
Sylvia Nunes
&
José Bitencourt Lomônaco

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Resumo | O objetivo deste trabalho foi estudar o desenvolvimento de conceitos por cegos congénitos. Participaram sete cegos congénitos, de ambos os sexos, com idades entre 8 e 13 anos. Foi solicitado aos participantes que definissem 15
conceitos, subdivididos em concretos e abstratos. As respostas foram
agrupadas em 13 categorias. Verificou-se que cada tipo de conceito envolve formas diferenciadas de definição e de utilização de recursos perceptivos. Foram identificados alguns meios utilizados pelo cego congénito na aquisição do
conhecimento, evidenciando a multiplicidade de possibilidades de aquisição e expressão de conceitos. As implicações deste trabalho para o processo de ensino/aprendizagem de cegos foram consideradas.
A cegueira é uma deficiência visual
caracterizada pela impossibilidade de apreensão de
informações do mundo pela visão. Existem dois
tipos de deficiência visual: cegueira e baixa visão.
As duas formas mais comuns de avaliação da
capacidade visual são pela acuidade (discriminação
de formas) e pelo campo visual (capacidade de
percepção da amplitude dos estímulos). Cego é o
indivíduo com acuidade menor que 0,1 ou campo
visual com menos de 20 graus. Já a baixa visão é
definida por uma acuidade de 6/60 e 18/60 e/ou um
campo visual entre 20 e 50 graus. A capacidade
visual é avaliada por essas medidas com todas as correções ópticas possíveis (óculos, lentes etc.). A
perda da visão antes dos cinco anos de idade é
chamada cegueira congénita. Já os cegos que
perdem a visão a partir dessa idade são
considerados cegos adventícios.
Na vida cotidiana, acredita-se que a visão é o
sentido mais importante e mais usado. E, uma vez
que o cego é um indivíduo privado dela, supomos
que ele terá sérias restrições em sua vida. A
cegueira impõe limites, é certo. E exige adaptações,
mas se as informações não chegam ao cego pela
visão, é justamente pelos outros sentidos que ele
tem infinitas possibilidades de conhecer o mundo
em que vive. Esse processo não se dá de forma
automática, como uma substituição de um sentido
por outro como pressupunha a teoria da
substituição, valorizada na educação do cego no
século XVIII 1, pois se trata de um processo de
aprendizagem como outro qualquer.
A audição, por meio da linguagem, é um sentido
fundamental para o cego, pois muito do que ele não vê pode ser entendido pela linguagem. Para tal, ele
precisa que pessoas videntes descrevam o que é
visual. Entretanto, como os videntes estão menos
acostumados a perceber o mundo pelos outros
sentidos, isto exige do cego constantes "ajustes"
daquilo que ele conhece por meio de suas
percepções e daquilo que ele conhece pela fala dos
que o rodeiam. Nesse sentido, Rabêllo (2003)
afirma que alguns cegos... “se tornam
extremamente sensíveis aos matizes de inflexão, de
volume, de cadência, de ressonância e das várias
intensidades dos sons das falas dos outros, que
passam despercebidos aos videntes” (p. 78). O que
não significa uma “super capacidade” do cego, mas
uma utilização mais aprofundada da audição
possível a qualquer pessoa.
Outro sentido muito usado pelo cego é o tato. O
tato é uma forma mais lenta de captação da
informação devido seu caráter seqüencial – por
exemplo, o cego precisa percorrer uma mesa para
conhecê-la, enquanto a visão permite uma
identificação mais rápida. No entanto, Batista
(2005) lembra que não é só o tato que tem o caráter
seqüencial: música, discurso, livros, textos, todos
são formas seqüenciais de transmissão de
informação e, nem por isso, são consideradas
melhores ou piores do que a informação captada
visualmente. Muito pelo contrário, freqüentemente
se diz que ler um livro permite um aprofundamento
maior da história do que ver o filme
correspondente.
Lima, Lima e Silva (2000) afirmam que a
possibilidade de acesso dos cegos à comunicação
via imagem na forma tátil ainda é um recurso pouco
utilizado. Esses pesquisadores acreditam que isso é
um grande prejuízo para o cego, pois o não acesso a materiais gráficos (desenhos e figuras em relevo)
restringe uma ampla possibilidade de conhecimento
do mundo e exclui ainda mais o deficiente visual.
Além disso, o olfato, a gustação e o sistema
cinestésico – responsável pela orientação espacial,
movimento e equilíbrio – são importantes fontes de
informação para o cego. Dessa forma, a percepção
do espaço pelo cego se dá pela conjunção de
sensações táteis, cinestésicas e auditivas aliadas às
experiências mentais passadas já construídas pelo
sujeito.
Assim, a falta da visão, por si só, não é um
impedimento ao desenvolvimento; ela impõe
caminhos diferenciados, uma vez que a obtenção de
conhecimentos depende de uma organização
sensorial diferente da do vidente.
A deficiência visual – assim como os outros
tipos de deficiência – assume na sociedade em que
vivemos uma diferença que é considerada uma
desvantagem 2. A concepção do senso comum da
pessoa cega fica tão restrita à limitação visual, que
ela deixa de ser vista como um ser humano integral
e passa a ser percebida freqüentemente como um
ser imperfeito e faltante. No entanto, a pessoa cega,
ainda que com um sentido prejudicado, tem
capacidades de desenvolvimento como qualquer
pessoa, desde que lhe sejam dadas as condições
adequadas para tal. Isto é, é necessário que o
ambiente onde ela viva seja adaptado para sua limitação e lhe possibilite o acesso às informações
visuais por outras vias.
A adaptação ao ambiente e a estimulação da
criança cega ficam prejudicadas se não existe o
reconhecimento de suas potencialidades, como
lembra Ormelezi (2006, p.176): “Para os pais, os
profissionais e as instituições em geral, a
impossibilidade do ver confunde-se com a
impossibilidade do existir, do aprender, do
comunicar-se, do relacionar-se, do fazer parte,
entrar para a cultura e tornar-se sujeito”.
Ao realizar uma pesquisa sobre a garantia dos
direitos das pessoas com deficiência visual, em
Porto Alegre, Brumer, Pavei e Mocelin (2004,
p.321) constataram que a falta ou redução da visão
não é o principal obstáculo para a inclusão dos
portadores de deficiência visual como cidadãos,
plenos de direitos e deveres. Caso lhes sejam
oferecidas as condições de aprendizado e os meios
de desenvolver e aplicar suas habilidades, os PDVs
têm condições de andar sozinhos, estudar, trabalhar
e de participar da vida social, econômica, cultural e
política da sociedade.
O desconhecimento sobre as possibilidades de
desenvolvimento da pessoa cega 3 ocasiona uma
generalização indevida, ou seja, acredita-se que
todos os cegos, por serem cegos, têm as mesmas
características e incapacidades. Com o objetivo de
superar essa concepção no imaginário social,
Torres, Mazoni e Mello (2007) pesquisaram as
diferenças no uso de recursos adaptativos em
pessoas com deficiência visual e concluíram que
elas têm necessidades de adaptação muito
diferenciadas. Ainda que todas elas tenham em comum o fato de não enxergar corretamente, a
forma como elas vivenciam sua deficiência é muito
diferente e varia conforme uma série de questões,
tais como, momento de aquisição da deficiência,
grau da deficiência, acesso aos meios de
comunicação alternativos etc. Isso mostra o quanto
as generalizações sobre um grupo de pessoas que
tem apenas uma característica em comum podem
ser perigosas, pois não consideram as
peculiaridades de cada um.
