Sonja Ekvall, Clara Hõglund e Asa Karlsson

Lição de leitura pelo tacto dada por uma
professora cega - foto de 1926
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Alguns conselhos
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Percepção do corpo
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Percepção do espaço
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Desenvolvimento de conceitos
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Conceitos básicos
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Discriminação táctil
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Várias ideias para jogos de treino
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Discriminação auditiva
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Motricidade fina
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Os deficientes visuais podem ter prazer em desenhar?
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Sugestões para fazer livros com a criança
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O passeio maravilhoso na floresta
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Apresentação das células Braille
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Exposição sobre os caracteres Braille
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O texto no meio ambiente
Este material destina-se a ti, que vais estar em contacto com as crianças que irão
aprender a escrita ponteada. O material complementa o material pré-escolar existente, por
meio do qual são treinados os conceitos, antes da aprendizagem da leitura e da
matemática. Como é natural, ele não satisfaz todas as necessidades do futuro professor
de escrita ponteada, antes do início do ano escolar, mas poderá servir-te de apoio,
quando começares a trabalhar com os teus alunos. As partes do material que melhor se
adaptam a cada caso particular deverão ser aproveitadas. Para isso deves partir dos
seguintes princípios: O que a criança sabe. O que a criança mais precisa de aprender
neste preciso momento. O que a criança quer saber fazer nesse preciso momento. Tenta
motivar a criança a querer fazer o maximo que puder. Isto irá reforçar a sua identidade
e constitui a base da futura aprendizagem.
Lowenfeld (1973) é de opinião que as crianças com deficiências visuais graves têm
necessidade de exercícios preparatórios antes de aprenderem a ler, mais do que
aquelas que vêem.
ALGUNS CONSELHOS A QUEM CONVIVE COM CRIANÇAS COM
DEFICIÊNCIAS VISUAIS GRAVES
Não te esqueças de dizer quem és quando falares com uma criança deficiente visual.
Dizer o nome da criança quando responderes. Dizer-lhe quando te vais embora. Não deixar
a criança sozinha, num sítio desconhecido. Explicar o que está à sua volta. Quando lhe
mostrares uma coisa, guiar as suas mãos e descrever ao mesmo tempo as cores, a forma e a
função.
Ficar atrás da criança quando lhe mostrares um determinado movimento. Faz esse
movimento com ela. Se ficares em frente dela, o movimento é feito ao contrário, como se
estivesses em frente dum espelho, o que dificulta a sua compreensão. Referir os sentidos
e os objectos, com os seus nomes próprios. A criança não tem possibilidade de
compreender expressões tais como «ali», «aqui», etc. Usar as palavras olhar e ver.
Explicar-lhe que nem tudo o que se vê se sente, nem tudo o que sente se vê. Caso
contrário, podera haver uma certa confusão quanto aos conceitos. Descrever as grandezas,
a partir do corpo da criança. Por ex., tão grande como a tua mão, tão comprido como o
teu braço. Explicar-lhe antes de ela tocar numa coisa, que está quente, fria ou húmida.
Caso contrário, a criança poderá deixar de ser curiosa. deixar todas as coisas nos seus
lugares. dizer-lhe quando mudaste qualquer coisa de lugar. Deixar que a criança vá
buscar e arrumar o seu material. Deixar que a criança apanhe o que deixou cair no chão.
Diz-lhe onde é que está. Por ex., o giz está junto do teu pé direito. Ter uma base
fixa quando a criança estiver a trabalhar em cima duma mesa (tabuleiro, alguidar, etc).
As mãos que tentam-perceber os objectos em cima duma superfície, perdem-se facilmente.
Quando a criança utiliza a máquina de escrever pontos, deve faze-lo em conjunto com um
adulto, para que a posição dos dedos seja correcta desde o princípio. É difícil
corrigir defeitos na posição dos dedos.
A vivência do próprio corpo e dos seus movimentos, através dos sentidos, chama-se:
PERCEPÇÃO DO CORPO. A percepção corporal significa:
Saber os nomes das partes do corpo.
a. Reconhecer as palavras e demonstrá-lo apontando para as partes correspondentes,
quando as palavras são pronunciadas.
b. Apontar uma determinada parte do corpo, em si mesmo e noutra pessoa.
c. saber dizer os nomes das partes do corpo.
Saber as funções dos orgãos dos sentidos e das partes do corpo. Por ex., os olhos
vêem, os ouvidos ouvem, as mãos apalpam, agarram, dão.
Saber os nomes dos movimentos e demonstrá-lo virando-se, sentando-se, gatinhando,
andando, conforme o que for dito. Saber o que significam palavras que indicam movimento,
como por ex., dobrar-se, esticar, rodar, levantar, etc. Saber executar movimentos e dizer
o que está a fazer. Saber que uma perna está dobrada ou esticada, que a mão está
aberta ou fechada, etc. Compreender a relação entre as diversas partes do corpo, que
elas formam um todo e que podem ser activadas por alguém que sou eu.
A percepção do corpo como um todo corresponde a um conceito mais evoluido do que
identificar as diversas partes. A percepção do corpo depende da visão e por isso mesmo
é importante que a criança deficiente visual faça muitos exercícios para compreender o
seu próprio corpo.
Através do próprio corpo é possível aprender as posições, os níveis, as
distâncias, as formas, as grandezas, como por ex: o nariz fica por cima da boca as
orelhas estão nos lados da cara a cabeça está no cimo do corpo os pés estão mais em
baixo a barriga é grande - o umbigo é pequeno os braços são compridos - as mãos são
pequenas. É possível dar as mãos: junto um do outro - longe um do outro. Encolher o
corpo como uma bola, redondo. Esticá-lo para ficar comprido e direito. É possível
aprender a contar, começando pelo corpo, que tem uma boca, dois olhos, cinco dedos e
muitos, muitos cabelos.
Quando se está a trabalhar com uma criança deficiente visual, é necessário seguir
uma determinada ordem na aprendizagem de movimentos.
1. Faz tudo em conjunto com a criança. O adulto deve mostrar com o seu próprio corpo.
A criança não tem outras possibilidades de imitar. É preferível executar alguns
