Camila Gandini
Muda e cega... Marcel
Marien, 1940-45
A sexualidade, em oposição à idéia comumente atrelada a ela, não se resume aos
aspectos sexuais e reprodutivos. Conforme o conceito da Organização Mundial da
Saúde (OMS), a sexualidade faz parte de nossa personalidade, e consiste de um
aspecto indivisível dos demais aspectos da construção da personalidade humana.
Ainda conforme a OMS, a sexualidade é uma energia que nos motiva a buscar amor,
afeto e intimidade. A sexualidade influencia nossos pensamentos, sentimentos,
nossas ações e interações e, portanto, a saúde física e mental. Sexualidade, ao
contrário de sexo, compreende não só os aspectos físicos do ser humano, mas
também o plano psicológico.
Além dos fatores biológicos, anatômicos e fisiológicos, a sexualidade é
influenciada pelo meio social no qual este indivíduo está inserido. A
sexualidade é vista e abordada de diferentes formas ao redor do mundo. A maneira
como um ocidental lida com sua sexualidade é absolutamente diversa da maneira
como um oriental enfrenta esta realidade. Por vezes, dentro de um mesmo país ou
em países próximos, encontramos diferenças abismais na forma de lidar com a
sexualidade. Além dos aspectos ligados ao meio, a sexualidade é influenciada
pela religião, pela cultura e até mesmo pela classe econômica. A sexualidade,
entretanto, se reflete em nossa personalidade, sem que possamos escondê-la, e
influencia nossas opiniões sem que tomemos consciência.
A relação interior que a pessoa mantém com a sua própria sexualidade se
manifesta em sua postura, em seus gestos, na maneira de falar e se vestir, no
olhar e no caminhar. Quando uma pessoa recebe uma educação sexual repressora,
tende a apresentar uma postura contraída e retraída, com ombros caídos e
voltados para frente, cabeça baixa e andar inseguro. Veste-se de uma maneira que
não chame a atenção e perde o desejo de sentir-se atraente. Em oposição, uma
pessoa que é educada nos moldes equilibrados de educação sexual, desenvolve uma
maior autoconfiança e desejo de investir em sua aparência.
A pessoa cega, ou com baixa visão, por receber uma educação sexual negligente e
repressora, ou por passar a vida ouvindo as pessoas comentarem que ela não
poderá ou não deve buscar relações afetivo-sexuais, pois as pessoas sempre
estarão tentando aproveitar-se dela, ou se aproximarão por algum tempo e depois
desaparecerão, acaba perdendo o interesse por seu corpo e o desejo de fazer-se
atraente aos olhos dos outros. Além da postura e da aparência, a sexualidade
também influencia a maneira de agir e reagir. Pessoas sexualmente reprimidas
tornam-se mais amedrontadas, indecisas e incapazes de suportar a pressão
psicológica, e aqui estamos falando de situações comuns do cotidiano, reuniões
de trabalho, prazos para concluir uma tarefa, etc. Já aqueles que tiveram uma
educação sexual não traumática, tornam-se pessoas mais corajosas, predispostas a
tomar uma decisão e correr os riscos, capazes de lidar com os pequenos medos e
frustrações que vivemos diariamente.
Você talvez esteja se perguntando: mas só a repressão da sexualidade causa todo
este dano? Lembre-se de que a sexualidade é um conjunto de aspectos inerentes ao
ser humano. A expressão da sexualidade se dá pela forma que nós sentimos,
tocamos e somos tocados, agimos e reagimos. Portanto, a repressão da liberdade
de expressão, indiretamente afeta a expressão da sexualidade. Se eu não posso
vestir-me como desejo, e sim como minha família ou o círculo social onde estou
inserido me impõe, eu deixo de ser livre e poder expressar minha sexualidade. E,
considerando o exposto, podemos concluir que a repressão sexual também irá
influenciar diretamente nos processos fisiológicos deste indivíduo, inclusive na
qualidade da sua vida sexual propriamente dita.
