Visão subnormal e Cegueira
Tanto a visão subnormal quanto a cegueira podem causar situações
constrangedoras para o indivíduo com deficiência visual na relação com a
família, escola e trabalho. A deficiência visual pode também estar associada a outras
deficiências. Após diagnóstico oftalmológico, surgem situações indagantes para o
oftalmologista e a preocupação com a manutenção e a melhora da qualidade de vida de
seu paciente.
O que pode ser feito?
- Esclarecer a família e/ou paciente sobre o diagnóstico;
- Encaminhar para serviços de habilitação/reabilitação, em qualquer faixa etária, o
mais precocemente possível;
- Orientar a família e/ou paciente sobre a importância da habilitação/reabilitação
para promover o desenvolvimento do indivíduo deficiente visual;
Serviços de habilitação/reabilitação:
A equipe multiprofissional da habilitação/reabilitação é composta por profissionais
da área da saúde e da educação com especialização em deficiência visual, que
facilitará:
- o acolhimento da família;
- a melhora da eficiência visual e do desenvolvimento neuro-psicomotor;
- a adaptação na vida familiar, escolar e no trabalho, auxiliando a ampliar as
perspectivas da família e do paciente;
- melhorar a eficiência visual;
- facilitar a integração dos sentidos remanescentes;
- resgatar a auto-estima;
- melhorar o vínculo afectivo;
- prevenir futuros défices;
- inserir a criança no sistema educacional regular;
- adaptar auxílios ópticos e não ópticos necessários à melhora da eficiência
visual;
- favorecer o pleno desenvolvimento sócio-afectivo;
- propiciar o acesso a recursos tecnológicos e materiais adaptados;
- promover e resgatar a autonomia e independência pessoal-social;
- favorecer a colocação e a readaptação profissional.
Bebés
Se você tem entre seus pacientes um bebé cego ou com deficiência visual, ajude-o a
ter contacto com o mundo exterior. Quando for cuidar dele no hospital ou no consultório
médico, lembre-se que vivemos cercados por sons, odores e sensações que podem ajudá-lo
a formar uma imagem do ambiente que o cerca. Bebés cegos não percebem "pistas"
visuais que possam preveni-los sobre uma situação desagradável. É importante despertar
a curiosidade do bebé e ajudá-lo a participar do mundo.
Procure chamar o bebé pelo nome, fazendo-o entender que ele faz parte dos
acontecimentos. Ele aprenderá a se concentrar em pistas auditivas, tácteis e olfactivas
para entender o que está acontecendo ao seu redor.
Fale muito com o bebé, pois a voz humana sugere uma interacção. Mesmo que não
compreenda as palavras, os sons e o tom de sua voz estabelecem uma relação entre vocês.
Avise sobre um desconforto que vai ocorrer. Um ligeiro bater de calcanhares antes de
aplicar injecções ou tomar a temperatura por exemplo, permite ao bebé associar esta
pista auditiva com o acontecimento de um facto desagradável. Isto evita um retraimento
generalizado e manterá o bebé receptivo a um contacto humano positivo.
Toque gentilmente na mão do bebé antes de lhe apresentar um objecto. Isto impede a
ideia falsa de que as coisas aparecem do nada, ou desaparecem para dentro do nada. Os
bebés cegos aprendem o conceito de "permanência do objecto" através dos
outros sentidos. Este conceito dá ao bebé a noção, de que o objecto existe mesmo
quando não está presente.
Segure o bebé enquanto estiver alimentando-o estabelecendo assim, um contacto físico
positivo, que irá compensar algum desconforto do tratamento hospitalar. Isso possibilita
ao bebé compreender o processo da alimentação.
Guie as mãos do bebé para que ele apalpe e sinta as diferentes texturas, estimulando
sua curiosidade e o sentido do tacto. Isso pode ajudá-lo a estabelecer o conceito de
alcançar, de pegar e segurar os objectos.
Toque o bebé sempre que possível. O único conhecimento que os bebés cegos têm do
mundo é através dp contacto com pessoas. Sem seu aconchego eles permanecerão isolados
do ambiente. Descreva as partes do corpo do bebé ao ir tocando e massageando gentilmente
cada uma delas. Faça com que ele perceba estes movimentos delicadamente, ao mesmo tempo
em que toma consciência da imagem do seu corpo. Carregue-o com frequência, ajudando-o a
entender que é parte do mundo e não um mundo dentro de si próprio.
