
Prefácio
O desenvolvimento do Desenho
Universal para a Aprendizagem 5 e suas Diretrizes
No CAST 6,
começamos a trabalhar há quase 26 anos para desenvolver modos de facilitar aos
estudantes com deficiência o acesso ao currículo geral. Ao longo dos primeiros
anos, centramo-nos em ajudá-los a adaptar-se ou ajustar-se a si mesmos,
superando suas dificuldades, com o objetivo de aprender seguindo um currículo
regular. Este trabalho se centrou basicamente no uso da tecnologia, das
ferramentas compensatórias (como o corretor ortográfico) e do software para o
desenvolvimento de habilidades - ferramentas que no dia a dia continuam sendo
uma parte importante de qualquer plano educacional compreensivo.
Porém, também percebemos que nossa abordagem era, em parte, limitada, pois
encobria o papel crítico que tem o contexto na hora de determinar a quem se
considera ou não uma pessoa com deficiência. No final dos anos 1980, mudamos
nosso foco para o currículo e suas limitações e nos questionamos: como essas
limitações incapacitam os estudantes? Essa mudança conduziu a uma simples,
embora profunda, conclusão: o peso da adaptação deve recair em primeiro lugar
sobre o currículo e não sobre o estudante. Dado que a maioria dos currículos têm
dificuldades em adaptar-se às diferenças individuais, temos que reconhecer que
são estes, e não os estudantes, os que têm deficiências. Portanto, devemos
corrigir os currículos e não os estudantes.
No inicio dos anos 1990, o CAST começou a investigar, desenvolver e articular os
principios e as práticas do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA). O termo
vem do conceito de Desenho Universal, da área do Desenvolvimento Arquitetônico e
seus produtos, impulsionado pela primeira vez por Ronald L. Mace
7 da Universidade Estadual da
Carolina do Norte em 1980. Esse movimento teve como objetivo criar entornos
físicos e ferramentas que possam ser utilizados pelo maior número de pessoas
possíveis. Um exemplo clássico do Desenho Universal são as rampas das calçadas:
ainda que originalmente fossem planejadas para pessoas usuárias de cadeiras de
rodas, agora são usadas por todos, desde pessoas com carrinhos de compra a pais
empurrando carrinhos de crianças. Como nosso interesse se centrava na
aprendizagem, e não na arquitetura e seus produtos, preocupamo-nos com questões
nas ciências da educação, e não mais com a aplicação direta dos princípios
arquitetônicos originais.
Com o tempo compreendemos que a aprendizagem implica um desafio específico na
área concreta de atuação e para que isso aconteça devemos eliminar as barreiras
desnecessárias mantendo os desafíos necessários. Por isso, os princípios do DUA,
além de focar no acesso físico à sala de aula, concentram-se no acesso a todos
os aspectos da aprendizagem. Esta é uma distinção importante entre o que
significa DUA e o que se pode considerar uma simples orientação sobre o acesso
do estudante à aprendizagem.
Este trabalho foi realizado em colaboração com pesquisadores, neurocientistas e
profissionais do âmbito da educação e da tecnología de muito talento e
dedicação. À medida que o campo do DUA vem crescendo, aumentam as demandas por
parte dos interessados que solicitam ajuda para fazer a aplicação desses
princípios e tornar suas práticas mais concretas e aplicavéis ao
desenho/planejamento curricular. Foi por causa dessa demanda que decidimos criar
as Diretrizes para o DUA.
1 Introdução
O objetivo da educação no século XXI não consiste simplesmente no domínio dos
conteúdos do conhecimento e no uso de novas tecnologias, mas abarca, também, o
domínio do próprio processo de aprendizagem. A educação deveria ajudar a passar
de aprendiz em desenvolvimento a avançado: pessoas que querem aprender, que
sabem como fazê-lo estrategicamente e que, desde um estilo próprio altamente
fléxivel e personalizado, estão bem preparadas para a aprendizagem ao longo da
vida. O DUA - Desenho Universal para a Aprendizagem - ajuda os educadores a alcançar esse objetivo, proporcionando uma
referência para entender como criar currículos que atendam às necessidades de
todos os estudantes desde o primeiro momento.
As Diretrizes do DUA 2
3 pretendem ser uma expressão de referência geral para o
desenvolvimento do DUA, que podem ajudar qualquer professor ou gestor que
planeje unidades didáticas ou desenvolva currículos (objetivos, metódos,
materiais e avaliações) para minimizar barreiras, assim como otimizar os níveis
de desafios e ajudas. Também podem auxiliar os educadores a identificar as
barreiras presentes nos currículos atuais. Porém, para entender por completo
estas Diretrizes, primeiro se deve compreender o que é o DUA.
2 O que é o Desenho Universal para a Aprendizagem?
2.1 O conceito de DUA
O DUA é uma referência que corrige o principal obstáculo para promover alunos
avançados nos ambientes de aprendizagem: os currículos inflexíveis, tamanho
único para todos. São precisamente esses currículos inflexíveis que geram
barreiras não intencionais para o acesso ao aprendizado. Os estudantes que estão
nos extremos, como os superdotados e os com altas habilidades e os estudantes
com deficiencia, são particularmente vulneráveis. Um desenho curricular
deficiente poderia não atender a todas as necessidades de aprendizagem,
incluindo os estudantes que poderíamos considerar na média.
Nos ambientes de aprendizagem, como escolas ou universidades, a variabilidade
individual é norma, e não exceção, há muita diversidade. Quando os currículos
são desenhados para uma média imaginária, não se considera a
variabilidade/diversidade real entre os estudantes. Esses currículos fracassam
quando tentam proporcionar a todos os alunos oportunidades justas e equitativas
para aprender, já que excluem aqueles com distintas capacidades, conhecimentos
prévios e motivacionais que não correspondem ao critério ilusório da média.
O DUA considera a variabilidade/diversidade dos estudantes ao sugerir
flexibilidade de objetivos, métodos, materiais e avaliações, permitindo aos
educadores satisfazer carências diversas. O currículo que se cria seguindo a
referência do DUA é planejado desde o princípio para atender às necessidades de
todos os alunos, fazendo com que mudanças posteriores, assim como o esforço e o
tempo vinculados a elas, sejam dispensáveis. A referência do DUA estimula a
criação de propostas flexíveis desde o início, apresentando opções
personalizáveis que permitem a todos os estudantes progredir a partir de onde
eles estão, e não de onde nós imaginamos que estejam. As opções para atingi-los
são variadas e suficientemente fortes para proporcionar uma educação efetiva
para todos os estudantes.
2.2 Os três princípios
Existem três princípios fundamentais baseados na investigação neurocientifica
que orientam o DUA e fundamentam estas Diretrizes:
Principio I: Proporcionar Modos Múltiplos De Apresentação (o o que da
Aprendizagem).
Os estudantes diferem nos modos como percebem e compreendem a informação que
lhes é apresentada. Por exemplo, aqueles com deficiências sensoriais (cegos e
surdos), com dificuldades de aprendizagem (dislexia), com outras línguas ou
culturas, podem requerer maneiras distintas de aceder aos conteúdos. Outros,
simplesmente, poderão captar a informação de forma mais rápida ou mais eficiente
por meio de recursos visuais ou auditivos em vez de um texto impresso. Além
disso, a aprendizagem e a transferência do aprendizado ocorrem quando múltiplas
apresentações são usadas, pois isso permite aos estudantes fazer conexões
interiores, assim como entre os conceitos. Em resumo, não há um meio de
representação ideal para todos os estudantes, por isso oportunizar modos
múltiplos de apresentação dos conteúdos é essencial.
Principio II: Proporcionar Modos Múltiplos de Ação e Expressão (o como da
Aprendizagem).
Os estudantes diferem nas formas como procuram o conhecimento e expressam o que
sabem. Por exemplo, as pessoas com alterações significativas de movimento
(paralisia cerebral), aqueles com dificuldades nas habilidades estratégicas e
organizativas (transtorno da função executiva), os que apresentam barreiras com
a comunicação etc., fazem a ação e a expressão da aprendizagem de forma muito
diferente. Alguns podem ser capazes de expressar-se bem com um texto escrito,
mas não de forma oral, e vice-versa. Também há de se reconhecer que a ação e a
expressão requerem uma grande quantidade de estratégias, práticas e organização;
este é outro aspecto em que os estudantes se diferenciam. Na realidade, não há
um modo de ação e expressão ideal para todos os alunos; assim, há de se promover
opções variadas para que a ação e a expressão se manifestem, pois são
imprescindíveis.
Principio III: Proporcionar Modos Múltiplos de Implicação, Engajamento e
Envolvimento (o porquê da Aprendizagem).
As emoções das pessoas e a afetividade são elementos cruciais para a
aprendizagem, e os estudantes diferem notoriamente nos modos os quais podem ser
provocados e motivados para aprender. Existe uma diversidade de fontes que
influenciam na hora de explicar a varia-bilidade individual afetiva e de
envolvimento, como os fatores neurológicos e os culturais, os interesses
pessoais, a subjetividade e os conhecimentos prévios, junto com outra gama de
fatores presentes nestas Diretrizes. Alguns estudantes se interessam de forma
muito espontânea perante as novidades, enquanto outros não se interessam em
participar e se assustam com esses fatos, preferindo as atividades rotineiras.
Uns optam por trabalhar sozinhos, outros preferem trabalhar com os companheiros.
Logo, não há um único meio que seja ideal para todos os alunos em todos os
contextos. Portanto, é relevante proporcionar modos múltiplos de implicação e
envolvimento.
Os fundamentos das ciências da educação, da neurologia e das práticas do DUA se
discutem com aprofundamento nos livros: Teaching Every Student in the Digital
Age (Rose & Meyer, 2002); The Universally Designed Classroom (Rose, Meyer, &
Hitchcock, 2005) e A Practical Reader in Universal Design for Learning (Rose &
Meyer, 2006).
2.3 Questões importantes sobre o Desenho Universal para a Aprendizagem
Antes de oferecer uma exposição completa das Diretrizes do DUA, é importante
responder a algumas perguntas que esclareçam os termos e os conceitos que nele
aparecem. Isso ajudará a adquirir conhecimentos prévios e vocabulário necessário
para compreender estas Diretrizes. As questões são: Como é definido o DUA? Quem
são os estudantes/aprendizes avançados? A que nos referimos com o termo
currículo? O que significa que os currículos são deficientes? Como trabalhar o
DUA e as deficiências curriculares? A tecnologia é necessária para implementar o
DUA? Quais evidências fundamentam as práticas do DUA?
2.3.1 Como é definido o Dua?
Uma definição precisa de Desenho Universal para a Aprendizagem foi proporcionada
pelo governo dos Estados Unidos e incluída na Lei de Oportunidades em Educação
Superior (Higher Education Opportunity Act), de 2008, mencionando que o termo
Desenho Universal para a Aprendizagem diz respeito a uma série de referências
cientificamente válidas para guiar a prática educativa que:
a) Proporciona flexibilidade nas formas que as informações são apresentadas, nos
modos que os estudantes respondem ou demonstram seus conhecimentos e
habilidades, e nas maneiras que os estudantes são motivados e se comprometem com
seu próprio aprendizado.
b) Reduz as barreiras na forma de ensinar, proporciona adaptações, apoios/ajudas
e desafios apropriados, e mantém altas expectativas de êxito para todos os
estudantes, incluindo aqueles com deficiências e os que se encontram limitados
por sua competência linguística no idioma da aprendizagem.
