A agência de emprego para pessoas com deficiência Valor T, lançada a 1 de maio
do ano passado, já apresentou mais de 250 candidatos a empresas e tem uma
"carteira" de mais de mil pessoas registadas.
Precisamente um ano após o lançamento da Valor T a diretora do projeto, Vanda
Nunes, fez à Lusa um balanço dos primeiros 12 meses e traçou propostas para o
próximo ano, salientando sempre que mais do que os números o balanço positivo do
primeiro ano reflete-se no trabalho que foi feito com cada candidato a um
trabalho e com cada empresa.
A Valor T é um projeto da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML),
desenvolvido em pareceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional
(IEFP) e o Instituto Nacional para a Reabilitação (INR), que se assume como um
centro de emprego exclusivo na procura de ofertas de trabalho para pessoas com
deficiência, avaliando as competências e as características de cada candidato
para encontrar o trabalho que melhor se lhe adapte.
Qualquer pessoa com deficiência, seja ela motora, intelectual, visual ou
auditiva, e com interesse em tentar encontrar emprego através da Valor T deve
aceder à plataforma (www.valort.scml.pt) e
inscrever-se.
Neste último ano os números refletem o que está a ser feito, como mais de seis
mil emails trocados com candidatos a emprego e outras tantas mensagens, ou mais
de cinco mil chamadas telefónicas. Mas os números são redutores, diz a
responsável.
O que diferencia o Valor T é "o contributo, para mostrar o que é possível fazer
desde que haja um modelo de trabalho focado na capacidade e não na
incapacidade", com candidatos e empresas "a contribuírem para que o trabalho
digno seja mesmo para todos", afirma, concluindo que o trabalho do projeto deve
ser avaliado pelas oportunidades que cria.
Com apenas um ano a Valor T, diz Vanda Nunes, teve como primeira prioridade
conhecer as pessoas, relacionar-se com elas, acompanhá-las, avaliar o que sabem
fazer, mas também o que querem fazer, mas também os sonhos e os medos.
"Trabalhamos com cada pessoa e empresa com todo o tempo, o T é de talento, mas
também de tempo", afirma a responsável, de acordo com a qual há já mais de 150
empresas registadas na Valor T, ainda que várias delas ainda sem condições para
iniciar a contratação de pessoas com deficiência.
O ano que agora chega ao fim, resume Vanda Nunes, foi o ano de "lançar as
sementes", primeiro de ouvir empresas e associações, depois apresentar a
plataforma, "acessível a todas as áreas da deficiência", depois receber
candidatos a emprego, depois fazer entrevistas (mais de 800) de forma remota,
nomeadamente devido à pandemia de covid-19. "Mas a pandemia não nos fez baixar
os braços, pelo contrário", afirmou.
Com as tais "sementes" lançadas, com candidatos apresentados a empresas e com
alguns já a trabalhar, especialmente nos grandes centros urbanos, "o próximo
desafio é dar continuidade a este trabalho, pessoa a pessoa" e chegar a todo o
país.
Ao fim de um ano, 41% dos candidatos da Valor T são da área da Grande Lisboa,
18% do Porto, seguindo-se Setúbal e Braga. Ainda que em todos os distritos haja
candidatos a emprego é preciso consolidar essa rede do resto do país, afirma
Vanda Nunes.
Segundo Vanda Nunes, 40% dos candidatos são pessoas com uma deficiência motora,
seguindo-se 18% com deficiência cognitiva, e depois deficiência visual. Cerca de
60% são homens e a média de idades ronda os 35 anos. E se há uma "faixa de
candidatos jovens muito considerável" há também pessoas desempregadas de muito
longa duração.
É para eles que a equipa de Vanda Nunes trabalha, há um ano, eram sete pessoas e
agora são 18, entre psicólogos, juristas, da rede colaborativa da própria SCML,
da área social, da área da economia para lidar com as empresas.
A lei 4/2019 estabelece um sistema de quotas de emprego para pessoas com
deficiência, com um grau de incapacidade igual ou superior a 60%. Segundo a lei
empresas médias devem admitir 01% de trabalhadores com deficiência e as grandes
02%. Para as grandes a lei aplica-se já no próximo ano (01 de fevereiro) e para
as empresas com até 100 trabalhadores em 2024.
Vanda Nunes diz no entanto que muitas das empresas que estão a trabalhar com a
Valor T não o fazem por causa da lei das quotas.
Das palavras de Vanda Nunes percebe-se que trabalhar com pessoas com deficiência
é bom para as empresas, mas também para os restantes trabalhadores.
E dá um exemplo. "Estar a trabalhar com um colega que saiu de casa de cadeira de
rodas faz-nos pensar duas vezes quando nos preocupamos com as nossas pequenas
coisas".
O objetivo central deste
Programa .... visa que cada vez mais praias portuguesas
passem a assegurar condições de acessibilidade e de
serviços que viabilizem a sua utilização e desfrute, com
equidade, dignidade, segurança, conforto, independência
e a maior autonomia possível, por todas as pessoas que
as desejem visitar, independentemente da sua idade e de
possíveis dificuldades de locomoção ou outras
incapacidades que, transitória ou permanentemente,
condicionem a sua mobilidade.
Os requisitos de cumprimento obrigatório que determinam
a atribuição da classificação de "acessível" a uma zona
balnear, permitindo o hastear do respetivo galardão, são
os seguintes:
Acesso pedonal fácil
e livre de obstáculos, a partir da via pública
envolvente, até uma entrada acessível da zona
balnear;
Estacionamento
ordenado e com lugares reservados para viaturas ao
serviço das pessoas com deficiência condicionadas na
sua mobilidade, portadoras de cartão de
estacionamento, localizados o mais próximo possível
dessa entrada e ligados até ela por um percurso
pedonal sem quaisquer barreiras;
Rede de percursos
pedonais acessíveis na praia, totalmente livre de
obstáculos e de interrupções, que se iniciará nessa
entrada acessível e incluirá passadeiras no areal,
sempre que este exista, e, nos restantes casos, um
percurso pavimentado, firme, estável e contínuo.
Caso existam desníveis, os degraus terão de ser
complementados por rampas suaves com corrimãos e/ou
meios mecânicos de elevação acessíveis a pessoas com
mobilidade condicionada (ascensores ou plataformas
elevatórias). Esta rede de percursos acessíveis
conduzirá necessariamente: à Zona de banhos de sol e
sombras (chapéus de sol, toldos, colmos, barracas),
e o mais próximo possível da água; e a Instalações
sanitárias e um Posto de primeiros socorros
adaptados às necessidades das pessoas com mobilidade
reduzida.
Presença de
Nadador-salvador;
Informação ao público
à entrada da praia e na página eletrónica do
município, detalhando as condições de acessibilidade
e os serviços de apoio disponibilizados às pessoas
com mobilidade condicionada.
Indicam-se alguns exemplos de outras boas práticas que,
embora não sendo de cumprimento obrigatório, melhoram
inquestionavelmente as condições de desfrute das praias
por estas pessoas, pelo que são recomendadas numa
perspetiva de melhoria contínua do Programa:
Equipamentos anfíbios
para o banho e/ou o passeio na praia de pessoas com
mobilidade reduzida (cadeiras de rodas, andarilhos,
canadianas, etc.);
Vestiários, duches,
bebedouros e lava-pés acessíveis a todos;
Espaços de
acolhimento e apoio, com sombra, reservados a
pessoas com mobilidade condicionada e a pessoas com
cães de assistência;
Acolhimento
personalizado e orientação de pessoas com
deficiência visual;
Bares de praia,
restaurantes e lojas acessíveis a todos;
Atividades lúdicas e
pedagógicas acessíveis e inclusivas;
Informação ao público
em formatos alternativos, incluindo os acessíveis a
cegos;
Código de cores para
daltónicos "ColorAdd" em bandeiras indicadoras do
estado do mar e em contentores para recolha seletiva
de resíduos;
Mapas táteis da
praia, com indicações em Braille, à entrada da zona
balnear;
Sistemas para
encaminhamento e acesso ao banho com autonomia de
pessoas cegas e para emissão de alertas de segurança
de pessoas surdas.
A peça “Ilhas” subiu ao palco este domingo, 23 de janeiro, e teve a
particularidade de ser também destinada a invisuais. Munidas de um auricular,
Joana, Maria e Carla, ouviram a audiodescrição que lhes permitiu “ver com
palavras” um espetáculo no Teatro D. Maria II.
A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Santa Casa da Misericórdia de
Lisboa e o Teatro D. Maria II, no âmbito de um projeto de acessibilidade, que
tem como intuito possibilitar o acesso universal ao edifício, à programação e a
outras iniciativas desenvolvidas ao longo da temporada. O objetivo é que ninguém
deixe de ir ao teatro, seja qual a for a condição que possua.
Foi com natural entusiasmo, curiosidade e alguma ansiedade que Joana, Maria e
Carla, utentes do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos (CRNSA),
equipamento da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa – se preparavam para
assistir à peça “Ilhas”, no Teatro D. Maria II, este domingo. Uma peça que
traduz as imagens em palavras…
As pessoas cegas ou com baixa-visão que vão assistir à peça têm a possibilidade
de entrar mais cedo, fazer um reconhecimento prévio do espaço, conhecer os
atores e, depois, no espetáculo, com um auricular, ouvir a tradutora que fará a
audiodescrição. O objetivo é descrever todos os movimentos, ações e todos os
elementos de cenário. Como descrever um sorriso, uma careta, uma cara triste,
uma expressão de surpresa ou de irritação, ou um movimento de dança para pessoas
com deficiência visual? Este é um dos desafios da audiodescrição. Transformar o
teatro numa experiência completa para quem não vê.
Os testemunhos
Joana Ribeiro, 27 anos, de Lisboa, não esconde a sua ansiedade e emoção. É a
primeira vez que irá assistir ao teatro com recurso à audiodescrição. No átrio
que antecede a sala Garrett, Joana conta que parece um sonho tornado realidade.
Com apenas 5% de visão, a jovem utente do CRNSA faz teatro amador na SMUP, na
Parede, e está bastante nervosa com o facto de assistir a esta peça de teatro.
“Já era tempo da verdadeira inclusão. Nós estamos muito limitados, e esta
iniciativa é uma oportunidade na igualdade de direitos”, diz sem rodeios. A sua
mãe, Maria Ribeiro, destaca a “oportunidade” da iniciativa e a “diferença” que
um espetáculo acessível pode fazer na vida de um cego ou com baixa-visão.
Já Maria Serra, 21 anos, tem cegueira congénita, mas uma vontade enorme de
conhecer o mundo que a rodeia. A utente do CRNSA, é repetente nestas andanças.
Já assistiu ao espetáculo “A Bela e o Monstro”, e ficou fã. “A audiodescrição
‘permite-me’ ver o mundo”, diz a jovem estudante no 12º ano. Maria e Sofia, a
sua mãe, enaltecem as vantagens deste recurso e destacam a importância deste
projeto para a igualdade de direitos e para a inclusão dos que, infelizmente,
têm uma limitação. Através das palavras, “eu já consigo ´ver´ e perceber uma
história”, diz sorridente.
Por outro lado, Carla Carvalho, 47 anos, escriturária, foi diagnosticada com
baixa-visão há cerca de dois anos e meio. O céu caiu-lhe em cima, mas
reergueu-se com a ajuda do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos. Na
sua estreia num espetáculo com recurso a audiodescrição, a escriturária não
esconde a sua curiosidade e espectativa. “Esta iniciativa é importante e
sensibiliza para a problemática da inclusão”, defende Carla.
Respeito e valorização
O sentimento é geral entre as utentes. Sentem-se respeitadas e valorizadas, pois
podem frequentar o teatro, compreender melhor os mais variados temas e conhecer
várias obras, o que acaba encantando pessoas dos mais diversos públicos, com e
sem deficiência visual.
