A Visão e a Audição
Cada um de nós é um indivíduo único. Todos temos o
nosso próprio estilo de aprendizagem, as nossas próprias
motivações e o nosso repertório de capacidades e de
necessidades. A maior parte de nós tem uma grande
quantidade de talentos inatos para a aprendizagem,
permitindo-nos usar os sentidos como um quadro base
para nos desenvolvermos, mesmo antes de nascermos.
Por outro lado, cada um tende a perceber e a interpretar
o mundo à sua volta, a partir de uma variedade de pontos
de vista externos, os quais nos permitem sentirmo-nos
confortáveis ou desconfortáveis, ter algum controlo sobre
o que se passa connosco e com os outros, amar e ser
amado... (Greeley e Anthony, May 1995).
Os sentidos da visão e audição são os principais canais
para se receber essa informação externa a nós próprios.
Deste modo, quando existe uma deficiência sensorial a
capacidade para perceber e interpretar o ambiente, assim
como as oportunidades de aprendizagem encontram-se
diminuídas.
A visão
O sentido da visão e a criança multideficiente com deficiência visual
A visão afecta os outros aspectos do
desenvolvimento, tais como a área motora, o comportamento exploratório,
a área da linguagem, a relação afectiva, ... (Brennan, Peck,
Lolli, 1992 e Glass, 1993), estando estimado que cerca de 75%
da aprendizagem ocorre por via do sistema visual.
Senão vejamos o caso dos recém-nascidos: o recém-nascido começa a sua vida olhando para a mãe ou para
quem cuida dele. Esse contacto ocular e as expressões
faciais encorajam o desenvolvimento da comunicação
entre ambos, assim como o desenvolvimento social e
emocional. Por outro lado, as capacidades motoras
aumentam quando a criança alcança os objectos e se
move para os explorar. Por sua vez, essa exploração
encoraja o desenvolvimento da linguagem e da fala.
Relativamente à criança multideficiente, devido aos diferentes
problemas que pode apresentar, as informações
visuais chegadas ao Sistema Nervoso Central (S.N.C.)
podem ser incompletas e não apresentarem uma relação
aparente entre elas (serem desconectadas), influenciando,
assim, a forma como o seu S.N.C. irá processar a
informação. Vejamos como a informação visual é processada:
80% das mensagens recebidas no cérebro pelo
orgão da visão são enviadas para os centros de associação
visual para processar a informação acerca das
formas, luminosidade, cor, tamanho, distância, profundidade,
linhas, movimento, margens... Todas estas informações
são colocadas numa só imagem – aquilo que
vemos. Dos centros visuais a informação é enviada para
outras partes do cérebro. A linguagem dá o nome ao
que se está a ver, as áreas motoras são responsáveis
por alcançar o que se está a ver e a memória chama
experiências passadas para relacionar com o que se vê
no momento. É o mais alto centro de comando visual
que comunica o reconhecimento de uma pessoa ou
objecto a partir de experiências sensoriais prévias.
Como normalmente, a criança com baixa visão recebe a
informação visual pouco clara, para além de, também,
poder haver envolvimento de outros sistemas sensoriais,
estes factores dificultam o processamento da informação.
Se ela tomar alguma medicação, este factor também
pode afectar a visão, como, por exemplo, o estar alerta.
Por estas razões, a criança com baixa visão vê o que vê
e não sabe o que deveria ver (naturalmente), não existindo
duas pessoas com problemas similares a funcionar
visualmente da mesma forma. As capacidades visuais
da criança como a acuidade visual, o campo visual, as
funções óculo-motoras, a percepção da cor... assim
com as suas características e qualidades individuais,
constituem factores influenciadores do seu funcionamento
visual. As capacidades cognitivas, os aspectos
psicológicos, as interacções sociais e as motivações e os
outros aspectos da personalidade da criança determinarão
a forma como abordará a sua deficiência visual e
os desafios por ela apresentados.
As dificuldades verificadas no funcionamento visual e,
por vezes, também, no funcionamento auditivo da
criança multideficiente, nem sempre são convenientemente
analisadas, devido às dificuldades sentidas pelos
técnicos na avaliação oftalmológica e/ou auditiva destas
crianças. No entanto, é essencial que a criança receba
apropriada correcção de lentes ou de outras ajudas
técnicas para poder ter acesso a mais informação.
