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RESUMO |
Nesta investigação analisamos o impacto das cores no cotidiano e na fruição de
imagens artísticas em
pessoas com visão subnormal. Desenvolvemos pesquisa qualitativa com o método do
estudo de caso
(YIN, 2005) no ano de 2016, no Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa Cunha
(ICPAC), na cidade
de João Pessoa. A pesquisa foi feita com pessoas com visão subnormal a partir da
observação in loco
das dificuldades de identificação das cores que as crianças e jovens do ICPAC
apresentam. Estudamos
um grupo três estudantes com visão subnormal, com idade de 6, 8 e 16 anos.
Utilizamos estímulos
visuais variados, objetivando medir a distinção de cores/texturas e
cores/aromas. Os resultados
apontam que os participantes apresentaram dificuldades para enxergar as cores na
maior ou menor
incidência de iluminação direta; a luz intensa torna seus olhos sensíveis,
causando irritabilidade e
vermelhidão; um ambiente totalmente escuro faz com que percam completamente a
noção das cores; o
contato com maquetes táteis com reproduções de obras de arte permitiu a
identificação de formas,
distinção figura/fundo e algumas cores, a percepção das obras foi significativa.
1 • PRA INÍCIO DE CONVERSA
Esta pesquisa investigou o estudo da relação das cores no cotidiano de pessoas
com
visão subnormal. O estudo de caso (YIN, 2005) foi realizado com três estudantes
1
que
frequentaram o Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa Cunha (ICPAC), em João
Pessoa,
Paraíba, Brasil, no ano de 2016. Foi um estudo de casos múltiplos, descritivo e
qualitativo.
O ICPAC é uma instituição sem fins lucrativos; a primeira escola para
deficientes
visuais fundada no Nordeste, em 1948. Tem caráter assistencial e atende
estudantes de baixa
renda de todo o Estado da Paraíba e estados vizinhos. Está localizada no Bairro
dos Estados,
na cidade de João Pessoa. A pesquisa é uma continuidade do Projeto de Pesquisa
Artes
Visuais & Inclusão; sendo uma pesquisa ligada ao Grupo de Pesquisa em Arte,
Museus e
Inclusão (GPAMI) e ao Laboratório de Artes Visuais Aplicadas e Integrativas
(LAVAIS), da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
O foco no uso das cores por pessoas com visão subnormal foi definido a partir da
observação da dificuldade que essas crianças e jovens apresentavam durante as
atividades de
artes visuais no ICPAC, considerando que a simbologia das cores tem como
principal
limitação à percepção visual.
O estudo de campo foi aplicado com pessoas com visão subnormal, com idade de 6,
8
e16 anos; com atendimentos individuais, com encontros semanais de quarenta e
cinco
minutos. Para estes estudantes apresentamos cores em vários meios e tamanhos:
manchas
coloridas em fundos brancos, riscos coloridos, folhas coloridas, etc., algumas
criações
artísticas e as produções visuais dos próprios estudantes.
Durante o processo estimulamos diferenciações entre cores/texturas e
cores/aromas,
utilizando as cores e suas possíveis atribuições. Como o exemplo do algodão e a
textura
macia, que comumente é representada pela cor branca, que representam Paz no
Ocidente.
Foram feitas associações que lhes são familiares e que fossem capazes de
provocar sensações
ou lembranças.
Relacionamos as cores à visão subnormal devido ao seu simbolismo, já que
representam sentimentos, emoções, objetos, momentos vividos, etc. As cores podem
ganhar
significados reais por meio de associações táteis, olfativas e até gustativas,
deixando de ser
meramente visuais e passando a ter significado por meio de texturas, aromas e
gostos, a partir
das experiências vividas, pois “as coisas visuais não são simplesmente algo que
está ali por
acaso. São acontecimentos visuais, ocorrências totais, ações que incorporam a
reação ao todo”
(DONDIS, 2007, p.31).
As cores são capazes de produzir sensações, reflexões e impressões diferentes
para
cada sujeito. A influência das cores no modo como nos vestimos, nos ambientes
que
convivemos, etc., são essenciais para a adaptação das pessoas no cotidiano; as
cores de nossas
preferências podem identificar nossa personalidade.
As cores interferem em nossas escolhas e, consequentemente, em nossas reações,
orientando-nos. E, sendo a cor, importante causador de emoções, se tivermos
conhecimentos
sobre seus efeitos, podemos tê-las como aliadas, utilizando-as como um recurso
construtivo.
A escolha das cores pode ser baseada na personalidade, em circunstâncias, em
seus desejos,
em sua mentalidade, etc., influenciando nossos componentes físico, mental e
emocional.
As pessoas com visão subnormal se deparam no cotidiano com maiores dificuldades
ao caminhar nas ruas do que os normovisuais 2. Os sinais de trânsito nem sempre são sonoros
e a influência da luz faz com que as pessoas com visão subnormal não
identifiquem quais as
cores no semáforo. Nos ônibus urbanos nem sempre há sinal sonoro e nos pontos de
ônibus
para a pessoa com visão subnormal não é possível identificar o seu destino. Além
disto, nem
todas as pessoas com visão subnormal conhecem as cores; não sabem ou não
identificam qual
a cor da faixa de pedestre, a cor da roupa que estão usando, nem a cor de seus
olhos, de seu
cabelo, etc. As cores geralmente não lhes são apresentadas devido a sua
deficiência.
