Regina Oliveira, Newton Kara-José e Marcos Wilson

Este trabalho é dedicado
a todas as crianças
com baixa visão
1.ª parte: Anatomia do Olho e Fisiologia da Visão
Quais são as partes do
globo ocular?
O globo ocular está situado dentro de uma cavidade óssea e possui
aproximadamente 24 mm de diâmetro anteroposterior e 12 mm de
largura.
ANEXOS OCULARES: As sobrancelhas, os cílios e as pálpebras são
protectoras do globo ocular. Impedem que partículas, como poeira,
caiam dentro do olho. As pálpebras também têm como função a
distribuição da lágrima, ocorrida durante o piscar.

A
conjuntiva é uma película vascular que recobre a esclera na porção
visível, até à córnea. Também recobre a parte interna das pálpebras
inferiores e superiores.
Os músculos - cada olho possui
seis músculos que possibilitam sua movimentação para os lados.
Quando os músculos funcionam, normalmente os dois olhos estão sempre
mirando na mesma direcção. Mas se algum músculo não funciona bem,
ocorre o estrabismo ou vesguice.
APARELHO LACRIMAL: a glândula
lacrimal fabrica a maior parte da lágrima que banha o olho. No canto
interno da pálpebra (próximo ao nariz) existem um orifício e um
canal que levam a lágrima já usada para o nariz. A lágrima serve
para limpar, facilitar o acto de piscar e nutrir o olho.

CÓRNEA: é uma membrana
transparente, localizada na frente da íris. tem como funções
permitir a entrada de raios de luz no olho e a formação de uma
imagem nítida na retina. Seria como a lente da máquina fotográfica.
ÍRIS: disco colorido com um
orifício central (chamado PUPILA - menina dos olhos). Sua função é
controlar a quantidade de luz que entra no olho: ambiente com muita
luz faz fechar a pupila; ambiente com pouca luz faz dilatar a
pupila. Exerce a função idêntica ao diafragma de uma máquina
fotográfica. [...]
CRISTALINO: lente biconvexa,
transparente, flexível (capaz de modificar a sua forma), localizada
atrás da íris. Sua função é focar os raios de luz para um ponto
certo na retina.
RETINA: camada nervosa,
localizada na porção interna do olho, onde se encontram células
fotoreceptoras (CONES, responsáveis pela visão central e pelas
cores, e BASTONETES, responsáveis pela visão periférica e nocturna).
Sua função é transformar os estímulos luminosos em estímulos
nervosos que são enviados para o cérebro pelo nervo óptico. No
cérebro essa mensagem é traduzida em visão.
CORÓIDE: é uma camada
intermediária, rica em vasos que servem para a nutrição da retina. A
região da retina, responsável pela visão central, chama-se MÁCULA,
na qual se localizam os cones.
HUMOR VÍTREO: é uma substancia
viscosa e transparente, semelhante a uma gelatina, que preenche a
porção entre o cristalino e a retina.
HUMOR AQUOSO: é um líquido
transparente, que preenche o espaço entre a córnea e a íris. Sua
principal função é a nutrição da córnea e do cristalino, além de
regular a pressão interna do olho.
ESCLERA: é a parte branca do
olho. Sua função é a protecção ocular.
Como enxergamos?
O estimulo visual do olho até ao
cérebro: As imagens e os raios de luz
atravessam a córnea, o humor aquoso, a pupila, o cristalino e o
humor vítreo. Todos esses meios devem estar transparentes para que a
luz possa passar por eles e chegar à retina. Da retina, são
encaminhados para o cérebro através do nervo óptico.
Nos primeiros anos de vida,
qualquer diminuição da transparência das estruturas a serem
atravessadas pela luz ou formações de imagens fora da retina pode
ocasionar deficiência visual irreversível. Por isso a necessidade da
retina e do cérebro receberem estímulos visuais nítidos desde o
nascimento.
2.ª parte: Doenças oculares que acarretam baixa visão na criança
Quais as doenças que mais
afectam a visão da criança e como a afectam?
1) Catarata congénita:
é a opacificação do cristalino - presente ou desenvolvida logo após
o nascimento. A catarata impede a passagem da luz para a retina,
provocando baixa visão. Pode ser ocasionada:
- por uma infecção durante a gestação, como por exemplo, o vírus da
rubéola; - ser hereditária ou
- por trauma durante o parto.
