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 Sobre a Deficiência Visual

Guia para os Pais da Criança Deficiente Visual

- primeiras idades -

DGEBS


Helen Keller com Anne Sullivan (desenho)
 

O seu filho nasceu com deficiência visual, apesar de esperar uma criança normal.  De início não acreditou... desesperou... foi de médico em médico... ficou preocupado com o futuro, pode até ter rejeitado o seu filho...   Acredite que ele poderá desenvolver-se e vir a funcionar como indivíduo independente e de forma semelhante às crianças com vista. Mas semelhante não é igual - cada criança tem a sua maneira própria de aprender - o seu filho poderá precisar de mais tempo, de mais atenção, de adaptações específicas aos seus problemas.   Temos a certeza que os pais informados e com AMOR proporcionarão aos filhos um clima de bom crescimento físico, mental, social e emocional.  É pensando nas suas dificuldades e nos direitos do seu filho, que surge este guia.  


O SEU FILHO PRECISA DE SER TOCADO

Os primeiros contactos do bebé com a mãe, fazem-se através do corpo, onde a vista desempenha um papel importante. O seu filho não vê! O contacto corpo a corpo tem de ser reforçado desde início. Vocês vão ficar contentes, ao saber que o vosso bebé, se for embalado nos vossos braços, numa grande intimidade física, virá a mostrar preferência, logo nas 1ªs semanas, pelos pais, protestando quando estiver nos braços de um estranho.Aproveitem todas as situações para esse contacto físico: a mamada, o banho, a mudança de fralda... O principal perigo para uma criança cega é, estar durante muito tempo sozinha. Isto representa, uma séria ameaça ao desenvolvimento da personalidade da criança cega. Diminui a sua capacidade de explorar independentemente, de descobrir por si próprio os acontecimentos do mundo exterior. Não o deixe muito tempo privado do contacto corporal. Mude-o várias vezes de posição ao longo do dia; barriga para baixo, sentado (isto, claro que antes de ele ser capaz de o fazer sozinho). Dance com ele ao colo... Sente-o nos seus joelhos... embale-o... Sente-o no seu colo, enquanto borda...Não é a cegueira apenas, que fecha o mundo para a criança, mas a insuficiência de estímulos nos primeiros anos de vida. Em condições favoráveis a cegueira não é obstáculo à criação de relações de amor. O sorriso não é automático. É preciso repetir várias vezes antes que ele apareça. O seu filho não tem a imagem visual das expressões do rosto humano (o sorriso, a cara zangada, etc.). Brinque com ele para que ele possa copiar essas expressões: Toque-o até fazê-lo rir; Esfregue-lhe o nariz; Faça-lhe muitas cócegas. Sempre que possível transporte o seu filho junto de si, para que sinta os movimentos da mãe.Para se desenvolver, o seu filho precisa de encontrar significado no seu mundo, através do relacionamento humano. Isto só é possível com uma ligação afectiva com os pais.
 

AS MÃOS VÊEM... COMPREENDEM... FALAM...

O desenvolvimento das mãos é fundamental para o seu filho. É a partir daí que ele vai agarrar, explorar, entrar em contacto com o mundo que o rodeia. É importante que todos os bebés levem a mão à boca. Se o seu filho não o fez... brinque com ele, levando uma das mãos à boca, depois a outra, falando-lhe sempre do que as mãos vão tocando: os lábios, os dentes, a língua. Esta aprendizagem é o ponto de partida para muitos movimentos necessários à alimentação. É através das mãos que o seu filho vai, tomando conhecimento do seu próprio corpo, e do mundo que o rodeia. Primeiro são as experiências tácteis com mãe (a exploração do seu corpo) depois com os objectos por ela fornecidos.

As mãos que exploram a cara da mãe, juntam outras impressões sensitivas da mãe, com a experiência táctil. As brincadeiras com os dedos, que acontecem nos bebés que vêem, podem não acontecer espontaneamente. Temos de ajudá-lo a juntar as mãos na linha média, isto é, levar a que as duas mãos se encontrem à frente do corpo. Mas como?

Faça brincadeiras com o seu filho ao colo, de modo a que as mãos se juntem ao meio. As mãos do bebé no biberão ligam a experiência agradável de estar ao colo da mãe ao prazer de comer. Quando a criança, já se senta, coloque-lhe à frente uma bandeja com brinquedos. A bandeja será, um lugar de encontro de objectos interessantes. Procurar e localizar é o papel dos olhos nas crianças visuais. No caso das crianças cegas será o desenvolvimento das mãos, o mais importante para que ela venha a ser capaz de ver.