Partindo da análise comparativa da influência das cores na vida dos sujeitos da
pesquisa, analisamos como o contato diário com as cores pode interferir na vida
das pessoas
com visão subnormal e como estratégia utilizamos a pesquisa qualitativa
(RICHARDSON,2012) e o estudo de caso (YIN, 2005), registramos e interpretamos os fatos. Todo
o processo
foi documentado e após a coleta de dados, foi feita uma análise das relações e
dos efeitos das
cores no grupo pesquisado.
O objetivo geral da pesquisa foi analisar o impacto das cores no cotidiano e na
fruição
de imagens artísticas em pessoas com visão subnormal. Os objetivos específicos
foram:
identificar as principais dificuldades e usos de cores no cotidiano de pessoas
com visão
subnormal no ICPAC; desenvolver atividades expressivas com uso das cores no
ensino de
artes visuais para pessoas com visão subnormal no ICPAC e avaliar a percepção
das cores no
contato com imagens artísticas por pessoas com visão subnormal no ICPAC.
Para a investigação foi utilizada a metodologia desenvolvida por Yin (2005), em
seu
livro Estudo de caso – Planejamentos e Métodos. O estudo de caso utiliza-se de
comparações,
tendo como principais perguntas o “como?” e o “por quê?”, pois são mais
explicativas e lidam
com os vínculos necessários a serem traçados ao longo do percurso. Há variações
nos estudos
de caso, podendo ser únicos ou múltiplos, quantitativos ou qualitativos. É a
análise de como
ocorreu e por que ocorreu.
Yin (2005, p.15) afirmou que questões “como” e “por que” são feitas sobre um
conjunto de eventos contemporâneos ou sobre algo que o pesquisador tem pouco ou
nenhum
controle. De acordo com o autor:
-
Fazer um estudo de caso de forma apropriada significa ter em vista cinco
preocupações tradicionais sobre estudo de caso – conduzir a pesquisa de
forma rigorosa, evitar confusões com casos de ensino, saber como chegar a
conclusões generalizadas quando desejado, gerir cuidadosamente o nível de
esforço e compreender a vantagem comparativa da pesquisa de estudo de
caso. O desafio geral torna a pesquisa de estudo de caso “difícil”, apesar de
ela ser classicamente considerada uma forma de pesquisa “leve” (2015, p.2).
O estudo de caso procura definir o caso a ser estudado, determinar dados
relevantes e
fazer uma análise de como essas coletas de dados podem contribuir
significativamente para a
pesquisa, apresentando as vantagens e desvantagens.
-
Há, no mínimo, cinco aplicações diferentes [para o estudo de caso]. A mais
importante é explicar os vínculos causais em intervenções da vida real que
são complexas demais para as estratégias experimentais ou aquelas utilizadas
em levantamentos. (...). Uma segunda aplicação é descrever uma intervenção
e o contexto na vida real em que ela ocorre. Em terceiro lugar, os estudos de
caso podem ilustrar certos tópicos dentro de uma avaliação, outra vez de um
modo descritivo - mesmo de uma perspectiva jornalística. A quarta aplicação
é que a estratégia de estudo de caso pode ser utilizada para explorar aquelas
situações nas quais a intervenção que está sendo avaliada não apresenta um
conjunto simples e claro de resultados. Em quinto lugar, o estudo de caso
pode ser uma "meta-avaliação" (YIN, 2005, p. 34 – grifo nosso).
Ainda segundo o autor as questões de estudo vêm inicialmente das perguntas
“como”
e “por que” para se obter clareza; partindo para as proposições que refletem
importantes
questões teóricas que levam a dados onde o pesquisador fará a separação entre os
dados mais
relevantes e os irrelevantes. É essencial que o pesquisador saiba o porquê do
estudo está
sendo realizado e o que realmente busca em sua pesquisa.
Para Yin (2005) há cinco exercícios que auxiliam no projeto de pesquisa de
estudo de
caso, que são definir no estudo de caso: os limites, a unidade de análise, um
projeto de
pesquisa, o fundamento lógico para estudos de caso único e de casos múltiplos e
os critérios
para julgar a qualidade dos projetos de pesquisa.
Há seis fontes de evidencias em um estudo de caso, as quais requerem habilidades
e
metodologias para serem aplicadas: documentos, registros em arquivo,
entrevistas,
observação direta, observação participante e artefatos físicos. Além de outros
princípios para
a coleta de dados, como o uso de várias fontes de evidências, as evidências
distintas reunidas
a partir do relatório final do estudo e as ligações entre as questões que foram
feitas, os dados e
as conclusões a que chegou (quadro 01).