Brinque com o bebé cego sempre que possível. Nessa fase inicial de sua vida ele
precisa de muita interacção positiva. Mime-o um pouco.
Recém-nascidos
É importante agir cuidadosamente com o bebé recém-nascido, cujo sistema nervoso
muitas vezes ainda não se encontra suficientemente amadurecido e tem dificuldade para
tolerar alguns estímulos. Suas energias estão concentradas em sua sobrevivência.
Lembre-se sempre de:
-
Falar com o bebé antes de tocá-lo ou pegá-lo no colo, ajudando-o a antecipar esta
acção.
-
Entender as reacções de todo seu corpo e não apenas de seus olhos. Lembrar-se que o
bebé ainda não estabelece ligações significativas com outras pessoas, ou nem mesmo
compreende que existem outras pessoas.
-
Condicionar o bebé a associar a voz humana ao contacto físico, através de conversa
suave e agradável antes de cuidar dele.
-
Desenvolver padrões para os cuidados regulares, condicionando o bebé a antecipar
mudanças e dessa forma levar menos sustos. Por exemplo, ao colocar a sonda de
alimentação diga-lhe: "é hora de comer" e gentilmente toque seu narizinho
antes de inseri-la para que ele possa antecipar e entender o que vai acontecer.
Pré-escolares
Geralmente na fase pré-escolar, as crianças cegas com desenvolvimento normal, já
formaram algumas associações e imagens para compreender o mundo. Elas têm noção da
permanência do objecto e estão começando a entender relações de causa e efeito.
A mobilidade ajuda-as a satisfazer a curiosidade e saber o que está acontecendo à sua
volta, entendendo as descrições verbais. 0 isolamento total é trágico nesta fase,
representando rejeição de um mundo do qual elas apenas tem alguma percepção.
Evite o isolamento da criança e a sensação de rejeição agindo sempre com os
seguintes cuidados:
-
Dirija-se à criança pelo nome quando entrar no aposento, mesmo que você só esteja de
passagem. Isto reforçará a sensação de contacto humano e reduzirá qualquer sensação
de isolamento.
-
Explique sempre o que você está fazendo. Diga-lhe quando está servindo água,
tomando-lhe o pulso ou anotando na papeleta. A criança ficará atenta a padrões e
começará a entender o que se passa. Isto reduzirá seu medo do desconhecido.
-
Avise a criança quando ela for sentir algum desconforto: isto evitará um medo
generalizado.
-
Descreva a sala e as mudanças de ambiente. Se ela for para o Raio X, por exemplo,
descreva o caminho para que ela possa usar "pistas" sensoriais tais como odores
e sons.
Faça a criança caminhar bastante, tanto quanto possível. A criança cega em fase
pré-escolar, desenvolve uma percepção do espaço através da mobilidade. A falta de
mobilidade pode levar ao isolamento, tornando-a retraída.
Mantenha a TV, o rádio e outros sons artificiais desligados tanto
quanto possível, permitindo que ela possa compreender os outros sons do ambiente.
Apresente-lhe muitos objectos incentivando-a a manuseá-los. Mostre-lhe
a comida da bandeja, como ela está distribuída e como abrir as vasilhas. Coloque a
"campainha de pedir auxílio" num lugar acessível e mostre-lhe o funcionamento.
No banheiro, conte onde está o papel higiénico, o sabonete, etc. Isto vai ajudá-la a se
tornar independente e a sentir, que suas próprias acções desencadeiam relações de
causa e efeito.
Esclareça sobre procedimentos e ambientes estranhos, mesmo que ela ainda não possa
compreendê-los. O comentário sobre as actividades, e o seu tom de voz, irão
tranquilizá-la nesse ambiente diferente; por exemplo, se o berço que a criança usa em
casa não tiver grades e de repente ela for colocada em um berço com grades, poderá
sentir-se enjaulada e vai estranhar muito mais do que uma criança vidente.
Evite discutir com outras pessoas a situação da criança quando ela
estiver presente. Ela compreende muito mais do que demonstram suas expressões.