A catarata tem diferentes intensidades e a cirurgia deve ser
indicada quando a visão for prejudicada. As cataratas congénitas de
grau avançado devem ser operadas nas primeiras semanas de vida. A
não ser que ocorram outras complicações, a acuidade visual vai se
manter ou até mesmo melhorar com o tempo.
2) Glaucoma congénito:
aumento da pressão interna do olho causado por uma anomalia na
eliminação do humor aquoso. A criança apresenta aumento do globo
ocular, muita sensibilidade à luz, lacrimejamento e coceira. A
cirurgia deve ser decidida o mais depressa possível, pois a perda
visual pela hipertensão é rápida na criança. A manutenção da visão
residual dependerá do completo controle da pressão intra-ocular. Nos
casos mais avançados (quando o olho fica muito grande), existe o
perigo de perfuração, se houver traumatismos. Para a criança
executar trabalhos de perto, será necessária muita iluminação com
pouco reflexo.
3) Doenças hereditárias:
albinismo, anomalias na retina, córnea, íris, mácula, nervo óptico
e altas miopias.
4) Conjuntivite gonacócica:
ocorre quando a mãe apresenta uma doença venérea (a gonorreia) e a
transmite ao filho durante o parto normal. Se o recém-nascido não
for devidamente tratado logo ao nascer, o microorganismo pode levar
a uma úlcera de córnea ou mesmo à perfuração ocular, resultando em
baixa da visão ou cegueira.
5) Toxoplasmose: quando
a mãe se infectar durante a gravidez, essa infecção pode passar para
o feto. Os agentes transmissores estão nas fezes do cachorro, gato,
aves e na carne de porco. A acuidade visual estará muito
comprometida quando a lesão for na mácula.
6) Neurite óptica:
inflamação do nervo óptico do recém-nascido, associada geralmente à
presença na mãe de anemia, subnutrição, diabetes ou uso de drogas.
Pode levar à cegueira ou à visão deficiente.
7) Retinopatia do
recém-nascido (Fibroplasia Retrolental): ocorre nos bebés
prematuros expostos à aplicação de oxigénio. Provoca o aparecimento
de uma massa fibrosa na região da retina que pode levar ao seu
deslocamento. Geralmente acarreta visão muito baixa.
Para aqueles que têm uma visão útil, lentes de aumento e
telescópicas ajudarão a eficiência visual para perto e para longe,
com auxílio de foco de luz forte nas tarefas para perto.
8) Retinose pigmentar:
doença hereditária cujos sintomas em geral se manifestam no jovem.
Trata-se de uma degeneração da retina que começa na periferia e
lentamente compromete também a visão central. Até ao momento não há
cura e tende a levar à cegueira na quinta ou sexta década de vida.
Observação:
Os olhos de
algumas crianças portadoras de baixa visão podem ter movimentos
rápidos de um lado para o outro. Esses movimentos são chamados de "nistagmo"
ou "nistagmus". O nistagmo quase sempre é um sintoma de desordem
neurológica e indica que seu portador deve ter também desordens no
sistema visual.
Qualquer doença ocular que cause
baixa visão é contagiosa? A não ser as conjuntivites bacteriana e viral, as demais doenças não
podem ser transmitidas por contacto directo.
3.ª parte: Acuidade visual
O que são a visão central e
a visão periférica? E a acuidade visual? E o campo visual?
Visão central
é aquela na qual a imagem cai no centro da retina, em uma área
chamada mácula, e essa visão é cheia de detalhes. É importante na
leitura para perto, para longe e nas actividades que exigem
percepção de detalhes.
Visão periférica
é aquela que se forma fora da mácula, na periferia da retina. Essa
visão é pouco rica em detalhes; percebe-se a presença dos objectos e
movimentos, mas nada nítido. É importante para se locomover,
principalmente à noite (com pouca iluminação).
Acuidade visual
é a capacidade visual de cada olho (monocular) ou dos dois olhos em
conjunto (binocular).
Campo visual
é toda a área que abrange sua visão, sem movimentar os olhos.
Qual é o desenvolvimento
normal da visão e o que pode prejudicá-lo?
Para haver desenvolvimento
normal da visão, é importante:
1) Que a imagem do objecto
focado chegue nítida à retina. Para isso não pode haver lesão ou
alteração de transparência da córnea, pupila, íris, vítreo ou
retina, o que alteraria ou bloquearia a imagem. Que o olho seja de
tamanho normal (imagens focando na retina).