Segundo o psiquiatra austríaco, Sigmund Freud, que foi o maior estudioso do
desenvolvimento da personalidade, todo ser humano é movido por uma energia
psíquica, que para os fins didáticos, vou chamar de motivação. Essa motivação é
direcionada principalmente para a obtenção de prazer e satisfação. Deste
conceito nasceu a teoria do desenvolvimento da personalidade, da qual quase
todos nós já ouvimos falar. Em resumo, a principal motivação que impele os seres
humanos a qualquer ação é a satisfação dos seus desejos. Eu não me sinto
motivada a preparar o almoço se não estiver com fome. Repare que isto é
diferente de ter a obrigação de fazer algo. Se eu preciso trabalhar, com ou sem
motivação me levanto da cama as 7 da manhã. Esta quantidade de energia ou
motivação é limitada, e se estiver sendo quase que totalmente direcionada a um
objetivo, não restará motivação para outras atividades. Porém, se nós não
pudermos dar vazão a esta energia, por qualquer motivo, entramos em um estado de
tensão interna, que gera a busca por uma "válvula de escape". E estes desvios de
energia motivacional podem caracterizar transtornos de personalidade. Neste
momento, não falo de doenças mentais, mas sim de desvios que podem ou não se
tornar prejudiciais.
Para que você possa compreender melhor tudo isso, vou abordar brevemente e da
forma mais clara possível, o desenvolvimento psico-sexual descrito por Freud.
Freud descreve quatro fases distintas, pelas quais a criança passa em seu
desenvolvimento. Cada uma dessas fases é definida pela região do corpo a qual a
energia psíquica se direciona. Em cada fase surgem novas necessidades que exigem
ser satisfeitas; a maneira como essas necessidades são satisfeitas determina
como a criança se relaciona com outras pessoas e quais sentimentos ela tem para
consigo mesma. A transição de uma fase para outra é biologicamente determinada,
de tal forma que uma nova fase pode iniciar sem que os processos da fase
anterior tenha se completado. As fases se seguem umas às outras em uma ordem
fixa e, apesar de uma fase se desenvolver a partir da anterior, os processos
nela desencadeados nunca estão plenamente completos, e continuam agindo durante
toda a vida da pessoa.
A primeira fase do desenvolvimento é a fase oral, que se estende desde o
nascimento até aproximadamente um ano de vida. Nessa fase a criança vivencia a
dor e o prazer através da boca. Essa satisfação se dá independentemente da
satisfação da fome. Assim, para a criança sugar, mastigar, comer, morder, cuspir
etc., têm uma função ligada ao prazer,
A segunda fase, segundo Freud, é a fase anal, que vai aproximadamente do
primeiro ao terceiro ano de vida. Nessa fase a satisfação se dirige ao ânus, ao
controle da tensão intestinal. Neste período a criança tem de aprender a
controlar sua defecação e, dessa forma, deve aprender a lidar com a frustração
do desejo de satisfazer suas necessidades imediatamente.
A fase fálica, que vai dos três aos cinco anos de vida, se caracteriza pela
importância da presença ou da ausência do pênis. Nesta fase prazer e desprazer
estão, assim, centrados na região genital.
Nesta fase é que se inicia a repressão sexual, pois até então, o prazer da
criança se direcionava a atividades que os adultos não relacionam à sexualidade,
como alimentar-se e defecar. Na fase fálica, porém, o prazer se volta aos órgãos
genitais, e para sentir este prazer, a criança passa a masturbar-se. E então se
inicia a repressão sexual mais direta. Para fazer com que a criança pare de
masturbar-se, os adultos lhe dizem que isto é feio, que é sujo, e fazem esta
abordagem baseando-se em seus próprios preconceitos e vergonhas, utilizando-se
de termos e maneiras ríspidas, ofensivas e que acabam por transmitir à criança
esta idéia de que aquele prazer é errado, que seus órgãos genitais são sujos e
que ele não deve sentir prazer nesta região. Esta relação negativa com os órgãos
genitais perduram pelo resto da vida, e estas crianças podem vir a desenvolver
distúrbios sexuais na fase adulta, como a anorgasmia, que é a impossibilidade de
atingir o orgasmo.
No caso das crianças cegas, pela falta da capacidade de imitação visual, elas
tendem a perder a consciência de que os outros a estão vendo, e acaba adquirindo
o hábito de masturbar-se em locais públicos, como na escola. Como a educação dos
cegos é bastante negligenciada pela família que tem pena de corrigi-lo, ou
porque o considera "coitado demais" para sofrer frustrações, ou porque o entende
como deficiente mental, incapaz de compreender o certo e o errado, é muito comum
que famílias superprotetoras acabem por não orientá-lo e esta criança cresce, se
torna adolescente, e continua a masturbar-se na sala de aula, o que a expõe ao
ridículo diante de todos.