David H. Warren, um psicólogo norte-americano
que há décadas estuda o desenvolvimento de
pessoas com deficiência visual, em sua obra
Blindness and children: individual approach,
publicada em 1994, faz uma ampla revisão
bibliográfica de trabalhos publicados a respeito de
crianças com deficiência visual. O autor divide
esses estudos em duas abordagens: comparativa e
diferencial. São classificadas na primeira
abordagem as pesquisas que utilizam grupos de
cegos e videntes e tiram conclusões a partir das
médias dos desempenhos. Na abordagem
diferencial não há comparação, nem médias, pois a
pesquisa busca os processos de cada indivíduo,
enfatizando as diferenças entre os sujeitos. Essa
abordagem permite mais informação do que a
primeira, visto que o atraso no desenvolvimento
(inclusive na formação de conceitos) em cegos não
é uma conseqüência direta da deficiência visual,
mas das limitações de suas experiências.
Se os atrasos não são inerentes à cegueira, o
enfoque diferencial, ao permitir a busca das
diferenças entre indivíduos cegos, é uma forma de
evidenciar as potencialidades destes. Ou seja,
quando um cego consegue um desenvolvimento X,
esse fato torna-se um indicativo das capacidades
das pessoas cegas e uma evidência de que a
ausência de X não é inerente à cegueira, já que foi
possível a um indivíduo cego atingir esse nível de
desenvolvimento. O enfoque comparativo não
consegue evidenciar essas capacidades porque se
baseia em médias. Pode acontecer desse
desenvolvimento X não se encontrar na média dos
desempenhos do cego. A partir da verificação de
possibilidades, o enfoque diferencial busca
identificar aspectos, cuidados e caminhos
importantes no desenvolvimento de suas
capacidades. Em relação ao desenvolvimento
conceitual de cegos, Warren (1994) encontrou
pesquisas que concluem serem os cegos
prejudicados pela falta de percepção sensorial na
formação de conceitos. Em contraposição, o autor
também relatou trabalhos indicativos de que atrasos
conceituais em cegos não se devem à ausência de
visão, mas à falta de experiências que lhes
possibilitem esse desenvolvimento.
Amiralian (1997)
também questiona o resultado
de pesquisas que constataram atrasos na aquisição
de conceitos por cegos em relação aos videntes,
salientando que tais estudos não atentam para a
significação construída por essas crianças,
esquecendo-se de que o cego pode utilizar as
mesmas palavras que o vidente, mas com
significados muito diferentes, uma vez que a
ausência da visão altera a organização das
informações sensoriais. A orientação dada pelos
estudiosos, a fim de minimizar o problema, é
estimular o cego desde bebê a participar ao máximo
do mundo externo, já que ele não tem o retorno
visual que os videntes têm. Essa seria uma forma de
ajudar, também, a organização das percepções do
cego.
Também Hall (1981) questiona os estudos que
mostram atrasos no desenvolvimento do cego
congênito quando comparado ao vidente, pois o fato
de haver diferenças entre os dois grupos pode não
ser indicativo de atrasos, mas de processos
cognitivos diferenciados. Anderson e Olson (1981),
num estudo sobre a conceituação de crianças cegas,
não observaram diferenças significativas nas
respostas de crianças cegas e videntes, o que
contradiz até mesmo outras pesquisas realizadas
pelos mesmos autores, que afirmam ser a
informação que o cego recebe – sem a visão –
fragmentada, menos complexa e, por isso,
prejudicial à conceituação. Além disso, a tendência
ao verbalismo, isto é, a fala do cego esvaziada de
sentido, apontada por alguns autores como
Cuthsforth (1969), não foi observada, pois apenas
3% das respostas dos cegos tiveram referências
visuais que, logicamente, não são acessíveis a eles.
Em função desses achados, os autores concluíram
que a linguagem da criança cega não é um mero
reflexo do conhecimento e da linguagem dos
videntes a sua volta, mas é representativa dos
conceitos dessas crianças, desenvolvidos a partir
das informações que lhes chegam pelos sentidos
que não a visão.
Outro estudo interessante nesta área foi
realizado por Ormelezi (2000). Esta autora
investigou a aquisição de representações mentais -
imagens e conceitos - pelo cego. Foram
entrevistados cinco adultos, com idades entre 19 e
44 anos. Foi constatado que a formação de imagens
e conceitos de todos os participantes se dá pela
experiência tátil, auditiva e olfativa. Todas essas
experiências se mostraram inter-relacionadas com a
linguagem por meio de explicações, definições,
metáforas, etc. que as pessoas apresentam ao cego.
Em relação aos conceitos pouco ou nada acessíveis
à percepção do cego, verificou-se novamente a
importância da linguagem, pois esses conceitos não
se formam a partir de um suporte sensorial real. Os
participantes apresentaram significados
consistentes, ainda que não experienciados
diretamente. A autora concluiu que as entrevistas
mostraram a importância de se estudar o cego a
partir de seu próprio referencial, evitando-se partir
de uma abordagem de videntes.
Um ponto comum constatado em pesquisas é o
de que o desenvolvimento do cego ao longo de sua
vida é extremamente variável: existem aqueles que
se desenvolvem bem e atingem um alto grau
profissional, enquanto outros “estacionam” em
níveis muito baixos de desenvolvimento
(Amiralian, 1997; Warren, 1994), ou seja, o cego,
como qualquer ser humano, é um sujeito
multideterminado: os aspectos sociais, pessoais,
orgânicos, familiares, etc. influem diretamente em
seu desenvolvimento.
No que diz respeito à educação do cego
podemos afirmar que as baixas expectativas quanto
ao seu desenvolvimento é um complicador em seu
desempenho escolar. Monte Alegre (2003) realizou
uma pesquisa, na qual estudou as representações
que professores de crianças cegas tinham sobre seus
alunos. Foram entrevistadas seis professoras,
divididas em três grupos: duas professoras de sala
comum sem apoio especializado; duas professoras
de sala comum em escola com sala de recursos;
duas professoras especializadas de sala de recursos.
O autor constatou que a linguagem oral é
prioritariamente utilizada pelos docentes,
principalmente em situações de falta de recursos materiais e de qualificação profissional para lidar
com a deficiência visual. Verificou, também, o
desconhecimento dos materiais adaptados para o
cego (inclusive o braile) por parte dos professores
de sala comum e a não comunicação entre
professores das salas regulares e de recursos. O
autor concluiu que, além de melhores condições
educacionais para esses alunos, faz-se necessária a
preparação dos professores da sala comum, pois “A
dúvida sobre quais as necessidades cognitivas de
um aluno cego foram expressas realçadamente” (p.
281). Vale lembrar que a crença equivocada da
pouca capacidade de aprendizagem do aluno cego
prejudica-o muito, uma vez que tende a minimizar
as propostas pedagógicas do professor.
Outro ponto negativo quanto à educação do cego
é a possibilidade de o professor, por falta de
preparo, adotar procedimentos educacionais tendo
como parâmetro as formas de aprender do vidente.
