Tiago da Silva Gomes

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RESUMO |
Crianças e adolescentes com diferentes défices visuais, isto é, cegas e com
baixa visão têm condicionalismos nas oportunidades na prática de atividade
física, o que poderá ter implicações na qualidade de vida. O reduzido número de
estudos relacionados com a atividade física e qualidade de vida enfatizam a
necessidade de mais investigação nesta área de conhecimento, de modo a melhor
compreender este fenómeno. A pesquisa bibliográfica realizada teve como
finalidade fundamentar todas as dimensões do trabalho, contextualizando tanto
quanto possível as variáveis em apreço e explorando as potenciais relações entre
elas.
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Assim, o presente estudo tem como objetivo a determinação dos níveis de adesão à
atividade física e a determinação da qualidade de vida em crianças e jovens
cegos e de baixa visão.
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A recolha dos dados foi realizada através de uma entrevista a 35 crianças e
jovens que sofriam de cegueira ou baixa visão. Neste estudo foram utilizados os
procedimentos antropométricos conforme descritos no manual do American College
of Sports Medicine (ACSM, 2006), para determinar o índice de massa corporal, a
estatura, a circunferência da anca, a circunferência da cintura e a circunfência
abdominal. Os questionários utilizados foram o International Physical Activity
Questionnary, que permitiu caraterizar a atividade física, o World Health
Organization Quality of Life – Bref, versão portuguesa, que permitiu caraterizar
a qualidade de vida, e a Classificação Internacional proposta por Graffar, para
determinar as classes sociais.
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Como principais conclusões podemos afirmar que o género masculino quando
comparado com o género feminino obtém melhores resultados em relação ao nível de
atividade física e qualidade de vida. Quando feita a comparação dos níveis de
atividade física entre géneros verificamos que o género masculino apresenta um
nível moderado de atividade física. Já em relação à qualidade de vida,
observamos que em todos os domínios e perceções estudados o género masculino
apresenta valores mais elevados do que o género feminino.
1. INTRODUÇÃO
1.1. Preâmbulo
Segundo o Observatório Nacional da Atividade Física e do Desporto 1, crianças e
adolescentes devem praticar 60 minutos (1hora) ou mais de atividade física (AF)
diária devendo, essa AF conter 3 componentes essenciais: a atividade aeróbica, o
fortalecimento muscular e por fim o fortalecimento ósseo.
A AF praticada regularmente pode diminuir o risco ou a evolução de doenças
cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais, problemas hipertensos,
diabetes, osteoporose, cancro, ansiedade e depressão, sendo ainda determinante
para o controlo do peso corporal 2.
A qualidade de vida (QV) é definida como “a perceção do indivíduo sobre a sua
inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele
vive e em relação aos seus objetivos, expectativas e preocupações” 3.
Depois de definir um breve conceito sobre a AF e QV, surge a pertinência e
análise deste estudo: as crianças e adolescentes com diferentes défices visuais,
isto é, cegas e com baixa visão (BV) também têm as mesmas oportunidades?
Estudar sobre os temas da caraterização da AF e QV em crianças e jovens cegos e
com BV baseando-se na organização da sociedade atual dita como inclusiva pode
parecer contraditório, pois as oportunidades dadas a estas pessoas não parecem
ser iguais às proporcionadas às pessoas ditas “normais”.
A AF nestes indivíduos não é algo que a sociedade ainda esteja pronta para ver
como natural 4. A QV deixou significativamente de representar apenas uma vida sem
quaisquer tipos de doenças, mas acima de tudo a procura pelo bem-estar físico e
psicológico e satisfação pessoal em todos os aspetos da vida 5.
Assim, o objetivo deste estudo foi determinar os níveis de AF e QV em crianças e
jovens cegos e com BV.
1.2. Apresentação do problema
O propósito da presente investigação consiste na caraterização dos níveis de AF
e de QV em crianças e jovens cegos e de BV.
Mais especificamente, este estudo será efetuado para:
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Determinar níveis de adesão à AF em crianças e jovens cegos e de BV.
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Determinar os níveis de QV em crianças e jovens cegos e de BV.
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Comparar os níveis de adesão à AF entre os grupos de crianças e jovens cegos e
de BV, nos diferentes géneros e de diferentes classes sociais.
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Comparar os níveis de QV entre os grupos de crianças e jovens cegos e de BV,
nos diferentes géneros e de diferentes classes sociais.
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Determinar associações entre níveis de AF e níveis de QV.
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Determinar associações entre o IMC, a AF, a QV, o género e a classe social.
1.3. Pertinência do estudo
Havendo ainda muitos aspetos por esclarecer sobre a importância da AF e QV em
crianças e jovens com DV revelou-se importante a realização do mesmo. A ausência
ou diminuição da visão torna-se um obstáculo importante para a aprendizagem,
desenvolvimento ou manutenção motora, principalmente no âmbito da orientação e
mobilidade, cuja é estabelecida em pontos de referência 6. O bem-estar
biopsicossocial pode ser promovido através da AF regular que além de beneficiar
a saúde e reduzir o risco de doenças, torna os indivíduos mais ativos
fisicamente, sendo assim a QV melhora substancialmente 7.
Na investigação 8, não houve nenhuma diferença estatisticamente significativa na
AF, composição corporal e QV que foram observadas entre os participantes do
género feminino e masculino, com diferentes níveis de DV. No entanto, as
mulheres tinham níveis mais altos de adiposidade relativa e menor perceção da QV
do que nos homens.
De acordo com as evidências anteriormente expostas, verificamos que em Portugal
ainda existem poucos estudos desenvolvidos nos campos da DV e QV em crianças e
jovens, desta forma surgiu o interesse de abordar esta temática.
1.4. Pressupostos e delimitações
Os pressupostos são premissas lógicas nas quais o problema de estudo está
baseado e que não interferem com a validade dos resultados. Devem ser reduzidos
ao mínimo de forma a não enfraquecer demasiado os resultados obtidos.
As delimitações são condicionantes que podem interferir com a validade dos
resultados e devem ser enfrentadas pelo investigador onde se tomará as
necessárias medidas, descritas nos procedimentos, para minimizar os seus efeitos
(ex. instrumentos de pouca confiança, pouca cooperação dos participantes,
amostragem tendenciosa ou comprometida, etc.).
A realização da aplicação experimental e processamento dos dados deste estudo
foram desenvolvidos considerando a assunção de certas premissas, nomeadamente:
a) Não existe controlo sobre a veracidade das respostas, pressupondo-se que os
indivíduos respondem honestamente ao questionário.
b) As medições realizadas como o IMC, e algumas medidas antropométricas (ex.
medição do perímetro da cintura, medição do perímetro da anca e medição do
perímetro abdominal) foram realizados nas mesmas condições para todos os
participantes.
As delimitações estão relacionadas com os pressupostos assumidos e mesmo com as
definições operacionais. Partindo desta consideração pode identificar-se a
seguinte delimitação:
a) Erros de medida associados aos aparelhos utilizados.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Introdução
Nas sociedades ocidentais verifica-se um aumento de excesso de peso e obesidade
nas crianças e jovens, aumento este que está relacionado com a falta da prática
de AF. Hábitos como jogar computador ou ver televisão correspondem a estilos de
vida modernos, nos quais se promove cada vez mais o sedentarismo 9.
Para além dos benefícios fisiológicos, o exercício físico gera efeitos
psicológicos positivos, tais como melhora o humor, redução do stress, aumento da
autoestima devido à melhora da auto eficiência e esquemas cognitivos que
favorecem o raciocínio otimista 10.
Neste contexto, vemos que a AF nestas idades tem vindo a diminuir, mesmo sabendo
que trás imensos benefícios para as crianças e jovens ditas “normais”, e para as
crianças e jovens com DV? Será também benéfico?
Para responder a estas questões vamos verificar o que nos diz a Carta Europeia
do Desporto para Todos: as Pessoas Deficientes do Conselho da Europa (1988),
declara que a AF tem de ser vista como meio privilegiado de educação, de
adaptação, de lazer e de integração social. Assim, a AF para população com
deficiência, qualquer que seja a deficiência, está a atingir níveis de expansão
importantes, o que leva os indivíduos a ter uma vida mais digna e com melhor
qualidade 11.