Isabel Pargana, diretora do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos,
defende “a participação em experiências diversificadas, de âmbito cultural,
recreativo, desportivo ou outro, que promovam um maior sentimento de pertença e
de inclusão na sociedade e que sejam suficientemente desafiadoras para um
crescimento pessoal e social”. A responsável pelo CRNSA afirma que “assegurar a
audiodescrição numa peça de teatro é, sem dúvida, abrir a porta da cultura a
novos públicos e contribuir para a igualdade de oportunidades, nomeadamente
através da eliminação de barreiras de comunicação, tornando acessível, através
de linguagem verbal, a informação que é, muitas vezes, apropriada visualmente”.
Cláudia Belchior, presidente do Conselho de Administração do Teatro Nacional D.
Maria II, sublinha que “o teatro, e mais ainda uma casa com missão de serviço
público como o Teatro Nacional D. Maria II, é um espaço para todos. Tendo isto
em mente, só faz sentido pensar a nossa programação de uma forma integrada,
envolvendo todos os públicos. A audiodescrição é, por isso, uma ferramenta muito
importante e que tentamos disponibilizar em cada vez mais sessões dos nossos
espetáculos, permitindo que o público cego ou com algum tipo de deficiência
visual possa deslocar-se ao Teatro, em total igualdade de oportunidades, e
usufruir de uma experiência única.”
A responsável pelo Teatro D. Maria II defende que “a parceria com a Santa Casa é
de extrema importância para o Teatro Nacional D. Maria II, uma vez que nos ajuda
a prosseguir a nossa missão de sermos um Teatro mais democrático, inclusivo e
acessível a todas e a todos.” E continua: “A Misericórdia de Lisboa tem estado
ao lado do Teatro Nacional D. Maria II desde há três anos em duas vertentes. Por
um lado, no envolvimento de públicos jovens, seniores e colaboradores da Santa
Casa em atividades artísticas, como espetadores ou num âmbito formativo. Por
outro, como patrocinador para a Acessibilidade, criando condições para que todos
os públicos com necessidades específicas possam aceder ao edifício, à
programação e às atividades do Teatro. Um dos grandes objetivos é continuar a
trabalhar para que a nossa oferta para públicos com outras necessidades
específicas seja cada vez mais alargada, sendo disso exemplo as sessões com
Interpretação em Língua Gestual Portuguesa, Audiodescrição e as Sessões
Descontraídas.
O teatro é um lugar de todos e para todos
Esta é uma prioridade do D. Maria II e da Santa Casa. Porque o teatro só se faz
com todos, são já acessíveis a pessoas com mobilidade condicionada todos os
espaços do edifício, uma conquista alcançada com o apoio da Santa Casa da
Misericórdia de Lisboa, patrocinador do D. Maria II para a área da
acessibilidade.
Os autotestes à covid-19 não são acessíveis para pessoas cegas ou com baixa
visão. A alternativa é recorrer a uma farmácia ou pedir ajuda, porque fazerem o
teste sozinhos não é uma opção. A solução não teria de passar por criar um
autoteste novo – isso “não se justifica”, diz a presidente da Associação de
Apoio e Informação a Cegos e Amblíopes. No entanto, “seria importante” fazer uma
adaptação para que o resultado fosse detetado por outro sentido que não a visão,
sugere o presidente da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal.
Sempre que Teresa Ribeiro e Rodrigo Santos
precisam de fazer um teste à covid-19 deslocam-se a uma farmácia ou a um
laboratório. Normalmente, os profissionais estão sensibilizados e “ajudam-nos
muito”, diz Teresa. Mas, por vezes, debatem-se com “a dificuldade genérica de
lidar com uma pessoa com deficiência visual enquanto cliente”, conta Rodrigo:
“transmitem informações do género ‘sente-se ali’, sem especificar onde é o
‘ali’”.
Enquanto centenas de portugueses fazem
diariamente autotestes à covid-19 em casa, as pessoas com deficiência visual não
têm a mesma facilidade. Em Portugal, os últimos dados disponíveis – referentes
ao Censos 2011 – davam conta de 900 mil pessoas com dificuldades em ver, entre
as quais 28 mil com cegueira.
Teresa Vaz é presidente da Associação de Apoio e
Informação a Cegos e Amblíopes (AAICA) e explica que, da mesma forma que não
consegue fazer um teste de gravidez, também não consegue fazer um autoteste à
covid-19. Quando o faz em casa é com a ajuda de um familiar ou então com uma
aplicação que se chama Be My Eyes. No
entanto, como tem dificuldade em colocar a zaragatoa no nariz, prefere ir a uma
farmácia. Fazer um autoteste sozinha não é, de todo, uma opção: “Se fechar os
olhos, o que é que vê? Nada. É isso que eu vejo!”.
A forma de ultrapassarem esta dificuldade é igual
a muitas outras: recorrem a pessoas que veem. Rodrigo Santos, presidente da
Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), explica que uma das
hipóteses é “recorrer a familiares, vizinhos, amigos” ou usar plataformas como o
Be My Eyes: “permite encontrar voluntários que, através de um smartphone,
descrevem à pessoa cega o que está a ser captado pela sua câmara”. Há ainda quem
recorra a “assistentes pessoais, no âmbito dos centros de apoio à vida
independente” e a ACAPO também disponibiliza ajuda em algumas delegações do
país: “encontramos alguém que possa ajudar a pessoa com deficiência visual a
realizar o teste”.
Apesar das dificuldades que as pessoas com
deficiência visual encontram, não é motivo para não conseguirem ser testadas,
diz Teresa Vaz. “No século XXI, todos fazemos testes se quisermos, tem a ver com
a atitude da pessoa. Se temos mobilidade para sairmos, e se vamos à farmácia
comprar medicamentos e gotas para os olhos, também podemos ir fazer um teste”,
afirma.
Rodrigo Santos também não tem conhecimento de
pessoas cegas ou com baixa visão que não façam testes com tanta regularidade por
causa dos obstáculos. Até porque a testagem nas farmácias contribui para que as
pessoas, na dúvida, prefiram fazer o teste lá, tendo garantia de que vai ser bem
feito e o resultado fidedigno, adianta.
“Não se justifica” criar um teste novo, mas adaptação
“seria importante” “Se pedirmos ajuda a alguém na farmácia, é
suficiente”. Por isso, a presidente da AAICA acha que “não se justifica” criar
um autoteste à covid-19 especificamente para pessoas com deficiência visual. “É
preciso facilitar, em vez de complicar”, simplifica Teresa Vaz.
Já Rodrigo Santos, da ACAPO, diz que tudo o que pudesse melhorar a
acessibilidade e a autonomia na realização dos testes “seria importante”. Isso
não significa criar um novo teste, mas fazer uma adaptação. “O teste rápido que
dá o resultado através de coloração poderia, por exemplo, despoletar outro tipo
de reação que pudesse ser percecionada por um sentido que não a visão – um som
ou um aumento de temperatura do recipiente”, sugere.
Por outro lado, também importa explicar como funcionam os testes rápidos,
continua o presidente da associação. “Se é fácil para alguém que vê regularmente
imagens na televisão sobre como se realizam os testes, imagens que também podem
ser vistas nas ilustrações das próprias embalagens, a verdade é que muitas
pessoas com deficiência visual nem fazem ideia nenhuma em que consiste um teste
rápido, apenas se associa à existência de uma espécie de cotonete, não sendo
habitualmente explicado de forma verbal como se faz a recolha, a análise e como
se apura o resultado”, conclui.
Novo serviço já estará
disponível na receção ao Marítimo
O FC Porto vai estrear uma série de
funcionalidades no apoio ao adepto com deficiência. A partir deste domingo, dia
em que os azuis e brancos recebem o Marítimo em mais uma jornada do campeonato,
os adeptos com deficiência poderão beneficiar de um acompanhamento personalizado
nas bancadas Norte e Sul do Estádio do Dragão.
No âmbito da parceria estabelecida entre o FC Porto e a Semente - associação sem
fins lucrativos com o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social
formada por colaboradores da LIPOR e respetivos familiares - celebrou-se um
protocolo que promove diversas atividades de voluntariado em dias de jogo no
Estádio do Dragão.
Tendo como meta melhorar o acesso e promover a inclusão das pessoas com
deficiência no anfiteatro portista, realizou-se uma formação no Auditório do
Museu do FC Porto para que todos os voluntários ficassem a par da visão
estratégica e dos objetivos da iniciativa inovadora potenciada pelos Dragões.
ACAPO volta a apresentar queixa
por discriminação no acesso ao voto antecipado
Estela Silva / LUSA | 17 jan 2022
A Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal queixou-se ao MAI sobre a
discriminação nas condições de acesso ao voto antecipado. É uma "violação dos
mais elementares direitos humanos", sublinhou.
A Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal
(ACAPO) voltou a queixar-se à Secretaria-Geral do Ministério da Administração
Interna (SGMAI) sobre discriminação nas condições de acesso ao voto antecipado,
repetindo-se críticas e problemas de atos eleitorais anteriores.
De acordo com um comunicado esta segunda-feira
divulgado pela ACAPO, as pessoas com deficiência visual “estão impedidas de
solicitar, pela Internet e das mesmas formas que qualquer outro cidadão, o seu
voto antecipado”, pelo que volta a apresentar queixa por discriminação por
razões semelhantes às que motivaram uma participação contra a SGMAI nas
autárquicas do ano anterior.
No comunicado, a associação recorda problemas em
atos eleitorais anteriores, nomeadamente nas eleições autárquicas de setembro de
2021, denunciando barreiras que impossibilitavam os cidadãos cegos e com baixa
visão de requerer online o voto antecipado ou consultar o seu local de
recenseamento, sendo-lhes solicitado um código de segurança presente numa imagem
que não conseguiam ler sem ajuda.
“As pessoas com deficiência visual estão, pois,
impedidas de solicitar, pela Internet e das mesmas formas que qualquer outro
cidadão, o seu voto antecipado porque, apesar de saber deste problema há mais de
um ano, o Estado português nada fez nesta matéria, que permanece assim desde
2019″, denuncia a ACAPO, acusando o Estado português de violação dos direitos
humanos ao não respeitar convenções internacionais ratificadas, nas quais se
prevê voto e acesso a meios digitais em igualdade para todos os cidadãos.
Se a questão da consulta do recenseamento
eleitoral acabou por ter solução ainda antes das últimas autárquicas, na do voto
antecipado nas legislativas do final do mês o problema agrava-se, diz a ACAPO.
“Quatro meses depois, eis que novas eleições
voltam a revelar uma vez mais a manutenção desta barreira no sítio web do pedido
de voto antecipado. Uma barreira que é ainda mais grave, porque só existem duas
formas alternativas de pedir o voto antecipado: por correio, ou através de
autenticação com chave móvel digital ou cartão de cidadão. É uma barreira ainda
mais grave porque este processo tem um tempo muito curto para ser realizado por
qualquer cidadão”, critica a ACAPO, em comunicado.
Perante o que considera ser “a discriminação das
pessoas com deficiência” e uma “violação dos seus mais elementares direitos
humanos em condições de igualdade”, a ACAPO apresentou queixa contra a SGMAI.
“Não deixaremos de exigir responsabilidades a
quem as tem, para que esta violação de um dos direitos mais relevantes de um
estado democrático não fique impune. Independentemente da resolução que venha a
ser dada a este problema, queremos que fique registada, e que seja devidamente
sancionada, esta inadmissível discriminação das pessoas com deficiência visual,
que não precisava, e não devia existir”, afirma a associação em comunicado.
A exigência de responsabilidades decorrerá “seja
em que instâncias for, porque a cidadania é mais do que boas intenções ou
palavras, é ação e respeito pela lei e pelos direitos humanos”, acrescenta a
associação.
No comunicado, a ACAPO apela ainda aos seus
associados que queiram requerer o voto antecipado, que o façam “dirigindo uma
carta, com o seu nome, número de identificação civil, morada e município onde
pretendem votar antecipadamente em mobilidade, para a SGMAI, mas enviando essa
carta em Braille”.
“É nosso direito correspondermo-nos em Braille
com as entidades públicas, direito que devemos fazer valer”, conclui o
comunicado assinado pelo presidente da direção nacional da ACAPO, Rodrigo
Santos.
