
Les Aveugles - Jean Martin, 1937
A Deficiência Visual é uma perda total ou parcial da perceção visual, de causa congénita ou adquirida, que se traduz
numa redução significativa da capacidade em realizar tarefas e atividades da
vida diária que impliquem a visão (Organização Mundial de Saúde, 2012). Consoante o nível ou
acuidade visual, assume duas formas de se manifestar:
CEGUEIRA
Perda completa de visão (podendo haver um resíduo mínimo de perceção), fazendo com que a aprendizagem e comunicação se processe mediante Sistema Braille
e/ou Leitor de ecrã com voz
BAIXA-VISÃO ou AMBLIOPIA
Perda significativa da visão (ao nível da acuidade,
campo visual e perceção das cores), sem a possibilidade de correção por tratamento cirúrgico ou óculos convencionais. A aprendizagem e comunicação implica recursos didáticos e equipamentos especiais
[lupas, softwares de ampliação e reconhecimento de carateres (OCR), Circuito fechado de televisão (CCTV)].
DIFICULDADES DE ESTUDANTES CEGOS E COM BAIXA-VISÃO
Leitura
Lenta (mesmo que em braille) originando fadiga mental (estudantes cegos) e
ocular (estudantes
com baixa-visão) e dores de cabeça; incapacidade ou dificuldade em distinguir
cores e percecionar detalhes (estudantes com baixa-visão).
Escrita
Não convencional (papel e lápis) e com recurso a computador; compreensão de textos e o registo de notas requerem mais tempo.
Expressão Oral
Incapacidade ou constrangimentos na leitura de expressões faciais/linguagem corporal do(s)interlocutor(es) e consequentes dificuldades na comunicação face-a-face
(maneirismos, postura mais rígida).
Psicomotoras
Mobilidade espacial condicionada, recorrendo a bengalas ou cão-guia (estudantes cegos); dificuldade
na pesquisa e manuseamento de livros (estudantes com baixa-visão); ouvir e registar apontamentos em simultâneo.
Psicoemocionais
Dificuldades de concentração e possível desmotivação para tarefas de leitura e escrita, que a longo prazo podem gerar sentimentos de frustração e insucesso académico.
SUGESTÕES PARA PROMOVER A APRENDIZAGEM
Antes da Aula
> Questionar o estudante sobre o que deve saber acerca dele e da sua condição e requerer o
seu apoio na identificação de ferramentas, sistemas e equipamentos adequados;
> Usar tom de voz natural e falar diretamente com o estudante (e não por interposta pessoa);
> Dar a conhecer o ambiente de sala de aula (disposição do mobiliário e equipamentos), com
instruções claras, e alertar quando se verificarem alterações;
> Certificar que, em situações de mudança de sala de aula/horário, esta informação é acessível ao estudante;
> Informar com antecedência da intenção de utilizar material audiovisual;
> Reduzir os brilhos e reflexos de luz na sala de aula (quadro e mesas) e evitar posicionar-se em frente à janela (perante estudantes com baixa-visão);
Durante a Aula
> Indicar verbalmente quando entra e sai da sala de aula (diga o seu nome e sua localização) e evitar movimentar-se quando estiver a falar;
> Considerar a possibilidade de gravação da aula;
> Transmitir os conteúdos com clareza, dando indicações para cada passo num processo sequencial (e.g. exemplifique no quadro, ao mesmo tempo que verbaliza, todas as
etapas para resolver um cálculo ou fórmula);
> Identificar sempre a informação/título do diapositivo quando procede à sua explicação;
> Eliminar distrações desnecessárias, garantindo que, nos momentos de discussão ou debates, fala um estudante de cada vez;
> Usar abordagens multissensoriais na apresentação da informação, alternando tarefas que exigem maior esforço visual com tarefas não visuais;
Leitura e Estudo
> Orientar sequencialmente na seleção da informação e bibliografia mais relevante; Disponibilizar antecipadamente o material de apoio (diapositivos/resumos) à
aula em suporte digital e/ou em formato áudio;
> Conceder mais tempo para a leitura e análise de documentação de apoio à aula (formatar documentos sem cabeçalho e rodapé);
> Fornecer checklists, e construir mnemónicas que auxiliem a memorização;
> Priorizar a conversação em detrimento dos recursos didáticos visuais, no ensino de línguas estrangeiras;
> Aplicar as normas de acessibilidade gráfica:
- Letra: Verdana, Arial ou Helvética e tamanho ampliado (16 a 32 pontos);
- Cores contrastantes nas apresentações/material de apoio – fundo escuro (preto ou azul)/letra branca ou amarela;
- Imprimir em tamanho A4, papel espesso e pardo;
- Configurar formatações de texto justificado à esquerda, com espaçamento entre 4 a 4.5cm da margem à esquerda, facilitando assim a utilização dos auxiliares
óticos, e espaçamento duplo entre linhas;
- Apresentar gráficos e imagens com bom contraste e contornos bem definidos (assinalar, nos gráficos, o valor correspondente ao ponto de inserção entre o eixo dos X e Y
numa caixa junto ao mesmo);
- Ceder um descritivo do conteúdo da informação contida em imagens (e.g. fotografias, gráficos, esquemas) em suporte digital/Braille ou áudio;
Avaliação
> Redigir os enunciados das provas de forma objetiva e simples, com formatação e tamanho do texto que facilite a leitura. Poderão ser necessários modelos alternativos de
avaliação que
impliquem uma resposta não convencional*;
> Ler as questões do enunciado da prova escrita em voz alta;
> Em provas de escolha múltipla ou Verdadeiro e Falso: permitir a opção de resposta em texto (e.g. “Verdadeiro”) e não em imagem x , ou colocar as caixas, onde o estudante
deve assinalar a
resposta, no final de cada frase invés do início;
> Na correção da prova ou outros trabalhos escritos, privilegie o feedback oral e presencial com o estudante ou recurso ao email.
Apesar das dificuldades no canal privilegiado (visão) de acesso à informação no contexto académico os estudantes com deficiência visual têm motivações, nível intelectual
e competências de estudo idênticas a qualquer outro estudante normovisual. É por isso importante que interaja num ambiente social, intelectual e de aprendizagem
estimulante.
BIBLIOGRAFIA
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Cryer, H. (2013). Teaching STEM subjects (Science, Technology, Engineering and Maths) to blind and partially sighted students: Literature review and resources. Birmingham:
RNIB Centre for Accessible Information.
≡ Mendonça, A., Miguel, C., Neves, G., Micaelo M. & Reino, V. (2008). Alunos cegos e com baixa visão - Orientações Curriculares. Lisboa: Direção-Geral de Inovação e de
Desenvolvimento Curricular.
≡ Seale, J. (2006). E-learning and disability in Higher Education: Accessibility Research and Practice. Oxford: Routledge.
≡ Thornton, M., Queller, S. & Threm, D. (2001). Make a difference: Tips for teaching students who are blind or have low vision. Little Rock, AR: University of Arkansas at Little
Rock, Project PACE.
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