
Os alunos e professores entrevistados sugerem que
alguns tópicos de Matemática são tratados de forma diferenciada para os
aprendizes cegos, e nem sempre esse diferencial favorece o processo de
aprendizagem, particularmente no caso da Geometria, que geralmente é deixada
de lado. Nossos estudos prévios nos permitem afirmar que não há âmbito do
domínio da Matemática que seja vetado para os cegos. Recebendo os estímulos adequados
para empregar outros sentidos, como o tacto, a fala e a audição, o educando sem
acuidade visual estará apto a aprender, desde que se respeite a singularidade do
seu desenvolvimento cognitivo (Fernandes, 2004). É preciso estarmos
conscientes que as principais dificuldades não são necessariamente cognitivas,
mas sim de ordem material e técnica, e que frequentemente, condicionam o ritmo de
trabalho de um aluno cego na hora de aprender Matemática.
O indivíduo sem acuidade visual dentro dos padrões normais capta
e processa informações dos objectos através do sistema háptico (ou tacto
ativo). Desta forma, o trabalho com estes aprendizes exige a utilização de recursos
materiais que possam ser adaptados às suas necessidades específicas (Fernandes,
2004), ou seja, que estimule o tacto, um dos seus principais canais de exploração. A
elaboração de ferramentas deve considerar que estas não servem
simplesmente para facilitar os processos mentais o que poderia ocorrer de outra
forma. Fundamentalmente elas formam e transformam esses processos (Cole
e Wertsch 1996), e esta tem sido fonte norteadora para a construção das
ferramentas que utilizamos em nossos estudos. A importância da utilização de
ferramentas tácteis, no caso dos alunos com acuidade visual, no processo de aprendizagem
tem sido um dos objectos de estudos de alguns trabalhos que temos
desenvolvido.
Aprendizagem de Geometria
Neste artigo, partindo da premissa de que a disponibilidade de
diferentes sistemas mediadores influencia o desempenho dos alunos cegos,
designamo-nos a discutir o processo de avaliação oferecido a esses alunos pelo
sistema de ensino. Optamos pelos exercícios de Geometria propostos na prova do
SARESP ao qual aprendizes sem acuidade visual foram submetidos em 2005. O SARESP é o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do
Estado de São Paulo, criado em meados da década de 90, para avaliar o
sistema de ensino paulista, através do rendimento escolar dos alunos de diferentes
séries e períodos, identificando os factores que interferem nesse rendimento
(SARESP, 2005). A participação no SARESP é compulsória para todas as escolas
estaduais administradas pela Secretaria Estadual da Educação do Estado de
São Paulo, e centra-se na avaliação das habilidades cognitivas de Leitura e
Escrita e de Matemática, adquiridas pelos alunos ao longo de todas as séries
dos Ensinos Fundamental e Médio. Tais habilidades são seleccionadas de acordo
com as Propostas Curriculares da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
(CENP) e os Parâmetros Curriculares Nacionais.
Das duas questões
enfocadas nas análises
deste artigo, uma
destinava-se a discutir
a decomposição de
figuras planas e
outra a simetria.
Para essas questões,
além da versão em
Braille com figuras em
relevo preparámos, com a
colaboração dos
professores da escola,
duas ferramentas
destinadas a favorecer a
percepção táctil. As
ferramentas, reunem as
características baixo
custo e facilidade de
reprodução. Nosso
objetivo era investigar
não apenas a adequação
das provas para os
alunos sem acuidade
visual, mas oferecer
subsídios que pudessem
auxiliar na reflexão dos
órgãos responsáveis pela
elaboração de tais
provas. Os alunos que
participaram desse
estudo estão
matriculados nas três
séries do Ensino Médio
(de 15 a 18 anos). Para
cada um escolhemos um
nome fictício. André e
Dani são portadores de
cegueira congênita;
Leandro perdeu
totalmente a visão aos
dois anos de idade e
Carla é portadora de
visão subnormal e
utiliza tipos ampliados.
Cada um deles respondeu
aos exercícios usando
respectivamente o texto
em Braille e as duas
outras ferramentas
apresentadas abaixo. A
cada realização o aluno
poderia ratificar a
resposta dada na
situação anterior,
escolher outra
alternativa ou não
escolher alternativa.
Após a conclusão do
exercício, o aluno
deveria apontar qual das
ferramentas facilitou a
solução do exercício.