2) O nervo óptico não pode
estar atrofiado e não deverá haver lesões na via óptica que leva a
imagem até o cérebro.
3) O cérebro deve ser capaz de
interpretar a imagem recebida. Para isso, não poderão ocorrer
alterações cerebrais de ordem anatómica ou mesmo mentais.
O recém-nascido enxerga tanto
quanto fala ou anda. Se todas as partes do olho estiverem em
perfeita ordem e o cérebro for estimulado com imagens nítidas,
desenvolverá a visão normalmente, chegando ao seu pleno
desenvolvimento entre os 5 e 7 anos de idade. Assim, o adulto que
enxerga pouco desde o nascimento continuará enxergando mal sempre,
não havendo nenhuma cirurgia ou tratamento que solucione o problema.
O que continua a melhorar é a
capacidade de interpretar o que o cérebro "vê". Assim como um
radiologista é treinado para entender imagens escuras de uma
radiografia (ele vê uma radiografia igual a todas as pessoas, porém
interpreta muito mais coisas graças ao seu treino e experiência),
quem tem baixa visão deve ser estimulado a treinar sua capacidade de
"entender" o que vê.
Desenvolvimento da visão
Nascimento: o recém-nascido só
percebe luz, pois a mácula ainda não está totalmente desenvolvida e
o cérebro ainda não sabe interpretar os estímulos visuais que
recebe.
Aos três meses: Já consegue
fixar, pois a área macular está estruturada. Consegue seguir um
objecto com o olhar.
Aos nove meses: inicia-se a
visão de relevo; já consegue ter noção de distância e de formas.
Com um ano: as crianças já
reconhecem objectos e parentes próximos a ela.
Aos quatro anos: visão quase
completa.
Aos cinco anos: visão igual a
do adulto, podendo melhorar até os 7 anos de idade.
Como enxerga a criança com
baixa visão?
A criança com baixa visão
enxerga pouco, mesmo com o uso de óculos.
A criança que tem baixa visão deve ser estimulada a usar a visão
residual (que resta) ao máximo. Ela não é cega e não deve ser
tratada como tal.


O que são: hipermetropia,
miopia e astigmatismo?
1) Hipermetropia: o olho é
menor do que o normal e a imagem forma-se atrás da retina. Os
hipermétropes têm dificuldade em enxergar de perto, e necessitam de
um esforço maior para acomodar a imagem na retina.
Características dos hipermétropes: é comum aos portadores de
hipermetropia que não usam óculos terem dores de cabeça, tonturas e
cansaço visual, principalmente se estiverem lendo, escrevendo,
pintando ou brincando com objectos próximos dos olhos. Geralmente
são crianças mais dispersivas, que dão preferência a brincadeiras ao
ar livre.
2) Miopia: quando o olho é
maior do que o normal e a imagem se forma num ponto anterior à
retina. A dificuldade é ver nitidamente à distância.
Características dos míopes: geralmente, os míopes apertam os olhos
para ver melhor, e costumam aproximar os objectos para bem perto dos
olhos. As crianças portadoras de miopia, que não usam óculos,
normalmente são mais tímidas, preferindo actividades como leitura,
pintura ou brincadeiras próximas das mãos, do que ao ar livre e à
distância.
3) Astigmatismo: quando a
córnea não é esférica, isto é, sua curvatura difere de um ponto para
o outro, a imagem formada na retina será distorcida. Exemplo: a
córnea sem astigmatismo é semelhante a uma bola de futebol cortada
ao meio; já uma córnea com astigmatismo é semelhante a uma bola de
futebol americano, que é oval. O astigmatismo pode estar associado à
miopia ou à hipermetropia.
Características dos astigmatas: os portadores de astigmatismo,
quando não usam óculos, podem apresentar dores de cabeça, ardor
ocular e olhos vermelhos aos esforços visuais para perto e longe.
Observação: Chama-se
ambliopia ou "olho preguiçoso à baixa visual em um ou nos dois
olhos, apesar do fundo do olho ser normal. Quase sempre pode ser
prevenida e tratada. Suas causas mais comuns são o estrabismo (olho
vesgo, torto), grande diferença entre o grau de um olho e outro, e
alta miopia, hipermetropia ou astigmatismo.
4.ª Parte: Educação da criança com baixa visão
Como os professores podem
ajudar as crianças com baixa visão na sala de aula?