Isso significa recusar a deficiência e percepção das
possibilidades e limitações do cego. Sem acreditar
na capacidade cognitiva do aluno cego e ao utilizar
procedimentos adequados para quem tem a visão, o
professor está restringindo a aprendizagem do aluno
cego.
Uma forma dentre outras de investigar o
desenvolvimento cognitivo de cegos é procurar
estudar a maneira pela qual eles formam conceitos.
No que diz respeito às teorias sobre como os seres
humanos formam conceitos, pode-se arrolar quatro
diferentes abordagens teóricas derivadas de estudos
com sujeitos sem qualquer tipo de deficiência, quais
sejam: a visão clássica, a visão prototípica, a visão
dos exemplares e a visão teórica. Neste trabalho,
será adotado o referencial da mais recente delas – a
visão teórica – para analisar a formação de
conceitos por crianças e adolescentes cegos
(Lomônaco, 1997; Lomônaco, Caon, Heuri, Santos
& Franco 1996; Lomônaco & cols. 2000;
Lomônaco, Paula, Mello & Almeida, 2001;
Lomônaco, Nunes & Sano, 2004).
Não obstante as diferentes definições de
conceitos apresentadas por tais teorias (ou visões),
existe um aspecto em que todas concordam. Qual
seja, o de considerar o conceito como uma
representação mental. O ponto de discórdia consiste
em hipotetizar a forma que toma esta representação:
uma definição, um protótipo, um exemplo
representativo ou uma rede de conceitos? Aqueles
que assumem que os conceitos sempre fazem parte
de uma rede de outros conceitos são adeptos da
visão teórica.
Foi o psicólogo norte-americano Frank C. Keil
quem, em sua obra Concepts, kinds, and cognitive
development, publicada em 1989, sistematizou a
visão teórica. Ele inicia seu trabalho com críticas a
teoria dos estágios, tais como as de Vygotsky,
Piaget, Bruner etc. que postulam uma mudança
global e simultânea da representação de conceitos
no decorrer do desenvolvimento humano. Segundo
Keil (1989), a modificação estrutural dos conceitos
ocorre em momentos diferentes, para diferentes
domínios conceituais. Tal mudança consiste
essencialmente num gradual afastamento dos
aspectos característicos dos conceitos e sua
substituição pelos aspectos definidores. Por
exemplo, num estudo realizado por Lomônaco e
colaboradores (2000) em nosso meio (replicando
parte de um dos trabalhos de Keil), foi observado
que, na definição do conceito de cavalo, as crianças
mais novas atentaram mais para os aspectos
superficiais, aparentes ou característicos, tais como relinchar, usar selas e comer grama do que para os
aspectos realmente definidores, tais como os
relativos à constituição interna dos animais,
(sangue, ossos, etc.) e sua descendência (terem
filhos da mesma espécie).
Diferentemente das outras abordagens, para a
visão teórica o conceito não é mais visto
isoladamente, mas inter-relacionado com outros
conceitos que a pessoa tem do mundo. Ou seja, o
conceito faz parte de uma rede de relações com
outros conceitos, da qual deriva seu significado.
Essa rede de relações é chamada teoria. Esse termo
não se refere unicamente (nem predominantemente)
a teorias científicas, mas (talvez, principalmente) a
relações estabelecidas pelo senso comum, ao
conhecimento que o leigo tem do mundo e à forma
pela qual ele o organiza (teorias ingênuas). Um
exemplo ilustrativo de uma teoria ingênua é o
conhecimento que uma criança tem sobre animais:
ela sabe que eles se alimentam, reproduzem,
nascem, crescem, morrem, etc. Esse conhecimento
é uma teoria, no sentido de indicar como as coisas
se relacionam no mundo animal (Oliveira, 1994,
1999; Lomônaco, 1997). E, uma vez que os
conceitos formam uma estrutura relacional, a
mudança de um conceito ou a aprendizagem de um
novo conceito altera intrinsecamente toda essa rede
de relações.
Uma outra diferença marcante da visão teórica
em relação às outras visões de conceitos diz
respeito à similaridade. De uma forma ou de outra,
todas as teorias anteriores sobre conceitos se
basearam na similaridade para explicar o fenômeno
da coesão conceitual, isto é, para identificar o fator
que mantém unidos os atributos de um conceito,
levando-nos a ter os conceitos que temos e não
outros que são igualmente possíveis. A chave para
esta pergunta, segundo a visão teórica, é a teoria
subjacente. Ou seja, diante das coisas do mundo,
uma pessoa vai criando e estabelecendo conexões
com outros conceitos, formando uma rede de
maneira tal que um conceito adquire significado em
função de suas relações com outros conceitos desta
rede. Como bem explicita Oliveira (1994, p.37): O
princípio básico da concepção teórica é o de que
cada conceito deve ser visto como parte da teoria
em que se encontra inserido – e da qual, na
verdade, é elemento constitutivo.
Com base nessas reflexões, a presente pesquisa
tem como objetivos: identificar os recursos de que a
criança cega se utiliza para formar seus conceitos;
avaliar a diferença entre a formação de conceitos
passíveis de serem apreendidos pelo tato (tateáveis)
daqueles que não podem ser apreendidos por esse
sentido (não-tateáveis); avaliar a diferença entre a
formação de conceitos “concretos” 4 (cognoscíveis
pelos sentidos) dos conceitos “abstratos” (não
cognoscíveis diretamente pelos sentidos).
Método
Participantes
Participaram desta pesquisa quatro crianças e
três pré-adolescentes com cegueira congênita, sem
outras deficiências associadas, de ambos os sexos
(dois meninos e quatro meninas), com idades entre
oito e treze anos As crianças freqüentavam instituições especializadas em atendimento ao
deficiente visual e também iam à escola. Por razões
éticas, os nomes verdadeiros dos participantes
foram omitidos.
As crianças foram localizadas por meio de
contatos com instituições especializadas em
atendimento ao deficiente visual. Três critérios
nortearam a seleção das crianças: ter entre oito e
treze anos de idade; possuir diagnóstico de cegueira
congênita, sem outras deficiências associadas,
fornecido pela instituição; estar freqüentando a
escola. Foram levantadas informações sobre cada
participante dentro da instituição: o diagnóstico
oftalmológico e os históricos institucional e escolar.
Material e Procedimento
Para a coleta de dados foram utilizados um
gravador e fitas cassetes para gravação das
entrevistas. As entrevistas foram realizadas pela
primeira autora e duraram, em média, 30 minutos.
A fim de evitar o estudo de conceitos não
conhecidos pelas crianças foi perguntado,
primeiramente, aos participantes se eles conheciam
os conceitos a serem trabalhados. A seguir, foi
realizada a entrevista individual semi-estruturada,
na qual foram apresentados quinze conceitos e foi
solicitado aos participantes que os definissem. Os
conceitos eram de dois tipos: concretos e abstratos.
Dentre os conceitos concretos, houve uma
subdivisão em 4 níveis de acessibilidade pelo tato, configurando um continuum que varia de
conceitos de objetos ou eventos facilmente
acessíveis pelos sentidos do cego, até aqueles que
não são passíveis de ser conhecidos pelos sentidos,
mas podem ser apreendidos por meio de outras
experiências. Os conceitos trabalhados são
apresentados no Quadro 1.
