Prof. Dr. Sylas Fernandes Maciel

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O PROBLEMA DA CEGUEIRA
Concepções Erróneas a
Respeito da Cegueira
A cegueira é uma das incapacidades que atinge o homem com relativa freqüência e
que, no entanto, é tão pouco compreendida. Variadas e numerosas são as histórias
contadas a respeito da vida, personalidade e habilidades de pessoas cegas.
Quando num grupo surge uma conversa sobre cegueira, sempre há alguém que conhece
ou já ouviu falar de uma pessoa cega extremamente hábil em conhecer dinheiro,
determinar cores do tecido por sua textura, e assim, passando de um para outro,
essas histórias vão criando um conceito falso a respeito da cegueira.
Foi pensando em esclarecer tais conceitos acerca das reais capacidades,
qualidades e atitudes das pessoas cegas que abordamos esses aspectos neste
trabalho. Evidentemente, não é nosso intuito estabelecer dogmas, pois seria
temeridade, em se tratando de reações e comportamentos humanos. Limitar-nos-emos
a discorrer sobre o que já está cientificamente comprovado sobre o assunto, e
também relataremos nossas experiências. Estas não ficaram na simples observação
à distância de uma pessoa cega, mas foram até à convivência com grande número
delas em idades as mais variadas e de ambos os sexos.
Iniciando, discutiremos a questão da acuidade dos sentidos dos portadores de
cegueira. Embora não haja fundamentação científica, é opinião corrente que uma
pessoa, ao ficar cega, adquire melhor audição, melhor olfato, melhor tato, etc.,
numa espécie de compensação. “Deus, ao tirar um sentido, melhora outro.” Para
essa maneira de pensar só há explicação: no sentimento de piedade. É também
pensamento corrente que todo cego deve aprender a tocar um instrumento musical,
que a música é a alma do cego. No entanto, existem pessoas cegas que não possuem
aptidão para a música, como ocorre também entre as pessoas que enxergam. Aqueles
que orientam os deficientes visuais para o aprendizado da música, sem avaliar
suas reais aptidões para essa arte, não podem esperar que eles se tornem
artistas, mas sim, simples tocadores, além de incorrer no perigo eventual de
incluí-los no rol daqueles que imploram a caridade pública utilizando-se da
música como veículo.
Podemos também citar casos de pessoas que quase não possuem tato, pelas mais
variadas razões, e que encontram grande dificuldade de leitura pelo sistema
Braille. Citamos ainda aqueles que não possuem olfato ou o têm bastante
deficiente, e aqueles que não possuem o menor sentido de orientação espacial.
Resumindo, podemos estabelecer que ninguém melhora a acuidade dos sentidos por
haver perdido um deles. Eles podem ser desenvolvidos quando usados
eficientemente, dando-se a devida importância às informações que eles fornecem.
Se os órgãos senso— riais se encontram em boas condições, não há razão para que
não funcionem. Citamos como exemplo disso os experimentadores de bebidas e
classificadores de perfume. Não há registro de que tais profissões sejam
exercidas por pessoas cegas, o que ratifica a afirmação anterior, ou seja, todos
podemos utilizar nossos sentidos com sucesso. O que representa um grande
empecilho para tal propósito, via de regra, é a supervalorização da visão, em
detrimento dos outros canais sensoriais. Ela é realmente o meio de contato e de
controle mais imediato do ambiente. Por isso, somos levados a desprezar as
outras formas de percepção do sentido.
O maior ou menor sucesso da pessoa cega no contato com o meio ambiente através
dos sentidos restantes vai depender do seu treinamento e, o mais importante, do
estado de funcionamento dos mesmos. Se ele é surdo, não irá recuperar a audição
porque ficou cego. Passará, pois, a ser portador de dupla deficiência, o que lhe
acarretará maiores dificuldades de adaptação e funcionamento.
Após essas considerações preliminares, passamos à análise dos seguintes
aspectos:
A) CAPACIDADE - Ao falarmos sobre a capacidade das pessoas cegas, desejamos
fazer uma distinção inicial de dois tipos de capacidades que nos parecem
imediatos, quais sejam, capacidade física e capacidade mental.
