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 Sobre a Deficiência Visual

Normas Técnicas para a Produção de Textos em Braille

Edison Lemos, Jonir Cerqueira, M.ª Gloria Mota & Regina Oliveira

- excerto -

Blinde Kinder beim Unterricht - August Sander - fotografia c.1930
Crianças Cegas durante uma Aula - fotografia de August Sander, c. 1930

 

Índice
Considerações gerais
1. Adaptação de textos para transcrição
2. Transcrição de textos
3. Revisão de textos em braille
4. Impressão braille
Normas práticas para a transcrição de textos em braille
5. Capas
6. Índice
7. Desenhos
8. Figuras
9. Gráficos
10. Bibliografia
 

Considerações gerais

A produção braille de qualquer texto requer procedimentos apropriados e compreende etapas distintas, a saber:

  • A adaptação do texto.

  • A transcrição em papel ou clichê, a digitação ou a digitalização para microcomputadores.

  • A revisão em papel ou em clichê.

  • A impressão em papel.


Cada uma dessas etapas requer, ainda, cuidados especiais, demandando certos conhecimentos e alguma experiência na matéria, além de pleno domínio do Sistema Braille.

As transcrições de textos para uso individual de pessoas adultas, experientes na leitura em braille, dispensam, naturalmente, alguns dos detalhes anteriormente destacados. Quando se trata, porém, de livros, apostilas e outros impressos destinados a estudantes, temos de levar em conta, além de outros, os aspectos até agora abordados.


1. Adaptação de textos para transcrição

Os livros modernos, principalmente os didáticos, têm apresentações gráficas que dificultam sua transcrição direta para o braille, sem uma prévia adaptação.

A adaptação do texto, preferentemente, deve ser feita por profissional que domine a matéria em apreço, sob risco de serem alteradas ou omitidas informações essenciais ao conteúdo. Recomendamos a este profissional atender as seguintes orientações:

a) Manter fidelidade ao texto original, de modo que qualquer alteração gráfica não modifique o conteúdo da obra.


b) Efetuar a leitura integral do texto, mesmo que a transcrição seja de apenas parte do livro ou apostila.


c) Considerar as alterações importantes e assinalá-las com clareza e objetividade no próprio texto ou em papel à parte. Para este efeito, muitas vezes é necessário transcrever em papel pequenos trechos para verificar a impressão tátil que eles produzirão.


d) Sugerir, em casos especiais, que o conteúdo a ser transcrito seja complementado por material apropriado, como mapas, gráficos, tabelas, (duplicados em Thermoform, por exemplo).


e) Indicar a diagramação mais adequada para o texto braille, baseado no conteúdo da matéria e no nível escolar em questão.


f) Prever, com a possível margem de erro, o número de páginas em braille resultantes e recomendar a divisão da obra em volumes, respeitando a divisão entre as unidades em que foi organizado o conteúdo.
 

g) Avaliar se todas as palavras destacadas por variação de cores e tamanho necessitam, realmente, merecer sinais de maiúsculas, caixa alta e grifo. O uso exagerado desses sinais, que antecedem cada palavra em braille, além de dificultar a leitura, não produz o mesmo efeito que os recursos mencionados proporcionam à visão.
 

h) Considerar os desenhos, fotos, gráficos, tabelas e outras formas de representação, avaliando a real necessidade de reproduzi-los em relevo e as condições técnicas de o fazer, de acordo com os equipamentos disponíveis. Quando as figuras têm o caráter de simples ilustração, pode-se deixar de produzi-las em relevo, sem prejuízo do conteúdo. Se necessárias, precisam ser representadas no próprio livro ou em material complementar a este. No caso de as figuras necessitarem ser descritas, deve-se fazê-lo com clareza, utilizando poucas palavras e enfocando os aspectos essenciais ao assunto a que se referem. As descrições não se devem confundir com o texto do livro, razão por que recomendamos destacá-las por linhas em branco, linhas pontilhadas ou outras formas previamente estabelecidas para casos semelhantes.


2. Transcrição de textos

Os processos de adaptação, transcrição e revisão são naturalmente sucessivos, mas, de acordo com a sistemática de trabalho da unidade de produção, podem desenvolver-se de forma associada.

A revisão do texto deve sempre ser feita por uma pessoa cega que domine o Sistema Braille.

A transcrição braille pode ser feita em papel ou clichê, por digitação no computador ou, ainda, por digitalização, utilizando-se um scanner conectado a um micro.

O aproveitamento de textos armazenados em discos ou disquetes, editados anteriormente para impressão no sistema comum em editoras, entidades promotoras de concursos, por exemplo, merece atenção muito especial por parte da unidade de produção braille.

Algumas adaptações serão sempre necessárias, particularmente quanto aos sinais de maiúsculas, de algarismos, e à diagramação do texto em braille.