Adicionalmente estratégias educativas podem ser usadas
para ajudar a desenvolver estas áreas e a melhorar a sua
compreensão acerca do mundo (Chen e Dote-Kwan, 1995).
Assim, parte da sua adaptação ao mundo dependerá
do ambiente onde a criança se encontra inserida. Este
deve convidar à aprendizagem, ser consistente e a
estimulação ser significativa para ela. A estimulação
sensorial deve dar-lhe oportunidade para perceber a
informação sensorial recebida dentro de um contexto
significativo e confortável, de modo a permitir-lhe a
exploração dos objectos envolvidos na sua rotina diária
da forma mais natural possível. Ou seja, aprender a usar
e a compreender a informação sensorial é mais eficaz se
for realizado nas situações naturais, partindo de actividades
significativas e motivantes.
O ambiente e o uso funcional da visão
O papel do ambiente na forma como a criança com
deficiência visual funciona é frequentemente pouco
compreendido ou negligenciado. No entanto, a avaliação
do ambiente onde a criança se encontra inserida é
fundamental para o educador poder adequá-lo às
características e necessidades específicas desta e poder
desenvolver as estratégias apropriadas, no sentido de
aumentar o seu funcionamento visual.
A avaliação do ambiente deve ser funcional, identificando-se as capacidades e as necessidades da criança
em termos de funcionamento visual, nos diferentes
ambientes onde se encontra inserida. Através dos
resultados dessa avaliação o educador fará as necessárias
adaptações e modificações nos ambientes, para
optimizar essas condições (Chen e Dote-Kwan, 1995). Assim,
os factores ambientais, apesar de exteriores à
criança constituem uma condição importante,
afectando não só a forma como ela vê mas também
a forma como explora o que vê. Esses factores
podem incluir a luminosidade, o contraste, a cor, a
distância e o tempo. Pode-se fazer pouco em relação às
características individuais da criança e perante as
qualidades da sua personalidade, mas modificando o
ambiente e ensinando-a a usar essas modificações
poder-se-á ajudá-la a usar melhor a sua visão (Brennan,
Peck e Lolli, 1992) .
A Luminosidade
Relativamente à luminosidade, a quantidade, o tipo,
a direcção e a posição da iluminação, assim como a
distância da criança perante a fonte luminosa e a existência
de superfícies com brilho que provoquem reflexo são
aspectos influenciadores da perfomance visual da
criança. Algumas podem ser sensíveis à luz e/ou aos
materiais brilhantes e, deste modo, sentirem desconforto
perante a reflexo e, por vezes, até dores o que implica
consequentemente uma diminuição das suas capacidades
para usar funcionalmente as capacidades visuais.
Quando a criança é sensível ao brilho uma base
absorvente de feltro de cor preta pode constituir uma
boa base de "trabalho". Por outro lado, outras crianças
podem precisar de mais luz para verem melhor.
Por estas razões é importante observar a criança sobre
uma variedade de condições de iluminação e experimentar
diferentes fontes de iluminação. O uso
funcional da visão pode ser gradualmente aumentado,
se o educador conhecer as condições dos olhos da
criança e a forma como a sua visão é afectada por essas
condições, combinando a observação do comportamento
da criança e a experimentação em diferentes
ambientes.
A Cor e o Contraste
Outra forma de ajudar a criança a usar melhor a sua
visão pode ser incrementar o contraste
entre o objecto e o que está por detrás
e reduzir o número de estímulos à
volta do objecto. A criança com baixa
visão precisa de diferenças mais
exageradas entre o objecto e o que
está por detrás/fundo. O preto e o
branco providenciam um bom contraste,
mas outras combinações como
as da imagem abaixo são possíveis,
dependendo das características da
criança.
Quando se avalia o contraste da cor é importante
experimentar-se os objectos com cores e tamanhos
diferentes e com vários tipos de luz. Modificações
simples e económicas podem ser feitas na mesa, no
chão, nos armários, usando papel autocolante, feltro,
papel de construção, tapetes, tabuleiros... para modificar
a cor da superfície onde a criança se encontra.
De realçar também a importância do contraste nas
experiências sobre o espaço. No caso da criança não ter
visão pode-se utilizar diferentes texturas.
