
Rapaz cego e amigo brincam com um papagaio
partido em Kabul
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índice
A visão é o mais importante canal de relacionamento do indivíduo com o mundo
exterior.
Pretendemos, com estas informações, esclarecer aos educadores, aos
familiares e à sociedade em geral alguns tópicos sobre a deficiência visual,
suas capacidades e limitações, ampliando nossos horizontes no relacionamento
humano.
Considerações gerais
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Não se refira à cegueira como desgraça. Ela pode ser assim encarada logo
após a perda da visão, mas a orientação adequada, a educação especial, a
reabilitação e a profissionalização conseguem minimizar os seus efeitos.
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A cegueira não é contagiosa, razão pela qual cumprimente seu vizinho,
conhecido ou amigo cego, identificando-se, pois ele não o enxerga.
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A cegueira não restringe o relacionamento com as pessoas nem com o meio
ambiente, desde que as pessoas com as quais o cego conviva não lhe omitam ou
encubram fatos e acontecimentos, o que lhe trará muita insegurança ao
constatar que foi enganado.
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O cego não enxerga a expressão fisionómica e os gestos das pessoas. Por
esse motivo, fale sobre seus sentimentos e emoções, para que haja um bom
relacionamento.
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Não trate a pessoa cega como um ser diferente porque ela não pode
enxergar. Saiba que ela está sempre interessada nos acontecimentos, nas
notícias, nas novidades, na VIDA.
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O cego não tem a visão das imagens que se sucedem na TV, no cinema, no
teatro. Quando ele perguntar, descreva a cena, a acção e não os ruídos e
diálogos, pois estes ele escuta muito bem.
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O cego organiza seu dinheiro com o auxílio de alguém de sua confiança,
que enxerga.
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Aqueles que aproximam o dinheiro do rosto são pessoas com baixa visão,
que assim conseguem identificá-lo.
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Não generalize aspectos positivos ou negativos de uma pessoa cega que
você conheça, estendendo-os a outros cegos. Não se esqueça de que a natureza
dotou todos os seres de diferenças individuais mais ou menos acentuadas. O
que os cegos têm em comum é a cegueira, porque cada um tem sua própria
maneira de ser.
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Procure não limitar as pessoas cegas mais do que a própria cegueira o
faz, impedindo-as de realizar o que elas sabem e devem fazer sozinhas.
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Ao se dirigir a uma pessoa cega, chame-a pelo seu nome. Chamá-la de cego
ou ceguinho é falta elementar de educação, podendo mesmo constituir ofensa
chamar-se alguém pela palavra designativa de sua deficiência física, moral
ou intelectual.
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A pessoa cega não necessita de piedade e, sim, de compreensão,
oportunidade, valorização e respeito, como qualquer pessoa. Mostrar-lhe
exagerada solidariedade não a ajuda em nada.
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O fato de a pessoa cega não ver não significa que não ouça bem. Não fale
com a pessoa cega como se ela fosse surda. Ao procurar saber o que ela
deseja, pergunte a ela e não a seu acompanhante.
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O cego tem condições de consultar o relógio (adaptado), discar o
telefone ou assinar o nome, não havendo motivo para que se exclame
"maravilhoso!", "extraordinário!".
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A pessoa cega não dispõe de "sexto sentido" nem de "compensação da
natureza". Isto são conceitos errôneos. O que há na pessoa cega é simples
desenvolvimento de recursos latentes que existem em todas as pessoas.
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Conversando sobre a cegueira com quem não vê, use a palavra cego sem
rodeios, sem precisar modificar a linguagem para evitar a palavra "ver" e
substituí-la por "ouvir".
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Ao ajudar a pessoa cega a sentar-se, basta pôr-lhe a mão no espaldar ou
no braço da cadeira, que isto indicará sua posição, sem necessidade de
segurá-la pelos braços, rodá-la ou puxá-la para a cadeira.
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Cuide para não deixar nada no caminho por onde uma pessoa cega costuma
passar.
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Ao entrar no recinto onde haja uma pessoa cega, ou dele sair, fale para
anunciar sua presença e identificar-se.