Lucas Tchata, o professor dos
deficientes visuais do Cuando Cubango
DW.COM | 11.01.2022
Autoria Adolfo Guerra (Menongue)
Na província angolana do Cuando Cubango, um
professor dedica-se a ensinar braile e outros conteúdos aos deficientes visuais
em Menongue. Lucas Tchata perdeu a visão em 1984, mas não desistiu dos estudos.
Segundo o censo geral da população e habitação
realizado em 2014, Angola tem mais de 650.000 portadores de deficiência, o que
representa 2,5% da população. Destes, 58.921 são deficientes visuais.
Na China, produzir audiolivros exige muito tempo e dinheiro, por isso, as
pessoas com deficiência visual acabam carecendo de textos necessários, seja para
educação, trabalho ou diversão. Por esse motivo, a instituição sem fins
lucrativos Hongdandan Visually Impaired Service Center usou o Custom Neural
Voice, uma nova funcionalidade de conversão de texto em fala dos Serviços
Cognitivos do Microsoft Azure, e a plataforma Audio Content Creation para criar
rapidamente audiolivros de alta qualidade com o uso de IA. [...]
Criação mais rápida de audiolivros
Um audiolivro convencional, que é lido por um voluntário ou locutor, pode
levar semanas, ou até meses, para ser produzido. A Hongdandan queria acelerar o
processo e aproveitar que a IA pode fazer exatamente isso.
A plataforma Audio Content Creation disponibiliza vozes previamente produzidas
com o uso de IA. Usando a tecnologia TTS, essas vozes leem qualquer texto com
muito mais naturalidade do que as tecnologias anteriores. A Microsoft oferece
mais de 140 vozes neurais pré-produzidas em mais de 60 idiomas para clientes que
desejam adicionar rapidamente funcionalidades de leitura ou dar voz a um
chatbot. Essa tecnologia de conversão de texto em fala neural (NTTS) é capaz de
converter texto em um audiolivro digital em questão de minutos.
Voluntários da Hongdandan e da Microsoft foram treinados para usar a plataforma
Audio Content Creation, que não exige programação ou experiência técnica. Os
voluntários podem ouvir gravações para sintonizar a pronúncia, o tom e muito
mais, para personalizá-las conforme o estilo e o significado dos livros.
Personalização da experiência do audiolivro
A Hongdandan deu um passo além com a criação de duas vozes personalizadas
e marcadas para os audiolivros que produz. Dong doou a própria voz para um
deles. “Fiquei impressionada com a clareza com que ele captura as
características da minha voz”, surpreende-se ela.
O processo é simples e leva uma fração do tempo que outros programas de TTS
exigem. Primeiro, Dong gravou a leitura de quase 500 frases. Em seguida, o
Custom Neural Voice usou esses dados da fala para treinar a voz sintética
“Lina”, que soa natural, como se uma pessoa real estivesse falando. Quando o
modelo de voz sintética é treinado e disponibilizado para converter texto em
fala, os usuários conseguem ajustar ainda mais o áudio de várias maneiras, como
entonação, volume e pronúncia.
Com esse processo simples, sem uso de código, os usuários não precisam de uma
extensa tecnologia nem conhecimento de ciências da computação. Eles conseguem
criar rapidamente vozes realistas e humanas com apenas um décimo dos dados que
as tecnologias anteriores exigiam. “Ficamos surpresos com a rapidez com que a
Microsoft conseguiu reproduzir a voz de Lina de forma tão natural com seus dados
de fala e nos permitiu criar audiolivros educacionais com muito mais rapidez”,
Zeng relata.
A resolução seguinte, pela qual fica proclamado o Dia Mundial do Braille - 04 de
Janeiro -, foi aprovada em Novembro de 2000 na V Assembleia Geral da União
Mundial de Cegos realizada em Melbourne, na Austrália.
CONSIDERANDO QUE: o braille tem se revelado um
meio eficaz de comunicação para os cegos, os
surdo-cegos e para os deficientes visuais desde
1929, ano em que foi inventado em Paris (França)
por Louis Braille;
CONSIDERANDO QUE: o braille é equivalente às
letras comuns impressas;
CONSIDERANDO QUE: o braille é um sistema de
leitura e escrita eficaz para os cegos, os
surdocegos e os deficientes visuais;
CONSIDERANDO QUE: o braille é um elemento
básico para a alfabetização, a independência e a
consecução de um emprego;
CONSIDERANDO QUE: o braille significa para os
cegos, os surdocegos e os deficientes visuais a
possibilidade de usufruir de liberdade intelectual,
segurança pessoal e igualdade de oportunidades;
CONSIDERANDO QUE: saber ler e escrever em
braille é essencial para o desenvolvimento pessoal
no meio social e económico,
A V Assembléia Geral da União Mundial de Cegos, celebrada na cidade de
Melbourne, Austrália determina:
CONSIDERANDO QUE: a União Mundial de Cegos vem
promovendo a alfabetização em braille em todo o mundo como direito humano
fundamental para todos os cegos, os surdocegos e os deficientes visuais;
CONSIDERANDO QUE: a União Mundial de Cegos apoia
firmemente a alfabetização em braille como ferramenta para garantir que as
pessoas cegas, surdocegas e deficientes visuais tenham acesso à igualdade e à
liberdade universais e a convicção de que podem tomar parte no futuro vibrante
do mundo, no campo social, político e econômico.
QUE o dia 04 de Janeiro, data de nascimento de Louis Braille, seja declarado
como Dia Mundial do Braille.
AINDA se resolve que a União Mundial de Cegos exorte a
Organização das Nações Unidas a aprovar e declarar o dia 04 de Janeiro como "Dia
Mundial do Braille". (nota: O que veio a acontecer em 2018)
Já existe um manual de primeiros socorros em braille que pretende proporcionar
às pessoas cegas e com baixa visão conhecimentos e competências básicos na área
da atuação de primeira linha em situações de emergência. Foi lançado pelos
Bombeiros Voluntários de Viana do Castelo em parceria com a Associação Íris
Inclusiva e tem o apoio da Câmara local.
Em comunicado, a Íris Inclusiva salienta que o livro está escrito com grafia
dupla (em braille e a negro), para que as pessoas sem dificuldades visuais
também o possam ler.
“O seu conteúdo releva da partilha de necessidades e experiências ao longo de
vários momentos formativos de encontro entre profissionais e pessoas cegas e com
baixa visão e seus familiares, resultando numa síntese simples, clara e
acessível, que pode ser utilizada por qualquer cidadão”, salienta a associação.
Explica a Íris Inclusiva que o braille é uma ferramenta essencial no contexto da
educação, liberdade de expressão e opinião, bem como de acesso à informação e
comunicação escrita.
“A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
reconhece a importância fulcral deste sistema de comunicação para a inclusão
social das pessoas cegas, para a plena realização dos seus direitos e para o
exercício completo da cidadania”, finaliza o comunicado.
Celebrado anualmente em 04 de janeiro, o Dia Mundial do Braille reforça a
importância da alfabetização de pessoas cegas ou com baixa visão. O Sistema
Braille nasceu na França, em 1825 e a linguagem foi criada por Louis Braille que
perdeu a visão aos três anos de idade. Anos após o ocorrido, ele desenvolveu um
alfabeto que possibilita a escrita e leitura, através da combinação de 1 a 6
pontos entre si.
Até hoje, o Sistema Braille é a única forma de alfabetização de crianças cegas
ou com baixa visão, pois incentiva o contato direto com textos escritos, além de
acionar a mesma área do córtex cerebral que é utilizada com a leitura visual.
Por se tratar de uma forma universal de escrita, também pode ser adaptado a
diversos alfabetos do mundo – recentemente, ganhou escrita Guarani, no Paraguai.
Nos últimos anos a tecnologia vem se sobrepondo a essa linguagem – os recursos
digitais, ao mesmo tempo que ajudam na educação e profissionalização de pessoas
com deficiência visual, se tornam um risco para extinção do Sistema Braille,
pois promovem outras formas de leitura.
“Mais do que nunca precisamos abraçar os recursos tecnológicos voltados à
acessibilidade e utilizar essas ferramentas. No entanto, não podemos deixar de
lado o Sistema Braille, que há quase 200 anos vem contribuindo para o
aprendizado das pessoas cegas ou com baixa visão. É necessário entender que este
método ainda é a forma mais importante de autonomia que as pessoas com
deficiência visual podem ter”, comenta Regina Oliveira, Coordenadora de
Editorial e Revisão da Fundação Dorina Nowill para Cegos.
Fredric K. Schroeder, vice-presidente da Federação Nacional dos Cegos dos EUA,
vem alertando para o fato de que cerca de 90% das crianças cegas americanas
já estão crescendo sem aprender a ler e escrever. Para ele, isso acontece
justamente porque elas estão optando por recursos digitais em detrimento ao
Braille, preferindo uma leitura passiva e não estimulante – um fenômeno que
muitos chamam de desbraillização.
Se essa realidade não for mudada, em breve todas as crianças que nascerem cegas
ou que perderem a visão na primeira infância, serão consideradas analfabetas
funcionais. Por isso, o papel da sociedade é importante, pois, ao incentivar
a alfabetização em Braille, o aluno passa a ter autonomia, e vai aprender
ortografia e toda a simbologia das diferentes áreas do conhecimento (português,
matemática, física etc.).
Companhia aérea, que não o deixou embarcar com o
cão-guia, diz estar a rever as práticas.
O pianista espanhol Ignasi Cambra, cego, acusou a TAP de o ter "discriminado
completamente" no dia 30 de dezembro, ao não deixá-lo embarcar com o seu
cão-guia, e a companhia aérea lamentou o sucedido, garantindo estar a rever
procedimentos.
Através das redes sociais, Ignasi Cambra disse que ficou
"preso" durante algumas horas no aeroporto de El Prat -- Barcelona: "[A TAP]
recusou deixar-me viajar com o meu cão-guia".
O músico adiantou que reservou o voo na quarta-feira
(dia 29) à noite e tentou enviar o formulário necessário para o website para
dizer que estava a viajar com um animal de assistência, mas o envio "não
funcionou".
"Por isso, fui ao balcão, como faço sempre numa situação
como esta, e eles simplesmente recusaram-se a levar-me com o meu cão, porque
dizem que eu não os informei com mais de 48 horas de antecedência", referiu.
Perante o sucedido, o pianista deixou uma questão: "Como
é suposto eu avisá-los com 48 horas de antecedência quando reservei o voo na
noite anterior? Isto significa que, como cego que viaja com um cão-guia, não
estou autorizado a reservar um voo de última hora como todos os outros?"
O músico sublinhou que tentou contactar o pessoal da
companhia aérea portuguesa por telefone, durante uma hora, "sem sucesso".
Finalmente, como "favor", explicou, foi-lhe permitido embarcar noutro avião, mas
acabou por só chegar a Portugal ao meio-dia de sexta-feira.
Ignasi Cambra questionou, em tom irónico, se deve
agradecer à companhia por fazer "uma exceção à sua regra".
A Lusa contactou a TAP, que, num comentário por escrito,
"lamenta o ocorrido e o transtorno causado por esta situação", e garante que
"está a rever os procedimentos no sentido de agilizar o processo de futuro".
Porém, salienta que para assegurar o melhor serviço
possível no transporte de animais, e alertar todos os envolvidos, "é necessário
reservar o serviço com antecedência".
Não tendo sido possível neste caso, "a TAP diligenciou
para que o passageiro e o cão-guia fossem acomodados o mais rapidamente
possível, no voo imediatamente seguinte, tendo assim embarcado algumas horas
depois do originalmente previsto", concluiu.
Por meio de financiamento da Organização Mundial da Propriedade Intelectual
(OMPI), e em colaboração com editoras argentinas, a Tiflolibros/Tiflonexos Asoc
Civil, uma biblioteca digital para cegos, produziu 800 livros didáticos em
espanhol.
As obras são para pessoas com deficiência visual ou com
incapacidade de leitura de material impresso. O acesso a estes livros foi
facilitado pelo Tratado de Marrakech – cujo nome oficial é Tratado de Marrakech
para facilitar o acesso a obras publicadas às pessoas cegas, com deficiência
visual ou com outras dificuldades para acessar texto impresso, adotado em junho
de 2013. A Argentina foi um dos Estados que adotou a convenção internacional.