Os professores desempenham um importante papel no processo de
integração da criança com baixa visão, inicialmente preparando a
classe para recebê-la e, posteriormente, ajudando-a a se
familiarizar com o meio físico e com os colegas.
Outra acção importante do professor é propiciar meios para a
utilização da visão residual da criança.
Como melhorar a eficiência
visual da criança com baixa visão?
Isso pode ser realizado com o auxílio de meios ópticos e não
ópticos. Os auxílios ópticos são específicos para as necessidades
visuais de cada criança e dividem-se fundamentalmente em duas
categorias: os que ampliam a imagem para perto, permitindo a leitura
de material impresso, e os que ampliam as imagens para longe,
possibilitando, por exemplo, acompanhar o que está sendo exposto no
quadro.Em princípio, as crianças com baixa visão devem ser colocadas nas
cadeiras da frente na sala de aula e em posição que evite muita
reflexão de luz sobre a lousa.
A) Recursos ópticos - São lentes que possibilitam o
aumento das imagens.
Para perto:
Para perto utilizamos lentes positivas de grau geralmente elevado.
Muitas vezes optamos apenas pela correcção do melhor olho, pela
dificuldade de se obter visão simultânea em ambos os olhos com
auxílios ópticos. Ressalta-se que quando utilizamos um sistema
óptico que aumente o tamanho da imagem, diminuímos o campo de visão,
ou seja, a área focada é menor do que o normal. Pode-se também fazer
uso de lupas manuais ou de apoio, com aumentos variáveis que
propiciem maior conforto e eficiência na leitura.
As lupas manuais são bastante práticas, pois podem ser levadas em
bolsos, mas podem representar um problema para a leitura mais
prolongada ou quando temos alguma dificuldade em segurá-las
firmemente. Devem ser mantidas próximas ao material de leitura.
Nos casos de leitura prolongada, as lupas de apoio são de grande
valia. Elas apresentam a vantagem de sua base já as colocarem na
distância correcta de utilização em relação ao material de leitura
ou estudo, variando, assim, apenas a posição do olho do observador.
Para longe:
Para melhorar a visão de longe, utilizam-se sistemas telescópicos (telelupas)que
podem ser monoculares (em um olho) ou binoculares (nos dois olhos).
Tais auxílios são, em geral, usados estaticamente, isto é, quando o
indivíduo está parado, pois o campo visual fica reduzido e a
percepção de distância alterada. Habitualmente são monoculares e
presos ao pescoço por uma alça. São os únicos auxílios ópticos
empregados para longe e utilizados pelas crianças para observar o
quadro negro, assistir à TV, reconhecer o autocarro ou pessoas.
Também como regra, quanto mais poderosa, menor é o campo de visão
(área de visão) e exigem alguma destreza manual e treinamento para a
sua utilização.Lentes filtrantes que diminuem os reflexos de luz e possibilitam
maior contraste podem ser adicionadas à correcção óptica, levando a
um maior conforto e eficiência.
B) Recursos não ópticos
São recursos que não utilizam lentes para melhorar o desempenho
visual. Na sala de aula, devem ser disponibilizados na medida do
possível:
- iluminação adequada; - apoio adequado para leitura e escrita; - cadernos com pautas ampliadas; - lápis 6B ou 3B; - canetas hidrográficas que permitem maior contraste; - livros didácticos com tipos ampliados; - chapéus e bonés podem ajudar a diminuir a reflexão excessiva da
luz em ambiente externo; - guia de leitura - a leitura pode ser facilitada com o uso de uma
régua para marcar a linha ou uma cartolina preta com uma abertura no
centro, que serve para destacar uma ou mais linhas;
Uma cartolina preta com abertura ao centro
|
Importância da iluminação
Uma iluminação adequada é fundamental para qualquer pessoa durante a
leitura e extremamente importante para o bom desempenho do portador
de baixa visão, que geralmente necessita de maior iluminação.
A fonte de luz deve ser posicionada próxima ao material de leitura;
candeeiros com braços ajustáveis são muito úteis para esta
finalidade.Nem todos os pacientes beneficiam com a incidência directa de luz,
sendo importante experimentar diversas posições e estilos para
encontrar a que mais se adapta às condições individuais. Algumas
condições específicas como o albinismo e a aniridia (ausência de
íris) tornam a retina extremamente sensível ao excesso de
iluminação, sendo necessárias lentes filtrantes especiais.