Além dessa definição, os aspectos relativos ao DUA são tratados nos livros:
Teaching Every Student in the Digital Age (Rose & Meyer, 2002), The Universally
Designed Classroom (Rose, Meyer, & Hitchcock, 2005) e A Practical Reader in
Universal Design for Learning (Rose & Meyer, 2006).
2.3.2 Quem são os estudantes/aprendizes avançados?
O objetivo da educação é o desenvolvimento de estudantes/aprendizes avançados,
algo que todos podem se tornar. Na perspectiva do DUA, os aprendizes avançados
são:
a) Estudantes/Aprendizes com recursos e conhecimentos e que usam os saberes
prévios para aprender coisas novas, ativando esse conhecimento para identificar,
organizar, priorizar e assimilar novas informações. Eles reconhecem as
ferramentas e os recursos que podem ajudá-los a encontrar, estruturar e lembrar
de novas informações; sabem transformar novas informações em conhecimento útil e
significativo.
b) Estudantes/Aprendizes estratégicos, focados nos objetivos, que criam planos
de aprendizagem; idealizam estratégias e táticas eficazes para aperfeiçoar as
aprendizagens; organizam recursos e ferramentas para facilitar a aprendizagem;
monitoram seus progressos; reconhecem seus pontos fortes e fracos como
estudantes; abandonam planos e estratégias que são ineficazes.
c) Estudantes/Aprendizes determinados, motivados e ansiosos por aprender coisas
novas. Eles anseiam o domínio da aprendizagem orientada para atingir seus
objetivos; sabem como estabelecer metas de aprendizagem que representem
desafios; conseguem manter o esforço e a força necessários para atingir suas
metas; podem regular e controlar suas reações emocionais, e que seriam
impedimentos ou distrações para um bom aprendizado.
2.3.3 A que nos referimos com o termo currículo?
Propósito do Currículo DUA
O objetivo de um currículo baseado no DUA não é simplesmente auxiliar os
estudantes a dominar um dado campo do conhecimento ou um conjunto específico de
habilidades, mas ajudá-los a dominar a aprendizagem em si mesma, ou seja,
torná-los estudantes/aprendizes avançados. Assim, esses alunos desenvolverão
três características principais: a) estrategistas qualificados e orientados para
os objetivos; b) conhecedores; e c) determinados e motivados para aprender mais.
O planejamento do currículo usando o DUA permite que os professores eliminem
possíveis dificuldades que podem impedir que os estudantes alcancem esse
objetivo importante.
Componentes do currículo do DUA
Quatro são os componentes altamente inter-relacionados que compõem o currículo
do DUA: objetivos, métodos, materiais e avaliação. Em seguida, explicaremos as
diferenças entre as definições tradicionais e as baseadas em DUA em cada um dos
componentes.
Os objetivos são frequentemente descritos como expectativas de aprendizado. Eles
representam conhecimentos, conceitos e habilidades que todos os estudantes devem
dominar e, geralmente, estão em consonância com certos padrões ou standares. No
referencial geral do DUA, os objetivos estão definidos de modo que se reconheça
a diversidade de estudantes e os objetivos fiquem diferenciados pela maneira e
pelos meios para alcançá-los. Essas características permitem aos professores de
um currículo DUA oferecer mais opções e alternativas - diferentes caminhos,
ferramentas, estratégias e bases - para alcançar o domínio. Enquanto os
currículos tradicionais se concentram em objetivos relacionados a conteúdo e
desempenho, um currículo DUA foca no desenvolvimento de estudantes/aprendizes
avançados. Isso define expectativas mais altas e atingíveis por cada aluno.
Os métodos são geralmente definidos como decisões, abordagens, procedimentos ou
rotinas de ensino que os professores usam para acelerar ou melhorar a
aprendizagem. Professores mais avançados aplicam métodos baseados em evidências
e os diferenciam de acordo com o propósito do ensino. Os currículos do DUA
facilitam uma maior variação de métodos, de acordo com a diversidade de
estudantes no contexto do trabalho a ser desenvolvido, nos recursos
sociais/emocionais deles e no clima de convivência e nas relações de cada sala
de aula. Flexíveis e variados, os métodos do DUA são ajustados com base no
acompanhamento continuado do progresso dos alunos.
Os materiais são considerados, habitualmente, como os meios utilizados para
apresentar os conteúdos de aprendizagem e o que os estudantes usam para
demonstrar seus conhecimentos. No âmbito do DUA, a marca diferencial dos
materiais é sua variabilidade e flexibilidade. Para ensinar conhecimento
conceitual, os materiais do DUA oferecem conteúdo de múltiplas formas, bem como
apoios integrados e instantâneos, como glossários acessíveis por meio de
hiperlinks, informações prévias e conselhos. Para a aprendizagem estratégica e a
expressão do conhecimento, eles fornecem as ferramentas e os suportes
necessários para acessar, analisar, organizar, sintetizar e demonstrar a
compreensão de várias maneiras. Em relação ao envolvimento nas aprendizagens,
mostram caminhos alternativos para o sucesso, incluindo a escolha do conteúdo
apropriado, os níveis variados de apoio e desafios e as opções para promover e
manter o interesse e a motivação.
A avaliação é descrita como o processo de coletar informações sobre o desempenho
do estudante, utilizando uma variedade de métodos e materiais para mensurar seus
conhecimentos, habilidades e motivação, com o objetivo de tomar decisões
educacionais fundamentadas. No referencial do DUA, o objetivo da avaliaçao é
melhorar o planejamento estratégico e seus resultados, assegurando que sejam
suficientemente amplas e articuladas para guiar o ensino de todos os estudantes.
Isso é possivel, em parte, mantendo o foco no objetivo, e não nos meios,
permitindo o uso de ajudas e andaimes para proporcionar construções irrelevantes
8. Expandindo os meios para adaptar-se às diversidades presentes entre os
alunos, a avaliação no DUA reduz ou elimina barreiras para mensurar os
conhecimentos, as habilidades e o envolvimento dos estudantes.
2.3.4 O que significa que os currículos são deficientes?
Os currículos podem ser deficientes de várias maneiras:
a) Os currículos são deficientes em relação a quem eles podem ensinar.
Frequentemente, os currículos não são organizados, projetados ou validados para
serem usados com a diversidade de estudantes que povoam nossas salas de aula.
Alunos que estão nos extremos - superdotados ou com altas habilidades, com
necessidades educacionais especiais ou deficiências, que estão aprendendo a
língua da instrução, entre outros - frequentemente, são prejudicados nesses
planos de aprendizagem, por serem projetados para uma média fictícia, com
currículos que não consideram essa diversidade.
b) Os currículos são deficientes em relação ao que podem ensinar.
Muitas vezes, os currículos são projetados para transmitir ou avaliar
informações ou conteúdos sem considerar o desenvolvimento de estratégias de
aprendizagem - habilidades que os estudantes precisam para compreender, avaliar,
sintetizar e transformar informações em conhecimentos úteis. Os currículos, no
geral, continuam a ser construídos, em grande parte, de forma impressa e/ou
escrita, adequados para a transmissão de conteúdo narrativo e expositivo. No
entanto, eles não são bons para informações que exigem o entendimento de
processos dinâmicos e relações, cálculos ou procedimentos.
c) Os currículos são deficientes em relação a como eles podem ensinar.
Normalmente, os currículos têm opções de ensino muito limitadas. Não apenas são
mal elaborados, ao diferenciar o ensino com diversidade de estudantes ou frente
a um aluno com seus distintos níveis de comprensão, mas também são deficientes
por serem incapazes de fornecer muitos dos elementos-chave para o sucesso
educacional, evidenciados pela Pedagogia e pela capacidade de destacar
características críticas ou grandes ideias, de proporcionar os conhecimentos
prévios necessários, de relacionar as capacidades atuais com as prévias, de
modelar ativamente as estratégias e as habilidades de sucesso, de dinamizar o
processo ou de fornecer um andaime graduado ou um crescimento gradual, entre
outros. A maioria dos currículos é melhor apresentando a informação do que a
ensinando.
2.3.5 Como trabalhar o DUA e as deficiências curriculares?
O processo usual para tornar os currículos existentes mais acessíveis é fazer
adaptações que os tornem mais praticáveis para todos os estudantes.
Frequentemente, os próprios professores são forçados a fazer complicadas
tentativas de ajustar os elementos curriculares inflexíveis, do tipo tamanho
único para todos, que não foram projetados para atender à diversidade individual
dos alunos. O termo DUA geralmente se aplica erroneamente a essas adaptações
feitas posteriormente.
Entretanto, o DUA refere-se ao processo pelo qual um currículo (isto é,
objetivos, métodos, materiais e avaliação) é projetado desde o início,
intencionalmente e sistematicamente, para abordar diferenças individuais. Nos
currículos projetados sob os princípios do DUA, as dificuldades e as perdas
decorrentes das subsequentes modificações e adaptações dos currículos
deficientes podem ser minimizadas ou eliminadas, e ambientes de aprendizado
ainda melhores podem ser implementados. O desafio não é modificar ou adaptar os
currículos para alguns de uma maneira especial, mas fazê-lo de maneira eficaz e
desde o princípio.
Existe um número considerável de pesquisas que identificam a eficácia de
práticas baseadas em evidências para esses estudantes dos extremos.
Infelizmente, essas boas práticas, geralmente, não estão disponíveis para todos
os alunos e são oferecidas apenas quando estes já fracassaram nos currículos
regulares. Muitas vezes, essas alternativas são fornecidas em espaços
terapêuticos ou especiais, onde os vínculos com o currículo geral e seus altos
padrões foram completamente cortados. Um curículo do DUA fornece os meios para
sua reestruturação, reparando os danos e promovendo a inclusão de todos os
estudantes.
2.3.6 A tecnologia é necessária para implementar o DUA?
Educadores dedicados sempre encontram maneiras de planejar currículos que
atendam às necessidades de todos os estudantes, independentemente de usarem, ou
não, tecnologias. Porém, a aplicação das poderosas tecnologias digitais com os
princípios do DUA permite uma personalização do currículo de uma maneira mais
fácil e eficaz para os alunos. Os avanços das tecnologias e das ciências da
aprendizagem permitiram a personalização instantânea dos currículos de forma
mais prática e econômica. Muitas dessas tecnologias dispõem de sistemas
interligados de apoio, de andaimes e de desafios que ajudam os estudantes a
entender, transitar e se envolver com o ambiente de aprendizagem.
Aprender e demonstrar o uso efetivo da tecnologia é, por si só, um importante
resultado educacional. A tecnologia permeia todos os aspectos de nossa economia
e cultura. Atualmente, cada aluno precisa desenvolver uma série de competências
muito mais amplas e dependentes de nossa cultura, que está em constante mudança.
Além disso, o entendimento dessas tecnologias poderá auxiliar na melhor
compreensão das possíveis opções não tecnológicas que podem ser usadas.
Não obstante, é preciso considerar que essas tecnologias não devem ser vistas
como a única maneira de desenvolver o DUA. Professores eficazes devem ser
criativos ao projetar ambientes educacionais flexíveis como resposta à
diversidade de estudantes usando uma ampla gama de soluções com maior ou menor
uso da tecnologia. O objetivo do DUA é criar ambientes nos quais todos tenham a
oportunidade de se tornar estudantes avançados, e os meios para alcançá-lo devem
ser flexíveis, sejam eles tecnológicos ou não.