A Convenção dos Direitos da Criança no artigo 31º, reconhece o direito ao
repouso e aos tempos livres, o direito da criança ter acesso a jogos e
atividades recreativas próprias da sua idade, e participar livremente na vida
cultural e artística, facultando-lhes uma melhor QV.
No que diz respeito à DV, esta pode ser subdividida em cegueira ou BV, sendo que
a cegueira é “uma alteração grave ou total de uma ou mais funções elementares da
visão que afeta de modo irremediável a capacidade de perceber a cor, o tamanho,
a forma, a posição ou movimento em um campo mais ou menos abrangente”, sendo a
baixa visão vista como “complexa devido à variedade e à intensidade de
comprometimento das funções visuais…” 12. Verificamos ainda que a DV pode ser
congénita (do nascimento até aos dois anos) ou adquirida (após os dois anos de
idade).
Assim o presente estudo pretende analisar a AF em crianças e jovens com DV,
através de variáveis antropométricas, e de um questionário que engloba a QV, a
classe social em que a criança e jovem se insere, tentando comparar sempre com a
prática de AF.
2.2. Caraterização da atividade física em crianças e jovens
2.2.1. Caraterização da atividade física
Ao longo da evolução dos tempos, têm existido diversas definições para a AF. Ao
rever a história da humanidade é possível perceber a presença da AF associada a
uma movimentação corporal que produziu um aprimoramento de habilidades motoras
de modo a garantir a sobrevivência do próprio ser humano, sendo que essas
habilidades procuravam responder às necessidades e objetivos de cada época
histórica. As habilidades motoras passaram a ser utilizadas com “finalidades de
ordem guerreira, terapêutica, desportiva e educacional” 13.
Desse modo, podemos afirmar que desde os primórdios da civilização, assim que o
homem assumiu a posição bípede, a AF corresponde a um autêntico programa com
exercícios naturais, realizando ações como andar, correr, saltar, nadar,
arremessar, empurrar, puxar.
Na atualidade, o conceito sofreu uma nova modificação, a AF foi considerada como
“qualquer movimento corporal produzido pela contração dos músculos esqueléticos
que aumenta o gasto energético acima do nível basal” 14. É assim uma definição
muito idêntica à anterior, mas agora com mais ênfase na quantificação do gasto
energético.
Porém, apesar dos benefícios da AF, o comportamento sedentário é caraterístico
da civilização moderna. No decorrer dos últimos 50 anos, a AF ocupacional tem
vindo a decrescer cada vez mais, pois o grande aumento da mecanização do
trabalho e das atividades domésticas diminuiu a AF na vida moderna.
2.2.2. Atividade física em crianças e jovens
No que diz respeito aos jovens, estes devem ser incluídos em programas regulares
de AF de diferentes tipos, variando com a sua idade, com o tipo de desporto com
que se identificam e a exigência do mesmo, onde para tal é através da comunidade
e sociedade que advêm os equipamentos disponíveis para a prática 15. Assim sendo
a AF deve ser entendida como um comportamento multidimensional onde devemos
integrar várias variáveis como, a duração, a intensidade, a frequência, a
energia despendida por minuto ou hora e podemos também incluir variáveis como as
circunstâncias e o objetivo.
As crianças até aos 9 anos, devem ser direcionadas a realizar atividades livres,
como: corridas, jogos de perseguição, saltar à corda e atividades desportivas
apropriadas para a sua idade, que deverão ser alinhadas com o desenvolvimento
das habilidades motoras básicas. Por volta dos 10/11 anos as habilidades motoras
a desenvolver deverão ser tanto básicas como complexas, em percentagens
similares. A partir dos 18 anos deverão ser desenvolvidas habilidades motoras
complexas, quase exclusivamente 16.
2.2.3. Benefícios da atividade física em crianças e jovens
No que diz respeito aos benefícios da AF nos jovens, a sua prática de pelo menos
60 minutos todos os dias, trás imensos benefícios 17. A prática regular da AF tem
influência na construção e no desenvolvimento dos ossos e dos músculos,
tornando-os mais saudáveis, melhorando a força e a resistência muscular,
ajudando deste modo a reduzir o risco do desenvolvimento da obesidade e das
doenças crónicas, como a diabetes, doenças cardiovasculares, e do cancro do
cólon, melhora ainda a auto estima, reduzindo os sentimentos de depressão e
ansiedade, promovendo um bem-estar psicológico 18. Pensa-se que pode melhorar
também o desempenho académico, como o aumento dos conhecimentos, melhoria das
classificações, comportamento, concentração e atenção na sala de aula
19.
2.3. Caraterização da qualidade de vida em crianças e jovens
2.3.1. Caraterização da qualidade de vida
O interesse por esta temática da QV existe desde os tempos remotos, mas o
conceito surgiu, com a necessidade da avaliação sistemática e cientifica do
mesmo 20. No entanto, logo a seguir ao aparecimento das economias do pós-guerra,
sofreu-se um significativo desenvolvimento, essencialmente nos países mais
avançados.
Até ao século XX, políticos, filósofos e académicos consideram a QV como sendo o
resultado da capacidade humana para o pleno uso das potencialidades económicas,
sociais e políticas, visando o desenvolvimento equilibrado da sociedade e com
respeito pelo universalismo do direito à vida 21.
Neste sentido, formularam-se várias definições de QV ao longo dos anos, desde a
avaliação pessoal e global dos bens e das características
satisfatórias de vida, até ao nível da satisfação das necessidades físicas,
sociais, psicológicas, estruturais e materiais do indivíduo 22.
A partir dos anos 90, parece consolidar-se um consenso entre os estudiosos da
área quanto a dois aspetos relevantes do conceito de QV: subjetividade e
multidimensionalidade 23. Organizaram-se assim alguns princípios nucleares da
conceptualização da seguinte forma 24:
No que diz respeito à conceptualização, considera-se que:
1. A QV é multidimensional, sendo influenciada pelo contexto onde a pessoa se
insere e pela relação que estabelece com o meio;
2. As componentes da QV são as mesmas para todas as pessoas, sendo composta
pelos fatores e relações;
3. A QV apresenta componentes objetivos e subjetivos;
4. A auto determinação, os recursos, os objetivos de vida e as sensações de
pertença reforçam a QV.
No que diz respeito à medição/avaliação da QV 25:
1. Considera as experiências de vida significativas a que as pessoas têm acesso;
2. Reflete os domínios que contribuem para uma vida plena (relação entre QV de
um indivíduo com a dos que o rodeiam);
3. Considera que os contextos físicos, social e culturais são importantes para
as pessoas;
4. Inclui a medição dos fatores que são comuns a todas as pessoas e daqueles que
são únicos a cada indivíduo (QV definida pelos próprios sujeitos);
Finalmente, no que se refere à aplicação do conceito de QV acrescentam ainda
que 26:
1. A aplicação deste conceito promove o bem-estar em sociedade;
2. Os princípios da QV devem estar na base dos planos de
intervenção/reabilitação;
3. A aplicação do conceito de QV deve ter bases comprovadas;
4. Os princípios associados a este conceito devem ter um lugar de grande
importância nos planos educacionais e de treino de competências.
Por sua vez outros estudos realizados ao longo das últimas décadas permitem
também, com base nestes 12 princípios, definir 4 guidelines a ter em conta
27
1. A QV é multidimensional, ou seja, é constituída por uma série de domínios que
se podem agrupar em oito categorias: relações interpessoais, inclusão social,
desenvolvimento pessoal, bem-estar físico, autodeterminação, bem-estar emocional
e direitos;
2. Devem desenvolver-se indicadores para cada um dos domínios da QV, levando em
consideração que estes indicadores são definidos como a relação entre a
perceção, comportamentos e condições que revelam o bem-estar do sujeito;
3. Devem estabelecer-se os aspetos objetivos e subjetivos da QV sendo no entanto
comum que exista pouca relação entre estes;
4. Deve focar-se na previsão dos resultados da QV.
Contudo, não é demais referir que a ausência de uma definição de QV, e a idade
jovem do conceito, têm levado à obtenção de inúmeras definições, cada uma delas
com técnicas próprias de avaliação, evidenciando a facilidade que existe em
obter divergências acerca do próprio conceito.
