dificultando a leitura e
se a representação é
muito extensa também
gera dificuldade de
compreensão. Nas
experiências de Chaves
(2007a, 2007b, 2009) e
Nogueira (2008a,
2008b, 2009a) a produção
de um mapa táctil e
orientações quanto à
generalização
cartográfica são
amplamente discutidas.
De acordo com
Chaves e Andrade (2007a,
2007b) o cuidado na
escolha das texturas, formas e tamanhos que
representam as feições é
fundamental para a
elaboração dos mapas,
pois os mesmos devem ser
claros e objectivos na transmissão das
informações. Nos
trabalhos referenciados
ainda é
possível encontrar
orientações quanto à
metodologia de produção
e
aplicação de um mapa
táctil. A partir das vivências
apresentadas, nota-se
que o ensino de
geografia para
estudantes com cegueira
contribui
significativamente na compreensão da realidade
do estudante. As
metodologias de ensino
que
trabalham com o concreto
e estabelecem relações
com o espaço vivido
dos estudantes traz
mudanças qualitativas no
processo educativo, bem como a utilização de
recursos didácticos
adaptados, dentre eles o
livro
didáctico e os mapas.
Os livros
didácticos e os
mapas são os recursos
mais acessíveis
para os estudantes que
participaram da
pesquisa, portanto, é de
suma
importância que sejam
trabalhados e utilizados
em sala de aula para
explicações do e sobre o
espaço geográfico. Nesse
sentido, concorda-se
com Almeida e Passini
(2002) quando afirmam
que o estudo do espaço por meio dos mapas
permite ao estudante
atingir uma nova
organização
estrutural de sua
actividade prática e da
concepção de espaço.
Essa nova
organização da concepção
do espaço, apontada
pelas autoras, pode ser observada em diversos
momentos nas
experiências com os
estudantes ao
lerem os mapas tácteis
apresentados na
pesquisa.
4.3.2 O ensino de
geografia em sala de
aula
4.3.2.1 Mediação do
conhecimento geográfico
por professores
de geografia
Para investigar de que
forma se dá o ensino de
geografia para
estudantes com cegueira
no ensino regular, foi
perguntado aos
professores como
realizam a mediação do
conhecimento geográfico com o estudante cego e
quais metodologias de
ensino são utilizadas para ensinar
geografia. [NOTA: Com
excepção do professor
PG2, que actuava na EJA e
até então não havia
passado por
experiências
relacionadas ao ensino
de geografia, todo o
grupo de professores que
participou
da pesquisa respondeu às
questões relacionadas ao
ensino de geografia.
Tanto professores de
geografia como
professores de AEE, uma
vez que estes últimos
também orientam, mesmo
que
de forma indirecta,
estudantes cegos quanto
ao aprendizado desta
disciplina.] Todos os professores de
geografia afirmaram que
grande parte
das aulas são
dialogadas.O professor PG1 diz que
poucas vezes utiliza
recursos tácteis no
ensino dos conteúdos em
sala de aula. O professor PG3 relata
que gosta de assistir o
noticiário no dia
anterior à aula e
procura trazer alguma
notícia para discussão
em sala
de aula como ponto de
partida. Diz que gosta
de utilizar outras
linguagens textuais como
jornais, notícias de
internet, etc. Com os estudantes cegos o
professor aponta que são
realizadas leituras do
livro
didáctico e quando é
necessário passar algum
texto no quadro, ele
encaminha o texto ao AEE
para ser feito a
transcrição para o
braille. O
professor PG3 também
considera importante
que, ao falar de algum país ou continente, os
estudantes reconheçam
mentalmente sua
localização no planeta.
Para apresentar a
localização dos países e continentes aos
estudantes com cegueira,
o professor faz uso de
um
globo táctil presente na
escola. Porém, tanto o
professor como os
estudantes cegos se
queixam da dificuldade
de identificação dos
lugares, pois no globo
as informações, que são
apresentadas por pontos em relevo, estão muito
próximas uma das outras,
o que dificulta a
leitura pelo tacto.
Situação que faz com que
os estudantes acabem por abandonar o recurso.
O professor PG4 diz que
costuma explicar o
conteúdo e quando
é possível utiliza o
livro didáctico. Aponta
também que realiza
actividades em grupo e
estimula a participação
dos estudantes cegos. Quando apresenta um
vídeo, ou outra
actividade visual, o
professor
instiga outros
estudantes a descreverem
o que estão vendo para o estudante cego.
É possível observar nas
falas dos professores de
geografia que as
metodologias realizadas
em sala de aula estão
pautadas, quase que
exclusivamente, em aulas
dialogadas. Esses
professores dificilmente recorrem a materiais
adaptados, como globo,
mapa, maquetes,
esquemas, etc.,
materiais estes que lhes
auxiliariam no ensino de conteúdos geográficos
para estudantes com
cegueira.A importância de
recursos adaptados no
ensino para estudantes com deficiência visual
também foi interesse de
pesquisa de Almeida e Sampaio (2008). Os
pesquisadores pretendiam
apresentar quais os
recursos didácticos e/ou
metodológicos eram mais
eficazes no processo
de ensino-aprendizagem
de estudantes cegos e
com baixa visão. A
pesquisa foi realizada
com 27 professores e
apontou que, em ordem de importância, os textos
em braille, os mapas em
alto relevo e as
maquetes são os recursos
mais significativos no
processo educativo de estudantes com
deficiência visual.
