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I. Sobre as histórias infantis
As histórias estão por todo o lado. Histórias de valentia e coragem, de heróis e inimigos, de guerra e paz, de amizade e amor, contadas de geração em geração e que vão
transmitindo valores, conceitos e significados.
Para os mais pequeninos, as histórias, reais ou de fantasia, facilitam o acesso a um mundo de faz-de-conta, através do qual vão identificando situações e personagens que
regulam as suas próprias vivências, únicas e individuais.
Por outro lado, através das histórias, “a criança aprende a definir objectivos e estratégias de compreensão, a organizar sequencialmente o tempo e o espaço, a parafrasear
e a compreender ou a utilizar figuras de estilo e de sintaxe” (Viana, 2001).
Estas competências irão revelar-se muito importantes à medida que aumentar o grau de complexidade dos textos que a criança lê e escreve.
E as histórias são importantes para todas as crianças. Na verdade, o que diferencia as crianças com necessidades especiais, nomeadamente ao nível da audição e da visão,
deve ser tido em conta para disponibilizar e associar estímulos acessíveis a Todos e não como factor de separação. Desta forma estaremos a permitir que Todas as crianças
vivenciem a magia das histórias infantis.
II. Contar Histórias...
Contar uma história é oferecer um momento especial de partilha e de afecto aos mais pequeninos, e estes momentos são determinantes para um desenvolvimento harmonioso.
Contar uma história é dar vida a um enredo, às personagens, é criar curiosidade e alegria. Contar uma história é partilhar emoções!
Através da entoação, do ritmo, das expressões faciais e corporais, e dos gestos, o contador vai encantando os pequeninos que, de olhos arregalados ou com grandes
sorrisos, vão conhecendo e compreendendo todo o enredo.
E as histórias são importantes desde a primeira infância. Apesar de não compreenderem ainda o significado das palavras, os bebés conseguem descodificar as expressões, a
entoação, os ritmos e os gestos. Toda esta comunicação não-verbal facilita a compreensão do que queremos transmitir.
Na verdade, desde a primeira infância que a possibilidade de se poder falar sobre as imagens e adivinhar o que virá a seguir são aspectos muito importantes da experiência
da leitura. (Goldsack, 2007)
III. Os bebés e o livro infantil
Os bebés, mesmo não sabendo ler, podem divertir-se com os livros. Por isso os livros devem fazer parte da sua envolvente. Devem ser encarados como um brinquedo com o qual
é possível descobrir, explorar e aprender.
Desta forma estamos a contribuir para que os nossos pequeninos criem uma relação de confiança e entusiasmo com o livro desde bem cedo. Partilhar um livro, uma história,
com o seu pequenino é partilhar um momento de afecto. São momentos especiais!
Daí que a escolha de um local calmo, onde juntos possam escolher um livro, explorar as ilustrações, os diferentes materiais, cores, e contar vezes sem fim a mesma
história (os pequeninos adoram sentir que conhecem a história, o enredo, as palavras, as ilustrações), contribui para o desenvolvimento na criança de uma atitude positiva
em relação aos livros. Desta forma, está-se igualmente a promover a concentração, coordenação, linguagem, comunicação e interacção.
Existem muitos tipos de livros: livros de tocar e sentir, que permitem explorar o mundo através dos dedos; livros com abas, que despertam a curiosidade e permitem
introduzir perguntas simples, sendo um bom suporte do desenvolvimento da linguagem; e livros de gestos, que ensinam a comunicar sem voz e ajudam a memorizar rimas e
cantiguinhas bem conhecidas dos nossos pequeninos. Os livros também podem ser feitos de diferentes materiais, em papel, pano, com texturas, sons e diferentes cheiros.
Na verdade, existem livros sobre tudo e de todos os tamanhos e feitios. E o mais importante é que o livro infantil esteja acessível à criança desde bem cedo, para que
esta o possa manusear, explorar e brincar com ele, deixando-o fazer parte da sua vida e associando-o a um elemento de prazer e de diversão.
IV. Para Pais, Educadores e Professores
Contar uma história é partilhar um momento que deve ser de diversão. Estes momentos de alegria podem despertar o interesse da criança para diferentes temáticas ou
conteúdos, permitindo que as histórias sirvam igualmente para ensinar.
Por outro lado, uma boa história pode também “curar” ao ajudar na resolução de conflitos e questões com os quais as crianças se identifiquem, numa determinada fase do seu
desenvolvimento. Ao resolver estes conflitos, inseguranças ou dúvidas, a criança está a melhorar a auto-estima e a autoconfiança.
Os familiares e educadores, ao criarem a “hora da história” nas suas rotinas diárias, estão a colaborar de forma activa no desenvolvimento global dos seus filhos,
permitindo que o mesmo se processe numa atmosfera favorável, de partilha e de afecto.
Contadas assim, pelas pessoas em quem a criança mais confia e com quem se identifica, as histórias infantis possibilitam o acesso a um novo universo de palavras cheias de
entoação, permitindo aceder ao seu significado de um modo simples e informal.
