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Resumo
| Apresentamos neste artigo, uma ferramenta da Web 2.0 que se
encontra em larga
utilização em contexto educativo, em vários países, que a nível
educacionais poderá
trazer imensos benefícios quando utilizados com indivíduos
portadores de deficiências a
nível visual. Esta ferramenta é o podcast que possibilita o
acesso a informações, notícias,
entrevistas e até mesmo aulas através de episódios gravados em
formato áudio.
Começamos por discutir um pouco acerca da nova geração de
ferramentas da Internet e
seus potenciais educativos, em seguida apresentamos o podcast e
suas vantagens quando utilizados com pessoas com necessidades especiais.
⁂
Num mundo globalizado onde o tempo é cada vez mais escasso, o
podcast surge como uma tecnologia alternativa de apoio ao ensino tanto na
modalidade a distância como presencial. Permite ao professor disponibilizar materiais
didácticos como aulas, documentários e entrevistas em formato áudio que podem ser
ouvidos a qualquer hora e em diferentes espaços geográficos. A ideia inicial do
podcast
era permitir que os utilizadores distribuíssem seus próprios
episódios, mas o sistema está sendo usado cada
vez mais para outras finalidades, como transmissão de notícias e
entrevistas, informações bem como, incluindo propósitos educativos.
Podcast é uma
palavra que advêm do laço criado entre Ipod (aparelho produzido
pela Apple que reproduz mp3) e Broadcast (transmissão), podendo
ser definido como um episódio personalizado gravado nas
extensões mp3, ogg ou mp4, ou outros formatos digitais que
permitem armazenar músicas e arquivos de áudio num espaço
relativamente pequeno. Os Podcasts podem ser guardados no
computador e/ou disponibilizados na Internet e vinculados a um
arquivo de informação (feed) que permite que os utilizadores
assinem os programas, recebendo as informações sem precisar ir
ao site do produtor (Barros & Menta, 2007).
Associados ao conceito de podcast estão uma série de termos
específicos que é importante deixar claro. Nesse sentido,
entende-se por podcast uma página, site ou local onde os
ficheiros áudio estão disponibilizados para carregamento;
Podcasting é o ato de gravar ou divulgar os ficheiros na Web; e,
por fim, designa-se por Podcaster o indivíduo que produz,
ou seja, o autor que grava e desenvolve os ficheiros no formato
áudio (Bottentuit Junior & Coutinho, 2007).
Medeiros (2007) classifica os Podcasts em quatro modelos
diferentes: o modelo “metáfora”, o modelo “editado”, o modelo
“registo” e o modelo “educacional”.
O modelo “Metáfora” é assim classificado, pois possui
características semelhantes a um programa de rádio de uma
emissora convencional, com os elementos característicos de um
programa como: locutor/apresentador, blocos musicais, vinhetas,
notícias, entrevistas, etc. Medeiros (2007: p. 5)
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O modelo “Editado” surgiu como uma
alternativa para aqueles ouvintes que perderam a hora do seu
programa favorito, mas ainda desejam ouvi-lo. As emissoras
de rádio editam os programas que foram veiculados na
programação em tempo real, disponibilizando-o no seu site
para ser ouvidos à posterior pelo ouvinte “descuidado” como,
por exemplo, os arquivos sonoros disponibilizados por
emissoras de rádio como a BBC (idem, ibidem)
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O modelo “Registo” é também conhecido com
“audioblog”. Neste modelo o mais curioso é que possuem temas
diversos. É possível encontrar Podcasts com conteúdos que
vão dos mais específicos como notícias e comentários de
tecnologia Macintosh, sermões de padres, guias de turismo,
ou até mesmo “desabafos em um congestionamento”. (idem,
ibidem)
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O último modelo, cuja utilidade é mais
recente e associada a educação a distância, são os
“Educacionais”. Através desse modelo de podcast é possível
disponibilizar aulas, muitas vezes em forma de edições
continuadas, semelhantes aos antigos fascículos de cursos de
línguas que eram vendidos nas bancas de revistas (idem).
O fenómeno do podcast é recente, mas tem atingido índices
exponenciais de crescimento. Em 2005, podcast foi considerada “a palavra do ano”
pelo dicionário “New Oxford American Dictionary” e, em menos de seis meses de
existência, foram encontradas no Google mais de 4.940.000 referências para a
palavra podcasting. Estima-se que há mais de 6 milhões de
utilizadores do sistema no mundo (Rezende, 2007). Em
Fevereiro de 2004, a palavra apareceu no jornal inglês The
Guardian como um sinónimo para audioblog, ou seja, blogar com áudio em vez de blogar com
textos. No começo do ano de 2006, os concorrentes do iPod acrescentaram outro
significado para o termo podcast: personal on demand broadcast, que pode significar algo
como “transmissão pessoal sob encomenda” (Foschini & Taddei, 2006).