Vale apontar que os
estudantes com
deficiência visual
matriculados na rede
regular de ensino da
Grande Florianópolis,
têm
acesso aos textos em
braille e aos mapas
tácteis por meio do livro
didáctico. Um outro
aspecto importante póde
ser observado no
quotidiano
da sala de aula. Apesar
da escassez de materiais
adaptados na escola,
principalmente maquetes,
os professores, na
medida do possível
utilizam outras
linguagens durante a
aula, como jornais,
notícias de
internet e vídeos.
Portanto, para que o
professor possa atender
às expectativas de
uma prática pedagógica
integradora, que efective
uma proposta de
educação inclusiva, é
necessário que tenha
clareza de que
metodologias
e avaliações
diferenciadas auxiliam
sobremaneira o estudante
cego no
seu processo educativo.
Bem como é importante
que o professor
procure desenvolver uma
didáctica que possa
envolver e atingir todos
os
estudantes, como sugerem
as práticas dos
professores PG3 e PG4, práticas estas que
contribuem para
desmistificar possíveis
preconceitos.Para isso, há várias
sugestões de processos
metodológicos que
auxiliam
os professores: debates,
pesquisas, elaboração de
registros escritos e
falados, observações,
vivências, expressões
artísticas através de desenho, teatro, dança,
entre outros, são
actividades que os
professores
podem lançar mão para
uma aula que abarque
toda a turma. Nos
trabalhos de Silva
(2004) também são
apontadas diversas
propostas de
acção que podem ser
utilizadas pelos
professores e pela
escola para
tornar o ambiente
escolar rico em
actividades que enfatizem
o
desenvolvimento da
multiplicidade e
estimulem a reflexão
sobre as
diferenças.
4.3.2.2 Mediação do
conhecimento geográfico
por professores
de AEE
Para os professores de
AEE o desafio é ainda
maior ao ensinar
conteúdos de geografia.
Como esses professores
não possuem formação
específica na área e
trabalham indirectamente
com a disciplina,
foi-lhes
pedido que fizessem a
seguinte suposição: se
um dia precisassem
ensinar algum conceito
ou conteúdo de geografia
ao estudante cego,
como essa tarefa poderia
ser desempenhada?
O professor PAEE1 diz
que procuraria trabalhar
com projectos
integrando todas as
disciplinas. Por
exemplo, a partir de uma
música
que fala sobre os
estados e capitais do
Brasil o professor
trabalharia
conteúdos de geografia e
português. Além da
linguagem musical, o
professor também
exercitaria actividades
com material táctil
adaptado e
actividades por meio de
expressões corporais.
O professor PAEE2
ensinaria noções
espaciais, como
orientação
e lateralidade. As
actividades de
lateralidade seriam
realizadas através do corpo do estudante,
depois com o meio. “O
meu corpo é um espaço, esse espaço está dentro
de outro espaço, que é a
minha casa, depois o
bairro, a cidade, (...)
abrindo o horizonte a
partir dele (o
estudante)”.Outro ponto que o
professor acentua é que
é preciso apresentar ao estudante cego o
objecto
e mostrar-lhe o seu uso
e sua função. Para
tentar esclarecer um
pouco mais sua ideia, o
professor PAEE2 cita os ensinamentos de Paulo
Freire através da frase
“Ivo viu a uva”. “Como é que você ensina essa
frase para uma criança
do nordeste que nunca
viu
uva? Como é que uma
criança do nordeste vai
se interessar, ser
motivada a estudar sobre
a uva sem ao menos
conhecê-la? Com o cego não é diferente. Não dá
para ensinar escala sem
que ele tenha uma
noção do espaço e do
corpo”. O professor PAEE3
procuraria orientar o
estudante na leitura do mapa
táctil e na
interpretação do globo.
O professor PAEE4 disse
que vê essa situação
como um
problema, pois não é
especialista da área e
que para trabalhar na
sala de
recursos é preciso saber
um pouquinho de cada
disciplina. Conta que quando se depara com
algum conteúdo que não
compreende, recorre ao livro
didáctico para
tentar relembrar os
conceitos. Quando
encontra
dificuldades, procura
falar com o professor da
disciplina para tirar
suas
dúvidas. Em relação ao
ensino de geografia para
estudantes cegos o
professor aponta que as
maiores dificuldades
estão, principalmente,
na
análise e explicação de
gráficos e tabelas.
