U.S. Department of Health, Education and Welfare

Todos os pais esperam ansiosamente o nascimento do seu filho. Mas, quando a criança
nasce cega, ou fica cega pouco depois do nascimento, os pais ficam chocados. Por vezes
ficam mesmo esmagados pelo enorme desgosto. Isto pode ser devido ao facto de nunca terem
conhecido uma pessoa cega. Lembram-se apenas dos cegos que viram na rua a pedir ou a
vender cautelas. Não têm conhecimento de que existem milhares de pessoas cegas que
exercem cargos de responsabilidade e bem remunerados, que desempenham actividades
especializadas ou são administradores de negócios. Não conseguem conceber a ideia de
não conseguir ver. Pensam que a criança sentirá a cegueira da mesma forma que eles.
A criança que nasceu cega não sabe o que é ver. Nem tão pouco sabe
que está privada de algo, que lhe falta qualquer coisa. E não se aperceberá disso
durante bastante tempo. Não sabe que é diferente dos outros. Portanto é tão feliz como
qualquer outra criança. Até se aperceber de que não vê, pode ter-se tornado uma pessoa
feliz, que encara a vida como qualquer outra criança. Pode sentir que é amada e desejada
pelos pais e que consegue viver a sua vida plenamente. Geralmente a maior parte dos pais
necessita de bastante tempo para se acostumar à ideia de que o seu filho não pode ver. E
não é de admirar. Todas as expectativas e planos que tinham para este filho parecem ir
por água abaixo. Sentem-se isolados e perguntam-se: "Porque terá isto acontecido ao
nosso filho?" Ficam também preocupados com a felicidade futura da criança. Podem
até sentir-se culpados. Pensam que tinham obrigação de estar felizes com o nascimento
do filho, mas que isso não se verifica.
OS OUTROS PAIS PODEM AJUDAR
É perfeitamente natural e normal a ocorrência dos sentimentos referidos. Não são de
modo algum raros. Alguns pais sentem-se apoiados se conversarem com os pais de outras
crianças cegas. Os pais que já ultrapassaram a angústia dos primeiros meses e que viram
o seu filho crescer, podem dar esperanças aos pais que se vêem agora confrontados com a
mesma situação. Podem dizer-lhes que, à medida que o tempo passa, e que a criança
começa a crescer e a desenvolver-se, eles terão orgulho nela e nas suas conquistas.
Traumatizados pelo desapontamento e pela tristeza, por vezes os pais sentem dificuldade
em se aperceber de que o filho é antes de tudo uma criança. Ser cego é apenas um
aspecto da sua vida. Mas a sua vida tem muitos outros aspectos. A cegueira não o torna
tão diferente duma criança que vê, como geralmente se pensa. Na realidade tem muito
mais semelhanças com a criança que vê do que diferenças. Portanto, quanto mais os pais
aprenderem sobre a criança, mais a poderão ajudar.
Como acontece com todos os pais, a mãe e o pai de uma criança cega querem que tudo o
que acontece ao seu filho contribua para desenvolver a autoconfiança, e a independência.
Querem que ele coma, ande, se vista, brinque com outras crianças, vá à escola e tenha
uma vida social como todas as outras crianças.
ELE PRECISA DAQUILO QUE TODAS AS CRIANÇAS PRECISAM
Há certas coisas de que todas as crianças precisam. Precisam de saber que são amadas
e desejadas e que são membros importantes da Família. Precisam de ser capazes de se
desembaraçarem sozinhos e gostam que os outros se apercebam disso. Precisam de conhecer a
sensação de ter feito algo bem feito. Precisam de desenvolver continuamente as suas
capacidades. A criança cega precisa de tudo isto tanto como as outras. Precisa ainda de
ser saudável. Para além dos cuidados normais do pediatra, a criança cega precisa dos
cuidados de um oftalmologista (médico especializado em doenças dos olhos). O
oftalmologista pode informar os pais sobre o problema dos olhos do seu filho.
Por vezes a criança cega necessita do auxílio de outros técnicos especializados. Se
assim for, o médico ou o oftalmologista podem fazer o encaminhamento conveniente, para
neurologista, uma assistente social, uma enfermeira de saúde pública, etc. A saúde
mental e emocional andam de mãos dadas com a saúde física e são igualmente importantes
para o desenvolvimento de uma criança feliz.