Também cabe observar que o simples uso da tecnologia em sala de aula não deve
ser considerado como uma implementação do DUA. Isso não necessariamente melhora
a aprendizagem, e muitas tecnologias têm os mesmos problemas de acessibilidade
que algumas opções não tecnológicas. Por isso ela precisa ser cuidadosamente
planejada no currículo como uma estratégia para se atingir os objetivos
propostos.
Contudo, há uma exceção. Para alguns estudantes, o uso de tecnologias assistivas
pessoais, como uma cadeira de rodas motorizada, óculos ou um implante coclear,
são essenciais para o acesso físico e sensorial básico aos ambientes de
aprendizagem. Esses estudantes precisarão das tecnologias assistivas, mesmo
durante atividades em que outros alunos não façam uso de nenhuma tecnologia.
Mesmo em salas bem equipadas com materiais e métodos do DUA, as tecnologias
assistivas não excluem nem substituem a necessidade do DUA 9.
Em resumo, tecnologia não é sinônimo de DUA, mas desempenha um papel importante
em sua aplicação e conceitualização.
2.3.7 Quais evidências científicas fundamentam as práticas do DUA?
O DUA é baseado em uma das descobertas mais disseminadas na pesquisa
educacional: as respostas dos estudantes são muito variáveis no processo de
ensino-aprendizagem. Praticamente em todos os relatórios de pesquisa sobre
ensino ou intervenção educacional aparecem que as diferenças individuais são
evidentes e ocupam um lugar de destaque nos resultados. No entanto, essas
diferenças individuais, geralmente, são tratadas como fontes incômodas de erros
e como distração dos principais efeitos. O DUA, por outro lado, trata essas
diferenças individuais como foco de atenção. De fato, quando vistos por meio do
referencial do DUA, esses resultados são essenciais para entender e projetar um
ensino eficaz.
A pesquisa que está por trás do DUA é dividida em quatro categorias: a
investigação sobre os fundamentos do DUA, a investigação sobre os princípios do
DUA, a investigação sobre as práticas promissoras e a investigação sobre a
implementação do DUA.
a) Investigação sobre os fundamentos do DUA
O DUA é baseado em uma variedade de investigações de diferentes disciplinas
incluídas no campo da neurociência, das ciências da educação e da psicologia
cognitiva. Está consolidado nos conceitos como a Zona de Desenvolvimento
Proximal, o andaime do conceito costrutivista 10, a tutoria ou mentorização e a
modelagem, assim como nas fundamentais obras de Piaget, Vygotsky, Bruner, Ross e
Wood, e Bloom, que adotaram princípios semelhantes para entender as diferenças
individuais e a pedagogia necessária para tratar com elas.
Por exemplo, Vygotsky já enfatizou a importância dos andaimes graduados como uns
dos pontos principais que irão nortear o currículo do DUA. Estes são úteis para
o iniciante, mas podem ser eliminados gradualmente à medida que o estudante
adquire habilidades. O uso dos andaimes com retirada gradual de apoios é uma
prática tão antiga quanto a própria cultura humana, sendo relevante para o
aprendizado em quase todos os campos, desde aprender a andar ou andar de
bicicleta sem ajuda até os longos períodos de aprendizado exigidos na
neurocirurgia ou na condução de aeronaves.
b) Investigação sobre os princípios
A base de pesquisa dos princípios gerais do DUA também se fundamenta na
neurociência moderna. Os três princípios básicos são construídos a partir do
conhecimento de que nosso cérebro é formado por três redes diferentes usadas no
processo de aprendizagem: de reconhecimento, estratégicas e afetivas. As
Diretrizes alinham essas três redes com os três princípios (de reconhecimento
com representação, estratégicas com ação e expressão, e afetivas com
envolvimento ou enjagamento). Essa base neurocientífica empírica fornece um
princípio sólido para entender como o cérebro, no processo de aprendizado,
relaciona-se com o ensino eficaz. Esse alinhamento é expandido e esclarecido
posteriormente com as Diretrizes e os pontos de verificação.
c) Investigação sobre as práticas promissoras
As linhas de investigação promissoras incluem as obras destinadas a identificar
as práticas específicas que são fundamentais para enfrentar o desafio das
diferenças individuais. São estudos de muitos pesquisadores diferentes, e que se
acumularam nas últimas décadas, sendo rotulados como promissores, pois parecem
se encaixar na referencial do DUA, mas não foram testados em um ambiente DUA ou
usaram esse referencial. É importante que essas práticas sejam estudadas dentro
de um ambiente DUA para que possam ser consideradas práticas eficazes do DUA.
Essa é uma área que incentivamos fortemente que seja estudada para trazer
contribuições no trabalho de campo.
d) Investigação sobre a implementação do DUA
Em quarto lugar, estão as pesquisas sobre aplicações específicas do DUA em
ambientes de aprendizagem, incluindo as condições necessárias para a
implementação, as barreiras mais comuns e as contribuições dessa prática. Essa
nova área de pesquisa está em seus estágios iniciais, mas terá um lugar mais
proeminente à medida que as aplicações e as implementações do DUA forem
desenvolvidas em larga escala nos currículos do sistema educacional como um
todo. Essa também é uma área que encorajamos a produção de contribuições
decorrentes de pesquisas.
Questões de pesquisas adicionais
Como em qualquer outra disciplina, existem muitas perguntas de pesquisa que
ainda precisam ser respondidas. Isso inclui: como os professores ou redes de
ensino podem iniciar a aplicação do DUA? Como os professores progridem na
implementação do DUA? Quais são os componentes mais importantes do DUA? Como
pode ser realizada a implementação com eficiência máxima? Como sabemos quando as
escolas estão prontas para implementar o DUA?
Essas e outras questões sobre aplicação e eficácia precisam começar a ser
estudadas em larga escala sistematicamente. Obviamente, também existem muitos
problemas que ainda não foram formulados e que surgirão à medida que a
investigação sobre o tema avance.
Sobre esta apresentação
Esta é a apresentação em forma de texto das Diretrizes do DUA. O documento
possui uma definição completa de cada princípio e suas diretrizes
correspondentes, bem como des-crições e exemplos de cada ponto de verificação.
Claro que esse tipo de representação nem sempre é a melhor para todos, por isso
também criamos uma apresentação gráfica em forma de lista de verificação para o
professor, e temos planos de desenvolver outras apresentações. Tudo isso está
disponível online no site do Centro Nacional do Desenho Universal para a
Aprendizagem 11.
Esta versão textual das Diretrizes é a segunda revisão no que consideramos um
processo dinâmico e em desenvolvimento; como tal, esta não deve ser tida como
uma versão final, pois continuarão a evoluir constantemente com nosso
entendimento da investigação de disciplinas relacionadas ao DUA, como a
educação, a psicologia ou a neurociência, entre outras. Como este documento não
é definitivo, incentivamos a participação e a colaboração daqueles que
implementam, defendem ou investigam o DUA, bem como de todas as pessoas que
trabalham em outros campos, com o objetivo de criar Diretrizes mais precisas e
inclusivas.
Assim como na primeira versão destas Diretrizes, nossa intenção continua sendo
coletar e sintetizar as observações produzidas no campo de estudo, avaliá-las a
partir de evidências derivadas de investigações atuais e de forma regular e, em
consulta com um conselho editorial, realizar modificações, incorporações e
atualizações relevantes das Diretrizes do DUA. Este é apenas um começo,
esperançosamente promissor, para melhorar as oportunidades de todos os
indivíduos para se tornarem aprendizes especializados.
Como estão organizadas as Diretrizes?
As Diretrizes do DUA estão organizadas de acordo com seus três princípios
fundamentais (representação ou apresentação, ação e expressão e motivação ou
envolvimento). Estes se estruturam de maneira diferente, dependendo do objetivo
da apresentação, pois o conteúdo deve ser consistente. Para fornecer mais
detalhes, os princípios estão divididos em diretrizes, cada uma com um conjunto
de pontos de verificação. Em resumo, eles são dispostos assim: princípio (nível
de detalhe mais baixo) → diretriz → ponto de verificação (nível de detalhe mais
alto).
Como as Diretrizes são utilizadas?
As Diretrizes devem ser cuidadosamente selecionadas e aplicadas ao currículo,
conforme as particularidades de cada caso. As Diretrizes do DUA não são uma
receita; poderíamos dizer que são um conjunto de estratégias que podem ser
usadas para superar as barreiras inerentes a maioria dos currículos existentes.
Elas podem servir de base para criar as opções e a flexibilidade necessárias
para maximizar as oportunidades de aprendizagem. Em muitos casos, os educadores
podem descobrir que já estão incorporando muitas dessas diretrizes em sua
prática diária de ensino.
As Diretrizes não devem ser aplicadas a um único aspecto do currículo, nem
usadas com apenas alguns estudantes. O ideal é que sejam utilizadas para
planejar e avaliar objetivos, metodologias, materiais e métodos de avaliação, a
fim de criar um ambiente de aprendizagem completamente acessível para todos.
2.4 As Diretrizes para o Desenho Universal para a Aprendizagem 2.0 Princípio I:
proporcionar modos múltiplos de apresentação (o o que da aprendizagem)
Os estudantes diferem na maneira como percebem e compreendem as informações
apresentadas a eles. Por exemplo: pessoas com deficiências sensoriais (cegueira
ou surdez), dificuldades de aprendizagem (dislexia), com diferenças linguísticas
ou culturais, e outras diversidades mais, podem exigir maneiras distintas de
aceder ao conteúdo. Outros podem, simplesmente, captar informações com mais
rapidez ou eficiência por meios visuais ou auditivos do que com textos
impressos. Além disso, as aprendizagens e a transferência do aprendizado ocorrem
quando várias formas de apresentação são usadas, pois isso permite que os
estudantes façam conexões internas, bem como entre conceitos.
Resumindo, não há um meio ideal de apresentação para todos os alunos. Assim,
fornecer várias opções de apresentação é essencial.
2.4.1 Diretriz 1 - Oferecer opções diferentes para a percepção
O aprendizado é impossível se a informação não puder ser percebida pelo
estudante; é difícil quando a informação é apresentada em formatos cujo uso
requer ajuda ou esforços extraordinários. Para reduzir as barreiras na
aprendizagem, é importante garantir que as informações principais sejam
igualmente perceptíveis por todos os estudantes. Para isso, deve-se: 1) fornecer
as mesmas informações por meio de diferentes modalidades (por exemplo, visão,
audição ou tátil); 2) oferecer as informações em um formato que permita que
sejam ajustadas/ adequadas pelos usuários (por exemplo, um texto que possa ser
ampliado ou sons que possam ser amplificados). Múltiplas apresentações dessa
natureza não apenas garantem que as informações sejam acessíveis a estudantes
com deficiências perceptivas ou sensoriais específicas, mas também facilitam o
acesso e a compreensão de outros alunos.
Ponto de verificação 1.1 - Oferecer opções que permitam personalização na
apresentação de informações
Nos materiais impressos, a apresentação das informações é fixa e permanente. Em
materiais digitais planejados adequadamente, a apresentação das mesmas
informações é muito maleável e pode ser facilmente personalizada. Por exemplo,
um texto com informações básicas pode ser colocado em locais diferentes,
ampliado ou enfatizado usando cores, ou completamente removido. Essa
maleabilidade fornece, por um lado, opções que aumentam a clareza perceptiva e
realça informações importantes para uma ampla diversidade de estudantes, e, por
outro lado, ajustes para as preferências de outros.