O termo de QV surge como “a perceção do indivíduo de sua posição na vida, no
contexto da cultura e no sistema de valores nos quais ele vive em relação aos
seus objetivos, expetativas, padrões e preocupações” 28, ou seja, a QV não pode
derivar apenas da capacidade individual para se envolver num conjunto incorpora
uma avaliação acerca da satisfação ou insatisfação que o indivíduo sente
relativamente às suas capacidades ou às atividades em que se consegue
envolver 29.
2.4. Deficiência Visual
No presente subcapítulo, pretendemos fazer referência à perspetiva de Corn e
Koening (1996), e à Classificação Internacional da Funcionalidade, Incapacidade
e Saúde (CIF) proposta pela OMS em 2001. No final abordaremos mais sucintamente
os temas de cegueira e BV, apresentando uma definição/conceito atual, o
desenvolvimento na sociedade a partir da década de 90, bem como algumas
estatísticas sobre a temática.
Ao longo dos séculos a deficiência visual (DV) tem assumido variadas
definições/conceitos.
Anteriormente ao século XX, a DV que fosse notada em qualquer pessoa era
automaticamente considerada cega, embora nem todas possuíssem uma perda total da
visão 30. Segundo os autores, vários países e a OMS começaram a definir
legalmente cegueira, sendo que variava de país para país, o que levava a que os
níveis de DV divergissem.
Uma DV existe sempre que todas as estruturas que fazem parte do olho, os
músculos intrínsecos e extrínsecos do olho, o trato ótico e as áreas corticais
da visão não funcionem corretamente em consequência de uma desordem
31. Esta
definição surgiu com base num modo médico 32. Esta classificação trata de uma
relação direta entre a deficiência, a incapacidade e a desvantagem,
centralizando as limitações unicamente na pessoa sem dar grande foco a fatores
ambientais.
No entanto 33, existe sempre uma DV quando se conjugam os seguintes fatores:
Uma perda das suas funções: acuidade visual, campo visual, controlo
oculomotor, motilidade ocular, acomodação e sensibilidade à luz, à cor, ao
contraste, fatores ambientais e fatores pessoais. Os fatores ambientais e
pessoais podem ser considerados barreiras ou facilitadores às atividades e às
formas de participação do indivíduo na sociedade.
Assim a DV encontra-se dividida em cinco categorias, duas para a BV e três para
a cegueira. Estes cinco níveis de DV encontram-se abaixo na tabela1
34.
Tabela 1 - Níveis de DV segundo a OMS (2010)
|
Acuidade visual com correção
|
Categorias da deficiência visual
|
Máximo (inferior a)
|
Mínimo (igual ou melhor)
|
Baixa visão moderada
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3/10 (0.3)
|
1/10 (0.1)
|
Baixa visão grave
|
1/10 (0.1)
|
1/20 (0.05)
|
Cegueira profunda
|
1/20 (0.05)
|
1/50 (0.02)
|
Cegueira quase total
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1/50 (0.02) Consegue contar dedos a 1 metro
|
Com perceção luminosa
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Cegueira total
|
Sem perceção luminosa
|
Sem perceção luminosa
|
|
|
|
Na classificação da OMS, em Portugal, a cegueira legal continua a ser definida
pelo decreto-lei n.º49331 de 1969. De acordo com o artigo 1º do referido
decreto-lei, o indivíduo é considerado cego se tiver ausência total de visão ou
tenha situações irrecuperáveis em que a acuidade visual no melhor olho e com
correção seja inferior a 1/10 (0.1) ou tenha acuidade visual superior a 1/10
(0.1) mas um campo visual ou inferior a 20º.
2.4.1. Caraterização da cegueira
A cegueira é a incapacidade de ver. No desenvolvimento evolutivo de todo o
indivíduo, torna-se um pouco difícil de aceitar a possibilidade de interação
social sem que haja a expressão e o contacto com outros indivíduos através de um
olhar 35.
No mundo existem cerca de 285 milhões de pessoas com DV’s, sendo que 39 milhões
são cegas e 246 milhões sofrem de BV.
Nas principais causas de cegueira crónica incluem-se as cataratas, glaucomas,
degeneração macular relacionada à idade, opacidades córneas, retinopatia
diabética e doenças oculares em crianças.
A cegueira pode advir desde o nascimento, através de problemas genéticos, pelo
desenvolvimento de certas doenças como o glaucoma e cataratas. Mas não só dos
problemas já anteriormente referidos surge a cegueira, pois esta pode advir de
acidentes, desnutrição, intoxicação e produtos químicos.
A DV é desigualmente distribuída pelos grupos etários, sendo que mais de 82% dos
indivíduos cegos apresentam mais de 50 anos de idade, sendo que representam 19%
da população mundial 36. Estudo da mesma organização indica que o género feminino
tem mais risco que o género masculino, e esta DV está mais associada a 90% dos
países em desenvolvimento.
Incidindo concretamente na cegueira verifica-se que ao longo da década de 90
existe uma redução na DV, pode-se afirmar que tudo isto advém de 37:
-
Desenvolvimento socioeconómico global;
-
Ações de saúde pública dos países;
-
Aumento da disponibilidade de serviços oftalmológicos;
-
Sensibilização da população mundial sobre as soluções para os problemas de DV
(cirurgia; dispositivos de refração, etc.).
2.4.2. Caracterização da Baixa Visão
A BV ocorre quando a capacidade de ver é comprometida pelo funcionamento visual
de ambos os olhos 38. Trata-se assim de uma definição técnica e quantitativa.
Assim sendo BV integra duas categorias: a BV moderada (relativa a acuidades
compreendidas entre 0,3 e 0,1) e a BV severa (relativa a acuidades visuais entre
0,1 e 0,005).
A BV é o comprometimento do funcionamento visual em ambos os olhos, mesmo após
tratamento e/ou correção de erros refracionais comuns:
-
Acuidade visual inferior a 0,3, até perceção de luz;
-
Campo visual inferior a 10º do seu ponto de fixação;
-
Capacidade potencial de utilização da visão para planeamento e execução de
tarefas 39.
A perda da função visual pode ser a nível severo, moderado ou leve, podendo ser
influenciada também por fatores ambientais inadequados.
Os principais indícios relacionados com a DV são: a constante irritação ocular;
a excessiva aproximação junto ao rosto para ler ou escrever; a dificuldade de
leitura à distância; a inclinação da cabeça para tentar visualizar melhor; a
dificuldade de visualizar pequenos obstáculos no chão; o nistagmo (olho
constantemente trémulo); o estrabismo e a dificuldade em visualizar em ambientes
claros.
2.5. Atividade física em crianças e jovens com deficiência visual
Estudos amplamente divulgados, revelam os benefícios da AF, como forma de
prevenir ou reduzir os fatores de risco ligados a doenças, observando-se ainda
um elevado índice de sedentarismo entre indivíduos dos mais diversos grupos
etários 40. Acompanhamentos longitudinais sugerem que os adolescentes menos
ativos fisicamente apresentam maior predisposição a tornarem-se adultos
sedentários 41. No entanto, ainda é possível notar uma
carência de estudos relacionados com a prática habitual de AF envolvendo
crianças e jovens com DV.
Indivíduos com deficiência são vistos como dependentes de cuidados e proteção e
historicamente têm sido excluídos das oportunidades de acesso aos programas
oferecidos a indivíduos sem deficiência 42. Comparando indivíduos ditos normais
com aqueles com DV, verifica-se que estes têm comportamentos sedentários,
existindo uma prevalência de sobrepeso e obesidade a níveis mais precários de
AF 43.
A dificuldade de desenvolver as tarefas pessoais e a dependência são
especialmente devastadoras para indivíduos que possuem DV, pois a visão é
considerada a grande promotora da integração do indivíduo em atividades motoras,
percetivas e mentais e a perda da mesma pode provocar marcantes alterações,
diminuindo a sua capacidade de adaptação na sociedade 44. Num estudo
45 realizado
com crianças e adolescentes com diversos tipos de deficiência, com idades entre
os seis e vinte, verificou-se que aqueles indivíduos que tinham DV apresentavam
níveis mais baixos de AF habitual quando comparados com indivíduos com
deficiências motoras. No entanto verificou-se ainda que aqueles que possuíam DV
percebiam as suas limitações para a prática de AF’s junto a colegas sem
deficiência, o que pode aumentar a sua falta de motivações para a realização das
atividades, dificultando a sua participação mais ativa.
