Ginástica na Escola de Cegos em Budapeste
-
-
-
-
Sumário
-
-
-
Neste livro o leitor encontrará informações e esclarecimentos que poderão vir
a melhorar e facilitar o relacionamento e a
integração dos deficientes visuais com a comunidade em que
vivem; porém, não encontrará sobre os processos técnicos de
treinamento em Orientação e Mobilidade, pois não fazem parte de nossos
objetivos.
Com este trabalho procuramos:
-
Orientar pais, familiares e amigos para a melhor forma de
ajudar a pessoa cega ou de visão subnormal no seu
dia-dia, aliviando-a nas suas aflições, nos temores da cegueira, buscando um
melhor caminho para suprir as suas
necessidades e anseios e, ainda, diminuir os conflitos de
seus familiares para que não haja interferência no processo ensino-aprendizagem
de seus filhos;
-
Fornecer para docentes, profissionais e estudantes, esclarecimentos sobre a
importância da participação da pessoa cega ou de visão subnormal nos cursos de
treinamento em Orientação e Mobilidade como também a importância da bengala,
pois é através dela que ocorre sua
identificação, fazendo com que as pessoas passem a tratála com mais respeito,
dirigindo-lhe a palavra e ajudando-a
a atravessar uma rua ou mesmo a localizar um determinado banco, loja, endereço
etc. Será através dos cursos
e do uso da bengala que ela passará a ter segurança e
independência nas suas atividades e, consequentemente,
o controle do meio ambiente;
-
Despertar na comunidade não só a aceitação e a valorização da pessoa
portadora de deficiência visual, como
também elaborar projetos de cursos profissionalizantes,
programas de trabalho onde o cego será aceito e terá tratamento igual ao de
pessoas com visão normal. A comunidade, através de seus membros ativos e de
destaque,
pode participar e colaborar com estas Instituições de ensino, ajudando-as na sua
administração e colaborando na
atualização e especialização de seus professores como
também na aquisição de equipamentos, livros e aparelhos tão necessários para o
desenvolvimento de suas atividades.
Tem, ainda, por objetivo relatar as experiências obtidas
durante o trabalho de Orientação e Mobilidade realizadas no
Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos e os
depoimentos de alguns deficientes visuais frente a sua própria deficiência.
Os termos "cego" e "deficiente visual" foram utilizados indistintamente:
dizem respeito a indivíduos com grave deficiência visual, podendo ser cego total
ou portador
de visão subnormal, pois ambos enfrentam duramente os problemas aqui
abordados.
1. Primeiros Contatos com
o Deficiente Visual
Ao terminar a Faculdade de Educação Física na Universidade Estadual de
Londrina, depois de alguns anos, fui convidada para fazer um trabalho voluntário
no Instituto
Londrinense
de Instrução e Trabalho para Cegos em Londrina. Confesso
que vacilei um pouco, mas acabei aceitando, e trabalhei um
ano como voluntária, atendendo os alunos com duas aulas
semanais.
No início fiquei um pouco assustada, porque nunca tive a
oportunidade de conhecer um deficiente visual; tinha também
receio de dizer a eles "você está vendo isso ou aquilo", com
medo de estar ofendendo-os. Fui me acostumando e comecei
a gostar deste tipo de trabalho, por ser um trabalho especial e
gratificante.
Em 1982, consegui dedicar um pouco mais de tempo a eles;
minha remuneração era tão baixa que mal dava para cobrir as
despesas de transporte, mas não me importava, sentia-me bem
ao estar com eles, oferecendo-lhes o pouco que eu sabia.
Como nunca tive experiência com Educação Física para
cegos, sempre que surgiam oportunidades participava de cursos, simpósios e
congressos, e com isso meus conhecimentos foram sendo ampliados.
Como o número de deficientes visuais aumentava cada vez
mais, a pedagoga Eunice Fagundes de Castro, funcionária do
Departamento de Educação Especial da Secretaria de Estado
da Educação, especializada na educação de crianças deficientes visuais, achou
que por eu ser professora de Educação Física seria a pessoa ideal para trabalhar
nessa
área. Comecei,
então, a partir de 1984, a me dedicar também ao treinamento
de Orientação e Mobilidade.
Em 1987 ampliei minhas atividades, ministrando aulas de
natação num dos clubes da cidade, a ACEL - Associação
Cultural Esportiva Londrinense que, com muita boa vontade
nos cede, até hoje, a piscina para a prática desse esporte, que
é considerado o mais completo.
A minha experiência em Orientação e Mobilidade era muito
pouca, os conhecimentos foram adquiridos através de cursos
adicionais, pois para desenvolver este trabalho a contento é
necessário, além dos conhecimentos, muita responsabilidade, paciência e amor.
Tive muitas dificuldades: lembro-me bem de um aluno que
perdeu a visão em um acidente de carro, e precisou freqüentar o Instituto para
poder dar continuidade aos seus estudos.
Tanto para mim como para ele, era uma atividade dolorosa,
por eu não ter maior experiência em Orientação e Mobilidade
e ele por não ter ninguém da família que o levasse. Resolvi,
então, ensinar-lhe o percurso de sua casa até o Instituto, usan-
do um gravador, para amenizar as dificuldades, mas os problemas continuavam, as
nossas tensões e angústias eram
muitas.
No início de 1988, a diretora da Instituição solicitou para
Chistoffel Blindenmission, uma entidade alemã com sede no
Paraguai, para que, assim que houvesse uma oportunidade,
me convidasse a fazer o Curso de Orientação e Mobilidade
que se realizaria em um dos países da América Latina. No dia
22 de julho do mesmo ano viajei para a cidade de La Serena,
no Chile, para fazer o tão esperado curso. Retornei no dia 4
de setembro de 1988.
O curso foi ministrado pela professora Dayce Tapia Barraza.
Éramos somente duas alunas, eu e a professora de Santiago,
Ximena Pizarro Vega. O curso foi desenvolvido minuciosamente, técnica por
técnica, uma de cada vez, e sempre recebíamos a informação com os olhos
vendados; primeiro aprendíamos a técnica, depois esta mesma técnica era
repassada de
uma para a outra; assim, num momento éramos alunas e em
outro momento professoras. Sempre, quando terminávamos
uma aula prática, sentávamos e passávamos para a aula teórica; a professora
ditava as técnicas aprendidas e, se houvesse alguma dúvida, as mesmas eram
esclarecidas. Chegamos
a fazer provas escritas e no final do curso estávamos com um
caderno completamente repleto de anotações. Foi uma experiência diferente, pois
ainda não tinha feito um curso desse
nível.
O curso exigiu muita responsabilidade e atenção. Recordo-me que, quando
estava fazendo uma das técnicas, levei um
grande susto, neste momento pensei em desistir, mas a minha vontade de ensinar
meus alunos a serem independentes
era tanta que nada naquele momento me faria voltar atrás.
Quando estávamos na etapa final e consegui atravessar a rua,
localizar uma cabine telefônica e fazer uma ligação para o diretor do Instituto,
fiquei muito emocionada e feliz de saber que
poderia auxiliar meus alunos sem nenhum problema, pois eu
tinha conseguido vencer todas as etapas com os olhos vendados. Para mim, tinha
certeza que todos os meus alunos conseguiriam vencer estas etapas tão
importantes em suas vidas,
uns necessitando de mais esforços que outros.
Voltei com uma bagagem completa de conhecimentos e
muito trabalho me esperando, atendia até seis alunos por dia.
Cada aluno que consegue vencer as técnicas de aprendizagem do curso é, para
mim, uma emoção muito grande e acredito que sempre será, pois é um trabalho
gratificante e que
faço com muita satisfação, amor e paciência.
Passaram-se dois anos, cinco alunos já tinham concluído o
curso, quando recebi a notícia de que a professora Dayce nos
faria uma visita trazendo o meu certificado. Para que eu o recebesse ela teria
que observar-me trabalhando com alunos e
verificar se realmente conseguia transmitir o que ela me ensinara, porque este
trabalho exige que se tenha muita segurança, sendo às vezes até rígida. Se você
transmitir
dó ou compaixão, o deficiente não conseguirá vencer as técnicas; é
necessário fazer, em primeiro lugar, com que ele confie em
você e na sua bengala, para ir vencendo os obstáculos, claro
que uns com mais facilidade que outros.