Exercício 1
A figura C pode ser decomposta em quadrados “B”
e triângulos “A”
da seguinte maneira:
a) 3 triângulos “A” e 5
quadrados “B”
b) 4 triângulos “A” e 6
quadrados “B”
c) 4 triângulos “A” e 7
quadrados “B”
d) 5 triângulos “A” e 6
quadrados “B”
|
A

1cm
1cm
B 1cm
1cm
|
3cm
1
cm
4 cm
|
|
|
Figura C
|

Ferramenta 1 Ferramenta 2
A Ferramenta 1 foi apresentada como um quebra-cabeças. A moldura
da figura C foi feita com papelão, desse modo as peças A e B deveriam
encaixar-se em seu interior para completar a figura. A Ferramenta 2 apresentava em
relevo a moldura da figura C e os eixos internos da figura feitos de palitos de
madeira. Completa a ferramenta duas peças A e B que apresentadas dentro dos
respectivos encaixes de palitos deveriam ser retiradas para a realização do exercício.
As etiquetas brancas que podem ser vistas nas figuras são as letras A, B e C escritas
em Braille.
Exercício 2
Ferramenta 1
Ferramenta 2
Na figura, a recta r é eixo de simetria da letra M desenhada. Sabemos
que a soma dos comprimentos dos segmentos AB, BC, CD e DE é igual a 20
cm, e que CD = 4 cm. O comprimento do segmento DE é igual a:
a) 3 cm b) 5 cm c) 6 cm d) 7 cm
Neste exercício a Ferramenta 1 foi montada sobre uma prancha de
madeira na qual os pontos são representado por pregos. A letra M e o eixo
de simetría foram construidos com elásticos. Para a Ferramenta 2 usamos uma placa
de papelão, canudos plásticos para a letra M e palito de madeira para o
eixo. Em ambas os rótulos foram colocados em Braille.
Análise dos resultados
Dois alunos realizaram o Exercício 1. Destacamos que, nesse
exercício, ambos os alunos não tiveram êxito com a representação em relevo, e
responderam ao exercício de forma adequada usando a Ferramenta 2. André
escolheu exatamente essa ferramenta como facilitadora, já Carla considerou que todas
as representações desempenhavam o mesmo papel, mesmo dando respostas distintas
para ferramentas distintas.
A Ferramenta 2 permitia que os alunos
realizassem a tarefa usando o mesmo tipo de raciocínio que os videntes, ou seja,
medir e desenhar sobre a figura para contar quantos quadrados e triângulos “cabem”.
Nossos alunos usaram como padrão de medida as formas geométricas quadrado e
triângulo, o que pode ser associado ao procedimento de medir com régua dos videntes.
A
Ferramenta 1 parece ter descaracterizado o exercício. A falta de um dos
parâmetros da figura dificultou a elaboração das respostas. Os alunos pareciam estar
desorientados para posicionar os quadrados e triângulos pela falta do eixo interno
a figura.
O Exercício 2 foi especialmente interessante. O texto refere-se
à simetria da letra M em tinta (Figura 1B), o que não tem nenhuma relação com a letra
M em Braille (Figura 1A), ou seja, a letra M representada em Braille não
apresenta simetria.
Figura 1: a letra M
Ao lerem o enunciado desse exercício, os alunos portadores de
cegueira congênita e os que foram alfabetizados em Braille puseram questões do tipo:
“Cadê a letra M?” “Por que eu não acho a letra M?” “A letra não está aqui.”
Era preciso “aprender” a letra M em tinta para posteriormente
realizar a tarefa, o que coube a pesquisadora fazer. Talvez, por esse facto, dos
quatro alunos que realizaram essa tarefa, somente dois apresentaram a resposta
correta – Leandro e Dani. Leandro indicou a mesma resposta usando as três representações,
o que faz de sua observação sobre a ferramenta que favoreceu a solução do
exercício mais significativa. Leandro, antes da actividade, não tinha idéia de
como era a letra M em tinta, já que perdeu a visão aos dois anos de idade e foi
alfabetizado em Braille. Mostrou-se surpreso ao conhecer a letra M e passou a buscar
resposta para o exercício. A indicação da Ferramenta 2 como facilitadora deu-se
possivelmente pela utilização de diferentes texturas em sua confecção, o que pode
ter favorecido a percepção táctil. Sobre uma placa de papelão, a letra M foi
construída com canudos de plástico e o eixo de simetria é um palito de madeira.