Durante os primeiros meses tudo o que a criança precisa é de comida, sono e mimo.
Pegar nela, apertá-la ao peito e passeá-la pela casa contribuem para que se sinta amada
e segura. A criança nasce desejosa de conhecer as coisas do mundo exterior e de percorrer
todos os lugares. Mas se não vê, precisa de ser estimulada a pegar nos objectos e a
mexer-se por meio de palavras e de sons e de uma grande variedade de objectos para
manipular. Assim essa curiosidade inata levará ao seu crescimento e desenvolvimento. Para
começar , a criança precisa de ser levada de um local para o outro muito mais do que
qualquer outra criança. Ela gosta de ouvir as conversas das pessoas que a rodeiam e gosta
sobretudo de que falem com ela. Deve sentar-se a criança amparada com almofadas durante
algum tempo todos os dias, na mesma idade em que isso se faz com as crianças que vêem.
Se a criança cega souber que existe um fio atravessado no seu berço com objectos vários
pendurados ela começará a esforçar-se por alcançar e manusear esses objectos.
Alguns pais só muito tarde começam a brincar com o filho cego. Não o fazem saltar
nos seus joelhos e muitas vezes nem sequer lhe pegam. Todos os bebés gostam dessa
brincadeira e de demonstrações de carinho sejam cegos ou não. Podem ser pequenos, mas
não são frageís e apreciam uma boa brincadeira com o pai ou com a mãe. Deve sempre
dizer-se ao bebé quando se lhe vai pegar ao colo. Caso contrário ele poderá assustar-se
se lhe pegarem, de repente, sem contar.
AJUDE-O A COMEÇAR
Alguns pais deixam o seu bebé cego demasiado tempo deitado no berço - mesmo quando
ele próprio já quer movimentar-se e pôr-se em pé agarrado às grades. Fazem isso com
medo de que ele se magoe quando começar a andar de um lado para o outro. Mesmo quando o
colocam no chão, limitam-lhe o espaço ao do parque. O uso do parque é bom desde que
não se exagere e não se limite a criança à exploração do seu interior. A maior parte
das crianças cegas podem perfeitamente explorar o espaço exterior ao parque. Utilizam-no
para andar à sua volta e para se segurarem quando se querem pôr em pé. Logo que
conseguem manter-se sentadas e tocar o chão, algumas crianças gostam do andarilho. Pode
ser necessário estimular a criança cega a dar alguns passos para fora do seu ambiente
natural para sentir a diferença entre o tapete e o chão liso, para tentar encontrar os
carrinhos que se puseram em determinado local para ela, ou para sentir nos pezinhos o
contacto da relva do jardim. Mas não deve nunca forçar-se a isso. Nesse dia ela pode
não estar disposta a fazer novas experiências e pode mesmo recusar-se a fazê-las. No
dia seguinte ou dois dias depois poderá ser ele próprio a querer fazer esse
"jogo". Deve dar-se à criança liberdade para ser ela a decidir.
A criança que vê agarra os objectos à sua volta e movimenta-se para os ir procurar.
Uma criança cega não procura no desconhecido a menos que seja motivada nesse sentido.
Uma voz ou um som que chame a sua atenção - um sino por exemplo - pode ser o ponto de
partida para que ela se desloque em sua direcção. Alguns pais tentam atrair a criança,
utilizando o seu brinquedo preferido ou orientam-no nas deslocações tocando-lhe ao de
leve. Até ao momento em que a criança começa a deslocar-se na sala ou no local onde
costuma permanecer, o seu campo de exploração é extremamente limitado e os objectos que
manuseia são igualmente limitados. Para além disso o movimento é importante, não só
para o conhecimento do mundo que a rodeia, mas também para o seu desenvolvimento
muscular.
INTELECTUALMENTE, A CRIANÇA CEGA É IGUAL A QUALQUER OUTRA
No início, algumas crianças cegas podem ser mais lentas na execução de certas
actividades e na aprendizagem. Esta lentidão pode preocupar os pais. Podem ser levados a
pensar que o seu filho tem um atraso mental, contudo a lentidão não é factor indicativo
de deficiência mental. As crianças cegas têm a mesma capacidade de aprendizagem que as
outras crianças. A maior parte são intelectualmente médias, algumas ligeiramente abaixo
da média e algumas são mesmo super dotadas, como de resto acontece com as crianças em
geral.