O deficiente que nasce cego terá um pouco mais de dificuldades do que aquele
que adquiriu a deficiência. Se a família o
protege fazendo tudo por ele, irá ter mais dificuldades ainda
do que aquele que é mais independente. Geralmente o curso
dura em torno de oito meses chegando alguns até dois ou três
anos de treinamento .
2. Noções Básicas de Orientação e Mobilidade
2.1 - Definições
a) Orientação: "É a habilidade para reconhecer o meio ambiente e estabelecer sua posição em relação ao meio ambiente. Isto significa: consciência do corpo, consciência
dos objetos e do espaço, comportamento motor perceptual eficaz, e adequado uso dos conceitos. Ela é desenvolvida por repetidas experiências sensomotoras no meio físico".
(WOJNACK, 1989)b) Mobilidade: "É a habilidade física para se mover
determinadamente, eficientemente, seguramente, pelo
meio ambiente e, tão independentemente quanto possível de um lugar para outro.
Ela envolve: orientação, movimento do corpo, uma razão para se mover (motivação)
e comunicação". (WOJNACK,1989)
c) Orientação e Mobilidade: "É uma disciplina que tem a
finalidade de auxiliar as pessoas visualmente deficientes a desenvolverem ou
restabelecerem a capacidade
para a motivação independente, eficiente e segura pelos
espaços, para satisfazerem suas próprias necessidades". (WOJNACK,1989)
Uma das tarefas mais difíceis para a pessoa cega é sua
locomoção independente. Para que consiga um bom desempenho em Orientação e
Mobilidade deverá compreender o seu
meio ambiente, tornar familiar novos meios ambientes, usar
informações através de outros sentidos, especialmente a audição, obter
informação verbal, utilizar-se de guia com visão,
técnicas protetoras (proteção superior, proteção inferior, proteção combinada e
proteção social) e técnicas de bengala longa, conhecida como "bengala de Hoover", concebida pelo Dr.
Richard Hoover, professor de Educação Física. A bengala
Hoover utilizada corretamente, oferece informações precisas
para os cegos, como buracos e superfícies no solo, mostrando desníveis para cima
ou para baixo.
2.2 - Objetivo
O objetivo de Orientação e Mobilidade é fazer com que a
pessoa cega ou de visão subnormal caminhe em ambientes
internos e externos com eficiência, graciosidade, de maneira
segura e independente.
Para que esse objetivo seja atingido há necessidade do
desenvolvimento de algumas habilidades. A ação de assimilar
e o efeito de utilizar estas habilidades facilitará o desempenho
na mobilidade e no grau de independência na locomoção.
2.3 - Pré-requisitos
Segundo a apostila elaborada pela professora CURI,1982,
os pré-requisitos para o processo de Orientação e Mobilidade
compreendem: área cognitiva, área psicomotora, área afetiva.
2.3.1- Área Cognitiva
Onde o aluno deverá adquirir a formação de conceitos; atenção, resolução de
problemas, poder de decisão, memória e
transferência.
A - Formação de Conceitos
-
imagem corporal, que é a referência que o indivíduo tem
dele próprio; o conhecimento das partes do seu corpo, as
funções que cada uma delas exerce e sua relação com o
ambiente;
-
natureza do ambiente onde o deficiente vai encontrar os
objetos fixos, móveis e em movimento;
-
relações têmpora-espaciais devem ser exploradas a partir do próprio corpo.
As temporais deverão situar no tempo, ter noções de ontem, antes e depois,
movimentos lentos e rápidos; enquanto que as espaciais são as
atividades que envolvem distância, como perto e longe e as que
possam localizar e posicionar dentro, fora, começo, fim,
lado direito e esquerdo, em cima, embaixo, deitado, sentado.
B - Atenção
Quando o cego sai para fazer sua aula, deverá procurar
esquecer dos seus problemas pessoais e pensar somente no
trajeto que irá fazer, seguindo corretamente as orientações da
instrutora, assim raramente ocorrerá algum acidente. Deverá
ter muita atenção nos movimentos das pessoas e dos carros,
saber exatamente o momento certo de atravessar uma rua,
observando atentamente em qual das ruas precisará pedir ajuda ou não.
C - Resolução de Problemas
O cego terá que saber resolver determinadas dificuldades
sem atropelos num momento difícil: se percebeu que mudou
de direção ou entrou em um estacionamento ou loja, terá que
saber voltar ao local correto observando o máximo de barulho
possível que existe ao seu redor.
D - Poder de Decisão
O cego terá que saber tomar as decisões que melhor lhe
favoreçam. É difícil para a maioria das pessoas cegas tomar
decisões acerca de si mesma. A partir do momento em que
conseguir tomar decisões corretas se sentirá mais seguro e
confiante para alcançar os seus objetivos.
E - Memória e Transferência
Todo e qualquer percurso que o cego fizer terá que ter
sempre em mente qual será a próxima técnica a executar, procurando memorizar o
trajeto para que não tenha dificuldades
para fazer o caminho de volta; ou, se desejar voltar por um
outro caminho, analisar cuidadosamente para que não ocorra
nenhum transtorno.
F - Utilização dos Sentidos Remanescentes
Toda e qualquer pessoa cega ou de visão subnormal, seja
ela, criança, adolescente ou adulto, com cegueira congênita
ou adquirida, para facilitar principalmente a sua locomoção
independente, terá que desenvolver os outros sentidos, ou seja:
a audição, tato, olfato e gustação. Trataremos deste assunto
no próximo capítulo.
2.3.2 - Área Psicomotora
Abordaremos aqui o equilíbrio e a coordenação; a postura
e o passo, caminhar em linha reta e executar voltas que são
pontos importantes para a Orientação e Mobilidade.
A - Equilíbrio e Coordenação
Para que a pessoa cega adquira um bom equilíbrio e uma
boa coordenação deverá executar muitos exercícios. Um equilíbrio
correto é a base primordial de toda coordenação geral,
como também de toda a ação diferenciada dos membros superiores.
Segundo CAPON,1987, o equilíbrio "é a habilidade de assumir e manter qualquer
posição contra a ação da força da
gravidade. A continuidade do equilíbrio resulta da interação
dos músculos que trabalham para manter o corpo, sobre sua
base". Já a coordenação "é a habilidade do corpo de integrar
a ação dos músculos de maneira a executar um movimento
específico ou uma série de movimentos comuns da melhor
forma possível".
B - Postura e Passo - Caminhar em Linha Reta e Executar
Voltas
A postura é a harmonia ou organização das partes do corpo.
A boa postura é um dos pré-requisitos para Orientação e Mobilidade. A cabeça é que governa o corpo; se o deficiente visual
inclinar a cabeça para a direita provavelmente caminhará
para a direita, ele deve conscientizar-se de que, a partir do
momento que a sua cabeça está bem centralizada, irá conseguir caminhar em linha
reta, adquirindo assim um bom equilíbrio. Se a sua lateralidade está bem definida, e tendo noções
espaciais, saberá executar voltas com facilidade. A lateralidade
consiste em diferenciar esquerda e direita, controlando os dois
lados do corpo, facilitando quando necessita dar meia volta ou
um quarto de giro, ou seja, metade da meia volta. Sendo bem
ágil e tendo vitalidade conseguirá realizar corretamente o trajeto sem
dificuldades.
2.3.3 - Área Afetiva
Compreende atitude; motivação; valores e autoconfiança.
Para que uma pessoa cega consiga levar adiante o seu
treinamento é preciso que tenha uma motivação, um objetivo
a ser alcançado, e que esteja bem psicologicamente.
A idéia de ser capaz de locomover-se com segurança, eficiência e ser independente em diversos ambientes, não somente aumenta a auto-
estima como também a autoconfiança.
Conseguir vencer estes objetivos é muito importante para o
cego perante a sua família, amigos e sociedade em geral. O
desenvolvimento da independência e liberdade de movimentos, através da
Orientação e Mobilidade produz um impacto
favorável na transformação da personalidade. É importante
porque o liberará da necessidade de ter que depender de familiares e amigos.
A família deve sempre motivá-lo na aprendizagem, valorizando suas atividades, aceitando suas opiniões e integrando-o no lar e na
sociedade.
De uma maneira geral, devemos incentivá-los a encarar a
vida comunicando-se, adquirindo informações, buscando
aprendizagem no seu dia-a-dia, assim elevará sua confiança
e seus sentimentos de auto-estima.