A cegueira tem peso na hora procurar trabalho. E não pelos melhores
motivos: o estigma e o desconhecimento sobre a deficiência fecham muitas
portas a quem quer uma oportunidade para integrar o mercado de trabalho
e ser autónomo. Qual será o futuro de um jovem estudante cego quando
terminar o curso? Dos que fizeram da resiliência o lema de vida e que
conseguiram vencer no mundo do trabalho, aos casos de quem luta
diariamente por uma oportunidade de voltar a mostrar as suas
capacidades.
Entrar no mundo do trabalho é um objetivo per se. É um passo da vida
que está associado à independência e à autonomia, mas o caminho até ao
emprego de sonho nem sempre é fácil. O desemprego assombra os sonhos de
quem acaba os estudos. Tomás Delfim tem 19 anos e está no segundo
ano do curso de Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social
(ESCS), em Lisboa. Deseja fazer rádio ou jornalismo de investigação, mas
está certo que a sua integração no mundo do trabalho vai ser mais
difícil do que o normal. Por uma razão: é cego.
“Tendo em conta a realidade do país e a minha, tenho um bocado de receio
de como será. Olhando para a minha deficiência e para as deficiências no
geral, acaba por haver um estigma por parte dos empregadores. Acho que
isso acaba sempre por atrapalhar na hora de me chamarem para alguma
vaga.”
Nas mesas de estudo colocadas nos corredores da ESCS, Tomás alterna o
sonho com a realidade. O jornalismo chegou à sua vida “muito
repentinamente”, depois de ter ponderado uma carreira como psicólogo. A
paixão é traduzida no som das letras que o tablet de Tomás vai emitindo,
como se estivesse a ditar o texto do novo artigo que está a fazer para a
revista estudantil ESCS Magazine, ou o guião do novo episódio do seu
podcast “Ponto de Vista”.
Ao lado estão a bengala e a mochila. O símbolo do Sporting denuncia o
gosto de Tomás pelo desporto, conta que joga golbol, desde os sete anos,
na equipa de Alvalade e que integra também a seleção nacional. Talvez,
no futuro, o jovem venha a ter a oportunidade de singrar nos meios de
comunicação social e de ter uma rubrica semanal de rádio, como José
Carlos Costa. Aos 65 anos é comentador desportivo na rádio Granada.FM e
correspondente do jornal espanhol “Mundo Deportivo”. Cego de nascença,
habituou-se a transformar os sons das várias modalidades em imagens e
soma já 40 anos de carreira ligados à informação desportiva. Lembra que
já fez muita coisa, incluindo comentário em jogos ao vivo.
Nos últimos 18 anos, os domingos são especiais: a sala de estar da sua
casa transforma-se numa autêntica redação, com o rádio a relatar, em
espanhol, o jogo entre o Real Sociedad e o Valência e o som metálico da
pauta de braille a acompanhar o cravar nas folhas de todas as
informações que compõem o seu programa de 20 minutos. Em cima da mesa
estão vários telemóveis e um gravador. Um deles toca: é um amigo que tem
mais resultados desportivos para lhe dizer.
“É um trabalho exaustivo que requer muita força de vontade e muita
alegria”, partilha com um sorriso.
Durante a semana, José Carlos é telefonista de profissão e vai
todos os dias do Ribatejo para a sede do Instituto da Conservação da
Natureza e das Florestas, em Lisboa. São já 46 os anos de serviço e
começa a contar os meses para a reforma. Mas não do desporto, porque tem
uma “dívida” para pagar. Foi esta atividade que lhe deu razões para
ultrapassar as adversidades, nomeadamente os mais de dois anos em que
esteve sem trabalho, à espera de colocação, e o atropelamento de que foi
vítima.
“Em 1984, o serviço de Estudos do Ambiente foi extinto e eu fui mandado
para casa à espera de colocação durante dois anos e meio. Foi a minha
atividade desportiva que me salvou, que me fez não entrar em depressão”,
conta, lembrando que se sentia como “um parasita da sociedade”.
Na sua mesa de escritório improvisado, no canto da sala, o comentador
desportivo vai apontando, à mão, os resultados das várias modalidades:
futebol (nacional e das ligas espanhola, francesa, italiana, alemã e
inglesa), futsal, voleibol, andebol, basquetebol e hóquei em patins. Da
direita para a esquerda, vai pontuando as sucessivas páginas com
informação invisível aos olhos e interpretada pela ponta dos dedos.
“Sinto que estou a fazer um serviço de utilidade pública”, diz, enquanto
aponta mais um resultado nas folhas reutilizadas que usa para escrever o
guião do programa. Escreve tudo à mão porque tem medo de perder a
informação.
Às 21:00 o telefone volta a tocar: é hora de ir para o ar. No saco de
plástico as folhas escritas estão já alinhadas e chega a hora de
começar.
“Olá, muito boa noite Carlos Costa. Boa noite a todos os ouvintes da
Granada.FM. Saudações desportivas para todos. Vamos então iniciar o
nosso périplo pelo futebol distrital, começando com a Associação de
Futebol do Algarve, que teve a sua sexta jornada.”
Mas no futuro do jovem Tomás poderá também estar um lado mais negro que
atinge uma grande parte da população com deficiência visual: não
conseguir trabalho. Hugo Manuel, de 43 anos, conhece bem essa
realidade. Seguiu um percurso académico “igual ao de muitas pessoas” da
sua geração, como faz questão de reforçar. Estudou jornalismo na ESCS e
teve “o privilégio de ainda exercer durante algum tempo essa profissão”.
“É uma profissão que está um bocadinho vedada – como muitas outras neste
país – a quem não vê e tive de arrepiar caminho por outras áreas.”
Criou uma empresa, que fechou devido à crise do subprime. Trabalhou na
área comercial, mas, “depois de passar algum tempo por aquele trabalho
fantástico que é o desemprego”, decidiu arregaçar as mangas e fazer um
curso de massagista na Associação Promotora de Emprego de Deficientes
Visuais (APEDV), em Lisboa. E o arregaçar das mangas foi literal, porque
para fazer as massagens não pode ter nada nas mãos, nem mesmo a aliança.
Depois do estágio e de ter visto o contrato de trabalho terminar, está
de volta à APEDV à procura de mais uma oportunidade.
“Não sei se existe estigma. Eu acho que essencialmente existe muito não
saber como: não saber como integrar, como lidar, como agir, como adaptar
o posto de trabalho, não saber uma série de coisas.”
Hugo reconhece que a falta de oportunidades no mercado do trabalho
atinge muitas pessoas, mas lembra que “as pessoas cegas, infelizmente,
são muitas vezes desvalorizadas e desconsideradas naquilo que podem e
sabem fazer”.
A taxa de desemprego em Portugal atinge 6,1% da população, segundo dados
do Instituto Nacional de Estatística (INE), referentes ao terceiro
trimestre de 2021. Entre as pessoas com deficiência visual, o valor será
cerca de dez vezes superior, segundo um estudo realizado pela Associação
dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) em 2012. A pandemia veio
tornar o problema maior.
O “NÃO” DO DESCONHECIMENTO E DO ESTIGMA
Façamos um exercício: pense no seu trabalho e nas tarefas que
executa diariamente. Acha que uma pessoa com deficiência visual
conseguiria desempenhar essas funções? A primeira resposta a esta
pergunta costuma ser “não”. A falta de conhecimento sobre os métodos de
adaptação de postos de trabalho e a autonomia que uma pessoa cega tem no
local de trabalho são um dos principais entraves à contratação. Este
“não” é também a resposta que muitos cegos ouvem quando tentam procurar
emprego.
“Quando enviava currículos era fantástico, geralmente era chamado para
ir às entrevistas. Depois, quando chegava aos locais… Chegou a acontecer
dizerem: ‘não, deve ser engano. Não tínhamos nenhuma entrevista
marcada.’ Noutros casos diziam ‘o seu currículo é fantástico, mas, como
não vê, não podemos dar-lhe esta vaga, como deve compreender’.
Arranjavam uma série de barreiras para vedar o acesso ao mercado de
trabalho”, conta Hugo.
A experiência é transversal: em alguma fase da vida, todas as pessoas
com deficiência visual se confrontaram com este “não” que vai matando o
sonho de uma carreira profissional. A partilha dos bons exemplos tem,
para Graça Hidalgo, coordenadora pedagógica da APEDV, poder para
mudar mentalidades. E lembra uma história que se passou quando estava a
fazer telefonemas para encontrar um estágio para um formando do curso de
massagista técnico auxiliar de fisioterapia. Após várias chamadas para
clínicas, a responsável recebeu uma resposta que a marcou:
“Cego? Massagista? Só se for para ligar e desligar equipamentos”, disse
a voz do outro lado do telefone.
“Pode fazer um bocadinho mais e eu garanto-lhe que, se quiser aceitar o
desafio, vai ficar surpreendida”, respondeu Graça Hidalgo.
A coordenadora não se deixou ficar pela resposta inicial e conseguiu
convencer a empresa a acolher o jovem durante o estágio. “Fez [o
trabalho] de tal modo bem ou mal que havia doentes que só queriam o
Leandro. Depois do estágio, ele foi contratado e penso que hoje
ainda lá trabalha”, conta com orgulho.
Também Rodrigo Santos, presidente da ACAPO, defende que os casos
de sucesso são o caminho para superar preconceitos que existem em
diversas profissões. E realça que a inclusão de uma pessoa com
deficiência visual num contexto empresarial “acaba por proporcionar uma
mudança bastante positiva de mentalidade, transversal a toda a
organização”.
Um estudo realizado pela associação há vários anos indicava que havia
duas profissões primordiais entre as pessoas com deficiência visual: ou
eram professores (se tivessem qualificações académicas de nível
superior) ou eram telefonistas. Mas, atualmente, as novas tecnologias
tornaram mais fácil a adaptação dos postos de trabalho e abriu-se um
novo leque de possibilidades.
“A primeira barreira é sempre pensar que a pessoa, porque não vê, não
consegue fazer determinadas coisas ou precisa de uma adaptação qualquer
do posto de trabalho. E que essa adaptação não é razoável”, explica o
presidente da ACAPO. “É preciso não encararmos as pessoas com
deficiência como pessoas com uma limitação, mas percebermos que essa
limitação só decorre porque o contexto onde estão não é inclusivo.”
FORMAÇÕES PROFISSIONAIS COMO UMA PORTA PARA O MUNDO DO TRABALHO
A ACAPO e a APEDV são duas das três associações em Lisboa que
oferecem formações profissionais direcionadas a pessoas com deficiência
visual em situação de desemprego. A ACAPO tem cursos nas áreas de
atendimento ao público, secretariado e de trabalho administrativo,
enquanto a APEDV disponibiliza formações de tecnologias da informação e
comunicação, massagista técnico auxiliar de fisioterapia e artesanato.
Mas nem sempre estes cursos abrem a porta para um posto de trabalho.
Isabel Veras, de 54 anos, já conhece bem as formações
profissionais que estão disponíveis, já frequentou umas quantas. Nasceu
com baixa visão e ficou cega depois de ter sido atropelada quando ia a
caminho do trabalho. Na altura era embaladora numa empresa de plásticos,
na zona centro, onde trabalhou durante nove anos.
Quando deixou o trabalho, ficou reformada da área das embalagens, uma
situação que só descobriu quando tentava candidatar-se a um novo
trabalho no mesmo setor. Depois disso, foi administrativa numa
instituição de desenvolvimento e formação profissional, em Miranda do
Corvo, onde era residente.
O sonho de poder ser independente e ter uma casa própria levou-a a
deixar a instituição em 2008. Conseguiu cumpri-lo, mas, desde então,
luta por voltar a ter um trabalho. Já perdeu a conta às formações e
estágios que fez. Recorda alguns com carinho, mas mesmo fazendo um bom
trabalho, no final, volta tudo ao início.