Essas personalizações são, normalmente, complicadas de executar em materiais
impressos, enquanto em mídias digitais estão disponíveis automaticamente, mesmo
que não se possa garantir que o meio digital seja automaticamente acessível,
pois muitos materiais digitais são igualmente inacessíveis. Educadores e
estudantes devem trabalhar juntos para alcançar a melhor combinação de ajustes
para as necessidades do aprendizado.
Exemplos de como implementá-lo:
-
As informações devem ser apresentadas em um formato flexível para que suas
características perceptivas possam ser modificadas:
-
o tamanho do texto, das imagens, dos gráficos, das tabelas ou de qualquer outro
conteúdo visual;
-
o contraste entre o plano de fundo e o texto ou a imagem;
-
a cor como um meio de informação ou ênfase;
-
o volume ou a velocidade da fala e do som;
-
a velocidade da sincronização de vídeo, animações, sons, simulações etc.;
-
o formato da apresentação visual e de outros elementos;
-
a fonte da letra usada para materiais impressos.
Ponto de verificação 1.2 - Oferecer alternativas para informações auditivas
O som é um meio eficaz de transmitir o sentido completo da informação; por isso
que a forma de apresentação do som é tão importante em filmes, dado que a voz
humana é particularmente eficaz na transmissão de significados e emoções. No
entanto, a transmissão de informações apenas por meios auditivos não é
igualmente acessível a todos os estudantes, e especialmente inacessível àqueles
com deficiência auditiva, aos que precisam de mais tempo para processar as
informações ou que têm dificuldades de memória. Além disso, ouvir é uma
habilidade estratégica complexa que deve ser aprendida.
Para garantir que todos os estudantes tenham acesso às aprendizagens, diferentes
opções devem ser oferecidas para apresentar qualquer tipo de informação
auditiva, incluindo as ênfases ou o sentido das informações.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Usar apresentações textuais equivalentes, como legendas ou
reconhecimento automático de voz para linguagem oral;
-
fornecer diagramas visuais, gráficos e notações de música ou som;
-
oferecer transcrições escritas de vídeos ou clipes de áudio;
-
dispor de intérpretes de língua de sinais em português (Libras) para o português
falado;
-
facilitar apoios visuais ou táteis equivalentes (por exemplo, vibrações) para
sons ou alertas;
-
utilizar descrições visuais e/ou emocionais para apresentações musicais.
Ponto de verificação 1.3 - Oferecer alternativas para informações visuais
As imagens, os gráficos, as animações, os vídeos ou os textos são os melhores
meios para a apresentação de informações, especialmente quando são sobre as
relações entre objetos, ações, números ou eventos. Mas essas representações
visuais não são acessíveis igualmente a todos os estudantes, especialmente
àqueles com deficiências visuais ou aos que não estão familiarizados com os
tipos de gráficos ou símbolos utilizados.
A informação visual pode ser bastante densa, principalmente nas artes visuais,
podendo ter significados múltiplos e complexos e sua interpretação depender de
fatores contextuais e do conhecimento prévio do espectador. Para garantir que
todos os estudantes possam acessar às informações em termos iguais, é essencial
fornecer alternativas não visuais.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Oferecer descrições (texto ou voz) para todas as imagens, os gráficos, os vídeos
ou as animações;
-
fornecer alternativas táteis (gráficos táteis ou objetos de referência) para
efeitos visuais que representam conceitos;
-
usar objetos físicos e modelos espaciais para transmitir perspectiva ou
interação;
-
facilitar ajudas auditivas para as ideias principais e as mudanças de sequência
nas informações visuais.
O texto é um caso especial de informação visual. Sua transformação em áudio é um
dos métodos mais fáceis para executar e aumentar a acessibilidade. A vantagem do
texto comparado com o áudio é sua permanência ao longo do tempo, mas o
fornecimento de textos que são facilmente transformáveis em áudio/voz alcançaria
essa permanência sem sacrificar as vantagens do áudio. Os sintetizadores
digitais de texto para fala aumentaram sua eficiência, embora sua capacidade de
transmitir informações prosódicas valiosas ainda seja baixo e esteja em fase de
desenvolvimento.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Seguir os padrões de acessibilidade (NIMAS, DAISY etc.) ao criar textos
digitais;
-
permitir a participação de um assistente ou parceiro competente para ler o texto
em voz alta;
-
prover acesso ao software de conversão de texto em fala.
2.4.2 Diretriz 2 - Fornecer várias opções para linguagem, expressões matemáticas
e símbolos
Os estudantes diferem em suas capacidades de lidar com modos distintos de
representação, tanto linguística quanto não linguística. O mesmo vocabulário que
esclarece conceitos para alguns estudantes pode ser confuso e não claro para
outros. Um símbolo de igual (=) pode ajudar alguns a entender que os dois lados
de uma equação devem ser equivalentes, enquanto para outros que não entendem
esse símbolo, isso pode causar confusão. Um gráfico que ilustra um
relacionamento entre duas variáveis pode ser informativo para uns e inacessível
ou desconcertante para outros. Um desenho ou uma imagem pode ter um significado
para alguns alunos e um totalmente diferente para estudantes de outros contextos
culturais e sociais. Como resultado de tudo isso, podem surgir desigualdades
quando a informação é apresentada a todos de uma única forma. Uma estratégia
educacional importante é garantir que representações alternativas sejam
fornecidas, não apenas para a acessibilidade, mas também para promover clareza e
compreensão entre todos os estudantes.
Ponto de verificação 2.1 - Esclarecer vocabulário e símbolos
Os elementos semânticos pelos quais as informações são apresentadas (palavras,
símbolos, números e ícones), não são igualmente acessíveis a estudantes com
diferentes formações, idiomas e conhecimentos lexicais. Para garantir a
acessibilidade para todos, o vocabulário-chave, os rótulos, os ícones e os
símbolos devem ser vinculados ou associados a uma representação alternativa de
seu significado (por exemplo, glossários ou definições incorporadas, um gráfico
equivalente, um desenho ou um mapa). Devem ser traduzidos provérbios, expressões
arcaicas, populares ou regionais e gírias.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Pré-ensinar vocabulário e símbolos, especialmente de maneira a promover a
conexão com as experiências e os conhecimentos anteriores do estudante;
-
fornecer símbolos gráficos com descrições de texto alternativos;
-
destacar como expressões ou equações complexas são compostas de palavras ou
símbolos mais simples;
-
inserir suportes para vocabulário e símbolos no texto (por exemplo, links ou
notas de rodapé com definições, explicações, ilustrações, informações
anteriores, traduções);
-
incorporar suportes para referências desconhecidas no texto (por exemplo,
anotações de domínios específicos, teoremas e propriedades menos conhecidas,
provérbios, linguagens acadêmica, matemática, figurativa e arcaica, gírias,
coloquialismos e dialetos).
Ponto de verificação 2.2 - Esclarecer a sintaxe e a estrutura
Os elementos mais simples de um texto ou equações (como palavras ou números)
podem ser combinados para criar novos significados, que dependem, no entanto, de
como as regras ou as estruturas são entendidas (como a sintaxe em uma frase ou
as propriedades das equações) e de como esses elementos são combinados. Quando a
sintaxe de uma frase ou a estrutura de uma representação gráfica não é óbvia ou
familiar para os estudantes, a compreensão pode ser afetada. Para garantir que
todos tenham acesso igual à informação, devem ser oferecidas apresentações
alternativas que esclareçam ou tornem explícitas as relações sintáticas ou
estruturais entre os elementos do significado.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Esclarecer a sintaxe desconhecida (em idiomas ou fórmulas matemáticas) ou a
estrutura subjacente (em diagramas, gráficos, ilustrações, exposições extensas
ou narrações), por meio de alternativas que permitam:
-
destacar associações estruturais ou torná-las mais explícitas;
-
estabelecer conexões com estruturas aprendidas anteriormente;
-
explicitar as ligações entre os elementos (por exemplo, destaques nas palavras
de transição em um ensaio, relações entre as ideias em um mapa conceitual etc.).
Ponto de verificação 2.3 - Facilitar a decodificação de textos, notações
matemáticas e símbolos
A capacidade de decodificar fluentemente palavras, números ou símbolos que foram
apresentados em um formato codificado (por exemplo, símbolos visuais para um
texto, símbolos em relevo para Braille, expressões algébricas para
relacionamentos) requer prática para qualquer estudante, embora alguns sejam
capazes de alcançar a automação mais rapidamente que outros.
Os alunos precisam de práticas consistentes e significativas com os símbolos
para que possam entendê-los e usá-los de maneira eficaz. A falta de fluência ou
naturalidade aumenta a carga cognitiva no processo de decodificação, reduzindo,
assim, a capacidade de processar e entender as informações. Para garantir que
todos tenham acesso igual ao conhecimento, pelo menos quando a capacidade de
decodificar não é o objetivo do ensino, é importante oferecer opções que reduzam
as barreiras que a decodificação acarreta aos que não estão familiarizados ou
não utilizam os símbolos com destreza.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Permitir o uso de software de sintetizador de voz;
-
usar voz automática com notação matemática digital (Math ML);
-
utilizar texto digital acompanhado por voz humana pré-gravada (por exemplo,
Daisy Talking Books);
-
conceder flexibilidade e acesso fácil a várias representações de notações,
quando apropria do (por exemplo, fórmulas, vocabulário, gráficos);
-
oferecer esclarecimentos sobre a notação por meio de listas de termos-chave.
Ponto de verificação 2.4 - Promover a compreensão entre diferentes idiomas
A linguagem dos materiais curriculares, geralmente, é monolíngue, mas há
situações em que os estudantes não o são; portanto, a promoção da compreensão
multilíngue é essencial.
Para os novos alunos da língua oficial (por exemplo, português nas escolas do
Brasil) ou da língua de ensino (a língua dominante na escola, no caso de
colégios bilingues), a acessibilidade às informações é significativamente
reduzida quando as alternativas linguísticas não estão disponíveis. Oferecer
alternativas, especialmente para informações importantes ou vocabulário, é um
aspecto relevante da acessibilidade.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Disponibilizar todas as informações expressivas no idioma dominante e em outros
idiomas importantes (por exemplo, espanhol nas áreas de fronteira, ou línguas
indígenas no caso do Brasil) para estudantes com baixo nível de português e em
Libras para estudantes surdos;
-
vincular as palavras-chave do vocabulário à sua definição e pronúncia nos
idiomas dominante e nativo;
-
definir o vocabulário específico do domínio (por exemplo, os termos específicos
ou as legendas em estudos sociais), usando-os junto com os termos comuns;
-
fornecer ferramentas eletrônicas para tradução ou links para glossários
multilíngues na web;
-
inserir recursos visuais não linguísticos para esclarecer o vocabulário
(imagens, vídeos etc.).
Ponto de verificação 2.5 - Complementar uma informação com outras formas de
apresentação
Nos materiais de aula predominam as informações textuais, mas este é um formato
com problemas para apresentar alguns conceitos e explicar a maioria dos
processos. Além disso, como forma de apresentação, é, de alguma forma,
complicado para os estudantes com dificuldades de aprendizagem relacionadas ao
uso da língua escrita. Fornecer alternativas ao texto, especialmente
ilustrações, simulações, imagens ou gráficos interativos, pode tornar suas
informações mais compreensíveis para qualquer aluno e mais acessíveis para
aqueles que as julguem totalmente inacessíveis nesse formato.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Apresentar os conceitos fundamentais presentes na forma de representação
simbólica (por exemplo, um texto expositivo ou uma equação matemática), com uma
forma alternativa (por exemplo, ilustração, tabela, diagrama, vídeo, banda
desenhada, guia gráfico, fotografia, animação ou material manipulativo físico ou
virtual);
-
explicar as relações entre as informações oferecidas nos textos e qualquer
representação que as acompanhe: ilustrações, equações, gráficos ou diagramas.
