O brinquedo é um elemento fundamental na vida das crianças, pois, por meio da interacção que é estabelecida, a criança constrói diversas capacidades, não só intelectuais, como emocionais também. Além de ser uma fonte de prazer e
socialização, o brinquedo pode ser uma poderosa fonte de descoberta do mundo, não só para compreendê-lo fisicamente, mas também culturalmente. As brincadeiras dizem muito sobre as regras que legislam a convivência entre as pessoas, seus
costumes e trocas atribuindo-lhes uma pertença a determinada cultura.
Para toda e qualquer criança o brinquedo é fundamental. Para os meninos e meninas cegas, o brinquedo assume uma característica a mais: serve como meio de a criança descobrir como são os objectos.
“Essencial no desenvolvimento das crianças, o brincar é utilizado na educação de crianças com deficiência para que elas aprendam a superar suas dificuldades.
Para as crianças com deficiência visual, por exemplo, os brinquedos, além de
entreter, são a maneira pela qual conhecem um mundo que não podem ver. Tacteando os brinquedos, elas descobrem a forma de construções e objectos do dia-a-dia, como carros, casas, ferramentas, móveis e utensílios de cozinha. Assim, elas saem
do isolamento e passam a achar o mundo mais interessante", afirma Marisa Siqueira Campos, pedagoga do Laramara.
Mara Siaulys, fundadora do
Laramara, explica que "a criança que não enxerga também tem muita dificuldade em entender a questão de tempo, como as horas do dia, a divisão entre manhã, tarde e noite, pois ela não vê as mudanças que ocorrem ao
longo do dia. Brinquedos como o Passa Tempo vêm facilitar este aprendizado e desenvolver a noção do tempo. O brinquedo é um grande painel composto por cartões que se encaixam em pequenos bolsos. A proposta é que, ao lado dos meses do ano, a
criança coloque um cartão com um acontecimento que faz referência ao mês. Janeiro, por exemplo, é o mês das férias de Verão no Brasil e Fevereiro é o mês do Carnaval. No mesmo brinquedo, ao lado dos dias da semana, a criança pode
discriminar as actividades que realiza diariamente..."
“...O Doce Sabor incentiva as crianças a desenvolverem actividades que melhoram a coordenação motora. O mais interessante é que todas as partes do brinquedo são comestíveis. A criança tem que encaixar a bolacha num tubinho, que
está colocado numa barra de gelatina. Ela pode ainda fazer um colar e pulseira de balinha ou brincar com a massinha de modelagem colorida e, no final, comê-la, já que é feita de farinha. Tem até uma receita de tinta de gelatina e uma
caixinha com balas que faz barulho para acompanhar uma música...”
“...Para os bebés, foram desenvolvidos diversos brinquedos. O Rodão, por exemplo, feito com pneu de caminhão e coberto com uma malha de tricô, é um espaço aconchegante onde a criança é colocada, ficando com as mãos livres para
brincar com os objectos presos ao seu redor. "São objectos interessantes, como chocalho, pandeiro. Esta é uma oportunidade para ela brincar, interagir, sentir objectos que tenham som e melhorar a coordenação motora. Além de brincar, ela está
se desenvolvendo", comenta a pedagoga, que ressalta a importância também dos outros brinquedos vendidos em lojas comuns.
"As crianças cegas podem usar normalmente os demais brinquedos, mas estes têm que ter um sentido para elas. É importante que aproveitem aquele objecto porque, alguns brinquedos, elas irão pegar, sentir e não fará sentido nenhum..."
“...Os brinquedos desenvolvidos por Mara e sua equipe, na sua maioria, são fáceis de fazer e podem ser produzidos até mesmo em casa. O Chocalho Gruda-Gruda, por exemplo, é feito com latas de molho de tomate, revestidos de materiais
com cores e texturas diferentes, que trazem, dentro da lata, objectos com sons distintos. O brinquedo ajuda a desenvolver a coordenação ouvido-mão, além de fortalecer a mão, favorecer a identificação e reconhecimento dos sons, entre outros
benefícios. Os pais podem aprender a produzir estes produtos em livros e vídeos desenvolvidos pela Laramara.
Outro ponto a se considerar em relação às crianças cegas é que os brinquedos que hoje são fabricados levam em conta mais os atributos visuais do que os tácteis, sons e cheiros, que estariam mais adequados às necessidades da criança com
deficiência visual.
Uma das razões disto acontecer é que culturalmente não temos por hábito pensar a questão da diferença, seja ela racial, religiosa, ou de qualquer outra natureza, na hora de fabricar nossos produtos. Muitas vezes, estes segmentos não são
vistos como públicos consumidores, quando na realidade o são, já que as pessoas com deficiência, por exemplo, perfazem aproximadamente 15% da população, sendo um percentual significativo. Da mesma forma, isto se reflecte no mercado
editorial: os livros infantis publicados em braille são extremamente escassos. E livrinhos com ilustrações em relevo, por exemplo, praticamente inexistem.
Conclusão
É importante dizer que através do jogo e do brinquedo, as crianças desenvolvem muitas habilidades: perceptivas, motoras, raciocínio, criatividade, e têm a grande capacidade de estimular o convívio em grupo, ou seja, a socialização com
jogos como os de "esconde-esconde", de "rodinhas", etc. Ou seja, o brincar é ingrediente fundamental na infância tanto para o desenvolvimento físico e intelectual, quanto para a saúde mental da criança por meio da socialização e da
interacção com o outro.
Neste texto demos atenção especial às crianças cegas, pois são elas que necessitam de brinquedos mais adaptados as suas características. Isto não quer dizer que estes brinquedos não possam ser usados por outros meninos e meninas, pelo
contrário, são brinquedos simples, artesanais que agradam a toda e qualquer criança. Brincar é ingrediente fundamental na infância, tanto para o desenvolvimento físico e intelectual, quanto para a saúde mental da criança.
Agradar aos pequeninos com deficiência visual nem sempre significa gastar dinheiro com presentes. Vale relembrar que os brinquedos podem ser confeccionados em casa, com criatividade. Usando material de sucata podemos fazer bonecos,
carrinhos, barcos, etc. Pode-se usar também o feltro para dar relevo a um dominó, por exemplo. Os pais também podem aprender a fabricar livros em relevo com a participação de seus filhos. Colando pequenos objectos em miniatura, a criança
reproduz o seu dia-a-dia nas páginas de um livro em feltro ou papel. As inscrições, claro, são em braille.
ϟ
15.Dez.2010
publicado
por
MJA
|