Foram levados em conta aspectos éticos na
realização desta pesquisa: o consentimento livre e
informado dos pais das crianças participantes; o
assentimento livre das crianças; a garantia da não
identificação dos participantes em futuras
publicações; o respeito total à criança; o retorno dos
resultados obtidos na pesquisa por meio da entrega
de uma cópia da dissertação à instituição e pela
proposta de palestra sobre as conclusões da
pesquisa para os pais das crianças participantes,
profissionais da instituição e demais interessados.
Quadro 1 Conceitos trabalhados no estudo, subdivididos em função do nível de abstração e da possibilidade de acesso pelo tato e/ou outros sentidos.
CONCRETOS
|
ABSTRATOS
|
Tateáveis
|
Não tateáveis
|
Amplamente manuseáveis
|
Possibilidade de manuseio restrita
|
Cognoscíveis por outros sentidos
|
Não cognoscíveis pelos sentidos do cego
|
Bola
|
Casa
|
Música
|
Lua
|
Mentira
|
Sapato
|
Montanha
|
Vento
|
Nuvem
|
Liberdade
|
Telefone
|
Trem
|
Trovão
|
Arco-íris
|
Justiça
|
Quadro 2 Definições das categorias utilizadas e exemplos ilustrativos.
CATEGORIAS:
Atributos Físicos Não-Tateáveis (AFNT): Os itens que formam esta categoria dizem respeito a atributos que não podem ser percebidos pelo tato. Há três tipos desses atributos: (1) atributos não cognoscíveis por
outros sentidos que não a visão, tal como cores: “Arco-íris é quando o céu fica cheio de cores”, que são, portanto, explicações visuais de pessoas videntes dadas aos participantes; (2) descrições de tamanho com pouca possibilidade de
manuseio, tal como casa: “Casa é um lugar grande”; (3) referências a sensações de calor, frio, sopro, frescor, poluição, etc. Ex: “Vento é um ar que sopra”.
Atributos Físicos Sonoros (AFS) 5: São incluídas nesta categoria, frases referentes a experiências sonoras. Exemplo: “(Trovão é) uma coisa que faz barulho”.
Atributos Físicos Tateáveis (AFT): Esta categoria inclui dois tipos de respostas: (1) caracterizações físicas dos conceitos advindas, provavelmente, da experiência tátil do entrevistado no que diz respeito a sua
forma: “Bola é um negocinho redondo” ou constituição: “(Casa é feita de) tijolo, areia...”; (2) atribuição de qualidades físicas tateáveis a conceitos não cognoscíveis diretamente pelos sentidos do cego, como lua e nuvem. Por exemplo: “A
lua é redonda” .
Comparação com outros conceitos (Co): Nesta categoria estão incluídas comparações com outros conceitos nas definições. Tais como: “Trem é tipo de um ônibus” e “Vento é o ar que a gente respira”.
Comportamento/Exemplos (Cpto/Ex): Esta categoria engloba definições dos conceitos por meio de exemplos de situações em que eles ocorrem ou comportamentos/ações denotativos de sua presença. Há exemplos em quase
todos os tipos de conceitos, sobretudo em conceitos abstratos, como liberdade: “É quando você é libertado”; “Casar com quem você quer”.
Contexto/Situação (Cx): As respostas desta categoria são contextualizações de quando o fenômeno denotado pelo conceito ocorre, ou seja, descrições de situações em que o fenômeno em questão está presente. Em sua
maioria, esse tipo de resposta ocorre para os fenômenos da natureza: trovão, nuvem, arco-íris. Ex: “Quando está chovendo e o sol vem, daí forma o arcoíris”.
Diante das definições apresentadas para alguns conceitos, os entrevistados foram questionados sobre como aprenderam determinados conceitos. As duas categorias seguintes são referentes às respostas dadas.
Formas de Aprendizagem Formal (FAF): Esta categoria inclui referências a pessoas (professor ou familiares), escola ou livros (dicionários), claramente identificados como responsáveis pela aprendizagem de
determinados conceitos.
Formas de Aprendizagem Informal (FAI): São incluídas nesta categoria, dois tipos de respostas: aquelas em que o entrevistado não identifica pessoas ou espaços relativos à aprendizagem em questão como: “isso aí, eu
já sabia”; e aquelas em que são apontados espaços informais de transmissão de informações, tais como televisão e rádio.
Função (F): Os itens que formam esta categoria referem-se às funções dos objetos, tais como: “O telefone serve para ligar para as pessoas”.
Instrumento (I): Fazem parte desta categoria, itens que se referem diretamente a instrumentos musicais como: “Música é sanfona”; ou a quem utiliza o instrumento musical, como: “(Quem faz a música?) O cantor”; ou
ainda itens relativos aos objetos que produzem música como rádio, CD, fone de ouvido: “(O que tem que fazer pra ter música?) Tem que ligar o rádio”.
Localização (Lo): Os itens que compõem esta categoria referem-se ao lugar em que o objeto em questão pode ser encontrado, como por exemplo, na seguinte definição de arco-íris: “É uma coisa que aparece no céu”.
Surgiu exclusivamente para os conceitos de fenômenos naturais: trovão, vento, lua, arco-íris e nuvem.
Sinônimo (Si): As respostas deste item são sinônimos utilizados para definir o conceito como, por exemplo: “(Sapato é) o calçado” ou “Casa é o nosso lar”.
Vivência (Vi): Fazem parte desta categoria respostas relativas à própria experiência do entrevistado, tais como: a descrição de sua casa ou o itinerário de trem para chegar na instituição.
Resultados e Discussão
Este trabalho buscou identificar os caminhos de
construção do conhecimento utilizados por cegos congênitos, na ausência da experiência visual. A
análise e discussão dos dados envolvem dois
aspectos: as redes conceituais de cada conceito
inferidas a partir de pontos convergentes e
divergentes e os caminhos, ou recursos perceptivos,
utilizados pelos cegos na formação de conceitos.
Após a transcrição das entrevistas, as respostas
de cada entrevistado foram agrupadas em
categorias. A definição das categorias foi feita por
dois juízes - os próprios pesquisadores.
Primeiramente, cada juiz fez, separadamente, um
agrupamento inicial de palavras e expressões com
significados próximos, criando um primeiro esboço
das categorias. Posteriormente, os juízes se
reuniram para identificar as convergências e discutir
as divergências encontradas e chegar a um consenso
sobre os itens que deveriam fazer parte das
categorias, sobre a denominação das mesmas, assim
como sobre os itens que não poderiam ser incluídos
em nenhuma das categorias formadas. A fim de não
criar categorias com número muito pequeno de
itens e/ou com respostas idiossincráticas, definiu-se
como critério para a criação de uma categoria que
esta abrangesse, no mínimo, 3% do total das
respostas.
As definições de cada categoria são apresentadas
no Quadro 2, seguidas de exemplos ilustrativos da
categoria em questão.
Como já considerado, Keil (1989), a partir da
visão teórica de conceitos, parte do pressuposto de
que conceitos são intrinsecamente relacionais,
sendo impossível compreendê-los isoladamente,
visto que o conhecimento do mundo, adquirido a
partir de informações e vivências, assume a forma
de uma rede relacional coesa - a teoria. Assim, o
significado de um conceito é dado pelos conceitos
que a ele estão relacionados. A análise dos
resultados será feita a partir das respostas mais
comuns dos entrevistados, mas serão discutidas,
também, algumas respostas divergentes,
idiossincráticas, por indicarem caminhos possíveis
de relação entre conceitos, embora não muito
comuns.
