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 Sobre a Deficiência Visual

A Cegueira Congénita e o Desenvolvimento Infantil

Community Based Program for Blind Children - Boston, Massachussets/EUA

Blind children playing hide-and-seek at Overbrook School for the Blind, 1912
Overbrook School for the Blind, 1912


Desenvolvimento Motor

A - O Controle da Cabeça

Na criança com visão, o desenvolvimento físico começa na cabeça e se estende até os pés, e parte do tronco em direcção às extremidades. A criança, portanto, deve desenvolver o equilíbrio da cabeça e o controle do tronco antes de aprender a sentar. Então ela aprende a levantar, andar, etc. De maneira geral, a criança obtém controle dos braços antes das pernas.
O bebé cego não conta com o estímulo visual para motivá-lo a levantar a cabeça e a desenvolver o controle da mesma. Portanto, ele deve ser ensinado a adquirir controle sobre os movimentos da cabeça e do corpo através de outros meios de estimulação. Embora a criança cega prefira deitar-se de costas, é essencial, para o fortalecimento do pescoço, que ela seja deitada sobre o estômago. Algumas maneiras de se conseguir isso:

  • Pendure brinquedos sonoros e com diferentes texturas nos lados do berço;

  • Pendure um espelho na lateral do berço;

  • Mude regularmente a posição do bebé no berço;

  • Alimente o bebé e mude suas roupas alternando os lados;

  • Encoraje-o a levantar a cabeça e a movê-la em volta enquanto o segura pelos ombros.


B - A Aproximação

Permanência dos objectos é a consciência de que um objecto ou pessoa existe mesmo quando fora do campo visual, auditivo ou táctil. Nos bebés com visão, essa capacidade aparece em torno dos 3 ou 4 meses. Nos bebés cegos, tal faculdade sofre um grande atraso, e só se desenvolve através de um trabalho consciente de treinamento e estimulação. A percepção da permanência dos objectos é essencial para o desenvolvimento da coordenação ouvido-mão (tentar alcançar um objecto atraído por seu som), que se desenvolve na criança com visão em torno dos 8 a 9 meses. Na criança cega essa faculdade não se desenvolve até por volta dos 12 meses, ou mesmo mais tarde. Como a percepção da permanência dos objectos é aprendida principalmente através do tacto, e subsidiariamente através da audição, um bebé cego precisa de muita estimulação táctil, especialmente em torno da 16ª semana, de maneira a estimular movimentos de extensão dos braços e mãos.

Por volta da 12ª a 16ª semana, a criança com visão acompanha com os olhos os objectos e começa a ter movimentos desordenados de extensão. Eis como ele começa a aprender a controlar seus braços, mãos e dedos. Uma boa coordenação olho-mão se desenvolve a partir das primeiras experiências visuais, o que não acontece com o bebé cego.
A criança cega, por não ter qualquer motivação visual, mostra pouca tendência espontânea a mover seus braços e mãos. Ela não estende os braços para ser pega no colo. O bebé cego movimenta seus pés e pernas mais que seus braços e mãos; por um bom tempo ainda mantém a posição de recém-nascido (braços flexionados com mãos na altura dos ombros). Suas mãos raramente são trazidas até a linha mediana do corpo, e ele geralmente não brinca com seus dedos. Portanto, ele precisa de estimulação e treino para desenvolver consciência de seus braços e mãos e de seu uso.
 

Algumas maneiras de se conseguir isso:

  • Fixe sinos em seus pulsos e tornozelos;

  • Coloque brinquedos com diferentes texturas em suas mãos;

  • Disponha os brinquedos ao alcance do bebé dentro do berço (o tacto é o principal sentido a ser estimulado nessa idade, mas brinquedos sonoros também ajudam);

  • Encoraje-o a unir as mãos na altura da linha mediana do corpo;

  • Quando der a mamadeira coloque as mãos do bebé na mesma;

A partir da 16ª semana a criança começa a sentar. Motive-a a sentar, e faça jogos manuais quando ela estiver sentada (ex.: jogos que a façam bater palminhas ritmadamente).


C - Engatinhar e arrastar-se

Uma criança cega geralmente não engatinhará ou se arrastará até que tenha desenvolvido a percepção da permanência dos objectos ou a coordenação ouvido-mão. Até então, não há nada motivando-a a se deslocar pelo espaço.
Muitas vezes a criança cega pula o estágio do engatinhar/arrastar-se, porque, quando tiver desenvolvido a percepção da permanência dos objectos, pode também já ter desenvolvido a habilidade de ficar em pé e andar.