Os professores PAAE5 e
PAEE6 apontam um exemplo
de
metodologia de trabalho
que realizam com o
estudante cego: quando o estudante necessita
reler o livro de
geografia para responder
a um questionário, por
exemplo, os professores
fazem a leitura e a
gravam em
áudio para que o
estudante possa ouvi-la
em casa. Para auxiliar nas
explicações geográficas
os professores fazem
uso de material em
relevo, como mapa, globo
e atlas. Relatam que já fizeram experiências de
produção de material
adaptado com estimulação
olfactiva, como um mapa
táctil preenchido com pó
de café. Os professores PAEE5 e
PAEE6, assim como o
professor
PAEE2, acreditam que o
estudante aprende pelo
que vivencia através da experiência. Que muitas
vezes o estudante cego
conhece o conceito, mas que, quanto mais
experiência ele tiver,
maior será o seu
conhecimento. Os professores PAEE5 e
PAEE6 contam que
encontram
dificuldades em ensinar
conceitos que expressam
grandes dimensões,
como por exemplo, uma
cadeia de montanhas. E
relatam que muitas as perguntas de estudantes
cegos são nesse sentido:
“Qual o tamanho de
um avião? Qual a altura
do céu? Qual a textura
de uma nuvem? Qual a
altura da lua? Como é
que a lua pode estar tão
distante e você, mesmo assim, consegue
enxergá-la?” E
complementam: “O
conhecimento se
constrói de acordo com o
que ele (o estudante
cego) experienciou, se
ele
experienciou muito, ele
vai ter muito mais
referência onde buscar,
quer
dizer, você fala de uma
montanha, ele sabe, você
fala de uma cadeia de montanha, ele vai
conseguir entender”.
Diante dessas
dificuldades, foi
interessante notar como
os
professores PAEE5 e
PAEE6 fazem para
explicar o tamanho de
uma
montanha: “Então, eu
digo para o Paulo
(estudante fictício) que
o
tamanho de uma montanha
é mais ou menos 10
Paulos, um em cima do outro”.
Os professores contam
que além dessas
situações já passaram
por
experiências em que
precisaram ensinar
conceitos como
vegetação,
relevo, Grandes
Navegações, latitude e
longitude, Tratado de Tordesilhas, importação
e exportação, ALCA ― Área de Livro Comércio das Américas, etc. E que
frequentemente utilizam
os mapas tácteis, o
globo adaptado e o
planisfério táctil para
auxiliar na localização
dos
lugares que ensinam e
que são abordados
durante as explicações.
4.3.3 A Cartografia
escolar e táctil como
recurso didáctico no
ensino de geografia
Além da metodologia de
trabalho utilizada pelos
professores de
geografia e pelos de AEE, foram também
elucidados quais os
recursos didácticos existentes
eles consideravam úteis
para realizar uma
actividade
de geografia com
estudantes cegos.
O mapa
táctil foi citado
por 80% dos professores,
em seguida o
globo e materiais
adaptados, ambos citados
por 40% dos professores
e o
livro didáctico em
braille por 30% dos
professores. Resultado
bastante
similar aos da pesquisa
de Almeida e Sampaio
(2008). Além destes
recursos, ainda foram
citados com menor
expressividade o atlas, músicas, filmes, o
laboratório de
informática e o
computador. Os professores ainda
sugeriram que seria
importante se a escola dispusesse de maquetes
de relevo, maquete de
vulcão, um globo com as camadas do planeta
Terra, material em
relevo que apontasse as
latitudes
e longitudes nos países,
materiais com
estimulação sensorial,
como
rochas, madeira, areia,
dentre outros. Além de apontarem os
recursos que
consideravam úteis no
ensino
de geografia para
estudantes com cegueira,
todos os professores
foram
questionados sobre quais
recursos comummente
utilizam, ou já
utilizaram
ao ensinar geografia. Em
sala de aula os
professores fazem uso principalmente de mapas,
globos e atlas, conforme
se pode observar na
figura a seguir.
Recursos pedagógicos
utilizados no ensino de
geografia:
|
Mapa: 80% Globo: 80% Atlas: 70%
Fotografia
aérea: 60% Imagem
de satélite
50% Programas de
computador: 40% Bússola: 30% Relógio
de Sol: 30% Maquete: 30% GPS: 10%
|
FIGURA 7. Recursos
pedagógicos utilizados
no ensino de geografia
|
Observa-se que a maioria
dos recursos citados
pelos professores
ao ensinar geografia são
recursos cartográficos:
mapa, globo, atlas,
fotografia aérea, imagem
de satélite, bússola,
relógio de sol, maquete
e
GPS (Sistema de
Posicionamento Global).
Contudo, vale
acrescentar
que os estudantes cegos
têm acesso aos mapas
tácteis, principalmente, pelo livro
didáctico. O
globo e o atlas que
foram bastante lembrados pelos professores,
somente foram
identificados exemplares
tácteis em duas escolas das cinco
que participaram da
pesquisa. O que
demonstra
que a maioria dos
recursos utilizados
pelos professores no
ensino de
geografia é direcionada
aos estudantes que
vêem.
Uma preocupação
recorrente na fala dos
professores de AEE é a necessidade de se
trabalhar com o
conhecimento espacial do
estudante
cego. Contudo, ao
analisar os exemplos
apresentados pelos
professores
PAEE5 e PAEE6 é possível
afirmar que há um
desconhecimento de
metodologias de ensino
voltadas à alfabetização
cartográfica. Demonstrar o conceito de
redução proporcional
através da
apresentação de objectos
em miniatura facilmente
esclareceria para o
estudante cego o tamanho
da lua e sua distância
do planeta Terra.