3 - Estimulação dos
Sentidos Remanescentes
O propósito da estimulação dos sentidos remanescentes
(audição, tato, olfato e gustação), é mostrar como são primordiais na
aprendizagem das noções básicas para o desenvolvimento da locomoção da pessoa cega. Dentro de noções básicas, podemos incluir a
distância de um trajeto, direção, mudanças de ambiente, conhecimento do meio onde vive (a casa,
o bairro, a escola) e o reconhecimento do esquema corporal
(partes do corpo, corpo todo, corpo no espaço).
Sem essas noções básicas pode ocorrer um atraso em seu
amadurecimento global, afetando o início da fase escolar. Pela
falta do estímulo visual a pessoa cega fica imóvel porque nada
lhe chama a atenção. Os pais que têm bebês cegos devem
expressar seus sentimentos de carinho, associando a voz com
o contato físico, tocando-o, acariciando-o e segurando-o nos
braços. Com isso o bebê irá responder e mostrar seu prazer e
satisfação. Devem sempre comentar perto de seu filho todos
os ruídos e de onde se originam. Portanto, a criança necessita
de ajuda para obter o controle do corpo, para aprender a andar na idade normal.
É preciso que lhe seja dada a oportunidade de explorar; de conhecer seu meio ambiente, estimulando-a a agir, deixando
que toque as coisas, a fim de enriquecer
seus conhecimentos e amadurecer emocionalmente.
3.1 - Estimulação da Audição
Como a audição é primordial para orientar-se, o silêncio
total poderá tornar difícil a locomoção do cego, não ao ponto
de não se locomover, mas de ter um pouco mais de dificuldade para se situar no
espaço. Por este motivo, a estimulação
auditiva deve ser iniciada desde muito cedo. É evidente que
ele percebe os sons de seu meio ambiente, a não ser que
tenha também problemas de audição, como o surdo-cego. Este,
por sua vez, terá limitações em seus trajetos, já que a audição
é primordial para o deficiente se orientar em sua caminhada.
Por esse motivo, o surdo-cego terá muito mais dificuldades,
uma vez que terá somente o aroma para auxiliá-lo.
O treinamento da percepção auditiva deve ser feito de todas as maneiras
imagináveis. Pode ser treinado a distinguir
ruídos, começando dentro de sua própria casa, com o barulho
da geladeira, de um aparelho eletrodoméstico, a campainha
de entrada etc., passando depois a distinguir os ruídos dentro
de sua escola, como o telefone, uma porta que bate, o barulho
de uma pessoa caminhando etc.; depois os ruídos nas ruas,
como distinguir o barulho de um carro pequeno, de um grande, motocicleta, chuva,
vento etc. Exemplo: no final de uma
aula de educação física, por alguns minutos, os alunos deitados e em silêncio
irão ouvir todos os barulhos existentes, a
professora perguntará a cada um que tipo de barulho ouviu,
como: o telefone, o carro na rua, etc.
É muito importante que os pais saibam da necessidade
deste treinamento, que mais tarde irá facilitar a locomoção do
deficiente.
O sentido da audição é a fonte principal de informações
sobre o ambiente, porque é através da localização e discriminação de sons que a
pessoa pode determinar o ambiente que
a rodeia. (Anexo - ns 03,14,19 e 21.)
Durante o treinamento auditivo, quatro áreas deverão ser
desenvolvidas, conforme CURI,1982.
-
Localização do som - "É a habilidade de determinar a
origem de um som somente pela informação auditiva".
-
Alinhamento do som - "É a habilidade de determinar a
localização de um som seguido de um espaço de tempo contínuo".
-
Percepção de obstáculos - "A percepção de obstáculos
reconhecida como "reflexão auditiva", é a percepção do obstáculo antes do
contato corporal com ele".
-
Discriminação do som - "É a habilidade de discriminar o
som necessário para a orientação".
Na localização do som a
pessoa cega ou de visão
subnormal irá buscar a informação auditiva para tomar
decisões seguras; é através
do som específico que ela '
consegue determinar a direção do seu caminho. Poderá localizar uma casa de tecidos, sabendo que esta
casa fica ao lado de uma
loja de discos, ou um banco, supermercado,etc.
No alinhamento do som ela se orientará através de um
som em movimento. Seguindo a direção do tráfego, conseguirá caminhar em
linha reta, pois o carro sempre deverá passar do lado de seu ombro
direito ou esquerdo, dependendo do lado que estiver. Quando o carro começar a
passar na sua frente saberá que está
chegando a esquina, conseguindo assim girar livre
mente sem tocar na parede ou meio-fio, e no momento da travessia de rua
com semáforo e mão única, o carro terá que passar na sua frente ou em
um dos seus lados, dependendo da posição
onde se encontre.
A percepção de
obstáculos é um fator
muito importante também para Orientação e
Mobilidade. O cego é
treinado para perceber
a presença de túneis,
pois o local fica mais
fechado, muda o som,
formam-se ecos; a presença de paredes; de
obstáculos grandes e sólidos no espaço, percebendo que existe
alguma coisa na frente; quando os espaços são abertos, sentem que ficou mais
claro, ou que a brisa ficou mais forte etc.
Na discriminação do som, deverá observar com muita atenção que, dentre vários
sons, um deles é que o auxiliará,a chegar no local desejado.Deverá saber discriminar as diferenças
de som de um carro, de um
caminhão, moto
etc., e também as
diferenças entre as
maneiras de andar
de homens, mulheres, crianças,
idosos.
3.2 - Estimulação da Percepção Tátil-Cinestésico
O sistema tátil-cinestésico envolve o tato, movimento e a
posição do corpo no espaço. Através dos movimentos das
pernas, mãos e tronco obtém-se informações precisas. Nos
lábios e nas pontas dos dedos existe uma grande concentração de receptores. O
tato é o sentido pelo qual recebemos
as sensações de dor, quente, frio, áspero etc. É através da
percepção tátil-cinestésica que a pessoa cega toma conhecimento das coisas que a cercam e do mundo em geral, por isso
falamos que "a mão é o olho do cego". (Anexo - nos 04,13,16,19 e 21)
A percepção tátil-cinestésica pode ser desenvolvida através de atividades como colagem, recorte, modelagem, materiais para identificar
formas, tamanho, grosso, fino, macio, suave, áspero etc. As atividades da vida diária também ajudam a
desenvolver o tato, como lavar as mãos sentindo a água, enxugar as mãos sentindo
a maciez da toalha, pentear os cabelos etc.
Para o treinamento de Orientação e Mobilidade a percepção tátil-cinestésica é
de fundamental importância, pois é através dos pés e da ponta da bengala que vão perceber a diferença dos pisos pelas
depressões, a natureza das coisas existentes no caminho por onde passam, tais como muros, árvores, portões, meios-fios, gramas, etc.
É importante lembrar sempre que as atividades devem ser
trabalhadas partindo das comparações grosseiras até as finas; assim podem
aprender os conceitos de leve e pesado,
pequeno e grande para então chegar aos diferentes graus
destas comparações.
3.3 - Estimulação da Percepção Olfativa e Gustativa
A percepção dos sentidos do olfato e do gosto são também
elementos importantes para a orientação e locomoção. Muitas vezes o cheiro de
pão, livros, couro, fazenda, podem indicar as proximidades de uma padaria, livraria, de um sapateiro
ou de uma casa comercial, servindo, assim, de referência para
as pessoas cegas. Um odor pode, portanto, constituir-se, em
determinadas circunstâncias, no único fator de orientação para
o cego. A pessoa cega ou de visão subnormal deve ser treinada a usar o olfato
aprendendo a distinguir os odores dos líquidos que servem como alimentos: vinagre, refrigerante, leite e
outros; dos líquidos que servem como limpeza: álcool, detergente e outros; dos
cosméticos: desodorante, perfume e outros;
dos remédios: leite de magnésia e outros; dos odores dos combustíveis; dos
animais; dos aposentos da casa: banheiro, cozinha, garagem e outros; das casas comerciais: padaria, peixaria, açougue etc.
(Anexo - nos 19 e 21 ).
É importante também para a criança ou adulto cego ou de
visão subnormal conhecer os sabores, pois isto os ajudará a
distinguir os alimentos e a selecioná-los, uma vez que não
podem fazê-lo pela visão.
O cego deve ser treinado a reconhecer sabores de diferentes espécies como
frutas, verduras, bebidas e legumes; identificar sabores como salgado, doce, amargo, ácido etc. Exemplo: a professora
colocará em uma vasilha chocolate e em outra
coco, para os alunos distinguirem a diferença existente entre
os dois sabores.