As mãos da criança cega, devem servir para muitas coisas: têm de procurar coisas constante e persistentemente; têm de se dar conta de todos os detalhes como a forma, o peso, as qualidades de textura. Além disto têm de servir como as mãos de todas as crianças, para agarrar, segurar e manipular. Isso é pesado! Isso é quadrado!
 

O CORPO... O ESPAÇO...

Deitado... Sentado... Em pé... É natural que o seu filho, goste mais de estar deitado. Isso dá-lhe mais segurança. Como pode ver, o apoio do corpo é menor à medida que o espaço diminui. É aí que a insegurança aumenta.
   

BRINCAR COM O CORPO

Um bebé que vê, rapidamente encontra por si só interesses que o levam a desenvolver vários movimentos como virar-se para o lado, levantar a cabeça, rebolar, rolar sobre si mesmo, o que é o ponto de partida para posteriores aquisições: sentar, gatinhar, pôr-se de pé, andar, etc.

O seu filho não vê. Vamos descobrir outra forma de lhe fornecer interesses, que lhe permitam passar por estas fases. Mas como? Para estimular o controlo da cabeça e do pescoço, pode por exemplo:

1.º Quando ele estiver deitado coloque-lhe debaixo da cabeça qualquer objecto que produza som.

2.º Deitá-lo de barriga para baixo, o que o obrigará a mexer-se. Para tornar esta posição mais interessante pode por exemplo, colocar papéis amarrotados debaixo do lençol. O mais pequeno movimento de qualquer parte do corpo produzirá som.

Ponha sempre, vários objectos à volta do seu filho. Ele descobrirá que sozinho, pode provocar sons. Coloque nos braços e nas pernas pulseiras sonoras (por exemplo, guizos). 0 seu bebé começará a perceber que é o seu braço e a sua perna que mexem.

O seu filho só está interessado nas coisas com as quais está em contacto. Todas as outras coisas simplesmente não existem.

Se o seu filho já se senta (mesmo com apoio), coloque-lhe à frente um alguidar com vários objectos. O seu filho passará depois à posição de pé. Dê-lhe muita segurança. Pendure uma barra com objectos sonoros na parte de cima do parque. Ele quererá agarrar os objectos adquirindo a posição de pé.

Se o seu filho, na posição de barriga para baixo, já levanta o tronco, apoiando-se nas mãos. Se já é capaz de seguir a direcção do som, está apto a gatinhar. No entanto há muitos bebés que não gatinham, e o seu filho pode perfeitamente vir a andar sem passar por esta fase. A pouco e pouco o seu filho começará com a sua ajuda a deslocar os braços e as pernas para a direita e para a esquerda, quer dizer, ele já é capaz de andar de lado com apoio. É chegado o momento de andar.

A criança que vê, rapidamente se interessa pelo movimento, porque quer agarrar um objecto colocado mais além. O seu filho precisa de mais estímulos para atingir esta fase. Inicie com ele a marcha... Comece por lhe dar as mãos, colocando-se à frente dele. Ponha-se atrás dele, colocando as suas mãos debaixo dos braços do seu filho. É  normal que ele fique parado. Ponha então os seus pés junto dos deles e inicie a marcha... Vá diminuindo o seu apoio à medida que o seu filho é capaz de o fazer sozinho. Transforme esta actividade numa brincadeira... coloque os objectos preferidos a uma certa instância...Com o início da marcha, o seu filho adquire um grande número de experiências que o informarão da possibilidade de deslocação das pessoas e dos objectos.

Ele aprende:

- a seguir o som através do movimento;

- que ao deslocar-se na direcção da voz da mãe ou do pai, vai poder agarrá-los. O seu filho já se desloca sozinho. Não faça mudanças de móveis sem que o tenha antes avisado.
 

ESPAÇO... O BRINQUEDO...