“Eu não quero mais formações, eu estou cansada das formações. Estou
mesmo cansada. Porque nós criamos muitas expectativas e depois não se vê
nada. Chegamos ao fim e é um estágio que acabou, pronto”, lamenta .
Tem procurado trabalho em várias áreas. Conta com a ajuda de Daniela
Proença, assistente pessoal do Centro de Apoio à Vida Independente, que
acompanha Isabel aos sítios onde vai deixar o currículo. Prefere
entregar presencialmente, porque diz que as tecnologias não são fáceis
de usar. A música dos vários rádios que tem espalhados pela casa
acompanha esta busca por um emprego.
As formações que existem atualmente têm uma componente teórica e um
estágio, que pretende tornar mais fácil a integração dos formandos no
mercado do trabalho. São financiados pelo IEFP e incluem uma bolsa no
valor de 168 euros, à qual acrescem os subsídios de transporte e de
alimentação e o seguro de acidentes pessoais.
No entanto, Vítor Graça, presidente da Associação Promotora do
Ensino de Cegos (APEC) – uma das primeiras escolas destinadas a pessoas
com deficiência visual no país –, considera que os moldes em que se
fazem as formações não responde à procura do mercado de trabalho.
“O mundo do trabalho está mais exigente, há mais competição. E,
infelizmente, a maior parte das pessoas com deficiência visual não está
devidamente preparada para várias áreas. Se não está preparada, não
podemos pedir aos empresários que, só por ser deficiente, o coloque
naquele posto de trabalho”, afirma. “De todas as formações, se calhar a
única em que é ainda possível empregar algumas pessoas é a de
massagista. Todas as outras têm pouca.”
A associação, que em tempos se destinava a ensinar as crianças com
deficiência visual a ler e escrever, oferece agora formações “à medida”,
com base nas necessidades do trabalhador.
“Nós entendemos que a formação deveria ser ao contrário, ou seja, quem
devia ditar as regras do mercado não são as associações, mas sim as
empresas”, acrescenta Vítor Graça, sublinhando que é também necessário
tornar as formações mais inclusivas para pessoas com deficiência visual.
Segundo dados disponibilizados pela ACAPO, dos 750 apoios prestados ao
emprego nos últimos cinco anos, foram conseguidas 80 integrações
profissionais. A maioria aconteceu no âmbito de medidas de apoio ao
emprego. Apenas 28 foram contratos de trabalho.
Na APEDV, os números não são o mais importante: “Basta conseguirmos
mudar a vida de uma pessoa para a taxa de sucesso já ser boa”, afirma
Graça Hidalgo. A coordenadora pedagógica da associação sublinha que a
formação profissional para pessoas com deficiência visual “não pode ser
medida só em resultados”.
“Há pessoa que têm muitas limitações e nós temos consciência que jamais
vão conseguir um trabalho em que alguém os aceite e ainda lhes pague um
salário. Mas essas pessoas também precisam de viver, também precisam de
conviver, também precisam de aprender coisas novas. Também temos esse
lado da história, não podem ser só números”, explica.
UM PERCURSO DESMOTIVANTE E A IMPORTÂNCIA DA
RESILIÊNCIA
A desmotivação começa a notar-se no discurso de Isabel que só pede uma
oportunidade para provar que é capaz. Mesmo assim, não desiste do seu
sonho de poder ser novamente telefonista ou rececionista numa empresa.
Também Hugo sublinha que vai “continuar a lutar” por um trabalho, mesmo
tendo colocado de lado a possibilidade de voltar aos media, a área que
estudou. O percurso pode ser longo e durar vários anos. A resiliência é
o principal aliado de quem só quer ser útil.
António Pinão é psicólogo na APEDV, desde 1988, e reconhece que
existe “uma desmotivação muito grande em relação à procura de formação
com interesse em que se traduza num posto de trabalho”. Considera que há
pessoas que se acomodam aos subsídios que recebem e que “lhes bastam
para subsistir”.
“Nós temos autênticos profissionais da formação. Não quer dizer que
sejam todos, mas há casos de pessoas que estão mais interessadas em ir
passando por estes contextos formativos de instituição em instituição do
que propriamente dirigirem o seu interesse para a obtenção de um posto
de trabalho. Também sabemos que a dificuldade de arranjar trabalho
desmobiliza e desmotiva. Que motivação é que eu tenho para fazer uma
formação numa determinada área quando sei que depois de fazer formação
ficarei à espera?”, questiona o psicólogo.
A palavra resiliência é também a que Graça Hidalgo usa para se referir à
luta das pessoas com deficiência visual por um emprego.
“Quando temos uma pessoa qualificada, às vezes com mais do que um curso
superior, com vontade de trabalhar e depois não consegue colocação no
mercado de trabalho, não consegue ser subsistente – ganhar para pagar a
sua casa, pagar a sua alimentação, pagar os seus gostos – isso é
desconcertante, é desmotivador. Mas há uma coisa chamada resiliência que
cada um de nós tem e acaba por conseguir superar.”
OS APOIOS DISPONÍVEIS PELO IEFP
Os estágios de inserção são uma das medidas de apoio que o IEFP tem para
facilitar a transição de pessoas com deficiência e incapacidade para o
regime de trabalho. Existe ainda a possibilidade de realizar contratos
emprego-inserção – que incluem a realização de atividades socialmente
úteis no âmbito de projetos promovidos por entidades coletivas públicas
ou provadas sem fins lucrativos –, emprego protegido e emprego apoiado
em mercado aberto. Nesta última vertente, o estado compromete-se a
compensar a redução de produtividade que a pessoa com deficiência possa
ter, quando comparado com um trabalhador sem deficiência.
Graça Hidalgo considera que os apoios “são simpáticos”, mas
gostaria de ter “um miminho mais simpático” para oferecer às empresas
quando tenta encontrar trabalho para os formandos da associação. Defende
que esses apoios poderiam ser importantes “para quebrar o primeiro gelo”
e critica a “burocracia” que está subjacente às candidaturas.
“É isso que mata qualquer vontade. Eu já tive empregadores que, de
facto, recorreram aos incentivos da contratação e nós, que não temos
financiamento nenhum para isso, acabamos por ajudar. Eu faço os
projetos, ajudo a ir aos sítios certos, algumas palavras certas… Porque
é tudo muito burocrático”.
Já Rodrigo Santo considera que os apoios não são “suficientes”
para responder ao dinamismo do mercado de trabalho e defende que deveria
haver uma “rede de apoios públicos mais focada no apoio especializado em
função da própria deficiência no contexto de trabalho”. Esse apoio
poderia permitir aos empregadores recorrer a um plano de financiamento
de forma ocasional e esporádica para responder a alterações da função ou
adaptar a formação às necessidades do trabalhador.
Sobre a implementação de quotas para pessoas com deficiência nas
empresas públicas e privadas, o presidente da ACAPO considera que estas
medidas trazem vantagens e desvantagens: se por um lado pode servir como
forma de propagar bons exemplos e mudar mentalidades, por outro pode
levar os empregadores a olharem para as pessoas com deficiência visual
como "um nicho que fica bem ter ou que temos de ter para cumprir a
legislação", o que "acaba por resultar num grande prejuízo para a vida
profissional das pessoas com deficiência".
O IEFP tem também um programa de adaptação de postos de trabalhos e
eliminação de barreiras arquitetónicas que permite financiar a compra de
equipamentos adaptados ou eliminar obstáculos físicos que possam impedir
o acesso da pessoa com deficiência. Este apoio pode ser pedido pelas
empresas quando o trabalhador com deficiência tem um contrato com
duração inicial mínima de um ano, um contrato sem termo ou é incluído
nos quadros da empresa.
O QUE É PRECISO PARA ADAPTAR UM POSTO DE TRABALHO?
A secretária onde Patrícia Soares, de 30 anos, costuma trabalhar
é praticamente igual à dos restantes funcionários da empresa. Tem um
computador e uns fones, mas com uma linha de braille – que possibilita
ler o que está escrito no ecrã. Enquanto escreve um e-mail no seu
portátil, nada parece diferente, só quando desliga os fones é que se
ouve uma voz rápida e mecânica.
“É um mito dizer que adaptar um posto de trabalho fica muito caro ou é
muito complexo. Muitas vezes nem é preciso quase adaptação nenhuma. No
meu caso pedimos [ao IEFP] apenas um OCR [um programa informático que
converte imagens e ficheiros PDF em texto] e uma linha braille.
Basicamente foi isso. De resto, a empresa atribuiu-me um computador –
como atribuiu a qualquer outro trabalhador – onde instalámos um screen
reader [leitor de ecrã], que também é completamente gratuito.”
Por baixo da secretária de Patrícia, está uma almofada que foi oferecida
pela empresa. Era o posto de repouso da cadela-guia Orleans, que,
entretanto, se reformou. Enquanto conta a sua chegada à empresa, a
técnica de recrutamento destaca, por várias vezes, a receção e o apoio
que sentiu.
“Houve uma abertura muito grande em adaptar as minhas necessidades à
função, à realidade da empresa”, conta, indicando, como exemplo, que as
salas e o elevador passaram a ser etiquetados com braille. “Isso
permitiu-me não depender de ninguém. E não foram tomadas medidas só para
a minha condição”, acrescenta.
Agora é Patrícia quem faz as perguntas para escolher o melhor candidato
a integrar a empresa. Quando está a conduzir as entrevistas, é o tom de
voz que lhe chama logo a atenção e através do qual consegue identificar
a motivação da pessoa. Há uns anos, Patrícia estava do outro lado da
mesa: depois de terminar o mestrado em psicologia social de
organizações, começou a procurar um estágio profissional para poder
integrar a Ordem dos Psicólogos, mas as perguntas que os recrutadores
mais colocavam era sobre a sua deficiência.
“O que avaliavam era a minha deficiência, não as minhas competências”,
explica, indicando como principal problema a falta de informação que
“leva a que exista discriminação e preconceito no recrutamento”. “Não
raras vezes, por ignorância, estamos a perder talento”, remata.
O TRABALHO COMO PARTE DA INTEGRAÇÃO NA SOCIEDADE
Para Patrícia, a possibilidade de trabalhar traz realização
pessoal e abre possibilidade à concretização de projetos pessoais, como
viajar, estudar ou evoluir na carreira. José Carlos Costa destaca
a importância de estar com as pessoas e conviver. Vítor Graça
reforça a ideia que “um emprego, para uma pessoa com deficiência, tem
sempre um peso muito importante”.
“Todos os filhos têm, normalmente, orgulho nos pais. Se um pai ou uma
mãe está em casa todos os dias, não se reveem naquele pai. É importante
as pessoas terem emprego. É cego, sim, mas luta, vence para os filhos, é
um exemplo. Para não falar do amor próprio que a pessoa passa a ter.”
Fernando Madaleno, de 58 anos, vê o trabalho como uma forma de se
sentir integrado na sociedade. Há 30 anos, terminou o curso de
fisioterapia no Hospital Curry Cabral. Na altura foi o único da sua
turma a não conseguir encontrar um trabalho, mas encontrou quem lhe
desse a mão. Depois de várias cartas – na altura ainda não havia e-mails
– de candidatura rejeitadas, Salvino Ferreira, que era formador no
curso, achou que o talento de Fernando não podia ser desperdiçado, por
isso, quando decidiu abrir uma clínica, contratou-o logo. Uma parceria
que se mantém ainda hoje.
Depois de ter sido contratado para a clínica, “a vida começou logo a dar
certo”: casou-se e teve dois filhos que são já adultos e trabalham.
Mesmo passadas várias décadas, não se cansa de agradecer a oportunidade
que lhe foi dada: “O principal é alguém acreditar em nós”.
“Se o meu exemplo servisse para outros como exemplo… Mas é preciso que
alguém acredite, é preciso que alguém dê a oportunidade, aquele primeiro
passo. Se não, a pessoa anda aí a bater a todas as portas e todas se
fecham.”
Salvino Ferreira tem baixa visão, o que faz com que esteja mais
atento às dificuldades dos trabalhadores com deficiência visual. Desde
que assumiu o papel de massagista, Fernando tem vindo a
aperfeiçoar o seu trabalho e a sua confiança. Agora, são os pacientes
que pedem para ser tratados por ele.