De acordo com os estudos
de Vygotski (OLIVEIRA,
1993), a
construção do
conhecimento espacial na
criança se dá a partir
de sua
relação com o meio. Esse
conhecimento é alcançado
principalmente
através da observação da
realidade transmitida no
espaço próximo à
criança. Tal como uma
criança que vê, a
criança cega encontra meios diferentes da
visão para se apropriar
do espaço. Apesar de não
ser
amparada pela visão, a
criança usa o seu
próprio corpo para
reconhecer o espaço. Nesse sentido,
a exploração do espaço
físico da criança passa a ser feita através de
experiências, e para
isso, é preciso conduzir
a
criança a elaborar
conceitos espaciais
através da interação com
o meio,
ao longo do seu
desenvolvimento
psico-bio-social (ALMEIDA
e
PASSINI, 2002). Sendo
assim, é pertinente que
professores de geografia e de AEE façam uso de
actividades que promovam
a construção do
conhecimento a partir de
relações e interações
com o meio e com os
sujeitos.A fala do professor
PAEE2 está pautada na
visão
sócioconstrutivista de
Vygotski ao apontar a
necessidade de ensinar conteúdos mais próximos
da realidade do
estudante. Concorda-se
com
Almeida (2001) quando a
autora afirma que a
observação da realidade
e
do espaço próximo da
criança favorece o
trabalho de localização
e
representação do
estudante, podendo desta
forma o estudante
desenvolver sua própria
realidade. Considerando o mapa como
representação de parte
da realidade
espacial, a pesquisa
apontou que a grande
parte dos professores reconhece a importância
do mapa táctil ao ensinar
conceitos geográficos a estudantes cegos. 70%
dos professores
acreditam que o
estudante cego
consegue compreender as
informações transmitidas
por meio de um
mapa táctil, e 30%
acreditam que os
estudantes cegos
compreendem
parcialmente as
informações. O que torna
ainda mais importante a orientação e mediação do
conhecimento para estes
estudantes. Embora os professores
PAEE5 e PAEE6 tenham
encontrado
dificuldades quanto às
explicações que envolvem
noções espaciais, a
alfabetização do espaço
a partir de actividades
que desenvolvam no
estudante sua
lateralidade, noções de
redução proporcional,
perspectiva
e representação, é
conhecida pela maioria
dos professores.
Actividades
estas que são essenciais
e se bem compreendidas,
auxiliarão estudantes na leitura e
interpretação de um
mapa.
4.3.4 Discutindo o
ensino de geografia para
estudantes com
cegueira
Além dos desafios de
reestruturação
metodológica discutidos
nos
itens anteriores, os
professores apontaram em
suas respostas que são inseguros quanto à
epistemologia do
conhecimento geográfico
e, por
conseguinte, quanto ao
ensino de geografia. As
dificuldades em ensinar conceitos nas aulas de
geografia fazem parte do
quotidiano de 89% dos
professores
entrevistados (FIGURA
8). Essas dificuldades
abarcam
principalmente o ensino
de conceitos
cartográficos como
escala,
orientação espacial e
projecção.
Durante as aulas de
geografia você
encontra dificuldade em
ensinar
algum conceito?
|
45% - Sim
44%
- Parcialmente 11% -
Não lembra
|
FIGURA 8. Dificuldade em
ensinar conceitos nas
aulas de geografia
|
O professor
PAEE1 mencionou que não se lembra de ter tido
dificuldade em ensinar
algum conceito
geográfico. Mas, tendo em vista sua
formação em pedagogia e
actuação em sala de
recursos, a afirmação
nos leva a crer que o
professor não teve
experiências suficientes
ou não passou por
situações que realmente considerasse o
conhecimento geográfico.
O professor PG4 aponta:
“acho a cartografia bem
complicada. Quando vejo que não
conheço algum conceito,
eu estudo pra relembrar e poder ensinar”.
O professor PG3, além da
dificuldade de ensinar
conceitos como
escala e projecção, diz
que também sente
dificuldades com
conceitos
como espaço e paisagem.
Conceitos estes
imanentes à ciência
geográfica. O professor PG1,
diferente dos demais
professores, apontou os conceitos que tem
dificuldade em
trabalhar, estritamente,
com
estudantes cegos. Nesse
sentido, o professor
aponta que tem
dificuldades com vários
conceitos,
principalmente os que
exigem maior
abstracção, como o
conceito de zonas
térmicas. Os conceitos relacionados ao ensino
de cartografia também
foram lembrados pelo
professor, que citou o
mapa hipsométrico como
exemplo. A pesquisa de Loch e
Fuckner (2003) traz
contribuições
significativas ao
pensarmos as
dificuldades quanto ao
ensino de
cartografia por
professores da educação
básica. A pesquisa
levantou
opiniões de 60
professores de geografia
da região metropolitana
de
Florianópolis. Segundo
os pesquisadores, 51%
dos professores alegam ter dificuldades em
leccionar conteúdos de
cartografia no ensino de geografia,
principalmente os
conceitos de projecção
cartográfica, escala e coordenadas. Sendo o
conceito de projecção
cartográfica o mais
evidenciado pelos
professores, os autores
acreditam que “a razão
para
dificuldades em
projecção
cartográfica seja
decorrente da forma como
tal
conteúdo é exposto nos
livros didácticos ou, por
exigir um nível
considerável de
abstracção, sendo sua
aprendizagem difícil
também na
universidade” (LOCH e
FUCKNER, 2003, p.17).
Interessante observar
que, tal como os
professores que
participaram da pesquisa
de Loch e Fuckner, os
professores de geografia e AEE que participaram
desta pesquisa
manifestam as mesmas
dificuldades quanto aos
conteúdos cartográficos.
