Dr.ª Fátima Bessa e Dr.ª Rosa Afonso

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Fátima Bessa
é médica-pediatra, mestre em Psicologia do
Desenvolvimento e Educação da Criança - Intervenção Precoce. Actualmente é
coordenadora técnica da UADIP - Unidade de Avaliação do Desenvolvimento e Intervenção
Precoce.
Rosa Afonso é licenciada em Psicologia, pela Faculdade de Psicologia e Ciências
da Educação da Universidade do Porto, e mestre em Psicologia do Desenvolvimento e
Educação da Criança - Intervenção precoce. Actualmente é psicóloga na U.A.D.I.P.
Este artigo foi elaborado com a colaboração da Dra. Salomé Gonçalves, especialista de
oftalmologia pediátrica.
O bebé nasce com competências visuais. Mas o seu aparelho visual, quer
do ponto de vista anatómico quer funcional, tem alguma imaturidade que rapidamente se vai
ultrapassar. Para isso é importante que os estímulos visuais se adequem às
competências do bebé, tendo em conta as suas preferências e a distância. A troca de
olhares é uma das primeiras cumplicidades entre a mãe e o bebé que acaba de nascer.
No início os bebés preferem as caras humanas a qualquer outro estímulo. São
particularmente atractivos para os bebés os movimentos das caras e as expressões faciais
a uma distância entre os 20 e os 25 cm. Esta é a distância que separa os olhos do bebé
dos da sua mãe quando lhe está a dar de mamar. O bebé começa por fixar o olhar e
rapidamente aprende a seguir as pessoas ou os objectos que se movem. A este acompanhar do
movimento das coisas com os olhos juntam-se posteriormente os movimentos da cabeça. A
distância a que a criança vê vai também aumentando.
A visão é fundamental para a educação e o desenvolvimento global da criança. Dá uma
perspectiva dinâmica e fascinante do mundo, servindo para estimular a mente, a
comunicação e a personalidade. A qualidade da visão depende da integridade quer do olho
quer do sistema nervoso central (SNC) - cérebro.
O olho é formado por várias estruturas, todas elas interferindo na qualidade da visão,
permitindo que a luz exterior penetre no olho, vá impressionar a retina e que, através
das células nervosas aí existentes e do nervo óptico, seja enviada para o cérebro.
Como estruturas que são responsáveis pela visão na criança temos:
Olho:
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Córnea - capa que forra a parte anterior do olho, como que um vidro de relógio. Sendo
transparente, deixa-nos ver a parte anterior do olho. Permite que a luz exterior entre no
olho.
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Cristalino - lente transparente que existe por detrás da pupila. Foca a imagem que
vemos e deixa passar a luz que irá impressionar a retina.
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Retina - camada que forra a porção interna do globo ocular e que contém células
nervosas responsáveis pela visão. Estas células captam a luz vinda do exterior.
Cérebro:
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Nervo óptico - é o prolongamento do olho ao cérebro. Conduz a informação, as
mensagens trazidas pelas células nervosas da retina até ao cérebro.
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Quiasma
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Tracto óptico
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Fitas ópticas
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Córtex visual - fim do trajecto, área de descodificação da mensagem. É o centro da
visão. Fará a interpretação do que foi visto.
As causas
Uma boa visão obriga à integridade de todas estas estruturas e, pelo contrário, a
alteração em qualquer destas estruturas pode ser causa de baixa visão na criança.
Podemos ter um olho são, mas se tivermos lesões cerebrais que impeçam ou dificultem a
passagem da mensagem enviada do olho ao córtex visual, a visão estará comprometida.
Pelo contrário, pode o SNC não estar afectado, mas haver anomalias oculares. O olho
terá dificuldade/impossibilidade em captar a luz e em transmiti-la ao córtex visual.
São diversas as causas de baixa visão/cegueira na criança. Nos países desenvolvidos as
causas mais comuns são as doenças do sistema nervoso central e as doenças genéticas da
retina.
Se o comprometimento visual nestas situações é irreversível, existem outras causas que
não são devastadoras, mas tratáveis e com bom prognóstico, tanto melhor quanto mais
precocemente forem detectadas e corrigidas.
A mais frequente destas causas é o defeito retractivo e/ou estrabismo. Um desenvolvimento
visual anormal ocorre sempre que a imagem que cai na retina não esteve focada nos
primeiros meses ou anos de vida. Tal acontece quando se tem um defeito de refracção ou
estrabismo.