O sentido visual torna-se assim um fator primordial na aprendizagem e execução
da maioria das habilidades motoras, uma vez que fornece uma informação rápida e
precisa na localização, na avaliação de espaços e distâncias, contribuindo assim
para a construção da imagem mental de envolvimento 46.
Assim sendo, verificamos que as características cognitivas, afetivas sociais e
motoras são influenciadas por fatores, quer nas relações humanas,
quer na estimulação que o indivíduo com DV recebe ou na sua oportunidade de
movimento. Verificamos assim que é fundamental intervir junto desta população,
com o objetivo de lhe serem criadas as condições necessárias para atingirem o
melhor desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e motor.
2.6 A qualidade de vida em crianças e jovens com deficiência visual
Nos últimos anos muito se tem discutido para chegar a uma melhor conclusão sobre
uma QV dos seres humanos. A QV deixou de representar apenas uma vida sem
doenças, mas acima de tudo a busca pela felicidade e satisfação pessoal diante
de todos os aspetos da vida 47. Dessa forma, a QV é a “perceção de bem-estar,
resultante de um conjunto de parâmetros individuais e socio ambientais,
modificáveis ou não, que caracterizam as condições em que vive o ser humano”. E
está associado com o “estado de saúde, longevidade, satisfação no trabalho,
salário, lazer, relações familiares, disposição, prazer e até a
espiritualidade” 48.
Caraterística como a qualidade de visão, também faz parte da QV de todos os
indivíduos, sendo que indivíduos invisuais apresentam dificuldades diárias, tais
como: vestir, comer, comunicação simples e psicossocial, disfunções ou
incapacidades que as mesmas podem acarretar para os indivíduos 49.
Assim a QV foi definida pela OMS como “a perceção do indivíduo na vida, no
contexto da cultura e do sistema de valores em que vive e em relação aos seus
objetivos, expetativas, padrões e perceções”.
Observa-se na literatura a falta de informação sobre a QV em crianças e jovens
com DV.
3. METODOLOGIA
3.1. Introdução
Com o objetivo de relacionar a AF e a QV em jovens com DV, foi concebido um
trabalho observacional, de campo, tendo por base avaliações corporais a
indivíduos que cumpram as exigências referidas abaixo.
Neste capítulo pretende-se enumerar a conceção experimental adotada, envolvendo
as variáveis selecionadas, as caraterísticas da amostra, os instrumentos
utilizados, os procedimentos relativos à aplicação dos testes, os procedimentos
de análise estatística dos dados e o modo como foi controlada a qualidade dos
mesmos.
3.2. Variáveis
As variáveis em análise abrangerão 4 grandes campos, podendo agrupar-se do
seguinte modo:
- Antropometria: massa corporal, estatura, perímetros (cintura, abdominal e
anca);
- Nível de AF;
- Qualidade de vida;
- Variáveis da idade e género das crianças e jovens separados pelos grupos de
cegueira ou BV.
Os softwares utilizados para todo o levantamento estatístico foram o Microsoft
Office Excel 2007 e o IMB SPSS Statistics 20.
3.2.1 Antropometria
Foi selecionado um conjunto de variáveis antropométricas simples e compostas de
modo à caraterização morfológica dos indivíduos que participaram no estudo.
3.2.1.2 Medidas antropométricas simples
-
Massa corporal. Medida em quilogramas (KG).
-
Estatura. Medida em centímetros (cm).
-
Circunferência da cintura. Medida em cm;
-
Circunferência da anca. Medida em cm;
-
Circunferência abdominal. Medida em cm.
3.2.1.2 Medidas antropométricas compostas
-
IMC, calculado a partir do valor da massa corporal expresso em quilogramas a
dividir pelo quadrado da estatura, expresso em metros. É expresso em KG por
metro quadrado (Kg/m2).
3.2.2 Nível de atividade física
Para a determinação do nível de AF, foi utilizado o IPAQ. Este questionário
consiste em estimar o tempo gasto em AF’s, em diferentes contextos do quotidiano
como:
-
AF no trabalho/escola – composta por 3 perguntas;
-
AF como meio de transporte – composta por 3 perguntas;
-
AF de recreação, desporto, exercício e lazer – composta por 3 perguntas;
-
O tempo que o entrevistado passa sentado – composta por 1 pergunta.
3.2.3 Qualidade de vida
Para a avaliação da QV dos participantes (neste estudo) seguiu-se o questionário
da WHOQOL - Bref – OMS versão em português de Portugal, o qual possibilita a
aferição, por parte do avaliador, da forma como os indivíduos avaliam a sua
perceção no contexto da sua cultura e sistema de valores, os seus objetivos
pessoais, padrões e preocupações. Trata-se de um questionário formado por 26
perguntas sendo que a 1ª e 2ª incidem sobre a QV em geral e a perceção geral da
saúde, partindo depois para 4 domínios, que são:
-
O domínio físico – composto por 7 perguntas;
-
O domínio psicológico – composto por 6 perguntas;
-
O domínio das relações sociais – composto por 3 perguntas;
-
O domínio do meio ambiente – composto por 8 perguntas.
3.2.4 Classes sociais
Para a aferição das classes sociais dos indivíduos em causa foi usado o
questionário da Classificação Social Internacional proposto por Graffar. Este
consiste na averiguação da classe social do indivíduo que por sua vez está
composta por 5 domínios que são:
A profissão – consiste em classificar as famílias em 5 categorias, segundo a
profissão exercida pelo pai, servindo-nos para o efeito da classificação
britânica. No caso de a mãe exercer uma profissão de nível mais elevado do que o
pai será a primeira que servirá de base para a classificação da família.
O nível de instrução dos progenitores dos indivíduos – nesta parte do
questionário são estabelecidos 5 graus de nível de instrução que são: 1º Grau,
ensino universitário ou equivalente; 2º Grau, ensino médio ou técnico superior;
3º Grau, ensino médio ou técnico inferior; 4º Grau, ensino primário completo; 5º
Grau, ensino primário incompleto.
Fonte de rendimento do agregado familiar – neste caso iremos verificar qual a
fonte de rendimento da família, agrupando-se assim em 5 categorias sendo eles:
1º Grau, a principal fonte é fortuna herdada ou adquirida; 2º Grau, os
rendimentos consistem em lucros da empresa, altos honorários, lugares bem
remunerados; 3º Grau, rendimentos correspondentes a um vencimento mensal fixo;
5º Grau, beneficência pública ou privada. Não incluir as pensões de desemprego
ou incapacidades para o trabalho.
Conforto da habitação – consiste em dar uma impressão da habitação ainda que
sendo um pouco subjetiva. Estabelecem-se 5 categorias: 1º Grupo - casas ou
andares luxuosos e muito
grandes, oferecendo aos seus moradores o máximo conforto; 2º Grupo - casas ou
andares que sem serem tão luxuosos como os da categoria precedente, não são
obstante, espaçosas e confortáveis; 3º Grupo - casas ou andares modestos, bem
construídos e em bom estado de conservação, bem iluminados e arejados com
cozinha e casa de banho; 4º Grupo - categoria intermédia ao 3º e 5º grupo; 5º
Grupo - barracas, andares despromovidos de todo o conforto, de toda a
ventilação, iluminação e onde moram muitas pessoas.
Aspetos do bairro onde habita – este domínio foca-se essencialmente na zona
onde o inquirido habita, dividindo-se em 4 grupos. 1º Grupo - bairro residencial
elegante, onde o valor do terreno ou os alugueres são elevados; 2º Grupo -
bairro residencial bom de zonas largas com casas confortáveis e bem conservados;
3º Grupo - ruas comerciais ou estreitas e antigas com casas de aspeto geral
menos confortável; 4º Grupo - bairro operário, populoso, mal arejado ou bairro
em que o valor do terreno está diminuído como consequência da aproximação de
oficinas, fábricas, etc….