A sala de fisioterapia está cheia. Dois doentes estão deitados nas
macas, enquanto outros dois se preparam para o tratamento. Fernando vai
caminhando velozmente de um lado para o outro, com confiança, fazendo
exercícios específicos às lesões de cada um dos pacientes. Enquanto faz
as massagens, diz algumas piadas, fazendo rir os doentes que trata.
“Não me vejo com dificuldades de maior, talvez porque o senhor Salvino e
a respetiva direção nunca me criaram obstáculos nenhuns, pelo
contrário”, explica. “Não me atrapalho com qualquer coisa ou qualquer
pessoa. Fui ganhando confiança na maneira de me relacionar com as
pessoas. Não fico tímido, confio muito em mim e no meu trabalho. Isso
dá-me de tal maneira confiança que sou capaz de passar dias sem me
lembrar desta característica.”
É, de facto, uma característica, não uma limitação. E a mentalidade
começa a mudar em Portugal: em 2015 foi criada a secretaria de Estado
dedicada à inclusão de pessoas com deficiência, que é tutelada por
Ana Sofia Antunes. Além da novidade da tutela, o cargo é assumido
pela primeira governante cega no país.
“O facto de termos uma secretária de Estado que é, ela própria, uma
pessoa com deficiência, mostrou a quem ainda não tinha visto que a
deficiência não é uma limitação nem um impedimento”, afirma Rodrigo
Santos, sublinhando que Ana Sofia Antunes “mostrou que as pessoas com
deficiência também são capazes de assumir com sucesso cargos de
responsabilidade, mesmo que essa responsabilidade seja grande.”
A secretária de Estado da Inclusão de Pessoa com Deficiência sublinha
que o estigma em contratar pessoas com alguma incapacidade ainda é bem
real. Fala dos apoios que existem para as empresas e dos projetos que
ficaram na gaveta com a queda do Governo. Em entrevista à SIC Notícias,
conta ainda os percurso que fez nos últimos seis anos pela igualdade de
oportunidades e lembra ainda o seu próprio percurso.
SIC Notícias: É a primeira pessoa com deficiência visual a assumir um
cargo no Governo. Considera que o mundo de trabalho está, atualmente,
mais inclusivo para pessoas com deficiência?
Ana Sofia Antunes: Não é uma realidade específica dos últimos dois ou
três anos, acho que é uma realidade que podemos fazer retroagir aos
últimos 20 anos. Temos uma postura diferente em relação à inclusão de
pessoas com deficiência no mercado de trabalho. E não estou a
circunscrever a pessoas com deficiência visual. Houve alguns
instrumentos que foram fundamentais no incentivo a essa maior abertura,
nomeadamente no que diz respeito à administração pública. A legislação
aprovada em 2001 relativa às quotas para pessoas com deficiência no
setor público foi muito importante porque permitiu que um conjunto de
pessoas acedessem a contratos de trabalho em funções públicas. Nós
conseguimos comprovar que existem presentemente na administração pública
18 mil pessoas com deficiência a trabalhar. Outro setor que se foi
progressivamente abrindo e aceitando integrar pessoas com deficiência
foi também o setor social e solidário. Nós regulamentámos recentemente
uma norma que já estava aprovada desde o ano 2004 mas que, na prática,
era como se não existisse porque não estavam definidos os termos em que
devia ser aplicada: a criação de quotas no setor privado. Acreditamos
que este vai ser mais um mecanismo que vai permitir que o mercado de
trabalho se abra ainda mais à contratação destes cidadãos. Não quer isto
dizer que, apenas agora, as empresas vão começar a contratar pessoas com
deficiência, é muito injusto dizê-lo. Nós temos bons exemplos de
contratação de pessoas com deficiência no nosso setor empresarial, seja
de entre grandes empresas, seja a nível local e em empresas mais
pequenas. É inquestionável dizermos que já avançámos bastante em relação
à contratação de pessoas com deficiência. Temos caminho para andar –
certamente que temos – e acreditamos que os mecanismos e os apoios que
vamos criando incentivem mais empresas a recrutar pessoas com
deficiência.
SIC Notícias: Além das quotas, que outros mecanismos estão em vigor na
contratação de pessoas com deficiência?
Ana Sofia Antunes: Temos vários tipos de medidas. Medidas genéricas que,
quando aplicadas a pessoas com deficiência, sofrem majorações. E depois
temos um segundo lote de medidas que são específicas para pessoas com
deficiência. Os estágios para pessoas com deficiência e os contratos de
emprego apoiado para pessoas com deficiência são duas medidas que têm
tido um papel muito importante. Permitem, acima de tudo, quebrar do gelo
e propiciar uma primeira experiência entre quem procura trabalho e a
empresa ou entidade que está disposta a dar essa oportunidade. Estas
medidas têm uma vigência temporária e a ideia é que, depois destas
primeiras experiências, a pessoa possa ser colocada em mercado do
trabalho em termos regulares, como qualquer outra pessoa. Temos também o
contrato de emprego apoiado em mercado aberto, que é uma figura pensada
especificamente para pessoas com deficiência intelectual que, sabemos
existir uma maior dificuldade na sua inclusão no mercado. Esta medida
não está só a ser aplicada a pessoas com deficiência intelectual.
Através da avaliação da funcionalidade do trabalhador com deficiência,
comparativamente com um colega de trabalho a exercer as mesmas funções
sem deficiência, é determinada a percentagem da remuneração do
trabalhador que é comparticipada pelo Instituto do Emprego e Formação
Profissional (IEFP). Imaginemos que a pessoa é avaliada com o grau de
funcionalidade de 80%, o IEFP comparticipará 20% da remuneração dessa
pessoa sendo a entidade empregadora responsável apenas por 80%. Há ainda
uma outra medida que tem tido também bastante adesão – e que achamos que
é importante e gostaria de ver alargada, se possível – que é a isenção
parcial da Taxa Social Única (TSU), que as empresas pagam à Segurança
Social pelo trabalhador com deficiência. Nesses casos a TSU só é devida
em 50%, o restante é automaticamente assumido e internalizado como custo
próprio da Segurança Social.
SIC Notícias: Considera que estas medidas que estão em vigor são
suficientes para quebrar o estigma que ainda existe na hora de contratar
pessoas com deficiência?
Ana Sofia Antunes: Eu não sei se as medidas, em si, são o que quebra o
estigma. As medidas são no fundo um incentivo adicional para que a
empresa considere a hipótese de contratar uma pessoa com deficiência e
não cinja o seu leque de opções apenas a trabalhadores sem deficiências
ou de incapacidade. É um estímulo. A questão do estigma, eu penso que só
se combate com o exemplo e com a experiência. A empresa quando contrata,
geralmente tem dúvidas. As medidas que possamos dar de apoio funcionam
como um incentivo mas não creio que sejam o fator X que determina se
contratam ou não. As empresas que contratam, inicialmente, fazem-no numa
lógica de experiência, querem ver como vai correr. O que sabemos dos
empresários é que maioritariamente corre bem, que veem nestes
trabalhadores pessoas dedicadas, que valorizam a oportunidade que estão
a ter e que vestem a camisola da empresa e, daí para a frente, são
incluídos pela empresa, pela direção da empresa, pela comunidade geral
de trabalhadores, como um elemento da casa. Eu acho que o estigma, acima
de tudo, se quebra é com o exemplo e com a inserção. Quem contrata um
trabalhador com deficiência fica muito mais apto a voltar a fazê-lo sem
grandes dúvidas nem hesitações.
SIC Notícias: Considera que para as novas gerações, que estão no ensino
superior, esta realidade já está melhor?
Ana Sofia Antunes: Considero que está melhor, que foram dados passos
significativos. Hoje em dia a tecnologia também é uma realidade que já
ninguém questiona, o que não acontecia há 20 anos. Temos muitos passos
para dar? Temos de certeza. Não sei até que ponto vamos conseguir chegar
um dia a uma fase em que podemos dizer que já não temos mais passos para
dar. Acho que temos que continuar sempre a tentar apoiar o mais possível
aqueles que estão, neste momento, a sentir dificuldades, com os
mecanismos que consigamos arranjar para os ajudar – sejam incentivos às
empresas para os contratar, sejam novas medidas de apoio. Como a figura
do “mediador”. A pessoa com deficiência desgasta-se muito quando tem que
fazer esta procura sozinha e, às vezes, acaba por desistir. Porque levar
com muitas portas na cara e com muitos “nãos”, ao fim de um tempo,
desgasta e faz com que a pessoa perca confiança, se resigne, pense que
não é para ela e que nunca vai conseguir. Acho o “mediador” é uma figura
que seria muito importante que conseguíssemos implementar como forma de,
não apenas ajudar a pessoa com deficiência a ter alguém a quem possa
recorrer para ajudar neste processo, mas também haver alguém que possa
intermediar na procura de possíveis vagas, colocações em empresas ou
entidades empregadoras. E que, depois, possa também apoiar na adaptação
do posto de trabalho, possa estar disponível e trazer tranquilidade ao
empregador, uma vez que tem, nos primeiros tempos, alguém a quem pode
telefonar quando as dúvidas surgem, que pode ajudar neste processo de
superar as barreiras que forem surgindo, até se verificar um processo de
inclusão bem sucedido.
SIC Notícias: Esse projeto dos mediadores já foi aprovado?
Ana Sofia Antunes: Ainda não foi aprovado. Era algo que tínhamos
planeado para 2022. Com os acontecimentos políticos mais recentes, não
sei o que sucederá. Neste momento está previsto na nossa estratégia
nacional para inclusão de pessoas com deficiência. Espero que quem venha
a assumir esta pasta concorde comigo no que respeita à utilidade desta
figura e a venha a implementar.
SIC Notícias: Durante o seu percurso profissional encontrou algumas
situações de estigma ou dificuldade devido à sua deficiência?
Ana Sofia Antunes: Sim. Eu gostaria muito de conhecer uma pessoa com
deficiência que consiga dizer já nos dias de hoje que tudo no seu
percurso profissional foi perfeitamente tranquilo e que nunca sentiu
nenhum tipo de diferenciação. Era bom que assim fosse, mas não creio que
essa pessoa exista ainda. Acho que vai existir daqui a uns anos. Eu já
fiz muita coisa, faz parte do meu espírito insatisfeito e que tem sempre
necessidade de descobrir coisas novas. Mas, quando terminei o curso de
direito – e tendo terminado com uma das maiores médias do curso – eu não
consegui colocação. Isto em direito funciona muito assim: os melhores
alunos acabam o ano contratados e com estágios garantidos. Isso comigo
não aconteceu. E não era certamente porque eu era mais ignorante que os
outros, porque as minhas notas demonstravam o contrário. Isso aconteceu
porque eu não via e havia uma grande desconfiança sobre aquilo que eu
seria ou não capaz de fazer num contexto profissional, principalmente
num contexto do exercício de advocacia. Aquela ideia do advogado que
vive mergulhado em calhamaços, códigos enormes com imensas páginas,
muito papel e dossiers de processo gigantes afastava muito e causava
muito receio e muito desconhecimento sobre como é que uma pessoa cega
iria lidar com essa realidade e como ia conseguir ler, estudar e
trabalhar os processos. Acho que mais grave do que esse desconhecimento
era não haver a tentativa de se procurar perceber como é que essa
dificuldade poderia ser superada. Não haver sequer essa curiosidade,
essa tentativa de aproximação, de tentar perceber se esta aluna que teve
uma avaliação tão positiva na frequência do curso, que conseguiu
fazê-lo, não terá também estratégias de adaptação para o fazer agora no
exercício da profissão? Mas perante o desconhecimento, a opção era o
não. Esse percurso, essa fase da minha vida marcou-me bastante, foi uma
fase difícil.