O Tamanho e a Distância
Quando existe uma perda da acuidade visual ou do
campo visual um objecto e/ou uma imagem pode ser
pequeno demais para ser visto sem dificuldades ou
vice-versa. Para ver melhor esse objecto ou imagem, por
vezes, é preciso aumentar ou diminuir o seu tamanho,
podendo este ser feito de diferentes formas, de acordo
com as características da criança.
O Tempo
As crianças com baixa visão apresentam diminuição
da adequação e da velocidade na realização de
actividades. Detectar, reconhecer e depois agir sobre
um objecto requer mais tempo para estas crianças e
pode ser especialmente difícil no caso da criança multideficiente
com problemas motores graves. Assim, os
materiais não devem ser apresentados de form a
rápida, isto é, com movimentos repentinos, de modo
a dar-lhe mais hipóteses de reconhecer o objecto, dado
poder necessitar de mais tempo para o localizar e
discriminar. Simultaneamente o prolongar do tempo
da actividade pode ter que ser introduzido gradualmente
para evitar o cansaço dos seus olhos. (Brennan, Peck
e Lolli, 1992).
Partindo da análise dos aspectos referidos anteriormente,
algumas sugestões podem ser indicadas para ajudar
o educador a adaptar os ambientes, em casa ou no
estabelecimento de ensino, procurando ir de encontro às
necessidades da criança e da sua família.
Adaptações que se podem fazer no ambiente
Sugestões referentes ao ambiente físico
-
Providencie um ambiente com consistência espacial,
de modo a que este constitua uma oportunidade para
a criança praticar o que é aprendido e um local onde
se pode concentrar numa actividade;
-
Tenha em atenção o posicionamento da criança
perante a fonte luminosa;
-
Coloque cores brilhantes e/ou contrastantes nas margens dos degraus de escadas e nas maçanetas das portas, "pinte" as bordas das portas com cores contrastantes,
para a criança as poder identificar mais facilmente, como pode observar na figura abaixo (antes e depois);
-
Defina as margens das "áreas de actividades"
com cores contrastantes ou com diferentes texturas,
de modo a ajudar a criança a organizar-se no
espaço;
-
Use "landmarks" para ajudar a criança a organizar-se
no espaço;
-
Crie um bom contraste, entre o chão e a parede como
por i.e. nos ilustra a fig abaixo;
(ibid)
Sugestões referentes aos materiais
-
Use materiais sem brilho, não reflectores;
-
Apresente os materiais de uma forma clara em
contraste com bases simples. A área de actividade mais
exigente em termos de concentração não deve conter
muita informação visual simultânea, nomeadamente se
a criança tiver cegueira cortical (ibidem);
-
Use caixas ou prateleiras, para estabilizar os objectos
mais difíceis de se segurarem na posição correcta.
Deste modo está a dar informação à criança que ela os
pode encontrar sempre no mesmo lugar, ajudando a
tornar o ambiente mais consistente;
-
Dê-lhe informação sensorial o mais rica possível,
através de objectos e de texturas na área de jogo de
forma a convidar a criança à sua exploração. O objectivo
será construir um ambiente “reactivo”, onde
os seus movimentos espontâneos e as suas
acções causem resposta convidativas à repetição.
Por exemplo, o movimento do braço pode tocar num
brinquedo que toca em resposta a esse contacto, um
pontapé pode pôr um mobile a girar perto dos olhos
da criança...;
-
Use objectos e materiais originais, ricos em reacções
e que apresentem diferentes complexidades nas
suas componentes táctil e visual. Estes podem ser
úteis ao funcionamento da criança, pois criam
um ambiente reactivo, no qual as acções e os
brinquedos são contingentes com a sua manipulação
activa;
-
Apresente-lhe elementos surpresa durante a
actividade, pois este aspecto pode ajudá-la a
desenvolver “skills” visuais e tácteis (Greeley e Anthony,
1995);
-
Use o equipamento “Little Room” , (ver foto abaixo,
pois este pode contribuir para proporcionar este tipo
de ambientes.
Orientações Educacionais
Para além das sugestões anteriormente apresentadas,
indicar-se-ão algumas orientações educacionais consideradas
úteis à intervenção a desenvolver junto destas
crianças, neste âmbito, as quais incluem sugestões
relativas à estimulação visual, à utilização de actividades
e materiais e algumas considerações acerca da criança.