Conjugando estes domínios iremos obter a classificação social do indivíduo sendo
classificado como: Classe I, sendo que apresenta resultados/valores que afirmam
ser a classe social mais pobre; Classe II; Classe III, é a classe social
intermédia; Classe IV; Classe V, sendo esta classe a última é aquela que nos diz
que os indivíduos pertencentes à mesma são de uma classe social rica.
3.3. Amostra
O presente estudo foi elaborado a partir de uma amostra constituída por 35
indivíduos, crianças e jovens todos portadores de uma DV de ambos os géneros, 22
desses têm BV, sendo que os restantes 13 têm cegueira. Do total da amostra 16
são do género feminino (com idades entre os 12 e 25 anos), 19 são do género
masculino (com idades entre os 13 e 25 anos). Grande parte da
amostra faz parte da região da grande Lisboa, sendo que 13 indivíduos pertencem
ao Centro Helen Keller, 8 ao Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto, 5 à
Associação Promotora de Emprego para Deficientes Visuais, 4 ao Clube de Judo
Total, 2 da Escola Secundária Maria Amália Vaz de Carvalho, 1 no Lar Branco
Rodrigues, 1 dos indivíduos foi abordado durante um torneio de Goalball em
Oeiras sendo um deles do distrito do Porto.
Tabela 2. Caraterísticas dos participantes.
|
Mulheres
(N=16)
|
Homens
(N=19)
|
P
|
Min – Max
|
Média (DP)
|
Min – Max
|
Média (DP)
|
|
Idade (anos)
|
12 – 25
|
16.7 (0.9)
|
13 – 25
|
18.3 (0.8)
|
0.219
|
Massa corporal (kg)
|
34 – 79
|
55.5 (2.6)
|
34 – 96
|
67.7 (3.3)
|
0.015*
|
Estatura (m)
|
1.48 – 1.81
|
1.59 (0.03)
|
1.55 – 1.90
|
1.72 (0.02)
|
<0.001**
|
IMC (kg/m2)
|
15.1 – 31.2
|
21.9 (1.0)
|
14.2 – 35.7
|
22.4 (1.1)
|
0.728
|
* Diferenças entre géneros (P≤0.05); ** Diferenças entre géneros (P≤0.01);
|
Como verificamos na tabela 1, a amostra do género feminino possui uma idade
média de 16,7 ± 0,9 anos, sendo a idade mais baixa 12 anos e a mais elevada os
25. Por sua vez, no género masculino mostra que a idade mais baixa é de 13 anos
e a mais elevada é igualmente ao género feminino de 25 anos, tendo uma média de
18,3 ± 0,8 anos. Observamos que a média de idades no género masculino é
substancialmente mais elevada do que a do género feminino.
Em relação à massa corporal, conclui-se que no género feminino os valores vão de
um mínimo de 34 kg e a um máximo de 79 kg, sendo que no género masculino o
mínimo é de 34 kg e um máximo de 96 kg.
A estatura do género feminino medida em metros varia num máximo de 1,81 m a um
mínimo de 1,48 m. Já no género masculino o mínimo está no 1,55 m e vai até a um
máximo de 1,90 m.
Na caraterística do IMC verificamos que todos os indivíduos independentemente do
género, em média estão dentro dos padrões do peso normal, segundo a
classificação da OMS para valores do IMC. A média no género feminino situa-se
nos 21,9 ± 1,0 kg/m2, sendo que a média do género masculino encontra-se nos 22,4
± 1,1 kg/m2.
3.4. Instrumentos utilizados
3.4.1 Antropometria
A análise das variáveis antropométricas foi efetuada num espaço diferenciado. O
avaliador teve de se deslocar até às instituições dos avaliados, e no espaço
onde a recolha dos dados foi feita, estava só presente o avaliador e o indivíduo
avaliado. Todos os dados recolhidos foram registados num questionário criado
para o efeito.
Para a determinação da massa corporal, foi utilizada uma balança Camry®, com a
graduação máxima de 130 kg com diferença de 1 kg. A estatura dos indivíduos foi
avaliada por uma fita métrica fixa a uma parede, na sala de avaliação. As
circunferências foram determinadas com o recurso a uma fita métrica flexível.
Para avaliar o IMC, após a recolha da massa corporal e estatura, fez-se o
cálculo da massa corporal a dividir pelo quadrado da estatura.
3.4.2 Nível de atividade física
Para avaliar o nível de AF dos participantes no estudo foi utilizado o
questionário IPAQ.
3.4.3 Qualidade de vida
Na avaliação da QV foi aplicado o WHOQOL – Bref, versão portuguesa de
Portugal 50.
3.4.4 Classes sociais
Para determinar as classes sociais dos indivíduos, foi utilizado o questionário
da Classificação Social Internacional proposta por Graffar.
3.5. Administração dos testes
A administração dos testes, requer um planeamento prévio para permitir, de forma
articulada, a rentabilização dos vários recursos, nomeadamente o tempo de
entrevista e os custos das deslocações do avaliador.
Para a participação no estudo, os indivíduos menores de idade tiveram de levar
para os seus Encarregados de Educação uma declaração de autorização,
apresentando o avaliador e toda a base de estudo em causa.
Nos participantes maiores de idade, era-lhes lido todo o propósito do estudo,
aceitando ou não a sua participação no mesmo.
3.5.1 Procedimentos anteriores à realização dos testes
O primeiro procedimento a ser tomado antes da recolha da informação foi o
contacto com escolas, institutos, instituições, associações, centros educativos
a fim de dar a conhecer o propósito do estudo bem como pedir a colaboração dos
mesmos.
Após esse contacto foi feito o envio das autorizações para o desenvolvimento do
estudo, bem como a marcação do dia e hora para a aplicação dos testes essenciais
para o desenvolvimento do mesmo. Cada uma das entidades envolvidas aceitou a
cedência de uma sala para o avaliado e avaliador estarem a sós para a recolha de
toda a informação necessária para o bom desenvolvimento do estudo em causa.
3.5.2 Protocolos Utilizados
3.5.2.1 Antropometria
Foram adotados os procedimentos antropométricos descritos no ACSM (2006).
a. Massa corporal
A avaliação desta variável pressupôs, como desejável, que os indivíduos se
apresentem sem qualquer vestuário. Contudo, face aos eventuais
constrangimentos, foi solicitado aos participantes a utilização de roupas
“leves”, limitada a um máximo de duas peças e sem calçado.
b. Estatura
Nas mesmas condições de vestuário em que foi avaliada a massa corporal, o
indivíduo foi encostado à parede, onde previamente a fita métrica foi colocada.
Por fim, foi pedido ao indivíduo para inspirar o máximo volume de ar, mantendo a
posição ereta.
c. Circunferência da anca
O indivíduo adota a posição de pé, com os membros inferiores juntos, o avaliador
colocado lateralmente em relação ao avaliado, a fita métrica flexível é passada
à volta da anca, ao nível do plano horizontal que passa pela sínfise púbica.
d. Circunferência da cintura
O indivíduo encontra-se na posição de pé, com os braços ao longo do tronco, os
pés juntos e o abdómen relaxado, a fita métrica foi colocada horizontalmente na
parte do tronco de menor perímetro, acima da cicatriz umbilical e abaixo do
apêndice xifoide.
3.5.2.2 Questionários
Os questionários utilizados (IPAQ; WHQOL – Bref e a Classificação Internacional
proposta por Graffar), foram compilados num único questionário. A sua leitura
foi feita aos indivíduos participantes no estudo, devido à cegueira e/ou BV dos
mesmos. Neste caso foi o avaliador que registou as respostas não emitindo
qualquer juízo de valor sobre as respostas dos indivíduos.
3.5.3 Procedimentos Metodológicos
3.5.4.1 Preparação dos participantes
Para que fosse possível articular a avaliação dos participantes revelou-se
importante o trabalho de apoio dos funcionários das entidades que colaboraram no
estudo. Foram eles que ficaram responsáveis pela entrega das autorizações aos
menores de idade e aos maiores de idade relembravam-nos do dia da avaliação.