Quadro1: Fontes para Estudo de Caso segundo Yin (2005)
FONTES DE
EVIDENCIAS
|
PONTOS FORTES
|
PONTOS FRACOS
|
Documentação
|
● Estável - pode ser revisada inúmeras
vezes
● Discreta - não foi criada como resultado
do estudo de caso
● Exata - contém nomes, referências e
detalhes exatos de um evento
● Ampla cobertura - longo espaço de
tempo, muitos eventos e muitos ambientes
distintos
|
● Capacidade de recuperação - pode ser
baixa
● Seletividade tendenciosa, se a coleta não
estiver completa
● Relato de visões tendenciosas - reflete as
ideias preconcebidas (desconhecidas) do
autor
● Acesso - pode ser deliberadamente
negado
|
Registros em arquivos
|
● Os mesmos mencionados para
documentação
● Precisos e quantitativos
|
● Os mesmos mencionados para
documentação
● Acessibilidade aos locais graças a razões
particulares
|
Entrevistas
|
● Direcionadas - enfocam diretamente o
tópico do estudo de caso
● Perceptivas - fornecem inferências
causais percebidas
|
● Visão tendenciosa devido a questões mal
elaboradas
● Respostas tendenciosas ocorrem
imprecisões devido à memória fraca do
entrevistado
● Reflexibilidade - o entrevistado dá ao
entrevistador o que ele quer ouvir
|
Observações diretas
|
● Realidade - trata de acontecimentos em
tempo real
● Contextuais - tratam do contexto do
evento
|
● Consomem muito tempo
● Seletividade - salvo ampla cobertura
● Reflexibilidade - o acontecimento pode
ocorrer de forma diferenciada porque está
sendo observado
● Custo - horas necessárias pelos
observadores humanos
|
Observação
participante
|
● Os mesmos mencionados para
observação direta
● Perceptiva em relação a comportamentos
e razões interpessoais
|
● Os mesmos mencionados para observação
direta
● Visão tendenciosa devido à manipulação
dos eventos por parte do pesquisador
|
Artefatos físicos
|
● Capacidade de percepção em relação a
aspectos culturais
● Capacidade de percepção em relação a
operações técnicas
|
● Seletividade
● Disponibilidade
|
Fonte: Yin, 2005.
|
O estudo de caso se aplicou perfeitamente a esta investigação por estudarmos uma
especificidade das Deficiências Visuais, a visão subnormal em crianças e jovens,
o que ocorre
em apenas 20% dos estudantes do o ICPAC 3, que tem cadastro de mais de 300 pessoas com
algum tipo de deficiência visual ou alguma outra deficiência associada. Os
atendimentos vão
de recém-nascidos à idosos. Estes atendimentos ocorrem nos turnos da manhã e
tarde. Dentre
as atividades que os estudantes têm dentre da instituição, estão: estimulação
visual,
fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, comunicação alternativa por
meio da música
e alfabetização em Braille, atividades de vida diária (AVDs), aulas esportivas,
etc. Na
Instituição não havia atividades com artes visuais e o projeto Artes Visuais &
Inclusão da
UFPB, foi aceito tanto pelos estudantes, como pelos profissionais.
A pesquisa tem sido acompanhada pela vice-diretora e também coordenadora de
reabilitação do ICPAC, que apoia a investigação, dando abertura para pesquisas
no campo das
artes visuais no Instituto. Antes de iniciarmos a pesquisa conversamos com a
vice-diretora e a
psicóloga da instituição, definindo os estudantes que iriam participar da
pesquisa. A psicóloga
também informou como eram as outras atividades dos estudantes e como haviam tido
contato
com as cores até então.
2 • ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIAIS DA VISÃO SUBNORMAL
O termo deficiência visual não significa, necessariamente, total incapacidade
para ver, pois sob a deficiência visual poderemos encontrar pessoas com vários
graus de visão residual (CONDE, 2012).
Segundo a Fundação Dorina 4
(2012), a baixa visão caracteriza-se pelo
comprometimento do funcionamento visual dos olhos, mesmo após tratamento ou
correção.
As pessoas com baixa visão podem ler e/ou identificar textos impressos,
ampliados ou com
uso de recursos óticos especiais, além de cores e formas ampliadas.
Os principais indícios relacionados à deficiência visual, segundo o site Visão
Laser 5
(2005), são: a constante irritação ocular, uma excessiva aproximação junto ao
rosto para ler
ou escrever, dificuldade para leitura à distância, esforço visual, inclinação da
cabeça para
tentar enxergar melhor, dificuldade de enxergar pequenos obstáculos no chão,
nistagmo (olho
constantemente trêmulo), estrabismo ou dificuldade de enxergar em ambientes
claros.
O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (2012, p. 10) nos fornece os seguintes
dados
sobre a acuidade visual pela distância:
ACUIDADE VISUAL PELA DISTÂNCIA
Categoria
|
Pior
que:
|
Igual
ou melhor que:
|
0 (Deficiência visual leve ou sem deficiência)
|
|
6/18
3/10 (0,3)
20/70
|
1
Deficiência visual moderada
|
6/18
3/10 (0,3)
20/70
|
6/60
1/10 (0,1)
20/200
|
2
Deficiência visual grave
|
6/60
1/10 (0,1)
20/200
|
3/60
1/20 (0,05)
20/400
|
3
Cegueira
|
3/60
1/20 (0,05)
20/400
|
1/60*
1/50 (0.02)
5/300 (20/ 1200)
|
4
Cegueira
|
1/60*
1/50 (0.02)
5/300 (20/ 1200)
|
Percepção de luz
|
5
Cegueira
|
Sem percepção de luz
|
9
|
Indeterminada ou
não especificada
|
|
Onde “existem quatro níveis de função visual, de acordo com a Classificação
Internacional de Doenças; que são: visão normal, deficiência visual moderada,
deficiência
visual grave e cegueira” (TALEB. et al., 2012, p. 10).
