Lisabeth Cléa Britto de Souza

Trabalhadora cega - Aleksey
Myakishev, 1995
Tem dias que a gente se sente
como quem partiu ou morreu...
A gente estancou de repente ou
foi o mundo então que cresceu...
Chico Buarque de Holanda in Roda viva
A IMPORTÂNCIA DA REABILITAÇÃO ENTRE OS DEMAIS
SERVIÇOS
PRESTADOS AOS PORTADORES DE CEGUEIRA ADQUIRIDA
Estancar a vida é a sensação que tem
uma pessoa que está perdendo ou repentinamente perdeu a visão.
Segundos
relatos de adolescentes e adultos, que participam do Programa de Reabilitação
e Reintegração existente na Sociedade de Assistência aos
Cegos.
Como fazer para continuar me sentindo útil?
Manter meus amigos próximos? Minha família aprender a lidar comigo e aceitar
essa nova realidade? Como me aceitar? São alguns dos questionamentos presentes
no pensamento do portador de cegueira adquirida.
A perda visual como qualquer outra perda,
se apresenta como um vagão que descarrilou e saiu do trilho; desestrutura,
abala os sentidos, a comunicação, a locomoção e decresce a facilidade na
escrita e na fala. Ao primeiro impacto desenvolve um quadro
depressivo, que exigirá do indivíduo, uma forte e sólida estrutura emocional
para enfrentar a realidade implacável, mas que ocorre de forma diferenciada e
proporcionalmente valorativa, ao conteúdo emocional e meio social em que se
encontra.
Para alguns, uma experiência aterradora,
para outros um desafio a vencer. Cada um passa a fazer uma retrospectiva de
vida, revisão de valores, descobertas de habilidades, resgate de conhecimentos
e potenciais até então adormecidos.
Segundo Tomas J. Carrol, "a reabilitação
é o processo criado para restaurar uma vida humana que foi lesada, é com a
reabilitação que os adultos afetados por diferentes graus de desamparo, de
perturbações emocionais e de dependência, atingem uma nova compreensão de si
mesmos e de sua incapacidade, adquirindo novas habilidades, necessárias para
superarem sua situação atual, o novo controle de suas emoções e de seu meio
ambiente".
A reabilitação exige primeiramente o
conhecimento de tudo o que cada um perdeu ao se tornar cego; quem era ele quando
tinha visão. Compreender que ao perder a visão o adolescente ou adulto, passam
a vivenciar uma experiência inédita, ter que descobrir e estimular os sentidos
remanescentes, desmistificar a incapacidade do cego em relação ao trabalho e
tarefas cotidianas, amenizar o relacionamento muita vezes conturbado com os
familiares. Todos estes fatores se apresentam como
desafio ao portador de cegueira adquirida. A reabilitação total se processa em
aspectos distintos a saber:
Aspecto Social - O portador de cegueira
adquirida aprenderá técnicas para funcionar com independência, na locomoção,
na comunicação e outros setores da vida diária. A locomoção possivelmente
seja a maior perda que o indivíduo sofre ao ficar cego. O aprendizado do
Braille, reabrindo o horizonte para a leitura e escrita. A conservação dos hábitos
de higiene, os cuidados para manter a boa aparência física e a naturalidade
nos gestos e postura.
Aspecto Emocional - Toda mudança cobra
adaptação e acomodação às situações que a realidade apresenta.
Convencer-se de que passará o resto da vida cego é para muitos uma luta
interior que se trava em silêncio, mas que necessita do apoio psicológico de
um profissional, com o propósito de promover a aceitação de que nem tudo está
perdido e que com treinamentos adequados poderá voltar a viver feliz.
Aspecto Profissional - Nada justifica que a
cegueira leva o indivíduo a trabalhar só com as mãos, muitas tarefas são
possíveis intelectualmente e mais ainda quando o portador de cegueira adquirida
já possuir uma profissão definida e anterior ao infortúnio. O advento da
informática na reabilitação do cego veio ampliar ainda mais o leque de opcões
para continuar vencendo os obstáculos e retomar as actividades profissionais.
As actividades manuais desenvolvem
habilidades até então inexploradas e estimulam a sensibilidade tátil, que é
essencial para a leitura braille; os aposentados e adolescentes que não tiveram
chance de freqüentar ensino regular poderão usufruir dos treinamentos em
oficinas de vassouras, empalhamento ou bijuterias, abrindo caminhos para uma
autonomia profissional.
A pessoa que ficou cega deve estar
capacitada em sentir-se à vontade em suas actividades rotineiras; sentir-se em
condições de dispensar ajuda e voltar ao mesmo tipo de ocupação que exercia
antes da cegueira ou pelo menos uma actividade que se assemelhe. O importante é
que o indivíduo possa continuar desfrutando da mesma posição social e
profissional que gozava antes.
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Δ
publicado
por
MJA
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