3.5.4.2 Sequência das avaliações
As avaliações foram realizadas primeiramente com as variáveis antropométricas
que seguiram uma sequência pré-determinada: massa corporal, estatura e
circunferências.
Após a recolha dos dados procedeu-se à leitura do questionário, onde o avaliador
registou as respostas dadas pelos indivíduos.
3.5.4.3 Recolha de dados
a. Antropometria
Os dados relativos às variáveis antropométricas foram recolhidos pelo avaliador,
através do registo em folha própria previamente construída para o efeito. Após
cada determinação, o avaliador efetuou o registo, no espaço correspondente.
b. Questionários
Os dados relativos ao questionário utilizado, foram registados no próprio e nos
espaços reservados para o efeito. Estes foram sempre preenchidos pelo avaliador
uma vez que a população estudada sofria de uma DV, cegueira ou BV, tendo este
adotado uma atitude isenta, de forma a interferir o mínimo com o avaliado.
3.6. Análise dos dados
Será realizada uma análise prévia para identificar a existência de outsiders
(valores não aceitáveis) e para verificar se todos os dados correspondem a
participantes que cumprem os requisitos que foram definidos para a investigação
(ex: ter uma DV, idade superior a 12 anos).
O tratamento estatístico descritivo vai ajudar a realizar medidas como a média e
o desvio padrão na caraterização dos indivíduos. A comparação entre os grupos
foi efetuada com o recurso à análise multivariada da variância (MANOVA). Com a
aplicação da correlação bivariada de Pearson foi determinada a força de
associação entre as variáveis.
Para o tratamento estatístico dos dados utilizou-se o programa do Microsoft
Office Excel 2007 e o programa SPSS versão 20, com um nível de confiança de 95%
o que corresponde a um nível de significância de 5%.
3.7. Cronograma das atividades
As atividades relacionadas com o presente estudo obedeceram ao seguinte
desenvolvimento temporal:
|
Novembro
2014
|
Dezembro
2014
|
Janeiro
2015
|
Fevereiro
2015
|
Março
2015
|
Abril
2015
|
Maio
2015
|
Junho
2015
|
Projeto
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Revisão de literatura
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Construção do questionário
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Aplicação dos questionários
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Análise dos dados
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Discussão dos resultados
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Entrega da tese
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4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
4.1. Introdução
O presente trabalho é desenvolvido a partir da recolha de variáveis
antropométricas, da AF, da QV, e das classes sociais em indivíduos com DV, com
idades compreendidas entre os 12 e 25 anos.
Constituem o grupo de análise 35 indivíduos, sendo 16 do género feminino e 19 do
género masculino.
Para avaliar os dados antropométricos foram adotados os procedimentos descritos
no manual ACSM (2006). Na avaliação do nível de AF recorreu-se ao IPAQ. Na
determinação de QV utilizou-se o WHOQOL – Bref, versão portuguesa de Portugal.
Por fim para a determinação das classes sociais dos indivíduos foi utilizado o
questionário de Classificação Internacional proposta por Graffar.
O nível de confiança definido no presente trabalho para as análises estatísticas
é de 95% e todos os procedimentos descritos de seguida foram adotados segundo
essa lógica.
4.2. Apresentação de resultados
4.2.1 Comparação do nível de Atividade física entre géneros
As comparações efetuadas entre os géneros verificadas na tabela 3 referente ao
nível de AF revelam grandes diferenças, entre o género feminino e masculino.
Na população analisada, no total de 35 indivíduos (16 do género feminino e 19 do
género masculino), verifica-se que 46% apresenta um nível moderado de AF, logo
de seguida com 43% aparece o baixo nível de AF sendo que por último com 11%
surge o nível alto de AF.
Tabela 3. Níveis de AF determinados pelo IPAQ.
|
Mulheres
(N=16)
|
Homens
N(=19)
|
Total
N(=35)
|
Baixo Atividade Física
|
62% (N=10)
|
26% (N=12)
|
43%(N=15)
|
Moderado Atividade Física
|
25% (N=4)
|
63% (N=12)
|
46% (N=16)
|
Alto Atividade Física
|
12% (N=2)
|
11% (N=2)
|
11% (N=4)
|
Comparando géneros verificamos que as crianças e jovens do género masculino
apresentam um nível moderado de AF com 63%. Já por sua vez nas crianças e jovens
do grupo feminino o nível que predomina é o nível baixo de AF. No nível alto de
AF verificamos que ambos os géneros têm o mesmo nº de praticantes (N=2).
4.2.2 Comparação da qualidade de vida entre géneros
Na prossecução da avaliação da QV foi utilizado o questionário da WHOQL – Bref,
versão portuguesa, o qual permite avaliar 6 domínios que podem ser agrupados em
duas grandes componentes. Quanto maior a pontuação em cada um dos domínios
melhor será o estado subjetivo de QV dos indivíduos.
Tabela 4. Comparação da QV entre mulheres e homens, feita com MANCOVA.
|
Mulheres
(N=16)
|
Homens
(N=19)
|
P
|
Domínio Físico
|
69 (11)
|
72 (11)
|
0.354
|
Domínio Psicológico
|
66 (13)
|
67 (12)
|
0.723
|
Domínio Relações Sociais
|
75 (16)
|
79 (19)
|
0.515
|
Domínio Ambiente
|
55 (16)
|
59 (15)
|
0.399
|
Perceção Geral da QV
|
72 (9)
|
76 (16)
|
0.315
|
Perceção Geral da Saúde
|
73 (21)
|
76 (16)
|
0.969
|
Na observação realizada, verificamos que os resultados apresentados são todos
muito semelhantes, não havendo destaque para nenhum dos domínios ou perceções.
Segundo a literatura, a QV é considerada um importante indicador de saúde,
devido a um impacto físico e psicossocial, disfunção ou incapacidades que as
mesmas podem acarretar para os indivíduos 51.
4.2.3. Comparação da qualidade de vida entre diferentes níveis de escolaridade
Na análise dos resultados da tabela 5, verificamos detalhadamente as crianças e
jovens que participaram neste estudo, inseridas nos seus níveis de escolaridade.
No Ensino Básico é onde se encontram o maior número de crianças (N=11),
seguindo-se com (N=9) jovens no Ensino Secundário, com (N=8) jovens no Ensino
Superior e por fim com apenas (N=7) dos jovens que estão no Ensino Profissional.
Tabela 5. Comparação da QV entre diferentes níveis de escolaridade, feita com
MANCOVA (controlando para o efeito sexo).
|
Ensino Básico
(N=11)
|
Ensino Secundário
(N=9)
|
Ensino Profissional
(N=7)
|
Ensino Superior
(N=8)
|
P
|
Domínio Físico
|
75 (11)
|
72 (8)
|
68 (12)
|
66 (13)
|
0.357
|
Domínio Psicológico
|
73 (11)
|
64 (9)
|
63 (13)
|
64 (13)
|
0.218
|
Domínio Relações Sociais
|
86 (13)
|
81 (17)
|
72 (18)
|
74 (20)
|
0.030
|
Domínio Ambiente
|
64 (13)
|
58 (12)
|
53 (21)
|
50 (14)
|
0.374
|
Perceção Geral da QV
|
80 (10)
|
75 (13)
|
72 (16)
|
68 (12)
|
0.435
|
Perceção Geral da Saúde
|
82 (12)
|
69 (27)
|
79 (9)
|
63 (13)
|
0.135
|
Na observação do Domínio Físico verificamos poucas diferenças significativas
numa comparação entre todos os níveis de Escolaridade, apesar de o Ensino Básico
apresentar valores superiores ao ensino Profissional (P=0.081).
No Domínio Psicológico os resultados não apresentam diferenças significativas.
No entanto é de salientar que as crianças do Ensino Básico em média (73), são as
que têm respostas mais positivas neste domínio.
No Domínio das Relações Sociais, os estudantes do Ensino Básico apresentam
melhores resultados comparativamente com os do Ensino Superior (P=0.006). Também
os estudantes do Ensino Secundário revelaram melhor performance no Domínio das
Relações Sociais comparativamente com os do Ensino Superior (P=0.025).