movimentos por detrás da criança, para ficarem «direitos».
2. Em seguida, faz os movimentos ao lado da criança, que assim continua em contacto
com o corpo do adulto. A criança também executa os movimentos.
3. A criança faz os movimentos sozinha.
Diz as palavras direita-esquerda, mesmo se a criança ainda não compreender os
conceitos. Ela aprendê-los-á mais tarde se nós, adultos, formos teimosos e continuarmos
a utilizá-los.
À vivência das características do meio envolvente chama-se: PERCEPÇÃO DO ESPAÇO.
A percepção do espaço significa: Saber avaliar o seu próprio tamanho e a sua posição
em relação com o meio envolvente. Saber avaliar a distância, a direcção, a grandeza,
etc., de outros objectos em relação uns aos outros. Compreender o significado de
palavras que indicam posição e direcção, como por ex., à frente - em cima - em baixo
- aqui, ali - perto, longe - dentro, fora, etc. Compreender características tais como
grande, pequeno, largo, estreito, duro, macio, etc. Saber usar estas palavras descritivas
no contexto próprio.
Uma má percepção do espaço - não poder «encontrar» - acarreta enormes
dificuldades à criança deficiente visual quando tentar deslocar-se e orientar-se no
espaço real. Também pode ser-lhe difícil aprender a estrutura das células Braille.
Durante os exercïcios com o espaço e as formas é muito importante que a criança
fale do que está a fazer e que o diga com palavras.
Como já se disse anteriormente, é importante que a criança deficiente visual tenha
possibilidade de adquirir uma boa percepção do seu próprio corpo e do espaço que a
rodeia o mais cedo possível. Isto irá ajudá-la a relacionar-se e a íntervir no seu
meio, a aprender assim todos os outros conceitos.
DESENVOLVIMENTO DE CONCEITOS
Súmula do desenvolvimento de conceitos na criança que vê:
1. Permanência do objecto (a criança é capaz de reconhecer o objecto que já viu,
por altura dos 9 meses, aproximadamente, segundo Piaget). Constância do objecto (a
criança compreende que o objecto existe, mesmo quando o não vê, por altura dos 18
meses, aproximadamente, segundo Piaget).
2. O objecto é identificado e nomeado.
3. A criança aprende o que distingue um determinado objecto.
4. Classificação - a criança e capaz de abstrair objectos conhecidos.
5. Generalização. Símbolos. Este desenvolvimento verifica-se durante a idade
pré-escolar e chega ao seu fim quando a criança já está em idade escolar, numa fase um
pouco mais adiantada.
A criança passa por três níveis distintos, durante o desenvolvimento dos conceitos.
1. Nível concreto.
2. Nível funcional.
3. Nível abstracto.
A visão desempenha um papel relevante no desenvolvimento dos conceitos.
Algumas diferenças significativas entre o desenvolvimento dos conceitos na criança
que vê e na criança com deficiências visuais graves.
A criança deficiente visual grave adquire os conceitos de permanência e de
constância do objecto bastante mais tarde do que a criança que vê. Entre muitos outros
factores, isto depende de, por ela não ver, levar mais tempo a realizar que o objecto
ainda existe, mesmo quando já não o segura na mão.
É difícil para a criança deficiente visual grave ficar com a percepção exacta de
um objecto distante. Ela adquire conhecimentos sobre qualquer objecto, mexendo-lhe e, na
maioria dos casos, aprei de a conhecê-lo começando pelas suas partes até chegar ao seu
todo. O sentido do tacto tem aqui as suas limitações e é difícil, sem ver, ficar com a
noção do aspecto desse objecto. «Devido às limitações do sentido do tacto, a
criança deficiente visual grave faz progressos, só em determinada medida, no seu
desenvolvimento partir dos níveis concreto e funcional até ao nível abstracto, na
aquisição de conceitos» (Zweibelson e Berg, 1967).
CONCEITOS BÁSICOS
A criança deficiente visual grave utiliza frequentemente muitas palavras, mas é
vulgar não existirem conceitos correctos por detrás de tantas «palavras vazias».
Muitos dos conceitos básicos, que essas palavras representam, têm de ser aprendidos.
Para preencher essas lacunas no mundo representativo da criança, de um modo coerente,
devemos proporcionar-lhe vivências concretas de objectos e eventos no seu meio
envolvente, ao mesmo tempo que dizemos os seus nomes e lhe falamos sobre eles. Este é um
dos pressupostos para que ela possa aprender a compreender a linguagem falada, que por sua
vez e a base para ser capaz de aprender a ler e a escrever a escrita ponteada.
Nas «Directivas gerais para o ensino de conceitos a crianças invisuais» (Lydon e
McGraw, 1973) são dados alguns conselhos que podem ser muito úteis quando se está a
ensinar à criança varios conceitos.
1. O adulto e a criança não conseguem fazer-se compreender porque apesar de usarem as
mesmas palavras e expressões, elas têm, para eles, significados diferentes. Por
conseguinte, veja bem se querem dizer a mesma coisa quando estão a falar um com o outro.
2. A criança tem dificuldade em distinguir as suas próprias sensações dos
acontecimentos externos, numa determinada situação. Isto pode causar-lhe muita
confusão. É preciso, portanto, clarificar essas diferenças. 3. Os conceitos não podem
ser aprendidos verbalmente. Eles devem basear-se na manipulação táctil activa. 4.
Muitas crianças são capazes de descrever objectos e eventos sem compreenderem, de facto,
o sentido do que dizem. Faça perguntas e deixe que a criança demonstre que compreendeu.
5. Não se deve usar «expressões visuais» para descrever objectos à criança
deficiente visual. 6. Certos objectos podem ser fáceis de perceber através da visão,
mas difíceis de compreender por meio do tacto, o que causa muita confusão à criança
deficiente visual. Feche os olhos e verifique se o objecto pode ser utilizado. 7.
Aproveite situações naturais para ensinar os conceitos. 8. Torne a aprendizagem
divertida. 9. É importante que todas as pessoas que estão em contacto com a criança
utilizem as mesmas denominações na aprendizagem dos conceitos.
Alguns exemplos de exercícios de treino de conceitos na primeira fase de aprendizagem
da leitura e da matemática:
IGUAL - DIFERENTE
Descobrir as semelhanças e as diferenças entre vários objectos, escolhê-los. Por
ex., colheres, garfos, botões, folhas, cubos, brinquedos.
GRANDEZA Grande - pequeno Maior - menor
O maior - o menor Maior que - menor que Igual
Material: uma lata pequena e outra grande, um prato de papel com pequenos objectos em
cima. Berlindes grandes - berlindes pequenos. Pedras grandes - pedras pequenas.
Instruções: Pôr todos os objectos grandes dentro da lata grande e todos os objectos
