Massagistas cegos em Clermont Ferrand, início do séc. XX
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RESUMO | As metodologias de avaliação na reabilitação têm
vindo a enfatizar, enquanto condição crítica para a resolução dos problemas
vocacionais, a necessidade de gerar perspectivas colaborativas e construtivas na
abordagem da pessoa com deficiência. Historicamente parece existir uma ruptura
com os modelos de predictibilidade, antecipação e controlo na avaliação,
emergindo quadros diacrónicos que enfatizam a necessidade de se proceder ao
estabelecimento de processos de co-construção sobre a realidade interna do
cliente em interacção com os seus contextos de vida. Neste contexto,
procede-se à análise das condições históricas que sustentaram a transformação
dos referenciais de avaliação diagnóstica para as perspectivas de avaliação
construtiva. Neste enquadramento são ainda discutidas as implicações do modelo
construtivista nas estratégias de avaliação em reabilitação. A finalizar
coloca-se em evidência a funcionalidade da avaliação no âmbito da análise das
restrições vocacionais da actividade e participação.
I – DEVIR HISTÓRICO: O FIO CONDUTOR DA EVOLUÇÃO
DOS MODELOS DE AVALIAÇÃO
Historicamente, as teorias e as práticas de
avaliação vocacional baseiam-se na lógica positivista, através dos modelos de
traço-factor (i.e., matching) que actualmente são referenciados pelas abordagens
de emparelhamento entre pessoa com deficiência e o contexto profissional (Patton
& McMahon, 1999). A perspectiva positivista enfatiza o fornecimento de
informação e o ajustamento do cliente ao trabalho (Brown & Brooks, 1996).
Perante este cenário, a metodologia central da orientação vocacional
assenta essencialmente em estratégias de resolução de problemas focalizadas na avaliação
diagnóstica, reflectindo um processo de apropriação das características de funcionamento
biopsicossocial do cliente, no qual, o técnico de orientação é percepcionado como especialista e,
simultanemante, elemento activador das soluções, cenários e alternativas possíveis na
prescrição do plano de intervenção.
O alicerce teórico tradicional, subjacente aos
processos de apoio à tomada de decisão vocacional, assume-se com um sistema, na melhor
das hipóteses, redutível ao emparelhamento dos interesses, competências e conhecimentos
sobre o mundo do trabalho e emprego. Nesta perspectiva a avaliação consiste na definição
diagnóstica, informação psicométrica e estabelecimento de relações com o mundo das
profissões, atribuíndo uma relevância reduzida aos contextos de vida constituíntes do sistema de
relações do cliente. Este modelo, induz a percepção que a metodologia de orientação e avaliação
vocacional não é mais do que um simples e rápido processo de ajustamento e emparelhamento, o qual
Crites (1981) caracterizou como “três intervenções e uma nuvem de poeira” (p.49). A
crítica mais frequente a estes sistemas baseia-se no pressuposto da sobre-simplificação na
estruturação de respostas vocacionais que contemplem os sistemas de vida do cliente, bem como os seus
significados e valores (Patton & McMahon,1999).
A aplicabilidade dos modelos vocacionais,
enformados pelos momentos sócio-históricos que os produziram, reflectiu-se igualmente ao
nível dos diversos sistemas de reabilitação profissional. Assim, a avaliação vocacional de
pessoas com deficiência tem focalizado as suas estratégias de intervenção na (a) avaliação do
grau de adaptação do sistema pessoal à deficiência, (b) caracterização da estrutura de personalidade
e organização interna do indivíduo, (c) identificação das incapacidades e desvantagens
– configuradas segundo modelo médico - e consequente pré-mapeamento do conjunto de
oportunidades profissionais, baseadas num modelo social.
Perante este cenário, o modelo clássico
bipolariza-se entre uma dimensão intrapessoal, através do diagnóstico médico e psicológico e,
uma dimensão social, através do cruzamento dos dados obtidos com as representações de
compatibilidade no mundo do trabalho e do emprego. O objectivo central radica-se na compreensão
diagnóstica do perfil do cliente no sentido de activar soluções pré-configuradas – e portanto externas
à lógica de funcionamento do cliente - de participação na vida activa e profissional.
É alicerçada nesta dinâmica que emerge a
metodologia do emparelhamento ou matching, que se encontra associada a um contexto
económico e histórico pós-revolução industrial, caracterizado pelo crescimento exponencial das
transações comerciais e as novas formas de organização do trabalho e dos recursos humanos.