No que diz respeito ao Domínio do Ambiente, ao nível dos resultados sobre a
forma de média verificamos um baixo valor da percentagem de respostas favoráveis
neste domínio, verificando-se assim que as crianças do Ensino Básico apresentam
uma média ligeiramente superior (64) a todos os outros jovens.
O domínio da Perceção geral da QV não são observadas grandes diferenças
significativas nos níveis de escolaridade, sendo que as crianças do Ensino
Básico apresentam valores superiores aos jovens do Ensino Superior (P=0.055),
Na Perceção Geral da Saúde, apesar de não se observarem diferenças
significativas entre os níveis de escolaridade, quando é feita a análise post
hoc, verifica-se que os estudantes do Ensino Básico apresentam valores
superiores aos do Ensino Profissional (P=0.027).
4.2.4. Comparação da qualidade de vida entre diferentes classes sociais
Na comparação da QV entre diferentes classes sociais foi utilizado o
questionário da Classificação Social proposta por Graffar, como apresentado
anteriormente.
Esse questionário levou a um levantamento na nossa amostra (N=35), qual seria a
classe social pertencente a cada criança e jovem.
Após a análise verificamos que uma criança ou jovem pertence à classe social I
(ou seja a mais pobre economicamente), já na classe social II encontram-se 5
crianças ou jovens, na classe III, 20 crianças ou jovens, na classe IV, 8
crianças ou jovens e por fim na classe V (a classe com mais poder económico)
temos 1 criança ou jovem.
No Domínio Físico, verificamos que a Classe III apresenta valores inferiores aos
da Classe IV (P=0.022).
Tabela 6. Comparação da QV entre diferentes classes sociais, feita com MANCOVA
(controlando para o efeito sexo).
|
Classe 1
(N=1)
|
Classe 2
(N=5)
|
Classe 3
(N=20)
|
Classe 4
(N=8)
|
Classe 5
(N=1)
|
P
|
Domínio Físico
|
75
|
75 (20)
|
66 (12)
|
78 (8)
|
75
|
0.143
|
Domínio Psicológico
|
75
|
65 (14)
|
66 (12)
|
66 (13)
|
75
|
0.874
|
Domínio Relações Sociais
|
75
|
75 (20)
|
76 (21)
|
81 (18)
|
75
|
0.963
|
Domínio Ambiente
|
75
|
65 (22)
|
55 (15)
|
56 (12)
|
50
|
0.570
|
Perceção Geral da QV
|
75
|
70 (11)
|
78 (14)
|
69 (12)
|
75
|
0.709
|
Perceção Geral da Saúde
|
100
|
70 (11)
|
75 (20)
|
72 (16)
|
50
|
0.440
|
4.2.5 Comparação da qualidade de vida entre diferentes níveis de atividade
física
Na análise à tabela 7, na comparação da QV em diferentes níveis de AF,
utilizámos o questionário do IPAQ que levou à diferenciação de 3 níveis de AF
que são: AF Baixa (N=15), AF Moderada (N=16), AF Alta (N=4).
Tabela 7. Comparação da QV entre diferentes níveis de AF, feita com MANCOVA
(controlando para o efeito sexo).
|
AF Baixa
(N=15)
|
AF Moderada
(N=16)
|
AF Alta
(N=4)
|
P
|
Domínio Físico
|
70 (14)
|
72 (8)
|
69 (13)
|
0.817
|
Domínio Psicológico
|
67 (12)
|
64 (13)
|
75
|
0.285
|
Domínio Relações Sociais
|
78 (16)
|
77 (21)
|
75
|
0.805
|
Domínio Ambiente
|
58 (18)
|
58 (15)
|
50
|
0.624
|
Perceção Geral da QV
|
75 (13)
|
73 (14)
|
75
|
0.784
|
Perceção Geral da Saúde
|
73 (22)
|
73 (14)
|
75 (20)
|
0.989
|
Na análise da estatística descritiva controlada para o feito do género na
perceção geral da QV no total dos níveis de AF, verificamos que a média do
género masculino se encontra ligeiramente a cima (76), do género feminino (72).
O mesmo se verifica em todos os outros domínios com o género masculino a ter uma
média de respostas mais positivas do que o género feminino.
Estes resultados vão de encontro à revisão da literatura, no capítulo 2.5
(atividade física em jovens com deficiência visual), onde no estudo de Longmuir
e Bar – Or (2000) verificou-se que indivíduos com DV apresentam níveis de AF
mais baixos do que comparados com outros indivíduos com deficiências motoras. E
como observado na tabela acima, os níveis de AF alta que estão presentes numa
amostra de 35 crianças e jovens, é apenas de 4.
4.2.6 Comparação do nível de Atividade Física em função do grau de escolaridade
Figura 1. Nível de AF em função do grau de escolaridade.

Como observado a partir da leitura da Figura 1, verificamos que o nível de AF no
grau de escolaridade do ensino básico é consideravelmente baixo com 73%,
surgindo com 27% o nível moderado de AF, ocorrendo isto nos indivíduos que
frequentam o Ensino Básico.
No Ensino Secundário verifica-se que a AF do nível moderado abrange um número
maior de indivíduos, sendo que a sua percentagem é de 56%, seguido pelo alto
nível AF. Em comparação com os outros graus de escolaridade verificamos que o
nível alto de AF é superior a todos os outros. De salientar que neste grupo em
que a percentagem do nível de AF é baixa, esta é a menor do que em comparação
com todos os outros grupos de graus de escolaridade.
Observando a figura 1 no grupo do Ensino Profissional verificamos que a grande
maioria das crianças e jovens com DV, tem um nível de AF baixa com 50% de
prevalência. Os outros 50% dividem-se pela AF moderada com 38% e o nível alto de
AF fica-se pelos 12% de prevalência.
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.1 Comparação do nível de Atividade Física entre géneros
Fazendo a comparação dos resultados obtidos na tabela 3 verifica-se que crianças
e jovens do género feminino encontram-se num nível baixo de AF. Em comparação
com o estudo “Prática de atividade física habitual entre adolescentes com
deficiência visual” realizado por Bruna Seron; Giovanna Interdonato, Llovis
Júnior (2011) no Brasil, verificou-se também que no género feminino é onde se
obtém resultados mais baixos no nível de atividade física em relação ao género
Masculino. Um dos fatores que explicam os níveis baixos de AF é a superproteção
por parte da família aliada às poucas oportunidades de participação em programas
de AF. Os resultados mais positivos encontrados no género masculino evidenciam
que estes são mais estimulados pelos pais a comportamentos mais ativos e
consequentemente menos superprotegidos do que o género feminino.
Indo ao encontro do estudo de Guedes e Guedes (2006); Hallal (2005) e Lopes
(2003), estes afirmam que a participação dos rapazes em Atividades Desportivas é
maior do que nas raparigas. As razões apresentadas vão de encontro ao estudo
anterior.
5.2 Comparação da Qualidade de Vida entre géneros
No capítulo anterior pode-se verificar que a qualidade de vida entre os géneros
estudados não apresentam diferenças significativas uma vez que o género
masculino apresenta valores ligeiramente superiores em relação ao género
feminino, quer nos domínios quer nas perceções da QV.
Uma possível justificação para o ligeiro valor inferior no domínio psicológico
no género feminino e indo de encontro ao que Sandra Vieira (2012) disse no seu
estudo, poderá estar relacionado com sentimentos positivos e negativos, o
pensar, o aprender, a autoestima, a aparência, a ansiedade a depressão e desta
forma têm uma visão diferenciada e mais crítica em relação à sua própria QV.
Existem poucos estudos desenvolvidos que tenham por objetivo comparar a QV nas
crianças e jovens do género masculino e feminino com DV, sendo que desta forma o
confronto dos resultados deste estudo com outros estudos seja limitado.
5.3 Comparação da qualidade de vida entre diferentes níveis de escolaridade
A integração social em crianças e jovens do ensino básico e secundário
apresentam um nível de relação social mais elevado do que os jovens do ensino
superior. Este resultado vai de encontro ao estudo de Maria Freitas (2012) no
Brasil, onde afirma que se a criança com DV receber estimulações constantes ao
longo dos anos, espera-se um bom desenvolvimento a nível social.