Ao discutir a primeira delas, podemos dizer que o indivíduo cego não é um
inválido, um inábil, incapaz de fazer qualquer coisa, por mais simples que seja.
Se pessoas cegas são encontradas que nada sabem fazer, nada conhecem, sendo
mesmo incapazes de levar o alimento à boca, é por causa daqueles que enxergam e
que, por um sentimento de superproteção, tudo lhes fazem, não permitindo a mais
simples das iniciativas.
A cegueira traz limitações para as atividades que requerem necessariamente
controle visual, mas, para as outras, não. Será suficiente proporcionar-lhes
oportunidades de ação, treinamento adequado e, logo, obteremos resultado com os
quais a maioria das pessoas fica surpresa, mas que nada têm de admirável, se
pensarmos que os indivíduos cegos em nada diferem dos outros seres humanos, a
não ser por não possuir a visão. Quanto ao restante, sua habilidade manual, seu
espírito criador podem ser iguais e até melhores que os das pessoas de sua
convivência. O que deve ser ressaltado é que a pessoa cega precisará de
orientação e treinamento adequados para executar certos trabalhos, o que não
significa incapacidade de realização.
O simples fato de não enxergar, teoricamente, nada tem a ver com as funções
musculares. Entretanto, há algumas causas de cegueira que acarretam outros
prejuízos ao indivíduo, como por exemplo, a falta de coordenação motora. Por
essa razão, ao se orientar uma pessoa cega, é de grande importância conhecer—se
o diagnóstico da moléstia que a acometeu, pois ela poderá ter deixado mais
alguma lesão.
A elaboração de tabelas de atividades passíveis de execução pelos cegos é
altamente prejudicial aos seus interesses ocupacionais, pois os impedem
aprioristicamente de tentar realizar outras tarefas, além de desencorajarem o
progresso tecnológico para a adaptação de equipamentos, instrumental e situações
de trabalho.
Na análise das possibilidades de uma pessoa, não podemos partir de um conceito
prévio decorrente da generalização de alguns dados esparsos, pois nenhum estudo
sistemático existe sobre o problema. Ao se analisar a capacidade de alguém, não
se deve partir do preconcebido e, sim, efetuar a avaliação individual. Isto
porque as diferenças individuais não podem ser esquecidas. Assim, poderá
acontecer que a pessoa que se submeteu à verificação não tenha sido capaz, por
razões as mais diversas, de realizar determinada atividade. Não é reconhecido o
direito de limitar as pessoas pela demonstração de incapacidade de uma delas.
Deve—se, pois, adotar sempre a norma da experimentação individual.
Abordaremos a seguir a questão relativa à capacidade mental. Se, na análise da
capacidade física do portador de cegueira, demos grande ênfase ao conhecimento
da causa da deficiência visual, aqui, então, desejamos dar maior realce ao fato.
Isto porque, como já ficou dito, moléstias há que, além de tirar a visão do
indivíduo, acarretam—lhe. ainda outros prejuízos, como por exemplo, déficit
mental, disfunções neurológicas e outras. Esses mesmos eleitos poderão ocorrer
por outras causas, tais como traumatismos durante a vida intra-uterina,
traumatismos no momento do parto e mesmo no transcurso da vida. Dessa maneira,
para podermos avaliar todo o potencial de uma pessoa cega, será preciso conhecer
o diagnóstico das condições atuais, a fim de sabermos se ela possui ou não
limitações adicionais. Em se tratando de criança cega, tal conhecimento é ainda
mais relevante para a formulação de planos realísticos de vida, mesmo que
apresente limitações adicionais. Neste caso, a sua educação reclama cuidados
mais especializados e a orientação familiar deve ser dirigida no sentido de
aceitá-la tal como é, dentro de suas perspectivas reais de vida.