Segundo esse autor o Conselho Brasileiro de Oftalmologia afirma:
-
O CID atual usa as palavras “visão subnormal” para as categorias 1, 2 e 3 das
deficiências visuais. Na prática dos cuidados visuais, “visão subnormal” tem um
significado específico, definido pela OMS, que é o seguinte: “A pessoa com
visão subnormal é aquela que possui uma deficiência da função visual mesmo
após tratamento e/ou correção refrativa, apresentando acuidade visual de 20/60
ou menos e percepção de luz, ou um campo visual inferior a 10 graus de campo
visual central, mas que usa sua visão, ou é potencialmente capaz de usá-la para
o planejamento e/ou execução de uma tarefa”. Por essa definição, pessoas que
poderiam se beneficiar de tratamentos de baixa visão estão atualmente
categorizadas como cegas. Isso levou a erros de cálculos de estimativas de
pessoas que necessitam de tratamento para visão subnormal (TALEB. et. al.
2012, p. 12).
Baierle (2016) afirma que são mais de 45 milhões de brasileiros com alguma
deficiência sensorial, motora ou intelectual e, destes, 35,8 milhões tem algum
grau de
deficiência visual. Ainda há muitos casos de pessoas com baixa visão que têm
dificuldades
em declarar-se deficiente visual temendo o preconceito social; relatando que
isto ocorre
devido à baixa visão nem sempre ser visível ou perceptível à primeira vista,
pois “muitas
[pessoas] não usam bengala e não são percebidas com facilidade” (BAIERLE, 2016).
Nos casos em que a deficiência visual é percebida tardiamente acaba prejudicando
nos
cuidados com a saúde ocular ou até mesmo agravando o problema. Não há padrões
para
definir a pessoa com visão subnormal, pois cada um terá um tamanho de fonte,
contrastes de
cores e luminosidade que podem identificar as distâncias, as formas, a
luminosidade, etc.
Cada caso apresente limitações e potencialidades diferentes.
As principais causas evitáveis da cegueira, segundo o Conselho Brasileiro de
Oftalmologia são: cicatrizes corneanas, catarata; glaucoma, retinopatia da
prematuridade;
erros de refração e baixa visão (esta engloba a deficiência visual e cegueira
por causas
intratáveis). De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia:
Estima-se que há 1,4 milhões de crianças cegas no mundo, das quais, segundo o
Plano de Ação do Programa Visão 2020 para 2006/2011, um milhão vivem na
Ásia e 300.00 na África. A prevalência varia de 0.3/1000 crianças de 0-15 anos
em países desenvolvidos para 1.5/1.000 crianças em países muito pobres.
Embora o número de crianças cegas seja relativamente baixo, elas têm uma
longa expectativa de vida. Se multiplicarmos o número de crianças pela sua
expectativa de vida, chegaremos a uma estimativa de 75 milhões de anos-cego,
um número menor apenas do que o número de anos-cego da catarata em idosos
(TALEB. et. al. 2012, p.25).
Ainda segundo o TALEB (2012, p. 25), mais da metade das crianças cegas do mundo
ficaram cegas devido a causas evitáveis (15% tratáveis e 28% previníveis), cerca
de 500.000
por ano, quase uma por minuto. Enquanto outras morrem devido ao problema que
causou a
cegueira.
3
• VISÃO SUBNORMAL E INCLUSÃO
-
A inclusão é um processo de transformação fundamental para a integração e
respeito
às diferenças favorecendo qualquer pessoa a exercer seus direitos. A inclusão é
um meio de
incentivar e desenvolver seus potenciais, garantindo experiências significativas
e valorizando
as individualidades. A inclusão é um movimento educacional, mas também social e político que vem
defender o direito de todos os indivíduos participarem, de uma forma consciente
e responsável, na sociedade de que fazem parte, e de serem aceitos e respeitados
naquilo que os diferencia dos outros (FREIRE 6, 2008, p. 05).
As pessoas com deficiências são comumente colocadas em situação de
invisibilidade.
-
Muito da dificuldade em desfazer a crença comum de que a luta pela inclusão
seja meramente uma tentativa de reconciliação social se deve ao fato de que
também muitas vezes se faz uma relação apressada com outro conceito que
também ganha eco em proporções e direções geométricas: a reparação
(CARVALHO 7, 2009, s/p).
-
Bulgarelli
8
(2011) afirma que a inclusão verdadeira não pode ocorrer se para ser
incluído for necessário mudar sua essência, pois a inclusão não deve desprezar
nenhum
aspecto; deve-se considerá-lo e gerar verdadeiras interações. A inclusão é
aceitar a existência
e os direitos dos outros e ocorre quando um maior número de pessoas for
considerado
participante da vida social. Para a inclusão de pessoas com deficiências visuais
é importante:
-
Um conhecimento mais profundo de como se processa a representação mental
que os cegos têm ou fazem do mundo visual, pode-nos possibilitar oferecer a
essas pessoas melhores condições de reabilitação, adaptação e inclusão no
mundo das pessoas portadoras de visão normal, uma vez que podemos propiciar
aos portadores de limitação visual, subsídios para que saibam como melhor usar
o tato, como este funciona, a fim de conhecerem até que ponto podem chegar,
superando sua limitação sensória (LIMA e SILVA, 2000, s/p).