Para os conceitos concretos tateáveis e
manipuláveis, a função foi amplamente citada: com
freqüência os participantes relacionavam esse tipo
de conceito com suas possíveis funções, como o
jogar para bola e o calçar para sapato. As descrições
físicas também foram freqüentes. Assim sendo,
verificou-se que, além das descrições possibilitadas
pelo tato, também, a função dos objetos é de grande
importância na formação do conceito pelos
participantes.
O mesmo ocorreu com os conceitos concretos
tateáveis de pouca possibilidade de manuseio. Para
casa, por exemplo, a função de moradia foi muita
citada ao lado de outras funções, tais como proteger
da chuva ou para não morar na rua. No caso de
trem, o conceito funcional foi o de transporte.
Percebe-se, então, que fazem parte da rede
conceitual desse tipo de conceito, informações
funcionais.
Além desses, outros conceitos fizeram parte da
rede relacional de cada um dos conceitos concretos
tateáveis. Para casa, por exemplo, parte e tipos de
casa e materiais de construção foram citados, o que
mostra a relação dos conceitos com seus elementos
constituintes, seja pelo exemplo (casa de madeira), seja pelo material (cimento, tijolo). Já em relação ao trem, também foi freqüente a comparação com
ônibus e carro, remetendo às redes conceituais de
outros meios de transporte (nesse caso, foi
comentado o tamanho, número de bancos, etc.) e
também o som feito pelo trem. Para o conceito de
montanha, a relação com a função não aconteceu.
Os conceitos mais comumente relacionados à
montanha foram as ações ou comportamentos que
se faz nela, tais como escalar, subir e descer e a
presença de animais. Dentre as respostas
divergentes, a mais significativa foi a que definiu
montanha como algo coberto de gelo e neve, dada
por Luciano. Essa relação possível entre montanha
e gelo/neve parece ter sido a única existente no seu
repertório conceitual: para ele, toda montanha é
feita de gelo e neve. Percebe-se, então, que a
aprendizagem do conceito de montanha não foi
adequada: além de não serem dadas definições mais
aprofundadas, houve um equívoco conceitual.
Ainda que se trate de um conceito possível de ser
tateado e vivenciado por eles – alguns vivem em
cidades montanhosas – a idéia de montanha parece
não fazer parte da vida deles. Essa é mais uma
limitação constatada e que constitui uma limitação,
não pela ausência da visão, mas pela falta de
oportunidades de ensino ou de propostas de
experiências diretas.
No caso dos conceitos concretos não tateáveis e
cognoscíveis pelos sentidos do cego, cada conceito
apresentou relações com conceitos diferenciados.
Em todos os casos, a música, por exemplo, foi
relacionada diretamente a instrumentos e/ou
aparelhos musicais e comportamentos relativos a
tocar, cantar e gravar CD. Exceção para a definição
de Sandra: ela relacionou música a uma história,
com a diferença de ser cantada em refrão. Essa
conceituação evidencia abstração e capacidade de
relacionar a letra e o ato de contar histórias.
A maioria das definições de vento relacionou-o
com sopro e ar. E as respostas divergentes
referiram-se à chuva, poluição, sensações causadas
pelo vento, sua origem (vento quente e frio que
batem) e a mobilidade que causa (faz a pipa voar).
Para o conceito de trovão, todos os participantes o
relacionaram com o som que provoca e com a
chuva. As principais respostas divergentes citaram
o processo de formação do trovão, o céu e o
relâmpago. A partir dessas considerações, percebesse
que, para esse tipo de conceito, as redes
conceituais estão muito ligadas ao contexto em que
eles ocorrem (chuva, gravar CD) e às experiências
perceptivas (sopro, barulho do trovão e
instrumentos).
Quanto aos conceitos não tateáveis e não
cognoscíveis pelos sentidos do cego, céu foi o mais
relacionado para todos os três conceitos - lua,
nuvem e arco-íris - como o local onde eles
aparecem. A comparação também foi algo comum
entre os conceitos: a forma da lua foi comparada
com bola, banana e queijo; a nuvem, com algodão
doce e fumaça; o arco-íris, com tiara de cabelo.
Para nuvem e arco-íris, a origem desses fenômenos
foi, freqüentemente, lembrada pelos participantes,
relacionando-os também com chuva e sol. Assim,
verifica-se que, para esses conceitos, que podem ser
chamados de visuais - por só serem acessíveis
diretamente pela visão - a localização céu, a
comparação com objetos da realidade da criança e a
origem, quando se tratam de fenômenos naturais
(no caso, nuvem e arco-íris) são aspectos
importantes no processo de aquisição dos conceitos.
A utilização de respostas categorizadas como
Comportamento/Exemplos (Cpto/Ex) na definição
de conceitos abstratos foi marcante e já comentada.
No entanto, vale a pena analisar mais
detalhadamente quais conceitos foram relacionados
a cada um deles. No caso de mentira, a
contraposição à verdade foi uma constante, sem
outras relações conceituais. Para liberdade, a
relação feita foi com a situação de estar preso e
depois ser libertado. Uma participante deu
exemplos de comportamentos de liberdade: casar
com quem quiser, ir onde quiser. E para justiça, de
modo geral, os conceitos relacionados foram crime,
fazer algo errado, polícia e judiciário. Nas respostas
divergentes, justiça foi relacionada com denúncia e
perdão pelo crime. Isto é, o conceito justiça evoca
outros conceitos relacionados com casos que
envolvem a justiça, por exemplo, uma entrevistada
falou: “às vezes, ela não quis fazer a coisa errada e
queria ser perdoada pelo povo”.
A definição de conceitos abstratos não é uma
tarefa fácil, independentemente da presença ou não
da visão. Este tipo de definição envolve elementos
menos tangíveis e mais lingüísticos. A
exemplificação parece ter sido o caminho mais
fácil, mas nota-se, também, que, para os dois
primeiros conceitos, a contraposição de conceitos
(mentira/verdade, prisão/liberdade) foi amplamente
utilizada. Quanto à justiça, vários conceitos formam
essa rede relacional e muitos dos participantes
citaram exemplos reais ao falarem do assunto, em
sua maioria ouvidos na televisão.
Pode-se verificar que a televisão é uma
importante fonte de informações e aprendizagens.
Em vários momentos, entrevistados comentaram a
influência da TV em suas definições. Ainda que a
influência da televisão seja indiscutível, vale
lembrar que, sem um vidente para transmitir as
informações visuais, como nos programas de
“cinema falado” desenvolvido em algumas
instituições para deficientes visuais, os cegos
podem perder muitas informações importantes.
A discussão, até aqui, referiu-se à análise das
redes conceituais, ou seja, a partir do pressuposto de
Keil (1989) de que a compreensão de um conceito
só ocorre por meio dos outros conceitos que o
compõem, isto é, de sua rede relacional de
conceitos, buscou-se entender quais conceitos os
participantes se reportaram para definir/explicar o
conceito que estava sendo objeto de análise. Essa
reflexão ajuda a pensar sobre quais conceitos são
mais marcantes para o cego no processo de
aquisição de conhecimento. No entanto, é
importante também analisar as definições dos
participantes em função das categorias criadas, pois
elas permitem refletir sobre quais têm sido os
caminhos do ensino e da aprendizagem de conceitos
para crianças cegas.