Excetuando os casos de dupla deficiência, pode-se afirmar que a capacidade
mental das pessoas cegas em nada difere das pessoas videntes, levando-se em
consideração, está visto, as diferenças individuais. O que tem sido constatado
na educação de pessoas cegas é um atraso pedagógico motivado pela falta de
experiências que são permitidas às pessoas videntes e negadas às cegas. Mas, se
forem dadas à criança cega oportunidade e orientação de estar em contato com o
mundo, logo que ela começa a perceber as coisas, quando atingir a idade escolar
estará em iguais condições de aprendizagem que seu colega com visão. Entre os
cegos são encontrados os inteligentes e pouco inteligentes honestos e
desonestos, vadios e aplicados.A cegueira nada tem a ver com o aproveitamento do
aluno aqueles que julgam ser o aluno cego ± capaz de acompanhar as aulas, ou
então o têm em conta de muito inteligente e aplicado porque não tem com que se
distrair, elaboram raciocínio bastante ingênuo a respeito da questão. A
qualidade do aluno não é determinada pela cegueira e, sim, pelo interesse que
ele possua pelo estudo. Não podemos ser tão simplistas a ponto de julgar que o
cego não tenha com que se distrair. Tem muito, e talvez mais que as outras
pessoas. Por não ver, normalmente ele é levado a desenvolver muito a sua
fantasia. Por outro lado, está sempre a fazer novas descobertas no mundo dos
sons. Se as pessoas que enxergam ficam admirando seu interlocutor, prestando
atenção ao penteado, às roupas, etc., da mesma maneira o cego se distrai
prestando atenção na mudança da voz da pessoa com quem fala, nas palavras que
ela pronuncia, na maneira de pronunciá-las, no ruído dos seus passos, além de
todo o complexo de sons e outros estímulos que correm à sua volta.
Podemos concluir que a pessoa cega não se encontra desligada da realidade
exterior, como se pensa. É certo também que quando o cego não é convenientemente
orientado, poderá descambar para uma vida completamente irreal, impulsionado
pela fantasia.
B) PERSONALIDADE - Ao falarmos da personalidade da pessoa cega, devemos ter
presente na lembrança que não existe uma “psicologia da cegueira”. Por este
motivo, não se pode dizer que exista um tipo de personalidade da pessoa cega.
Assim, somos injustos para com a totalidade dos cegos quando dizemos que
determinado indivíduo é mau porque é cego. Ou então, que a integração é própria
do cego. Tais conceitos fazem supor que a cegueira perverte o seu portador e o
deforma moralmente. Essa incapacidade está de tal forma envolta num conceito de
degradação, de pecado, que quando desejamos dizer que alguém sofreu a maior
degradação usamos a expressão ”ele foi até guia de cego.”
Ao analisar o problema da cegueira e de seus portadores, é necessário proceder
de maneira inteligente, orientando-se por um espírito científico e não pelo
empirismo envolto em lendas. Só assim poderemos compreender que não será a
cegueira a responsável pelo tipo de personalidade do seu portador e, sim, a
história de vida e o que existe de real são as distorções de personalidade que o
indivíduo pode sofrer em conseqüência do abalo emocional. São os chamados
efeitos psicológicos da cegueira. Entretanto, ele não muda estruturalmente sua
personalidade, da mesma maneira que não poderá transformar seu temperamento.
Necessitará, sim, impor-se algumas restrições, visando o melhor ajustamento a
sua deficiência. Por exemplo, se ele era uma pessoa agressiva, terá que se
modificar, tornando-se menos agressiva para não ficar indesejável, pois
necessitará agora mais freqüentemente do auxílio de outras pessoas. Todavia, não
poderemos dizer que ele deixou de ser agressivo. Isto porque nosso comportamento
emocional se encontra na dependência de fatores constantes, tais como: Q.I.,
constituição física, e de outros elementos hereditários e da história de vida.
Mas ele também está condicionado a fatores que podem variar, como, por exemplo,
a educação recebida, que determinará os padrões a serem adotados pelo indivíduo.
São também de grande importância as experiências vividas, porque é através delas
que se poderá aquilatar a ação do meio sobre o indivíduo. Pode-se assim concluir
que a pessoa apresentará, em linhas gerais, o mesmo comportamento emocional,
independente da deficiência. No entanto, é imprescindível conhecer—se bem os
efeitos psicológicos da cegueira para não confundi-los com padrões de
comportamento.