4 - Domínio sobre a
natureza dos Objetos Fixos,
Móveis, em Movimento e
Natureza do Terreno
4.1- A Natureza dos Objetos Fixos
A criança que vê conhece os objetos enquanto que a criança cega ou de visão
subnormal irá fazer o aprendizado através do concreto, manejando uma variedade de combinações
e utilizando a percepção tátil. Tanto a criança como o adulto
que adquiriu a cegueira apresentam dificuldades, devem explorar o seu meio
ambiente desde escadas, portas, janelas,
armários etc., começando a inteirar-se com o espaço em que
está localizado e qual a distância que existe um do outro, podendo orientar-se
através deles. Por exemplo: se caminhar
partindo de uma janela, dando as costas a ela, caminhando
em linha reta, localizará a escada.
4.2 A Natureza dos Objetos Fixos
Tanto a criança como o adulto cego ou de visão subnormal deve
aprender que os móveis de sua casa podem ser mudados de lugar e que essas
mudanças são normais; portanto,
não podem confiar nestes objetos para a sua orientação. Sempre que um objeto
qualquer de sua casa, da casa de amigos
etc..., é mudado de lugar, é preciso avisá-lo e mostrar o que
foi mudado e em que posição foi colocado evitando, assim,
que ao locomover-se encontre objetos diferentes que possam
deixá-lo confuso, chegando até a perder-se num espaço conhecido.
4.3 - A Natureza dos Objetos em Movimento
Deve-se dar oportunidade para que os cegos possam explorar os objetos fixos e em movimento. Para que sintam um
carro, bicicleta, avião etc., deverão explorá-los quando estão
parados e depois usá-los. Deve-se explicar como um objeto
em movimento ultrapassa um objeto fixo e como carrega um
outro objeto. Deve-se relacionar o movimento de carrinho de
brinquedo com o movimento de um carro de verdade, inclusive com o som
característico.
Sempre que possível deve-se levar os alunos a um parque
de diversões para que sintam as diferenças de movimentos
dos objetos existentes.
4.4 - A Natureza do Terreno
É necessário dar aos cegos a oportunidade de perceber os
diferentes tipos de terrenos. Desde pequeno quando está brincando em sua casa no
quintal, que poderá ter terra e grama,
calçada ou assoalho, ele perceberá a diferença. Pode-se incluir terrenos feitos com cimento, asfalto etc., mostrando que
há vários outros tipos como: rugoso, liso, áspero, curvo e quebrado. Exemplo:
existe uma técnica que se chama seguir diferentes pisos: o aluno localizará um determinado portão usando essa técnica.
Digamos que deverá encontrar pela frente
uma calçada onde existe também grama, tocando com a ponta de sua bengala ora na
grama, ora no cimento da calçada,
no momento em que tocar somente o cimento, automaticamente localizará o portão
desejado.
5 - Pontos de referência
O ponto de referência "é uma característica conhecida no
ambiente que o cego pode utilizar para orientar-se, lhe permite mover-se e caminhar com confiança em certas direções do
ponto de referência", conforme BARRAZA,1988.
Existem dois tipos de pontos de referência. Um é aquela
referência que é inevitável como uma esquina, degraus, mudança de superfície na
calçada etc. A outra, são aqueles pontos de referência que os cegos têm que encontrar, e compreender para que servem,
pois são essenciais quando estão caminhando. Um ponto de referência deve ter uma característica
própria que o distingue dos outros objetos e que são permanentes ao meio
ambiente.
Podem ser observados por características táteis, olfativas
e auditivas, e têm o propósito de manter a relação de distância, espaço,
direção, caminhar em linha reta, orientar-se em
uma área. Ter conceito de objetos fixos e móveis, facilidade
de localizar sons, familiarizando-se com os pontos de referência, é de fundamental importância.
6 - Índices
O que é índice?
Um índice é diferente de um ponto de
referência no sentido de que não é permanente, um índice
dará informações sobre o ambiente e o que está se passando
no ambiente", de acordo com a professora BARRAZA,1988.
Tudo que dá informação à pessoa cega pode ser considerado um índice. Por
exemplo, um carro que passa à sua frente
é um índice auditivo; a informação que esse índice dá é de
que está chegando na esquina. A própria brisa é um índice
percebido através do tato, que pode ser sentido também quando se chega em uma
esquina, onde a brisa torna-se mais forte. Também existe o índice percebido pelo olfato, quando a
pessoa cega pode localizar uma casa de mel ou uma loja de
tecidos.
Todos os índices, em um momento podem estar presentes,
e em outro momento não, por isso o índice não é permanente.
Através do índice a pessoa cega terá habilidade de perceber
objetos, de interpretar a diferença que existe entre o tráfego
de carro e de pedestres, de localizar sons, noções de espaço
e distância.
Os pontos de referência e os índices sempre estão presentes, de um modo ou de
outro na vida de uma pessoa cega,
principalmente na daquele que já é independente.
7 - Postura
Uma boa postura é um dos pré-requisitos para o treinamento de Orientação e Mobilidade; portanto, deve ser trabalhada anteriormente,
sendo função específica do professor de
Educação Física ou do Fisioterapeuta, com a colaboração do
professor da sala de aula. Para que haja um trabalho de reeducação postural, a
pessoa cega ou de visão subnormal deve
estar motivada, o desejo de melhorar deve vir de dentro do
deficiente. Não é fácil motivar uma pessoa sem a visão a manter uma boa postura,
porque ela tem medo de movimentar-se
e não tem o conhecimento do seu ambiente, é importante que
fique familiarizada com o ambiente escolar.
O que se reflete na postura do indivíduo, exercendo um
profundo efeito sobre o sistema nervoso, são as emoções: tronco muito rígido,
movimentos de marcha também rígidos, tensão exagerada dos músculos.
O que favorece o crescimento e desenvolvimento dos ossos e músculos, são as
boas condições de saúde, particularmente em relação à nutrição e ao sono, oportunidade de movimentar-se livremente,
coordenação de movimentos.
8.
Formação de Conceitos na Cegueira Congênita
De acordo com a professora CURI. 1982, apresentamos as
definições abaixo:
-
Conceito: "Um conceito é uma imagem mental de algo, formado pela generalização da percepção".
-
Percepção: "É a impressão de um objeto obtido somente
através do uso dos sentidos".
-
Formação de Conceitos: A formação de conceitos dos cegos congênitos se dará por meio de lembranças adquiridas
somente pelo uso dos sentidos remanescentes. A pessoa
cega precisa saber desenvolver estes sentidos restantes e
organizar sua percepção central de maneira que consiga receber e pôr em ordem
todas as informações úteis. É necessário que seja ensinado a fazer tudo isso
desde o nascimento, passo a passo. As crianças cegas que têm mais
oportunidades de aprendizagem, com experiências de vida variada e
que observam melhor o meio ambiente, adquirem um bom
desenvolvimento cognitivo.
-
Imagem Corporal: "É o conceito individual de seu corpo, e
de suas partes. O conceito envolve o conhecimento de:
a) a
estrutura física do corpo e de suas partes;
b) os movimentos
e funções do corpo e de suas partes; e
c) a posição do corpo
e de suas partes com relação entre si, e com outros objetos.
Esse conceito forma uma base para a aquisição de um
autoconceito adequado", conforme CAPON,1989.
Uma criança normal através da movimentação de seus
membros começa a perceber os contornos de seus braços, pernas e partes do meio
ambiente próximos a ela. É de fundamental
importância que as crianças sem visão conheçam todo o seu
corpo, usando as mãos para explorar a cabeça, os ombros, os
pés e as outras partes, sentindo os movimentos. Portanto, elas
deverão não só ser estimuladas com as próprias mãos, como
também com uma toalha felpuda ou com travesseiros ao seu
redor para que sintam o seu corpo através do tato. Deve-se
encorajá-la a explorar o espaço físico para que comece a
engatinhar, despertando assim o interesse em locomover-se,
pois são comportamentos que facilitarão o conhecimento de
todo o seu corpo e funções.
Aproximadamente aos 2 anos de idade, a criança não somente sente que seus
membros e seu corpo podem ser usados de muitas maneiras inconscientemente, mas também estará desenvolvendo a
capacidade de falar e pensar sobre seu
corpo, seus movimentos e seu relacionamento com conhecimentos do ambiente e
objetos.