Crianças pré-escolares com deficiência visual
As crianças que estão na pré-escola correm o risco de que outras crianças pensem
que elas enxergam mais do que realmente enxergam. Além disso, a pouca visão pode
distorcer a imagem visual do objecto e interferir com sua percepção. O uso funcional da
baixa visão pode ser ainda mais prejudicado pelas circunstâncias estressantes de uma
internação hospitalar, devido ao ambiente estranho e separação da família.
Nunca se esqueça:
-
Dirija-se à criança pelo nome, e apresente-se ao entrar no quarto, para desempenhar
suas tarefas. Apresente-lhe as outras pessoas que também venham a participar da tarefa.
-
Explique como as coisas funcionam e ajude-a a explorar os objectos com suas próprias
mãos, apalpando coisas, tais como estetoscópios e cadeiras de rodas. Isso reforça as
mensagens visuais.
-
Estabeleça com ela bastante contacto positivo, tanto verbal como físico para lhe
proporcionar a sensação de aprovação, mesmo que ela não possa ver o que se passa.
A criança que ficou cega recentemente
A criança que ficou cega há pouco tempo tem que lidar com dificuldades especiais e
muitos temores. Sua ajuda neste momento inicial é muito importante para sua adaptação.
Lembre-se de mostrar-lhe que ela não está sozinha. É comum que ela
sinta um isolamento assustador com a perda da visão e sinta ansiedade quando for deixada
sozinha.
Uma conversa calma pode diminuir o medo. Ela ainda não desenvolveu a
capacidade de entender as diferentes inflexões de voz. Use o tom da sua voz para
confortá-la.
Dê-lhe muito contacto físico positivo. A criança não tem mais a
possibilidade de ver as coisas a que estava acostumada, como por exemplo os olhares de
aprovação que lhe davam segurança. Compense esta falta com contacto físico.
Ajude-a a aprender através do tacto. Estimule a criança a apalpar e manusear objectos
e peça-lhe para descrever o que está vivenciando. A criança pode repelir essa
experiência táctil, portanto faça-o de modo cuidadoso.
Os médicos e o atendimento clínico
Qualquer criança pode se sentir estressada ao passar por uma consulta médica ou ir a
uma clínica. Pacientes cegos ou com deficiência visual não podem acompanhar a
experiência à medida em que ela ocorre.
Não esqueça de:
-
Descrever a sala de exame: deixe a criança explorar activamente o local. Isso diminui
seu desconhecimento. Por exemplo se ela souber que existe uma pia dentro da sala, será
capaz de associar o ruído da água caindo, com o facto do médico estar lavando as mãos.
-
Colocar objectos para ela brincar na sala de espera que sejam adequados à sua idade.
-
Mesmo sabendo que será uma consulta de rotina não lhe diga "não doerá".
Sem visão para distrair seus pensamentos durante a espera, ela poderá ficar pensando nas
consultas anteriores quando realmente doeu.
-
Evitar o desgaste, não fazendo da dor o centro das atenções. Deixe
a criança escutar os relatos positivos a seu respeito e evite comentar em sua presença o
que há de errado.
Peça ao médico que se lembre dessas orientações na hora em que ele for atender
pré-escolares, cegos ou deficientes visuais. Sugira ao médico que chame a criança pelo
nome, que explique o que irá acontecer e o porquê, com antecedência; que permita à
criança manipular os instrumentos a serem usados, com uma explicação do modo como
entrarão em contacto com seu corpo.
Encoraje os pais a fazerem com antecedência um pequeno ensaio antes da
consulta ao médico com a criança, quando for possível. Os pais podem brincar de tirar a
medida, o peso, a temperatura, e checar os reflexos. Faça com que a criança inspire
profundamente e ausculte o seu coração. Deixe a criança, brincar de médico, tendo um
dos pais, outra criança ou uma boneca como paciente. Se, com antecedência você souber o
tipo de exame que o médico fará na criança, explique-o aos seus pais e peça-lhes que
transmitam a ela uma explanação sobre a rotina do mesmo. Seja sincero e garanta à
criança que esses procedimentos são normais. Inclua brincadeiras de simular uma sala de
espera por exemplo, com outros pacientes, telefones e recepcionistas.
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texto adaptado do livro:
Δ
publicado
por
MJA
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