Sugestões relativas à estimulação visual
-
A primeira razão para ter programas de estimulação
visual deve ser encorajar a criança a interagir com o
ambiente;
-
O estímulo visual deve ser usado, sempre que possível,
para motivar a criança a alcançar, tocar, manipular
e reconhecer o objecto ou indicar uma preferência,
dentro do contexto de brincadeira, mais do que tê-la a
olhar para ele;
-
O educador deve deixar a criança olhar para o
objecto e permitir que o tente alcançar antes de lho
entregar;
-
O estímulo visual mais apropriado na intervenção
precoce – 0/3 anos - é provavelmente o rosto humano,
dado ser a três dimensões, ter movimentos suaves e
conter algum contraste (por exemplo, os olhos ou a
boca). A intensidade, a amplitude e a distância do
estímulo depende da criança, mas não existe provavelmente
melhor substituto (Glass, 1993);
-
A criança deve ser ensinada a olhar para o rosto de
quem está a falar com ela;
-
Os padrões preto e branco, inicialmente, devem ser de
diferentes larguras e serem apresentados antes das
primeiras cores – o encarnado e o amarelo (AFB, Sept.
October 1996);
-
Os mobiles colocados sobre o abdómen da criança,
(para permitirem a possibilidade de escolha), podem
ser também uma fonte de estimulação visual;
-
O olhar e o ver são comportamentos diferentes.
O educador deve estar atento a esta diferença, pois a
criança pode olhar para o objecto e não compreender
o que está a ver. No entanto, se ela abrir a boca
quando olha para a colher é sinal de reconhecimento
do objecto.
(Tavernier, May, 1993)
Sugestões relativas às actividades
-
As actividades de rotina diária devem ser utilizadas
para proporcionar experiências visuais à criança, pois
desta forma será mais fácil encorajá-la a usar a visão,
visto que as situações são significativas para ela. Por
exemplo, na hora da refeição estimule a criança a
olhar para o iogurte e/ou para o pudim, de modo a
poder indicar a sua preferência;
-
As actividades de estimulação visual realizadas
em ambientes mais controlados, como por exemplo
quando está na “Little Room”, devem ser gradualmente
mudadas para ambientes mais naturais, como os
referidos anteriormente.
Sugestões relativas aos materiais
-
O educador deve arranjar uma área onde a criança
possa brincar em segurança e onde os objectos
estejam ao alcance dos seus braços. Este aspecto
é necessário para o desenvolvimento de conceitos
espaciais;
-
Deve procurar usar materiais que activem os sentidos
vestibular, auditivo, olfactivo, táctil e gustativo da
criança. O uso de objectos produtores de vibrações,
ressonâncias, ritmos, pesos e temperaturas, são
também importantes para activar estes sistemas
sensoriais;
-
O educador pode usar fita cola de diferentes cores, para contrastarem com os objectos diários da criança,
de modo a torná-los mais visíveis, por i.e. pôr riscas
na caneca e/ou nos brinquedos… criando padrões
como ilustra a imagem;
-
Pode também usar tabuleiros de diferentes cores para
proporcionar um bom contraste de base e definir áreas
de “trabalho” ou de alimentação.
Sugestões relativas à criança
-
A criança pode responder de uma forma muito subtil,
portanto deve-se estar atento a esse tipo de respostas:
ligeiros movimentos corporais, pequenas mudanças
nas posturas corporais, mudanças nos padrões de
respiração, o esboçar de um sorriso...;
-
O educador deve ter em atenção os posicionamentos
da criança, nomeadamente no caso das criança com
problemas motores, o que pode ser feito com a ajuda
do técnico de fisioterapia ou de terapia ocupacional.
A audição
O sentido da audição e a criança
multideficiente com deficiência visual
A capacidade para ouvir é fundamental, sobretudo no
caso da criança cega. Através da informação auditiva a
criança pode aprender a reconhecer os membros da
família, a reconhecer o que se passa à sua volta, a
falar e a mover-se independentemente. A audição
permite-lhe ainda explorar actividades auditivas agradáveis,
tendo possibilidades de encontrar formas
recreativas positivas. É frequente a criança multideficiente
cega parar os seus movimentos quando ouve
um som, de modo a escutar mais atentamente o que
ouviu. Para tal, precisa de estar inserida num ambiente
onde tenha possibilidade de aprender que um som é
provocado por algo e que ela própria pode produzir
sons. Esta condição pode ajudá-la a tornar-se mais
activa e quanto mais cedo fizer esta aprendizagem
melhor. Um dos materiais facilitadores desta aprendizagem
é o equipamento “Little Room”.