Os pais falando constantemente das partes do corpo despertam na criança que
cada uma delas tem um nome e que
pode ser controlado. É através dos movimentos que desenvolverá as habilidades
que são muito importantes como: para
encontrar um objeto fixo terá que usar todo o seu corpo no
espaço, deslocando-se até ele e explorando-o com as mãos;
para os objetos móveis, no entanto, o reconhecimento será
feito somente através do toque, sem necessidade de deslocar-se.
-
Conceito corporal - é adquirido através da aprendizagem; a
pessoa tem a compreensão intelectual de seu corpo.
-
Esquema corporal - é saber localizar as diferentes partes de
seu próprio corpo, quando em movimento ou em posição parada. É saber localizar
primeiro em si e depois no colega,
tocando com a mão direita e depois com a esquerda. O conhecimento do esquema
corporal é o pré-requisito básico para
a aprendizagem da locomoção independente.
O esquema corporal difere da imagem corporal e do conceito
corporal por ser inteiramente inconsciente e mudar a todo instante. Um simples
movimento depende do esquema corporal;
sem ele o deficiente é incapaz de andar, sentar-se, inclinar-se, executar movimentos coordenados, equilibrar-se. O equilíbrio de uma pessoa depende de seu esquema corporal. Uma
vez formado o seu esquema corporal, poderá relacioná-lo com
o esquema corporal dos outros. Qualquer perda de orientação
do próprio corpo provoca uma perda de orientação em relação
ao corpo dos outros, como por exemplo embaixo, em cima;
esquerda, direita; frente, atrás. Uma falha de integração das
vias de percepção acarreta impedimentos na percepção do
próprio mundo, dificultando assim a capacidade de adaptação
ao meio ambiente. O esquema corporal é derivado de experiências táteis e
sensações que nascem do corpo.
9.
Orientação e Mobilidade
para crianças cegas ou de Visão Subnormal
Algumas crianças são bem mais ativas que outras, são mais
interessadas, adquirem com maior facilidade qualquer atividade que lhes são
atribuídas. Para iniciar o curso de Orientação
e Mobilidade a criança deverá ter responsabilidade (saber o
que pode e o que não pode fazer), aceitação da bengala, desenvolvimento das
destrezas sensoriais, fundamentais para
ìnterpretarem e utilizarem informações do meio ambiente na
realização dos movimentos, a audição para saber se localizar,
enquadrar etc., o tato para diferenciar diversas texturas e temperaturas e o
olfato para localizar determinadas lojas, farmácias etc.; ter consciência do seu corpo, do espaço, do meio
ambiente e da comunidade, como já citado anteriormente.
Para que adquira consciência do espaço e do meio ambiente é necessário que a
levem a passeios em parques, shopping,
caminhar pelas ruas e, principalmente, explorar a sua própria
casa.
E para que a comunidade tenha consciência da criança cega
ou de visão subnormal, visitar correios, bancos, lanchonetes,
restaurantes, supermercados, para que a mesma possa deslocar-se dentro deles. Os
pais podem dar objetos para que
seus filhos explorem, sintam as diferenças, percebam grande
ou pequeno, frio ou quente, e assim sucessivamente. Como
as crianças cegas não podem observar quem os rodeia, poderão ficar atrasadas no
seu desenvolvimento de uma maneira
geral.
A Orientação e Mobilidade começa desde o nascimento,
quando se trata de uma criança deficiente. Seja qual for a sua
deficiência, os pais devem ser orientados em como proceder,
mas na grande maioria das vezes isso não acontece; geralmente quando descobrem
que o filho tem algum problema já
se passaram muitos dias, talvez meses ou anos.
Em primeiro lugar, a criança deve ser aceita pelos pais, e
educada do modo mais natural possível, para que o seu desenvolvimento seja
favorável e corresponda às suas necessidades.
Uma criança que vê possui estímulos porque ela está vendo tudo que existe ao
seu redor. A criança cega ou de visão
subnormal deve ser muito mais estimulada, para que consiga
desenvolver suas habilidades, e quanto mais cedo ela adquirir
a confiança que lhe permita movimentar-se livremente, mais
rapidamente conseguirá localizar-se no ambiente e formar
conceitos sobre o mundo que a rodeia.
O objetivo da Orientação e Mobilidade é fazer com que o
indivíduo seja o mais independente possível. Na vida de uma
criança cega, desde muito cedo, deve-se levá-la a sentir esta
sensação de independência, pois geralmente nesta idade são
mais abertas e aceitam com mais facilidade idéias novas. Descobrindo que se usar
a bengala poderá explorar os caminhos
e proteger-se dos perigos, possibilitará o desenvolvimento de
sua autonomia. Movimentando-se só e não necessitando da
ajuda de ninguém, todos irão observar que é capaz. Começarão a tratá-la com mais
respeito, e o fator mais importante é
que poderá romper certos preconceitos relacionados à cegueira. Outro fator
significativo que irá facilitar e manter a integração
social, será através da comunicação verbal, onde poderá solicitar ajuda e fazer
perguntas quando for necessário.
Com o desenvolvimento de sua independência e liberdade
de movimentos através da Orientação e Mobilidade, produz-se um crescimento e
evolução da personalidade da criança
cega ou de visão subnormal.
Portanto, o trabalho de Orientação e Mobilidade com estas crianças deve ser
coordenado por uma equipe composta
de um instrutor de Orientação e Mobilidade, uma professora
de deficientes visuais, os pais, um terapeuta ocupacional, um
fisioterapeuta e um professor de Educação Física. O objetivo
dessa equipe é de estudar uma maneira prática de como ajudar a criança no
treinamento de Orientação e Mobilidade. Todos os profissionais e também os pais, devem estar envolvidos nesse plano de
trabalho, porque a criança recebe as instruções na escola e deverá ter continuidade em casa, para
que os objetivos sejam alcançados.
Neste plano de trabalho a criança desenvolverá as destrezas sensoriais, terá
consciência do seu corpo, do espaço, do
meio ambiente e da comunidade como já foi citado anteriormente.
Em relação aos pais, alguns superprotegem os seus filhos
chegando às vezes a sufocá-los, outros não se preocupam
deixando-os em um canto da casa, não esperando nada deles, uma vez que sendo cegos não irão aprender nada. Tanto
aquele que é superprotegido terá dificuldades de desenvolvimento, porque a
família faz tudo por ele, quanto o abandonado por não ter tido oportunidades de participação. Na maioria
das vezes precisa-se trabalhar tanto a criança como os pais
para que se consiga atingir os objetivos desejados.
Para alguns Pais a Orientação e Mobilidade representa um
perigo muito grande para seus filhos, por isso é preciso mostrar a eles o
enfoque principal do programa, ajudando-os no
seu desenvolvimento e progresso, estimulando-os a explorarem e integrarem-se com o meio ambiente, apreciando-os como
um indivíduo e aprendendo a entender suas diferenças e limitações, conversando
muito e dando-lhes carinho e atenção na
medida certa. Os pais devem sentir-se como membros importantes dentro desta equipe, tendo o direito de participação. Se
houver algum desacordo entre os pais e os profissionais, estes devem justificar
o programa e convencê-los de que é tão
importante como benéfico.
9.1 - Instrumento Anterior à Bengala
Para as crianças cegas que ainda não têm controle e coordenação de movimentos
para manejar a bengala, pode-se adaptar alguns instrumentos para que comecem a
desenvolver
conceitos adquirindo
bons hábitos e confiança com mais rapidez.
Um dos instrumentos
que obtiveram melhores
resultados foi o arco usado para fazer ginástica.
Juntando as duas partes
do arco e amarrando-as,
ele toma o formato de
uma raquete grande; a criança deverá segurá-la com as duas
mãos. Coloca-se à frente do corpo ficando a parte maior da
raquete no solo; não há necessidade de levantá-lo muito, pois
se desliza com facilidade sobre a maior parte das superfícies
e permite trocar de direções sem causar frustrações. Não requer nenhuma
coordenação mão-pé para usá-lo. É um material simples, fácil de manejar, de baixo custo e de facilidade
para encontrar no comércio.
Em condições normais, o arco protege todo o corpo sem
ter que efetuar movimentos laterais e amortece os impactos
com sua ligeira elasticidade. Isto reduz os golpes que recebem tanto a criança
que o utiliza como as pessoas que estão
ao seu redor.