Então você me pergunta: mas se repreender traumatiza e não repreender acaba
nesta situação desagradável, o que fazer? O erro não está em corrigir a atitude
da criança, o erro está em reprimir. O correto então, é ORIENTAR. Orientar
significa explicar à criança que ela pode sim se tocar, descobrir seu corpo e
explorar seu próprio prazer, mas que ela deve fazer isso apenas em situações
onde as pessoas não estejam vendo, como no banho, no seu quarto antes de dormir,
etc. Não se pode Negligenciar, mas nem por isso é necessário reprimir. Existe
uma diferença sutil nas palavras reprimir e repreender. Repreender é corrigir,
apontar o erro e explicar qual a maneira correta de agir. Reprimir é fazer com
que a criança se sinta culpada, suja e envergonhada por seu erro. Afinal, ela
não o teria cometido, caso tivesse sido orientada antes mesmo de começar a
fazer.
Depois da agitação dos primeiros anos de vida, segue-se a fase de latência, uma
fase mais tranqüila, que se estende até a puberdade. Nessa fase as fantasias e
impulsos sexuais ficam adormecidos, tornando-se secundários, e o desenvolvimento
cognitivo e a assimilação de valores e normas sociais se tornam a atividade
principal da criança.
Nesta fase, as crianças que são superprotegidas e tiveram seus impulsos sexuais
reprimidos na fase fálica, percebem-se em uma circunstância de tranqüilidade,
onde ela não é reprimida, e sente-se satisfeita por ter podido adormecer os
desejos antigos, que ela imagina terem sido adormecidos por sua própria
necessidade de não ter desejos a controlar e não correr o risco de sofrer novas
repressões. As famílias, de modo geral, incentivam drasticamente este período,
passando a instalar na mente da criança idéias de repulsa à puberdade, ao
casamento e a vida sexual, temendo que ela chegue à fase da explosão dos
hormônios, e volte a masturbar-se como fazia antes. Novamente, temos a repressão
em detrimento da orientação e da educação. Em casos como estes, encontramos
adultos com gostos e comportamentos típicos de uma criança que se encontra na
fase de latência, preocupados em absorver conhecimento, e que defendem
fervorosamente a idéia de que não irão se casar nem ter filhos. A maturidade
emocional destes indivíduos fica estagnada e suas conversas giram em torno de
assuntos infantis e inocentes.
A última fase do desenvolvimento psico-social é a fase genital, que se dá
durante a adolescência. Nessa fase os desejos sexuais, depois da longa fase de
latência e acompanhando as mudanças corporais, despertam-se novamente, mas desta
vez se dirigem a um objeto externo ao seu corpo, como uma outra pessoa. os cegos
em geral, nesta altura da vida, não desfrutam da liberdade, das possibilidades e
do convívio social da mesma forma que os outros adolescentes. E por este motivo,
não têm para onde direcionar sua energia psíquica, que primordialmente estaria
focada na sexualidade. Alguns adolescentes, quando sexualmente reprimidos,
acabam por direcionar sua energia a outro comportamento que seja socialmente
aceito, como os esportes radicais. Mas o cego, neste contexto, está limitado por
sua dependência e imobilidade. Então ele pode tornar à fase fálica, satisfazendo
seus desejos em seu próprio corpo, através da masturbação excessiva, ou desviar
seus impulsos para algo que esteja ao seu alcance, como por exemplo a comida, e
desenvolver doenças como a obesidade, a hipertensão e o diabetes.
Estes processos são descritos por Freud como mecanismos de defesa. Os mecanismos
que definem os exemplos acima são a regressão, a fixação e a sublimação.
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Regressão consiste em a pessoa retornar a comportamentos imaturos,
característicos de uma fase de desenvolvimento pelo qual a pessoa já passou. O
exemplo do adolescente cego que, durante a fase genital, retorna à fase fálica,
por não ter com que se ocupar nem em que aplicar sua energia psíquica é um caso
de regressão.