A produção de sons e a “Little Room”
Este equipamento permite à criança ser mais activa e
fazer as coisas a partir da sua própria iniciativa, pois
através das repetições imediatas, pode ser capaz de
guardar e reconhecer experiências, sabendo o que fez
para a sua concretização. Por outro lado, pode também
comparar as experiências tácteis com as auditivas,
realizá-las de acordo com o seu tempo e quando lhe
apetece, ou seja, por sua livre vontade, sem a influência
directa dos outros. A partir destas comparações aprende
a encontrar um objecto específico. Com este equipamento
a criança tem oportunidade de escolher os
objectos, fazer sequências de jogos e compará-las,
aprender sobre as formas, o peso, o tamanho e a
superfície de cada objecto particular. Este equipamento
pode ainda facilitar a aprendizagem do balbuciar e
vocalizar. Os sons produzidos pelo puxar, apanhar
e largar dos objectos encorajam a produção e a experimentação
dos diferentes sons possíveis. Tendo várias
experiências acerca da produção dos sons, com diferentes
objectos a criança pode adquirir o conceito
básico de que os sons têm uma fonte e, desta forma, ser
capaz de procurar um objecto apenas através de uma
pista sonora.
Os sons do ambiente da sala de actividades
A quantidade de informação auditiva existente na sala de
actividades e o feedback acústico são factores muito
importantes para estas crianças, principalmente se a
criança não vê. A existência de um ambiente com informação
auditiva em excesso (os sons das campainhas a
tocar, o som do telefone, os sons das pessoas a
falarem…) pode tornar-se confuso para ela. Assim,
alguns passos podem ser dados para a ajudar a familiarizar-se com os sons do seu ambiente.
-
Dê a conhecer à criança quando irão acontecer determinados
sons e/ou diminua alguns desses sons do
ambiente. Desta forma, dar-lhe-á informação útil para
a ajudar a organizar-se nesse ambiente sonoro.
-
Use alcatifas no chão e/ou cortinas nas janelas para
diminuir a quantidade de sons existentes num
ambiente mais ruidoso, assim ela pode compreender
melhor a informação daí proveniente.
O tacto e o uso das mãos
O uso das mãos e a criança multideficiente com
deficiência visual
As mãos desempenham uma função extremamente
importante no desenvolvimento da criança. Elas podem
ser uma forma de adquirir informação, nomeadamente
se ela não vê. Podem ser usadas como ferramentas e
serem um orgão dos sentidos inteligente e útil para ela.
Através das mãos, a criança, pode ter acesso a materiais,
a pessoas e, muitas vezes, à linguagem, de outra forma
impossível. Para tal, tem de aprender a usá-las como
um meio de adquirir informação. Deste modo, as mãos
tornam-se poderosas para actuar sobre os objectos e as
pessoas, para explorar o mundo e para se movimentar
de uma forma mais segura.
Normalmente a criança sem visão leva mais tempo a
trazer as mãos à linha média do corpo e a juntá-las,
assim como a desenvolver a preensão intencional(alcançar e agarrar), mesmo se não tiver problemas
motores. Assim, a que é multideficiente com deficiência
visual precisa de ser ensinada a usar as mãos como
ferramentas e a encontrar prazer na exploração manual
dos objectos, o que requer muita experimentação.
Também precisa de aprender que os objectos à sua
volta continuam a existir, para além da sua experiência
imediata (noção de objecto permanente). A aquisição
deste conceito é um grande passo no desenvolvimento
do auto-conceito.