O arco poderá ser introduzido durante as aulas de Educação Física para
brincar, rolar, pular, fazer ginástica. Em seguida, poderão juntar as partes segurando com as duas mãos,
colocando à frente do corpo e começando a andar e correr;
assim sentem-se seguros e protegidos. Podem ser usados na
escola para os momentos de lazer, ou mesmo para se
locomoverem de uma sala a outra, pelo refeitório, banheiro,
pátio. Esta raquete é indicada principalmente para a zona rural pela facilidade
de manejar e deslizar sobre terra, grama,
carreadores, pastos. A criança começa a gostar e aos poucos
vai surgindo a aceitação pela bengala.
10. A Relação entre a
Educação Física e
Orientação e Mobilidade
Durante toda a vida da pessoa cega ou de visão subnormal
a Orientação e Mobilidade será sempre um meio de integração
social.
A Educação Física propicia um desenvolvimento global e
harmônico, oferecendo-lhe condições básicas para sua normalização e integração social. Através de exercícios físicos é
que o indivíduo cego ou de visão subnormal irá fortalecer sua
autoconfiança, desenvolvendo-se física, psíquica e mentalmente. Praticando atividades físicas regularmente, ele se tornará
mais seguro e independente, favorecendo-lhe boas condições
de saúde, um bom físico, levando-o a uma boa postura, tornando-se mais naturais os movimentos do corpo, adquirindo
boas maneiras ao sentar, conversar, caminhar etc., facilitando
assim a sua locomoção.
Em função da natação ser um dos esportes mais completos e por trazer prazer e
despertar interesse, é de fundamental
importância para os deficientes visuais, porque é através da
natação que terão o domínio do próprio corpo, haverá um aumento da
autoconfiança, interesse pela atividade, autonomia,
concentração, participação ativa.
Qualquer atividade física, tendo uma boa orientação do professor de
Educação Física, além de todos esses benefícios,
irá também ajudar na descontração e relaxamento, que é essencial para a coordenação dos movimentos durante o treinamento de Orientação e Mobilidade.
Portanto, a Educação Física não deixa de ser uma preparação para a Orientação e Mobilidade.
11 - Relacionamento entre
Pessoas Cegas e Pessoas
com Visão Normal
Durante o treinamento do curso de Orientação e Mobilidade, o instrutor deve sempre dialogar com os alunos sobre as
dificuldades que encontrarão no relacionamento com pessoas
de visão normal, principalmente depois de terem concluído o
curso. Uma das dificuldades é que as pessoas não conhecem
o trabalho feito com o indivíduo cego e pensam que ele deve
ser ajudado sempre e em todas as situações.
Através da divulgação, deve-se mostrar às pessoas, que o
cego também tem o direito de ser independente, de ser aceito
pela sociedade. O cego é uma pessoa normal, somente não
enxerga, e o objetivo do treinamento é fazer com que ele caminhe só em qualquer ambiente, ande de ônibus, estude em
uma escola normal e trabalhe como qualquer indivíduo, de
uma maneira segura, eficiente e graciosa.
Os alunos, principalmente os que já terminaram o curso,
têm encontrado dificuldades para se locomover, pela ajuda
recebida inadequadamente. Cabe à sociedade aprender a
conviver com ele, respeitando-o como todo ser humano merece ser respeitado, fazendo-o acreditar em si mesmo e encarando a vida com altivez.
A maioria das pessoas pensa que o cego não pode fazer
nada, deve ficar só dentro de casa, que é um absurdo o cego
caminhar nas ruas, trabalhar, enfim ter uma vida normal dentro de suas limitações.
A primeira atitude das pessoas ao encontrar um cego na
rua, é de pena, dó, admiração, querem ajudar de qualquer
maneira; como não sabem, puxam pelo braço ou bengala,
quase arrastando-o para o outro lado da rua, sem saber exatamente qual o seu destino. A partir do momento que o cego
sair de seu trajeto, será muito difícil encontrá-lo novamente
sozinho. As pessoas que querem ajudá-lo, por exemplo, numa
travessia de rua, devem chegar naturalmente e perguntar se
necessita de ajuda; em caso positivo, simplesmente oferecer
o braço, que ele deverá segurar um pouco acima do cotovelo,
ficando de meio a um passo atrás do guia pois que pelo movimento do seu corpo, saberá o que fazer. Se o encontrar no
ponto de ônibus, pergunte-lhe que ônibus vai tomar e, se seu
ônibus chegar primeiro que o dele, passe a tarefa para outra
pessoa que esteja no ponto. No momento de subir ou descer
do ônibus, deixe-o só, ele saberá como fazer. Para descer ou
subir uma escada, se houver corrimão, diga-lhe em que lado
está; do contrário, ele localizará o meio da escada. Se o encontrar com dificuldades diga-lhe as direções da forma mais
clara possível, de acordo com a direção que ele segue, direita
ou esquerda.
O instrutor deve orientar os alunos para que não aceitem
ajuda de qualquer maneira, pois a sua independência é a sua
segurança, e as pessoas encontradas no seu dia-a-dia, não
são obrigadas a saber como conduzi-los, são eles próprios
que devem passar as instruções adequadas para tal, de uma
maneira bem clara, educada e precisa, para que não ocorram
transtornos, nem por parte do cego e nem da pessoa que está
ajudando. Desta maneira, aos poucos, as pessoas vão compreendendo melhor o portador de deficiência visual total, oferecendo trabalho e integrando-o na sociedade.
Portanto, sempre que surgir oportunidade, o instrutor junto
com seus alunos deverá dar entrevistas para televisão, rádio,
jornal. É um trabalho que deve ser feito constantemente, pois
quanto mais houver divulgação, melhor será para o trabalho e
também facilitará a locomoção do cego. Deve-se fazer também palestras em escolas, igrejas, universidades, quartéis etc.
A primeira sementinha foi plantada e já estamos colhendo
os frutos desse trabalho. Durante o trabalho do aluno na rua,
algumas pessoas interrompem, dizendo que assistiu a entrevista na televisão e que agora já sabem como se comportar
perante uma pessoa cega e que esse trabalho é uma tarefa
difícil, mas muito gratificante; outras perguntam como o trabaIho é feito, como os cegos conseguem atravessar a rua ou
localizar uma loja; percebe-se que as pessoas começam a se
interessar pela locomoção do portador de deficiência visual
total.
Um dia um senhor de idade abordou-me na rua e me perguntou como o aluno conseguiu atravessar a rua e caminhar
tão bem só; depois de algumas explicações ficou muito feliz
por seus olhos serem perfeitos e comentou que tinha melhorado o seu ânimo.
Já os alunos comentam que são inúmeras as pessoas que
perguntam se precisam de ajuda e logo em seguida já vão
oferecendo o braço para a travessia. Outras, observam-nos
sozinhos e perguntam curiosos como conseguem locomover-se tão bem e executar uma travessia com segurança. Isto faz
com que o cego se torne mais confiante e seguro para integrar-se na comunidade. (Anexo)
11.1 - Como ajudar uma pessoa cega a atravessar
ruas
-
Pergunte antes se a pessoa cega quer ajuda. Ao mesmo tempo, dê um leve toque no
braço dela.
-
Ofereça então o seu braço. O cego irá segurar um pouco acima do
cotovelo, e ficará de um a meio passo atrás do ajudante. Ele está
treinado para isso.
-
Procure sempre atravessá-lo em linha reta para que não perca a
noção de espaço e assim alcance mais rapidamente o meio-fio do outro
lado.
-
Não se preocupe com
o meio-fio. A pessoa cega
vai identificá-lo com a bengala, antes que você o avi-se.
12 - Relatos
Para as pessoas cegas ou de visão subnormal, a Orientação e Mobilidade significa libertar-se do auxílio de terceiros,
tornando-se cada vez mais independentes.
A partir do momento em que estão preparados para a sua
independência, quase nada lhes trará transtornos. Usando os
sentidos, principalmente a audição e o tato, o dia-a-dia torna-se mais agradável e ativo, porque irão conseguir desenvolver
suas atividades de uma maneira mais fácil e ágil.
Ao contrário do que se imagina, para eles, os postes, árvores etc., encontrados nas calçadas são obstáculos que na verdade lhes dão pontos de referência. Através desses pontos de
referência podem encontrar muitas coisas desejadas.
Portanto, se você conhece uma pessoa cega que ainda não
procurou nenhuma Instituição especializada ou não fez o Curso de Orientação e Mobilidade, oriente-o para fazê-lo pois a
sua vida tornar-se-á muito mais agradável e ele poderá se
locomover em todos os lugares.
