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 Sobre a Deficiência Visual

Actividades Físicas e Desportivas para Deficientes Visuais

João Oliveira


Parc aux aveugles - Antonio Segui, 1978

"A actividade física para o deficiente visual deve basear-se no processo de desenvolvimento do ser humano - tendo em vista a identificação das necessidades e potencialidades de cada individuo, respeitando sempre o espaço físico, recursos materiais e modificações de regras". [ROSADAS, Sidney de Carvalho (1989)]


Actividade de manutenção de equilíbrio

O equilíbrio é consequência de uma boa postura sendo que para mantermos o equilíbrio é necessário que a nossa linha de gravidade esteja sempre no meio de nossa base de sustentação.

Os exercícios de equilíbrio devem ser divididos por grau de dificuldade, tendo em vista a melhor adaptação do deficiente visual ao exercício proposto.

Alguns exercícios de manutenção de equilíbrio:

  • Caminhar sobre um banco ou uma linha em alto relevo.

  • Caminhar em linha recta intercalando com giros de 360º graus

  • Caminhar sobre a ponta dos pés

  • Caminhar sobre os calcanhares

  • Subir e descer escadas

  • Ficar apoiado em uma perna só por vários segundos


Actividade de marcha e coordenação

A marcha nada mais é do que uma sucessão de desequilíbrio, seguida de correcções dos mesmos, sendo consideradas normais quando o corpo está alinhado aos eixos em que as passadas são proporcionais as pernas respeitando a sequência da marcha que é: apoio, aceleração e impulsão.

Qualquer movimento fora destes padrões não é considerado correcto podendo haver riscos de lesões.

Lembrando que os deficientes visuais congénitos tem maior dificuldade em realizar a marcha, pois carregam em seu deslocamento algumas inseguranças e restrições..

Alguns exercícios que podem auxiliar na marcha:

  • Palmas das mãos voltadas para baixo na frente dos quadris. O Aluno deverá elevar os joelhos até encostar os joelhos na palma das mãos. Este exercício deve ser realizado o mais naturalmente possível.

  • Elevar os joelhos alternando os braços.

  • Determinar o comprimento das passadas e demarcá-las no solo, depois disto fazer o aluno pisar justamente aonde estava demarcado. Este exercício ira auxiliar o deficiente visual quanto a dimensão.

  • Corrida moderada sempre com o auxilio de um guia é essencial para a melhora da marcha.


DESPORTOS PRATICADOS PELOS DEFICIENTES VISUAIS

Estes são alguns desportos praticados pelos deficientes visuais: Atletismo, Natação, Goalball, Judo entre outros.


ATLETISMO

As provas do atletismo adaptado podem ser disputadas por atletas com qualquer grau de deficiência visual, pois os mesmo serão distribuídos em classificações b1, b2, b3, tanto na categoria feminina quanto na categoria masculina, competindo entre si nas provas de pista, de campo e na maratona.

No atletismo adaptado para atletas deficientes visuais os atletas B1 e B2 possuem por direito de correr em duas raias, unidos por uma guia de 5 a 50 cm, ao atleta-guia. O atleta-guia poderá passar instruções de colocação e posição nas raias para o atleta e estará impedido de dar orientações técnicas e de pronunciar palavras de motivação aos atletas. Nas provas de campo os atletasb1 e b2,também poderão fazer uso do atleta-guia sendo que o mesmo passara instruções de localização de para onde e quando os atletas deverão arremessar ou saltar. Os atletas b3 não possuem o direito de usar o atleta-guia nem em provas de campo nem nas de pista, e o mesmo só poderão correr em uma raia, deferente dos atletas b1 e b2 que poderão correr em duas raias.

A pontuação será calculada através das tabelas de pontos da IAAF.


NATAÇÃO

Poucas regras foram adaptadas para a prática de deficientes visuais. Elas se baseiam nas normas da FINA - Federação Internacional de Natação - e as provas disputadas são as mesmas: livre, costas, peito e borboleta, divididas por categorias de classificação oftalmológica B1, B2 e B3, sendo que cada uma disputa entre si. No início da década de 1980 foi introduzido o tapper nas provas para atletas B1 e B2. O tapper nada mais é do que um técnico que fica à beira da piscina segurando um bastão com uma bola de ténis na ponta, que serve para tocar nas costas do atleta para que ele saiba a hora exacta da virada. Para os nadadores B1 é obrigatório o uso de uma venda totalmente opaca. Foi apenas em 1988, nas Paraolimpíadas de Seul, que a natação para deficientes passou a fazer parte do quadro paraolímpico.


GOALBALL

Esta modalidade foi criada especialmente para os deficientes visuais, ao contrário de outras, que foram adaptadas. O Goalball é um desporto colectivo, onde participam duas equipes de três jogadores, com no máximo, mais três atletas reservas. Competem, na mesma classe, atletas classificados como B1, B2 e B3, segundo as normas de classificação desportiva da International Blind Sports Federation (IBSA), separados nas categorias masculinas e femininas.