Observação: Uma vez
realizada a consulta médica e seleccionados os auxílios mais
adequados a cada caso, a criança deve ser treinada a usá-los para
que possa se familiarizar com as vantagens e limitações desses
recursos.
Quais os direitos da criança
com baixa visão?
As crianças com baixa visão tem os mesmos direitos das outras
crianças, principalmente frequentar uma escola para que possa
desenvolver plenamente seus potenciais e sociabilizar-se.
O processo educacional e
pedagógico é igual ao da criança com visão total?
Cada criança é única. Deve-se respeitar o seu tempo e a sua
capacidade de entender e encarar os factos.
Uma criança mais agitada não pode ser comparada a uma criança mais
retraída, pois são personalidades diferentes. Cada qual terá seu
jeito de assimilar os factos.
Uma criança com baixa visão não pode ser comparada a uma criança que
enxerga totalmente. Seu rendimento em classe é diferente, mas ela
não deixará de aprender e de se desenvolver.
O conteúdo disciplinar que a classe recebe é único, porém, a maneira
da criança absorver esse conteúdo é particular. Umas podem exigir
mais horas e diferentes explicações, por parte do professor, para
compreensão dos factos.
O mesmo se dá com a criança com baixa visão: o conteúdo educacional
será o mesmo das outras crianças de sua série, mas algumas poderão
necessitar de um auxílio especializado do professor da classe normal
ou professor especializado.
E quanto às actividades como
educação física, recreio, passeios fora da escola?
Algumas crianças com acentuada baixa de visão preferirão deixar de
fazer certos desportos durante a educação física. Para essas
crianças, pode ser desenvolvido um programa de educação física
diferente das demais.
Já no recreio, a criança deverá receber orientação inicial para
conhecer bem o pátio e adquirir independência.
Nos passeios fora da escola (teatros, museus), cabe à direcção
relatar a existência de crianças com alterações visuais, que
necessitam chegar mais perto para ver melhor, além dos cuidados com
a locomoção em ambientes desconhecidos.
As crianças com baixa visão
precisarão de psicólogos ou outros profissionais?
A necessidade de psicólogos e terapeutas dependerá de cada criança,
de como ela se relaciona com os colegas, a família, os professores e
como assimila o aprendizado.
O oftalmologista, além do exame de rotina, deve ser uma fonte de
informações para o professor sobre o uso da visão residual e a
evolução futura da doença.
Como falar com os pais dessa
criança?
A escola deverá orientar os pais sobre a melhor maneira dessa
criança desenvolver seu potencial, em casa e socialmente.
Há necessidade de esclarecimento e troca de informações em reuniões
periódicas com os profissionais envolvidos (professores de classe
comum e de educação especial, oftalmologistas, psicólogos, pais).
O que o professor precisa
saber do médico oftalmologista sobre a criança com baixa visão?
Primeiramente é preciso saber qual é a causa da baixa visão, onde se
localiza a doença, como a doença altera a visão (limitações e
potencialidades), qual é a sua evolução (prognóstico) e quais são os
cuidados especiais necessários.
Com estes dados, a escola pode colaborar com o desenvolvimento da
eficiência visual da criança e sua inclusão na escola e na
sociedade.
A escola deverá passar por
mudanças em seu ambiente físico?
Normalmente, a criança com baixa visão deverá ser capaz de passar
pelos obstáculos existentes após treino com o professor. Ela deverá
ser capaz de subir e descer escadas, passar por buracos no chão,
passar por áreas com pouca luz etc.
Se houver necessidade de um guia, o professor ou um colega de classe
poderá fazer esse papel.
Algumas medidas podem ser adoptadas, como manter as portas sempre
bem abertas ou fechadas. Evitar portas entreabertas, gavetas mal
fechadas, objectos espalhados pelo chão e pisos escorregadios.
O professor terá mais trabalho
ao atender as crianças com baixa visão?
O papel do professor é fundamental para o desempenho da criança
portadora de baixa visão. Essas crianças necessitam de mais atenção
e carinho.O professor deverá deixar a criança chegar perto do quadro negro, se
for necessário; ajudar no auxílio não óptico; orientar a classe para
receber essa criança e seu auxílio óptico; preparar material
didáctica, quando necessário. Enfim, são várias tarefas que darão
mais trabalho, mas trarão muita satisfação.