pequenos dentro da lata pequena. - Usar os vários conceitos na comparação, por ex.
brinquedos, cadeiras, roupa, sapatos, tijelas, latas, panelas. - Comparar pequenos
objectos, por ex., móveis de boneca com móveis verdadeiros, etc.
COMPRIMENTO
Comprido - curto Mais comprido - mais curto Mais comprido que - mais curto que
- Escolher paus em função do comprimento. - Escolher meias em função do
comprimento. - Comparar a altura das crianças. Quem é o mais alto, quem é o mais baixo?
- Fazer uma fila em função da altura. - Tocar notas no piano. Quais são as curtas,
quais as compridas?
ALTURA
Alto - baixo Mais alto - mais baixo Mais alto que - mais baixo que.
- Construir torres com cubos. Qual é a mais alta, qual é a mais baixa? - Mudar a
posição do corpo, para que uma parte fique mais perto possível do tecto, e outra junto
do chão. Por ex., cabeça, costas, mãos, pés. - Lá no alto, cá em baixo, na sala de
aulas, na escola. Subir para cima duma mesa, chamar pelos que estão sentados no chão.
Subir vários andares e chamar os que ficaram em baixo, na escada.
PESO
Pesado - leve Mais pesado - mais leve Mais pesado que - mais leve que
- Usar material disponível em situações naturais. Por ex., durante as refeições
há boas ocasiões para comparar pesos, por ex., as embalagens do leite.
- Sacos de pano, cheios de areia. Escolher o mais pesado. Pôr os sacos em fila, em
função do seu peso.
ESPESSURA
Grosso - fino Mais grosso - mais fino Mais grosso que - mais fino que
Mais grosso - mais estreito Mais grosso que - mais estreito que
- Escolher bocados de pano, papel, em função da espessura. - Comparar pauzinhos,
lãs, fias. O mais grosso, o mais fino? - Medir com os braços os troncos das árvores. O
mais grosso, o mais fino? Provar comida, molhos grossos, molhos finos.
LARGURA
Largo - estreito Mais largo - mais estreito Mais largo que - mais estreito que
Medir a dIstância com passos e comparar, por ex., a largura do passeio, da rua, do
caminho, da escada, etc. Pôr um tapete ou uma tábua larga e um tapete ou uma tábua
estreita no chão e andar em cima. Rasgar ou cortar tiras largas e estreitas de papel.
Comparar.
ESTRUTURA - TEXTURA
Duro - macio Rugoso - liso
Andar em cima da relva, areia, cascalho, asfalto, chão de madeira, tapete macio. O que
e mais duro, mais macio, mais rugoso, mais liso. - Apalpar as paredes. Mais rugosas, mais
macias. - Comparar a textura de vários bocados de pano. - Comparar almofadas.
POSIÇÃO
Dentro - fora
Para dentro - para fora
Dentro - por cima - por baixo
Em cima
Em cima - em baixo
Mais em cima - mais em baixo
Por de cima - por de baixo
Em cima - em baixo, ao de cima - debaixo - entre
Frente - atrás
æ frente - atrás - ao lado
Junto - longe
ESPAÇO:
Dentro de casa. Lá fora, no jardim. - Salta por cima. - Senta-te debaixo da árvore. -
Tira os objectos para fora da caixa e mete-os lá dentro. - Em frente da casa. Por detrás
da casa. - Parte da frente e de trás da roupa. - Sentar ao lado. - A bola está a tua
frente - atrás de ti. - Ficar junto, dar as mãos. - Ficar longe, sem tocar nas mãos,
mesmo com os braços estendidos. - Pôr-se baixo, para cima. - Deixar-se cair para baixo,
levantar-se para cima. - Mais em cima, no meio, mais em baixo.
Conceitos treinados por meio de exercícios de escolha de objectos colocados em cima
duma placa de contraplacado ou de cartão grosso, com bordos feitos com tiras calefactoras
coladas. - Mais ao alto, mais em baixo, no papel. A criança tem de aprender que mais ao
alto é o mesmo que mais longe do seu corpo. Pôr a folha de papel na vertical, em frente
da criança. Deixar que a criança ponha a sua mão no lado mais alto do papel, seguindo-o
quando a folha cai em cima da mesa. Mais alto quer dizer o mesmo que mais longe. Quando se
falar de «mais baixo», em relação à folha de papel, isso significa o mesmo que «mais
perto da barriga». - Quando a criança que vê desenha objectos em cima duma linha, o
aspecto é, na maioria dos casos, este: O O O. Os círculos estão, de facto, por
cima da linha. Nós aprendemos a escrever em cima da linha. Quando a criança deficiente
visual coloca objectos em cima duma linha, feita por exemplo, com um fio de lã, o aspecto
é quase sempre este: -O-O-O-. A criança põe os objectos em cima da linha.
SEQUÊNCIA TEMPORAL
- Primeiro - depois - último antes depois 1º - 2º - 3º etc.
- Esperar a sua vez.
- Calendário: ano, mês, dias da semana.
- Ouvir três sons. Por ex., abrir uma gaveta, cortar com uma tesoura, escrever com um
lápis. O que aconteceu primeiro, depois, por último?
- Memorizar palavras de ordem: primeiro vamos tirar os casacos, depois vamos lavar as
mãos e por último vamos comer.
NûMERO
Todos - um sim, um não. Todos - muitos - alguns - nenhuns - um. Tantos. Mais do que -
menos do que. Um mais - um menos.
Material: Caixas de fósforos com botões de madeira colados. Número 1 - 6. Prato de
papel com botões de madeira soltos. Instruções: Contar os botões colados na caixa de
papel, pôr o mesmo número de botões dentro da caixa. - Material: Prato de papel com
bocadinhos cortados de palhinhas de beber e contas. Uma agulha grossa e fio grosso.
Instruções: Fazer um colar com bocadinhos das palhinhas e contas, alternados. -
Material: Prato de papel com contas, circunferências de papel grosso, com e sem orifïcio
ao meio. Agulha e fio. Instruções: Enfiar as contas e as circunferências perfuradas,
alternadas.
DIRECÇÃO: Direita - esquerda
É um conceito muito importante, atendendo a que se está a treinar a direcção da
leitura. Partir do corpo da criança ao descrever a posição dos objectos. Por ex., o giz
está junto da tua mão direita, o João está sentado à tua esquerda. Sensibilizar a
criança para o facto de haver quem esteja à sua direita e à sua esquerda, virá-la ao
contrário e deixá-la verificar a mudança. Treinar primeiro a direcção esquerda -
direita, tomando como ponto de partida o corpo da criança. Deixar a criança mostrar, ela
própria, o que entende por esquerda/direita. - Mostrar à criança o seu lado esquerdo, e
o seu lado direito. Atar, por ex., uma fita a volta do pulso esquerdo. - Marcar a roupa
aos pares. Uma marca no sapato esquerdo, na luva esquerda, etc. - Deixar a criança
movimentar-se consoante as palavras de ordem dadas: dobra o braço direito, salta sobre o
pé esquerdo, anda para a frente a direito, salta com os pés juntos para trás,
inclina-te para a esquer da, volta-te para a direita, etc.
Treinar em seguida a direcção esquerda - direita, tomando como ponto de partida o
lado esquerdo e o lado direito de outra pessoa: Pôr-se atrás da criança, falar e