A transcrição em papel geralmente se destina a cópia única, para uso individual ou coletivo, como também à duplicação em Thermoform, para cópias múltiplas. Esta forma de transcrição requer muita precisão na escrita, pois as modificações no texto são difíceis e, por vezes, impossíveis, necessitando-se, freqüentemente, refazer páginas inteiras. Aconselhamos deixar, sempre, espaços em cada folha (linha em branco ao final da página) para o caso de se refazerem folhas já concluídas. A cópia em clichê é feita em máquinas de estereotipia, existentes em unidades de grande porte. No Brasil, utilizam-se como matrizes placas finas de liga de alumínio e, no exterior também, lâminas de PVC. Esses materiais possibilitam algum tipo de correção, embora também se deva seguir a orientação dada anteriormente quanto a se deixarem espaços em branco.

A digitação de textos no microcomputador presta-se tanto à produção de material em clichês, quanto em impressoras computadorizadas. Este processo permite grande facilidade para correção, alteração do texto, mudança de diagramação, etc. Favorece a revisão na tela do monitor, além de possibilitar a impressão em papel para trabalhos de revisão por um leitor cego.

A cópia de textos via scanner (digitalização) é um processo muito rápido, mas sua eficácia dependerá da forma gráfica em que se apresente o texto. Muitas vezes, as tarefas de ajustar o texto, eliminar e substituir caracteres incorretos tornam a digitalização desaconselhável para certos trabalhos de transcrição braille.

Os processos de transcrição apontados requerem, sempre, do profissional, domínio do Sistema Braille nas suas várias formas de aplicação. Este deve dispor de tabelas e códigos de símbolos braille para consultas imediatas.

A unidade de produção precisa possuir dicionários em diferentes línguas, Formulário Ortográfico da Língua Portuguesa, além de outras obras de consulta, incluindo um manual específico para transcrição de textos para o braille.

Os programas de computador que permitem a visualização dos textos em pontos na tela, exatamente no formato braille, oferecem maior segurança para os transcritores, pois diminuem a necessidade de repetidas correções após a conclusão da tarefa.

Os profissionais incumbidos da adaptação e da transcrição de textos para o braille, sem prejuízo de aspectos estéticos, devem preocupar-se com a funcionalidade da diagramação, objetivando maior velocidade de leitura e facilidade na localização de títulos, linhas, itens, notas e observações, etc., por parte do usuário de braille. A participação de um profissional cego é indispensável em situações de dúvida sobre o efeito tátil que produzirá determinada apresentação da escrita braille.

O que se revela “bonito” para os olhos, nem sempre é funcional para a percepção tátil.


3. Revisão de textos em braille

A revisão de textos em braille deve ser feita por uma pessoa cega, usuária do sistema e que domine algumas de suas diversas aplicações. Um certo conhecimento de gramática da Língua Portuguesa contribui favoravelmente para a eficiência do trabalho de um revisor.

A revisão braille pode ser escalonada em, pelo menos, dois níveis distintos:

  • Primeira revisão: confronto do texto copiado com o original em tinta. Geralmente realizado por uma pessoa vidente e uma pessoa cega. Durante a primeira revisão podem-se corrigir alguns erros e assinalar dúvidas que serão esclarecidas posteriormente (incorreções gramaticais, impropriedades, etc., do livro em tinta).

  • Segunda revisão: normalmente feita por uma pessoa cega, de forma solitária. Permite assinalar no próprio texto em braille ou em papel à parte, as modificações que se devam efetuar, posteriormente, pelo transcritor, ou levantar dúvidas pertinentes sobre o texto verificado.

Observação Importante: Deve constituir-se em rotina a verificação das correções feitas no texto braille. As grandes unidades de produção possuem um consultor braille, profissional com profundos conhecimentos nas diferentes aplicações do sistema e vasta experiência no campo de sua produção.


4. Impressão braille

As impressões de livros são feitas, em geral, no papel de gramatura 120, admitindo-se medidas superiores até 180. Empregam-se, ainda, papéis de gramatura 90 para trabalhos de simples revisão de textos. Gramatura ou grama por metro quadrado é o peso de uma folha de papel medindo um metro quadrado.

É importante manter-se uma cor padronizada de papel para os livros de uma mesma unidade de produção. Os textos produzidos em matrizes de liga de alumínio ou de PVC são duplicados em prensas elétricas. Nas que imprimem em folhas soltas, o trabalho depende da introdução de cada folha no clichê. As prensas rotativas utilizam papel em bobinas e atingem grande velocidade de impressão. Modernamente, entre nós, vem-se generalizando o uso de impressoras braille computadorizadas. Sua fabricação atende a usos individuais (pequeno porte) e a aplicações profissionais (médio e grande portes.

Quanto ao aproveitamento da folha, algumas imprimem apenas em uma face; outras, em ambos os lados do papel. Algumas imprimem em folhas soltas e em formulários contínuos; outras, apenas em formulários. As dimensões das folhas variam, de acordo com o porte do equipamento.

As velocidades são medidas em caracteres por segundo.

A diretoria da unidade de produção braille deve definir, com base em pareceres de professores e de técnicos, as medidas dos livros a serem impressos, de acordo com os usuários a que se destinam.

a) A linha braille deve conter no máximo quarenta celas, deixando sempre uma margem esquerda suficiente para a encadernação.

b) A página deve constar de, no máximo, vinte e seis ou vinte e sete linhas, sendo a primeira linha reservada para paginação.