O que nos faz reflectir que o ensino de
conceitos de cartografia
na educação básica pode
ser
muitas vezes
negligenciado em função
do desconhecimento do professor. De
facto, a dificuldade
de abstracção pode levar,
tanto professores
como estudantes, a
compreensões incorrectas
dos mapas e
consequentemente, de
conceitos geográficos.
Em virtude da
dificuldade encontrada
pelo professor PG1 em esclarecer ao estudante
cego o conceito de zonas
térmicas, é imperativo a utilização de
materiais adaptados que
o auxiliem nessa
tarefa. A importância de
utilização de materiais
tácteis no ensino de
geografia tem
sido diversas vezes
salientada ao longo do
trabalho. As
experiências
vividas pelo professor
PG1 são exemplos de como
esses materiais
auxiliariam na prática
docente. Concorda-se com
Freitas, Ventorini,
Rios e Araújo (2006)
quando afirmam que é de
suma importância a
utilização de miniaturas
e objectos em três
dimensões para a
compreensão do espaço
pelo estudante cego. Se
pensarmos os exemplos do professor PG1, a
apresentação do conceito
de zonas térmicas se
daria
com maior facilidade se
este professor pudesse
contar em sala de aula com um globo
táctil e outro objecto
táctil que
representasse o sol. Ao procurar explicar o mapa hipsométrico, o
professor teria a opção
de
construir uma maquete
geográfica com os
estudantes. A partir da maquete, que poderia ser
da própria ilha de Santa
Catarina, o professor apresentaria os
conceitos de altitude e
profundidade. Com a
compreensão dos
conceitos na maquete, a
assimilação destes ao
mapa
hipsométrico se tornaria
mais efectiva que se
simplesmente fosse
oralizada pelo
professor. Além de
auxiliar o professor,
seguramente
estes materiais
promoveriam uma maior
clareza e melhor
compreensão
por parte do estudante
cego que estivesse
fazendo uso deste
recurso táctil. Importantes teóricos da
aprendizagem, como
Piaget e Vygotski,
fizeram grandes
contribuições ao apontar
o quanto os materiais, o
meio,
os sujeitos e as
mediações são
indispensáveis no
processo educativo.
Sobre o funcionamento
psíquico das pessoas com
deficiência Vygotski
(NUERNBERG, 2008, p.
309) aponta que
-
el niño ciego o sordo
puede lograr en el
desarrollo
lo mismo que el normal,
pero los niños con
defecto
lo logran de distinto
modo, por un camino
distinto,
con otros medios, y para
el pedagogo es
importante
conocer la peculiaridad
del camino por el cual
debe
conducir al niño.
Ainda amparados nos
conhecimentos de
Vygotski, cabe reflectir sobre a importância de
relacionar os conteúdos
trabalhados em sala de aula com as experiências
dos estudantes. Trazendo novamente a
colocação do professor
PAEE2: “não dá
para ensinar escala sem
que ele (o estudante)
tenha uma noção do
espaço e do corpo”. Da
mesma forma, como se
pode querer trabalhar coordenadas geográficas
com estudantes que ao
menos conhecem os
pontos cardeais? Será
que em uma sala de aula
o estudante cego
compreenderia onde está
localizado o sul e o
norte? Para o estudante
cego, como qualquer
outro, os conceitos
devem ter um significado
real,
a partir de suas
experiências, caso
contrário, desprovidos
de sentido na
aprendizagem, não são
adequadamente
compreendidos ou
decodificados, o que
gera efeitos negativos
no processo de
desenvolvimento do
educando.
Ao considerarmos os
postulados de Vygotski
(NUERNBERG,
2008) sobre as relações
semióticas do
funcionamento psíquico,
é
possível afirmar que o
conhecimento não é
produto unicamente dos órgãos sensoriais, no
caso do estudante cego
da audição e do tacto
principalmente, mas
resulta de um processo
muito mais amplo que se
dá
a partir das relações
sociais estabelecidas.
Então, a mediação de
professores e estudantes
é crucial no aprendizado
deste estudante. Nesse sentido, as
contribuições de
Cavalcanti (2002, p.312)
são
válidas ao apontar que a
perspectiva
socioconstrutivista,
formulada por
Vygostki,
-
“concebe o
ensino como uma
intervenção nos
processos
intelectuais, sociais e afetivos do aluno,
buscando sua relação
consciente
e ativa com os objectos
do conhecimento”.
Os
estudantes cegos que
participaram da pesquisa
já possuem conhecimentos
geográficos de sua
relação directa com o
espaço vivido, contudo,
as medições semióticas
dos
professores e demais
estudantes, aliados aos
recursos didácticos
adaptados favoreceriam
seu aprendizado.
Portanto, não basta
simplesmente ensinar
escala, o estudante
precisa experienciar
situações
de redução proporcional
para compreender o
conceito de escala tão evidenciado no ensino de
geografia. Diante das
dificuldades apontadas pelos professores, será
que até mesmo eles não
precisariam experienciar tal conceito?
4.4 A escola está
realmente preparada para
a inclusão?
A pesquisa pôde
verificar as condições
do trabalho do professor e, por conseguinte, da
escola na tentativa de
tornar o ambiente
escolar
inclusivo. Somente 20%
dos professores
afirmaram ter sido
ofertadas
actividades para o
desenvolvimento
profissional promovidas
pela escola
(FIGURA 9).