A idade em que teve início a alteração, o tipo de defeito, a idade de início de
tratamento e o cumprimento do tratamento são factores que pesam no resultado visual. Uma
criança que nasce com má visão nunca se queixará que vê mal. Nunca soube o que era
uma boa visão e não tendo tido termo de comparação, acha a sua visão normal. Pelo
contrário, se já teve melhor, queixar-se-á.
Uma baixa visão unilateral em geral não é notável salvo se:
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for notório um estrabismo;
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o olho com melhor visão venha também a ter uma baixa de visão;
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acidentalmente tapar um olho e reparar que não vê bem do olho destapado.
A baixa visão monocular em geral manifesta-se como um estrabismo (um olho não
alinhado com o outro). Nos casos em que tal não acontece, normalmente só na idade
escolar é detectável. Conforme a causa de diminuição da acuidade visual, assim
variará o período crítico de tratamento.
Se o defeito for retractivo e considerável e/ou existir um estrabismo, o tratamento
deverá iniciar-se antes dos 3 anos de idade, visto ser antes desta idade que o maior
êxito é garantido, já que é precisamente até aos 3 anos que se desenvolvem as
funções visuais.
Corrigir tardiamente estes defeitos, quer dizer, tentar dar visão a um olho que não
aprendeu a ver na altura devida, que não teve o desenvolvimento normal e que ficou
"preguiçoso". Este olho, com muita dificuldade, vai melhorar de imediato a
visão, ao contrário do outro olho que foi mais usado e treinado a ver.
A criança pequena raramente se queixa de baixa acuidade visual. A suspeita de baixa
visão é levantada pelos pais, familiares ou educadores/professores, tendo em conta o seu
comportamento em casa ou na escola.
Se durante os primeiros dois meses o bebé não fixa ou não segue com o olhar as
pessoas ou objectos que se deslocam em frente aos seus olhos, será um primeiro alerta
para falar com o seu médico e precocemente detectar algum problema visual.
A criança pequena raramente se queixa de baixa acuidade visual. A suspeita de baixa
visão é levantada pelos pais, familiares ou educadores/professores, tendo em conta o seu
comportamento em casa ou na escola. Com a criança calma, à frente de imagens que em
geral lhe interessam, a mãe tapa com a mão um dos olhos. Se a criança obstar obviamente
a esta oclusão, poderá traduzir menor visão no olho destapado. Se, ao fazer o mesmo no
olho que primeiro esteve destapado, não obstar tão obviamente à oclusão, poderá
querer dizer que este olho tem melhor visão que o primeiro.
Se o défice visual for severo, podem existir sinais como:
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olhar fixo para a luz intensa;
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tremor das pálpebras;
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existirem movimentos dos olhos involuntários e não coordenados (nystagimus);
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efectuar movimentos rápidos de abanar as mãos frente aos olhos;
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não sorrir e desinteressar-se com o que a rodeia;
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ter desinteresse pela TV ou aproximar-se dela de tal maneira que, para perceber as
imagens, mova a cabeça para as acompanhar;
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cair muito e à medida que vai tendo maior capacidade de marcha, sem apoio, serem
notórias as quedas;
Caso o compromisso visual não seja tão marcado:
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desinteressa-se pelos objectos que lhe estão longe, salvo o que estiver na sua mão;
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aproxima-se dos livros;
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aproxima-se da TV;
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roda a cabeça para fixar - pode mascarar um estrabismo;
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encerra as pálpebras para ver melhor;
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na escola vê mal para o quadro ou refere que vê mal as letras nos cadernos ou que as
letras saltam quando está a ler;
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na rua, com a luz do Sol, tem tendência a fechar um olho;
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lacrimejo e dor de cabeça relacionados com a fixação prolongada.
Mesmo não havendo suspeita de defeito visual, os pais devem perguntar-se:
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Há problemas oculares na família?
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Alguém usa óculos muito graduados?
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Há familiares com estrabismo?
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Há doenças transmissíveis na família?
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Algum familiar tem problemas fora do comum?
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O crescimento da criança tem sido normal?
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Comparando-a com os outros filhos ou primos há diferenças?
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Existe consanguinidade entre os pais (existem laços de parentesco entre os pais?
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Os seus familiares notam algum defeito na criança?
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A mãe durante a gravidez teve febre ou eritemas?
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Durante a gravidez ou amamentação houve ingestão de medicação/álcool ou drogas?
Perante as suas dúvidas, dirija-se ao seu médico de família ou pediatra que, depois
de o observar, o encaminhará para um médico oftalmologista ou para um serviço
especializado.
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Fonte: Educare - 28-5-2001 e 4-6-2001
O Portal da Educação
- Porto Editora
Δ
publicado
por
MJA
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