No entanto, Dani considerou a tarefa mais fácil quando proposta
na Ferramenta 1, mas a resposta correcta foi dada quando a figura foi
apresentada em relevo. Observando o trabalho de Dani foi possível perceber que usando a
proposta em relevo, contou o número de pontos que formavam cada uma das
quatro partes da letra M, recurso que procurou transpor para a Ferramenta 1.
Entretanto, a distância entre os pinos e a posição dos elásticos, ocupando a diagonal
dos quadrados que formam a grade, não favoreceu na medição do comprimento dos
segmentos, não colaborando com seu intento.
Nossa voz
Nossas análises indicam uma forte relação entre desempenho e
mediadores, nos conduzindo então às seguintes questões: Basta oferecer aos
alunos sem acuidade visual as provas realizadas pelos videntes transcritas
em Braille? A simples transcrição das provas garante a tão almejada inclusão? Pelos indícios apontados, acreditamos ter elementos que nos
permitem assinalar algumas discrepâncias entre as propostas dos
PCN-Adaptações Curriculares (Brasil 1998) e os processos de avaliação aos quais
os alunos com deficiência visual vêm sendo submetidos. De acordo com o
documento citado, o material didáctico e de avaliação deve ser apresentado em tipo
ampliado para alunos com baixa visão e em Braille e relevo para os cegos, isso de
facto vem ocorrendo. No entanto, pode-se ler na página 50 do mesmo documento que os
conteúdos e critérios de avaliação devem ser adequados às condições dos
alunos o que não tem recebido a devida atenção no planejamento de avaliações, como
evidenciado especialmente na formulação do Exercício 2 aqui discutido. O que
nos faz pensar que estratégia os alunos portadores de cegueira congênita do
Estado de São Paulo aplicaram para responder a essa questão. Ainda nos
PCN-Adaptações Curriculares (Brasil 1998), pode-se ler:
As adaptações avaliativas dizem respeito à selecção das técnicas
e instrumentos utilizados para avaliar o aluno. Propõem modificações sensíveis
na forma de apresentação das técnicas e dos instrumentos de avaliação, a sua
linguagem, de um modo diferente dos demais alunos de modo que atenda às
peculiaridades dos que apresentam necessidades
especiais (p.36).
Não verificámos nas provas analisadas nenhuma modificação na
técnica utilizada para a avaliação do aluno que atenda às peculiaridades
dos alunos sem acuidade visual dentro dos padrões normais, ou seja, as provas em
tinta foram somente transcritas para o Braille com cópia dos desenhos em
relevo, sem que se buscasse explorar a principal forma de aquisição de informações
desses alunos – o tacto. No estudo completo, nossos resultados indicam que em 73%
das respostas dadas, as ferramentas materiais, projectadas para o estímulo
háptico, foram apontadas como facilitadoras para a compreensão e solução dos
exercícios (Fernandes e Healy, 2006). Para os alonos que participaram
deste estudo a disponibilidade de ferramentas tácteis não favoreceu somente o
acesso aos problemas propostos, mas transformou suas interações com os
objetos matemáticos em jogo, o que sugere que este é um ponto que merece mais
investigações.
Reflexões finais
A inclusão exige mais do que leis. Exige uma atenção adequada.