Na Tabela 1, pode-se visualizar a incidência de
respostas por categoria nos cinco tipos de conceitos.
Para fins de análise, o número de respostas é
apresentado por tipo de conceito e não para cada
conceito isoladamente, porque acredita-se que a
característica comum entre eles – e que possibilita
formar o tipo – pode dar indícios sobre que
categoria aparece com maior ou menor freqüência e
de que forma podem ser feitas inferências sobre os
caminhos de aquisição do conhecimento utilizados
pela pessoa cega.
Tabela 1 Freqüência de respostas em cada categoria em função do tipo de conceito.
Tipos de conceitos
|
Categorias
|
Concretos
|
Abstratos
|
Total
|
Tateáveis
|
Não tateáveis
|
Amplamente manuseáveis
|
Restrição no
manuseio
|
Cognoscíveis pelos sentidos
|
Não cognoscíveis pelos sentidos do
cego
|
AFNT
|
2,7%
|
27,7%
|
33,4%
|
36,2%
|
|
100%
|
AFS
|
21,4%
|
21,4%
|
57,1%
|
|
|
100%
|
AFT
|
60,0%
|
27,5%
|
|
12,5%
|
|
100%
|
Co
|
|
26,7%
|
40,0%
|
33,3%
|
|
100%
|
Cpto/Ex
|
7,4%
|
9,2%
|
18,5%
|
|
64,9%
|
100%
|
Cx
|
|
5,3%
|
42,1%
|
47,3%
|
5,3%
|
100%
|
F
|
62,0%
|
31,0%
|
|
7,0%
|
|
100%
|
FAF
|
|
|
10,0%
|
90,0%
|
|
100%
|
I
|
|
|
100,0%
|
|
|
100%
|
Lo
|
|
|
12,5%
|
87,5%
|
|
100%
|
Si
|
20,0%
|
60,0%
|
|
20,0%
|
|
100%
|
Vi
|
14,3%
|
57,1%
|
28,6%
|
|
|
100%
|
|
|
|
|
|
|
100%
|
Total
|
21,7%
|
19,6%
|
22,8%
|
22,8%
|
13,0%
|
100%
|
Em análise, se, por um lado, a síntese de
informações por meio de agrupamentos facilita a
identificação das categorias mais utilizadas para
classificar as respostas dos participantes, por outro,
não permite verificar se houve uma distribuição
equivalente entre os conceitos utilizados ou se
apenas um ou dois conceitos apresentaram respostas
naquela categoria. Para resolver tal questão, é
destacada a distribuição de respostas por conceito
dentro do seu grupo, nos comentários da tabela,
sempre que for julgado necessário.
A análise estatística dos dados foi feita pela
estatística não paramétrica do Quiquadrado (c2),
adequada para situações em que se quer comprovar
se existe diferença significante entre o número
observado de respostas em determinadas categorias
e o respectivo número esperado, baseado na
hipótese da nulidade (Siegel, 1975). A análise em
apreço indicou que para g. l. = 12 e c2c = 32, 91, o
c2o = 147,42 excedeu em muito ao Quiquadrado
crítico, mostrando-se altamente significante
(p > 0,001). Tal resultado permite rejeitar a hipótese
da nulidade e aceitar, com altíssimo grau de
probabilidade, que as categorias criadas não se
distribuíram aleatoriamente.
De modo geral, as categorias mais utilizadas
para a definição de conceitos foram:
Comportamento/Exemplos (Cpto/Ex), com 55
respostas; Função (F), com 42; Atributos Físicos Tateáveis (AFT), com 40 e
Atributos Físicos Não Tateáveis (AFNT), com 36.
Essa alta freqüência de
respostas mostra quais aspectos foram mais
considerados pelos participantes. A exemplificação
de situações em que o conceito ocorre (Cpto/Ex) se
mostrou uma importante via de definição,
principalmente para os conceitos abstratos (35) e
para os conceitos concretos não tateáveis, mas
cognoscíveis pelos sentidos do cego (10). Isso
sugere que este valioso recurso de ensino de
conceitos a todas as crianças (e, também, para os
adultos), a contextualização do conceito e não a sua
referência de forma isolada, é especialmente
indicado no caso de crianças cegas. Ainda que este
procedimento possa parecer óbvio, Masini (1994)
constatou o uso de procedimentos pedagógicos
mecânicos cujas atividades se baseavam em
associações simples e descontextualizadas da forma
global de percepção do deficiente visual. O conceito
ensinado dessa forma tende a não ser apropriado
pelo aluno ou ser muito menos eficiente do que
quando há contextualização. Em consonância com a
visão teórica, que pressupõe a formação de uma
rede conceitual na elaboração de um conceito,
sugere-se que esta contextualização seja enfatizada
no ensino de conceitos. E não apenas para os cegos.
Como essa categoria (Cpto/Ex) ocorreu
prioritariamente em conceitos abstratos, é razoável
pensar que o caminho de que o cego se utiliza para
expressar conceitos abstratos – exemplos de
situações e comportamentos – deve ser também o
caminho de aquisição desses conceitos. Assim, essa
é também uma sugestão valiosa para educadores e
profissionais que convivem com a criança cega:
utilizar-se de comportamentos e exemplos no
ensino de conceitos abstratos para crianças cegas.
Os conceitos concretos estudados foram
subdivididos de forma a configurar um continuum
de possibilidades de apreensão direta pelo tato e por
outros sentidos. Os resultados mostram diferenças
na forma de definir cada grupo de conceitos. Tanto
Função (F) quanto Atributos Físicos Tateáveis
(AFT) foram amplamente utilizados, principalmente
para os conceitos tateáveis, sejam eles de fácil
manuseio ou não. Já Atributos Físicos Não
Tateáveis (AFNT) foram encontrados na definição
de conceitos tateáveis com pouca possibilidade de
manuseio e nos dois grupos de conceitos não
tateáveis – cognoscíveis ou não pelo cego.
Dessa forma, percebe-se que conceitos concretos
tateáveis, como bola e telefone, são definidos pelo
cego, principalmente, por sua utilidade e referências
físicas. A descrição física desse tipo de conceito
pelo cego seria esperada, uma vez que se refere a
exemplos de conceitos apreensíveis pelo tato. Mas,
a utilização da função é um dado que evidencia,
mais uma vez, a capacidade de abstração do cego,
mesmo para conceitos fáceis e diretamente
apreensíveis por um dos sentidos. Esse dado reflete
o quanto a formação de conceito pelo cego envolve
a abstração em todas as etapas da construção do
conceito, em qualquer tipo de conceito.
A categoria Atributos Físicos Não Tateáveis
(AFNT) foi amplamente utilizada para os conceitos
intermediários, ou seja, os concretos e tateáveis
(com pouca possibilidade de manuseio) e os não
tateáveis. Essa categoria implica em informações meramente visuais (cores, por exemplo) e descrições que não envolvem o tato e nem a
audição - uma vez que as informações sonoras
receberam uma categoria em separado: Atributos
Físicos Sonoros (AFS).