Esses são direitos elencados pela Declaração de Salamanca, em 1994, sobre
princípios,
políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais,tais
como:escolas regulares
que possuam orientação que construam uma sociedade inclusiva e educação para
todos;
adotar o princípio de educação inclusiva em forma de lei ou de política;
garantia em
programas de treinamento de professores; todas as crianças devem aprender
juntas; receber
suporte extra para assegurar uma educação efetiva e preparação apropriada de
todos os
educadores.
Há de se pensar na união multidisciplinar e na inclusão, trabalhando
conjuntamente a
família e os profissionais da área da saúde e da área educacional. Os
profissionais devem ser
capacitados e ter informações específicas sobre as necessidades das pessoas com
visão
subnormal para que sejam capazes de dar a assistência ideal.
-
O apoio psicológico e aconselhamento/orientação de profissionais
especializados, aliados ao atendimento e intervenção dos profissionais
da saúde, vão facilitar e, na maioria dos casos, garantir um
desenvolvimento da criança próximo de seus pares, com reflexos
positivos (MAZZARO, 2008, p. 46).
Muitas vezes a própria família torna a pessoa com visão subnormal dependente;
interferindo em suas atividades de vida diárias, como amarrar cadarços, pentear
os cabelos,
escovar os dentes, etc. Os primeiros passos para a inclusão começam em casa; por
isto o apoio
e a influência da família são importantes. Dificuldades e formação deficitária
dos
professores relativa à educação das pessoas com deficiências visuais podem
inibir a
aprendizagem dos estudantes.
3.1
• AS SENSAÇÕES NA VISÃO SUBNORMAL
As pessoas com visão subnormal utilizam a reabilitação visual desenvolvendo
estratégias e habilidades para alcançarem independência e qualidade de vida.
Este é um meio
auxiliar para o sujeito alcançar seus objetivos. “Treinando” seus resíduos
visuais e
aprendendo a utilizar recursos não óticos, indicados e adaptados, podem
estimular sensações
capazes facilitar seu desempenho.
O sentido da visão e as sensações podem ser construídas por meio de seus
significados
emocionais.
-
Na ausência da visão o espaço será construído através de referências
auditivas, olfativas, gustativas, proprioceptivas e táteis. O sistema de
referência é completamente diferente e a estruturação do espaço é
constituída de forma singular e específica. A partir de informações
recolhidas dos diversos sentidos pode-se chegar a uma representação mental
deste espaço, que junto com seu sentido de orientação (capacidade de situar-se em relação aos objetos a sua volta), concentração e memória permitem o
deslocar-se com mais facilidade em um meio externo, interiorizado (LIMA e
SILVA, 2000, s/p).
Segundo o site Comunica Especial 9, alguns itens que devem ser levados em
consideração no processo de adaptação da pessoa com visão subnormal são: o
relatório
oftalmológico; o histórico médico, os condicionamentos físico-ambientais e o
contexto
familiar. São variáveis que devem ser readaptadas de acordo com a necessidade do
estudante,
além de serem necessários materiais específicos e adaptáveis para que eles
trabalhem, tais
como instrumentos para leitura e cálculo em Braille, livros didáticos em versão
Braille, seja
falado ou ampliado, etc.
Na adaptação também é necessário ter ajuda ótica e ajudas não óticas; ou seja,
ajudas
visuais. No processo de adaptação é preciso estimular a visualidade promovendo
atividades
onde o estudante fique mais independente bem como promover o desenvolvimento
social.
-
O sistema sensório visual nos dá a conhecer o mundo através de uma grande
variedade de estímulos experimentados quase que ao mesmo tempo,
propiciando que distingamos uma variedade ainda maior de situações que
nos poderiam ser aversivas ou mesmo fatais (LIMA e SILVA, 2000, s/p).
Para o processo de estímulo visual é importante que seja oferecido aos
estudantes
situações que despertem ações e emoções positivas sobre eles, pois embora as
sensações
sejam limitadas, são objetivas. Segundo FARINA. et. al., os “estímulos visuais
têm
características próprias, como tamanho, proximidade, iluminação e cor” (2006, p.
29).
A visão subnormal é uma limitação perceptiva, visto que as pessoas com DV
utilizam
outros meios não visuais para obterem percepções, estimulando seus outros
sentidos e
formando suas próprias significações de mundo, seus próprios conceitos de
visualidades,
assim, as percepções se formam por meio de experiências significativas que
carregamos ao
longo da vida.
É importante ressaltar que é necessário para a inclusão, não apenas uma
adaptação dos
papeis sociais envolvidos no processo educacional, mas garantir para as pessoas
com visão
subnormal uma vida funcional, buscando garantir o respeito a diversidade e o
estímulo
necessário para a autonomia dos estudantes com visão subnormal.
4
• TEORIA DA COR
A cor se faz presente simbolicamente na vida de todo ser humano, cada pessoa tem
uma maneira diferente de senti-la, pois ela é uma linguagem visual, assim como a
distância
especial também é relativa.O significado das cores depende do contexto em que
está inserido.
Para FARINA, PEREZ e BASTOS “nas artes visuais, a cor não é apenas um elemento
decorativo ou estético. É o fundamento da expressão sígnica. Está ligada à
expressão de
valores sensuais, culturais e espirituais” (2006, p. 05).
-
Algumas cores são construídas além da sensibilização fisiológica dos cones
(...). Assim acontece com a percepção da cor metálica, da cor transparente,
da cor translúcida, etc., que são percebidas em interação com a percepção de
texturas, através dos contrastes (SILVEIRA, 2005, p. 176).