D - Andar

Uma criança cega pode começar a andar por volta da mesma idade que a criança que vê, mas normalmente demora mais a andar. Um cercado é muitas vezes bom para o bebé cego no início dessa fase, por dar a ele um espaço definido, permitir a exploração controlada do espaço, abrigar os brinquedos e permitir que ele se apóie para ficar de pé. No entanto, assim que a criança cega estiver se levantando, deve-se deixar que ela explore uma área maior.
Quando a criança começar a andar é mais conveniente manter os móveis, etc. no mesmo lugar até que ela conheça seu ambiente. Se você mudar os móveis de lugar, não esqueça de avisá-la e ande com ela pelo ambiente.

A coordenação e o ritmo de uma criança cega ao andar podem ser mais desordenados do que os de uma criança com visão. Se a criança não for encorajada a conduzir seu corpo de maneira adequada, pode ser que mantenha uma grande distância entre as pernas ao ficar erecta, desenvolva má postura e uma forma de andar incorrecta. Um problema comum é o da criança que deixa cair a cabeça sobre o peito. A criança cega deve ser instada a manter a cabeça erguida, perpendicular em relação ao chão.


E - Correr, pular e saltitar

A maior parte de tais actividades motoras grossas são aprendidas através de estímulo visual e imitação. A criança cega precisa ser ensinada. É preciso fazer com que ela passe por essas actividades muitas vezes; ela deve ser encorajada a praticar esses movimentos de maneira independente. Isso é necessário para o desenvolvimento de um bom controle e coordenação muscular e corporal.

 

Desenvolvimento da linguagem

A - A Fala

Aprender a falar normalmente envolve a imitação visual da pessoa que fala. É, portanto, uma experiência bem diferente para a criança cega. A diferença nem sempre é óbvia antes da fala aparecer. Antes de serem usados para comunicação, os sons e palavras são brinquedos, e a fala é uma actividade que constitui-se num fim em si mesma. A criança cega pode balbuciar por muito tempo devido ao prazer oral que essa actividade proporciona. Por vezes, a fala ecolálica pode desenvolver-se e persistir por períodos maiores do que em relação à criança com visão.


B - Comunicação

As crianças com visão estão continuamente enriquecendo e expandindo seu vocabulário, devido ao estímulo visual e à experiência. Seu vocabulário é normalmente limitado a palavras concretas que ela pode experimentar através dos sentidos.

Palavras descritivas ou conceitos são difíceis de serem aprendidos. A criança cega pode esquecer palavras mais facilmente. Muitas palavras não têm sentido para ela, a menos que a criança tenha uma experiência directa com as mesmas. Portanto, é necessário fazer com que as palavras se tornem significativas para a criança cega. Descreva pessoas e coisas continuamente. Fale sobre o que você está fazendo (lavando o rosto, bebendo seu suco, etc.).

Evite manter rádio e televisão constantemente ligados perto da criança cega, porque o estímulo auditivo sem significado tende a ser ignorado. Quando a criança cega já puder se mover dentro de seu ambiente e entrar em contacto com os objectos, seu vocabulário se tornará mais rico. Permita que a criança faça escolhas verbalmente, que responda sim ou não, e que tenha oportunidades para o uso funcional de seu vocabulário.


Desenvolvimento Sócio-Emocional

Possíveis obstáculos que podem afectar a relação dos pais com a criança:

1. O choque, raiva, depressão e culpa, que os pais podem sentir ao tomar conhecimento da deficiência visual de seu filho, podem colocar os laços naturais sob grande tensão.

2. Se o bebé cego precisar ficar algum tempo em incubadora (ou necessitar de longa hospitalização após o nascimento), pode acontecer uma demora no começo do desenvolvimento da relação dos pais com a criança.

3. A passividade da criança cega pode inadvertidamente desencadear uma falta de estimulação por parte dos pais. Os bebés cegos, por não possuírem a visão como fonte de auto-motivação e auto-estímulo, podem se apresentar quietos e passivos. Eles normalmente não solicitam muita atenção, embora haja grande necessidade de estimulação e atenção suplementares para seu desenvolvimento. A passividade do bebé cego, associada ao potencial afastamento dos pais devido à depressão ou à falta de consciência do problema, pode levar a um ciclo de não-interacção que dificultará, ou mesmo impedirá, o desenvolvimento de uma relação saudável entre pais e filhos.

4. A dependência do bebé cego em relação aos pais para o atendimento de todas as suas necessidades, e para geração de estímulos, pode contribuir para uma atitude super protectora por parte destes. Os pais devem aprender a encorajar a independência em seu filho cego, especialmente quando a criança começa a se dirigir para seu ambiente e a explorá-lo.


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título original: The Effects of Congenital Blindness on the Development of the Infant and Young Child Community Based Program for Blind Children - Boston, Massachussets/EUA.
Tradução: André Oliveira.
Extraído da revista Benjamin Constant n.º 4 - Set. 1996
Centro de Pesquisa, Documentação e Informação do Instituto Benjamin Constant (IBCENTRO/MEC).
Fonte: http://www.deficientesvisuais.org.br/Artigo13.htm

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31.Jan.2007
publicado por MJA