2.4.3 Diretriz 3 - Oferecer opções para comprender e entender
O objetivo da educação não é tornar as informações acessíveis, pelo contrário, é
ensinar aos estudantes como transformar as informações as que têm acesso em
conhecimentos úteis. Décadas de estudos e pesquisas na área da ciência cognitiva
mostraram que essa transformação é um processo ativo, e não passivo. A
construção de conhecimento útil, disponível para a tomada de decisões futuras,
não se baseia apenas na percepção das informações, mas precisa de habilidades
ativas de processamento delas, como atenção seletiva, integração de novos
conhecimentos com os que já existem, estratégias de categorização e memorização
ativa.
As pessoas diferem muito em suas habilidades de processamento de informações e
no acesso a conhecimentos prévios pelos quais novas informações podem ser
adquiridas. O planejamento e a apresentação adequada das informações são
responsabilidade de qualquer currículo ou metodologia educacional, podendo
fornecer os auxílios necessários para garantir que todos os estudantes tenham
acesso às informações.
Ponto de verificação 3.1 - Ativar ou substituir os conhecimentos anteriores
As informações, como fatos, conceitos, princípios ou ideias, são mais acessíveis
e podem ser assimiladas de maneira mais apropriada quando apresentadas de forma
que facilite ou ative qualquer conhecimento prévio necessário. Existem certas
barreiras e desigualdades quando alguns estudantes não possuem esse conhecimento
preliminar, que é essencial para compreender ou usar as novas informações. No
entanto, também há barreiras para os que têm o conhecimento anterior
requisitado, mas estes não sabem que isso é relevante. Essas dificuldades podem
ser reduzidas quando existe a disponibilidade de opções que facilitam ou ativam
esse conhecimento, ou, ainda, permitem que outras conexões sejam feitas com as
informações preliminares necessárias.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Conectar o aprendizado, estabelecendo relações e ativando conhecimentos prévios
(por exemplo, usando imagens visuais, fixando conceitos anteriores já
assimilados ou praticando rotinas para dominá-los);
-
usar organizadores gráficos avançados (por exemplo, mapas conceituais,
estratégias para desenvolver a metecognição 12);
-
ensinar com anterioridade os conceitos preliminares essenciais por meio de
demonstrações ou modelos;
-
estabelecer ligações entre conceitos, com analogias ou metáforas;
-
fazer conexões curriculares explícitas (por exemplo, ensinar estratégias de
redação na aula de ciências).
Ponto de verificação 3.2 - Destacar modelos, características fundamentais,
principais ideias e relacionamentos
Uma das grandes diferenças entre os especialistas e os novatos em qualquer área
é a facilidade de distinguir o essencial do que não é relevante. Os
especialistas reconhecem rapidamente as características mais significativas das
informações e, portanto, gerenciam efetivamente o tempo, identificando o que é
útil e encontrando as conexões apropriadas para assimilar as informações mais
valiosas com seus conhecimentos anteriores. Como consequência, uma das maneiras
mais eficazes de tornar as informações mais acessíveis é oferecer apoios ou
indicações explícitas que ajudem os estudantes a prestarem atenção às
características mais expressivas e a descartarem as que não são tão importantes.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Destacar elementos-chave em textos, gráficos, diagramas, fórmulas etc.;
-
usar esquemas, organizadores gráficos, rotinas de organização de unidades,
conceitos e formas de domínio de conceito para salientar ideias e
relacionamentos importantes;
-
utilizar vários exemplos e contra-exemplos para enfatizar as ideias principais;
-
indicar a atenção para os elementos essenciais com chamadas ou avisos;
-
evidenciar habilidades adquiridas anteriormente que podem ser usadas para
resolver problemas menos familiares.
Ponto de verificação 3.3 - Orientar o processamento, a visualização e a
manipulação de informações
Normalmente, a transformação efetiva da informação em conhecimento útil requer a
aplicação de estratégias mentais e habilidades de processamento da informação.
Essas estratégias cognitivas ou metacognitivas envolvem a seleção e a
manipulação de informações para que possam ser melhor resumidas, categorizadas,
priorizadas, contextualizadas e lembradas. Enquanto alguns alunos podem ter um
repertório completo desse tipo de estratégias e o conhecimento sobre quando
aplicá-las, muitos outros não as possuem. Os materiais bem planejados podem
oferecer modelos, suportes e devolutivas personalizados e integrados para ajudar
os estudantes com diferentes habilidades a fazerem uso eficaz dessas
estratégias.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Oferecer indicações explícitas para cada etapa em qualquer processo sequencial;
-
apresentar diferentes métodos e estratégias organizacionais (tabelas e
algoritmos para processar operações matemáticas);
-
usar modelos interativos que orientem a exploração e o novo aprendizado;
-
introduzir suportes graduais que favoreçam estratégias de processamento da
informação;
-
fornecer várias maneiras de abordar ou estudar uma lição e itinerários opcionais
pelo conteúdo (por exemplo, explorar as ideias principais por meio de peças de
teatro, arte, literatura, filmes ou outras mídias);
-
agrupar as informações em unidades menores;
-
mostrar informações progressivamente (por exemplo, a sequência principal com uma
apresentação no PowerPoint);
-
eliminar elementos ou acessórios que distraem, a menos que sejam essenciais para
o objetivo do aprendizado.
Ponto de verificação 3.4 - Maximizar a transferência e a generalização
Todos os estudantes precisam ser capazes de generalizar e transferir seus
aprendizados para novos contextos. Os alunos diferem nos apoios necessários para
ativar efetivamente a memória e a troca, e, assim, melhorar sua capacidade de
acessar seus conhecimentos anteriores. Esses auxílios para trocar as informações
disponíveis para outras situações podem ser de interesse de todos, uma vez que o
aprendizado não é realizado usando conceitos individuais e isolados, e todos se
beneficiam do uso de múltiplas formas de apresentação para que essas trocas
ocorram. Sem esse apoio, sem o uso dessas representações, a informação pode ser
aprendida e conhecida, mas não transferida ou utilizada em novas situações. O
suporte à memória, à generalização e à transferência inclui o uso de técnicas
que foram projetadas para aumentar a probabilidade de recuperação de
informações, bem como de técnicas que explicitamente aconselham e orientam os
estudantes sobre como usar determinadas estratégias.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Fornecer listas de verificação, organizadores, notas, lembretes eletrônicos
etc.;
-
incentivar o uso de dispositivos e estratégias (por exemplo, imagens visuais,
estratégias de similitude, método dos lugares etc.);
-
incorporar oportunidades explícitas para revisão e prática;
-
distribuir modelos, organizadores gráficos, mapas conceituais, que facilitem a
anotação;
-
oferecer suportes que conectem as novas informações ao conhecimento anterior
(por exemplo, redes de palavras, mapas conceituais incompletos);
-
integrar novas ideias em diferentes contextos, conhecidos ou familiares (por
exemplo, uso de analogias, metáforas, teatro, música, filmes etc.);
-
proporcionar situações nas quais, de maneira explícita, seja generalizada a
aprendizagem para novas situações (por exemplo, tipos de problemas distintos que
podem ser resolvidos com equações lineares, usando os princípios da física para
construir um parquinho de jogos);
-
dar a oportunidade de criar situações nas quais possam ser revisadas as
principais ideias e os vínculos entre elas.
Princípio II: proporcionar modos múltiplos de Ação e expressão (o como da
aprendizagem)
Os estudantes diferem no modo como funcionam em um ambiente de aprendizagem e
como expressam o que já sabem. Por exemplo, indivíduos com sérios problemas de
mobilidade (como paralisia cerebral), aqueles que não possuem habilidades
estratégicas e organizacionais (dificuldades na função executiva), com barreiras
de linguagem ou outros problemas, podem resolver as atividades didáticas de
maneiras diferentes. Alguns podem ser capazes de se expressar corretamente por
escrito, mas não na linguagem oral, e vice-versa. Além disso, deve-se levar em
consideração que tanto a ação quanto a expressão requerem um grande número de
estratégias, práticas e organização, e tudo isso faz parte de uma área na qual
os estudantes podem distinguir-sesignificativamente um do outro. É por isso que
não há um único meio de ação e expressão ideal para todos os alunos e,
consequentemente, é essencial fornecer diversas alternativas para realizar os
processos que envolvam a ação e a expressão dos conhecimentos adquiridos.
2.4.4 Diretriz 4 - Fornecer opções para a interação física
Um livro ou um caderno de exercícios impresso fornece meios limitados de uso ou
de interação física (por exemplo, virar as páginas com o dedo, escrever nos
espaços estabelecidos para ele). Da mesma forma, muitos programas multimídia
educacionais oferecem formas restristas de navegação ou interação (por exemplo,
usando um joystick ou um teclado). Essa limitação pode representar um obstáculo
para alguns estudantes, especialmente àqueles com alguma deficiência física,
cegos, comdisgrafia ou os que precisam de vários tipos de apoio para desempenhar
funções executivas.
Logo, é importante oferecer materiais com os quais todos os alunos possam
trabalhar e interagir. Quando os materiais curriculares têm uma configuração
apropriada, eles fornecem uma interface compatível com tecnologias comuns de
interação ou uso, por meio das quais pessoas com dificuldades motoras podem
interatuar e expressar o que sabem, como permitir a navegação com interruptores,
com ativação por voz, com teclados expandidos e outros produtos e tecnologias de
acesso e uso.
Ponto de verificação 4.1 - Variar os métodos de resposta e navegação
Os estudantes diferem muito em sua capacidade de interagir com o ambiente
físico. Para reduzir as barreiras de aprendizagem que poderiam surgir das
demandas motoras de uma tarefa, devem ser oferecidos meios alternativos e formas
de responder, selecionar ou escrever. Além disso, as pessoas se diferenciam
amplamente quanto à maneira ideal de cada um para navegar pelas informações e
atividades. Para promover a igualdade de oportunidades para participar de
experiências de aprendizado, o professor deve garantir que haja diversas opções
para atuar e interagir, e que o controle desse processo seja acessível a todos.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Oferecer alternativas nos requisitos de ritmo, tempos e habilidades motoras
necessárias para interagir com materiais educacionais, tanto os que requerem
manipulação física como tecnológicas;
-
facilitar opções para dar respostas físicas ou por seleção (por exemplo,
alternativas às marcas com lápis ou caneta, alternativas para controlar o
mouse);
-
fornecer possibilidades para interações físicas com materiais diversos: por meio
das mãos, da voz, de interruptores, de joysticks, de teclados ou de teclados
adaptados.
Ponto de verificação 4.2 - Otimizar o acesso a ferramentas, produtos e
tecnologias de apoio
Geralmente, não basta fornecer uma ferramenta ao estudante, é necessário
oferecer auxílio para que se faça um uso efetivo dela. Muitos alunos precisam de
ajuda para navegar em seu ambiente (tanto em termos do ambiente físico quanto do
currículo) e deve-se garantir que todos tenham a oportunidade de utilizar
materiais que os ajudem a atingir a meta de sua participação plena na sala de
aula.
Diversos estudantes com deficiência precisam usar regularmente tecnologias
assistivas para navegar, interagir ou escrever. Portanto, é essencial assegurar
que as tecnologias e o currículo não criem barreiras na utilização dessas ajudas
e que estas possam passar despercebidas.