O princípio “the right men for the right place”
reflecte a opção ideológica de relevar o
ajustamento passivo entre as características da pessoa com deficiência e o perfil de exigências do
posto de trabalho. Trata-se, desta forma, de maximizar estaticamente o potencial de trabalho
em detrimento de intencionalizar o desenvolvimento dinâmico dos processos de
(re)investimento profissional ao longo do ciclo de vida.
Perante esta linha de organização social do
trabalho promove-se o desenvolvimento de instrumentos psicométricos que encerrem um maior
potencial de interpretação do funcionamento do sujeito, assumindo simultaneamente, uma forte
componente preditiva sobre os diferentes graus de ajustamento entre a constelação de
características do sujeito e do mapa de factores constituíntes da função profissional. A ênfase
da intervenção é colocada nos resultados objectivos e analíticos em detrimento da análise
dos processos que os elicitaram.
O Síndrome da Predictibilidade
A herança conceptual dos modelos biológicos
clássicos enformou paulatinamente, a configuração das metodologias de reabilitação
vocacional, acarretando a polarização da relação profissional no poder hermenêutico do
especialista sobre o cliente e na própria intervenção.
O síndrome da controlabilidade da intervenção
por parte do especialista, emerge na ilusão do diagnóstico objectivo, através da apropriação
dos elementos que induzem a delimitação unilateral dos contornos do problema vocacional,
perante os quadros de referência pré-existentes, dando consistência a um sentimento de
competência e segurança no domínio das estratégias e soluções de intervenção.
O diagnóstico surge, nesta perspectiva, como um
processo de categorização visando o estabelecimento de um quadro compreensivo da
situação actual e, simultaneamente, como um poderoso predictor do quadro de estratégias a
mobilizar. A Ruptura com os Modelos Tradicionais
É nesta moldura histórica que os modelos
tradicionais foram perdendo progressivamente a sua responsividade face às profundas alterações
societais, visíveis através de novas formas de estruturação da economia e das funções
estratégicas da sociedade.
A complexidade crescente dos fenómenos de
organização do mundo do trabalho e emprego, despoletaram mudanças ao nível da constituição
da população activa, bem como alterações profundas nos sistemas de valores profissionais.
A “quarta vaga” (Ivey & Simek-Morgan, 1997; O´Hanlon, 1993) nos referenciais de orientação
emergiu como uma resposta a estas mudanças.
Assim, constatou-se o desenvolvimento das
perspectivas contextualistas, por confrontação com os modelos de universalidade, que apresentavam
lacunas nas medidas de sensibilidade aos grupos desfavorecidos face ao conjunto de
oportunidades sociais de desenvolvimento vocacional.
Para além da dimensão ética associada à promoção
de oportunidades de desenvolvimento profissional das pessoas com deficiência, existe
uma necessidade económica crítica para desenvolver competências e potencialidades de
todos aqueles que podem participar no projecto social. Este milénio começa com projecções de
escassez de trabalho, de uma forte necessidade de pessoas com competências especializadas, da
diminuição do número de pessoas que contribuem para o orçamento da Segurança Social e, de um
número crescente de pessoas com deficiência. A melhoria nos serviços médicos e na saúde pública
contribuíram para a redução da taxa de mortalidade e no prolongamento da esperança de
vida. No final de século XX adultos com idade igual ou superior a 65 anos representam o
segmento etário da sociedade que mais rapidamente cresceu (Mitchell & Kemp, 1996).
A Emergência de Modelos Desenvolvimentais
A orientação e avaliação profissional reflectem,
como vimos, o movimento progressivo de mudança do positivismo lógico para um quadro de
perspectivação subjectiva (e.g., Collin, 1996; Richardson, 1996; Savickas, 1993). A mudança
inicial despoleta-se com os profissionais da orientação a incorporarem a perspectiva de que o
desenvolvimento vocacional ocorre ao longo do ciclo de vida: a emergência de processos de
tomada de decisão vocacional na adolescência; a necessidade de mudança dos investimentos em
fases intermédias da carreira; e novos desafios de cidadania perante o ciclo final do investimento
profissional. Esta perspectiva emerge associada à concepção dinâmica do desenvolvimento
profissional do indivíduo a partir do confronto com a diversidade de experiências de vida (Savickas &
Super, 1996). A compreensão de que a intervenção em orientação profissional
ultrapassa o emparelhamento entre as características individuais e as condições de um ambiente de
trabalho afigura-se um dos pilares moduladores das estratégias a desenvolver neste contexto.
