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Genética em Oftalmologia

Genética Médica em Oftalmologia


índice de artigos: 
1. Genética Médica em Oftalmologia  Dr.ª Marta Amorim
2. Genética e Oftalmologia  Jaime Roizenblatt


Genética Médica em Oftalmologia

Dr.ª Marta Amorim


O que é a Genética Médica?

A Genética Médica é uma especialidade médica relativamente recente em Portugal e em grande expansão em todo o mundo.

A genética encerra a chave do que nós somos num código simples, mas de muito complexa leitura e avaliação. O nosso código é constituído por 4 letras (C,A,T e G) que se sucedem e que em determinadas regiões do nosso genoma codificam proteínas. Estas regiões, que são apenas cerca de 2% do nosso genoma, são os genes. Existem em torno de 20.000 genes conhecidos e destes cerca de 7.000 associados a doenças.

O estudo destes genes, do ponto de vista médico, abre as portas para um conhecimento muito útil e que está a revolucionar a forma de realizarmos medicina, pois permite:

  • o diagnóstico etiológico de patologias raras,

  • aferir predisposições e susceptibilidades para outras doenças mais comuns,

  • avaliar respostas a fármacos, a seleção da terapia mais apropriada a cada situação, numa medicina, cada vez mais, personalizada.


Qual a importância de um diagnóstico genético?

A importância do diagnóstico de uma doença genética é cada vez maior: se por um lado nos permite perceber melhor a doença na sua componente clínica (variabilidade sintomática, definição de planos de vigilância e estabelecimento de prognóstico), por outro, é cada vez mais uma porta para entendermos a doença na sua componente básica (mecanismos da doença e aplicação dos mesmos na investigação terapêutica e para a cura das doenças).

O diagnóstico não é importante só para o próprio. O nosso código genético é uma herança: herdamos 23 cromossomas do nosso pai e outros tantos, com cópias diferentes para a mesma informação, da nossa mãe; e dos 46 cromossomas resultantes (23 pares), passaremos uma seleção aleatória de um elemento de cada par, para os nosso filhos.

Assim sendo, um diagnóstico genético é, muitas vezes, um diagnóstico familiar. Diferentes alterações genéticas têm diferentes probabilidades de recorrência na mesma família. Existem vários tipos de hereditariedade mendeliana, exemplos: hereditariedade autossómica dominante, hereditariedade autossómica recessiva, hereditariedade ligada ao X.

O diagnóstico genético, com confirmação molecular, permite a identificação e vigilância dos familiares em risco de desenvolver sintomas e a oferta de opções reprodutivas, como diagnóstico pré-natal (DPN) ou pré-implantação (DGPI), a todos os portadores de variantes patogénicas da doença.


Qual é a relevância da Genética Médica nas doenças oftalmológicas?

Um número importante de patologias oftalmológicas têm etiologia genética, de apresentação congénita, aparecimento infantil ou na idade adulta. São exemplos das primeiras as cataratas e glaucoma congénito, patologia do desenvolvimento ocular como microoftalmia e anooftalmia, defeitos do segmento anterior. A patologia da retina é também muitas vezes de etiologia genética, afectando a mácula, os cones ou os cones e bastonetes.

Tomando o exemplo da retinite pigmentar, neste momento existem mais de 2 centenas de genes identificados, envolvidos em diferentes vias:

  • Estrutural (ex: cílios);

  • Tráfico de proteínas;

  • Ciclo da fotoactivação;

  • RNA splicing;

  • Metabolitos .


Cerca de 20 a 30% dos casos de retinite pigmentar estão associados a sintomas extra-oculares, ou seja, apresentam-se de forma sindrômica. O diagnóstico de uma forma sindrômica é importante para que o planeamento da vigilância do doente contemple a possibilidade de diferentes sinais e sintomas.


Importância do Diagnóstico Genético

Importância do diagnóstico genético


Terapia Genética e Visão

A Oftalmogenética tem sido uma das áreas de maior avanço na Genética, principalmente pela promessa de terapias genéticas. A terapia genética pretende usar o conhecimento genético para tratar ou prevenir as doenças.

São várias as abordagens estudadas:

  • Substituição do gene defectivo;

  • Inactivação de um gene mutado;

  • Introdução de um gene com nova função.