12.1 - Primeira Experiência com Criança em
Orientação e Mobilidade
A minha primeira experiência com criança em Orientação e
Mobilidade foi em 1994, a qual tinha 9 anos, e seu diagnóstico
era fibroplasia retrolental. Estava tão ansiosa para começar o
treinamento que mal podia esperar. Como era uma criança
que praticamente estava pronta, tanto nas áreas de destrezas
sensoriais, desenvolvimento de conceitos, desenvolvimento
motor, e por ser uma criança com muitas expectativas, inteligente e com muita boa vontade, o seu treinamento foi iniciado.
Em quase todas as aulas perguntava sobre sua bengala e
queria vê-la. Nas primeiras técnicas com uso da bengala, ficou tão feliz que caminhava sorrindo, já queria voltar para casa
com ela. Para que não se frustrasse, foi sugerido que levasse
a bengala para mostrar aos seus pais e irmão e que na aula
seguinte teria que trazê-la. Conversávamos muito, e ela percebeu que teria que enfrentar muitas dificuldades pela frente,
que deveria ter paciêncìa, porque usar a bengala não é sair
andando de qualquer maneira, pois pode ser muito perigoso,
teria que ter muita responsabilidade.
A sua vontade de aprender era tanta que em determinados
momentos já ia executando a técnica sem nenhuma dificuldade e a sua ansiedade era tâo intensa, que chegava a atrapaIhar. Tinha um irmão menor sem problemas visuais, seus pais
os educaram igualmente, sem discriminação, sem preconceito, sem protecionismo. É uma criança que exige muito de si,
em todas as suas atividades, se comete um erro fica nervosa.
Começou a frequentar a Instituição quando tinha 6 anos, sua
atitude era fazer perguntas constantemente.
Quando passamos a fazer o treinamento no centro da cidade, as pessoas a observavam e faziam comentários admirados por verem uma criança cega andando nas ruas movimentadas.
Toda e qualquer criança que conseguir chegar ao final do
Curso de Orientação e Mobilidade, não quer dizer que esteja
apta para todos os percursos, poderá fazer alguns caminhos
curtos no seu dia-a-dia, e nos demais fará sempre acompanhada de uma pessoa adulta até que atinja a sua maturidade,
quando os pais já não precisarão se preocupar mais.
12.2 - Relatos de Alunos
12.2.1.
-
"Meu nome é S. L. S., sou casada, tenho 37 anos.
-
Quando tinha 18 para 19 anos, na manhã de 9 de
setembro de um ano qualquer, acordei de manhã e
notei que não estava enxergando direito, conseguia ver apenas vultos. Não entendi o que estava
acontecendo, mesmo assim fui para o trabalho. Não
consegui trabalhar. Desde então o quadro foi se
agravando. Fui aconselhada a procurar um médico
que, a princípio, não sabia o que era, e comecei a
fazer um tratamento.
-
Depois de 3 anos de tratamento, um outro médico
descobriu que eu tinha descolamento de retina. Ao
longo de 7 anos de minha vida passei isolada do
mundo entre lamentações e sem vontade de viver.
-
Até que conheci a Loide que veio a ser minha amiga; ela é evangélica e convidou-me para fazer um
estudo bíblico. Deste momento em diante comecei
a ver a vida com outros olhos. Você poderá me
perguntar: Como assim? e eu te respondo. Sempre eu pedia para Deus que eu queria voltar a enxergar de qualquer maneira, porém não era atendida. Então decidi pedir a Deus que me ajudasse a
viver sem enxergar. Comecei a tentar fazer as coisas sem ver, comecei a sair um pouco de casa com
a Loide e fazer amizades, afinal de contas eu estava viva, só que aquilo era pouco para mim, eu queria mais, mais e mais. Um dia, conversando com
uma vizinha, seu nome é Benedita, perguntei se
ela não conhecia nenhuma escola que pudesse
ensinar uma pessoa deficiente visual a se adaptar
na sua condição. Ela me disse que não, mas iria se
informar na APAE, pois ela tinha um filho que estudava lá. No outro dia quando a encontrei, fiquei feliz da vida, pois ela trouxera para mim o endereço
do Instituto dos Cegos. Como eu iria até o Instituto
eu não sabia, pois conversando com o meu pai ele
desaprovou completamente a minha ida até lá.
-
Então pedi à Loide para que ela me acompanhasse; lá chegando, a diretora Neusa levou-me para
mostrar o atendimento. Conheci uma aluna que se
chamava Shirlei, ela é deficiente visual total e sabia
fazer sacolas de barbante. Pensei comigo, se ela
faz isso e não vê eu também posso fazer. Aquilo
tudo me deixou extremamente empolgada, eu queria mais do que depressa começar a estudar lá.
-
Que pena, apenas 3 dias a Loide pôde me acompanhar, depois ela não pôde mais. Isto foi em 1983.
-
Depois de 2 anos, em abril de 1985 retornei ao Instituto. Voltei decidida a estudar, ou melhor, estudar
não era bem o termo, eu queria trabalhar, eu queria crescer. Fui alfabetizada no Braille e aprendi a
matemática no Sorobã. Permaneci como aluna durante 1 ano. Depois surgiu uma vaga de merendeira no próprio Instituto, então comecei a trabalhar. A
professora de Educação Física, Rosa Maria foi fazer um curso de Orientação e Mobilidade no Chile
e quando retornou eu fiz o curso, para aprender a
andar com a bengala e me tornar mais independente. Este curso é uma das prioridades na vida
de um deficiente visual, pois quando aprendemos
a andar com a bengala somos livre para irmos onde
quisermos; acho que todo deficiente visual deve ter
a motivação e iniciativa própria para fazer o curso
de mobilidade com a bengala. A bengala representa na vida de um deficiente algo como uma identidade, pois quando estamos com ela temos o respeito das pessoas e igualdade também. O que eu
sentia antes de ir para o Instituto e principalmente
antes de fazer a Orientação e Mobilidade era uma
terrível insegurança em caminhar; hoje com a minha bengala me sinto livre e independente ao caminhar com igualdade com as outras pessoas.
-
Trabalho no Instituto desde 1986, casei-me com um ex-aluno de visão subnormal. Hoje, depois de superado os obstáculos, além de eu trabalhar no Instituto tenho outros afazeres que nos ajudam no
orçamento doméstico. O que eu quis dizer com o
relato que fiz é que depende só de nós superarmos ou não os obstáculos, sermos ou não felizes."
-
12.2.2.
-
"Sou portador de retinose pigmentar em ambos os
olhos; trata-se de uma doença congênita que provoca a morte do nervo ótico. Possuo hoje uma visão nula no olho direito e vulto com intensa claridade no olho esquerdo. Tenho também uma deficiência auditiva em conseqüência da retinose pigmentar,
já com uma perda de 60% no ouvido esquerdo e
40% no ouvido direito, principalmente não podendo captar sons que sejam agudos, por isso a minha dificuldade de caminhar era muito grande, dependia de um acompanhante. Daí a necessidade
de uma reeducação visual para a minha nova condição de vida. Orientado pelo doutor William P. dos
Santos, procurei o Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos onde optei por fazer o
curso de Orientação e Mobilidade. No começo foi
muito difícil para mim adaptar-me com a bengala
mas, aos poucos, com o apoio da minha família e,
principalmente, dos meus filhos, resolvi prosseguir
o treinamento de Orientação e Mobilidade.
-
Hoje, já quase concluído o curso, sinto o quanto foi
importante na minha vida; tenho uma grande facilidade de deslocar-me fora da minha residência com
o auxílio de uma bengala, sempre procurando ajuda de pessoas ao atravessar uma rua complicada,
quando necessário.
-
Para nós que somos deficientes visuais, sugerimos
aos que ainda não fizeram o curso de Orientação e
Mobilidade, que procurem fazê-lo, pois a sua vida
vai se tornar muito mais fácil, principalmente para
o seu deslocamento."
12.2.3. "Leia com atenção, acolhendo em seu coração tudo
de bom que esse testemunho tem a lhe oferecer.
-
Oi, meu nome é Maurício, tenho 19 anos e moro
em Cambé.
-
A minha visão já foi perfeita; há três anos enxergava completamente, mas caminhava em erros e mais
erros. Não queria saber de estudar nem trabalhar,
não dava valor à minha família e nem à minha própria vida, deixando Deus em último plano.