Agora também não posso deixar de dizer, porque é verdade – eu sei que há
muita gente que não gosta de me ouvir dizer isto, mas eu não vou deixar
de o dizer: eu sou por natureza uma pessoa extremamente resiliente e
quando mais me dizem que não, mais eu digo que sim. Portanto, também sei
que essa característica minha me ajudou a continuar, a ir mais à frente,
a não desistir e a saber transformar as dificuldades em vantagens, nas
coisas boas que fui alcançando. Sim, eu também vivi situações de estigma
e de discriminação no acesso ao emprego, eu superei-as, consegui
arranjar o meu estágio, consegui concluir o estágio, exercer advocacia,
estive na Ordem [dos Advogados]. Ao fim de algum tempo percebi que
queria fazer outras coisas – e já fiz muitas coisas. Não acho, de todo,
que termos consciência das dificuldades e deixarmo-nos ficar paralisados
por elas pode ser, de alguma forma, uma coisa boa. Não é, não pode ser.
SIC Notícias: O seu exemplo, como secretária de Estado, pode também ser
visto pelas empresas como um incentivo à contratação de pessoas com
deficiência?
Ana Sofia Antunes: Eu não gosto muito de ser exemplo. Acho que ninguém
gosta. O elemento adicional que se verifica no meu caso, e se calhar não
se verifica tanto noutra situação, prende-se com a visibilidade que o
cargo trouxe. Se isso me permite chegar a mais pessoas que, por alguma
razão, não confiam muito nas suas próprias capacidades, têm receios, têm
medos e puder ser um elemento que as ajude a acreditar, a agarrar
oportunidades e a irem mais além, fantástico. Se isso também puder ser
útil para as empresas encararem as pessoas com deficiência como
trabalhadores como os outros – apenas com o elemento adicional de
precisarem de algumas adaptações nos seus postos de trabalho para
poderem exercer as suas funções com condições –, muito bem. Mas acho que
essencialmente é pela visibilidade adicional que o cargo pode trazer à
temática.
SIC Notícias: Como foi a adaptação do Ministérios do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social? Foram necessárias muitas alterações?
Ana Sofia Antunes: Não. As alterações mais recentes no edifício foi
muito depois da minha chegada. Estou certa que uma pessoa com
deficiência visual não carece de praticamente nenhuma adaptação para
trabalhar num edifício. A principais adaptações que uma pessoa com
deficiência visual precisa para exercer as suas funções são
tecnológicas: ter computador, ter acesso à rede e, acima de tudo, num
contexto empresarial ou de uma entidade pública contar com ferramentas
que sejam acessíveis. Isso é que muitas vezes não é fácil. Eu ainda
continuo a ter bastantes limitações, nem tudo foi resolvido em seis
anos. Se as coisas não são preparadas de raiz para serem acessíveis e
usadas por todos, quando se tenta corrigir o que já nasceu mal feito são
sempre soluções de contingência, que resolvem uma parte do problema mas
não o todo. Mas também tenho a consciência de que outras deficiências há
que exigem maior adaptação do posto de trabalho do que a deficiência
visual. Nós, no decurso desta mandato, fizemos uma série de adaptações a
pensar em tornar o edifício acessível a todos, mormente a pessoas com
deficiências motoras ou dificuldades de mobilidade. Instalámos rampa no
acesso principal ao edifício porque entendemos que não era adequado que
as pessoas com mobilidade reduzida tivessem de entrar pela porta das
traseiras porque era a única porta acessível. A porta principal está
também a ser adaptada para ter dispositivos de abertura automática e
permitir à pessoa com deficiência entrar de forma autónoma, o balcão de
atendimento foi rebaixado para a pessoa com deficiência motora poder
contactar visualmente com a pessoa que está na receção, mudámos os
elevadores, colocamos braille nos botões e voz que diz os andares. É um
conjunto de adaptações pensadas para a plena acessibilidade ao edifício
por parte de pessoas com limitações motoras.
SIC Notícias: Essas alterações também estão a ser feitas ao nível geral
da Administração Interna?
Ana Sofia Antunes: Nós criámos, no ano passado, um programa que tem por
objetivo promover a eliminação de barreiras arquitetónicas em edifícios
da administração pública que tenham atendimento ao público. O que é que
previa? Que se pudessem instalar rampas, adquirir meios mecânicos de
ascensão – por exemplo, elevadores em edifícios que não tinham ou
plataformas elevatórias para suprir desníveis de alguns degraus –,
rebaixamento de balcões de atendimento, instalação sanitárias
acessíveis, um conjunto de adaptações que vão desde o momento em que a
pessoa com deficiência chega ao local até estar na presença do
funcionário que o vai atender, podendo fazê-lo de forma autónoma,
independente, sem necessidade de assistência de terceiros. Essa linha
contou com o valor global de 10 milhões de euros. Desse valor, recebemos
candidaturas no montante de 8,6 milhões e, até à data, temos cerca de
quatro milhões já executados. Ao todo vão ser intervencionados 481
edifícios que têm atendimento ao público, estando divididos entre
serviços da Segurança Social, centros de emprego, centros de saúde,
museus que pertencem à administração central, serviços de finanças,
universidades, politécnicos, etc.
SIC Notícias: Considera que a sua experiência pessoal e o seu percurso
até ao Ministério do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social
traz também uma forma de pensar e uma perspetiva diferente sobre estes
assuntos?
Ana Sofia Antunes: Creio que sim. Eu defendo que uma pasta como esta faz
sentido que se faça um esforço para que seja assumida por uma pessoa com
deficiência. Não é uma obrigação que assim seja, mas podemos dizer que
existe uma sensibilidade especial para as questões com as quais
trabalhamos e que sabemos que, de alguma forma, muitas delas já nos
afetaram um dia no nosso percurso. Agora também é preciso não esquecer
que a deficiência é uma realidade muito ampla, muito dispersa. E dizer
que uma pessoa com deficiência – no meu caso – visual compreende tudo
aquilo que são as necessidades dos diferentes tipos de deficiências que
existem. Não. Isso é uma experiência que vem com os anos. Quando aqui
cheguei – já disse isso publicamente e reconheço – sabia muito pouco
sobre uma realidade que hoje em dia é muito presente no nosso dia a dia
e com a qual temos de lidar muito perto, que é o autismo. No entanto,
fui estudar, conhecer pessoas e procurar mais conhecimento sobre essa
matéria. Outras áreas há em que, não tendo a pretensão de saber tudo,
acho que consigo pôr-me no lugar e perceber o que está em causa e o que
pode fazer sentido. Quem está nestas funções tem que sair do seu próprio
corpo, da sua própria realidade para se colocar numa posição transversal
e pensar num conjunto de situações muito diferentes. E, muitas vezes, em
matéria de acessibilidades, aquilo que é bom para uma pessoa com uma
determinada deficiência é mau para outro tipo de deficiência. Há coisas
que são importantes para as pessoas cegas e que depois são muito
atrapalhadoras para quem anda numa cadeira de rodas e vice versa.
SIC Notícias: Uma das situações que me foi relatada durante o contacto
com instituições e pessoas em situação de formação é a questão
burocrática associada aos processos e a demora nas respostas do IEFP, o
que, por vezes, leva as empresas a desistir da contratação. Existe
alguma proposta para agilizar os mecanismos?
Ana Sofia Antunes: Eu sei e tenho relatos que quando as empresas
recorrem à figura do contrato de emprego apoiado em mercado aberto, como
existe esta exigência de uma avaliação da funcionalidade da pessoa com
deficiência, em alguns centros de emprego o processo é demorado. E de
facto não pode ser. Quando nós convencemos uma empresa a dar uma
oportunidade, temos de ter a resposta na hora. Se passam três meses,
quatro, seis meses, a empresa pode repensar e achar que já não faz
sentido. Não, a coisa tem de ser muito rápida. O IEFP diz que isso não
está a acontecer, mas eu acredito que esteja a acontecer em alguns
pontos do país. No que diz respeito aos produtos de apoio para adaptação
dos postos de trabalhos, não tenho reporte de atrasos. Até porque a
verba no IEFP está cabimentada e é mais ou menos certa de ano para ano.
Não tenho relatos de grandes atrasos na atribuição de produtos de apoio
pelo IEFP. Os relatos de maiores atrasos nessa matéria vêm precisamente
da Segurança Social.
SIC Notícias: Qual a percentagem de pessoas com deficiência que estão
atualmente em situação de desemprego em Portugal? E dessa qual a parte
com deficiência visual?
Ana Sofia Antunes: Eu sei quantas pessoas com deficiência em geral estão
neste momento no desemprego. Não tenho esses dados em termos
percentuais, mas em termos unitários. Nós sabemos, de mês a mês, quantos
inscritos temos nos centros de emprego à procura de emprego como pessoas
com deficiência. Nós não temos boa informação estatística sobre
deficiência. Os Censos têm muitas limitações e mesmo os que foram mais
recentemente aplicados, uma vez mais, não foram ao encontro do que nós
defendemos porque não se focam na questão da deficiência tout cour.
Querendo ser tão abrangentes e apanhar tantas situações, acabam por não
nos dar informação fidedigna. O que é questionado não é a caracterização
da pessoa enquanto pessoa com deficiência, mas enquanto pessoa com algum
tipo de incapacidade ou limitação. Isso dá-nos um espetro muito maior de
pessoas. A mim não me interessa saber quantas pessoas temos em Portugal
que dizem ter dificuldades em ver, porque os meus pais têm 70 anos e os
dois têm dificuldades em ver, mas nenhum tem deficiência visual. São
coisas diferentes. Este nível de apuramento na informação que nós
lutámos por ter nos Censos 2021 acabou, uma vez mais, por não acontecer
e perdemos uma excelente oportunidade de conseguirmos ter dados exatos
sobre a caracterização social e económica das pessoas com deficiência em
Portugal.
SIC Notícias: E a falha dessa informação, que peso tem nas medidas para
promover a inclusão?
Ana Sofia Antunes: Tem todo. Se tenho informação mais fidedigna consigo
chegar mais rapidamente a cálculos sobre o custo da implementação de uma
determinada medida. Se estamos a trabalhar uma medida, um dos dados
fundamentais é demonstrar quanto é que ela custa. Se nós não temos
informação precisa, obviamente que estamos a trabalhar por extrapolação
e muitas vezes até extrapolação para cima, que é para tentarmos ser
cautelosos. E isso não ajuda a tentarmos defender algumas medidas.
Marta Paço, a recém-consagrada campeã mundial de surf adaptado, falou com o DN
sobre o seu feito e explicou como é que, sendo cega, consegue realizar
manobras tão perfeitas dentro de água.
São 16 anos já com muito para contar. Marta Paço nasceu cega, mas isso
não a impediu de praticar desporto de alta competição. Depois de ter
experimentado o goalball, desporto coletivo com bola praticado por
atletas que possuem deficiência visual, aos 12 anos apaixonou-se
perdidamente pelo surf. Dois anos depois já se tinha sagrado campeã
europeia em surf adaptado e no passado sábado conseguiu o título de
campeã mundial, na categoria destinada a competidores com deficiências
visuais, no ISA World Parasurfing Championship, que se realizou em Pismo
Beach, Califórnia, EUA. Natural de Viana do Castelo, Marta contou ao DN
os pormenores da prova, o amor pelo surf e porque o mar é o seu lugar
preferido e símbolo de liberdade. Quer ser exemplo e inspirar outras
pessoas com deficiência, porque o impossível...
Já tinha sido campeã europeia em 2019. Pode-se assim dizer que o título
mundial que agora conquistou não a surpreendeu? Sim, é verdade que fui campeã europeia em 2019, mas mesmo assim é sempre
uma surpresa alcançar um feito desta dimensão, até porque já passaram
dois anos do título europeu.
O que recorda da prova? A partir de que momento começou a acreditar que
podia ser campeã do mundo? Havia dois hits em que as duas melhores ondas contavam,
independentemente de serem feitas no primeiro ou no segundo hit. O meu
primeiro hit foi muito bom, o que me permitiu ter alguma segurança para
enfrentar o segundo, pois já tinha duas notas muito altas. O segundo hit
foi decisivo para eu perceber que havia algumas hipóteses de poder
acontecer. No segundo hit tentei melhorar ainda mais, para ficar com uma
segurança a 100%. E felizmente tudo correu conforme o planeado.