Muito antes de aprenderem a ler, as crianças aprendem a falar, e na verdade as crianças aprendem a fazê-lo ouvindo falar.
Contar e ler histórias desde a primeira infância permite falar com os seus pequeninos sobre diferentes assuntos, promovendo o desenvolvimento do vocabulário e o contacto
com o livro, que se irá revelar importante para o desenvolvimento do gosto pela leitura. Associada ao sucesso da aprendizagem da leitura está igualmente a capacidade de
discriminar os sons das palavras e das letras dentro das palavras. Ouvir histórias permite que a criança desenvolva essa capacidade.
Na verdade, e criando e incluindo estímulos acessíveis às crianças com necessidades especiais ao nível da visão e da audição (com a tradução em gestos e a associação a
elementos tácteis), estamos a permitir que essas crianças possam aceder a todos os benefícios associados às histórias infantis.
V. Pais visuais com filhos cegos
As experiências da primeira infância são muito importantes para o desenvolvimento global e harmonioso de qualquer criança e, em particular, para o desenvolvimento da
linguagem. Por isso, a presença dos pais e educadores nestes primeiros tempos promove a capacidade da criança para “ler o mundo” (Rosenketter, 2004:4).
Quando a criança não vê, a informação visual sobre o ambiente à sua volta e as pessoas que dele fazem parte é-lhe inacessível. Assim o maior desafio com que se deparam os
pais destes bebés é dar-lhes a conhecer o mundo que os rodeia, através da estimulação motora e sensorial. A presença e a disponibilidade são palavras-chave nestes
primeiros tempos.
Disponíveis para interagir com os seus bebés, e tendo presente a importância de se focarem no que a criança tem e não no que lhe falta, os pais vão aprendendo a conhecer
o seu bebé e sendo capazes de lhe fornecer pistas importantes para a sua aprendizagem.
Ao longo do dia surgem naturalmente inúmeras oportunidades de aprendizagem: a hora do banho, onde esponjas de diferentes formas e espumas de diferentes aromas podem fazer
da higiene um momento de diversão; a hora da refeição, onde o paladar, o olfacto e o tacto vão ajudar a identificar os diferentes alimentos; ou a hora de dormir, onde as
canções de embalar irão ajudá-los a relaxar com o conforto das músicas que aos poucos se vão tornando familiares.
No âmbito da aprendizagem, o momento de contar ou ler histórias representa uma excelente oportunidade não só de aprendizagem mas também de bem-estar.
Para a criança que não vê, ouvir histórias permite aceder - através de um estímulo que lhe é acessível, a voz - a informações importantes, tais como rotinas, emoções e
sentimentos. Se estimularmos simultaneamente os outros sentidos (tacto, paladar, olfacto), estamos a facilitar a aprendizagem, pois as crianças serão capazes de
reconhecer tudo o que não vêem através de pistas que lhe são acessíveis.
Da mesma forma se associarmos às histórias pistas auditivas, tácteis (por exemplo, elementos tridimensionais que correspondem a objectos da história) e olfactivas,
estamos a facilitar e a promover as oportunidades de descoberta e de compreensão do enredo da história e das suas personagens, que na primeira infância retratam muitas
vezes a vida familiar.
Ao incluirmos algumas palavras em braille estamos a preparar e a facilitar, através deste contacto precoce, a sua futura aprendizagem.
Através das histórias, em particular quando são contadas, é possível trabalhar as expressões faciais (por exemplo, fazendo um sorriso nas carinhas dos nossos pequeninos)
ou até mesmo ajudar as crianças na execução de alguns movimentos, como bater palmas, rodar, andar, correr. Por tudo isto, as histórias infantis representam uma excelente
oportunidade de diversão, interacção, bem-estar e aprendizagem.
VI. Pais cegos com filhos visuais
No caso das crianças visuais, filhas de pais cegos, a comunicação baseada na voz é possível. Por isso o bebé percebe que existe uma resposta associada aos seus primeiros
sons, como o choro e os arrulhos.
No entanto, e porque estes pequeninos respondem igualmente a estímulos visuais, é importante que os pais usem e abusem de toda a linguagem não-verbal quando interagem com
os filhos, nomeadamente expressões faciais e linguagem corporal, ainda que este tipo de estímulo visual seja inacessível para os progenitores.
Na verdade, através das expressões faciais, os bebés também aprendem a conhecer se a mãe está triste, alegre ou até zangada. Desta forma, o bebé está a compreender que as
pessoas têm diferentes sentimentos e emoções, e que isso faz parte da vida.
A percepção do dia e da noite é facilitada pela ausência ou presença da luz. Por isso, o facto de os pais ligarem as luzes nas suas casas ajuda ao desenvolvimento desta
percepção e permite que o bebé continue a receber a informação visual da sua envolvente: das pessoas, dos brinquedos e do seu espaço.