Oferecer materiais, salas de recursos ou equipes especializadas que
visitem as escolas eventualmente, são necessários, mas não suficientes. Os
problemas surgem no dia-a-dia, na aula, e transcendem esse âmbito reduzido, atingindo a
responsabilidade da equipa docente. Não bastam, também, os prometidos apoios
institucionais, sem a participação efectiva do aluno, e principalmente, sem o
professor. Na verdade, nós não encontramos professores que afirmem estar preparados para receber em classe um aluno com necesidades
educacionais especiais. Eles reconhecem que a inclusão é um processo que
exige aperfeiçoamento constante, no entanto, declaram que não
receberam formação para trabalhar com educandos portadores de necessidades educacionais
especiais, seja em sua formação inicial ou continuada. Diante desse cenário,
comentários como o que se segue não chegam a nos surpreender:
Teve casos aqui na escola que a professora chega a primeira vez
na sala, olha para o deficiente e chora, porque não sabe como trabalhar. (Aluno
2)
Os problemas e as questões se multiplicam com a diversificação
das actividades nas aulas de Matemática e o crescente destaque dado a uma
pedagogia activa, de acção e participação de todos, na qual as estruturas são
dinâmicas e se ensinam técnicas de observação, estratégias e sistematizações
matemáticas. Como lidar com um aluno cego numa classe de videntes sem modificar
substancialmente os objetivos, conteúdos e atividades? Com que ferramenta material
de medida e de representação poderá contar esse aluno? Apesar das iniciativas
das políticas públicas há muito a ser feito. Os cursos destinados à formação
de professores devem assumir o compromisso de formar para o respeito à
diversidade dos educandos. Os dados que temos colectado evidenciam, também, a
necessidade e carência de recursos materiais que possam favorecer o acesso dos
aprendizes com necessidades educacionais especiais aos conteúdos escolares,
mais especificamente aos conteúdos matemáticos, objetos de nossos
estudos. Tanto alunos como professores da escola estadual onde se centra
nossa pesquisa ressentem-se do material mais primário para seu
trabalho – o livro didáctico. É preciso que os órgãos competentes criem ou agilizem políticas
de acesso regular a materiais destinados aos alunos com necessidades educacionais
especiais, não só no que se refere aos livros didácticos, mas também a materiais
pedagógicos de uso comum como lupas, computador com sintetizador de vozes e
periféricos adaptados, recursos ópticos, materiais para desenho, para
laboratório de Matemática como, por exemplo, material dourado, que poderiam ser
usados não só pelos alunos sem acuidade visual dentro dos padrões normais, mas
também pelos videntes oferecendo a todos uma abordagem experimental da
Matemática. As adaptações necessárias tanto aos conteúdos curriculares como
no processo avaliativo são previstas nos PCN–Adaptações Curriculares. Uma
das atitudes sugeridas é “mudar a temporalidade dos objetivos, conteúdos e
critérios de avaliação, isto é, considerar que o aluno com necesidades
educacionais especiais pode alcançar os objetivos comuns do grupo, mesmo que
possa requerer um período mais longo de tempo” (p. 51). Em uma de nossas
entrevistas, perguntamos aos alunos com deficiência visual sobre a realização
das provas do ENEM. Segundo eles o tempo suplementar que dispõem é de trinta
minutos, isto é, lhes é permitido ingressar na sala do exame trinta minutos
antes do horário previsto para os demais candidatos. Será que este tempo
adicional é mesmo suficiente para que o aluno com deficiência visual leia,
interprete e selecione uma das alternativas de uma prova de múltipla escolha? De
acordo com o mesmo documento em relação às avaliações, o professor deve
“eliminar, objetivos e critérios de avaliação, definidos para o grupo de
referência do aluno, em razão de suas deficiências ou limitações especiais” (p.
51). Os professores que entrevistamos fazem exatamente isso em suas classes
inclusivas. No entanto é exatamente isso que preocupa os alunos com deficiência
visual. Ao serem submetidos a exames oficiais, verificamos que eles realizam
exatamente a mesma prova que os demais alunos que são ampliadas ou transcritas
para o Braille. Neste ponto chegamos a um impasse, de acordo com os PCN –
Adaptações Curriculares “a supressão desses conteúdos e objetivos da programação
educacional regular não deve causar prejuízo” para a escolarização do aluno com
necessidades educacionais especiais. E ainda “deve considerar, rigorosamente, o
significado dos conteúdos, ou seja, se são básicos, fundamentais e
pré-requisitos para aprendizagens posteriores” (p.51). Ora, mas como não
considerar a produção e análise de gráficos estatísticos básicos e fundamentais
se, por exemplo, nos exames oficiais a maioria das questões pauta-se em análises
de gráficos? Não seria o caso de submeter tais exames ao crivo dos PCN –
Adaptações Curriculares? Tal facto pode ser verificado na fala de um dos alunos
entrevistados:
O que eu posso perceber é que no SARESP e no ENEM eles não
preparam uma prova especial para você [para os portadores de deficiência
visual]. Eles simplesmente pegam uma prova em tinta e passam para o Braille.
No SARESP as questões que tinham algum desenho ou gráfico eu simplesmente
chutei e errei a maioria. O ENEM não veio em Braille e a pessoa que estava lendo
para mim não sabia muito bem como me explicar às figuras. (Aluno 2)
Nossas pesquisas destacam as relações recíprocas entre
diferentes sistemas mediadores e as práticas matemáticas dos aprendizes.