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Fixação é um congelamento no desenvolvimento, que é impedido de continuar. Uma
parte da líbido permanece ligada a um determinado estágio do desenvolvimento e
não permite que a criança passe completamente para o próximo estágio. Neste
conceito se enquadra aquela criança que fixou na fase de latência, e foi
impedida de seguir seu desenvolvimento natural.
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Sublimação é a satisfação de um impulso inaceitável através de um
comportamento socialmente aceito. A sublimação caracteriza o exemplo do
adolescente cego, que por não possuir atividades que lhe permitam gastar sua
energia, acaba por compensar seus impulsos e ansiedades alimentando-se
exageradamente.
Existe um mito de que a educação sexual leva ao início precoce da atividade
sexual. De modo geral, as famílias não falam sobre sexo com seus filhos, por
pensar que se falarem, os adolescentes irão sentir-se autorizados ou
incentivados a iniciar sua vida sexual. Então estabelece-se o silêncio em torno
do assunto. Os pais imaginam que o silêncio demonstra que sexo é tão proibido
que nem mesmo falar sobre ele está permitido. Mal sabem eles, que tudo o que é
misterioso e oculto, gera uma sede de descoberta quase incontrolável.
Desmistificar e educar para a sexualidade, permite que o adolescente se prepare
e tenha consciência dos seus atos. Sem a informação, sem a educação, ele buscará
descobrir por si, e descobrirá, com ou sem a ciência ou a autorização dos pais.
E esta descoberta desorientada provavelmente o levará a cometer inúmeros erros,
dos quais ele próprio se arrependerá e cujas conseqüências podem influenciar a
vida de todas as pessoas próximas, como uma gravidez precoce. Lembrando mais uma
vez, que educar e orientar não é reprimir.
A deficiência é normalmente vista como uma doença, e por ser doente, o cego é
considerado desinteressante e deserotizado. Para os videntes, leia-se pessoa que
vê, a sexualidade está intimamente ligada à visão. As pessoas normalmente buscam
por seus parceiros visualmente, as primeiras trocas afetivas se dão pelo olhar,
e, em virtude disso, consideram que o cego não seja capaz de desenvolver a sua
sexualidade, partindo de um princípio absolutamente errôneo, o de que o desejo
sexual parte da atração visual. Em realidade, os seres humanos atraem-se por
diversos fatores, incluindo o cheiro, o tom e o timbre de voz, a postura, os
gestos, as características que, de alguma forma, denunciam sua personalidade. E
o instinto sexual parte de um sistema ativo em todas as pessoas, mesmo que
tenham múltiplas deficiências, porque, como citei anteriormente, a sexualidade é
uma energia que nos impele a buscar amor, afeto e intimidade. O homem é um ser
social e necessita conviver, e é em busca dessa convivência que nossos instintos
escolhem alguém para partilhar dor e prazer. Se para os adolescentes que
enxergam, o tema da sexualidade já é negado pelos pais, para o adolescente cego
esta situação se agrava ainda mais, ele enfrenta uma dupla negligência.
Primeiramente, não se admite a sua sexualidade, e consequentemente, a sua
educação sexual é ignorada.
O adolescente que enxerga aprende através das informações visuais. Ele tem
acesso à televisão, que no Brasil, exibe sexo deliberadamente, ele pode buscar
na internet por fotos e vídeos, pode assistir filmes e ler revistas. A pessoa
cega, por não ter acesso a estes recursos, necessita de outros métodos para
construir estas imagens em sua mente.
E neste ponto, ela encontra as barreiras atitudinais de sua família, e por vezes
de seus professores. O professor é uma figura psicologicamente muito importante
na vida do adolescente. Neste período, no qual as curiosidades e as vergonhas
travam intensas batalhas na mente humana, o adolescente sente-se mais à vontade
em perguntar ao professor. Primeiro porque ensinar é sua função, e depois, por
não haver uma relação afetiva direta. Por isso, a educação sexual da pessoa
cega, de modo geral, acaba acontecendo na escola. Aliás, terceirizar a educação
dos filhos tem sido um hábito cada vez mais recorrente em nossa sociedade.
O professor, neste contexto, se torna um possível aliado deste adolescente, que
necessita buscar em alguém, as respostas que o mundo lhe nega.
Mas então, quais as soluções para a educação sexual eficaz da pessoa cega?