A encadernação mais adequada para o material produzido em impressoras computadorizadas é a que utiliza espirais de plástico, pois oferece as seguintes vantagens:

  • rapidez e baixo custo;

  • substituição de folhas, de forma simples;

  • movimentação das folhas em torno da espiral, reduzindo a área ocupada pelo livro, quando aberto.
     



Normas práticas para a transcrição de textos em braille organizadas em conformidade
com a
Grafia braille da Língua Portuguesa


5.  Capas

Nas capas dos livros braille, a transcrição deve ser feita de maneira estética, com os dizeres centralizados na página.

Cada volume deve conter uma folha de rosto em tinta e uma folha de rosto em braille. Estas folhas devem ser colocadas antes da primeira página da obra.

Observação Importante: As capas dos livros em tinta têm, geralmente, uma apresentação essencialmente visual, com destaques nos tamanhos, cores e disposição das letras. Deve-se fazer um estudo minucioso dessas apresentações, objetivando sua melhor representação em braille, sem prejuízo do conteúdo.

 

6. Índice

O índice deve ser transcrito substituindo-se o número da página em tinta pela correspondente em braille.

Cada volume do material transcrito terá, no início, seu índice próprio.

Os itens que compõem o índice devem ser transcritos a partir da margem esquerda. Caso o item seja muito extenso e ocupe mais de uma linha, a continuação deve começar na terceira cela.

Em transcrição informatizada, o índice geral deverá vir no primeiro volume.

Em transcrição em Máquina Perkins, o último volume deverá conter o índice geral da obra.

Os pontos em tinta que ligam o conteúdo ao número da página são transcritos com os pontos 25, deixando-se um espaço após o conteúdo e outro antes do sinal de algarismo.


7. Desenhos

Desenhos e outras ilustrações são cada vez mais freqüentes em livros, principalmente didáticos. Isto exige uma avaliação muito acurada do adaptador de texto braille que, preliminarmente, determinará quais ilustrações devem ser mantidas e quais serão suprimidas.

Muitas vezes, é possível substituir os desenhos por palavras (um substantivo ou uma breve descrição) sem prejudicar a compreensão do leitor. No entanto, há casos em que, procedendo desta forma, o texto adaptado pode fornecer a resposta a um exercício proposto. Neste caso, não se deve substituir a ilustração por palavras mas, sim, fazer o desenho em relevo.

Na total impossibilidade de fazer o desenho ou a adaptação, os enunciados deverão ser transcritos, normalmente, acrescentando-se no final a orientação: “Peça ajuda ao seu professor”.


8. Figuras

Em tinta, não é raro o uso de desenhos ou figuras geométricas para representar uma lacuna a ser preenchida pelo aluno. Neste caso, não fazer o desenho ou a figura geométrica em relevo e utilizar os pontos 3 3 3 3 3.

Uma atividade, por exemplo, em que o aluno deve substituir uma estrelinha ou um quadrado por um adjetivo ou substantivo. Neste caso, no lugar da figura, representam-se “pontinhos”, “lacunas” ou equivalente, obedecendo às orientações sobre lacunas:

"Os pontos das lacunas - pontos 3 3 3 3 3 - são usados para representar o espaço a ser completado por um aluno, candidato, etc., em livros didáticos, exames, ficha de identificação e similares."


 9. Gráficos

Reproduzir em relevo um gráfico em tinta, além de trabalhoso para o transcritor, nem sempre é eficaz para o leitor de braille. Portanto, ao se deparar com um gráfico, proceda da seguinte forma:

  1. Se o gráfico existir para efeito de ilustração, deve-se transformá-lo em tabela, substituindo eventuais figuras por seus nomes.

  2. Por outro lado, se o autor adotou o recurso para treinar um aluno a ler gráficos, o ideal é que a forma original seja mantida em relevo, mesmo que seja trabalhoso para o transcritor.


10. Bibliografia

Os nomes dos autores e os dados da obra devem ser transcritos de acordo com o original, com a seguinte diagramação:

a) A partir da margem, reiniciando-se na terceira cela da linha seguinte, caso haja continuação.

b) Anteceder com um travessão as letras do alfabeto que dão início ao bloco de nomes.

c) Sem linhas em branco entre os nomes iniciados com a mesma letra.

d) Pular uma linha, quando houver mudança de letra.

e) O traço em tinta que indica ser o autor o mesmo da obra anterior, é transcrito com travessão, seguido, imediatamente, do ponto final.

FIM


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excerto de:

NORMAS TÉCNICAS PARA A PRODUÇÃO DE TEXTOS EM BRAILLE
texto elaborado por: Edison Ribeiro Lemos, Jonir Bechara Cerqueira, M.ª Gloria Batista da Mota & Regina Caldeira de Oliveira
Secretaria de Educação Especial
Ministério da Educação
Brasília, 2006
obra integral:  http://portal.mec.gov.br/

 

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18.Abr.2012
publicado por MJA