A percepção dos contrastes é reforçada a partir da constância cromática, a
tendência
que os objetos têm de manter a sua cor, mesmo sob o efeito de luzes coloridas
que interfiram
em sua percepção. Mas, para Dondis (2007, p. 61) a verdadeira luz vem da
tonalidade.
Segundo Silveira (2005) a constância cromática acontece devido à complementação
cromática:
-
(...) acontece porque no processo de percepção cromática há a comparação
entre os objetos reconhecidos nos vários tipos de imagens em p/b e objetos
guardados na memória, a partir do vasto conjunto imagético adquirido no ato
interpretativo de “ver”. Os objetos estão alocados na memória juntamente
com todos os seus parâmetros perceptíveis. Quando a falta de um deles é
detectada (no caso, a cor), acontece a sua complementação (SILVEIRA,
2005, p. 173).
No caso de pessoas com visão subnormal é possível a percepção cromática a partir
da
visão residual, que é diferenciada para cada pessoa. A memória cromática pode ou
não estar
presente, de acordo com o tipo de deficiência e sua causa. As cores podem ser
associadas a
formas, texturas e sensações. A percepção das formas e das cores nas pessoas com
visão
subnormal estudadas no ICPAC, segundo seus relatos orais, tem relação com suas
vivências
pessoais.
-
A cor não pode ser percebida isoladamente, de forma desvinculada dos
outros parâmetros perceptivos dos objetos alocados na memória (cheiro,
tamanho, textura, som, gosto, etc.). Ela é um elemento apreendido durante
toda a vida de um indivíduo e não há o caminho de volta (SILVEIRA, 2005,
p. 178).
A percepção visual e a memória cromática estão intrinsecamente relacionadas ao
funcionamento neuronal e ao mecanismo da visão. As atividades com artes visuais
podem
estimular tanto a diferenciação cromática quanto a percepção da forma. Goethe
afirmou que:
-
As sensações de cores que surgem em nossa mente são também moldadas
pela nossa percepção – pelos mecanismos da visão e pela maneira como
nosso cérebro processa tais informações (apud ARAÚJO 10, 2013, s/p).
Figura 2 – Círculo das cores criado por Goethe em 1810

Fonte
11: deniseludwig
Dondis afirma que “a informação visual também pode ter uma forma definível, seja
através de significados incorporados, em forma de símbolos, ou de experiências
compartilhadas no ambiente e na vida” (2007, p. 32). Considerando que:
-
a cor é uma condição e, como tal, uma característica do estilo de vida de uma
época – integra uma determinada maneira de ver as coisas. É inegável que toda
cor tem um espaço que lhe é próprio, mas é também inegável que esse espaço
faz parte da cor, de acordo com as concepções culturais que o fundamentam
(FARINA et al., 2006, p. 17).
Há inúmeros fatores que podem influenciar as pessoas na escolha das cores, entre
elas
o meio em que a pessoa vive, o temperamento, a idade, o momento vivido, etc.,
além de um
peso psicológico e cultural (op. cit., 2006, p. 25)
Assim como o significado de cada cor, seu efeito também depende de onde ela está
aplicada, qual o contexto em que será utilizada, pois
-
Os dados visuais podem transmitir informações: mensagens específicas ou
sentimentos expressivos, tanto intencionalmente, com um objetivo definido,
quanto obliquamente, como um subproduto da utilidade (DONDIS, 2007, p.183).
Para a Teoria Perceptiva de Gibson (1974 apud SILVEIRA, 2005, p. 178) “a
percepção [é] como um composto apreendido, impossibilitando a percepção das
características isoladas dos objetos. Segundo ele, apreendemos na memória,
através da
percepção visual” (apud SILVEIRA, 2005, p. 178).
Nas imagens as cores são cheias de significados e estão presentes diariamente em
nossas vidas; podendo identifica-las facilmente na natureza e nas artes visuais,
publicidade,
moda, design, etc. Mas, essas cores só fazem sentido se aplicadas adequadamente,
devido ao
seu impacto e apelo visual e as reações que podem causar na população. As cores
estão
presentes no cotidiano urbano e podem ser fundamentais para identificação da
locomoção e
mobilidade, seja em áreas públicas ou privadas, sua identificação adequada pode
favorecer a
mobilidade e a acessibilidade das pessoas com visão subnormal.
4.1
• ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA
Inicialmente aplicamos com os estudantes dois questionários orais, um
questionário
social e outro sobre as cores. Assim foi possível conhecê-los melhor e verificar
a limitação de
cada um. Todos os estudantes que participaram da pesquisa têm visão subnormal
12.
Tabela 2: Perfil dos participantes da pesquisa
NOME
|
IDADE
|
RELAÇÃO COM A COR
|
I
|
8 anos
|
Enxerga cores a curta distância, conseguindo identificar cores primárias e confundindo cores secundárias
|
P
|
6 anos
|
Identifica muito bem as cores, sabendo também a mistura de cores.
|
Y
|
16 anos
|
Muita dificuldade em enxergar as cores, nunca havia identificado as cores, apesar do contato cotidiano.
|
Fonte: acervo dos pesquisadores, 2016.