Ainda não se conseguiu um teste suficientemente válido para avaliar a capacidade
intelectual da criança cega, contudo os psicólogos, os assistentes sociais e outros
técnicos que trabalham com deficientes visuais são unânimes em afirmar que existe uma
ligação estreita entre o nível de desenvolvimento e aprendizagem que a criança
consegue atingir e as oportunidades e a segurança que lhe foram dadas. Os pais de uma
criança cega podem esperar que ela participe em certas tarefas, tal como acontece com as
outras crianças. Não é necessário esperar "que ela seja mais velha", pois,
para algumas, ela já tem a idade suficiente e apenas necessita de ter oportunidade. Se a
criança cega tiver as mesmas oportunidades que uma criança que vê, tornar-se-á do
mesmo modo uma pessoa válida de pleno direito. Se os pais chegam à conclusão de que
determinada tarefa é demasiado difícil para o seu filho, não o devem forçar para que
consiga realizá-la inteiramente, mas devem encorajá-lo, elogiá-lo, pelo esforço
despendido e tentar de novo noutra altura.
Se a criança tem ainda resíduos visuais, ainda que seja apenas percepção luminosa,
os pais devem estimulá-la a utilizar esses resíduos o mais possível. Alguns pais
preocupam-se quando o seu filho ganha o hábito de esfregar ou tocar nos olhos, abanar as
mãos em frente dos olhos, baixar a cabeça ou virá-la de um lado para o outro. As
crianças que vêem por vezes também fazem isto, mas perdem esse hábito muito
rapidamente, porque têm muitas outras coisas para verem e ocuparem a sua atenção.
Quanto menos importância os pais derem a estes maneirismos, melhor. Se a criança cega
estiver interessada por outras coisas, deixará aos poucos de fazer essas coisas. É
necessário criar condições para isso e eles desaparecerão com a idade.
A CRIANÇA CEGA PRECISA DE MAIS TEMPO
Não há grande diferença entre o modo de tratar um filho cego e outro que o não
seja, apenas é necessário mais imaginação, mais paciência e geralmente mais
disponibilidade, contudo não se trata de uma forma diferente de actuação. Não existe
uma fórmula mágica que resulte sempre, tal como não há para as outras crianças. O
método utilizado por uns pais pode não resultar com outros. Cada criança é um
indivíduo. De criança para criança, os interesses são diferentes, as condições em
casa também são e daí que o método a utilizar tenha que ser igualmente diverso.
Da mesma forma, não existe um método único para todos os pais, porque os pais
também são diferentes, por isso não há informações ou sugestões que possam
considerar taxativas. Ajudar qualquer criança a crescer é uma tarefa difícil. Por vezes
pode até ser bastante ingrato e frustrante. Quando a criança é cega essa tarefa é
ainda mais árdua tanto para o pai como para a mãe.
A CRIANÇA CEGA UTILIZA OS OUTROS SENTIDOS
A aprendizagem e o comportamento da criança cega estão dependentes da audição, do
tacto, do gosto e do olfacto. Desde muito cedo ela aprende a utilizar estes sentidos com
maior grau de eficiência do que qualquer outra criança. A criança que vê, usa
simultaneamente os olhos, os ouvidos e as mãos. Escuta a mãe dizer-lhe o que vai fazer e
vê-a guardar um brinquedo numa caixa. Ela vê o que a mãe faz, ouve a explicação e em
seguida imita.
No caso da criança cega os ouvidos e as mãos têm que trabalhar em conjunto. Tem que
ouvir e apalpar o que vai fazer. Muitas vezes os pais têm que a ajudar, motivando-a. Isto
leva um certo tempo, e sobretudo exige dos pais maior paciência e força de vontade.
Seria muito mais rápido e muito mais fácil, se os pais fizessem tudo em vez do filho,
mas nesse caso ele nunca aprenderia a fazer nada, pela simples razão de que só se
aprende, fazendo. Se assim fosse a criança estaria sempre à espera que lhe fizessem as
coisas e nunca seria capaz de as fazer por si própria, o que certamente lhe desagradaria.
COMPARTILHE DAS SUAS ALEGRIAS
Dê ao seu filho oportunidade para fazer coisas e tempo suficiente para isso.
