Andrea de Carli

Crianças cegas durante uma visita aos Jardins Botânicos de
Fragrâncias de Brooklyn - fotografia de Lisa Llarsen
Como as crianças deficientes visuais geralmente adquirem seu conhecimento por
meio de experiências que não incluem o uso da visão, faz-se necessário que lhes
sejam oferecidas oportunidades para desenvolver os sentidos remanescentes: tato, audição, olfato e mesmo paladar.
No ambiente da escola, o professor pode aproveitar vários momentos e situações
para que o aluno identifique sons, discrimine odores, experimente diversos
sabores e diferencie os mais variados materiais, proporcionando, desta maneira,
não só para o aluno deficiente visual, como para todos os alunos, um
desenvolvimento sensorial harmonioso que favorecerá tanto o processo
educacional, como a orientação e a mobilidade do deficiente visual.
Audição
Pedir ao aluno que discrimine os diversos tipos de sons existentes:
• Na sala de aula: ventilador, giz na lousa, abrir e fechar cortinas, porta,
armário;
• Na secretaria: máquina de datilografia, gaveta de arquivo, telefone, rádio,
relógio, campainha;
• Na cozinha: talheres, copos, pratos, torneira aberta, diferentes fervuras,
queimadores de fogão aceso;
• No banheiro; descarga, lavatório, chuveiro;
• No pátio: vassouras e rodos sendo usados na limpeza, baldes enchendo de água,
esguicho.
É importante que ele aprenda a discriminar também sons externos: carro,
caminhão, ônibus, sirene, pássaros, sons musicais, vozes de animais e outros.
Sempre que possível, pedir ao aluno que localize as fontes sonoras e identifique
as pessoas e colegas de seu círculo de amizade, pela voz.
O professor pode, então pedir ao aluno que, localizada uma determinada fonte
sonora, dirija-se até ela. Exemplo: uma batida na porta, a campainha do
telefone, etc. Isso capacitará o aluno a fazer uso da audição para sua
orientação e mobilidade.
Como exercício para que o aluno possa chegar à fonte sonora, o professor pode
proceder da seguinte maneira:
Em local sem obstáculos, que pode ser o pátio, o professor deve afastar-se do
aluno alguns passos e, falando sempre, pedir que venha até ele. Quando o aluno
alcançar êxito, o professor repetirá a experiência, só que, agora,
silenciando-se assim que ele começar a andar. Caso o aluno se desvie da direção,
o professor deverá falar novamente, até que consiga corrigir o rumo.
É de grande valia que o aluno seja capaz de encher um copo com líquido (de
torneira, jarra ou garrafa) sem derramá-lo, apenas utilizando a audição.
Tato
Oferecer ao deficiente visual a maior variedade possível de materiais como:
tipos diferentes de papel, de tecido, de madeira, de couro, de amostras de
tapetes, de fios, de plásticos, de lixas, etc.. Com estes materiais, pedir-lhe
que discrimine espessura, tamanho e textura: grosso, fino, pequeno, grande,
liso, rugoso, macio, áspero, etc..
Apresentar ao aluno sólidos geométricos feitos em madeira ou em cartolina,
linhas de vários tipos em relevo e coladas em cartão, desenhos simples de
objetos conhecidos contornados com lã ou barbante. Permitir que o aluno explore
à vontade o material, identificando-o e relacionando-o com aquilo que é do seu
conhecimento e de seu ambiente.
Fazer com que o aluno perceba as várias sensações térmicas: quente, frio, morno,
gelado, etc.
Proporcionar condições para que possa identificar a consistência de: óleo,
pasta, creme, cera, graxa, bem como de diferentes tipos de alimentos crus e
cozidos. Ele deverá ser capaz de reconhecer todos estes produtos, utilizando-se,
também, de um tipo de instrumento, como por exemplo, uma espátula ou um talher.
Todas estas atividades serão de grande valia para a adequação social do aluno,
pois possibilitam o desenvolvimento de habilidades necessárias às diferentes
situações de sua vida diária.
Olfato
Pedir ao aluno que identifique vários produtos, pelo cheiro (odor). Exemplos:
odores fortes: gasolina, álcool, naftalina, inseticida, desinfetante, cera, etc.
A seguir, produtos com odores mais suaves: sabonete, talco, pasta de dentes,
perfume; odores de alimentos: frutas, carnes, café cebola, alho, etc.
Solicitar ao aluno que procure reconhecer, pelo olfato, algumas dependências da
escola como: cozinha, banheiro, jardim e, no trajeto entre sua casa e a escola:
farmácia, açougue, barbearia, posto de gasolina, padaria, etc.
Importante:
Como o sentido do olfato se satura rapidamente, deve-se ter o cuidado de não
realizar exercícios muito prolongados.
Paladar
Permitir que o aluno experimente alimentos com os principais sabores: amargo,
doce, azedo, salgado, picante, não havendo necessidade de degluti-los.
Sentidos integrados
Acompanhar o aluno pelas dependências da escola, pedindo-lhe que identifique os
vários estímulos, procurando localizar a fonte. Estes estímulos podem ser:
vozes, ruídos, perfumes, odores, etc.
Fazendo uso de todos os sentidos, ele deve aprender a localizar-se no espaço
físico conhecido e locomover-se com segurança. Pedir que informe como está
percebendo o ambiente: tipo de piso (terra, cimento, madeira, grama,
cerâmica), ventilação, espaço, número de pessoas, etc.
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