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Quando estiver conversando com uma pessoa cega, necessitando afastar-se,
comunique-a. Com isso, você evitará a desagradável situação de deixá-la
falando sozinha, chamando a atenção dos outros sobre ela.
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Ao encontrar-se com uma pessoa cega, ou despedir-se dela, aperte-lhe a
mão. O aperto de mão cordial substitui para ela o sorriso amável.
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Ao encontrar um cego que você conhece, vá logo lhe dizendo quem é,
cumprimentando-o. Colocações como "sabe quem sou eu?"..., "Veja se adivinha
quem está aqui...", "Não vá dizer que não está me conhecendo...", só o faça
se tiver realmente muita intimidade com ele.
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Apresente seu visitante cego a todas as pessoas presentes. Assim
procedendo você facilitará a integração dele ao grupo.
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Ao notar qualquer incorreção no vestuário de uma pessoa cega,
comunique-a, para que ela não se veja na situação desagradável de suscitar a
piedade alheia.
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Muitos cegos têm o hábito de ligar a luz, em casa ou no escritório. Isso
lhes permite acender a luz para os outros e, não raro, ela própria prefere
trabalhar com luz. Os que enxergam pouco (baixa visão) beneficiam-se com o
uso da luz.
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Ao dirigir-se ao cego para orientá-lo quanto ao ambiente, diga-lhe: a
sua direita, a sua esquerda, para trás, para frente, para cima ou para
baixo. Termos como aqui ou ali não lhe servem de referência.
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Encaminhe bebês, crianças, adolescentes ou adultos deficientes visuais,
que não receberam atendimento especializado, aos serviços de Educação
Especial.
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O uso de óculos escuro para os cegos tem duas finalidades: de proteção
do globo ocular e de estética, quando ele próprio preferir.
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Quando se dispuser a ler para uma pessoa cega jornal, revista, etc.,
pergunte a ela o que deseja que seja lido.
Na Residência
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Mudanças constantes de móveis prejudicam a orientação e a locomoção do
cego. Ao necessitar fazê-lo, comunique-o para que ele se reorganize.
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Pequenos cuidados facilitarão a vida do deficiente visual. Assim, as
portas deverão ficar fechadas ou totalmente abertas. Portas entreabertas
favorecem o choque do deficiente visual com elas. Portinhas de armários
aéreos bem como gavetas deverão estar sempre fechadas; cadeiras fora do
lugar e pisos engordurados e escorregadios são perigosos.
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Os objetos de uso comum deverão ficar sempre no mesmo lugar, evitando,
assim, que cada vez que o cego necessite de um objeto (tesoura, pente,
lixeira, etc.) tenha de perguntar onde se encontra.
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Os objetos pessoais do cego devem ser mantidos onde ele os colocou, pois
assim saberá encontrá-los.
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Na refeição, diga ao cego o que há para comer e, quando houver várias
pessoas à mesa, pergunte a ele, chamando-o pelo nome, o que deseja.
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O prato pode ser pensado como se fosse um relógio e a comida distribuída
segundo as horas. Assim, nas 12 horas, que fica para o centro da mesa, será
colocado, por exemplo, o feijão; nas 3 horas, à direita do prato, o arroz;
nas 6 horas, próximo ao peito do cego, a carne, facilitando assim ser
cortada por ele; e nas 9 horas, à esquerda do prato, a salada. Prato cheio
complica a vida de qualquer pessoa.
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O cego tem condições de usar garfo e faca, bem como prato raso, podendo,
sozinho, cortar a carne em seu prato. Firmando a carne com o garfo, com a
faca situa o tamanho da carne e o pedaço a ser cortado.
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Ao servir qualquer bebida, não encha em demasia o copo ou a xícara,
alcançando-os na mão do cego para que ele possa situar-se quanto a sua
localização.
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Não fique preocupado em orientar a colher ou garfo da pessoa cega para
apanhar a comida no prato. Ela pode falhar algumas vezes, mas acabará por
comer tudo. Ser-lhe-á penoso ter de dizer-lhe constantemente onde está o
alimento.
