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|romance tradicional|
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Era meia-noite, quando o cego veio. Deu três pancadinhas à porta do meio. Era meia-noite, quando o cego veio. Deu três pancadinhas à porta do meio.
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− Levante-se minha mãe, se está a dormir. ‘Tá (1) o pobrezinho, à porta, a pedir. Levante-se minha mãe, se está a dormir! ‘Tá o pobrezinho, à porta, a pedir!
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− Se ele canta e pede, dá-lhe pão e vinho. Se ele na’ (2) quiser, guia-lhe o caminho. Se ele canta e pede, dá-lhe pão e vinho! Se ele na’ quiser, guia-lhe o caminho!
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− Na’ quero o se’ (3) pão, na’ quero o seu vinho. Só quero q’ a Aninha me ensine o caminho. Na’ quero o se’ pão, na’ quero o seu vinho! Só quero que a Aninha me ensine o caminho!
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− Pega na roca e também no linho, vai guiar caminho ao triste ceguinho. Pega na roca e também no linho, vai guiar caminho ao triste ceguinho.
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− Já se quebrou a roca e acabou-se o linho. Segue adiante, cego, lá vai o caminho. Já se quebrou a roca e acabou-se o linho! Segue adiante, cego, lá vai o caminho!
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− Já chegou aqui, chegue mais além. Sou curto da vista, já não vejo bem. Já chegou aqui, chegue mais além! Sou curto da vista, já não vejo bem!
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− Q’ cavalos são aqueles, que além vêm [a] brilhar? São os me’s criados que me vêm buscar. Q’ cavalos são aqueles, que além vêm [a] brilhar? São os meus criados que me vêm buscar!
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− Que cego é este, de tanta valia? Espada de ouro, à cinta trazia. Que cego é este, de tanta valia? Espadas de ouro, à cinta trazia.
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− Senta-te, Aninha, nesta cadeirinha, já foste(s) pastora, agora rainha! Senta-te, Aninha, nesta cadeirinha, és minha mulher e coroada rainha!
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− Adeus minha casa e adeus meus craveiros (4). Adeus meus amores, meus amores primeiros! Adeus minha casa e adeus meus craveiros. Adeus meus amores, meus amores primeiros!
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− Adeus minha casa e adeus minha aldeia. Adeus pai e mãe, que tanto me falseia[m]! Adeus minha casa e adeus minha aldeia. Adeus pai e mãe, que tanto me falseia[m]!
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− Adeus minha casa e adeus me’ balcão. Adeus pai e mãe do meu coração. Adeus minha casa e adeus meu balcão. Adeus pai e mãe do meu coração!
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Glossário:
(1) ‘Tá – abreviatura oral, de uso informal e coloquial, de “está” (verbo
estar).
(2) Na’ – abreviatura oral de “não” (uso informal e coloquial).
(3) Se’ – seu.
(4) Craveiro – planta que dá os cravos.
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CONTADORA:
• Nome: Maria José
• Data de nascimento: 1927
• Residência: Idanha-a-Nova
Entrevista: José Barbieri e Filomena Sousa
Transcritora: Maria de Lurdes Sousa
Versão literária: Maria de Lurdes Sousa
Filmagem: José Barbieri
Produção: MEMORIA.IMATERIAL cooperativa cultural CRL
Setembro a Novembro de 2010
Filmado em Idanha-a-Nova, em colaboração com a Biblioteca Municipal de Idanha e com o apoio do Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas / Ministério
da Cultura.
fonte do texto:
Património Cultural Imaterial
MEMORIAMEDIA E-museu
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20.Dez.2017
publicado
por
MJA
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