Mindlin (2005), afirma que as estimativas actuais indicam que 30
a 57 milhões de cidadãos nos Estados Unidos irão aceder e utilizar a tecnologia
podcasting até 2010.Segundo Chen (2007), a popularidade do
podcast explica-se pelos
seguintes factores:
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a) Permite que qualquer um com um microfone, computador e
conexão à internet,
publiquem arquivos áudio que podem ser acedido por outras
pessoas em qualquer
lugar do mundo;
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b) Os ficheiros do podcast podem ser automaticamente
descarregados (de um ou)
para um dispositivo móvel, e ser ouvidos quando e onde for mais
conveniente;
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c) O podcast é gratuito;
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d) Os utilizadores não precisam de pagar para descarregar os
ficheiros do podcast;
Convém salientar que o podcast não se limita à simples
utilização do Ipod ou do MP3 na educação. O que faz a diferença desta ferramenta
relativamente ao simples descarregar de ficheiros áudio da Internet, são o RSS bem como a
facilidade de criação e gravação de episódios directamente na
Web. Quando um utilizador subscreve o serviço
RSS é notificado via e-mail todas as vezes que a página do seu
podcast é actualizada o que faz com que o utilizador não precise consultar os Podcasts
diariamente, porém estando sempre a par das últimas novidades postadas pelos
professores/ autores do podcast.
De acordo com Foschini & Taddei (2006), esta nova forma de
comunicação está associada a uma mudança no padrão de comportamento dos
habitantes do mundo global em que vivemos: ouvir, na hora e lugares mais convenientes,
programas obtidos na variada programação que existe na rede global, seja tanto por
prazer (um programa de rádio, uma entrevista) ou necessidade (uma aula). O
podcast
possibilita escolher entre milhares de vozes que se manifestam em todo o mundo, que contam
histórias, trazem notícias, dizem piadas e que estão sempre à nossa espera, quase
sem custo e com a promessa de bons momentos.
1. Podcast para Deficientes Visuais
O
podcast possui uma série de atributos específicos, que podem
ser aproveitados por uma grande quantidade de pessoas que necessitam de formação,
mas que dispõem de pouco tempo para estudar e assistir aulas regulares. Essa
tecnologia poderá também ser muito útil para quem tenham alguma necessidade especial, como é
o caso da falta de visão. Segundo Camargo Filho & Bica (2008: sp) “a
impossibilidade de acesso ou utilização da tecnologia traz prejuízos consideráveis ao
indivíduo, limitando sua capacidade produtiva e mesmo sua cidadania”. Ou seja, os
ambientes devem ser acessíveis para que todo tipo de indivíduo com qualquer que seja
a sua limitação (visuais, auditivas, físicas, de fala, cognitivas, de linguagem, de
aprendizagem e neurológicas, etc).
A inclusão escolar é uma necessidade actualmente inquestionável.
Ela é um direito do deficiente visual, e um dever de toda sociedade. A
escola inclusiva tem sido concebida como a melhor alternativa, ou seja, onde o aluno com
deficiência visual deve estar em uma sala de aula comum (Mól, 2006). Nesta perspectiva,
o professor deverá criar actividades que propiciem o estímulo a capacidade
auditiva, como forma de integração deste aluno com os demais
estudantes, e o podcast poderá funcionar
perfeitamente para este tipo de actividade.
A nível educacional já existem alguns estudos realizados em
interacção com o podcast e que podem atestar os potenciais e educacionais desta
ferramenta com estudantes regulares (Sousa & Martins 2007, Castro, Lima &
Moraes, 2008, Miller &Stokes, 2009). Porém na literatura investigada, nada é referido
sobre experiências concretas na utilização do podcast com deficientes visuais. Este
é um campo ainda inexplorado e que carece de investigações, a fim de identificar
os benefícios que esta tecnologia poderá trazer aos invisuais, que tanto necessitam de
formas inovadoras de acesso a informação dado as suas limitações. Neste sentido,
apresentamos algumas vantagens de utilização do podcast para este público a
partir das considerações citadas por Bottentuit Junior & Coutinho (2007, 2008). Ou seja,
esta tecnologia poderá apresentar as seguintes características:
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a) Um interesse maior para aprendizagem dos conteúdos devido a
uma nova modalidade de ensino introduzida na sala de aula (para além das
aulas e recursos disponíveis através da utilização dos recursos em Braille
1);
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b) Um recurso que ajuda nos diferentes ritmos de aprendizagem
dos alunos visto que os mesmos podem escutar inúmeras vezes um mesmo episódio a
fim de melhor compreenderem o conteúdo abordado;
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c) A possibilidade da aprendizagem tanto dentro como fora da
escola;
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d) Se os alunos forem estimulados a gravar episódios aprendem
muito mais, pois terão maior preocupação em organizar um bom conteúdo e
disponibilizar o material correcto e coerente para os colegas;
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e) Falar e ouvir constitui uma actividade de aprendizagem muito
mais significativa do que a leitura em Braile. (Braille é um sistema de leitura com o tacto para cegos
inventado pelo francês Louis Braille).