Há actividades de
desenvolvimento
profissional para
professores
promovidas pela escola?
|
20% - Sim
70%
- Não 10%
- Parcialmente
|
FIGURA 9.
Desenvolvimento
profissional
para professores
|
De entre as
actividades que foram
oferecidas estão o curso
de braille e de LIBRAS.
Apesar da pouca
iniciativa por parte das
escolas,
os professores têm
conhecimento que a ACIC
oferece curso de braille
à
comunidade.
Quanto à preparação para
o processo de inclusão
do novo
estudante, considerando
preparação de
professores e agentes
educativos
(FIGURA 10), 60% dos
professores alegam que
não há essa preparação.
Há a preparação
para o processo
de inclusão do
novo estudante?
|
20% - Sim
60%
- Não 20%
- Nem sempre
|
FIGURA 10. Preparação
para o processo de
inclusão de estudantes
com NEE
|
Em 50% das escolas
pesquisadas não houve
aquisição ou adequação
dos
equipamentos e materiais
de apoio antes do
ingresso do estudante
cego
(FIGURA 11), ou seja, as
medidas necessárias são
tomadas a partir da
presença do estudante na
escola.
Há aquisição /
adequação dos
equipamentos e
materiais de
apoio, antes do
ingresso do
estudante cego?
|
30% - Sim
50%
- Não 20%
- Não sabe
|
FIGURA 11. Aquisição e
adequação dos
equipamentos e materiais
de apoio antes do
ingresso
do estudante cego
|
Interessante observar
que ao questionar os
professores quanto à
disponibilidade de
recursos materiais,
financeiros e humanos,
50% dos
professores acreditam
que os recursos
materiais e financeiros
são
suficientes para atender
as demandas da inclusão
e 70% afirmam que os
recursos humanos são
suficientes (FIGURA 12).
Há recursos
humanos
suficientes?
|
Há recursos
materiais e
financiamento
suficientes?
|
70% - Sim
20%
- Não 10% -
Parcialmente
|
50% - Sim
40% - Não
10% -
Parcialmente
|
FIGURA 12.
Recursos
humanos,
materiais e
financiamento
suficientes
|
Por outro lado, apesar
do aparente
descompromisso da escola
no
que diz respeito às
actividades de
desenvolvimento
profissional,
preparação para a
inclusão do estudante
cego e quanto a
aquisição e
adequação de materiais,
os professores apontam
diversas iniciativas que consideram como boas
práticas adoptadas por
estudantes, professores
e
pela própria escola ao
receber o estudante
cego.
O professor PAEE1 e
PAEE4 consideram como
boa prática os
cursos de capacitação
oferecidos pela escola,
tanto para professores como para estudantes. O
professor PAEE1 também
acrescenta a
disponibilidade de
material adaptado.
O professor PAEE2 avalia
positivamente a postura
de alguns
professores quando
aponta que “as pessoas
(os professores de sala regular) perderam o medo
de experimentar”. No
entanto, o quotidiano do professor o faz afirmar
que na maioria das vezes
“falta conhecimento,
(os professores) têm
medo do novo, têm medo
de arriscar. As pessoas criam uma espécie de
negação do novo”. E
exemplifica a fala de
seus
colegas de escola que,
para ocorrer a inclusão,
“ah, a gente tem que ter uma cadeira própria, um
banheiro adaptado, etc.”
E finaliza: “antes de vivenciarem já negaram”.
O professor PAEE3 aponta
que o registro da
documentação e
histórico de AEE dos
estudantes foi uma boa
iniciativa. A presença
de
um professor intérprete
e um professor instrutor
de LIBRAS na escola
também foi citada.
Os professores PAEE5 e
PAEE6 contam que a
escola foi toda
reformada e foi
procurado atender os
princípios de
acessibilidade. No
entanto os professores
apontam que as barreiras
arquitetónicas na escola foram superadas e
que as barreiras
atitudenais por parte
dos
professores e estudantes
são as mais complexas de
serem vencidas. O professor PG1, como o
professor PAEE2,
assinala as acções
individuais de alguns
professores e
estudantes. O professor PG2 aponta
que a possibilidade de
trabalhar com o
diferente está sendo uma
grande experiência.
Acrescenta que vê muita garra e força de vontade
na maneira como o
estudante cego encara as dificuldades, e que
aprende muito com isso.
Mas aponta que o
preconceito ainda é
grande, e que “de certa
forma os estudantes se sentem excluídos”.
O professor PG4 diz que
está sendo positiva a
integração do
estudante cego com os
demais estudantes. O que
corrobora com Galvão
(2004, p. 142) ao
afirmar que a
oportunidade de
vivenciar os desafios impostos pela prática
inclusiva fortalece o
estudante cego,
impulsionando o seu
amadurecimento
psicossocial,
preparando-o para o
seu convívio na
sociedade. E o professor
ainda aponta que “os
professores não lhe dão
notas por pena, eles
reconhecem suas
limitações e não
desconsideram seus
potenciais cognitivos”.
O professor PG3 acredita
que a abertura da escola
para os
‘diferentes’ é uma
oportunidade para essas
pessoas que por tanto
tempo
foram excluídas.