Nossa linguagem está profundamente
contaminada pela idéia de que ver corresponde a
conhecer. Isso também aparece na fala dos
participantes: quando questionado sobre como saber
se alguém está mentindo, Marcelo respondeu:
“Vendo”. Com freqüência, os cegos, assim como os
videntes, incorporam essa herança lingüística.
Quando uma criança cega diz algo assim, isto não
significa, necessariamente, que ela não tenha
clareza sobre o que é possível pela visão e o que
não é; muitas vezes, ela está meramente
reproduzindo uma forma de se utilizar o verbo
“ver”. Vale lembrar que nem todos os cegos
utilizam-se dessa “força de expressão”. Por
exemplo, Luciano, diante dessa mesma questão
sobre mentira, respondeu: “Ouvindo”.
Para esse tipo de conceito, a categoria Atributos
Físicos Não Tateáveis, referentes a cores ou
dimensões, seria a mais esperada. No entanto, o
local “céu” foi constantemente mencionado, o que
indica que essa informação é bastante valiosa para o
cego. Por que chamar a atenção para esse fato?
Porque sendo estes conceitos “visuais” –
apreensíveis diretamente apenas pela visão – nós,
videntes, não estamos naturalmente atentos para o
que é importante para crianças cegas. Assim, a
localização “céu”, ainda que não seja vivenciada
diretamente pelos cegos, mostrou-se uma
informação considerada importante por eles para
definição dos conceitos.
Um ponto importante a ser discutido é a
necessidade de contextualizar os conceitos. A
categoria Contextualização/Situação (Cx), embora
não tenha tido um grande número de respostas,
merece destaque pela participação que teve na
definição dos seguintes conceitos: vento, trovão,
nuvem e arco-íris. Ou seja, a importância de
contextualizar apareceu na conceituação dos
fenômenos naturais, o que leva a pensar que a
explicação do processo de formação desses
fenômenos pelo cego é, pelo menos, auxiliada por
esses aspectos.
No entanto, nem todos os participantes
apresentaram definições adequadas para esses tipos
de conceitos, pois, como para alguns conceitos a
apreensão direta é impossível pela falta da visão, a
aprendizagem desse tipo de conceito envolve,
necessariamente, o ensino por um vidente. Talvez
por isso, verificamos que alguns participantes
deram definições mais “intuitivas”, como se
juntassem todas as informações que já tiveram
sobre o assunto de forma pouco sistematizada.
Outros, em contraposição, apresentaram definições
científicas para os conceitos, como é o caso de
Sandra, que indicou a escola como a fonte dessas
aprendizagens mais sistemáticas, evidente nas suas
definições sobre vento (ventos quente e frio que
batem um no outro), trovão (nuvens que batem uma
na outra), nuvem (evaporação da água) e lua (como
satélite).
Além das categorias com alto número de
respostas anteriormente consideradas, é importante
discutir-se, também, outras duas categorias com um
número menor de respostas, mas qualitativamente
importantes. Trata-se de Comparação com outros
conceitos (Co) e Atributos Físicos Sonoros (AFS).
No que se refere à comparação, percebe-se ser essa
uma estratégia importante na definição de conceitos. Tal categoria foi exclusiva de três tipos
de conceitos concretos: tateáveis com pouca
possibilidade de manuseio e os dois tipos não
tateáveis. Isso dá indícios de que essa é uma forma
de aprendizagem, tal como exemplificado por
Cristina, que se refere ao arco-íris como uma faixa
redonda e se reporta à faixa de cabelo que está
usando. Embora seja impossível à criança cega
apreender diretamente o arco-íris, por sua
característica exclusivamente visual, parece que ela
pode entender o conceito e defini-lo, principalmente
se as analogias utilizadas para o ensino desses tipos
de conceito partirem daquilo que ela conhece e
pode experienciar diretamente. Este também é um
ponto significativo para o ensino de conceitos aos
cegos: não foi por acaso que esta forma de
definição de conceitos apareceu, justamente para
conceitos pouco apreensíveis pelo tato ou não
tateáveis. Assim, no tocante aos conceitos
teoricamente mais difíceis de serem compreendidos
pelo cego, em função de sua característica visual ou
de sua insubstancialidade, uma estratégia poderosa
de ensino é a comparação com aquilo que ele
conhece diretamente. Pois, para o ensino de um
conceito visual a comparação deve ser com aquilo
que é acessível ao cego por meio de sua vivência
perceptiva.
A categoria Atributos Físicos Sonoros (AFS)
englobou conceitos concretos tateáveis e não
tateáveis, mas cognoscíveis pelos sentidos do cego.
No que se refere aos conceitos concretos, essa
categoria apareceu principalmente nas definições de
telefone e de trem. E para os não tateáveis, mas
cognoscíveis pelos sentidos, nas de música e trovão.
A partir dessa constatação, é razoável afirmar que,
quando for a referência aos exemplos de conceitos
cujos sons são atributos destacados para sua
definição, este aspecto deve ser explorado, pois a
criança/pessoa cega presta muita atenção aos
estímulos sonoros.
Muitas vezes o participante respondia,
inicialmente, que não conhecia ou não sabia dizer o
que eram os conceitos, mas apresentavam
definições interessantes. Raras vezes, o participante
não conseguia realmente responder nada sobre o
conceito. Isso pode indicar uma baixa auto-estima
ou um não conhecimento dos próprios
conhecimentos, como aconteceu claramente com
Renata que disse não saber alguns conceitos, mas
depois respondeu corretamente muitas perguntas
sobre os mesmos.
Mas, e quando, de fato, o participante não soube
definir absolutamente nada do conceito ou
apresentou uma definição muito limitada? O
contato rápido com essas crianças e adolescentes
evidenciou suas capacidades intelectuais e a forma
como cada um aproveita as informações. Assim,
claro está que a causa do não conhecimento do
conceito deve-se ao fato de ninguém tê-lo ensinado.
Daí a pergunta: quantos conceitos eles estão
deixando de aprender por falta de oportunidades de
ensino? A escola, além de um direito, é um espaço
importantíssimo para a vida cognitiva do aluno.
Cristina e Sandra dão exemplos de conceitos
elaborados que elas afirmaram ter aprendido na
escola. Mas, Daniela comentou que, às vezes, fica
sem fazer nada na escola... Quantas aprendizagens
ela e todas as pessoas e crianças ao redor dela estão
deixando de adquirir por esse vazio educacional?
As pesquisas apresentadas sobre a educação dos
cegos mostraram o quanto a realidade educacional
brasileira é precária no ensino destes.
Os professores necessitam, urgentemente, de uma
melhor formação para conseguirem estabelecer uma
boa relação com os alunos; precisam ter acesso aos
materiais adaptados e ter condições físicas e
psicológicas para criarem as adaptações necessárias
ao ensino do aluno cego. No entanto, o problema
mais grave dessa falta de preparo do professor é a
baixa expectativa quanto ao desenvolvimento do
aluno cego, como mostrou Monte Alegre (2003). Se
o professor não acredita que seu aluno é capaz,
criando desta forma uma profecia auto-realizadora,
de que forma a escola pode ser um ambiente
facilitador para a aquisição de conceitos?