No domínio das relações sociais entende-se que a redução da distância social
existente entre um grupo de crianças com DV a crianças sem DV surge pela
aceitação mútua e um sentimento natural de presença.
5.4 Comparação da qualidade de vida entre diferentes classes sociais
Nos resultados apresentados no capítulo anterior (4.2.2) e a quando da análise
entre a qualidade de vida e classes sociais não existem diferenças
significativas. No entanto fazendo a comparação entre a classe 1 e a classe
social 5 na perceção geral da saúde, verifica-se que a classe 1 apresenta
melhores resultados do que a classe 5, o que é um pouco contraditório na nossa
opinião visto que quem tem melhores condições financeiras deveria ter uma melhor
perceção da sua saúde devido à facilidade no acesso aos serviços de saúde.
Na pesquisa realizada não foi possível encontrar estudos que façam a comparação
entre a QV e classes sociais o que torna impossível o confronto destes dados
obtidos com outros estudos.
5.5 Comparação da qualidade de vida entre diferentes níveis de atividade física
Analisando a tabela 7 verificamos que não existem diferenças significativas na
QV nos vários níveis de AF, no entanto pela pesquisa efetuada, não foi possível
encontrar nenhum estudo que fosse de encontro à comparação da qualidade de vida
entre diferentes níveis de AF. No entanto no nosso ponto de vista quanto maior
fosse o nível de AF melhor seria a perceção dos indivíduos sobre a sua QV uma
vez que está associada ao estilo de vida e satisfação e bem-estar. Por sua vez é
cada vez mais um fator decisivo na QV, pois ela não está só associada a
benefícios físicos mas também a benefícios psicológicos, melhorando o humor e
diminuindo a depressão.
5.6 Comparação do nível de atividade física em função do grau de escolaridade
Na análise da figura 1 podemos verificar que o nível baixo de AF é bastante
superior em relação a todos os outros níveis de ensino. Segundo Kodish e Kulina
(2006) afirmam que nesta faixa etária existem poucas oportunidades para a
participação em AF, a superproteção dos pais é elevada, a falta de formação dos
professores bem como a falta de recursos materiais e espaços inapropriados para
a prática de AF.
Indo de encontro a Cervantes & Poneta, 2010, estes afirmam que “…jovens com DV
têm mais comportamentos sedentários…” sendo que esta afirmação vai de encontro
aos resultados obtidos.
Já no ensino superior verifica-se que o nível de AF se encontra no nível
moderado. Guedes e Guedes (2006) estes afirmam que os jovens adultos tornam-se
sedentários porque já o foram em faixas etárias mais baixas. Assim sendo podemos
presumir que os jovens que participaram neste estudo tiveram uma infância onde
lhes foi proporcionado a prática de AF o que os leva a serem jovens mais ativos
fisicamente.
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O presente estudo tinha como ponto de partida uma série de objetivos
específicos, definidos a partir de um amplo objetivo geral, que era a
caracterização dos níveis de AF e de QV em crianças e jovens com DV.
Quando é feita a comparação entre géneros nos níveis de AF conclui-se que o
género feminino apresenta resultados mais baixos no que diz respeito ao nível de
AF do que comparado com o género masculino que apresentam níveis de AF um pouco
mais elevados. Assim em comparação com a literatura no capítulo 2.5 (Atividade
física em crianças e jovens com deficiência visual), Bauman (2004) refere que
adolescentes menos ativos fisicamente apresentam maior predisposição a
tornarem-se adultos sedentários, já no que diz respeito ao nosso estudo, podemos
afirmar que a amostra do género feminino se não mudar os seus hábitos de AF
podem tornar-se em adultos sedentários.
Partindo para a análise da comparação da QV entre géneros, verificamos que o
género masculino obtém melhores resultados em todos os domínios estudados
através do WHOQOL – Bref versão portuguesa de Portugal. A QV em indivíduos com
DV apresentam que estes têm dificuldades diárias, tais como: vestir, comer,
comunicação simples e psicossocial 52, podendo assim afirmar que o género
masculino desta amostra não tem um sentimento tão negativo como o género oposto
no que toca aos domínios da QV estudados.
A DV em crianças e jovens relacionada com a prática de AF e os seus benefícios
ainda são temas pouco estudados. O nível diário de AF em crianças e jovens ditos
“normais” é substancialmente mais elevado do que em crianças e jovens com DV
53.
É na fase de transição entre crianças e jovens que estes indivíduos com DV
adquirem potencialidades para uma vida ativa como o equilíbrio, coordenação de
movimentos, ritmo, esquema corporal, orientação
espacial, além de hábitos posturais, assim se todas estas potencialidades não
forem desenvolvidas vão levar a que se tornem adultos sedentários 54.
Para isso, é necessário com urgência identificar que tipo de AF é eficaz para
melhorar todos os aspetos referidos anteriormente de modo a melhorar a QV neste
tipo de população 55.
-
1 Instituto do Desporto de Portugal, 2009
-
2 Haskell, 2007
-
3 OMS, 1995
-
4 OMS, 2006
-
5 Santos e Ribeiro, 2001
-
6 Wright Harris & Sticken, 2010
-
7 Lieberman, 2002
-
8 Holbrook, Caputo, Fuller, Perry & Morgan, 2009
-
9 OMS 2001
-
10 Brownell, K. D., Exercice and obesity treatment: psychological aspects, 1995.
-
11 Marques, 1995
-
12 Sá e Campos, Livro sobre o Atendimento Educacional Especializado, 2007
-
13 Oliveira, 2006
-
14 Manual do ACSM, 2013
-
15 Centers for Disease Control and Prevention, 2010
-
16 Strong et al., 2005
-
17 Strong et al., 2005; Centers for Disease Control and Prevention, 2010
-
18 American College of Sports Medicine, 2008
-
19 Centers for Disease Control and Prevention, 2010
-
20 Este conceito surgiu em 1920, com Pigou, segundo Kluthcovsky e Takayanagui
-
21 Ribeiro, 2007, Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
-
22 Jacobson et al., 2002; Hart, 2003; Silva, 2006
-
23 Seidi & Zannon, 2004; Kluthcovsky & Takayanagui, 2007
-
24 Schalock, Garden & Bradley, 2010
-
25 Schalock, Garden & Bradley, 2010
-
26 Schalock, Garden & Bradley, 2010
-
27 Schalock & Alonso, 2002; Schalock, Gardner & Bradley, 2010
-
28 Grupo de Qualidade de Vida da OMS, 2004
-
29 Bennett, 2002
-
30 Na perspetiva de Corn e Koening, 1996
-
31 Corn e Boeing, 1996
-
32 Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e Desvantagens,
OMS, 1980
-
33 OMS, 2001
-
34 OMS, 2010
-
35 OMS, 2010
-
36 Segundo a OMS, 2010
-
37 OMS, 2010
-
38 OMS, 2010
-
39 Bruno e Mota, 2001
-
40 Alhassan & Robinson, 2010; Peixoto, Benício & Jardim, 2007
-
41 Bauman, 2004
-
42 Lieberman (2005); Noce, Simim & Mello, 2009
-
43 Cervantes & Porreta, 2010
-
44 Bittencourt & Hoehne, 2006
-
45 Longmuir e Bar-Or, 2000
-
46 Moura e Castro, 1993
-
47 Da Costa e Duarte, 2006
-
48 Nahs, 2010
-
49 SEIDL; ZANNON, 2004
-
50 Canavarro, et al., 2006; Rijo, et al., 2006; Vaz Serra, et al., 2006
-
51 SEIDL; Zannon, 2004
-
52 SEIDL; Zannon, 2004
-
53 Kozub e Oh, 2004
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54 Marques, 2005
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55 Rimmer, 2010
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ϟ
Caraterização da Atividade Física e Qualidade de Vida em Crianças e Jovens
com Deficiência Visual
Tiago da Silva Gomes
Dissertação de Mestrado em Atividade Física em Contexto Escolar, apresentada à
Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra
com vista à obtenção do grau de mestre em Atividade Física em Contexto Escolar
em Ciências do Desporto
Orientador: Prof. Doutor Raúl Agostinho Simões Martins
Junho/2015
Δ
10.Mar.2017
publicado
por
MJA
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