Observação: Não se deve
assumir total responsabilidade pela criança com baixa visão, fazendo
tudo por ela e evitando que se canse ou se machuque. Ela deve ser
responsável pelas próprias acções.
A criança precisará de
orientação em relação à mobilidade?
O professor de classe comum, na ausência do professor especializado,
orientará a criança sobre como se locomover sozinha. Porém, se a
visão for muito baixa e ela necessitar de um guia para andar, a
professora e os colegas poderão servir de guia.
Como o professor deve se
expressar quando a criança com baixa visão estiver na classe?
Normalmente, na nossa linguagem, utilizamos expressões coloquiais,
tais como: "viu só", "você viu aquilo?", "vejo você mais tarde" -
que não necessariamente estão querendo questionar se a criança viu
ou não, mas se ela se deu conta ou se percebeu algo. Por isso, não
há necessidade de evitar essas frases.
Conselhos para o professor
que receberá a criança com baixa visão na classe
1) Converse com a classe sobre
a presença da criança com baixa visão. Leve temas sobre o
desenvolvimento visual dos seres humanos e dos animais para serem
debatidos na classe.
2) Apresente a criança ao
grupo e encoraje-a a responder às perguntas que porventura surgirem.
3) inclua a criança com baixa
visão em todas as actividades (artes, ginástica, música). Se houver
necessidade de equipamentos especiais, devem ser adaptados a cada
tarefa.
4) Todas as normas de
disciplina aplicadas às outras crianças devem ser aplicadas à
criança com baixa visão.
5) Encoraje a criança com
baixa visão a se locomover pela classe, na escola e no pátio, para
que essa exploração lhe forneça informações preciosas sobre a
escola.
6) Explique a rotina da
classe.
7) Algumas tarefas que exigem
percepção visual a longa distância devem ser verbalizadas para a
criança. Ex.: feições, placares, alvos, jogos de futebol etc.
8) Providencie um canto no
armário para acomodar o material que será necessário (cadernos com
linhas mais grossas, foco de luz, livros com letras ampliadas).
9) Afirme para a criança com
baixa visão que ela poderá pedir ajuda quando necessitar.
10) Respeite o limite da
criança e, se ela não pedir auxílio, não o dê. Porém, se perceber
que essa criança está deixando de fazer a tarefa por
constrangimento, medo ou insegurança em pedir ajuda, converse com
ela em particular e esclareça o papel do professor na classe. Se
necessário, peça auxílio aos outros componentes da equipe escolar.
11) Caso haja debate na
classe, mencione o nome de quem está falando. Às vezes, devido à
distância, ela não conseguirá saber quem está falando e nem sempre o
tom de voz é de fácil reconhecimento.
12) Algumas crianças com visão
muito baixa podem apresentar certos tiques, que chamamos de
"maneirismos". Por exemplo: balançar o corpo ou colocar as mãos
sobre os olhos. Esse tipo de comportamento deve ser desencorajado. O
professor deve estimular a criança a não praticar essa acção.
13) Se houver uma janela na
sala de aula, deixe que a criança que necessita de mais luz para ler
e escrever se sente próximo a ela.
14) Se necessário, providencie
um foco de luz para ajudar nas tarefas para perto.
15) Dependendo da doença
ocular, a criança poderá preferir menos luz para executar suas
tarefas.
16) Encorajar sempre o uso da
visão residual.
17) Caso a criança não consiga
copiar o que está no quadro negro: - deixe-a chegar perto do quadro; - reforce o uso de auxílio óptico; - entregue cópia do que será colocado no quadro; - permita que a criança grave a aula; - dite vagarosamente as palavras que serão colocadas no quadro; - permita que ela copie no caderno anotações do colega; - no computador, deixe a criança ampliar o corpo da letra tanto
quanto for necessário.
18) Auxiliares não ópticos
também são: letras ampliadas, números ampliados, mapas escolares
ampliados, figuras ampliadas e provas ampliadas.
19) Se houver necessidade,
marcar reforço extra-classe para essa criança tirar suas dúvidas
fora do horário escolar.
20) Caso haja necessidade,
faça prova oral em vez de prova escrita.
21) Como a criança com baixa
acuidade visual pode apresentar cansaço visual, convém que o
professor intercale as actividades de leitura e escrita com
actividades orais.
O que o professor deve
observar na classe para determinar se outras criança têm problemas
visuais?