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Pequenas marcações em objetos de utilização do cego poderão ajudá-lo a
identificar, por exemplo, sua escova de dentes, sua toalha de banho, as
cores das latinhas de pasta de sapatos, a cor das roupas, as latas de
mantimentos, etc. Estas marcações poderão ser feitas em Braille, com
esparadrapo, botão, cordão, pontos de costura ou outros.
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Objectos quebráveis (copos, garrafas térmicas, vasos de flores, etc.)
deixados na beirada de mesas, pias, móveis ou pelo chão constituem perigo
para qualquer pessoa e, obviamente, perigo maior para o cego.
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Mostre a seu hóspede cego as principais dependências de sua casa, a fim
de que ele aprenda detalhes significativos e a posição relativa dos cômodos,
podendo, assim, locomover-se sozinho. Para realizar esta tarefa, devemos
colocar o cego de costas para a porta de entrada e dali, com auxílio, ele
mesmo fará o reconhecimento à direita, à esquerda, como é cada peça e qual é
a distribuição dos móveis.
Na Rua
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Ao encontrar uma pessoa cega na rua, pergunte se ela necessita de ajuda,
tal como: atravessar a rua, apanhar táxi ou ônibus, localizar e entrar em
uma loja, etc.
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Ofereça auxílio à pessoa cega que esteja querendo atravessar a rua ou
tomar condução. Embora seu oferecimento possa ser recusado ou mal recebido
por algumas delas, esteja certo de que a maioria lhe agradecerá o gesto.
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O pedestre cego é muito mais observador que os outros. Ele tem meios e
modos de saber onde está e para onde vai, sem precisar estar contando os
passos. Antes de sair de casa ele faz o que toda pessoa deveria fazer:
procura saber bem o caminho a seguir para chegar a seu destino. Na primeira
caminhada poderá errar um pouco, mas depois raramente se enganará.
Saliências, depressões, quaisquer ruídos e odores característicos, tudo ele
observa para sua boa orientação. Nada é sobrenatural.
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Em locais desconhecidos, a pessoa cega necessita sempre de orientação,
sobretudo para localizar a porta por onde deseja entrar.
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Não tenha constrangimento em receber ajuda, admitir colaboração ou
aceitar gentilezas por parte de uma pessoa cega. Tenha sempre em mente que
solidariedade humana deve ser praticada por todos, e que ninguém é tão
incapaz que não tenha algo para dar.
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Ao guiar a pessoa cega, basta deixá-la segurar seu braço e o movimento
de seu corpo lhe dará a orientação de que precisa. Nas passagens estreitas,
tome a frente e deixe-a segui-lo com a mão em seu ombro. Nos ônibus e
escadas, basta pôr-lhe a mão no corrimão.
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Quando passear com um cego que já estiver acompanhado, não o pegue pelo
outro braço, nem lhe fique dando avisos. Deixe-o ser orientado só por quem o
guia.
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Para indicar a entrada em um carro, faça a pessoa cega tocar com a mão
na porta aberta do carro e com a outra mão no batente superior da porta.
Avise-a se há assento na dianteira, em caso de táxi.
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Ao atravessar um cruzamento, guie a pessoa cega em L, o que será de
maior segurança para você e para ela. Cruzamento em diagonal pode fazê-la
perder a orientação.
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Ao fechar a porta do automóvel onde haja uma pessoa cega, certifique-se
primeiro de que não vai lhe prender os dedos. Estes são sua maior riqueza.
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Se você encontrar uma pessoa cega tentando fazer compras sozinha em uma
loja ou supermercado, ofereça-se para ajudá-la. Para ela é muito difícil
saber a exata localização dos produtos, assim como escolher marcas e preços.
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Não "siga" o deficiente visual, pois ele poderá perceber sua presença,
perturbando-se e desorientando-se. Oriente-o sempre que for necessário.
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O deficiente visual, geralmente, sabe onde é o terminal de seu ônibus.