Como foram as comemorações em Pismo Beach? Comemorámos aqui na praia, sobretudo com o meu treinador e com a minha
equipa, mas também com as pessoas que estavam na praia. Mas estou
desejosa de comemorar em Portugal com a minha família e amigos. Eles
estão em Portugal [Marta tinha prevista chegada ao Aeroporto Francisco
Sá Carneiro ao início da madrugada desta quarta-feira].
Chegaram-lhe muitas mensagens de felicitações? Quer destacar alguém em
especial?
Tenho recebido milhares de mensagens e já falei com o ministro da
Educação [Tiago Brandão Rodrigues], que foi das primeiras pessoas a
felicitarem-me.
O Presidente da República também lhe deu os parabéns? Não, ainda não me disse nada.
Como é que o surf entrou na sua vida? Tudo começou há quatro anos, quando Viana do Castelo recebeu um meeting
europeu de surf adaptado, que envolvia atletas de Espanha, França,
Itália e Portugal. Fui convidada a experimentar o surf e fiquei logo
completamente apaixonada. Desde então nunca mais parei.
A adaptação foi fácil? Como é que uma pessoa cega consegue realizar
manobras de surf tão perfeitas? É difícil ter um termo de comparação, pois eu sempre fui cega. Mas
sempre tive uma grande ligação com o mar, pois várias pessoas da minha
família são pescadores e o mar nunca foi um grande obstáculo para mim.
Nunca tive medo do mar e sempre estive à vontade lá. Isso contribuiu
para que a minha adaptação ao surf fosse natural.
O seu treinador Tiago Prieto acompanha-a sempre ao mar quando vai
surfar. Qual costuma ser a vossa estratégia? Sim, ele vai sempre comigo desde o primeiro dia. Damo-nos muito bem e
confio nele a 100%. Quando o meu treinador avista uma onda que lhe
parece boa para eu surfar, avisa-me para eu começar a remar. A partir do
momento em que estou na onda, fico por minha conta. Ele ajuda-me apenas
no início a entrar na onda.
É no mar que se sente melhor e mais livre? Sem dúvida. No mar não tenho obstáculos, ao contrário da rua e em todo o
lado. Sou só eu, a prancha e a água.
E tem alguns hóbis? Gosto muito de andar de skate, de sair com os meus amigos... enfim, o
normal para uma pessoa de 16 anos.
Antes do surf praticou alguma outra modalidade? Sim, pratiquei goalball, um desporto voltado para as pessoas cegas e fiz
também um pouco de equitação. Também experimentei outras modalidades. O
desporto foi uma parte fundamental no meu crescimento.
Quais são os seus grandes objetivos a curto prazo no surf e um sonho que
deseja concretizar a longo prazo? A curto prazo gostava de continuar a melhorar o meu surf, para conseguir
ver até onde consigo chegar e desenvolver técnicas com o meu treinador e
com as pessoas que trabalham comigo, de modo a melhorar o meu surf e
ajudar outras pessoas cegas que queiram praticar a modalidade.
Como é a sua relação com os colegas da escola? Eles costumam acompanhar
as suas provas? Seguem muito as minhas provas e são os meus grandes motivadores. Durante
o Mundial enviaram-me mensagens todos os dias e foram falando comigo.
São super importantes para mim e se não fossem eles eu não estaria tão
pronta para enfrentar um Mundial.
Como tem sido a relação com o Surf Clube de Viana, o clube que
representa? O Surf Clube de Viana é como se fosse uma família para mim. Alguns dos
seus elementos estiveram nos Estados Unidos a apoiarem-me. Foi super
importante ter as pessoas amigas e com quem convivo todos os dias à
minha volta. Eles são a parte mais importante da minha carreira, pois é
lá que treino e que passo grande parte do dia.
Como é o seu dia-a-dia? Quantas horas, em média, dedica ao surf? Estudo na Escola Secundária de Monserrate, em Viana do Castelo e por
vezes, nos intervalos, costumo ir à Praia Norte, que é lá muito perto.
Este ano tenho um horário de escola muito bom, pois tenho aulas das
08.30 às 13.30. Da parte da tarde, consigo ir surfar todos os dias e
dedicar-me a outras atividades, nomeadamente aulas de Inglês e de Piano.
A família tem-na apoiado muito nesta carreira desportiva?
Quando comecei a surfar houve algum receio da parte deles, mas hoje em
dia são fãs incondicionais e se as provas são em Portugal apoiam-me
sempre ao vivo. Claro que lhes deve ter custado um bocadinho não estarem
a apoiar-me na Califórnia, mas fomos comunicando sempre. Eles são as
pessoas que estão comigo no dia-a-dia, que me levam aos treinos e me vão
buscar aos treinos. Muitas vezes alteram os planos para me acompanharem
na minha rotina.
Sente que é um grande exemplo para as pessoas que nascem com alguma
dificuldade física, pois demonstra que é possível tornear esses
problemas e alcançar grandes feitos? Acho que sou um grande exemplo, mas tenho noção de que isso acarreta
muitas responsabilidades. Tenho recebido muitas mensagens de pessoas com
e sem deficiência, dizendo-me que se sentiram motivadas para concretizar
projetos e realizar sonhos que achavam impossíveis de concretizar.
Obviamente que é um motivo de grande orgulho, apesar da grande
responsabilidade que sinto.
E vida fora do surf. Que objetivos tem para os próximos anos? Gostava de estudar Relações Internacionais, mas prefiro decidir as
coisas no momento. Gosto de deixar as coisas acontecerem.
Como antevê agora o regresso à "normalidade" em Portugal? Vai ser muito bom. Espero ter algum tempo para estar e conviver
com as pessoas de que gosto e voltar a Viana do Castelo, a minha cidade.
O Prémio Cartaz 3 de Dezembro, distingue o trabalho gráfico que,
através de um cartaz, sensibilize e mobilize a opinião pública para o
reconhecimento dos direitos das Pessoas com Deficiência, celebrado,
todos os anos, no dia 3 de dezembro, Dia Internacional das Pessoas
com Deficiência.
O 1.º Prémio, no valor de 3.000 euros, é atribuído pelo INR em parceria
com o El Corte Inglés, Grandes Armazéns, S.A. Os vencedores deste
Prémio, bem como as Menções Honrosas, recebem também uma peça de arte
oferecida pelo CENCAL - Centro de Formação Profissional para a Indústria
Cerâmica.
O vencedor do Prémio Grafe Publicidade Lda, desenvolveu o cartaz A
DIFERENÇA TEM MUITAS FORMAS, A IGUALDADE É UNIVERSAL. Sobre fundo
azul-claro, vinte círculos alinhados ao centro do cartaz, em quatro
colunas, de cinco círculos. Da esquerda para a direita, há cinco
círculos preenchidos com padrões distintos entre si que representam,
cada um, tipos de deficiência. A maneira como estes estão dispostos foi
inspirada nas palavras “Dia 3” escritas no sistema braille.
Texto: no último terço do cartaz, por baixo dos círculos, da esquerda
para a direita, escrito a branco: “A diferença tem muitas formas, a
igualdade é universal”. Abaixo, em cor diferente, bem maior e num tipo
de letra mais irregular e menos rígida: “3 de dezembro”, abaixo e,
menor, “Dia Internacional das Pessoas com Deficiência”. No canto
inferior direito: QrCode com link para descrição áudio do cartaz. Veja
aqui o cartaz:
A 1ª menção honrosa, Beatriz Costa, utiliza o cartaz com o tema "Vida
que nos Convida". Este cartaz apresenta uma realidade que, embora ainda
não exista na maior parte de Portugal, deve (a meu ver) ser uma visão na
qual possamos acreditar e trabalhar para a tornar real. Uma sociedade
que permita celebrar e conviver; em que a norma não seja impeditiva, mas
realmente inclusiva; em que pessoas com diversos tipos de corpos e
mentes possam habitar e viver em comunidade. Espero quem veja este
cartaz se sinta convidado a sonhar este modo de vida e movido a tentar
concretizá-lo.
A 2ª menção honrosa, da CERCI Lisboa, utilizou o tema
"O Normal é Ser Diferente!!!". Cartaz comemorativo do
Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, com
apontamentos de aguarela, numa composição onde TODOS têm
lugar e existe um lugar para TODOS!
A Universidade de Coimbra (UC) vai inaugurar amanhã (sexta-feira, 3),
pelas 11h00, uma biblioteca inclusiva para pessoas com dificuldades
visuais e neuromotoras. O conjunto de equipamentos e soluções
tecnológicas, cedido pela Fundação Altice e que visam a inclusão de
estudantes com necessidades educativas específicas, está instalado na
Biblioteca Geral da UC.
Inaugurada em pleno Dia Internacional das Pessoas com Deficiência
(3 de dezembro), esta sala inclusiva, pioneira nas bibliotecas das
instituições de ensino superior nacionais, oferece várias soluções para
pessoas cegas ou com baixa visão (como lupas digitais portáteis,
softwares de ampliação, contraste de cores e voz sintetizada e leitores
de ecrã que convertem o texto em voz). E também contém várias
ferramentas para pessoas com limitações neuromotoras (como uma câmara
eyetracker, que permite operar um computador através do movimento dos
olhos, e um software que possibilita aceder ao computador de forma
indireta, como alternativa à interação teclado/rato, comunicar através
da voz sintetizada do equipamento e controlar outros aparelhos).
“Esta é mais uma ação no sentido da promoção da equidade e da garantia
da igualdade de oportunidades, marca d’água da matriz identitária da
Universidade de Coimbra. Esperamos que os novos equipamentos possam
contribuir para o sucesso da carreira académica dos estudantes que deles
necessitem”, afirma o Reitor da UC, Amílcar Falcão
“A Fundação Altice tem no seu ADN a tecnologia com grande enfoque na
área da acessibilidade digital, pelo que este espaço na Biblioteca Geral
é uma iniciativa de enorme relevo na promoção da Inclusão de estudantes
com necessidades educativas específicas. O desenvolvimento de projetos
de inclusão digital e de investigação de novas soluções inclusivas, é um
trabalho com continuidade por duas instituições que partilham os mesmos
valores”, refere, por sua vez, a Diretora da Fundação Altice, Ana
Estelita.
Os equipamentos da biblioteca inclusiva vão ser inaugurados pelas 11h00,
no espaço multimédia da Sala de Leitura da Biblioteca Geral da
Universidade de Coimbra (BGUC), numa sessão – de acesso restrito, mas
aberto à comunicação social – com as intervenções do Diretor da BGUC,
João Gouveia Monteiro, e da Diretora da Fundação Altice, Ana Estelita.
À inauguração, segue-se – a partir das 11h30 – a conferência “UC 4 All”,
com a intervenções do estudante Bernardo Alexandre Lopes, Presidente da
Pró-Secção de Boccia da Associação Académica de Coimbra, e de Maria de
Belém Roseira, Conselheira da Fundação Altice e antiga Ministra da Saúde
e Ministra para a Igualdade. A palestra – aberta a toda a comunidade –
decorre na Sala de São Pedro da BGUC, com abertura a cargo da
Vice-Reitora da UC para os Assuntos Académicos e Atratividade de
estudantes pré-graduados, Cristina Albuquerque, e encerramento pelo
Reitor da UC, Amílcar Falcão.
A partir das 15h00, a Sala de São Pedro da BGUC recebe outra iniciativa
associada ao Dia Internacional das Pessoas com Deficiência: a
mesa-redonda “À conversa… sobre Recrutamento e Inclusividade”, com a
participação de representantes do Instituto do Emprego e Formação
Profissional, da Critical Software, do El Corte Inglés, da Randstad e do
Santander, sob moderação da Vice-Reitora Cristina Albuquerque. Este
debate, particularmente dirigido a estudantes com necessidades
específicas, encerra a programação dos “Dias da Empregabilidade” da
Universidade de Coimbra, um evento único e diferenciador focado nas
saídas profissionais e na preparação do futuro da comunidade estudantil,
que está a decorrer desde 22 de novembro, incluindo workshops, palestras
motivacionais, job talks e espaços de networking com entidades
empregadoras.