O desenvolvimento do jogo é baseado no uso da percepção auditiva para a detecção da trajectória da bola, que tem guizos, e requer uma boa capacidade de orientação espacial do jogador para saber onde está localizada. Por isso o silêncio absoluto é muito importante para o desenvolvimento da partida.
O principal objectivo é que cada equipe jogue a bola rasteira para o campo adversário e marque o maior número de golos em dois tempos de 10 minutos jogados. Os três jogadores atacam e defendem.

O local de competição deve ser um ginásio com uma quadra rectangular, dividida em duas metades por uma linha central, com um golo (de 9 metros de largura e 1,3 de altura) em cada extremo. Não é permitido o uso de próteses, óculos ou mesmo lentes de contacto. Todo jogador deve usar vendas de pano totalmente opacas (ou óculos opacos de esqui), de modo que aquele que possui visão residual não possa obter vantagem sobre um companheiro totalmente cego.


JUDO

O Judo é a única arte marcial dos Jogos Paraolímpicos. Essa modalidade se tornou paraolímpica em Seul, 1988. A estreia das mulheres foi feita em 2004, nos Jogos de Atenas.

Com a filosofia de ética, respeito ao oponente e às regras, o desporto dá ao atleta um grande aperfeiçoamento do equilíbrio estático e dinâmico, fundamentais no quotidiano dos deficientes visuais. Aprender a cair é também muito importante para dar segurança ao judoca. Insegurança gera tensão muscular, o que atrapalha os movimentos.

As principais competições internacionais são as Paraolimpíadas, Jogos Mundiais da IBSA,  Campeonato Mundial,  Campeonatos Continentais e a Copa Mundial.

Judocas das três categorias oftalmológicas, B1, B2 e B3, lutam entre si e o atleta cego (B1) é identificado com um círculo vermelho em cada ombro do quimono. As regras são as mesmas da Federação Internacional de Judo - I.J.F., com as seguintes adaptações:

  • A luta é interrompida quando os competidores perdem contacto;

  • Os judocas não são punidos quando saem da área de combate;

 

ORIENTAÇÕES E PROCEDIMENTOS

  • Ao acompanhar o deficiente visual deixe que ele sempre segure em seu braço e não você segurar no braço dele, pois isto trás uma sensação de desconforto para o deficiente.

  • Ao se dirigir ao deficiente visual não precisa gritar com ele, basta se dirigir com o tom de voz normal, pois ele é "cego" e não surdo.

  • Fornecer instruções básicas para o reconhecimento do ambiente.

  • Usar comunicação verbal e o tacto.

  • Usar formação em roda ao aplicar uma actividade para melhor segurança.

  • Se possível adaptar o local em que será feito a actividade.

  • Evitar a mudança de lugares.

  • Evitar comentários maldosos ou piadas que façam com que o deficiente visual se sinta mal ou constrangido em determinada situação. (Importantíssimo)

  • Adaptar matérias para melhor rendimento

  • Avisar quando chegar perto ou se afastar do aluno.

  • Incentivar o deficiente durante o processo de aprendizagem.

  • Procurar desenvolver o espaço – temporal do portador de deficiência visual

  • Nunca deixar de perguntar se o deficiente visual quer ajuda.

  • Estimular a integração quando possível. [in GHORAYEB, Nabil. (2004)]
                        

CONCLUSÃO

Este Trabalho procurou demonstrar de uma maneira simples e objectiva que o deficiente visual tem totais condições de realizar actividades físicas ou praticar desportos tão bem quanto uma pessoa não deficiente, bastando apenas pequenas modificações no que diz respeito às regras e adaptação dos locais em que as actividades deverão ser realizadas, sendo que o conhecimento do próprio corpo está intimamente vinculado ao desenvolvimento geral do deficiente visual.

Portanto, podemos dizer que a relação existente entre a deficiência visual e a pratica de actividades físicas e desportivas é justamente a evolução do deficiente visual, focando também aspectos como a autoconfiança, o sentimento de mais valia, o sentido de cooperação, o prazer de poder fazer e as interfaces dessas valências afectivas com o seu quotidiano na família, na escola e na sociedade. A actividade física cumprirá assim sua função de importante elemento facilitador no caminhar do deficiente visual rumo à sua emancipação social, possibilitando-lhe condições básicas que o capacitem futuramente a praticar desportos e a superar as barreiras, de diversos tipos e intensidades, que certamente lhe serão impostas durante sua vida.
 

 

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ACTIVIDADES FÍSICAS E DESPORTIVAS PARA DEFICIENTES VISUAIS
in "Relação da Deficiência Visual com a Prática de Actividades Físicas e Desportivas"
João Oliveira, 2008
Fonte: WEB-Artigos

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20.Set.2011
publicado por MJA