Perante este cenário de transformação nas concepções de intervenção e avaliação
vocacional, enfatizou-se o facto de as dimensões constituíntes do sistema pessoal do cliente –
papeis desempenhados nos seus contextos de vida, investimentos pessoais ao nível da cidadania e
interacção com a comunidade, entre outras - não serem redutíveis a tratamento dual ou
dicotómico, entre o pessoal e o vocacional. Na acepção de Savickas “carreira é pessoal” (p.212).
II - Da Avaliação Diagnóstica à Avaliação
Construtiva
Os modelos de avaliação focalizados na promoção
da qualidade de vida das pessoas com deficiência passam pela promoção do seu papel
activo na co-construção dos seus percursos, planos e estratégias de intervenção, bem como na
mobilização de serviços de reabilitação integrados, essenciais para o seu empowerment. O
empowerment alicerça-se na construção de oportunidades para efectuar escolhas e tomar
decisões relativas ao projecto de vida. Escolha e controlo são prerrogativas altamente valorizadas
que reflectem autonomia, identidade, e independência do cliente (Condeluci, 1987). A
competência de fazer opções, de expressar preferências, e de exercer controlo sobre
diferentes percursos vocacionais são factores críticos para o desenvolvimento de projectos
profissionais sustentados (Kiernan & Hagner, 1995).
No entanto, estudos recentes permitiram colocar
em evidência que frequentemente os processos de tomada de decisão implementados
pelos clientes com deficiência são, não raras vezes, baseados na fuga a alternativas
indesejáveis ou na aceitação das condições disponíveis em detrimento do seu sistema de interesses e
potencialidades vocacionais.
É perante esta constelação de obstáculos que
emerge a desapropriação dos paradigmas mecanicista e positivista para (a) uma centração
nos processos intersubjectivos de construção de significado sobre o pedido do cliente, (b) a sua
representação do problema vocacional e (c) a desconstrução colaborativa dos efeitos da sua
história de vida no seu sistema de significação.
Este movimento assume-se -actualmente- como um
dos eixos críticos nos modelos de avaliação vocacional, transformando, deste modo,
a análise linear e estricta dos instrumentos psicométricos num momento da intervenção
colaborativo e construtivo, durante o qual, técnico e cliente analisam os resultados, exploram a
natureza dos processos e constroem significado sobre os diferentes momentos da avaliação, facilitando
níveis superiores de investimento, motivação e, em última instância, processos de tomada de
decisão mais complexos do ponto de vista do funcionamento estrutural do cliente.
As actuais perspectivas de orientação enfatizam
as características contextuais, num modelo sistémico de interpretação, dos
contextos de vida dos clientes, através dos quais emergem as suas tarefas
desenvolvimentais e constróem significado, tomando como base as suas
experiências de vida. Deste modo, o técnico envolve-se com o cliente numa base
dialógica, que se alicerça na interacção entre dois sujeitos proactivos na
construção de conhecimento.
Neste contexto, aludir às estratégias de
avaliação vocacional é, simultaneamente, contemplar a narrativa pela qual o cliente
interpreta as suas experiências passadas, significados actuais, e futuras acções de investimento. Numa
palavra, a narrativa encerra a história que desmonta os padrões de funcionamento pessoal
através dos processos de auto-conhecimento (e.g., interesses, competências, investimentos,
motivação e auto-realização).