comparar os braços direitos, esquerdos, as pernas direitas, esquerdas, etc. - Ficar ao
lado da criança e mostrar a relação entre as partes do corpo de ambos, por ex., os
braços direitos, as pernas esquerdas , etc. - Pôr-se em frente da criança (cara a cara)
e estender a mão esquerda. Dizer à criança para a apanhar. Mostrar que ela tem de
estender a mão direita. Fazer o mesmo com a outra mão.
Treinar a direcção esquerda - direita com exercícios de escolha. Caixa com várias
divisões, prato de papel com um prego, um botão, uma conta, um gancho. Instruções:
Pôr o gancho mais à esquerda, o botão à direita do gancho, etc.
Material: Placa de contraplacado ou de cartão grosso com fitas calefactoras coladas,
prato de papel com um parafuso, um gancho, uma rolha, um botão, etc.
Instruções: Pôr o prego mais à esquerda, na linha mais em cima, etc.
Material: Tabuleiro de madeira com paus espetados, prato de papel com argolas de
madeira ou metal, dado de plástico preto.
Instruções: Atirar o dado, contar as saliência no dado, e enfiar o mesmo número de
argolas no pau espetado mais à esquerda, etc.
Material: Uma folha de papel grosso com três linhas feitas com bocados de lã, prato
de papel com figuras recortadas em cartão, por exemplo.
Instruções: Colar uma circunferência na linha mais em cima, à esquerda, etc.
FORMAS
Esfera - redondo - circunferência
Cubo - quadrangular - quadrado
Tetraedo - triangular - triângulo
Prisma - rectangular - rectângulo
Falar sobre a forma dos objectos de uso diário com que a criança está em contacto.
Começar por comparar objectos tridimensionais muito diferentes na dimensão, forma e
estrutura.
ESFERA: Apalpar objectos redondos de vários tamanhos. Uma ervilha, uma bola de
pingue-pongue, uma bola de ténis, uma bola de futebol, etc. Comparar e tirar paralelas
entre os vários tamanhos. Segurar nos objectos com as mãos. Rolar as bolas.
CUBO: Apalpar objectos quadrangulares. Por ex., cubos de vários tamanhos. Um cubo
pequeno que caiba dentro da mão até uma caixa de cartão grande, onde a criança possa
entrar de gatas. É importante que ela tenha uma vivência da totalidade do espaço, com
todo o seu corpo, ao mesmo tempo. Comparar e tirar paralelas entre objectos quadrangulares
de vários tamanhos.
TETRAEDO: Apalpar e comparar objectos triangulares de váríos tamanhos. O telhado da
casa de bonecas, a tenda dos índios, etc. - para tocar em cima e para entrar de gatas
dentro.
PRISMA: Apalpar objectos prismáticos de vários tamanhos. Por ex., embalagens de
leite, caixas de fósforos, almofadas, etc.
Continuar em seguida com a discriminação táctil de objectos bidimensionais. É
conveniente ter à mão objectos tridimensionais para fazer a comparação.
CIRCUNFERÊNCIAS: Apalpar uma circunferência recortada em cartão - fazer uma igual
com barro - comparar a placa de cartão - o barro - comparar. Pôr uma grande bola no
chão, colocar uma mão em cima e andar de roda. Andar dentro duma circunferência feita
no chão com uma fita estreita.
QUADRADO: Apalpar por exemplo uma mesa, o assento duma cadeira.
TRIÂNGULO: Apalpar um triângulo (sinal de trânsito), um triângulo (instrumento
musical).
RECTÂNGULO: Apalpar uma mesa, uma porta, uma janela, por exemplo.
Escolher blocos lógicos de vários tamanhos, em função da mesma forma. Nestes casos
é possível substituir as cores pelas texturas colando, por exemplo, bocados de flanela
ou de papel de lixa num lado.
Escolher formas de cartão: circunferências, quadrados, triângulos e rectângulos.
Para explicar à criança o que é uma figura:
Ajudar a criança a desenhar a sua mão, posta em cima da almofada para desenhar. Tirar
a mão - na almofada está agora a sua figura.
Recortar no cartão várias figuras (com 10 - 15 cm de tamanho), que são postas em
cima da almofada. A criança desenha com uma caneta de ponta de esfera à volta das
figuras. Ela compreende então que, por exemplo, dois lados do rectângulo são maiores e
que o triângulo tem três lados. Em seguida pode desenhar à volta de figuras recortadas,
blocos lógicos, um vidro, etc, em cima da almofada. Este é um momento mais difícil.
DISCRIMINAÇÃO TÁCTIL
Para compensar as impressões visuais, a criança deficiente visual grave tem de
exercitar os outros sentidos. Como preparação para a leitura da escrita ponteada é
importante a capacidade de discriminação táctil. Por meio do tacto a criança pode
obter informações sobre as formas dos objectos, seu tamanho e posição no espaço.
Ela recorre ao tacto para se informar, em primeiro lugar, sobre: - A estrutura do
objecto e da superfície. - A dimensão, o peso, a forma, o comprimento e a largura do
objecto. - A relação entre objectos: semelhanças e diferenças. - Mudanças de
temperatura. - Identificação de objectos - comparação entre objectos.
Os exercícios de treino do tacto deverão incluir objectos conhecidos e desconhecidos
da criança. Quando são introduzidos objectos desconhecidos, deve-se dizer o seu nome e
explicar para o que servem.
Durante os exercícios de treino do tacto, a criança deve ser encorajada a usar ambas
as mãos. A maior parte das pesquisas efectuadas a respeito da leitura da escrita
ponteada, demonstram que os melhores leitores usam ambas as mãos.
Sugestões para exercícios de treino do tacto:
- Escolher folhas de árvores. - Escolher pinhas. - Misturar vários tipos de pregos,
parafusos e porcas - escolher em pô-los dentro de caixas. - Misturar vários tipos de
botões - escolher em função do seu tamanho, formar pares consoante os furos, etc.
Escolher contas - enfiá-las numa haste, num atacador de sapatos. - Misturar feijões,
grão, sementes, milho, etc. - escolher e metê-los dentro de saquinhos.
- Encher sacos de pano (5x5 cm) com grão, arroz, feijão, botões, pedrinhas, etc.
Formar pares. - Bocados de tecido do mesmo tamanho mas com texturas diferentes, por
exemplo, tafetá, veludo, pano turco, algodão. Formar pares.
- Forrar varões cortados em bocados (cerca de 7 cm) com papel de lixa, pele, veludo,
lã, algodão, papel metálico. Formar pares. - Misturar pauzinhos redondos e
quadrangulares (palitos e fósforos sem morrão) do mesmo tamanho. Escolher e metê-los em
caixinhas, os redondos numa e os quadrangulares noutra. - Forrar cubos de madeira com
vários tecidos, por exemplo, algodão de um lado, turco de outro, etc. Dar à criança
oito cubos e dizer-lhe para pôr para cima, por ex., todos os lados forrados de turco. A
criança também pode formar pares. Um dos cubos pode servir de dado. Atirar o dado e
escolher os cubos em função do dado. O exercício pode tornar-se ainda mais difícil se
