Ξ  

 

 SOBRE A DEFICIÊNCIA VISUAL

Siga este site no Facebook.     Siga este site no Twitter    Envie um email à Webmaster do Site

Triste Ceguinho

|romance tradicional|


Vídeo (4 min) www.memoriamedia.net . ver texto abaixo:

 

Era meia-noite, quando o cego veio.
Deu três pancadinhas à porta do meio.
Era meia-noite, quando o cego veio.
Deu três pancadinhas à porta do meio.
 

− Levante-se minha mãe, se está a dormir.
‘Tá (1) o pobrezinho, à porta, a pedir.
Levante-se minha mãe, se está a dormir!
‘Tá o pobrezinho, à porta, a pedir!
 

− Se ele canta e pede, dá-lhe pão e vinho.
Se ele na’ (2) quiser, guia-lhe o caminho.
Se ele canta e pede, dá-lhe pão e vinho!
Se ele na’ quiser, guia-lhe o caminho!
 

− Na’ quero o se’ (3) pão, na’ quero o seu vinho.
Só quero q’ a Aninha me ensine o caminho.
Na’ quero o se’ pão, na’ quero o seu vinho!
Só quero que a Aninha me ensine o caminho!
 

− Pega na roca e também no linho,
vai guiar caminho ao triste ceguinho.
Pega na roca e também no linho,
vai guiar caminho ao triste ceguinho.
 

− Já se quebrou a roca e acabou-se o linho.
Segue adiante, cego, lá vai o caminho.
Já se quebrou a roca e acabou-se o linho!
Segue adiante, cego, lá vai o caminho!
 

− Já chegou aqui, chegue mais além.
Sou curto da vista, já não vejo bem.
Já chegou aqui, chegue mais além!
Sou curto da vista, já não vejo bem!
 

− Q’ cavalos são aqueles, que além vêm [a] brilhar?
São os me’s criados que me vêm buscar.
Q’ cavalos são aqueles, que além vêm [a] brilhar?
São os meus criados que me vêm buscar!
 

− Que cego é este, de tanta valia?
Espada de ouro, à cinta trazia.
Que cego é este, de tanta valia?
Espadas de ouro, à cinta trazia.
 

− Senta-te, Aninha, nesta cadeirinha,
já foste(s) pastora, agora rainha!
Senta-te, Aninha, nesta cadeirinha,
és minha mulher e coroada rainha!
 

− Adeus minha casa e adeus meus craveiros (4).
Adeus meus amores, meus amores primeiros!
Adeus minha casa e adeus meus craveiros.
Adeus meus amores, meus amores primeiros!
 

− Adeus minha casa e adeus minha aldeia.
Adeus pai e mãe, que tanto me falseia[m]!
Adeus minha casa e adeus minha aldeia.
Adeus pai e mãe, que tanto me falseia[m]!
 

− Adeus minha casa e adeus me’ balcão.
Adeus pai e mãe do meu coração.
Adeus minha casa e adeus meu balcão.
Adeus pai e mãe do meu coração!

ϟ

 

Glossário:
(1) ‘Tá – abreviatura oral, de uso informal e coloquial, de “está” (verbo estar).
(2) Na’ – abreviatura oral de “não” (uso informal e coloquial).
(3) Se’ – seu.
(4) Craveiro – planta que dá os cravos.

 

ϟ
 

Património Cultural Imaterial
 

CONTADORA:
• Nome: Maria José
• Data de nascimento: 1927
• Residência: Idanha-a-Nova
Entrevista: José Barbieri e Filomena Sousa
Transcritora: Maria de Lurdes Sousa
Versão literária: Maria de Lurdes Sousa
Filmagem: José Barbieri
Produção: MEMORIA.IMATERIAL cooperativa cultural CRL
Setembro a Novembro de 2010
Filmado em Idanha-a-Nova, em colaboração com a Biblioteca Municipal de Idanha e com o apoio do Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas / Ministério da Cultura.
fonte do texto:
Património Cultural Imaterial
MEMORIAMEDIA E-museu


Δ

20.Dez.2017
publicado por MJA