Uma consideração importante na apresentação de atividades é, por exemplo,
garantir que haja comandos alternativos do teclado para qualquer ação do mouse,
para que os estudantes possam usar tecnologias de ajuda comum, cuja operação
dependa desses comandos. No entanto, é pertinente assegurar que, ao fazer uma
lição em um formato acessível, esta não elimine o desafio necessário para
aprender, mesmo que de maneira inadvertida.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Oferecer opções ou comandos de teclado alternativos às ações do mouse;
-
usar computadores e sistemas de varredura para aumentar o acesso independente às
alternativas de teclado;
-
fornecer acesso a teclados alternativos;
-
personalizar modelos para telas sensíveis ao toque e teclados;
-
selecionar um software que permita trabalhar com teclados e teclas de acesso
alternativas.
2.4.5 diretriz 5 - Proporcionar opções para A expressão e A comunicação
Não há meios de expressão que sejam igualmente válidos para todos os estudantes
ou para todos os tipos de comunicação. Pelo contrário, existem meios que parecem
inapropriados para certas formas de expressão e para alguns tipos de
aprendizagem. Enquanto um aluno com dislexia pode ser um excelente narrador
oralmente, ele pode ter dificuldades em contar a mesma história por escrito.
É importante proporcionar modalidades alternativas para se expressar, tanto no
nível da interação entre colegas quanto para permitir que o estudante expresse
apropriadamente (ou facilmente) seus conhecimentos, ideias e conceitos no
ambiente de aprendizagem.
Ponto de verificação 5.1 - Usar múltiplos meios de comunicação
A menos que meios e materiais específicos sejam essenciais para o objetivo de
aprender (por exemplo, aprender a pintar com tinta a óleo, aprender a escrever
com caderno de caligrafia), é essencial fornecer meios alternativos de
expressão.
A existência de alternativas reduz as barreiras para se expressar com meios
específicos entre os estudantes com necessidades especiais diversas, mas também
aumenta as oportunidades de aprender com o restante dos alunos, desenvolvendo um
repertório maior de expressões de acordo com a riqueza dos meios existentes para
o seu desenvolvimento. Por exemplo, é importante que todos os estudantes
aprendam a redigir, não apenas escrevam, mas aprendam os meios ideais para
expressar qualquer ideia ou conteúdo e para cada público.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Compor ou redigir de várias formas, como: texto, voz, desenho, ilustração,
projeto, cinema, música, movimento, arte visual, escultura ou vídeo;
-
usar objetos físicos manipuláveis (por exemplo, modelos 3D, material dourado);
-
utilizar mídias sociais e ferramentas interativas da web (por exemplo, fóruns de
discussão, bate-papos, webs, ferramentas de anotação, gibis, apresentações com
animações);
-
resolver problemas usando estratégias variadas.
Ponto de verificação 5.2 - Usar ferramentas variadas para construção e
composição
Nos contextos educacionais, há uma tendência de se usar ferramentas tradicionais
em vez de outras mais modernas e atuais, o que tem várias limitações: 1) não
prepara os estudantes para o futuro; 2) limita a variedade de conteúdos e
métodos de ensino que podem ser implementados; 3) restringe a capacidade dos
alunos de expressar seus conhecimentos sobre o conteúdo (avaliação); e, mais
importante, 4) limita os tipos de estudantes que podem ter sucesso.
As ferramentas atuais são mais flexíveis e acessíveis; com elas, os alunos podem
participar com sucesso do processo de aprendizagem e expressar o que sabem. A
menos que o objetivo seja aprender a usar uma ferramenta específica (por
exemplo, aprender a desenhar círculos com um compasso), os currículos devem
permitir várias alternativas. Como qualquer artesão, os estudantes devem
aprender a usar ferramentas que permitam o melhor ajuste possível entre suas
habilidades e o que a tarefa exige.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Oferecer corretores ortográficos e gramaticais e software de previsão de
palavras;
-
fornecer software de reconhecimento e conversores de texto para fala, gravações
etc.;
-
proporcionar calculadoras, calculadoras gráficas, desenhos geométricos ou papel
milimétrico para gráficos etc.;
-
facilitar princípios ou fragmentos de frases;
-
usar páginas web de literatura, ferramentas gráficas ou mapas conceituais etc.;
-
propiciar ferramentas de design de computador (CAD), software para anotações
musicais (por escrito) e software para anotações matemáticas;
-
prover materiais virtuais ou manipulativos para matemática (por exemplo,
material dourado, blocos de álgebra);
-
utilizar aplicativos da web (por exemplo, wikis, animações, apresentações).
Ponto de verificação 5.3 - Definir competências com níveis de suporte graduados
para prática e execução
Os estudantes devem desenvolver uma ampla variedade de competências (por
exemplo, visuais, auditivas, matemáticas, de leitura, etc.). Isso implica que
eles frequentemente precisam de múltiplos auxílios para guiá-los tanto na
prática quanto no desenvolvimento de sua autonomia.
A fluência ou o domínio da fala é algo que também pode ser aprendido, dando aos
alunos a oportunidade de atuar ou executar tarefas, como o ensaio ou a produção
dramática. O fato de fazer isso, ajuda-os, pois permite que eles sintetizem
pessoalmente seu aprendizado de maneira relevante.
O currículo deve oferecer alternativas em termos de graus de liberdade
disponíveis, estruturação e sequenciamento, além de oferecer oportunidades de
apoio para quem precisa e um maior grau de liberdade para quem pode fazê-lo de
forma autônoma. Em resumo, é importante dar opções para que os estudantes
atinjam seu nível máximo de proficiência nas diferentes competências.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Oferecer diferentes modelos de simulação (por exemplo, modelos que demonstrem os
mesmos resultados, mas usando distintas abordagens, estratégias, habilidades,
etc.);
-
usar mentores diferentes (por exemplo, apoio de professores/tutores que usam
abordagens diversas para motivar, orientar, dar feedback ou informar);
-
fornecer suportes que possam ser removidos gradualmente à medida que a autonomia
e as habilidades aumentem (por exemplo, software para leitura e gravação);
-
proporcionar tipos distintos de feedback (por exemplo, feedback acessível,
porque pode ser personalizado para aprendizado individual);
-
facilitar vários exemplos de soluções criativas para problemas reais.
2.4.6 Diretriz 6 - Fornecer opções para funções executivas
No nível superior da capacidade humana de agir com facilidade ou domínio, estão
as chamadas funções executivas. Essas capacidades, associadas à atividade
cerebral do córtex pré-frontal, permitem que os humanos superem reações
impulsivas, reações no curto prazo em seu ambiente, e, em vez disso, ajam
estabelecendo metas ou objetivos no longo prazo. Um plano estratégico eficaz
para se atingir isso é monitorar o progresso e modificar as metas necessárias.
Em suma, essas estratégias permitem que os estudantes tirem maior proveito de
seu ambiente.
De particular importância para os educadores é o fato de as funções executivas
terem uma capacidade muito limitada devido à memória operacional. Está provado
que a capacidade executiva é significativamente reduzida quando: 1) dedica-se à
gestão de habilidades de baixo nível, e não automatizadas ou fluidas, o que
significa uma redução da capacidade disponível para as funções de alto nível; e
2) há certos tipos de deficiência ou falta de clareza nas estratégias
executivas.
O esquema no qual o DUA se baseia tenta aumentar a capacidade executiva de duas
maneiras: 1) dando suporte às habilidades de baixo nível, para que exijam menos
processamento executivo; e 2) apoiando habilidades e estratégias executivas de
alto nível para torná-las mais eficazes e elaboradas. As diretrizes anteriores
tinham a ver com suporte de baixo nível, enquanto a diretriz discutida nesta
seção se destina a oferecer suporte para funções executivas ou de nível
superior.
Ponto de verificação 6.1 - Orientar o estabelecimento adequado de metas
Não se pode pensar que os estudantes definirão metas apropriadas no seu
trabalho, mas também não deveria ser fornecido o como deve ser feito. Embora no
curto prazo possa ser útil, essa solução é insuficiente para desenvolver novas
habilidades ou estratégias em qualquer estudante. Portanto, é importante que os
estudantes desenvolvam a capacidade de definir seus objetivos. A estrutura do
DUA incorpora ajudas progresivas para aprender a estabelecer objetivos pessoais
desafiadores e, ao mesmo tempo, realistas.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Fornecer avisos e apoios para que o estudante estime os esforços, os recursos e
as dificuldades necessárias;
-
oferecer modelos ou exemplos do processo e do resultado da definição de metas;
-
facilitar diretrizes e listas de verificação para ajudar na definição de
objetivos ou metas;
-
colocar metas, objetivos e planos em algum lugar visível.
Ponto de verificação 6.2 - Apoiar o planejamento e o desenvolvimento da
estratégia
Depois que uma meta é estabelecida, os estudantes, ou qualquer pessoa que queira
resolver um problema, planejam uma estratégia, especificando as ferramentas que
usarão para alcançá-la.
Para crianças em qualquer campo ou domínio, estudantes mais velhos e jovens ou
com deficiências que afetam funções executivas (por exemplo, deficiência
intelectual), a fase dedicada ao planejamento estratégico é frequentemente
omitida e é usada a estratégia do erro.
Para incentivar os estudantes a usar o planejamento e a estratégia, é importante
usar opções variadas, como chamadas que os levam a parar e pensar (redutores de
velocidade cognitivos, freios cognitivos), apoios progresivos que os ajudam a
executar efetivamente suas estratégias, ou participação na tomada de decisões
com mentores competentes.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Integrar avisos para que parem e pensem antes de agir, bem como espaços
adequados para isso;
-
incorporar chamadas para mostrar e explicar seu trabalho (por exemplo, revisão
de portfólio, crítica de arte);
-
facilitar listas de verificação e modelos de planejamento do projeto para
entender o problema, definir prioridades, sequências e tempo das etapas a
seguir;
-
agregar instrutores ou mentores que modelem o processo pensando em voz alta;.
-
fornecer diretrizes para dividir as metas de longo prazo em objetivos atingíveis
de curto prazo.
Ponto de verificação 6.3 - Facilitar o gerenciamento de informações e recursos
Um dos limites das funções executivas é imposto pelas limitações da memória de
trabalho. Esse tipo de caderno de anotações, no qual são mantidas informações
que podemos acessar como parte do entendimento e da solução de problemas, é
muito limitado para alguns estudantes e até severamente limitado para aqueles
com deficiências cognitivas e problemas de aprendizagem. Consequentemente,
muitos desses alunos podem parecer desorganizados, esquecidos e mal preparados.
Sempre que a capacidade de usar a memória de trabalho não for um elemento
relevante em uma lição ou conteúdo de aprendizagem, é importante oferecer
estruturas internas e organizadores externos, como os utilizados pelas pessoas
que usam as funções executivas, para manter as informações organizadas e em
mente.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Proporcionar organizadores gráficos e modelos para a coleta e a organização de
informações;
-
integrar lembretes e avisos para categorizar e sistematizar;
-
oferecer listas de verificação e diretrizes para tomar notas.
Ponto de verificação 6.4 - Aumentar a capacidade de acompanhar os progressos
A aprendizagem não pode ocorrer se não houver retorno; isso significa que os
estudantes precisam de uma imagem clara do progresso que estão, ou não, obtendo.
Quando avaliações e retornos sistemáticos não informam sobre o processo ou essas
informações não são fornecidas regularmente, não pode haver alterações nesse
processo, pois os alunos não sabem como fazê-lo de maneira diferente.