Thomaz Carroll, líder no campo da reabilitação nos Estados Unidos, estudando os
problemas dos portadores de cegueira, catalogou vinte perdas básicas ocasionadas
por essa deficiência. São as seguintes:
1) PERDA DA INTEGRIDADE FÍSICA - Encontra—se intimamente ligada ao complexo de
castração e de perda do ego. O indivíduo sente-se castrado, sente que se lhe
roubou uma parte muito importante do corpo. Através dessa perda, encontramos
explicação para a atitude de medo em olhar um cego assumida por muitas pessoas,
por suporem que isso poderia ter-lhes acontecido.
2) PERDA DA CONFIANÇA NOS SENTIDOS RESTANTES - Isto ocorre porque, sendo a
visão o sentido que maior número de informações nos fornece, sua falta dá idéia
de perda de todos os outros sentidos, tal o isolamento pela impossibilidade de
controle do meio ambiente.
3) PERDA DO CONTATO COM A REALIDADE - A visão é o sentido que nos coloca de
imediato em contato com a realidade, que nos possibilita o controle das
situações e pelo qual tomamos usualmente a relação de espaço e,
conseqüentemente, de equilíbrio. A impossibilidade da utilização desse sentido
acarreta desorientação, sensação de estar perdido. É por isso que ouvimos com
freqüência a pessoa cega exclamar: “Onde estou?” “Quem sou?”
4) PERDA DA SENSAÇÃO DE PERSPECTIVA - Acontece porque o indivíduo fica
impossibilitado da percepção do todo, sendo a sua percepção realizada por
partes. Isto porque o sentido do tato não oferece possibilidade de abarcar o
todo, pois isto implicaria em envolver completamente o que se deseja conhecer, o
que é impossível.
5) PERDA DA SENSAÇÃO DE LUZ - Na realidade, a cegueira não acarreta uma
escuridão absoluta. O simples fato de o indivíduo possuir o globo ocular pode
dar a ele a sensação de luz mediante a compressão do olho, pois a retina
conserva uma luz própria. Por outro lado, um estimulo elétrico pode dar ao
indivíduo a sensação luminosa. Mesmo quando o olho é enucleado, o que é sentido
não tem semelhança com escuridão, pois essa sensação supõe um contraste entre a
existência e a ausência de luz. Na situação analisada, a sensação que se poderia
ter seria a de impossibilidade de percepção, como a que sentiríamos se
imaginássemos ver pela região occipital. Nada poderíamos sentir a não ser o
desejo, pois inexiste o aparelho visual nessa região. Thomaz Carroll diz que a
perda da luz visual está muito ligada à idéia de pecado e, por essa razão,
encontra—se relacionada com a sensação de castigo. É assim que podemos
compreender porque ás vezes um cego exclama: “Que fiz eu para merecer este
castigo?”
6) PERDA DA PERCEPÇÃO VISUAL DO BELO - Um exemplo que elucida bem esta perda é
a impossibilidade de apreciar, visualmente, o pôr-do-sol, o mar, as paisagens em
geral, etc.
7) PERDA DA PERCEPÇÃO DAS COISAS QUE SÓ PODEM SER CONHECIDAS PELO SENTIDO DA
VISAO - Esta perda também pode ser bem compreendida através de um exemplo. Por
causa dela, a pessoa cega fica impossibilitada de observar ferro e brasa,
controlar visualmente reações químicas, apreciar um líquido em ebulição.
8) PERDA DA LOCOMOTIVIDADE - Pela impossibilidade de previsão do que
acontecerá ao dar um passo, o cego é levado pelo medo do desconhecido a um
estado de inércia que poderá até acarretar atrofia muscular dos locomotores.
9) PERDA DA POSSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO POR ESCRITO - Um exemplo que
esclarece bem esta limitação é a impossibilidade de manter correspondência
particular com pessoas videntes, assinar o nome, etc.
10) PERDA DA FACILIDADE DE RELACIONAMENTO COM OUTRAS PESSOAS - Isto acontece
porque o indivíduo cego fica impossibilitado de ver seus próprios gestos e os de
seu interlocutor, ficando dessa forma inibido para estabelecer um fácil
relacionamento (insegurança decorrente da impossibilidade de controle da
situação).
11) PERDA DAS EXPRESSÕES FACIAIS - A mímica facial é mantida pelos estímulos
esternos, de maneira geral. Ao ficar impossibilitado de recebê-las, a pessoa
cega não mais responde às situações pela mímica facial, ficando por essa razão
com a fisionomia estática.