Implicações do Modelo Construtivista na
Avaliação
As transformações nas perspectivas de
reabilitação profissional têm emergido associadas às perspectivas construtivistas /Collin, 1996;
Richardson, 1996), evocando novas formas de interpretar e intervir no desenvolvimento da
carreira. Nesta perspectiva, a orientação e avaliação profissional deixa de constituír-se como um
processo singular e linear focalizado na escolha profissional, para se centrar na articulação de
um vasto conjunto de intervenções radicadas nas necessidades biopsicossociais da pessoa com
deficiência (Herr, 1997). Adicionalmente, a dinâmica vocacional da pessoa com deficiência é
integrada na teia de influências dos sistemas societais, com particular atenção para a
multiplicidade de tarefas vocacionais que ocorrem ao longo do seu ciclo de vida (Patton & McMahon,
1999).Os pressupostos subjacentes ao modelo
construtivista e do desenvolvimento da carreira, alicerçam-se no facto dos indivíduos
estruturarem os seus processos de organização pessoal, a partir das experiências inscritas nos seus
contextos de vida (Brown & Brooks, 1996). Deste modo, se os indivíduos constróem activamente as
suas realidades, então assume-se que organizam um conjunto de histórias, num ambiente
de significados, a partir do seu património experiencial. O uso da linguagem e o
estabelecimento de uma relação dialógica com o cliente, afiguram-se condições críticas na construção de
significado e conhecimento sobre a sua narrativa de vida. A narrativa pessoal opera a um nível
tácito, e o diálogo emergente entre cliente e técnico de orientação – processo de co-construção-
despoleta novas possibilidades de transformação das estruturas de organização de significado em
ordem a níveis crescentes de autonomia e individuação na gestão do seu projecto de vida. A análise de narrativas baseia-se nas seguintes
asserções sobre o funcionamento e organização psicológica:
(a) os processos de
mudança são dinâmico-relacionais,
(b) a mudança é bipolarizada pelas dimensões de conflito e
contradição em conjugação com os eixos de integração e resolução,
(c) o sujeito conhece a
realidade através de um processo de construção de significados,
(d) a construção pessoal do
conhecimento resulta da integração de informações e experiências sociais através
dos quadros de leitura percebidos,
(e) as histórias pessoais são co-construídas
através de uma relação dialógica entre cliente e técnico de orientação.
Esta abordagem perspectiva a pessoa com deficiência
enquanto um sistema holístico, auto-organizador do sistema de significação, entrando
em ruptura com um self psicométrico para um self historicamente construído (Peavy, 1995).
A análise de narrativas explora o mundo interno
do cliente, através do seu desenvolvimento histórico, enquanto um processo de co-construção
(i.e., revelar), desconstrução (i.e., desmontar), e construção (i.e., reescrever). Durante este
processo, o técnico de orientação mobiliza a escuta activa, questões (des)construtivas, criando
condições para a clarificação dos processos de organização pessoal. A co-construção
constitui-se como uma oportunidade para o cliente e o técnico reescreverem colaborativamente o
significado da sua história de vida, desde os momentos mais precoces até aos actuais. A desconstrução
desestrutura a história da sua representação linear, permitindo que esta seja perspectivada a
partir de diferentes dimensões de análise. A abordagem construtiva protagoniza uma parte do
processo durante o qual, o cliente re-escreve múltiplas histórias de forma prospectiva. É
perante a continuidade do processo de reabilitação que o técnico observa as formas pelas quais o
cliente elabora o seu problema vocacional, identifica os limites e constrangimentos, e
facilita a exploração de outras possíveis histórias profissionais.
III -
Avaliação das Restrições Vocacionais da
Actividade e da Participação
O objectivo crítico da reabilitação vocacional
radica-se na minimização do impacto das restrições desenvolvimentais, promovendo
activamente o envolvimento do cliente no investimento do seu projecto de vida, de forma a
aumentar a sua participação na cidadania activa e profissional. Numa perspectiva de reabilitação
profissional, considerando uma interacção contínua entre questões de desenvolvimento e
restrições da actividade e participação, uma das estratégias de intervenção, polariza-se na
avaliação das suas implicações no desenvolvimento de competências centrais na adaptação a novos
contextos, actividades e estratégias orientadas para a resolução de problemas – instrumentais e
relacionais – sendo, posteriormente, pertinente explorar colaborativamente com o cliente a forma, pela
qual, estes constrangimentos enformaram o processo de construção da sua narrativa.
Deste modo, os técnicos de Orientação
Profissional são codificados enquanto elementos críticos na avaliação das restrições de
participação e da actividade, bem como na identificação de como estas restrições condicionam o cliente na
construção do seu projecto. Assim, enfatiza-se a adopção de uma abordagem contínua e holística
relativamente à tomada de decisão vocacional de pessoas com deficiência.