Progressivamente a criança também compreende que o
som do seu brinquedo favorito é um indicador da sua
existência no espaço, aprendendo gradualmente a
alcançar esse objecto. Esta consciência é indispensável
para a mobilidade. Para a criança com Baixa Visão, as
mãos também desempenham um papel relevante no
desenvolvimento da linguagem e ajudam-na a estabelecer
a relação entre o rótulo / palavra que ouve e o
objecto que sente (Miles, May 1999). Contudo, para a
criança as usar dessa forma, é frequente precisar de ser
ensinada a desenvolver alguns “skills” tácteis para, por
exemplo: localizar, explorar, manipular e reconhecer os
objectos e usá-los em contextos funcionais.
A informação táctil
Uma educação rica em informação táctil deverá ser prop
o rcionada a estas crianças nomeadamente nos
primeiros anos de vida. Quando possível a informação
táctil e a visual devem coincidir (Hyvãrinen, 1994). No
entanto, não se deve esquecer que algumas parecem
mais sensíveis a uns estímulos em detrimento de outros.
Identificar a quantidade e o tipo de estimulação apropriado
a cada criança é importante, embora seja uma
tarefa complicada.
A criança hipersensível
Algumas crianças são hipersensíveis à estimulação táctil,
podendo sentirem-se confusas e stressadas, apenas com
a estimulação das situações diárias. No caso da criança
demonstrar hiper-sensibilidade táctil, nomeadamente se
tiver Cegueira Cortical e/ou outros problemas neurológicos,
a quantidade de estímulos diferentes recebidos
pode ser excessiva e criar um ambiente confuso para ela.
Este aspecto influencia a forma como responde aos
estímulos do ambiente, devendo a estimulação sensorial
ser seleccionada cuidadosamente e introduzida de uma
forma sistemática e gradual.
A criança hipossensível
Outras crianças são muito pouco sensíveis ao tacto.
Podem parecer relaxadas mas alheadas, por exemplo
para se obter a sua participação nas actividades algumas
crianças necessitam de batidas muito fortes no tambor
e uma abordagem multisensorial. Requerem uma
abordagem educativa diferente das hipersensíveis à
estimulação sensorial. O educador deve colaborar com
a família e com os outros técnicos para poder proporcionar-
lhe a estimulação adequada (Chen e Dote-Kwan, 1995).
Resumindo, é necessário uma observação cuidada para
determinar como é que a criança responde e aprende
perante a estimulação sensorial.
A tolerância ao tacto
Algumas crianças não gostam de tocar em certas texturas
ou de serem tocadas em algumas partes do seu
corpo. Esta sensibilidade envolve, normalmente, as mãos
e a face. No entanto, é importante ajudá-la a tolerar o
toque e algumas texturas, nomeadamente perante os
objectos relacionados com a alimentação, para poder
explorar o ambiente e para a aprendizagem em geral.
Existem algumas formas de a ajudar a explorar novas
texturas, salientando-se a importância de se fazer uma introdução gradual, com pequenos passos, convidando-a a explorar o material em conjunto com o
educador. Esses passos podem ser:
-
Comece com texturas secas, depois passe a texturas
mais húmidas e, por fim, às mais molhadas (eventualmente
texturas pegajosas);
-
Exponha a criança a novas texturas, durante pequenos
períodos de tempo e em situações confortáveis, explorando-
as em conjunto com ela;
-
Use objectos simples de modo a facilitar a sua exploração
pela criança e que sejam significativos para ela
(ver a informação relativa à introdução de objectos na
próxima página);
-
Mostre (visualmente ou tactilmente) como é que pode
segurar o objecto, como o pode explorar e manipular;
-
Apresente as texturas nas partes do corpo não tão sensíveis
(joelhos, cotovelos e ombros). Estas partes do
corpo podem tolerar melhor os primeiros contactos;
-
Apresente as texturas primeiro nas costas da mão da
criança e só depois na palma da mão;
-
Toque-lhe na mão antes de lhe apresentar um objecto,
de modo a tornar perceptível que alguma coisa vai
acontecer com o material ou objecto;
-
Deixe-a “explorar” os alimentos, os brinquedos e as
pessoas;
-
Transforme as actividades em momentos de prazer,
usando por exemplo as rotinas diárias significativas
para a criança;
-
Providencie precocemente uma variedade de explorações
tácteis à criança, as quais podem ser dadas
através de diferentes tipos de tecidos utilizados nas
suas peças de vestuário, ou através de materiais com
diferentes texturas que fazem parte do seu dia a dia;
-
Coloque os objectos no carrinho da criança ou na sua
cadeira, de modo a permitir o contacto físico com
esses objectos.