forem colados bocados de papel de lixa de várias espessuras nos lados do cubo. - Escolher
folhas de papel de várias espessuras e qualidades.
- Fazer pares com luvas e meias de tricô. Prender os pares com uma mola de roupa. -
Sacos de pano, com vários objectos lá dentro, como por ex., carrinhos de linha,
cordéis, tesouras, parafusos. Apalpar os sacos. O que está lá dentro? É bom que a
criança aprenda a abrir e a fechar, os sacos, puxando pelo cordão. Sacos de pano,
contendo pauzinhos de vários tamanhos e um objecto diferente, como por exemplo, um,
limpa-cachimbos. Apalpar o saco - o que está lá dentro? Abrir o saco e despejar o seu
conteúdo. Tirar para o lado o limpa-cachimbos e arrumar os pauzinhos em função do
tamanho. - Uma das crianças põe as mãos atrás das costas. Dar-lhe um objecto e
dizer-lhe para o descrever para as outras crianças, que tentam adivinhar o que é. -
Entortar um limpa-cachimbos e dizer à criança para fazer o mesmo com o seu
limpa-cachimbos. - Dar à criança um tabuleiro com caixas de fósforos abertas. Dizer-lhe
para meter lá dentro vários objectos, por exemplo, pedrinhas e depois fechar as caixas.
- Misturar várias latas, frascos e tampas. A criança procura as tampas e fecha os
frascos e as latas. - Pôr duas caixas com os mesmos objectos lá dentro (berlindes,
colheres, limpa-cachimbos, palitos, lápis, bocados de giz) em cima da mesa, em frente da
criança. A criança apalpa com a mão direita o que está dentro da caixa à direita e
com a mão esquerda o que está dentro da caixa à esquerda, e tenta formar pares. - Pôr
vários objectos em cima dum tabuleiro (tesoura, lápis, giz, cubo, carrinho). A criança
apalpa os objectos. Tirar depois um dos objectos. O que falta? - Pôr vários objectos
debaixo do tapete (berlinde, colher, lego). A criança procura encontrá-los com os pés e
descobrir o que são.
Jogos para treino do tacto:
- Jogos de loto, com as peças revestidas de vários textéis e papéis de lixa. -
Jogos de loto, semi-fabricados, para colar em cima de várias estruturas de base.
- Dominó com peças de vários tamanhos.
Nos jogos com dados deve ser usado o dado de plástico preto.
VÁRIAS IDEIAS PARA JOGOS DE TREINO DA DISCRIMINAÇÃO TÁCTIL
Jogo do burro: Fazer pares com cartas feitas com o mesmo material. O burro pode ser a
célula Braille.
Cartas com símbolos de feltro, que se diferenciam apenas quanto à sua forma e
tamanho.
Riscas perfuradas com vários comprimentos nas cartas.
Cartas com símbolos Braille, primeiro os que são fáceis de discriminar, depois os
mais difíceis. (Todas as letras podem ser usadas antes da aprendizagem da leitura).
Jogo da memória
Colar objectos pequenos em cima cartões maiores, por ex., ganchos, alfinetes de dama,
lãs, pregos, palitos, botões. Fazer pares.
Também se pode usar papel de lixa ou textéis para variar.
Aumentando o grau de dificuldade, pode-se jogar assim. - Material: 24 letras em
cartão, com o formato 6x6 cm. 24 caixas de plástico, eventualmente dois conjuntos.
Utilização: O material é utilizado como no jogo da memória, isto é, procurar
cartas iguais. Para facilitar, a criança deficiente visual grave deve usar um tabuleiro
com divisões, para mais facilmente se lembrar onde estão as cartas. É, preferível
começar a jogar gradualmente, utilizando apenas a fileira de cima (a primeira), tentando
encontrar aí cartas iguais. Numa segunda fase entra também a segunda fileira e daí por
diante até à sexta. Para o alfabeto inteiro são precisos dois tabuleiros.
BINGO
Material: Seis cartões com oito quadras. Em cada quadra há uma figura em baixo relevo
(triângulo, rectângulo, quadrado, circunferência). Oito peças soltas com as mesmas
figuras geométricas. Sacos de pano para guardar as peças. Plasticina. Um prato pequeno
para pôr a plasticina. Uma caixa para pôr as cartas.
Objectivo:Jogo de sociedade para três a seis jogadores. Adaptado para poder ser jogado
por deficientes visuais e pessoas que vêem.
Utilização: Falar sobre as figuras e dizer os seus nomes. Ex. rectângulo vazio,
triângulo cheio circunferência vazia, circunferência cheia.
Um dos jogadores faz de banca e segura na mão o saco com as oito peças soltas. Todos
os jogadores recebem um cartão e um pequeno prato para pôr a plasticina. O cartão deve
ser fixado à mesa com um bocadinho de plasticina. O jogo começa. O jogador que faz de
banca mete a mão no saco e tira uma peça e verifica de que figura se trata. Depois diz:
um triângulo cheio. O jogador que tiver essa figura no seu cartão põe um bocadinho de
plasticina dentro da quadra com essa figura. Aquele que tiver enchido primeiro o seu
cartão ganha, e deve dizê-lo bem alto: Bingo.
Este jogo também pode servir para treinar as posições. Antes de começar a jogar é
preciso entrar de acordo onde deve ser posto o bocado de plasticina: em cima da figura,
por de baixo dela, à direita, à esquerda, por cima.
Uma outra variante deste jogo é substituir as figuras geométricas por alguns dos
caracteres Braille mais simples. Joga-se da mesma maneira mas trata-se agora de dizer o
nome e reconhecer as letras da escrita ponteada.
DISCRIMINAÇÃO AUDITIVA
Antes de aprender a ler a escrita ponteada é importante que a criança também
exercite a discriminação auditiva. Os exercícios auditivos são importantes para
treinar a capacidade de perceber e ouvir a diferença entre os vários sons, reconhecer
sons conhecidos, distinguir a intensidade e a tonalidade dos sons, ouvir a diferença
entre palavras que soam da mesma maneira. Através da audição a criança pode adquirir
muitas informações sobre o meio circundante. É, pois, igualmente importante que a
criança aprenda a escutar e seja treinada a memorizar o que ouve.
Sugestões para exercícios de treino da audição
- Formar pares com objectos que produzem sons semelhantes. Por exemplo, campaínhas e
guisos de vários tamanhos. Encher latas vazias com pedras, arroz, grão, ganchos, etc.
Sacudi-las - ouvir - o que têm dentro? Formar pares.
- Tocar um instrumento, falar ou cantar. O som é forte, fraco?
- Tocar piano. Quais são as duas notas mais altas, mais baixas?
- Dizer uma palavra. Fazer rima. Gato, prato. Cão, fogão.
- Bater palmas - contar as palmas.
- Tocar uma campaínha em vários sítios da sala de aulas. Deixar a criança apontar
donde provém o som.
- Andar à volta na sala e parar de vez em quando. Deixar que a criança aponte a
direcção.
- Bater em váríos objectos, em cima e em baixo, na sala de aulas. Deixar a criança
adivinhar. Fazer notar que o bater em vários sítios no mesmo objecto produz sons
diferentes.