Essa falta de conhecimento sobre o que melhorar pode fazer com que alguns
estudantes pareçam teimosos, negligentes ou desmotivados. Para esses alunos, e,
às vezes, para a maior parte deles, é importante garantir que as opções possam
ser personalizadas para dar um feedback mais explícito, regular, informativo e
acessível em todos os momentos. Fornecer esses retornos formativos, permitindo
aos estudantes monitorar efetivamente seu próprio progresso e usar essas
informações para orientar seus esforços e práticas, é essencial.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Fazer perguntas para orientar o autocontrole e a reflexão;
-
mostrar representações do progresso (por exemplo, antes e depois com fotos,
gráficos e diagramas ou tabelas expondo o progresso ao longo do tempo,
portfólios de processos);
-
pedir aos estudantes que identifiquem o tipo de retorno ou conselho que estão
procurando;
-
usar modelos que orientem a autorreflexão sobre a qualidade do que foi
concluído;
-
fornecer modelos diferentes de estratégias de autoavaliação (por exemplo,
dramatização, revisão de vídeos, avaliação de colegas);
-
utilizar listas de verificação para avaliação, matrizes de avaliação (rubricas
de pontuação) e exemplos de práticas ou trabalhos de estudantes avaliados com
anotações ou comentários.
Princípio III: Proporcionar modos múltiplos de implicação, engajamento e
envolvimento (o porquê da aprendizagem)
O componente afetivo desempenha um papel crucial na aprendizagem e, portanto, os
estudantes diferem muito na maneira como estão envolvidos ou no que os motiva a
aprender. Essas diferenças podem ter origem em causas múltiplas e diversas,
incluindo aquelas de interesse neurológico, cultural, pessoal, subjetivo ou de
conhecimento e experiência anteriores, entre outros fatores.
Para alguns, a novidade e a espontaneidade podem ser motivadoras, enquanto para
outros podem gerar desmotivação ou até medo, preferindo ambientes rotineiros. Há
quem prefira trabalhar sozinho, enquanto outros estão mais envolvidos no
trabalho com os colegas. Na realidade, não existe uma forma única de
participação ideal para todos os estudantes e em todos os contextos; portanto, é
essencial fornecer várias opções para facilitar o envolvimento.
2.4.7 Diretriz 7 - Proporcionar opções para promover o interesse por parte dos
estudantes
A informação em que não se presta atenção, que não supõe uma atividade cognitiva
do estudante, apresenta, de fato, dificuldades para ser comprendida, tanto no
momento presente quanto no futuro, porque o que poderia ser relevante passa
despercebido e não se processa. Por isso, boa parte da atividade dos professores
é dedicada a captar a atenção e o envolvimento dos estudantes, posto que eles
diferem significativamente no que atrai sua atenção e motiva seu interesse.
Essas preferências, e o próprio estudante, podem variar ao longo do tempo e
dependendo das circunstâncias. Os interesses mudam à medida que evoluem e novos
conhecimentos e habilidades são adquiridos; quando que sua biologia muda e se
tornam adolescentes ou adultos. Logo, é relevante ter formas alternativas de
promover o interesse e estratégias que correspondam às diferenças intra e
interindividuais existentes entre os estudantes para seu engajamento.
Ponto de verificação 7.1 - Otimizar a escolha individual e a autonomia
Em um contexto educacional, geralmente, não são oferecidas opções sobre
objetivos de aprendizagem, mas considera-se adequado oferecer diferentes
possibilidades sobre como se podem alcançar esses objetivos, sobre os contextos
para atingi-los e as ferramentas e apoios disponíveis.
Viabilizar opções aos estudantes pode contribuir para desenvolver sua
autodeterminação, sua satisfação com as conquistas alcançadas, e aumentar o grau
em que eles se sentem vinculados ao seu próprio aprendizado. No entanto, é
importante observar que os estudantes diferem no tipo de decisão que preferem
tomar; portanto, não basta apenas fornecer opções. Para garantir a participação,
o tipo de escolha e o nível de independência possível devem ser ajustados às
opções a serem apresentadas.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Oferecer aos estudantes, com a máxima discrição e autonomia possível,
possibilidades de escolha em questões como:
-
o nível de desafio percebido;
-
o tipo de prêmios ou recompensas disponíveis;
-
o contexto ou os conteúdos utilizados para a prática e a avaliação de
competências;
-
as ferramentas para coletar e produzir informações;
-
a cor, a forma, os gráficos, a apresentação etc.;
-
a sequência ou os horários para concluir as diferentes partes das tarefas.
-
permitir que os estudantes participem do processo de elaboração de atividades da
sala de aula e das tarefas acadêmicas;
-
envolver os estudantes, sempre que possível, no estabelecimento de suas próprias
metas acadêmicas, comportamentais e pessoais.
Ponto de verificação 7.2 - Otimizar a relevância, o valor e a utilidade das
atividades
Os estudantes se envolvem mais quando as informações e atividades que precisam
realizar são relevantes para eles e têm valor para seus interesses e objetivos.
Isso não significa, necessariamente, que a situação deve ser equivalente à vida
real em todos os casos, uma vez que a ficção pode motivar tanto quanto a não
ficção, mas deve ser relevante e autêntica/real para os objetivos pessoais e de
aprendizagem.
Os alunos raramente se interessam por informações e atividades que não têm valor
para eles ou que não são relevantes. Em um contexto educacional, uma das
maneiras mais importantes para os professores captarem seu interesse é
destacando a utilidade da aprendizagem e demonstrando sua relevância por meio de
atividades reais e significativas. Obviamente, nem todos os estudantes
consideram as mesmas atividades ou informações expressivas para seus objetivos.
Para oferecer a oportunidade de que todos se envolvam igualmente, é essencial
fornecer opções diferentes que otimizem o que é valioso e significativo para
cada um deles.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Variar as atividades e as fontes de informação para que elas possam ser:
-
personalizadas e contextualizadas na vida real ou no interesse dos estudantes;
-
culturalmente sensíveis e significativas;
-
socialmente relevantes;
-
apropriadas para cada idade e capacidade;
-
adequadas para diferentes raças, culturas, etnias e sexos.
-
criar atividades nas quais os resultados sejam autênticos, comunicáveis a um
público real e que reflitam um objetivo claro para os participantes;
-
fornecer tarefas que permitam participação ativa, exploração e experimentação;
-
promover o desenvolvimento de respostas pessoais, avaliação e autorreflexão em
relação a conteúdos e atividades;
-
incluir atividades que incentivem o uso da imaginação para resolver problemas
novos e relevantes, ou que deem significado a ideias complexas de maneira
criativa.
Ponto de verificação 7.3 - Minimizar a sensação de insegurança e as distrações
Uma das coisas mais importantes que um professor pode fazer é criar espaços onde
os estudantes se sintam confiantes para aprender. Para isso, é necessário
reduzir as possíveis causas de insegurança e distrações.
Quando os estudantes precisam focar sua atenção em satisfazer suas necessidades
básicas ou evitar uma experiência negativa, é difícil para eles se concentrarem
no processo de aprendizagem. Além da segurança física dos ambientes
educacionais, outros tipos de ameaças e distrações mais sutis também devem ser
levados em consideração. O que é ameaçador ou potencialmente perturbador depende
das necessidades individuais e do histórico do aluno. Um estudante de inglês
pode considerar a experiência com esse idioma ameaçadora, enquanto outros podem
julgar que a estimulação sensorial excessiva os distrai demais. O ambiente
educacional ideal oferece opções que reduzem o sentimento de insegurança, a
percepção de ameaças e distrações para todos, criando um espaço seguro no qual a
aprendizagem pode ocorrer.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Criar um clima de apoio e aceitação na sala de aula;
-
reduzir os níveis de incerteza:
-
usar gráficos, calendários, programas, lembretes etc., que possam incrementar a
previsibilidade das atividades diárias;
-
elaborar rotinas de classe;
-
disponibilizar lembretes e pré-visualizações que permitam aos estudantes
antecipar e estar preparados para mudanças em novas atividades, programas e
eventos;
-
minimizar as opções que podem se contrapor às anteriores, maximizar o
inesperado, a surpresa ou a novidade em atividades muito rotineiras.
-
variar os níveis de estimulação sensorial;
-
diversificar em relação à presença de ruído de fundo ou à estimulação visual, ao
número de elementos, às características ou aos itens que são apresentados ao
mesmo tempo;
-
modalizar o ritmo de trabalho, a duração das sessões, a disponibilidade de
pausas, os tempos de espera, a temporização ou a sequência de atividades;
-
modificar as demandas sociais necessárias para aprender ou realizar algo, o
nível percebido de ajuda e proteção e os requisitos para fazer uma apresentação
e uma avaliação pública;
-
envolver todos os estudantes da turma em debates.
2.4.8 Diretriz 8 - Proporcionar opções para manter o esforço e A persistência
Muitos tipos de aprendizagens, principalmente habilidades e estratégias, exigem
atenção e esforço contínuos. Quando os alunos estão motivados, podem regular sua
atenção e a parte emocional para manter o esforço e a concentração que esse
aprendizado exige. No entanto, os estudantes diferem consideravelmente em sua
capacidade de se autorregularem nesse sentido. Essas diferenças também são
evidentes em sua motivação inicial, em suas habilidades e autorregulação, em sua
sensibilidade à interferência de contexto, e assim por diante.
Um objetivo educacional fundamental é desenvolver as habilidades individuais de
autorregulação e autodeterminação que garantam todas as oportunidades de
aprendizagem (ver Diretriz 9). Enquanto isso, o ambiente externo deve oferecer
opções compatíveis com a acessibilidade, apoiando os alunos que se distinguem em
sua motivação inicial, em suas capacidades de autorregulação etc.
Ponto de verificação 8.1 - Ressaltar a relevância de metas e objetivos
No decorrer de qualquer projeto em andamento, ao longo do tempo ou na prática
sistemática, existem muitas fontes de interesse e motivação que competem por
atenção e esforço. Alguns alunos precisam de ajuda para lembrar o objetivo
inicial ou para manter uma visão estável das recompensas por atingir esse
objetivo. Para estes, é importante estabelecer um sistema de lembretes
periódicos ou constantes que os lembre o objetivo e sua relevância, a fim de
garantir que eles mantenham esforço e concentração, mesmo que surjam elementos
complicadores.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Pedir aos alunos para formular explicitamente o objetivo ou repensá-lo;
-
apresentar o objetivo de diferentes maneiras;
-
incentivar a divisão das metas de longo prazo em objetivos de curto prazo;
-
demonstrar o uso de ferramentas manuais e de gerenciamento de tempo do
computador;
-
usar instruções e suportes para visualizar o resultado esperado;
-
incluir os alunos em debates de avaliação sobre o que constitui excelência e
gerar exemplos relevantes que se conectam às suas origens e aos interesses
culturais.
Ponto de verificação 8.2 - Variar as exigências e os recursos para otimizar os
desafios
Os alunos não são apenas diferentes em suas habilidades e capacidades, mas
também nos tipos de desafios que os motivam a dar o melhor de si. Todos eles
precisam de desafios, mas nem sempre da mesma maneira. Além de estabelecer
requisitos de natureza diferente e com níveis variados de dificuldade, os
estudantes devem receber recursos diversos, adequados para concluir a tarefa com
sucesso. Sem os recursos adequados e flexíveis, eles não serão capazes de
executar a tarefa.