As restrições vocacionais decorrentes da redução
da actividade e participação nos contextos sociais podem causar uma redução das
competências físicas ou cognitivas, o que pode potencialmente comprometer o desenvolvimento da
carreira. Além dos défices funcionais, os técnicos de orientação têm também que considerar
os aspectos psicossociais da participação. Por exemplo, Rohe (1996) divulgou um estudo que
examinou os interesses vocacionais de homens na meia-idade com lesão traumática da medula
espinal. Os resultados indicaram que em comparação com um grupo similar mas sem restrições ao nível
da actividade e participação, as pessoas com lesão traumática da medula espinal têm tendência
para ser mais introvertidas, menos orientadas academicamente, e privilegiadamente focalizadas
em actividades orientadas para acção. Os problemas subjacentes a este estilo de conduta
alicerçam-se em auto-representações negativas, que progressivamente podem
tornar-se tendências para restringir competências, diminuir a capacidade de
gestão do risco e gerar uma profecia de auto-realização que reforça o não
investimento na construção de um projecto de vida. A adaptação construtiva às
consequências da deficiência, foi associada com a capacidade cognitiva e a
densidade / qualidade da rede interpessoal (ex. Matsen & Coastworth, 1998).
As restrições vocacionais descritas na Figura 1
podem influenciar o desenvolvimento vocacional de uma pessoa com deficiência, bem
como do seu sistema de interesses.
Factores como estes deverão, desejavelmente, ser
objecto de avaliação para identificar e produzir estratégias de reajustamento dos
processos de desenvolvimento da carreira.
Avaliação como estratégia de desenvolvimento dos
interesses
Atendendo a que os interesses são, de um modo
significativo, construídos a partir da exploração de experiências inscritas ao longo do
ciclo de vida do sujeito (Mitchell & Krumboltz, 1990), então facilmente compreendemos que a
presença de restrições da actividade e participação durante o período de desenvolvimento crítico
pode introduzir limitações no seu desenvolvimento.
Por exemplo, limitações em termos de mobilidade
poderão impedir visitar lojas ou, simplesmente, acompanhar uma figura parental ao
local de trabalho. Similarmente, problemas na aprendizagem ou comportamentais podem
obstaculizar os benefícios vicariantes decorrentes da exposição a modelos e papeis de trabalho. É
possível que uma restrição desenvolvimental diminua as oportunidades ou o impacto das
experiências de aprendizagem, influenciando negativamente o processo de construção dos
interesses. Como resultado, as pessoas com restrições podem exibir um espectro de
investimentos extremamente reduzido, associado a dificuldades de se representarem na dimensão
profissional.Neste contexto, um dos objectivos da etapa de
avaliação intencionaliza a confrontação do cliente com experiências vocacionais relevantes,
e que o cliente dificilmente tenha tido acesso ao longo do seu percurso.
Deste modo, através de tarefas
auto-exploratórias baseadas na experimentação directa em contexto real, o cliente tem a oportunidade de
se confrontar com algumas das actividades profissionais correspondentes às hipóteses
vocacionais delineadas colaborativamente com o técnico de orientação, de forma a promover o
investimento vocacional do cliente.
IV -
Síntese
As contínuas transformações societais,
emergentes no início deste século, têm despoletado a emergência de novos
paradigmas de organização da estrutura económica e social. As implicações e os
novos desafios colocados ao sistema de reabilitação têm vindo a ser equacionados
com base na promoção de abordagens construtivistas e desenvolvimentais na gestão
dos itinerários profissionais da pessoa com deficiência. Neste contexto, a
avaliação comporta, desde o primeiro momento, uma dimensão de intervenção na
medida em que produz efeitos sobre o sentido que o cliente atribui ao espaço e
aos actores do processo. Assume-se, nesta perspectiva, que a avaliação não é
inócua, sendo por isso desejável gerir intencionalmente os seus efeitos nos
processos de auto-conhecimento do cliente.
Deste modo, os instrumentos psicométricos
continuam a desempenhar estratégias relevantes na sistematização do perfil de
competências e funcionamento do cliente, mas privilegiando a compreensão dos processos de
conhecimento através de mecanismos de co-exploração entre técnico e cliente.
Perante esta cartografia, o envolvimento do
cliente na avaliação – através da (a) clarificação do problema vocacional, (b) negociação dos
objectivos e etapas a percorrer e, (c) contratualização do investimento vocacional -
afigura-se como uma dimensão básica de promoção de processos decisionais
progressivamente mais autónomos, realistas e experienciados pelo cliente como
metas do seu projecto de vida. Em derradeira linha de análise, trata-se de
transformar a lógica das intervenções, adaptando-as às lógicas de funcionamento
das pessoas.
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Sérgio Fabela, 2001
Licenciado em Psicologia. Pós-graduado em Psicoterapia e Orientação
Vocacional. Investigador em Ciências Sociais e Humanas.
O Portal dos Psicólogos [30-12-2006]
Δ
6.Abr.2008
publicado
por
MJA
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