- Deixar cair vários objectos no chão. Adivinhar em função dos sons produzidos.
Escolher objectos com formas, pesos, materiais diferentes.
- Deixar cair um objecto em cima da mesa, em frente da criança. Escutar para onde foi.
A criança procura o objecto, com as mãos juntas a formar uma taça, em movimentos
circulares, à sua frente.
- Atirar um objecto, por ex., uma bola, um novelo de fio, um lápis, uma roda de
madeira, uma lata, uma tampa, qualquer coisa que rebole, para o chão. A criança presta
atenção ao barulho que o objecto faz ao cair, bem como à direcção para onde ele rola.
Quando pára de rolar, vai procura-lo com as mãos juntas a formar uma taça, com
movimentos circulares.
- Esconder um despertador na sala de aulas. A criança vai procurá-lo.
- Uma ou duas crianças fazem de «gatos» e saem da sala. As outras são os «ratos»
e escondem-se. Os «gatos» entram e caçam os «ratos», que chiam muito. Depois de
caçados, tentam reconhecê-los.
- «Faz isto - faz aquilo» com sons diferentes. O adulto diz: «faz isto», «faz
aquilo», produzindo simultaneamente sons combinados, como por ex., bater palmas, dar
estalos com os dedos, bater o pé. Quando é «faz assim», as crianças fazem o mesmo que
o adulto faz, quando é «faz aquilo», ficam quietas e caladas. - Exercícios de
imitação por meio da voz. Tentar exprimir alegria, tristeza, cansaço, medo, fúria,
impaciência, admiração, etc. Cantar.
- Escutar vozes. Trata-se duma pessoa nova ou velha?
- Ouvir passos. A pessoa está contente, triste, cansada, etc? - Distinguir um som num
conjunto sonoro. Brincar às «trovoadas». Todas as crianças fazem muito barulho e
calam-se assim que o ouvem o barulho feito pelo raio (uma campaínha).
- As crianças fazem de animais e imitam-nos. Calam-se todas quando ouvem miar o gato.
- Sentados e calados durante um minuto. Ouvir sons. Falar em seguida dos sons ouvidos.
- Sons ambientais: fazer ouvir sons diários, sons produzidos por vários animais e
sons naturais, gravados. Escutar e falar sobre eles.
MOTRICIDADE FINA
O desenvolvimento da motricidade fina tem grande importância para a aprendizagem da
escrita ponteada. por conseguinte, é muito importante envolver a criança em actividades
que exercitem os dedos e desenvolvam os movimentos das mãos e dos dedos.
MANIPULAÇÃO COM OS DEDOS
Meter contas, botões, pregos, etc., dentro de caixas. Enfiar contas num fio.
Prender ganchos num cartão e depois em papéis cada vez mais finos. Coser uma placa
fininha de contraplacado com um atacador de sapatos. Vários jogos de manipulação,
blocos, cubos, etc.
FORTALECIMENTO DOS DEDOS
Comprimir as «bolhas» do papel de embalagem (material de embalagem). Comprimir papel
ondulado (material de embalagem).
Prender molas de roupa ou pinças num bocado de cartão, ou na borda duma caixa.
Abrir uma mola da roupa com o polegar e indicador. Fazer o mesmo com os outros dedos.
Jogo com molas da roupa
As crianças estão sentadas em cadeiras, duas a duas, em frente uma da outra. Pôr
cinco molas na roupa de cada uma das crianças. As pessoas que vêm devem ter os olhos
vendados. As crianças tiram as molas da sua roupa e põem-nas na roupa dos seus pares.
Outros materiais Massa de bolos, barro, cera. Fitas plásticas para rasgar e cortar em
pedacinhos.
DOBRAR - CORTAR
Dobrar uma folha de papel ao meio e continuar a dobrar. Fazer um chapéu, uma seta,
etc.
Cortar papel, cartão, tecido, etc. Para facilitar a aprendizagem do uso da tesoura,
há uma tesoura que a criança e o adulto seguram ao mesmo tempo e cortam juntos (argolas
duplas).
O gato e os ratinhos (jogo de dedos)
Este exercício pode ser feito antes de a criança começar a aprender a usar a
máquina de escrever pontos. Arranjar um disco de cartão com três buracos redondos ou
colar numa folha de cartão três suportes de vela. Contar uma pequena história sobre os
ratinhos, que andam à procura de comida. Eis que chega o gato (que só aparece na
história) e que anda à procura deles. Os ratinhos (os dedos) ficam cheios de medo e vão
a correr para as suas casinhas. Neste jogo ganham sempre os ratinhos. Espera-se até que
estejam todos escondidos. Para não esquecer quais são os dedos que fazem de ratos, pôr
um dedal no indicador, no dedo grande e no anelar.
Tocar vários instrumentos (flauta, harmónio, piano). Excelente exercício para os
dedos.
COORDENAÇÃO DOS MOVIMENTOS DAS MÃOS E DOS DEDOS
Andar com as pontas dos dedos de ambas as mãos ao longo da borda da mesa, do livro, da
régua, etc. Pensar em treinar a direcção da leitura, da esquerda para a direita.
PRESSÃO LEVE COM AS PONTAS DOS DEDOS
Durante a «leitura» de livros de exercícios, como por ex., livros com ranhuras, os
dedos da criança podem estar sujos de giz. Assim, quanto mais levemente ela passar os
dedos pela página, tanto mais tempo dura o pó nos dedos.
Se a criança tiver os dedos suados, pode-se usar pó de talco ou pó para bébés.
Deixar a criança mexer em coisas que sejam frágeis e que devam ser manipuladas com
cuidado.
OS DEFICIENTES VISUAIS PODEM TER PRAZER EM DESENHAR?
Todas as crianças gostam de desenhar e pintar, e as crianças deficientes visuais não
constituem excepção. O desenho e a pintura são, aliás, óptimos exercícios para a
motricidade fina.
As tintas para os dedos são excelentes para os deficientes visuais, que ficam com uma
sensação táctil directa da sua aplicação. Se a criança não quizer pintar com os
dedos ou achar que isto é desagradável, deixe-a usar um pincel até ter vencido esse
receio ou impressão. A razão que pode levar a criança a não gostar de mexer em tantas
coisas pode basear-se no facto de o seu tacto estar treinado, e as pontas dos seus dedos
serem muito sensíveis. É natural, portanto, que ela não queira «tapar» as suas
superfícies sensíveis, que aprendeu a utilizar.
É muito importante que a criança aprenda a desenhar e a segurar no lápis (ou caneta)
para mais tarde poder escrever a sua assinatura em cheques, etc.
Para que a criança aprenda a segurar correctamente o lápis, pode começar por usar o
assim chamado «pencil-grip» (Hodab), que lhe dá uma postura natural e descontraida da
mão e do braço. Há dois tamanhos de «pencil-grip»: um maior, que pode ser usado com o
giz, e outro mais pequeno, que serve para os lápis.
As canetas de tinta da china são úteis quando não se pode ver as cores. Desenhar na
areia é também um bom exercício sensorial e simultaneamente um jogo natural.
SUGESTÕES PARA FAZER LIVROS COM A CRIANÇA
A capa deve ser maior do que as páginas do livro. O feitio do livro pode ser redondo,
triangular, ou ter a forma dum animal. Assim é mais fácil distingui-lo dos outros