Figura 3: Cores mais pintadas por cada estudante

Fonte: acervo dos pesquisadores
Figura 4: Cores de preferência dos estudantes

Fonte: acervo dos pesquisadores
Maiores dificuldades figura fundo:
Figura 51: Folha amarela com objeto verde

Figura 6: Folha verde com objetos verde e azul

Fonte: acervo dos pesquisadores
A uma distância de 30 cm um estudante não conseguiu identificar as cores exatas
que
estavam expostas para ele, enxergando vermelho onde seria amarelo e verde. Mas a
uma
distância média de 5 cm identificou as cores corretamente. Isto pode ser
explicado por
FARINA. et. al. quando afirmam que:
-
Ao ter necessidade de focalizar um objeto mais próximo, é preciso ter uma
acomodação do olho; onde há uma contração dos músculos que forçam os
ligamentos e diminuem a tensão. O que, consequentemente, permite uma
focalização perfeita do objeto na retina (2006, p. 47).
Já a uma distância de 15 cm o estudante não identificou o azul; enxergando roxo
e
identificou perfeitamente o verde. A esta mesma distância e com o auxílio de uma
lanterna, o
estudante identificou as cores corretamente porque, segundo FARINA et al,
“podemos
conseguir a sensação do branco pela combinação de apenas três cores, que são o
verde, azul
violeta e vermelho alaranjado, pois estas cores estimulam determinados cones”
(op. cit. 2006,
p. 4). Também podemos associar esta questão ao fato de que:
-
A cor depende, pois, da natureza das coisas que olhamos, da luz que as ilumina,
e ela existe enquanto sensação registrada pelo cérebro. O olho recebe a cor
como mensagem e a transmite ao cérebro, receptor do indivíduo. Portanto, a cor
existe quando produzida por estímulos luminosos na retina e por reações do
sistema nervoso (op. cit., 2006, p. 61).
A distância máxima que os estudantes conseguiram identificar as cores/formas
foram
30 centímetros, apresentando grandes dificuldades em identificar cor sobre a
mesma outra
cor, identificando apenas manchas de outras cores que não eram as expostas,
enquanto que
figura com as cores branca e preta foi identificada apenas a de maior
luminosidade, o branco.
E nas cores sob luz intensa, identificam a cor como mais clara. Nos tecidos eles
não
conseguiam identificar as formas, apenas a cor que predominava.
Figura 7: Exposição a luz

Fonte: acervo dos pesquisadores
Trabalhamos com práticas diferentes com cada estudante, visto que suas
limitações e
necessidades são diferentes. São situações diferentes, portanto, apresentaram
resultados
diferentes. Trabalhamos a mistura de cores primárias, identificação de cores e
formação das
cores secundárias, utilizando tecidos estampados, folhas coloridas, tintas
guache, frutas e
verduras para identificação de formas e utilizamos a luz da lanterna para a
identificação de
objetos coloridos e colagens de tampinhas e massas de biscuit.
Para que o estudante que tinha menor resíduo de visão se familiarizasse com as
cores
utilizamos texturas de tecidos, frutas e verduras, tintas guache, massa de
biscuit e a luz da
lanterna. Com as tintas guaches observamos que ele verificava a temperatura do
pote de tinta,
identificando assim as cores. Com as frutas e as verduras ele sentia seu aroma,
sem que
tocasse nestes alimentos. Com os tecidos ele identificava pelo tato, fazendo
associações a
outros tecidos e aos aromas. E para que ele pintasse utilizamos tintas extraídas
de frutas,
verduras e folhas, também fizemos associações a outras frutas, a plantas,
objetos, etc., que
tinham as mesmas cores.
A projeção das cores não funcionou bem, pois embora conseguissem identificar as
cores, a luz era muito forte e fazia com os olhos lacrimejassem muito, o que fez
com que essa
experiência fosse descartada durante a pesquisa.
Figura 8: Inserindo cores

Quando o questionário oral foi aplicado novamente, os estudantes já conseguiam
identificar algumas misturas de cores. E também alguns já conseguiam identificar
em
tonalidades claras.
Os participantes da pesquisa não costumam escolher a cor de suas roupas, embora
consigam identificar alguns tecidos e estampas, identificando com mais
facilidade tecidos
claros e sem estampas. Quando perguntados a respeito de sinais de trânsito,
alguns
informaram que conseguem identificar vendo o sinal de muito perto, mas quando
estão em
um veículo não conseguem enxergar as cores devido à interferência da luz e
excesso de
velocidade, embora saibam dizer quais cores estão no sinal de trânsito. Apenas
um estudante
não soube dizer as cores dos sinais de trânsito e informou que sabe que o sinal
está fechado
apenas quando é um sinal que têm efeito sonoro, mas ele relatou que não anda nas
ruas
sozinho.
Na identificação dos banheiros, não souberam informar qual placa era o banheiro
masculino e o feminino, relataram que sabia qual eram os respectivos banheiros
devido a suas
localizações dentro da instituição.
Também realizamos com os estudantes uma experiência sensorial com algumas
maquetes táteis de obras cedidas pela Pinacoteca UFPB que foram criadas sem uma
disciplina
de educação inclusiva ministrada pelo professor Robson Xavier. Os estudantes
gostaram,
principalmente, das obras que tem mais detalhes. As cores foram mais fáceis de
serem
identificadas, e ao tocar as obras conseguiram identificar as cores de fundos,
as linhas, as
formas, etc. Relataram não ter tido contato antes com nenhuma obra de arte e que
as obras
sensoriais eram “boas” de se tocarem. Em obras maiores, foi mais fácil a
identificação da cor,
mas as formas ficaram difíceis de perceber.