Oferecer uma variedade de propostas ou tarefas e um repertório de recursos
possíveis permitirá que todos os alunos encontrem os desafios mais motivadores,
sendo essencial considerar que existem recursos suficientes para enfrentá-los.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Diferenciar o grau de dificuldade ou complexidade com que as atividades
fundamentais podem ser concluídas;
-
fornecer alternativas em relação às ferramentas e aos suportes permitidos;
-
variar os graus de liberdade para considerar um resultado aceitável;
-
enfatizar o processo, o esforço e a melhoria na obtenção dos objetivos como
alternativas à avaliação externa e à concorrência.
Ponto de verificação 8.3 - Fomentar a colaboração e a cooperação
No século XXI, todos os alunos devem ser capazes de se comunicar e colaborar
efetivamente em uma comunidade de aprendizagem (o que é mais fácil para alguns
do que para outros), que deve ser um objetivo comum para todos os alunos. A
atribuição de mentores ou de pares pode aumentar bastante as oportunidades de
suporte individualizado, um a um. Quando essa tutoria de pares é cuidadosamente
estruturada, a ajuda disponível para manter o envolvimento pode ser
significativamente aumentada. O agrupamento flexível, ao invés de fixo, permite
uma melhor diferenciação e uma adoção de várias funções, além de oferecer
oportunidades para aprender a trabalhar de forma mais eficaz com outras pessoas.
Diferentes possibilidades devem ser mostradas aos alunos sobre como desenvolver
e usar essas habilidades importantes.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Criar grupos de colaboração com objetivos, funções e responsabilidades claras;
-
propor programas para toda a escola para apoiar o bom comportamento, com
objetivos e recursos diferenciados;
-
facilitar instruções para orientar os alunos sobre quando e como pedir ajuda a
outros colegas ou professores;
-
incentivar e apoiar oportunidades de interação entre pares (por exemplo,
tutores);
-
formar comunidades de aprendizagem focadas em interesses ou atividades comuns;
-
oferecer expectativas para o trabalho em grupo (por exemplo, rubricas, regras
etc.).
Ponto de verificação 8.4 - Utilizar o retorno (feedback) orientado para o
domínio em uma tarefa
A avaliação é mais eficaz em manter o envolvimento quando o retorno é relevante,
construtivo, acessível, consistente e oportuno. Mas o tipo de devolutiva também
é decisivo para ajudar os alunos a manter a motivação e o esforço necessários
para aprender. O retorno orientado para o domínio de algo é o tipo de feedback
que estimula os alunos para o domínio ou a excelência nessa habilidade, em vez
de um conceito fixo de desempenho ou conquista. Isso também enfatiza o papel do
esforço e da prática como fatores que orientam os alunos em direção a bons
hábitos e práticas de aprendizagem duradouras, enfatizando sua inteligência e
capacidade. Essas distinções podem ser particularmente importantes para os
alunos cujas deficiências foram interpretadas, por si ou por seus educadores,
como permanentes, restritivas e fixas.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Oferecer devolutivas que promovam a perseverança, que se concentrem no
desenvolvimento da eficácia e na autoconsciência, e que incentivem o uso de
estratégias e apoios específicos para enfrentar um desafio;
-
facilitar retornos que enfatizem o esforço, a melhoria, a conquista ou a
abordagem de um padrão, melhor do que no desempenho concreto;
-
proporcionar devolutivas específicas, com frequência e em tempo hábil;
-
fornecer comentários substantivos e informativos, em vez de comparativos ou
competitivos;
-
dar retornos que modelem como incorporar a avaliação em estratégias positivas
para o sucesso futuro, incluindo a identificação de padrões de erros e respostas
incorretas.
2.4.9 Diretriz 9 - Proporcionar opções para a autorregulação
Embora seja importante cuidar dos elementos extrínsecos da aprendizagem para
contribuir para uma maior motivação e envolvimento (ver Diretrizes 7 e 8),
também é expressivo que os estudantes desenvolvam habilidades intrínsecas para
regular suas próprias emoções e motivações.
A capacidade de se autorregular, modular estrategicamente as próprias reações ou
estados emocionais, para ser mais eficaz ao lidar e interagir com o meio
ambiente, é um aspecto fundamental do desenvolvimento humano. Ainda que muitas
pessoas consigam desenvolver essas habilidades por conta própria, por erro ou
observando modelos (eficazes, apropriados) em outros adultos, muitas outras
encontram grandes dificuldades.
Infelizmente, alguns planejamentos não contemplam explicitamente o
desenvolvimento dessas habilidades, deixando-as como parte de um currículo
implícito, que geralmente é inacessível ou invisível para a maioria. Aqueles
professores e currículos que abordam explicitamente a autorregulação,
provavelmente terão mais sucesso na aplicação dos princípios do DUA por meio da
modelagem e conseguirão que os estudantes alcancem essa capacidade com métodos
variados.
Como em qualquer aprendizagem, as diferenças individuais são muito comuns.
Portanto, é conveniente oferecer alternativas suficientes para ajudar os
estudantes com suas experiências prévias e habilidades diferentes para que se
envolvam efetivamente com seu próprio aprendizado.
Ponto de verificação 9.1 - Promover expectativas e crenças que otimizem a
motivação
Um aspecto importante da autorregulação é o conhecimento individual de cada
estudante sobre o que ele considera motivador, intrinsecamente ou
extrinsecamente. Para conseguir isso, eles precisam ser capazes de definir
objetivos pessoais, que podem ser alcançados de maneira realista, além de
incentivar pensamentos positivos sobre a possibilidade de alcançar esses
objetivos. No entanto, os alunos também precisam conseguir lidar com a
frustração e evitar a ansiedade durante todo o processo para alcançá-los. Logo,
múltiplas opções devem ser oferecidas para ajudar todos os estudantes a
permanecerem motivados.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Fornecer avisos, lembretes, diretrizes, rubricas, listas de verificação com
objetivos de autorregulação, de como reduzir a frequência de surtos agressivos
em resposta às frustrações;
-
incrementar o tempo de concentração em uma tarefa, mesmo que ocorram distrações.
-
aumentar a frequência com que a autorreflexão e os autorreforços ocorrem;
-
facilitar a orientação, o aconselhamento, ou o apoio a esse modelo, e o processo
a ser seguido para se estabelecer as metas pessoais adequadas, levando em conta
tanto os pontos fortes quanto os fracos de cada um;
-
apoiar atividades que promovam a autorreflexão e a identificação de objetivos
pessoais.
Ponto de verificação 9.2 - Facilitar estratégias e habilidades pessoais para
lidar com os problemas da vida cotidiana.
Facilitar um modelo de habilidades de autorregulação não é suficiente para a
maioria dos estudantes. Eles precisarão de aprendizagens baseadas em uma
estrutura (andaimes) e que se estendam ao longo do tempo: lembretes, modelos,
exemplos, listas de verificação e outros suportes semelhantes que podem ajudar a
escolher e testar estratégias adaptativas para gerenciar, orientar ou controlar
suas respostas emocionais a eventos externos; estratégias para enfrentar
situações sociais que produzem ansiedade ou para reduzir as distrações durante a
execução de uma tarefa; acontecimentos de caráter interno, por exemplo;
estratégias para reduzir pensamentos negativos, pensamentos de ideias
depressivas ou geradoras de ansiedade. Esses apoios devem oferecer alternativas
suficientes para suprir as diferenças individuais, tanto nos tipos de
estratégias que podem ser convenientes quanto na independência com que podem ser
aplicadas.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Oferecer diferentes modelos, apoios e devolutivas para:
-
gerenciar frustrações;
-
buscar apoio emocional externo.
-
desenvolver controles e habilidades internas para lidar com situações
conflitantes ou sensíveis;
-
manipular adequadamente fobias ou medos e julgamentos sobre a aptidão natural
(por exemplo: Como posso melhorar em áreas que exigem mais esforços? é melhor do
que Não sou bom em matemática);
-
usar situações reais ou simulações para demonstrar as habilidades para enfrentar
os problemas da vida cotidiana.
Ponto de verificação 9.3 - Desenvolver a autoavaliação e a reflexão
Para desenvolver uma melhor capacidade de autorregulação, os estudantes precisam
aprender a controlar cuidadosamente suas emoções e sua capacidade de reagir. As
pessoas diferem consideravelmente em sua capacidade e tendência à metacognição,
portanto, alguns precisarão de instruções muito mais explícitas e modeladas para
aprender como fazê-las com sucesso igual aos outros.
Para muitos alunos, o mero fato de reconhecer que eles estão progredindo em
direção a uma maior independência é muito motivador. Por outro lado, um dos
elementos-chave na perda de motivação dos estudantes é a dificuldade em
reconhecer seu próprio progresso. Fazse necessário que os estudantes tenham
vários modelos, diretrizes para diferentes técnicas de autoavaliação, para que
cada um possa identificar e escolher o melhor para si.
Exemplos de como implementá-lo:
-
Oferecer dispositivos, auxílios ou gráficos para facilitar o processo de
aprendizagem para coletar e representar os dados de suas próprias escolhas, com
o objetivo de controlar as alterações nesses comportamentos;
-
usar atividades que incluam meios pelos quais os estudantes obtenham retornos e
tenham acesso a recursos alternativos (por exemplo, gráficos, modelos, sistemas
de devolutivas na tela etc.), que favoreçam o reconhecimento do progresso de
maneira compreensível e oportuna.
Fim
NOTAS
2 No documento original: Universal Design Learning Guidelines.
3 Tradução para o português (Brasil) - Versão 2.0. Grupo de Estudos
“Pesquisas em Políticas e Práticas educativas Inclusivas - Reconstruindo a
escola” (GEPPPEI-RE). Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Campo
Grande/Mato Grosso do Sul/Brasil.
5 No original, Universal Design for Learning (UDL).
6 O CAST foi fundado em 1984 como o Centro de
Tecnologia Especial Aplicada e tem conseguido o reconhecimento internacional
pelo tratamento inovador para expandir as oportunidades educativas para todos os
indivíduos, baseados nos principios do Desenho Universal para a Aprendizagem.
7 Ronald L. Mace foi o criador do The Center for
Universal Design (CUD). O Centro para o Desenho Universal é uma referência
nacional de assistência técnica e um centro de pesquisa que avalia, desenvolve e
promove um desenho acessível e universal em lares, comércios, repartições
públicas, ambientes ao ar livre e produtos. Sua missão é melhorar entornos e
produtos por meio da inovação em desenho, pesquisa, educação e assistência para
o desenho. Recuperado em 24 de julho de 2020
https://projects.ncsu.edu/
8 Construção irrelevante é o grau em que os resultados dos testes são
influenciados por fatores irrelevantes - não relacionados - ao construto que o
teste está tentando medir. Por exemplo: apresentação ou modo de resposta. Uso
contextual: para Elisa, uma estudante com deficiência cognitiva grave, alterar o
tamanho da fonte e aumentar o tamanho das imagens ajuda-a a avaliar o item
contar objetos. Esta é uma construção irrelevante (dificuldade não desejada)
para avaliar a capacidade de contar. Recuperado em 24 de julho de 2020 de
http://naac.cast.org/.
9 Para uma discussão mais elaborada sobre os papéis complementares do DUA
e da tecnologia assistiva conforme Rose, Hasselbring, Stahl e Zabala (2005).
10 Também chamado de progresso gradual ou scaffolding na versao original
da obra de Vygotsky.
12 Nota do tradutor: No original consta um método específico, o KWL -
Know, Want-to-know, Learned -, porém, optou-se por colocar esse tipo de
estratégia de forma geral.
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