livros. A capa do livro deve ter uma marca, e a contracapa outra. Como material para fazer
os livros podem ser usados algodão, lãs, fios, tecidos, bocadinhos de madeira,
pauzinhos, cartão, arame, contas botões, pensos, alfinetes de dama, pedrinhas, papel de
lixa, raminhos, migalhas de pão, folhas, etc.
Livro cosido à máquina: Fazer à máquina várias costuras, com ou sem linha, no
papel da escrita ponteada.
Livro com ranhuras: Fazer ranhuras em papel vulgar. Utilizar como base uma almofada.
Livro com linhas: Colar linhas ou lãs em cima de cartão, a direito, às curvas, etc.
Prender um botão no fim de cada linha.
Livro perfurado: Fazer várias linhas (curtas, compridas, largas ou estreitas) no papel
da escrita ponteada com a máquina. Para variar, usar os caracteres Braille.
Eis um exemplo de como se pode fazer um livro perfurado. O texto pode ser o que se
segue:
«O PASSEIO MARAVILHOSO NA FLORESTA»
Este livro é um livro de treino que pode ser usado antes de ser iniciada a
aprendizaqem da leitura. Ele contém exercícios de seguimento e mudança de linha, de
reconhecimento de alterações, de posições das células Braille, mas não se destina a
ensinar o alfabeto.
Eis agora as instruções referentes a cada página: Deixa a criança ver com as mãos
a página inteira, antes de começar, para ficar com uma ideia da página toda. Depois,
segue as linhas com as pontas dos dedos, levemente, servindo-se de ambas as mãos e do
maior número de dedos, com excepção dos polegares. Segue depois a mesma linha para
trás, com ambas as mãos, e procura a próxima linha. No princípio do livro há uma
linha auxiliar no começo das linhas, para ser mais fácil encontrar a linha seguinte. Faz
com que a situação seja o mais divertida possível. Seguem-se alguns exemplos sobre o
modo como a criança pode ser motivada:
Página 1
Estes são os caminhos que vamos seguir.
Eles levam-nos a muitos sítios.
Vamos fingir que vamos passear?
Vamos andar para a frente e para trás.
Página 2
Durante o passeio descobrimos uma coisa.
Paramos nos intervalos.
Encontrámos uma coisa. Que será?
Uma poça, um buraco, uma pedra, uma flor.
A criança deve descobrir sozinha.
Página 3
Falta um bocadinho da linha em cima.
Vamos parar e ouvir os passarinhos a cantar.
Vê os passarinhos nos intervalos.
Agora falta aqui um bocadinho da linha.
No chão, está um cãozinho a ladrar.
Página 4
Entramos agora num caminho estreito.
Encontramos agora mais caminhos pequenos (em cada linha nova). Voltamos para trás,
pelos mesmos caminhos.
Página 5
Chegámos à floresta! Há tanta coisa na floresta!
Procurar nos intervalos entre os caminhos, raízes, pinhas!
Página 6
Continuamos a andar pelos caminhos da floresta. De vez em quando tropeçamos nas pedras
e caímos (quando as linhas terminam).
Página 7
Continuamos a passear pela floresta e descobrimos que o chão já não é o mesmo! É
difícil encontrar os caminhos estreitos (falta a linha auxiliar no princípio). A terra
é cada vez mais mole, enterramos os pés nos intervalos, e eis que a linha começa um
pouco mais ao lado. Porquê?
Página 8
Ai, tanto musgo! Como é difícil andar! Podemos parar um bocadinho e descansar nos
intervalos. As linhas são mais curtas.
Página 9
Conseguimos sair do sítio que tinha tanto musgo.
Encontramos agora caminhos largos, cheios de pedrinhas. Vamos andar para a frente e
para trás.
Página 10
Vamos fazer agora um jogo divertido.
Vamos andar em cima das pedras e ver com mais atenção como elas são.
Páginas 11 e 12
Vamos procurar pedras esquisitas.
Página 13
Continuamos a andar pelos caminhos e procuramos encontrar uma pedra no fim de cada
caminho.
Página 14
Chegamos a um lago com muitos patos.
Encontramos muitos passarinhos nos sítios onde os pontos estão «mais em cima».
Página 15
Ouvimos de repente os peixes a saltar na água.
Encontramos muitos peixes nos sítios onde os pontos estão «mais em baixo».
Página 16
Reparamos que há muitas melgas à volta do lago e somos mordidos por elas. Ai, faz
doer tanto! Andamos para a frente e pensamos se há por ali outros insectos. Em cada
célula cheia «na linha» fingimos que somos um insecto.
Página 17
Ouvimos um esquilo a comer e aproximamo-nos devagarinho para ele não ficar assustado.
Encontramos muitos animais em cada célula cheia, no «meio da linha».
Página 18
Quais são os animais que vivem debaixo da terra?
Se ficarmos muito quietos e calados, talvez possamos ouvir as toupeiras a cavar as
tocas. Encontramos muitos animais que vivem debaixo da terra em cada célula cheia, «por
baixo da linha».
Página 19
E o nosso passeio acabou e voltamos para casa.
Vamos a pensar nos animais que vivem no ar, em cima da terra e debaixo do chão, sempre
que encontramos uma célula cheia, «em cima da linha», «no meio da linha», «por baixo
da linha».
APRESENTAÇÃO DAS CÉLULAS BRAILLE
É importante que a criança tenha a percepção do espaço antes de o «espaço da
célula Braille» lhe ser apresentado. A criança que tem dificuldade em orientar-se po
espaço real tem, na maioria dos casos, dificuldade em encontrar as células Braille.
A estrutura das células Braille e as suas posições podem ser apresentadas com a
ajuda dum cartão de embalagem de ovos e de seis esferas.
Principia por deixar que a criança dê nomes às esferas, por ex., Luísa, Maria,
Tina, Pedro, João, Paulo. A partir daqui podes começar a treinar as posições e as
relações entre as esferas.
Ensina a criança a colocar as esferas com palavras que indicam a posição, como por
ex., «mais em cima», «no meio», «mais em baixo», «primeira fila», «segunda
fila», «ao lado», «debaixo». Por ex., a Luísa e o Pedro «mais em cima», a Maria e
o João «no meio», a Tina e o Paulo «mais em baixo». As raparigas ficam na primeira
fila a contar de lado, e os rapazes na segunda. Treinar todos os que estão «ao lado» e
«debaixo» uns dos outros. Para a criança deficiente visual é difícil compreender os
conceitos de em cima e em baixo. Para facilitar a sua compreensão, podes colocar o
cartão dos ovos na vertical, em cima da mesa. A criança põe as mãos em cima das
esferas que estão «mais em cima» e depois deixa cair devagarinho o cartão na mesa, de
forma a que o que estava «mais em cima» passe a ser o que «está mais longe». Faz o
mesmo com as esferas que estão «mais em baixo», que são agora as que ficam «mais
perto» da barriga. É importante ser coerente e dizer os nomes das posições sempre da
mesma maneira.
Exposição sobre os Caracteres Braille
antes da Aprendizagem do Alfabeto
Célula
(6 pontos)
|
Fila da esquerda
em cima ao meio em baixo
|
Fila da direita
em cima ao meio em baixo
|