Contudo, a fala do
professor é bastante
realista ao
afirmar em seguida que
“a escola já é
deficiente para quem já
está aqui
(na escola), quis
abraçar mais do que
podia, abriu espaço para
a
inclusão mas acaba
acontecendo um
faz-de-conta”. Triste
afirmação
que remonta à indagação
de Caiado (2003, p.1
citado por ALMEIDA e
SAMPAIO, 2008): “Como
manter acesa a utopia de
incluir pessoas
portadoras de algum tipo
de necessidade especial
ou deficiência em
uma sociedade que não
resolveu sequer (se é
que pretende fazê-lo) a questão da inclusão das
pessoas ‘normais’?”
Percebemos nas falas dos
professores que as
iniciativas da escola e do colectivo escolar
transpassam situações de
ordem estrutural, como melhoria de materiais e
adaptação física de
ambientes, e
organizacional,
como oferecimento de
cursos e contratação de
professores. No entanto,
é
importante considerarmos
que aumentar a
participação do
estudante
cego no quotidiano
escolar não significa
simplesmente realizar
sua
matrícula, fornecer
materiais adaptados ou
colocar os pisos
podotácteis
na escola, mas
principalmente permitir
que o estudante cego
esteja
inserido no contexto
escolar de maneira
igualitária, sem ter que
se abster
de sua maneira singular
de ser. Esta pesquisa foi
desenvolvida na
perspectiva de
compreender
como se dá o processo
educativo de estudantes
com cegueira na região da Grande Florianópolis.
Para tanto, a
investigação delineou
três
objectivos específicos:
identificação das
dificuldades dos
educadores
quanto ao ensino de
geografia e a inclusão
de estudantes com
cegueira
em sala de aula; análise
das actuais metodologias
de ensino realizadas por professores considerando
as tessituras do
conhecimento geográfico;
e
avaliação das condições
materiais do trabalho
desses professores no
que
concerne ao ensino de
geografia. A pesquisa apontou que
as dificuldades quanto a
presença do
outro em sala de aula
constituem verdadeiros
entraves na inclusão
escolar de estudantes
com cegueira. As
histórias de vida dos
estudantes
mostraram dificuldades
na adaptação ao contexto
escolar, já os
professores se defrontam
com situações
problemáticas no
dia-a-dia da
sala de aula que
envolvem uma série de
fatores:
-
Factores pessoais que
são intrínsecos a cada
profissional como o
desconhecimento da
cegueira e suas
implicações, a abertura
em
aceitar ou não o
diferente, a ausência de
formação continuada e a falta de tempo em
buscar qualificação, o
desgaste com a
indisciplina em sala de
aula, a descrença na
escola e no sistema
educacional, o
descomprometimento com
os estudantes cegos e consequentemente com a
docência;
-
Factores
político-sociais como a
baixa remuneração, a
falta de
políticas públicas que
assegurem
verdadeiramente a
qualidade
no ensino e não somente
a presença do estudante
em sala de
aula, tanto para
estudantes com NEE como
para todos os
estudantes, a falta de
aporte material,
conceitual e
metodológico
pela instituição
escolar;
-
Factores
técnicos-pedagógicos
como a formação
continuada, a
precariedade de
materiais, a ausência de
reuniões que avaliem a
actual prática e orientem
quanto aos futuros
planejamentos, o
apoio técnico por parte
do CAP e da FCEE, o
desconhecimento
de estratégias
pedagógicas.
Uma situação agravante
levantada pela pesquisa
foram as
dificuldades
epistemológicas
encontradas por
professores de geografia no exercício da
docência. Os professores
apontam que não dominam conceitos inerentes à
ciência geográfica, como
espaço e paisagem, e os conceitos cartográficos
― escala, orientação
espacial e projecção ― não
são totalmente
compreendidos pela
maioria dos educadores. Acreditamos, portanto,
que é de fundamental
importância a formação
do
professor, bem como é
vital a sua formação
continuada para atender
as
exigências que a
educação inclusiva
impõe. E ainda mais, o
professor
deve reconhecer que a
didáctica não é uma
simples conversão ou
transposição do saber
científico em saber
escolar, mas um processo
de
construção e elaboração.
Desta maneira, na medida
em que se conhece o
significado dos
conceitos e das suas
possíveis relações, e se
encara a
inclusão como uma
possibilidade que pode
dar certo, as teorias
passam a
contribuir na
reestruturação da
prática pedagógica.
Nesse sentido,
observamos nas falas dos
professores que os
desafios vão além da
reestruturação
metodológica. Em relação à análise das
actuais metodologias de
ensino ao
considerar o
conhecimento geográfico
para estudantes com
cegueira, a
pesquisa evidenciou uma
situação bastante
incisiva em relação ao sucesso destes
estudantes em turmas
regulares: é de suma
importância
que o professor de
geografia tenha o apoio
dos professores de AEE e
da
sala de recursos.
Constatamos que a
inexistência dessa
parceria faz com
que os estudantes sejam
prejudicados em seu
processo educativo. O desconhecimento dos
professores de geografia
em como trabalhar com estudantes cegos, no que
diz respeito ao
desenvolvimento de
metodologias com apoio
de materiais didácticos
adaptados e da
linguagem escrita e
oralizada, acaba gerando
situações de abandono e indiferença. De
facto, a
troca de experiências
entre os professores de AEE e os professores de
sala regular minimizaria
as situações
embaraçosas vividas
pelos professores de
geografia. Ao mesmo
tempo a
escassez de materiais
adaptados, ou mesmo a
ausência de descrição em tinta nos textos em
braille e nos mapas
tácteis, impossibilita
ainda mais
um acompanhamento da
aprendizagem do
estudante por parte do professor. Podemos
afirmar, portanto, que
essa situação evidencia
o
quanto os professores de
geografia sentem-se
despreparados e
desamparados diante da
política inclusiva.