-
E já iludido a não querer encarar a realidade da
vida e querendo me esconder na ilusão da droga,
ou até mesmo querendo ser diferente dos outros.
-
Esse caminho escuro que eu percorria me levou
ao cigarro, bebida e à maconha. E essas drogas
foram a causa desse acidente.
-
Numa certa noite lá estava eu em Arapongas num
show de Rock in Roll com um litro de bebida na
mão, já havia fumado um baseado, e ali comigo
estavam alguns colegas. Já era tarde, resolvemos
ir embora, então fomos até a rodoviária mas havia
uma placa avisando que o ônibus voltaria a circular
às 8 horas da manhã.
-
Resolvemos pedir carona, parou um caminhoneiro, insistimos até convencê-lo a nos trazer a Cambé.
-
Subimos no caminhão, todos se sentaram no chão
eu sentei na carroceria. Já em Cambé o caminhoneiro em alta velocidade subiu num canteiro e, com
o impacto, fui jogado para fora, caindo no chão.
-
Fui parar no hospital, fiquei nove dias em coma, respirando por aparelhos entre a vida e a morte. Jesus
maravilhoso libertou minha vida dos laços da morte.
-
Não corria mais risco de vida e quando voltei a mim,
percebi que não estava enxergando. Imagine eu
ali naquela situação pedindo baseado e cigarro para
enfermeiras, mas é claro que elas não iam fazer
aquela minha vontade. Os dias foram se passando
e meu organismo foi se desacostumando daqueles
vícios.
-
Fiquei dois meses naquele hospital, o médico me
deu alta, voltei para minha casa. Estava cego, mas
Jesus maravilhoso fez com que eu percebesse a
luz e me deu esperanças de voltar a ver novamente.
-
Os dias se passaram e minha visão pouco melhorava, eu estava revoltado, não aceitava o que tinha
acontecido comigo. Mais tarde surgiu um convite
para fazer um encontro da Renovação Carismática
Católica. No encontro Jesus me tocou profundamente e aliviou todo aquele peso que havia sobre
mim e me libertou de toda aquela revolta, só assim
consegui perceber as maravilhas que Jesus realizava em minha vida. Estava indo tudo bem até que
apareceu uma úlcera de córnea, que perfurou o meu
olho; fui ao médico, ele examinou e me disse que
precisaria de uma cirurgia urgente que é tudo ou
nada, "vou fazer mas não posso lhe garantir nada,
somente Deus pode".
E Deus tudo pode mesmo e eu pensei e confiei.
-
No dia seguinte ele veio com a notícia que havia
corrido tudo bem, mas a visão ele não garantiu e
me deu alta. Voltei para casa, fiquei na cama de
repouso, cego novamente, eu clamava a Jesus
pedindo que não me deixasse no escuro.
-
Por intercessão de Nossa Senhora, Jesus providenciou que eu percebesse a luz. Depois de um
tempo voltei ao médico e ele me disse: "Seu olho
melhorou mais do que eu esperava".
-
Eu disse que estava percebendo a luz, ele ficou
impressionado.
-
Eu estava cego, agora percebo a luz, estou feliz e
mais ainda por conhecer a luz verdadeira que é
Jesus.
-
Depois de todo esse acontecimento, com um pouco
de visão fui encaminhado ao Instituto para Cegos.
-
Lá conheci pessoas com força, coragem e vontade
de vencer.
-
Isso me incentivou, estou fazendo aulas de Orientação e Mobilidade e com letras ampliadas vou voltar a estudar."
ANEXO
-
As pessoas cegas são
iguais a todos os outros indivíduos, somente não podem ver;
portanto, elas também são interessadas em saber o que
você gosta de ver, ler, ouvir e
falar.
-
A pessoa cega não é inútil e nem incapaz. Deixe-a realizar o que ela sabe, pode e deve
fazer sozinha. Não sinta pena
dela, ela somente necessita de
oportunidades.
-
Quando a pessoa cega
estiver acompanhada, dirija-se
diretamente a ela identificando-se; ela somente não vê, mas
não é surda e terá condições de
compreendê-lo.
-
As pessoas cegas podem consultar o relógio, discar
o telefone, assinar o nome etc.;
portanto, não fiquem admirados. Com treinamento ela será
tão capaz quanto a pessoa que
vê.
-
Se você encontrar uma pessoa cega fazendo compras sozinha
ofereça a sua ajuda, para ela é muito difícil localizar o que precisa e verificar preços. Com certeza ela agradecerá a sua atenção.
-
Se uma pessoa cega
quiser ajudar você colaborando de alguma maneira, não fique constrangido, ela não é tão
incapaz que não tenha algo
para dar.
-
Quando você se oferecer para ajudar uma pesoa cega a atravessar uma rua
não a desoriente cruzando a
rua em diagonal, efetue um cuzamento em
L, é mais seguro, inclusive para você.
-
Quando você está
passeando com uma pessoa
cega que já está acompanhada, não fique dando avisos e nem puxando-a, deixe-a ser orientada somente
por seu acompanhante.
-
Nunca você deve empurrar
ou levantar uma pessoa cega no
omento de subir ou descer do ônibus ou escadas. Basta orientá-lo
colocando sua mão na alça vertical do ônibus ou no corrimão da escada.
-
Para ajudar uma pessoa cega a
sentar-se basta que você coloque sua mão
no encosto da cadeira, que isso lhe indicará sua posição.
-
Preste atenção ao
indicar "à direita", "à esquerda"; no momento de
ajudar uma pessoa cega,
tome como referência a
posição dela e não a sua.
-
Onde existe uma pessoa cega
procure manter as portas bem abertas ou bem fechadas. A porta meio
aberta é um obstáculo de perigo para
ela. E procure também não deixar objetos jogados pelo chão onde ela costuma passar.
-
Quando for passear com
uma pessoa cega de carro, no
momento de fechar a porta nunca se esqueça de observar de
que não vai lhe prender os dedos: eles são muito preciosos.
-
Todas as vezes que
você entrar em um ambiente onde tenha uma pessoa
cega, não deixe de falar; isso
anuncia a sua presença e a
auxilia a identificá-lo.
-
Nunca deixe uma
pessoa cega falando sozinha; se tiver que ausentar-se, avise-a. E avise-a também quando retornar.
-
Todas as vezes que encontrar uma pessoa cega nunca deixe de apertar a sua mão e fazer o
mesmo no momento de despedir-se. O aperto de mão substituirá seu
sorriso amável.
-
Procure não esquecer de apresentar o
seu visitante cego às pessoas presentes, assim irá
facilitar a sua integração
ao grupo.
-
Se houver alguma incorreção
no vestuário de uma pessoa cega,
não se constranja em avisá-la. Fique
certo de que ela lhe agradecerá.
-
Quando uma pessoa cega anda sozinha,
está alerta em todos os
sentidos remanescentes;
procure não ficar chamando sua atenção, pois
ela poderá ficar nervosa
e desorientar-se.
-
Não pense que o pedestre cego precisa estar contando os passos para localizar lojas, casas etc., pois ele é treinado para isso.
-
A pessoa cega poderá se localizar através de saliências, depressões, ruídos
e até odores, tudo ela observa para sua boa orientação.
-
Se você conhece uma
família que tem um bebê com
problemas visuais, oriente para
que o leve a uma instituição especializada; quanto mais cedo
o bebê for estimulado, mais rápido conseguirá superar suas
dificuldades.
ϟ
Rosa Maria Novi (Professora de Educação Física / Instrutora de Orientação e Mobilidade)
nasceu em Porecatu - PR.
Formou-se em Educação Física, na Universidade Estadual de
Londrina; Pedagogia, na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras
de Mandaguari; Curso de Pós-Graduação "Latu Sensu" em Educação Especial na Área de Deficiência Visual no Cesulon; Curso de
Ensenanza de Ciegos en la materia seguiente: Orientación y
Movilidad en La Serena - Chile; Curso de Orientación y Movilidad
para personas discapacitadas visuales con impedimentos adicionales
en Vina del Mar - Chile. Atua como docente do Curso de Especialização em Educação Especial na Área de Deficiência Visual no Centro de Estudos Superiores de Londrina. É professora de Educação
Física no Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos
desde 1981 e Instrutora de Orientação e Mobilidade desde 1988.
ϟ
Orientação e mobilidade para deficientes visuais
» O sol que faltava em minha vida «
autora: Rosa Maria Novi
edição:
1996
Consultar obra integral aqui.
13.Mar.2014
publicado
por
MJA
|