Mesmo antes de aprender a ler, existem passos que pais e mães podem dar para
preparar uma criança. Aprender a ler, na verdade, começa no nascimento. O
processo inclui o desenvolvimento de conceitos cognitivos básicos; habilidades
motoras; linguagem e comunicação – e mais. Além disso, crianças que vão aprender
a ler em braille precisam desenvolver as suas habilidades motoras finas e distinção
tátil. Abaixo, dez dicas para iniciar este processo.
1. Proporcione à criança muito acesso ao braille em todos os lugares
Lembre-se de que crianças sem deficiência visual vêem milhões de palavras antes
de começarem a ler. Textos estão por todos os lados: em caixas e embalagens de
comida; em shampoos e pastas de dentes; lojas e na TV. Também nos jornais,
revistas, livros, cartas, computadores, anotacões, etc. Agora pense em quanta
prática e exposição uma criança que enxerga tem antes de receber educação formal
para se alfabetizar… É essencial se oferecer o máximo de exposição ao braille
possível no cotidiano da criança cega. Objetos da casa devem receber um etiqueta
em braille, e é importante que a criança tenha muito material de leitura inicial
disponível.
2. Proporcione muita prática no desenvolvimento de habilidade motoras finas e de
uso das mãos
Estimular a criança a abrir e fechar diferentes tipos de caixas, e fechar e
abrir roupas (botões, zíperes, etc). Convide-a a ajudar com o preparo de uma
refeição: mexer na panela, preparar medidas, despejar ingredientes… Apesar de
isso não parecer importante para aprender a ler, é importante.
3. Peça para separar, combinar e categorizar itens…
…de diferentes tipos de materiais: botões; feijões; castanhas; moedas. Pode ser
qualquer coisa, desde que a criança perceba a diferença entre cada um. Peça para
separar, por exemplo, por tamanho, formato, consistência… Certifique-se de
preparar esta tarefa com espaços separados para se colocar os objetos e com um
espaço de trabalho organizado. Moedas misturadas podem ser colocadas em um prato
grande, por exemplo, e depois de separadas, um tipo pode ir para uma tigela à
direita e o outro para outra tigela, à esquerda. A criança não precisa entender
o valor monetário das moedas neste momento, mas reconhecer a diferença em
tamanho e as diferenças táteis.
4. Estimule a prática de contar histórias e sequenciar eventos
Decodificar o braille é apenas parte do processo de aprender a ler. O
desenvolvimento da linguagem também é importante. Peça para a criança contar o
que fez hoje. Peça para nomear cinco coisas que foram compradas no mercado.
Pergunte o que fez na escola ontem; ou o que foi a primeira coisa que fez após
acordar. E o que aconteceu depois disso? O que fez antes de ir para a cama?
5. Ajude no entendimento de posições; direção e orientação
Proporcione práticas com conceitos posicionais como pra cima e pra baixo; acima
e abaixo; na frente, atrás, próximo; no topo, no meio e no fundo; à esquerda,
direita, no meio. Peça para a criança mostrar estas coisas com relação a ela
mesma: “coloque o copo na mesa atrás de você”, por exemplo. Depois peça para
executar estas tarefas com dois objetos: “coloque o livro em cima do prato”.
Peça para mostrar estas posições em uma página: o lado esquerdo do topo da
página, por exemplo, e assim por diante.
6. Pratique contagem
Conte coisas naturalmente durante o dia. Conte o número de camisetas no cesto de
roupas, o número de garfos na pia, a quantidade de passos de um local até o
outro. Conte quantas pessoas vão sentar-se à mesa para o jantar. Em seguida
conte as cadeiras e os talheres. Coloque um prato em cada lugar e um copo para
cada prato. Pergunte à criança quantos itens existem em cada kit. Por exemplo:
dê oito colheres e pergunte quantas colheres são. Depois dê uma quantidade maior
de itens do que será usado, e peça para separar a quantidade correta. Um exemplo
é dar 10 nozes e pedir para separar seis delas.
7. Proporcione oportunidades para aumentar a diferenciação tátil
Crie livros táteis para que seu filho/filha conheça itens diferentes. Abaixo,
algumas sugestões e ideias (em inglês, porém com imagens autoexplicativas)
-
Getting books into the hands of my 3-year-old, deaf-blind son
-
Book about the concept of big and small
-
Book Making Party
-
Em seguida, proporcione à criança uma prática mais formal, ao escrever várias
letras iguais em braille com apenas uma diferente. Sugestão: você pode escrever
em braille uma linha assim: a, a, a, a, a, l, a, a, a. Peça para a criança encontrar a letra diferente. Escreva o nome dele/dela e coloque uma palavra
diferente no meio; pedindo para encontrar tal palavra, da mesma maneira
exemplificada com as letras.
8. Crie histórias baseadas na experiência da criança
Sugira à criança ditar uma história sobre um acontecimento. Escreva o que ela
diz e faça a versão em braille. Em seguida, peça-a para ler em voz alta com você
repetidas vezes. Isso a ajudará a entender que o código braille está associado
com significado, e que cada palavra em braille em uma página corresponde a uma
palavra falada. Esta também é uma maneira de motivá-la a criar seus próprios
livros.
9. Encoraje a criança a escrever “rascunhos” em braille
Ler e escrever andam juntos quando se está desenvolvendo a alfabetização.
Crianças que enxergam praticam fazer “rascunhos” com lápis de cor e outras
coisas antes de começarem a escrever de verdade. De maneira similar, crianças
que estão aprendendo braille precisam praticar marcas no papel usando uma
máquina de escrever ou uma reglete com punção.
10. Escreva todos os dias!
Iniciamos este texto sugerindo que sua filha/filho tenha muito contato com o
braille por toda a casa e em todos os ambientes onde for possível. É também
muito importante ler histórias para a criança todos os dias. O contato com o
braille é muito importante de maneira geral, mas é tão importante quanto isso,
que a criança entenda que o braille é um código para a língua falada. Ouvir
histórias em voz alta é uma ótima maneira de iniciar este processo – e inspirar
um amor pela leitura que dure por toda a vida.
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Dez dicas para preparar uma criança para a aprendizagem de braille
autora: Charlotte Cushman
Charlotte Cushman é criadora de conteúdo web e gerente na Perkins’ Training and
Educational Resources Program (TERP).
fonte do texto:
https://www.perkins.org/
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