
imagem de Davi Sales
O primeiro contacto do deficiente visual com o computador é um momento cercado de
múltiplos sentimentos, misturando insegurança com curiosidade, despertando medo
e ansiedade, e acima de tudo uma vontade imensa de conquistar a independência
para realizar tarefas comuns ao dia-a-dia, mas que para ele, até então, não
seriam possíveis sem a mediação de um vidente, o que torna as suas ações
restritas.
O computador precisa ser apresentado em sua totalidade, não como algo intocável,
cuja fragilidade não permite explorações, mas como um objeto que esteja a
serviço do homem, uma ferramenta que mereça ser tocada, ser experimentada em
suas diversas características físicas ou operacionais.
O deficiente visual não precisa ter medo do computador e, para isso, o
professor/mediador pode tentar criar um clima de descobertas, propiciando esse
contato e essa aproximação, bem como estabelecer uma relação de segurança e
confiança entre ambos: usuário/mediador/equipamento.
A partir do reconhecimento da estrutura física do computador, um diálogo
torna-se fundamental, para traçar metas, objetivos, finalidades, procurando
compreender o porquê e o para quê esse novo conhecimento se aplica no dia-a-dia
desses usuários.
Muitas ações são essenciais e dependem da etapa de aprendizado que esse educando
se encontra, podendo aliar escrita/leitura do código Braille às funções do
software ou apenas inserir o comando de voz a quem já domine a língua escrita
ou, ainda, substituir o visual pelo áudio no caso de adultos já familiarizados
com o mundo digital. E, uma outra oportunidade seria a utilização do computador
para alfabetização/reabilitação no caso de experiências sem sucesso com o código
Braille.
Em quaisquer situações o uso do teste do teclado é insubstituível, e em
certos casos podemos introduzir algumas marcas específicas no teclado, como
etiquetas em Braille.
Conhecer a posição das teclas, identificar o som que cada uma produz (maiúscula
e minúscula), até mesmo medir a força/pressão dos dedos para teclar é algo de
extremo valor no início do aprendizado em informática.
Posteriormente podemos
navegar em seus menus, apresentando as opções do programa, leitor de documentos,
editor de texto, jogos, entre outros. Gradativamente iremos ampliando essas
explorações de acordo com o grau de dificuldade e com o desempenho de cada um
diante das novas ações que estão sendo implementadas.
O leitor de documentos é um dos aplicativos de maior importância para a familiarização da voz (pronúncia
de palavras, leitura de frases, pontuação). Nessa etapa surge uma enorme
dificuldade para compreender o que se fala, podendo diminuir as dúvidas de
acordo com o uso. Quanto mais se escuta mais comum a voz se apresenta e a
leitura surge com naturalidade.
O editor de texto é outro momento para explorar a digitação, assim como
diferentes funções dentro do aplicativo.
Jogos e utilitários podem servir como apoio a construção dos conhecimentos em
Dosvox. Uma outra observação pertinente ao tema, é a de que, no Dosvox, podemos
utilizar diferentes caminhos para se chegar ao mesmo lugar, tornando-o ainda
mais dinâmico. Basta esquecermos um dos caminhos que logo recorremos a outro pra
substituir a lacuna que o esquecimento causou.
O computador pode e deve ser visto como uma ferramenta cognitiva que facilita a
estruturação do trabalho, viabilizando a descoberta, oferecendo condições
propícias para a construção do conhecimento.
Assim, a “informática” não deve ser vista como uma substituição do professor
como mediador de um processo. É uma ferramenta que precisa ser utilizada a favor
desse processo de ensino/aprendizagem e não contrário a ele. Estamos vivendo
essa transição e, o “deficiente visual” também tem a oportunidade de estar cada
vez mais próximo desse recurso, participando dessa evolução.
O acesso à informação pelo deficiente visual, até o surgimento de um sistema que
possibilitasse sua interação com o computador, estava restrito ao uso do Sistema
Braille, método essencial na etapa de alfabetização, na qual o contato com a
palavra escrita, sua forma gráfica e distribuição no papel são essenciais para o
processo. Porém o isolamento do deficiente visual, sobretudo adultos em processo
de escolarização, reabilitação e profissionalização estava limitado aos seus
pares, em que o Braille só permitia a comunicação entre os que o dominavam ou,
através de transcrições dependendo de terceiros para atingir tal finalidade.
Por outro lado, as informações via áudio são falhas no sentido em que não se
possibilita navegar no texto letra a letra, saber como as palavras são escritas,
retornar e avançar com rapidez um determinado trecho.
Para isso, o Dosvox veio trazer a liberdade e independência que o deficiente
visual precisava, autonomia esta que está sendo conquistada, aprimorada e
reconstruída dia-a-dia com as constantes transformações tecnológicas, pois num
momento em que o mundo se encontra conectado constantemente com a informação o
deficiente visual ganha seu espaço não só para a conquista de sua comunicação,
mas uma forma eficaz de inclusão escolar, profissional e social, podendo ele
interagir com o mundo, ir além dos limites que sua visão alcança…
É ampliar suas possibilidades não apenas de interação homem/máquina, mas,
sobretudo da interação entre todos nós!!!
Construir e reconstruir espaços acessíveis sejam eles dentro ou fora do ambiente
educativo, tem como objetivo atingir um número cada vez maior de pessoas.
Devemos priorizar as múltiplas maneiras que os Deficientes Visuais apresentam de
perceber e relacionar-se com o mundo, não evidenciando as deficiências, longe da
super proteção e aproximando-se de uma maior valorização do ser humano.
Percebemos, nessa longa caminhada, os desafios e obstáculos que temos que vencer
dia-a-dia, porém não estamos sozinhos…
Trabalhar com Educação Especial/Inclusão Escolar é algo muito gratificante, até
porque vivi e vivencio isso na prática e, a partir dessas experiências, aliadas
à uma formação teórico/prática, tenho a missão de transformar as dificuldades em
superação.
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