As terapias genéticas, estão cada vez mais perto da sua concretização, pelo maior conhecimento da patogénese molecular (mais genes e mecanismos identificados), pelo desenvolvimento de formas de transporte (ex. adenovírus) e avanços na edição genómica (ex. CRISPR-Cas9). Existem factores limitativos desta evolução, por um lado os custos, por outro, e um dos grandes entraves à sua concretização, a chegada e entrega dos produtos às células.

O olho, pelas suas características anatómicas (facilmente acessível, espaço sub-retiniano natural, facilmente monitorizado) e mecanismos imunológicos próprios, tem-se afigurado como um potencial candidato de sucesso.

O diagnóstico molecular (genético) tem vindo a ter uma relevância cada vez maior para a prescrição terapêutica e um pré-requisito para a inclusão em ensaios clínicos.


Como se faz um diagnóstico genético?

O diagnóstico clínico da doença pela Oftalmologia é essencial, bem como toda a informação obtida nesta especialidade (fundoscopia, ERG, angiografia, OCT, microperimetria, etc.).

Para um correcto diagnóstico molecular (genético) é ainda importante a colheita da história clínica do doente, incluindo a história familiar e realização de heredograma, a idade de início e progressão da doença, a sintomatologia acompanhante e a realização de exame objectivo completo (somatometria, dismorfismos faciais, alterações osteo-articulares, sintomas neurológicos, sintomas cardíacos, outros).

Em alguns casos podem ser necessários outros exames laboratoriais (ex. glicémia, ácidos gordos de cadeia muito longa, aminoácidos plasmáticos, ácido fitânico, abetalipoproteína B), de imagem (ex. ecografia renal, ecocardiograma , RMN-CE), ou mesmo exames invasivos, como biópsia muscular.

Um diagnóstico de uma doença genética, após esta componente clínica, é complementado com um estudo molecular ou citogenético, realizados mediante análise de sangue ou saliva.

A tecnologia mais frequentemente usada nesta área é a sequenciação por Next Generation Sequencing (NGS). Esta técnica permite a sequenciação de vários genes ao mesmo tempo (de dezenas a milhares), com bons tempos de resposta (a partir de 3 semanas) e a custos, cada vez mais, acessíveis.


fonte: Instituto Português de Retina

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15.Mar.2020
Maria José Alegre



Genética e Oftalmologia

Jaime Roizenblatt


1. Anormalidades Oculares e suas Características
2. Alterações Oculares nas Síndromes Pediátricas e Clínicas

Nas últimas décadas tem havido uma grande mudança no padrão das doenças. Houve uma grande diminuição nas doenças de caráter infeccioso e nutricional, enquanto que as de fundo genético se tornaram proporcionalmente mais evidentes. Os avanços nas ciências básicas, assim como as mudanças na prevalência das doenças apontaram para a necessidade de se reconhecer a genética humana como uma importante disciplina dentro da formação do médico, não importando qual área ele venha a se dedicar. Conquanto na era pré-antibióticos era comum se dizer que “quem soubesse sobre sífilis já saberia uma boa parte da medicina”, pode ser que no futuro se possa dizer que “quem conhece a genética clínica certamente será um bom médico”.

Além dos geneticistas clínicos, os oftalmologistas são os especialistas que vêem na sua prática diária grande número de pacientes com doenças de fundo genético. Há mais de 1.300 doenças de caráter monogético e quase outras 1500 em que há suspeita que sejam causadas por mutações de apenas um gen. O fato que quase um terço das mais de 100 patologias ligadas ao cromossoma X serem puramente oftalmológicas ou terem um componente oftalmológico importante é um forte indicativo do estreito relacionamento entre a genética clínica e a oftalmologia. Além disso, quase 50% dos casos de cegueira em crianças são causados por doenças em que estão envolvidos um par de gens. Para ressaltar ainda mais a importância do componente genético nas doenças oculares basta lembrar que a maioria dos problemas oculares como os defeitos refracionais (miopias, astigmatismos, hipermetropias), os estrabismos, os glaucomas e boa parte dos problemas de retina têm claramente um fundo genético.

À medida que a medicina caminha, se torna cada vez mais importante que todos especialistas e clínicos se familiarizem com os conceitos básicos de genética clínica e os incorpore em sua prática diária. Esperamos que este capítulo os auxilie neste mister.


 

 

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GENÉTICA E OFTALMOLOGIA
JAIME ROIZENBLATT
excerto de
'Genética baseada em evidências: Síndrome e Heranças' (2000)
por Zan Mustacchi e Sergio Peres
 
fonte:  http://www.sindromededown.com.br/

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14.Nov.2020
Maria José Alegre