Os resultados apontaram
que há vários aspectos
que contribuem
para o desconhecimento
dos professores quanto
ao ensino para
estudantes com cegueira.
Além do distanciamento
entre professores de
geografia e professores
de AEE, a maioria das
escolas não oferece
cursos de formação e
capacitação profissional
aos professores e a
inexistência de
orientações, reuniões,
trocas e coordenação por
parte da
direção das escolas
públicas agravam e
perpetuam ainda mais
esse
desconhecimento. Um outro aspecto
apontado pela pesquisa
foi que todos os
professores de geografia
realizam aulas
expositivas e
dialogadas.Contudo é preciso
compreender que aceitar
que o estudante cego só consegue aprender
ouvindo, assim como o
estudante surdo só
consegue
aprender vendo, é
limitar o
desenvolvimento
cognitivo do estudante a sua limitação orgânica.
Posição esta que vai em
confronto ao modelo
educativo
sócioconstrutivista
adoptado pelas escolas. É
importante que
em suas aulas
expositivas e dialogadas
os professores estejam amparados por materiais
adaptados. Seria
possível ensinar
movimentos
de rotação e translação
da Terra sem o aporte de
materiais didácticos? Se estes conteúdos
apresentados a turmas do
6º ano já geram
dificuldades
de abstracção para os
estudantes que vêem,
imagine-se, então, para estudantes cegos.
A avaliação das
condições materiais do
trabalho dos professores de geografia e AEE
estavam bem distantes do
ideal almejado pela
legislação. Os livros
didácticos em braille e
os mapas tácteis são os recursos mais acessíveis
para os estudantes do
ensino fundamental e
médio, no entanto, os
estudantes da EJA contam
com o apoio de textos em braille e de alguns
mapas que possam ser
fornecidos pela sala de recursos. Em todo o
processo de investigação
observámos que os
recursos que os
professores de geografia
mais utilizam no ensino atendem a uma sala de
estudantes que vê.
A escassez ou até
mesmo inexistência de
materiais adaptados na
escola, como globo
táctil, maquetes, esquemas,
atlas, programas de voz,
etc. ― que contribuiriam sobremaneira ao ensino
de geografia e
consequentemente de
cartografia ― faz parte da realidade
de 80% das escolas que
participaram da
pesquisa.Vale lembrar entretanto
que a utilização de
recursos adaptados
em sala de aula atende
tanto estudantes com NEE
como os demais
estudantes considerados
“normais”. Por esse
caminho, é importante esclarecer que a escola
inclusiva não é aquela
que se “ajusta” às
necessidades dos
“diferentes” por meio de
materiais adaptados e professores capacitados.
As reestruturações de
cunho físico e
pedagógico e as
formações profissionais
devem acontecer em todas
as
escolas, e não somente
naquelas que recebem
estudantes com NEE.
Os dados levantados,
analisados e discutidos
nessa pesquisa nos
conduzem a reflectir que
todas as crianças podem
estar na escola, mesmo
aquelas que
aparentemente apresentam
“desvantagens” em
relação aos
demais colegas. Isto
significa considerar que
a socialização do
conhecimento deve ser
garantida a todos. Essa
socialização deve ser oportunizada através de
políticas educacionais
que favoreçam a inclusão das pessoas, além de
zelar para que todos
aprendam, e não apenas
os
que tenham maior
facilidade.
A inclusão escolar é uma
inovação educacional e a
escola precisa
estar preparada para
esta nova concepção de
educação, e no caso das escolas da Grande
Florianópolis, há muito
a ser feito para elas
efectivamente estarem
preparadas. A
transformação e
aprimoramento
dessas escolas são
inadiáveis, pois os
estudantes com NEE já
fazem
parte do contexto
escolar, o que faz
actualmente a inclusão
acontecer por
consequência. Compreendemos que para
que a inclusão realmente
se efective,
além do comprometimento
do professor, é
fundamental o
comprometimento do
colectivo escolar. Não é
apenas a postura do
professor que estará em
questão, mas sim a
postura da escola. E é a escola e,
consequentemente, o
colectivo escolar, que
precisam sofrer a
verdadeira mudança.
E ainda mais, é preciso
reconhecer que não são
cursos,
especializações e
formações profissionais
que farão do professor
um
professor que adopte uma
postura inclusiva. O
primeiro passo para a
efectiva inclusão de
estudantes cegos no
ensino regular é a
abertura da
escola em reconhecê-los
em suas singularidades.
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Utilização e Conservação
dos Recursos Naturais Linha de pesquisa:
Geografia em Processos
Educativos PROGRAMA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM
GEOGRAFIA UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SANTA CATARINA
Fonte:
Dissertação
em PDF com anexos e
apêndices
in Laboratório
de Cartografia Táctil e
Escolar - Universidade
Federal de Santa
Catarina
Δ
11.Nov.2011
publicado
por
MJA
|