Figura 9: Pintura com tintas naturais

5 • CONSIDERAÇÕES FINAIS
No início da pesquisa os estudantes identificavam as cores por associação;
enquanto
uns estudantes estavam começando a conhecer as cores, outros queriam fazer
“experiências”
misturando todas as cores aleatoriamente. Durante as aulas foram feitas algumas
perguntas
repetidas, em que eles responderam de maneira diferente cada uma das vezes.
A percepção de mundo das pessoas com visão subnormal é obtida por meio da
exploração de seus sentidos residuais. As informações que estes sentidos dão nem
sempre são
completas; o que os leva a um processo de significação de cores mais lento do
que os
normovisuais, pois as pessoas com visão subnormal não são estimuladas para a
percepção das
cores, o que faz com que, a princípio, tenham uma relação distante, percebendo
apenas com
maior facilidade as cores puras ou as de sua preferência, a partir da intuição e
necessidade.
Figura 10: Identificando cores em maquetes táteis

Fonte: Acervo dos Pesquisadores
O excesso ou a falta de luz é a maior dificuldade em fazê-los ver as cores,
sejam cores
luz em ambientes excessivamente claros ou escuros. A luz forte deixa seus olhos
sensíveis, se
exposta por muito tempo próxima aos seus olhos causam irritabilidade,
vermelhidão, etc.
Enquanto um ambiente muito escuro faz com que eles não detectem as cores,
identificando
apenas “manchas” escuras. Mesmo após a presença de luz mantem a dificuldade em
enxergar
tonalidades próximas.
Partindo das observações em contato dos participantes com as maquetes táteis de
obras
de arte, percebemos que as imagens fazem sentido para eles após o toque, pois,
por este meio
eles têm noção de dimensão das obras, de figura fundo, cores, formas, linhas,
etc. Podendo
assim, sensorialmente, tornar a obra significativa.
Nos trabalhos expressivos realizados com o grupo pesquisado, fizeram pinturas
feitas
com tintas guache e sucos extraídos das frutas e verduras. Além das pinturas,
trabalharam
com colagem com as massas de biscuit, tampinhas de garrafa e tecidos estampados.
Identificamos que quanto maior o estímulo para a identificação das cores os
estudantes
com visão subnormal melhorarm a percepção visual e a significação das imagens
das artes
visuais. O trabalho com pintura deixou de ser apenas rabiscos descompromissados
e passou a
transmitir vivências, linguagens significativas e suas representatividades de
mundo,
favorecendo a continuidade do seu contato com as imagens da arte e com a
identificação das
cores no cotidiano.
6
• REFERÊNCIAS
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novembro de 2016.
-
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-
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de 2016.
-
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DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. Trad. Jefherson Luis Camargo. 3a.
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-
TALEB, Alexandre; FARIA, Marco Antonio Rey de; ÁVILA, Marcos; MELLO, Paulo
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espacial da pessoa com deficiência visual. São Paulo: UNESP, 2009.
-
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3a. Ed. Porto Alegre:
Bookman, 2005.
NOTAS
-
1
Servidores e técnicos do Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa Cunha utilizam
o termo “usuário”
para identificar os estudantes.
-
2
Termo utilizado por VENTORINI, Silvia Helena. A experiência como fator
determinante na
representação espacial da pessoa com deficiência visual. São Paulo: UNESP, 2009.
-
3
Dados retirados do site do ICPAC. Disponível em: <http://icpac.com.br/conheca>.
Acesso em 30 de
Nov. 2016
-
4
Fonte: http://www.fundacaodorina.org.br/deficiencia-visual/. Acesso em: 31 out.
2016
-
5
Fonte: http://www.visaolaser.com.br/saude-ocular/doencas-oculares/baixa-visao/.
Acesso em: 2 nov.
2016
-
6
Disponível em:
<http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/5299/1/Um%20olhar%20 sobre%20a%20Inclus%C3%A3o.pdf>. Acesso em: 30 de Nov. 2016.
-
7
Maiores informações: http://www.bengalalegal.com/inclusao. Acesso em: 29 nov.
2016
-
8
Disponível em: http://www.bengalalegal.com/inclusao-e-diversidade. Acesso em: 29
nov. 2016
-
9
Fonte: https://comunicacaoaa.wordpress.com/baixa-visao-e-cegueira/. Acesso em:
26 nov. 2016
-
10 Disponível em:
http://www.antroposofy.com.br/wordpress/a-teoria-das-cores-de-goethe/. Acesso 29
nov. 2016.
-
11 Disponível em:
<http://deniseludwig.blogspot.com.br/2013/02/arte-e-teoria-das-cores.html>.
Acesso: 30 nov. 2016.
-
12 O aluno Y. tem apenas percepções luminosas e identifica as cores por aromas,
tato, etc.
ϟ
ENTRE CORES E PESSOAS COM VISÃO SUBNORMAL
Robson Xavier da Costa e Viviane dos Santos Coutinho
Universidade Federal da Paraíba
in Revista Educação, Artes e Inclusão
Vol. 14 - n.º 1 - Jan/Mar 2018
Universidade do Estado de Santa Catarina
Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais
Δ
|