Estimule-o a dedicar-se a novas actividades. Quando ele aprende qualquer coisa, uma
palavra nova por exemplo, a tirar uma meia ou a ajudar a mãe a pôr a mesa, compartilhe
da sua alegria. Isso dar-lhe-á vontade de continuar a fazer novas experiências. Ele pode
aprender quase tudo o que a criança que vê aprende. Pode aprender a fazer, com
segurança, coisas que de início se pensariam impossíveis, como, por exemplo, correr,
andar de patins ou de triciclo. Dará com certeza muitos trambolhões, mas acabará por
conseguir, se não se ligar demasiada importância a isso. Todas as crianças dão
trambolhões, umas mais do que outras. Alguns pais de crianças cegas pensam que de cada
vez que o seu filho cai é apenas porque não vê. Mas a maior parte das vezes isso
acontece porque ele está a tentar manter-se em pé sozinho, a andar ou a mover-se de um
lado para o outro.
Tenta dar-lhe muitas oportunidades de fazer coisas por si próprio. Deixe-o adquirir
informação táctil através das suas próprias investigações. Dê-lhe sempre algo que
lhe ocupe o cérebro e as mãos. Como todos os bebés, o seu gostará de amarrotar e
rasgar papel, de brincar com blocos de madeira, com tampas de panelas ou de tocar tambor
com uma colher de pau. As crianças aprendem muito com os seus brinquedos e objectos que
manipulam. Hoje em dia muitos dos brinquedos que se vendem são feitos especialmente com
essa finalidade: pequenos conjuntos de ferramentas bonecas com roupas, serviços de chá,
carrinhos, autocarros, aviões...
Muitas vezes a criança que vê compreende imediatamente a utilização do brinquedo,
por já ter visto o mesmo objecto em tamanho natural a ser usado pelas pessoas crescidas.
A criança cega pode já ter ouvido o barulho de um martelo ou de um serrote, já ter
andado de autocarro, ouvido um avião, mas não tem uma ideia exacta de como esses
objectos são na realidade. Enquanto ela examina o brinquedo com as suas mãozinhas,
explique-lhe bem para que serve, e como é. Mas não se admire se ela preferir usar o
brinquedo de forma diferente daquela para a qual foi concebida. As crianças que vêem
também fazem isso. Em vez de andar com o carrinho para traz e para diante, ela pode
preferir virá-lo e fazer rolar as pequenas rodas com a mão. A criança não é obrigada
a seguir as regras de utilização dos brinquedos.
Quando dá de comer ou veste o seu filho, dê-lhe qualquer coisa para estar entretido e
fale com ele sobre isso. Fale com ele desta maneira: "Agora vamos vestir o casaco.
Estende o braço." Antes de lhe pegar ao colo diga-lhe "agora, upa!" para o
preparar. Desta maneira ele aprende o significado de algumas palavras e relaciona-as com o
que se está a fazer. Quando lhe disser "Aqui tens a tua torrada", ele
estenderá o braço para lhe pegar. Use exactamente as mesmas palavras que as pessoas que
vêem usam. "Maria, olha que lindo vestido tem esta boneca!" "João, vamos
ao jardim ver as flores."
Mas, quando disser estas coisas, deixe a Maria ver o vestido
tocando-lhe com as mãos, ou deixe o João ver as flores, pegando-lhe e
cheirando-as. Pelo tacto é perfeitamente possível distinguir o cetim da lã, da mesma
maneira que pelo olfacto podemos sentir a diferença entre uma rosa e um cravo com tanta
certeza como utilizando os olhos.
PERMITA-LHE FAZER MUITAS EXPERIÊNCIAS
Tudo o que o seu filho faz, todos os lugares onde vai, tudo o que manipula e fica a
conhecer - por outras palavras, todas as suas experiências - ajudam-no no seu
desenvolvimento cognitivo. Leve-o consigo à mercearia, ao armazém, ao jardim, ao pinhal,
ao rio, ao jardim zoológico, ao museu, à igreja, ao concerto, ao supermercado, à casa
da vizinha, à biblioteca, ao restaurante, à praia, à bomba da gasolina, ao emprego do
pai... Isto é, leve-o consigo para toda a parte. Tente sair com ele todos os dias. Vá a
pé em vez de ir de carro ou de autocarro, e, quando regressar a casa, fale com ele sobre
o que aconteceu. Vá-lhe explicando o que lhe está a mostrar e, sempre que possível,
deixe-o tocar e apalpar as coisas para as sentir bem. Ele tem tanto interesse como os
outros. A sua curiosidade aumentará se for estimulada.