Por outro lado a comunicação é muito facilitada pelos estímulos auditivos (rádio, brinquedos sonoros), bem como pelos sons exteriores que se vão ouvindo durante os
passeios e sobre os quais é possível falar: os pássaros, os carros, etc. Desta forma, o bebé vai associando o som ao nome do objecto e ao objecto em si. E aos poucos, vai
desenvolvendo a sua linguagem.
As histórias infantis, tanto contadas como lidas, são actividades privilegiadas não só para o desenvolvimento da linguagem como para a criança se aperceber do enredo
através dos outros sentidos.
Além disso, através das histórias é possível não só apresentar outras famílias com pais cegos, permitindo que a criança compreenda melhor a sua realidade, como explicar
que através dos outros sentidos é possível receber informação tão importante como a informação visual.
Por um lado, a ilustração fornece pistas visuais importantes para a compreensão da história, mas por outro é possível perceber e colorir ainda mais o enredo através de
descrições olfactivas, gustativas e tácteis.
Quando o braille existe em simultâneo com o texto a negro, permite que a criança e os seus pais partilhem o mesmo livro. Os pequeninos vão aprendendo que, da mesma forma
que as letras todas juntas formam palavras, e estas formam frases e histórias, possíveis de ler, os pontinhos do braille traduzem todas essas palavras e possibilitam
igualmente a leitura, mas… na ponta dos dedos.
VII. Contar histórias para Todos: algumas orientações
Um bom contador de histórias, em primeiro lugar, gosta de contar histórias. Depois é importante que goste da história, que conheça o enredo, as personagens. Por isso,
sabe dar-lhes vida através do tom e da intensidade da sua voz, através de expressões, gestos ou mesmo através da dramatização de uma ou outra parte da história, quando
quer mesmo prender a atenção dos mais pequeninos.
Para as crianças surdas com pais ouvintes, o desconhecimento da língua gestual por parte dos progenitores representa uma dificuldade na comunicação. Na maioria das vezes,
a criança surda faz a aprendizagem dos primeiros gestos em simultâneo com os pais. As histórias, arssociadas aos livros infantis, são excelentes oportunidades para
introduzir os gestos na comunicação, associando a imagem ao gesto.
Relativamente à criança cega ou com baixa visão, o som da voz e de objectos dá sentido e significado à história, e permite desfrutar da mesma de uma forma completa.
Por isso e não obstante precisarmos de utilizar recursos mais específicos, para que estas crianças possam tirar o melhor partido das histórias, a verdade é que existem
algumas regras para contar ou ler histórias, que se aplicam a todas as crianças.
Sendo o objectivo de contar e ler histórias o de partilhar um momento especial e promover o gosto pela leitura e pelos livros, então é necessário que os pequeninos tenham
um papel importante nestes momentos especiais.
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Deixe que a criança escolha o livro que lhe vai ler ou contar.
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Use vocabulário gestual ou oral, ou os dois em simultâneo, adequado à fase de desenvolvimento da criança e às suas necessidades.
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Use e abuse de diferentes vozes, das expressões faciais, de movimentos do corpo, para criar diferentes personagens e retratar as várias etapas da história. No caso da
criança cega, pode até ajudá-la a realizar essas diferentes expressões.
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Use sons para prender a atenção em momentos especiais da história.
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Deixe o seu pequenino explorar o livro, virando as páginas, observando as ilustrações e as palavras impressas. Quanto mais precoce for este contacto com os livros, mais
importância a ilustração e a textura dos livros têm relativamente ao texto impresso. No caso da criança cega ou com baixa visão, deverão ser destacados os elementos-chave
em cada página (personagens, contexto, etc.).
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Crie um ritual. Comece e acabe as histórias com uma palavra mágica inventada por si, ou com um gesto ou com um som (por exemplo, acender uma vela no início da história e
apagá-la no final; usar um sininho no princípio e no fim; o som “cric cric” para começar e o som “crac crac” para terminar).
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Mantenha a atenção e o interesse na história através do contacto visual, ou então através do tom e da intensidade da voz.
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Conte uma e outra vez a mesma história. Os pequeninos adoram ouvir vezes sem conta a mesma história, chegando até a decorar as palavras de cada página, as expressões ou
os silêncios de quem lhes conta a história. Esta repetição dá-lhes um maior número de oportunidades de questionar diferentes aspectos da história, permitindo-lhes obter
diferentes aprendizagens e estabelecer ligações, de aprendizagens e de vocabulário.
Ainda que a criança surda deva ter oportunidade de ouvir histórias contadas em língua gestual, é através dos pais que se sente segura para descobrir e fazer novas
aprendizagens. Por isso se não souber língua gestual ou gestos suficientes para contar toda uma história, desenhe ou imite o que quer dizer, pois o mais importante é
comunicar.
No caso das crianças normovisuais, a ilustração tem uma grande importância, pois é através dela que a criança se apercebe de detalhes que lhe permitem compreender de uma
forma mais completa todo o enredo. Para a criança cega estas “pistas” podem ser fornecidas através de ilustrações com relevo dos personagens principais ou das cenas ou
objectos que são referidos ao longo da história.
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Δ
13.Dez.2013 publicado
por
MJA
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