Nos primeiros meses, o seu filho, precisa que o espaço que o rodeia, seja bem limitado, para que tenha uma certa protecção e segurança. Se nestes primeiros meses o seu filho teve oportunidade de sentir o seu próprio corpo, em várias posições... Se as suas mãos brincaram com diversos brinquedos de formas e sons diferentes... Vai começar a interessar-se pelo espaço imediato à sua volta. Ficará assim, apto para se movimentar, num espaço mais largo, logo que tome consciência dos interesses fora do seu alcance imediato...Depois dos pais e das pessoas de quem gosta, são os brinquedos que ajudam a criança a fazer descobertas importantes, sobre si mesmo, sobre o seu corpo e sobre as qualidades dos objectos.

Desde muito cedo, o seu filho mostrará interesse pelos brinquedos. Nas primeiras semanas poderá colocar-lhe no berço brinquedos leves, macios e que produzam som ao mais pequeno movimento do bebé. À medida que o bebé cresce, vamos introduzindo brinquedos comuns: bolas, rocas, guizos, bonecos que provoquem som, etc.. Estes brinquedos, para além do prazer, unem o interesse táctil com o som. E não são os brinquedos caros que são bons. Ele ficará contente com as panelas, uma lata com feijão dentro, pratos, etc..Se o seu filho deixou cair um objecto, não lho dê logo. Leve a mão da criança na direcção do lugar onde está esse objecto. A pouco e pouco ele explorará o espaço à procura do objecto "perdido" e ganhará noções de distância:

- O carro está dentro da caixa. Vamos tirar o carro da caixa e meter lá as bolas.

- O carro caiu no chão. Está debaixo da mesa. Apanha-o e põe-o em cima da mesa.

- Dá o jogo à Lili, que está na tua frente.

Ele precisa ter a noção das diferentes posições espaciais: DENTRO, FORA; ATRÁS, À FRENTE; EM CIMA, EM BAIXO; e mais tarde... ESQUERDA e DIREITA...

Crie no seu filho hábitos de arrumação. Arranje espaços certos para todas as coisas: os brinquedos; a roupa; os sapatos.
 

ALIMENTAÇÃO

A introdução dos alimentos - sumos, purés, sólidos - deve ser feita exactamente nas mesmas idades do bebé que vê. Quando poderá o meu filho comer sozinho? Todas as crianças começam por comer com os dedos. O seu filho, mais do que qualquer outra criança, deve ter oportunidade de colocar alimentos na sua própria boca com as mãos. Isto lhe dará mais informações sobre a comida.

Deixe que o seu filho conheça os alimentos com as mãos, ao mesmo tempo que lhe vai dizendo os nomes deles. A auto-estimulação com as mãos, é um óptimo jogo e também, uma esplêndida maneira de praticar a apreensão de pequenos objectos, que lhe virá a ser útil noutras situações... O bebé que vê, cedo começa a querer agarrar a colher, o prato, o copo. O seu filho pode ter dificuldade em perceber os movimentos que lhe permitem levar a colher cheia de comida à boca. Ensine-lhe esses movimentos. Talvez porque é mais simples, mais limpo, e o seu filho nunca o exigiu, você nunca pensou que é importante ensinar este movimento na altura em que ele é mais natural, isto é, quando ele tem já capacidade de agarrar e segurar objectos. Nesta altura, deixe-o, segurar o prato, a colher e o copo. 
 

NÃO SE ESQUEÇA DE LHE FALAR DO SABOR DOS ALIMENTOS.

- Toma a caneca.

- O bacalhau está salgado.

- Hum, o leite está doce.

Se encorajar o seu filho, ele rapidamente começa a querer agarrar o copo e a colher. Dê-lhe para as mãos um copo. Primeiro só com um pouco de leite, guiando-lhe os movimentos das mãos até chegar a boca. Logo que a criança se consiga sentar, pode utilizar comida que se possa comer com as mãos (bolachas, pão, etc.) Deverá ser posta num tabuleiro colocado à sua frente. Mostre ao seu filho o prato vazio. À medida que o enche, diga-lhe sempre o que vai comer.

- Vamos, agora deitar as ervilhas...

- Vamos descascar a pêra.

- Vamos agora lavar a boca. Não se esqueça de dar sinal de que acabou de comer.


BANHO

A situação do banho é fundamental para o conhecimento do corpo. À medida que o esfrega aproveite para chamar a atenção e nomear as diferentes partes do corpo. Pegue-lhe na mão dizendo:

- Agora estamos a lavar a tua barriga.

- Agora estamos a lavar a cabeça.

NOTA: Tenha sempre em atenção a temperatura da água do banho do seu filho. A água muito quente, pode prejudicar o tacto e a água demasiado fria é-lhe desagradável.