(SKI*HI Institute, 1993 e New England Center for the DeafBlind
Services, s/d-b-)
A introdução de objectos
A estratégia mais adequada relativamente à introdução
de objectos para a criança explorar, designadamente os
objectos não familiares e de acordo com Chen (1999:
331-334) será a apresentação dos objectos utilizando
como estratégia a ajuda mão sob mão. Desta forma
dá-se-lhe oportunidade de interagir com os objectos
de acordo com o seu nível de conforto, para além de ser
ela a controlar a situação. Ao utilizar esta estratégia o
educador pode proceder da seguinte maneira:
-
Segure o objecto na sua mão e coloque a palma da
mão da criança sobre a sua. (ver a imagem acima posição - A)
Deste modo ela sente-se segura e confortável, pois
tem o contacto físico com o objecto através de outra
mão, a qual já lhe é familiar;
-
Vire a sua mão em torno da mão da criança,
lentamente, para ela sentir o objecto (ver imagem
posição - B e C). Assim, ela habitua-se, pouco a pouco,
ao objecto menos familiar e pode ajustar a sua posição
para aumentar ou diminuir o contacto com o objecto;
-
Estimule a criança a explorar o objecto com ambas as
mãos (ver imagem posição - D).
Imagem I
Pode-se utilizar igualmente a estratégia mão sobre mão
com estas crianças, sobretudo quando pretende proporcionar-lhes experiências em literacia e/ou a leitura de
histórias em braille. Chama-se a sua atenção para o facto
desta dever ser utilizada cuidadosamente e ser reduzida
o mais cedo possível, dado o pouco controlo que a
criança tem da situação. Ao usar esta estratégia:
-
Coloque as suas mãos sobre as da criança, de modo a
guiá-la fisicamente para o topo da página e assim
reposicionar a mão da criança no livro (ver imagem
I - A);
-
Ajude-a a mover a sua mão da esquerda para a direita ,
ao longo da frase (ver imagem n.º I - B);
-
Diminua a quantidade de ajuda dada à criança. (ver imagem I - C).
Apesar do exemplo mencionar a experiência em
literacia, esta estratégia, se considerada necessária e
oportuna, pode ser usada numa grande variedade de
actividades, seguindo-se os mesmos princípios.
Imagem II
Relativamente à experiência em literacia pode também
usar a estratégia mão sob mão (ver imagem II), desde
que ela esteja motivada para esta actividade, seguindo os
seguintes passos:
-
Coloque a sua mão no livro e motive a criança a
colocar a mão dela sobre a sua, podendo a criança
imitá-lo;
-
Mova os seus dedos da esquerda para a direita ao
longo da linha braille, permitindo à criança a experimentação
dos movimentos da mão requeridos na
actividade de leitura;
-
Retire a sua mão debaixo da mão da criança lentamente,
para ela poder sentir as linhas braille e mover
a sua mão com a ajuda mínima (“fading”).
(Chen, 1999: 332 e 333)
O tocar nos outros
O conhecimento de outras pessoas através do tacto
depende das capacidades da criança. Devido aos seus
problemas visuais pode ter necessidade de se aproximar
mais das pessoas, de modo a usar os sentidos do tacto,
do cheiro e/ou da visão. Por isso, o educador pode ter
de ensiná-la (quanto mais cedo melhor) a tocar nos
outros de uma forma aceitável socialmente, para sua
própria segurança e desenvolvimento da relação afectiva
com os outros. Assim:
-
Ensine a criança a aproximar-se dos outros de forma
gentil, tocando no ombro da pessoa quando possível.
É importante ajudá-la a tocar de forma apropriada
antes de ter a hipótese de assustar os outros ou de
magoar alguém.
-
Ensine-a a aceitar a distância física dos outros, o que
depende dos hábitos culturais de cada lugar, tocando
apenas nos outros quando isso for permitido.
-
Ensine-a a decidir quem pode tocar nela (incluindo a família, os amigos, os educadores e os outros técnicos)
(New England Center for the DeafBlind Services,
s/d-a-)
ϟ
excerto (pp59-77) da obra:
Δ
16.Jun.2013
publicado
por
MJA
|