Quando perguntar por determinada linha, é para certificar-se. Em um ponto de
ônibus onde passam várias linhas, o deficiente visual necessita de seu
auxílio para identificar o ônibus que deseja apanhar. Se passar seu ônibus,
onde passa só uma linha, o deficiente visual o identificará pelo ruído do
motor, abertura de portas, movimento de pessoas subindo e descendo,
necessitando de sua ajuda apenas para localizar a porta. Em trajetos retos,
sem mudança do solo, o cego não pode adivinhar o ponto onde irá descer e
precisará de sua colaboração. Em trajetos sinuosos ou em que o solo se
modifica, ele faz seu esquema mental e desce em seu ponto, sem precisar de
auxílio. Quando você for descer de um ônibus e perceber que uma pessoa cega
vai descer no mesmo ponto, ofereça sua ajuda. Ela necessitará de sua ajuda
para atravessar a rua ou obter informações sobre algum ponto de referência.
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Ajude a pessoa cega que pretende subir em um ônibus colocando a mão dela
na alça externa vertical (balaústre) e ela subirá sozinha, sem necessidade
de ser empurrada ou levantada.
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Dentro do ônibus, não a obrigue a sentar-se, deixando esta decisão à sua
escolha. Apenas a informe onde há lugar, colocando sua mão no assento ou no
encosto, caso ela deseje sentar-se.
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Constituem grande perigo para as pessoas com deficiência visual os
obstáculos existentes nas calçadas, tais como lixeiras, carros, motos,
andaimes, venezianas abertas para fora, jardineiras, árvores cujos troncos
atravessam a calçada, tampas de esgotos abertas, buracos, escadas, etc.
No Trabalho
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Em função adequada e compatível, a pessoa com deficiência visual
produzirá igual ou mais que as pessoas de visão normal, pois seu potencial
de concentração é mais bem utilizado.
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Ao ingressar na empresa, a pessoa com deficiência visual, como qualquer
outro funcionário, deve ser apresentada a todos os demais colegas e chefias,
e ser orientado quanto à área física (distribuição das salas, máquinas, WC,
refeitório, outros).
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Todo cidadão tem direitos e deveres iguais perante a sociedade. Dessa
forma, a pessoa com deficiência visual deve desempenhar, na íntegra, seu
papel como trabalhador, cumprindo seus deveres no que se refere à
pontualidade, assiduidade, responsabilidade, relações humanas, etc.
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Se a pessoa com deficiência visual não corresponder ao que a empresa
espera dela, não generalize os aspectos negativos a todos os deficientes
visuais; lembre-se de que cada pessoa tem características próprias.
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Pelo fato de ter-se tornado deficiente visual, o trabalhador ou
funcionário não deve ser estimulado a buscar sua aposentadoria, mas a
reabilitar-se, podendo continuar na empresa ou habilitar-se em outras
funções e outros cargos. Algumas instituições têm como objetivo a
reabilitação e reintegração do deficiente no trabalho, bastando, para tanto,
contatá-las.
Na Escola
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Pessoas com olhos irritados e que esfregam as mãos neles, aproximam-se
muito para ler ou escrever, manifestam dores de cabeça, tonturas,
sensibilidade excessiva à luz ou visão confusa devem ser encaminhadas a um
oftalmologista.
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Toda pessoa com deficiência visual, por amparo legal, pode freqüentar
escola da rede regular de ensino (público ou particular).
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Se a pessoa enxerga pouco, deverá estar na primeira fila, no meio da
sala ou com distância suficiente para ler o que está escrito no quadro
negro.
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A incidência de reflexo solar e/ou luz artificial no quadro negro deve
ser evitada.
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Trate a pessoa com deficiência visual normalmente, sem demonstrar
sentimentos de rejeição, subestimação ou superprotecção.
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Todos podem participar de aulas de Educação Física e Educação Artística.
Use o próprio corpo do deficiente visual para orientá-lo.
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Trabalhos de pesquisa em livros impressos a tinta podem ser feitos em
conjunto com colegas de visão normal.
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Maria da Glória Batista Mota. A comunicação e a relação interpessoal com o
aluno deficiente visual. Brasília: Secretaria de Educação Especial
- MEC, 2003.
18-Jun-2009 publicado
por
MJA
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