12) PERDA DOS ESTIMULOS VISUAIS - Pelo fato de a pessoa cega perder o contato
com o ambiente, essa perda motiva uma sensação de desatualização com relação aos
novos conhecimentos, de não aquisição de novas informações, dando a impressão de
estacionamento e mesmo de retrocesso.
13) PERDA DA RECREAÇÀO DE CARATER ATIVO - Pela impossibilidade de
locomover—se, o cego fica privado da recreação de caráter ativo, ou seja,
participação em jogos e demais diversões que exijam o deslocamento do corpo no
espaço.
14) PERDA DAS TECNICAS - Pela insegurança dos movimentos, impossibilidade de
controlar visualmente a ação, o indivíduo cego perde grande parte das técnicas
anteriormente adquiridas, havendo necessidade de nelas ser retreinado, pois não
terá mais o auxílio da visão.
15) PERDA DA PROFISSÀO OU MODIFICAÇÀO DOS PLANOS PROFISSIONAIS - Esta é uma
decorrência da perda anterior. Na maioria dos casos, o indivíduo exercia uma
atividade para a qual era absolutamente necessário o controle visual. Terá então
que mudar de profissão. O mesmo acontece quando o seu futuro profissional seria
uma atividade dependente da visão, como, por exemplo, ser motorista, cirurgião,
etc. No primeiro caso, terá que mudar de profissão; no segundo, fazer novos
planos profissionais, excluindo agora o controle visual.
16) PERDA DA SEGURANÇA FINANCEIRA - O desequilíbrio econômico advém, na
maioria dos casos, da procura da recuperação visual a qualquer preço.
17) PERDA DA SEGURANÇA PESSOAL INTERNA E EXTERNA - Isto é uma decorrência das
perdas anteriores, que atuam simultaneamente sobre o indivíduo. É um complexo de
emoções que atua sobre a pessoa cega.
18) PERDA DO FUNCIONAMENTO SOCIAL ADEQUADO - Pela limitação na locomoção,
constante estado de tensão, dificuldade de relacionamento, perda de técnicas, a
pessoa cega é levada a um comportamento social inadequado.
19) PERDA DA AUTO-ESTIMA – O cego é levado a considerar-se inferior a outras
pessoas e, pelo reconhecimento das limitações que a situação lhe impõe, julga-se
inútil, passando a desvalorizar-se.
20) DESORGANIZAÇÃO TOTAL DA PERSONALIDADE - Esta acontece pela atuação
simultânea de todas as perdas anteriores. O indivíduo sucumbe emocionalmente
ante tanta limitação.
Toda pessoa, ao perder a visão, sofre esses efeitos. Dependendo da maneira de
ser de cada um, de sua capacidade de adaptação, umas perdas far-se-ão sentir
mais que as outras. Precisará reagir positivamente para superá-las e, para isto,
precisará contar com a ajuda de profissionais.
Pelo que ficou demonstrado, é de se avaliar o trauma ocasionado pela perda da
visão e de se concluir que essa incapacidade requer grandes reajustamentos
psicológicos e sociais, não fáceis de serem conseguidos espontaneamente. Por
essa razão, ao trabalhar com uma pessoa cega, devemos estar atentos não só
quanto à observação das suas atitudes e reações, mas, sobremaneira, das próprias
atitudes e emoções, a fim de objetivamente estarmos seguros da contribuição ou
prejuízo que estamos causando ao seu esforço de reajustamento.
O excesso de piedade, indulgência, proteção, não só acentuam a dependência do
indivíduo, como também desenvolvem nele um sentimento de autocomiseração,
dependência e insatisfação, criando situações desagradáveis e de difícil
solução. A ignorância e a incompreensão da sociedade em relação à pessoa cega
constitui maior desastre para ela que a sua própria limitação, O seu ajustamento
à nova situação vai depender do ambiente social em que vive. Ela, de alguma
forma, refletirá o mal ajustamento do meio em relação à cegueira, agravado ainda
mais pelas próprias dificuldades.
ϟ
Δ
29.Abr.2016
publicado
por
MJA
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