Os
métodos que cito aqui, são úteis tanto para a família, quanto para os
professores de sala de aula regular ou de sala de recursos. Tendo em vista que o
cego não pode criar uma representação mental a partir de uma figura gráfica,
será necessário o emprego de metodologias alternativas, ou seja, tudo aquilo que
possibilite o aluno compreender o que está sendo ensinado. Em minha formação
fundamental, durante o estudo do corpo humano, a professora propôs que, no turno
inverso, sob a orientação da professora da sala de recursos, eu fizesse as
representações dos órgãos e sistemas com massinha de modelar. Isto me
possibilitou criar imagens muito detalhadas das gravuras, pois eu podia
compreender, não só o formato do órgão em si, mas também de que forma ele se
ligava aos demais órgãos e em que posição eles estavam dispostos uns em relação
aos outros.
O ideal, seria que tivéssemos a nossa disposição peças anatômicas
específicas, como os úteros e vaginas que encontramos em consultórios
ginecológicos. Na impossibilidade de encontrá-los em sua cidade, uma alternativa
seria adquiri-los via internet. Não havendo forma de se utilizar materiais
profissionais como estes, uma solução prática pode ser a utilização de objetos
de sex shop. Procurando, se pode encontrar alguns objetos interessantes, que ao
menos reproduzam as formas dos órgãos sexuais. Afinal, um menino cego conhece o
pênis, mas não tem como saber como é a estrutura de uma vulva ou vagina. Da
mesma forma, uma menina cega não faz a menor idéia de como seja um pênis adulto.
Pode até ser que ela consiga conhecer o do irmão, ou do primo, durante a fase
fálica, mas não terá uma noção exata de como é este órgão depois da puberdade.
Adaptar materiais exige uma generosa carga de criatividade. Certa vez, assisti a
um vídeo de uma professora que, para representar os testículos e o sacro,
colocou dois ovos de codorna dentro de um saquinho de pano, e amarrou na ponta.
Nos tópicos em que não se consiga fazer uma representação tátil, o professor ou
o familiar, poderá se utilizar da audiodescrição. Audiodescrever, consiste em
transformar imagens em palavras. E as suas palavras se transformarão em imagens
na mente da pessoa cega. As comparações neste caso, são de fundamental
importância. Sempre que descrevo um pulmão humano real para alguém, uso uma
comparação que reproduz com fidelidade a sensação tátil que eu senti ao tocar um
pulmão humano verdadeiro, "é como se fosse uma esponja molhada". Para nós,
cegos, as texturas e formas contribuem muito na formação das imagens mentais.
Além disso, quando se abordam objetos que podem ser trazidos para a sala de
aula, como os preservativos, deve-se utilizar exemplares reais.
A utilização de recursos didáticos deste tipo, ampliam o aprendizado de toda a
turma, não apenas do aluno cego. Meus sistemas orgânicos, confeccionados em
massinha de modelar, sempre eram utilizados pela professora para instruir toda a
turma. Desta forma, o aluno cego não se sente e nem é colocado em uma situação
de desvantagem ou de exclusão, mas sim em uma situação de igualdade, pois todos
aprendem juntos.
A sexualidade, em última análise, é uma questão de saúde física e mental, que é
direito de todos, e a educação sexual é dever do Estado, da família, da escola e
da comunidade. A convenção internacional dos direitos da pessoa com deficiência,
prevê que todos os países, ao ratificarem seu texto, assumem o compromisso de
garantir ao deficiente a saúde plena, inclusive a saúde sexual e reprodutiva.
A saúde sexual refere-se às áreas da medicina envolvidas com a reprodução humana
e comportamento sexual, as doenças sexualmente transmissíveis, os métodos
contraceptivos, anticoncepcionais, entre outros.
Segundo a OMS, a definição de saúde compreende um estado de completo
desenvolvimento físico, mental e bem-estar social, e não meramente a ausência de
doença ou enfermidade. A saúde reprodutiva ou saúde sexual, aborda os processos
reprodutivos, funções e sistemas de todas as fases da vida. A saúde reprodutiva,
portanto, implica que as pessoas sejam capazes de ter uma vida sexual
responsável, gratificante e segura, e que tenham a capacidade de reproduzir-se e
a liberdade de decidir, quando e com que freqüência irão fazê-lo.
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Camila Gandini é Psicoterapeuta do Portal da Deficiência Visual.
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