VESTUÁRIO: O seu filho deve, desde muito cedo, colaborar nos movimentos do despir e do vestir: levantar os braços para tirar a camisola... subir a camisola, agarrando em baixo... Inicialmente tire-lhe as meias até ao calcanhar, ele puxará o resto.

NOTA: À medida que o veste ou despe, não se esqueça de dizer os nomes das diferentes peças de vestuário. Relacione com o tempo...:

"Hoje faz frio. Vamos vestir esta camisola de lã."

Em relação ao seu filho todas estas actividades devem obedecer a um horário rígido. Uma criança que vê, facilmente relaciona a noite com o sono, o dia com o acordar, etc. O seu filho precisa seguir rituais ao longo do dia, para que se possa aperceber, que há um tempo determinado para cada coisa.


O OUVIDO (O QUE OUVE)...

Desde muito cedo o seu filho começou a ouvir uma infinidade de sons (a voz e os passos dos pais, portas a abrir e a fechar, o rádio, a televisão, o telefone, etc). A criança que vê, rapidamente se apercebe das causas dos sons. O seu filho precisa de experimentar, de receber informações verbais do que se está a passar: "A Maria fechou a porta."


FALE-LHE SEMPRE

À medida que o seu filho começa a explorar, duma forma mais pormenorizada os objectos, ele começa a escutar atentamente os sons produzidos por estes e a criar outros sons através dos movimentos voluntários das mãos. Mais tarde, o objecto pode-lhe ser apresentado, fazendo ruído com ele, ou dando pancadas leves no objecto com um dedo, antes de lho darmos para a mão. Se o fizer, desenvolverá no seu filho o sentido de orientação pelo ouvido e a capacidade de atingir objectos através do som. Aproveite todas as situações para o desenvolvimento auditivo. Fale constantemente com o seu filho:

- A mãe está a fazer a sopa ao Nuno.

- A Maria está a cantar.

Tenha o cuidado de informar sempre o seu filho da presença de familiares ou amigos:

"Olha Nuno, chegou a tia Joana com o Pedro."

Dê-lhe informações acerca dos cheiros:

"Estamos no Jardim.  Ai, que cheirinho a flores."

Quando sair com o seu filho, para a rua, fale-lhe do tempo, da temperatura:

"Está a chover. Vamos abrir o guarda-chuva e apertar o casaco."

Fale-lhe também, dos ruídos que se ouvem:

"É um camião." "É o ruído de uma enxada."

Não se aproxime, nem deixe que se aproximem do seu filho sem lhe falar. Não lhe dê um objecto para a mão sem referir o nome:

"Toma, isto é uma pedra."

"Dá-me a mão."

"Que abraço tão forte!!!"


DEIXE-O... BRINCAR...  CONVERSAR... CONVIVER.

Aumente o círculo de relações do seu filho. Deixe-o brincar em casa e na rua com os irmãos, primos e vizinhos. Leve-o a brincar ao Parque... à casa dos amigos e familiares. MAS ATENÇÃO: Não se esqueça nunca de apresentar as pessoas. TODAS as pessoas; Não se esqueça nunca de lhe dizer o local onde está, o que há e como é...

- Pedro, está é a Sra. Ana.

- Apresento-te, o Sr. e a Sra. Fernandes e o Sr. Manuel.

- O parque é grande e há muitos meninos a brincar: no baloiço e no escorrega.

- Estamos no mercado e está muita gente.


NOTA FINAL

O seu filho já percorreu um determinado caminho... teve mais facilidades em adquirir certas noções... mais dificuldade em adquirir outras...

Precisou de mais tempo para conseguir compreender e fazer algumas coisas... realizou outras rapidamente...

Mas não acaba aqui. O seu filho vai continuar o caminho...

Reforce sempre o que ele faz de positivo. O sucesso gera sucesso.

E se alguma vez não souber a melhor maneira de ensinar o seu filho, numa determinada tarefa...

TAPE OS SEUS OLHOS E EXPERIMENTE... Poderá encontrar a maneira mais acertada de o fazer compreender.

E... CONTEM CONNOSCO... juntos encontraremos a melhor maneira de dar ao seu filho, as oportunidades de desenvolvimento, a que ele tem direito.

 

 

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DGEBS - Divisão de Ensino Especial

 

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publicado por MJA