Especificamente, nossos dados indicam como os sistemas mediadores disponíveis
influenciam significativamente o acesso desses aprendizes às actividades de
Geometria. Assim, sugerimos que a elaboração de provas destinadas a estes
alunos deve transcender a simples transcrição da mesma para o Braille. Se,
como acreditamos, as necessidades educacionais especiais dos alunos devem ser
atendidas no âmbito da escola regular isso requer que os sistemas educacionais
modifiquem-se, não apenas revendo suas atitudes e expectativas em relação a esses
alunos, mas que se organizem para constituir uma escola para todos e que de facto
gerem condições de igualdade social.
Construir uma sociedade para todos
implica na conscientização coletiva da diversidade humana e na estruturação para atender às
necessidades de cada cidadão e certamente a escola tem um papel fundamental nessa
construção. Devemos ficar atentos às propostas feitas pelo Sistema de
Ensino, as análises e críticas são necessárias para que possamos auxiliar na
construção da sociedade que almejamos. A inclusão social e escolar que desejamos deve
garantir igualdade de oportunidades e de direitos com autonomia. Temos mantido sob
tutela e monitorado nossos aprendizes com necessidades educacionais
especiais como se oferecêssemos a eles um privilégio e não um direito. Os alunos
sem acuidade visual dentro dos padrões normais entrevistados não consideram que o
sistema de cotas proposto pelo PROUNI6
no Brasil seja adequado às suas pretensões e
aspirações, mas ao analisarem as práticas educacionais a que são submetidos
acreditam que não estão prontos para competir com os demais em pé de
igualdade.
Actualmente eu acho que esse sistema é até justo, mas o ideal é
que nós tivéssemos as mesmas condições que os outros alunos. Eu fui procurar
cursinho para o ano que vem e não consegui nenhum, não tem cursinho preparado para
atender deficientes visuais. Nem mesmo curso de línguas eu consegui fazer. Quando eu
fui procurar curso de Inglês para fazer não encontrei nenhum que estivesse
preparado para ensinar um dv. (Aluno 3)
Os estudos que temos realizado na área da Educação Matemática
com indivíduos sem acuidade visual dentro dos padrões, corroboram
nossa concepção de uma sociedade consciente da diversidade, que se estrutura
para atender as necessidades de cada cidadão. É preciso que se deixe de encarar
a cegueira como sendo apenas uma condição limitadora ou mesmo incapacitadora. O
cego ou portador de baixa visão apresenta os mesmos sentimentos e
aspirações daqueles considerados "videntes".
Possui, portanto, potencial que precisa ser estimulado e trabalhado a fim de possibilitar sua integração no mundo em que
vive. Não de uma forma complacente, mas sim como um direito.
No projecto que estamos desenvolvendo, entramos no campo da
investigação, mas acreditamos ser mais importante a passagem da investigação
para a acção. O modo de trabalhar Matemática com os cegos pode facilitar a
reflexão e busca para outros grupos de educandos com necessidades educacionais
especiais (guardadas as diferenças) e inclusive para a Didática da Matemática em
geral, pois se a metodologia de investigação é análoga, as soluções podem ser
indicadoras de direções a seguir em cada caso.
Dentro dessa perspectiva, cada
aprendiz é percebido como um aprendiz com necessidades educacionais
especiais cabendo à Educação Matemática, como a todas outras áreas da Educação,
estruturar-se para potencializar suas competências e habilidades, e fazer
desaparecer a palavra e o conceito “deficiente”.
ϟ
Solange Hassan Ahmad Ali Fernandes,
Bacharel e Licenciada em
Matemática na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestre em
Educação Matemática pela PUC-SP. Doutoranda em Educação Matemática da PUC-SP,
trabalhando em pesquisas que se centram nos processos de ensino e aprendizagem
de conceitos matemáticos de alunos sem acuidade visual inseridos em salas
regulares.
Lulu Healy, Doutora em Educação Matemática pelo Instituto da
Educação, Universidade de Londres, docente no Programa de Estudos Pós-graduados
em Educação Matemática da PUC-SP, e coordenadora do grupo de pesquisa Tecnologia e Meios de Expressão Matemática.
Texto de Solange Fernandes e Lulu Healy em
"Ensaio sobre a inclusão na Educaçâo Matemática"
publicado na Revista de Educação Matemática -Unión-
Junho de 2007,
n.º 10
Δ
22.Set.2008
publicado
por
MJA
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