A VIDA EM CASA É A MELHOR
A casa é o lugar preferido para a maior parte das crianças. Este facto é duplamente
real se se trata de uma criança deficiente - tal como, por exemplo, um cego. Há com
certeza excepções, mas, regra geral, a criança deficiente sente-se muito mais segura na
sua própria casa. Alguns pais hesitam entre colocar o seu filho em idade pré-escolar num
jardim infantil para cegos ou mantê-lo em casa, Pensam que, se o mantiverem em casa,
estão a privá-lo duma série de oportunidades de aprendizagem. Duma maneira geral, o que
a criança aprende no ambiente familiar, não pode ser aprendido em mais parte nenhuma.
Desde que não sinta que têm pena dela ou não lhe permitam que crie pena de si própria,
desde que os pais a aceitem e amem tal como ela é e lhe dêem oportunidade de criar
autoconfiança, então a criança aprenderá a ocupar o seu lugar no mundo que a rodeia.
Nalguns casos de crianças cegas com problemas especiais, tais como, por exemplo, outra
deficiência, um auxílio extra, fora de casa, poderá ser a melhor solução.
A CRIANÇA PODE FREQUENTAR UM JARDIM INFANTIL
Se for possível, inscreva o seu filho cego num jardim infantil. Se a criança estiver
preparada para isso, necessita dessa experiência mais ainda do que as crianças que
vêem. Isto é verdade, porque muitas crianças cegas não tiveram as oportunidades
suficientes e necessitam, por isso, de tudo o que lhes possa ser dado que facilite o seu
desenvolvimento global. Nalguns países, a criança cega pode frequentar o mesmo jardim
infantil que as outras crianças. Se houver um jardim infantil no local,onde vive, fale
com as educadoras sobre esta hipótese. Você e elas podem decidir se a criança está ou
não preparada para esta experiência.
INFORME-SE ACERCA DAS ESCOLAS
Enquanto o seu filho cego é pequeno, você tem muito tempo para se informar sobre as
várias possibilidades que a comunidade lhe pode oferecer relativamente à sua futura
educação escolar. Procure aquilo que houver de melhor para as crianças que vêem e não
se satisfaça com algo que não ofereça as condições necessárias. É necessário um
certo trabalho de planeamento com as entidades escolares locais antes que o seu filho
entre na Escola. Informe-se dos apoios locais em matéria de Ensino Especial, escreva para
a Equipa de Ensino Especial mais próxima ou mesmo para a sua Direcção Regional de
Educação. Informe-se sobre os apoios já existentes ou que poderão vir a existir quando
o seu filho atingir a idade escolar. Os Servicos que consultar compreenderão o seu desejo
de que a educação do seu filho não seja de modo nenhum prejudicada.
OS AMIGOS SÃO IMPORTANTES
A criança cega não deve começar demasiado cedo a brincar com crianças
normo-visuais. As crianças aprendem muito umas com as outras, e desde muito cedo as
crianças compreendem o que é que os seus companheiros de brincadeira esperam deles, a
nível de comportamento. É a fase das trocas, há regras que têm de ser seguidas e os
brinquedos têm que ser partilhados. Tudo isso contribui para o seu desenvolvimento.
Normalmente as crianças que vêem encaram a cegueira duma forma muito mais natural do
que a maior parte dos adultos. Quando os amigos do seu filho lhe fizerem perguntas sobre a
cegueira, responda-lhe duma forma simples e franca, porque eles estão realmente
interessados em saber. Mas essa curiosidade é a mesma que revelam, quando perguntam
porque é que uma pessoa é ruiva ou porque é que algumas pessoas usam roupas diferentes
das deles.
No inicio pode ser necessário um certo esforço para que as crianças comecem a
brincar juntas. Mas vale a pena, pois assim, em breve o seu filho começará a enfrentar
situações reais. Se puder coloque um recipiente com areia e outros brinquedos simples no
seu jardim, tenha sempre à mão barro ou plasticina para modelagem e tintas para
digitinta, ou palhinhas para fazer bolas de sabão. Em suma, as coisas com que os outros
pais não gostam de se preocupar. Ofereça um lanche às mães de algumas das crianças
que bricam com o seu filho e diga-lhes que os tragam. Todas as ocasiões em que ele possa
encontrar e brincar com outras crianças representam novas experiências e benefícios
para o seu filho.