|

|

|
a fila da esquerda está completa
|
a fila da direita está completa
|

|

|

|
a fila da esquerda é mais pequena,
os pontos estão debaixo uns dos outros, juntos, em
cima, a fila não está completa
|

|
a fila da direita é mais pequena,
os pontos estão debaixo uns dos outros, juntos, em
cima
|

|
a
fila da esquerda é mais pequena, os pontos estão debaixo uns dos outros, juntos, em
baixo
|

|
a fila da direita é mais pequena,
os pontos estão debaixo uns dos outros, juntos, em
baixo
|

|
na fila da esquerda há um espaço, o
meio está vazio, os pontos estão debaixo um do
outro, longe um do outro
|

|
na
fila da direita há um espaço, o meio está vazio, os pontos estão debaixo um do outro,
longe um do outro
|

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ao lado
um do outro, em cima
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|
ao lado um do outro, no meio
|

|
ao lado um do outro, em baixo
|

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junto um do outro, em filas diferentes, não ao
lado um do outro
|

|
junto
um do outro, em filas diferentes, não ao lado um do outro
|

|
junto um do outro, em filas diferentes, não ao
lado um do outro
|

|
junto um do outro, em filas diferentes, não ao
lado um do outro
|

|
longe um do outro, em filas diferentes
|

|
longe um do outro, em filas diferentes
|
Continua a treinar as várias posições e pega num cartão sem esferas. Deixa a
criança tirar uma esfera do seu cartão e colocá-la no lugar correspondente. Deixa que
ela fantasie, dê nomes aos cartões, por ex., casinhas, ninhos, lojas, recreio, etc.
Exemplo: A Luísa e a Maria foram para o recreio. A criança tira as esferas
correspondentes e muda-as de posição. A Luísa e a Maria estão na «primeira fila»,
«debaixo uma da outra» «em cima».
Trocar de papéis, para a criança dizer o que deves pôr no teu cartão. Deixa-a
controlar se está certo ou errado. É uma boa maneira de ver se compreendeu.
Quando a criança está familiarizada com as posições das esferas no cartão, é
possível enumerar os respectivos nomes, ou seja, 1 (ponto um) para a Luisa, 2 para a
Maria, etc. Continua a fazer os mesmos exercícios.
Em seguida ensina os números correspondentes nos dedos. Ao mesmo tempo podes explicar
que ao que estiver na «primeira fila» também se pode chamar fila da esquerda. Assim, 1,
2 e 3 correspondem aos dedos da mão esquerda, 4, 5 e 6, aos dedos da mão direita, que é
o mesmo que a fila da direita. É importante que a criança conheça os conceitos de
esquerda e de direita.
Para facilitar, podes atar uma fita no seu pulso esquerdo, ou pôr dedais nos dedos.
Diz-lhe para experimentar, batendo com os dedos em cima da mesa.
Começa a treinar a mão esquerda e diz-lhe «carrega na Luísa 1» etc. Continua
depois os exercícios com dois dedos ao mesmo tempo, em seguida três. Passa para a mão
direita e repete os exercícios.
Quando a criança domina ambas as mãos, diz-lhe para usar as duas mãos ao mesmo
tempo. Por ex., carrega na Luisa 1 e no Pedro 4 ao mesmo tempo, etc.
O TEXTO NO MEIO AMBIENTE
As crianças que vêem estão diariamente em contacto com os textos existentes no meio
em que vivem, muito antes de saberem ler. Vêem os adultos a ler jornais e livros, vêem
as legendas na televisão e nos anúncios, as letras dos sinais e dos livros para
crianças, etc. Muitas delas dominam, mesmo antes de começarem a andar na escola, um
número variável de sons bem como das letras correspondentes.
As crianças deficientes visuais graves não entram tão cedo em contacto com a escrita
ponteada. Quase sempre só quando começam a andar na escola é que vêem, pela primeira
vez, as células Braille.
Quando a criança deficiente visual é integrada na escola, com os seus colegas que
vêem, deve sentir uma grande injustiça por não saber o que é uma letra, que as letras
juntas formam palavras, que há espaços entre as palavras, que os livros têm linhas,
etc. Como é difícil aprender a ler quando nunca se viu nada escrito!
A metodologia do ensino na escola pressupõe que a criança saiba o que é uma letra e
que seja capaz de distinguir uma letra dum algarismo.
Para alterar esta posição de partida tão injusta, o nosso objectivo deve ser
introduzir a escrita ponteada no meio ambiente da criança deficiente visual o mais cedo
possível, tão cedo como a criança que vê tem acesso a textos no meio à sua volta.
Algumas sugestões
- Marcar objectos e locais com interesse para a criança com escrita ponteada, por ex.,
em fitas dymo, na pré-escola e em casa.
- Escrever o nome da criança em escrita ponteada junto do seu cabide, no armário, no
seu lugar à mesa na pré-escola.
- Marcar os lugares próprios de vários objectos nas prateleiras (papel, jogos, etc).
- Marcar o conteúdo de latas e caixas. Marcar a tesoura, o caderno, os jogos, o giz.
Em relação ao giz, é preferível usar giz triangular, que é mais fácil de marcar (a
côr) e de segurar, para além de não rebolar.
Algumas sugestões práticas para fazer marcações com escrita ponteada:
Devem ser «boas» de ler. Experimenta com a mão. Às vezes pode ser preferível
escrever:
- de cima para baixo, por dentro das caixas (ou gavetas) abertas;
- no lado de cima da mesa.
Livros para crianças inter-folheados
A criança também deve entrar em contacto com livros para crianças inter-folheados,
que são livros com figuras, cujo texto foi transposto para a escrita ponteada em folhas
de plástico transparentes, que depois são coladas por cima dos textos dos livros. A
criança pode aperceber-se assim que há uma coisa na página do livro, quando o adulto
ler em voz alta. Ela ouve que a voz e a tonalidade mudam quando ele está a ler. Talvez
então possa compreender que existe uma relação entre texto - mudança da tonalidade da
voz que é igual a ler.
Letras e algarismos
A criança deficiente visual deve ter possibilidade de conhecer, através do tacto,
letras e algarismos, na escrita ponteada , bem como letras e algarismos escritos. Por esta
razão foram transcritas as letras do alfabeto e os algarismos de 0 a 10, da escrita
ponteada para papel em relevo.
Sugestões
-
As letras e os algarismos podem ser afixados nas paredes, à altura mais conveniente
para a criança.
-
Devem ser fáceis de colocar e de tirar.
-
Podem ser presos numa corda, com molas, por exemplo.
-
Quando a criança for ver as letras usadas para escrever o seu nome, deve poder
pô-las em sua frente, em cima da mesa, com a aresta perfurada junto da barriga.
-
Quando a criança pendurar de novo as letras na parede, deve ser-lhe dito que a
aresta perfurada deve ficar para baixo, mais perto dos seus pés.
Outras sugestões a respeito de letras e algarismos
-
Utilização de letras de plástico, em baixo-relevo (7,3 X 5,8 cm).
-
Cartões plásticos, com letras e algarismos em baixo-relevo. A criança pode seguir
o seu contorno com o dedo indicador.
-
Letras de plástico duro (6,5 X 5 cm).
ϟ
Sonja Ekvall, Clara Hõglund e Asa Karlsson
Edição/Tradução: DGEBS/DEE
Nota da tradutora:
A maior
parte do material descrito neste caderno encontra-se à
venda na Suécia, mas poderá ser fabricado pelos professores, consoante as suas
possibilidades.
Δ
publicado
por
MJA
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