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f) Criar uma programação personalizada e alternativa, que pode
ser interrompida por momentos e facilmente retomada sem nenhuma perda de conteúdo
(Amaral &Melo, 2006: p.50).
As estratégias de uso do podcast com deficientes visuais, poderá
ocorrer em múltiplas situações ficando a cargo do professor utilizar de
toda a sua criatividade para tirar partido deste recurso, que poderá garantir uma maior
participação e inclusão dos invisuais. Neste sentido, podemos indicar como estratégias:
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a) A gravação de histórias e narrativas de factos ocorridos na
vida destes alunos como forma de registo;
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b) A criação de uma programação de rádio com notícias variadas,
onde cada aluno ficaria responsável pela gravação de pequenos episódios;
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c) A criação de uma biblioteca digital de textos por parte dos
professores, em formato áudio, onde os alunos poderiam enriquecer seus
conhecimentos;
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d) A discussão ou feedback de textos e trabalhos realizados em
formato áudio, constituindo-se num fórum em formato digital.
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e) A gravação de entrevistas realizadas pelos alunos a outros
professores, escritores e investigadores, como forma de incentivo a pratica da
investigação;
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f) O intercâmbio entre Podcasts produzidos por alunos de salas
distintas, ou seja, cada turma ficaria responsável pela gravação de episódios que
seriam utilizados por outras turmas;
Como vimos neste tópico o podcast poderá converter-se numa
poderosa ferramenta no processo de inclusão dos invisuais no mundo das
tecnologias, dando-lhes espaço no mundo virtual. Como não há um modelo de ensino ideal
nem mesmo uma ferramenta que prometa resolver todos os problemas do ensino e
da aprendizagem humana, o podcast deve ser entendido como mais uma ferramenta
que pode ser utilizada em contexto pedagógico, que possui atributos específicos e
diferenciais que podem (e devem) ser combinados com outros métodos e com outras
ferramentas em prol da melhoria da aprendizagem. Um dos grandes
atributos do podcast é ser uma ferramenta simples que não exige grandes investimentos, bem como poderá
motivar os alunos tanto para a produção como consumo de informações. Estes episódios se
bem produzidos poderão converter a informação em conhecimento.
Considerações Finais
A utilização do podcast pode trazer enormes benefícios para a
educação de pessoas com necessidades especiais, fazendo com que cada vez
mais os alunos possam aprender independente do tempo (anytime) e do espaço (anywhere),
publicando com facilidade e rapidez todos os conteúdos que sabem e que desejam
compartilhar com os seus colegas reais e virtuais. Bem como uma forma inovadora de
receber ou produzir conhecimento.
O consumo de aparelhos que permitem a execução de ficheiros
áudio é cada vez maior e até mesmo alguns aparelhos de telemóveis já permitem o
armazenamento de arquivos áudio fazendo com que a adesão a esta modalidade de
ensino possa vir a ser cada vez maior e mais fácil. A miniaturização dos equipamentos
tem tornado estes leitores de formato áudio cada vez menores, mais baratos e com
capacidades de armazenamento extraordinárias, possibilitando o armazenamento de
um conjunto muito vasto de material áudio.
O ensino baseado nos recursos disponíveis na Web é uma forma de
renovar as práticas lectivas e que constitui um desafio tanto para os
alunos como para os professores. Não faz, pois sentido continuar a ignorar o
potencial educativo da Internet;pelo contrário teremos de ser todos quantos queremos mais e
melhor Educação a explorar
a diversidade de oportunidades que tem para oferecer e que
importa investigar.
FIM
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excerto de
Podcast: uma Ferramenta Tecnológica para auxílio ao Ensino de
Deficientes Visuais
(2009)
autores:
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João Batista Bottentuit Junior (Universidade do Minho – Braga -
Portugal)
-
Clara Pereira Coutinho (Universidade do Minho – Braga -
Portugal)
Investigação financiada pelo Centro de Investigação em Educação
– CIED da Universidade do Minho
in
8º Congresso LUSOCOM: Comunicação, Espaço Global e Lusofonia.
Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
p.2114-2126. 14 e 15 de Abril. ISBN978-972-8881-67-2
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