Em famílias em que há mais crianças, os pais podem ter a tendência para
superproteger ou beneficiar a criança deficiente. Deixe-a colaborar em todas as tarefas
em que isso seja possível, distribua-lhe trabalhos fixos tal como faz com os seus irmãos
ou irmãs. Ele gostará de ser tratado como as outras crianças, e ficará triste se ficar
de fora em qualquer situação. A criança cega sentir-se-á muito mais feliz se sentir
que faz algo de útil para a família em vez de estar sempre na situação de receber.
Quando ela e a família colaboram, isso contribui para que a criança se sinta útil e
importante.
Algumas pessoas pensam que demonstrar pena ajuda a criança. Esquecem-se de que na
realidade ninguém gosta de que sintam pena de si. É muito melhor manter uma atitude que
leve à autoconfiança, pois ela é importante para toda a gente. Por isso se sentimos
pena dos outros e se a mostramos, não os ajudamos a eles nem a nós próprios.
AS PESSOAS SABEM MUITO POUCO ACERCA DA CEGUEIRA
O sentimento de infelicidade que ligamos à cegueira, não é efectivamente provocada
por ela, mas sim pela forma como a família, a comunidade e as pessoas em geral actuam
para com um cego. Poucos pais conseguem manter-se calmos quando, na rua, uma pessoa
totalmente estranha os aborda e manifesta pena relativamente à cegueira do seu filho.
Essa pessoa poderá mesmo querer dar à criança dinheiro ou guloseimas.
Este tipo de actuação das pessoas que vêem em relação aos cegos é devida pura e
simplesmente à ignorância. As pessoas em geral sabem muito pouco sobre a cegueira e
muitas vezes o que julgam saber não corresponde à realidade. Uma mãe dizia: "Foi
necessário muito tempo até eu conseguir controlar-me e não ficar irritada. Mas agora
já consigo com toda a sinceridade virar-me para o meu filho e dizer-lhe: Eles não querem
magoar-te. Só fazem estas coisas, porque não sabem."
PROCURE OBTER TODA A AJUDA NECESSÁRlA
Logo que saiba que o seu filho é cego, comece imediatamente a tentar procurar todo o
auxílio possível para que ele cresça e se desenvolva duma forma, tão semelhante quanto
possível, à de qualquer outra criança. Dirija-se aos Serviços de Segurança Social e
de Educacão da sua região, onde poderá obter todas as informações.
Nalgumas terras os pais de crianças cegas estão organizados em associações. A ideia
dessa iniciativa é não só obter e dar informação a outros pais nas mesmas
condições, mas promover o convívio entre todos. Eles pensam que os encontros de pais
não só servem de encorajamento mútuo, mas também como forma de conseguir sugestões e
auxílio para outros pais. Por vezes, com este trabalho conjunto, já conseguiram motivar
a comunidade para a criação de valências de atendimento para os seus filhos. Muitas
vezes estas associações são subsidiadas por organismos oficiais ou particulares.
Nalguns casos a comunidade não dispõe de qualquer serviço de atendimento a cegos. Nesse
caso, em vez de desistir, eles associam-se a outros serviços, pois pensam que, melhorando
as condições das outras crianças, estão automaticamente a melhorar as condições da
deles.
LEMBRE-SE
A primeira e última lição de que os pais de uma criança cega necessitam é:
-
Acredite no seu filho e convença-se de que ele pode ter sucesso na vida.
-
Dê-lhe amor, afeição e promova a sua saúde.
-
Dê-lhe possibilidade para aprender e para ter todas as experiências que contribuem
para o seu desenvolvimento global.
Se fizer isto, o seu filho estará no caminho da independência e de uma vida
tão interessante, feliz e útil como a de qualquer outra passoa.
ϟ
"The Preschool Child who is
Blind" (1985)
U.S. Department of Health, Education and Welfare
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: DGEBS - DIVISÃO DO ENSINO ESPECIAL
Δ
publicado
por
MJA
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