Nesse sentido, cabe reportar aos conceitos de
desvantagem, definido pela OMS, e à idéia de
deficiência secundária desenvolvida por Amaral
(1996), segundo os quais os prejuízos vivenciados
pelo cego não são decorrentes de limitações
intrínsecas à própria cegueira, mas ao
empobrecimento das relações sociais que, diante de
uma diferença, não conseguem ir além da
constatação da limitação, da falta, da falha.
Se as
condições educacionais não facilitam o
desenvolvimento cognitivo e, por conseqüência, o
desenvolvimento integral desse indivíduo, se ainda
reina no imaginário social a respeito das pessoas
com cegueira que elas são menos capazes, que estão
em constante desvantagem, que são merecedoras de
compaixão e não de oportunidades, então, de que
forma o indivíduo cego pode, de fato, vir a ser
cidadão dado que as condições básicas de seu
desenvolvimento ainda estão longe de serem
garantidas?
Assim como as pesquisas de Anderson e Olson
(1981) e Anderson (1984), o presente trabalho
permite concluir que a linguagem dos entrevistados
não é um mero reflexo do conhecimento dos
videntes a sua volta, mas representa de fato os
conceitos que formaram a partir de suas
experiências perceptivas e cognitivas. Os resultados
encontrados refletem a forma como os cegos têm
caminhado na construção de conceitos, mas de
forma alguma isso se encerra como a única
possibilidade. Se muitas informações foram
aprendidas pelos cegos porque alguém os ensinou, o
contrário também é verdadeiro: muitas informações
eles não têm pela falta de ensino e não pela falta de
capacidade advinda da cegueira.
Isso fica explícito nos conceitos que um ou mais
dos participantes definiram claramente, mas outros
não conseguiram, como lua, mentira, vento, etc.
Exemplos de definições divergentes como estas
mostram que o cego é capaz de apreender tal
conceito. Mas, e quando não há esse exemplo de
“melhor desenvolvimento”? Como é possível saber
quando algo se deve à educação e quando se deve à
limitação do desenvolvimento por falta da visão?
Não é possível negar as limitações inerentes à
cegueira, mas, para responder a essa pergunta, é
importante perceber que muitas das defasagens da
criança/pessoa cega devem-se muito mais à falta de
informações, do que à capacidade de processá-las.
É nesse sentido que Warren (1994) defende a
abordagem diferencial como a melhor forma de
pesquisar o desenvolvimento do cego, uma vez que
a capacidade de uma pessoa cega em realizar
determinada habilidade mostra que a ausência de tal
habilidade em outros cegos não está relacionada
com a cegueira em si, mas com as condições
propícias para aprendê-la.
Mas, como um educador vidente pode ensinar
um cego? Claro está que um vidente não tem como saber diretamente como se organiza o “mundo” do
cego, pelo fato de usar a visão como sentido
principal de suas ações. Porém, isso não impede que
pais, professores e profissionais possam ir além de
suas experiências como videntes, a fim de
perceberem que as possibilidades de aprendizagem
de uma criança ou adulto com deficiência visual são
tão grandes como a de qualquer ser humano, pois a
visão não é a única fonte de informação.
O aluno com deficiência visual deve ser
regularmente matriculado em uma escola comum e
receber, se necessário, o apoio de um professor
especializado, a fim de assegurar a satisfação das
suas necessidades. Ele necessita de materiais
adaptados adequados ao conhecimento tátilcinestésico,
auditivo, olfativo e gustativo – em
especial materiais gráficos tateáveis e o braile. A
adequação de materiais tem o objetivo de garantir o
acesso às mesmas informações que as outras
crianças recebem, para que a criança cega não
esteja em desvantagem em relação aos seus pares.
Nesse sentido, acredita-se que a importância de
um estudo como este está em orientar professores e
profissionais que lidam com a criança cega, para
que possam facilitar o desenvolvimento de
conceitos por ela.
O desenvolvimento do cego, assim como o do
vidente, é influenciado por inúmeros fatores de
ordem familiar, social, escolar, etc. Reconhecer a
cegueira como uma condição estruturante da
identidade da pessoa não significa admitir a
existência de apenas um caminho de
desenvolvimento pré-determinado pela presença da
cegueira. Condições educacionais, aceitação social,
respeito à diferença, superação de preconceitos,
tudo isso pode diversificar esses caminhos e
contribuir fortemente para o desenvolvimento da
pessoa cega. Assim, a eliminação de falsas
expectativas quanto às potencialidades cognitivas
dos cegos constitui um dos caminhos para seu pleno
desenvolvimento.
O instrumento utilizado mostrou-se adequado
para os propósitos desta pesquisa. As categorias
elaboradas, ainda que reflitam, como não poderia
deixar de ser, algum grau de subjetividade, parecem
sugestivas e poderão ser aproveitadas e/ou
reformuladas em outros estudos. Neste sentido, os
autores esperam que a publicação deste trabalho
estimule a realização de muitos outros com
amostras maiores e mais diversificadas.
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-
Vygotsky, L. S. (1997). Fundamentos de Defectología.
Obras Completas, Tomo cinco. Tradução em espanhol
do original russo organizado em 1983, a partir de obras
originais até 1934. (2ª re-impressão). Cuba: Editorial
Pueblo y Educación.
-
Warren, D. H. (1994). Blindness and children: an
individual differences approach. EUA: Cambridge
University Press.
NOTAS
-
1 Ver Vygotsky (1934/1997)
-
2 A desvantagem é aqui entendida tal como Amaral
(1996) a utiliza, ou seja, a partir do documento da
Organização Mundial da Saúde, publicado em português,
em 1989, o qual conceitua a desvantagem como um fenômeno referente às contingências preponderantemente
sociais, as chamadas especificidades sócio-econômicasculturais,
tais como sistema econômico, organização
política, crenças e valores, leituras e interpretações
sociais e, em conseqüência, a um conjunto de
ações/reações ao fenômeno deficiência e às pessoas que o
corporificam (p.9)
-
3 Sobre concepções de cegueira ver Lomônaco, Nunes e Sano
(2004).
-
4 As aspas são utilizadas pelo fato de todo conceito ser abstrato, pois trata-se de uma construção mental.
Entretanto, a diferenciação entre os conceitos é
necessária por marcar a diferença entre o tipo de
apreensão que o cego se utiliza.
-
5 Esta categoria pode ser considerada uma subcategoria de “Atributos Físicos Não-Tateáveis”, uma vez que atributos sonoros não são tateáveis. No entanto, devido à importância da audição e da linguagem para o cego,
julgou-se conveniente destacar esses atributos em uma categoria em separado.
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Dissertação apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia -
São Paulo, 2004 - 287 págs. Título:
Desenvolvimento de conceitos em cegos congênitos:
caminhos de aquisição do conhecimento Autora: Sylvia da Silveira Nunes
Orientador: Prof. Associado Fernando Bitencourt Lomônaco
texto integral do artigo:
Título: Desenvolvimento de conceitos em cegos congênitos:
caminhos de aquisição do conhecimento Autores:
Sylvia da Silveira Nunes - Professora da Faculdade Taboão da Serra e doutoranda do Programa de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo. e José Fernando Bitencourt Lomônaco - Professor Associado (Livre Docente) do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Membro Titular da Academia Paulista de Psicologia.
Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional - Vol. 12 - N.º 1 Janeiro/Junho 2008, pp119-138
Δ
16.Abril.2011
publicado
por
MJA
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