Em primeiro lugar, é
necessário salientar que a criança dificilmente conseguirá
verbalizar as mudanças visuais que ocorrem com ela. O professor deve
ficar atento às seguintes manifestações:
-
Modificações
físicas na área dos olhos (pupilas brancas, vesguice etc.)
-
Dificuldade de se
locomover, tombos frequentes, tropeções, esbarrões nos batentes das
portas.
-
Dificuldade em
copiar a matéria, ler, desenhar.
-
Comportamento
diferente do anterior: mais tímida, medrosa, com medo de se expor,
principalmente em brincadeiras ao ar livre. Fica irritadiça.
-
Observar se a
criança aproxima objectos e livros dos olhos com frequência.
-
Observar se a
criança tem aversão à luz ou necessita de muita luz para suas
tarefas.
-
Observar se a
criança apresenta dor de cabeça, lacrimejamento ou desinteresse pelo
que ocorre a uma certa distância.
Nesses casos, o professor deve
comunicar à direcção da escola/pais a necessidade da criança passar
por exame oftalmológico.
O esforço visual prejudica
a visão?
Acabará com o pouco de visão que resta nessas crianças?
O esforço visual não enfraquece a visão. O desenvolvimento da visão
está relacionado com os estímulos visuais. Portanto, é importante
deixar a criança usar a sua visão para poder desenvolvê-la. Assim,
nenhum esforço visual é prejudicial ao olho, ao contrário, é um
exercício para a visão, e também não acabará com o resto da visão
que a criança tem.
Computador, jogos vídeo e TV
são prejudiciais às crianças com baixa visão?
O estímulo visual, ao contrário do que alguns pensam, favorece a
rápida compreensão da leitura. O uso de computador ou dos jogos
vídeo exige um esforço visual que pode levar ao cansaço, mas não
causa lesão nos olhos. A causa do cansaço pode ser o excesso dessa
actividade. Da mesma maneira a televisão também não causa lesões
oculares e, portanto, não prejudica a visão.
A criança cega ou com baixa
visão pode ir para a escola comum?
A criança cega ou com baixa visão deve frequentar a classe
comum pois é uma criança como outra qualquer. Só não enxerga como as
outras.Talvez também necessite de auxílio óptico especial, lentes de
aumento, lupas ou telescópios que ampliam as imagens e de recursos
não ópticos (letras ampliadas, canetas com traçado mais forte etc.)
Além disso, o convívio com outras crianças serve de estímulo ao seu
desenvolvimento global e adaptação ao mundo. Não se pode negar o
convívio ao deficiente visual.
Ler com pouca ou muita luz
prejudica a visão?
Ler com pouca luz só é mau para quem não consegue ler sem uma luz
forte. O excesso ou a insuficiência de iluminação cansam e
dificultam a leitura, mas não prejudicam os olhos. A fonte de
iluminação não deve provocar sombras nem reflexo no objecto de
leitura ou trabalho. Algumas doenças oculares provocam a necessidade
de um foco de luz forte directo na tarefa que a criança executará.
Ler com o livro muito próximo
dos olhos pode ser prejudicial para a visão?
Ler chegando perto do livro não prejudica os olhos. Por outro lado,
pode ser a única maneira para poder ler.
MITOS
Cenoura melhora a visão?
Uma dieta rica em vitaminas (frutas, legumes e vegetais) melhora a
condição física, mas não a cenoura, especificamente. São raros os
casos de pessoas desnutridas ou com doenças no fígado que apresentam
falta específica da vitamina A (presente na cenoura).
Pode-se fazer transplante de
olho?
A única parte do olho que pode ser transplantada é a córnea. Não há
possibilidade de se transplantar o olho todo.
Coçar os olhos faz mal?
É muito perigoso coçar os olhos! O olho é uma estrutura delicada,
sem ossos no seu interior, por isso a pressão do dedo altera suas
estruturas, levando ao aumento da pressão ocular, distorção corneana
etc. A repetição desse trauma pode levar a várias doenças, inclusive
ceratocone (distorção corneana).
ϟ
excerto da obra
"Entendendo a baixa visão - orientação aos professores"
Autores:
Regina Oliveira, Newton Kara-José e Marcos Wilson Projecto Nacional para Alunos com Baixa Visão - pnaBV Secretaria de Educação Especial - Ministério da Educação - Brasília,
2000
Δ
26.Mai.2007
publicado
por
MJA
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