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São Dídimo (c. 313 - 398)
Dídimo perdeu a visão aos 4 ou 5 anos de idade, quando começava a aprender a
ler. No entanto, esse problema não diminuiu a sua vontade de saber. Pelo
contrário, parece que até a inflamou. Gravou o alfabeto em madeira e depois
aprendeu pelo tato as letras, as sílabas, as palavras e depois as frases
inteiras. Seu ardor pelo estudo não o fez parar nesse ponto de conquista. Tomava
providências para ouvir professores célebres, quando já era moço, e conseguiu
ajuda de pessoas que se prontificavam a ler para ele, a fim de tomar
conhecimento dos melhores livros. Quando os seus ledores, cansados, adormeciam, ele
meditava muito sobre o que acabara de ouvir e assim gravava o assunto em sua
memória.
Aprendeu as regras de línguagem e da gramática, os mais belos trechos dos poetas
e dos oradores, e também noções de retórica. Tornou-se um ótimo conhecedor das
letras sagradas e de assuntos humanos, das Sagradas Escrituras do Antigo e do
Novo Testamento, que conseguia explicar, trecho por trecho, das mais variadas
maneiras. Dominava a dogmática da Igreja Católica, e sobre os dogmas discutia
com precisão e muita propriedade. Conhecia a filosofia de Platão e de
Aristóteles, a geometria, a música, a astronomia e as diferentes opiniões dos
filósofos.
Quando chegou a Alexandria, atraiu muito a atenção e recebia muitas visitas de
pessoas que queriam ouvi-lo. Tinha amigos importantes, dentre os quais cumpre
citar Santo Atanásio, que acabou indicando o seu nome para Diretor da Escola de
Alexandria. Era estimado e respeitado pelos mais santos monges e eremitas do
Egito.
Recebeu um dia a visita de Santo Antão - talvez o mais famoso dos eremitas - que
lhe perguntou se a cegueira o incomodava. Dídimo teve vergonha de responder e de
confessar a sua fraqueza. Mas Santo Antão repetiu a pergunta uma segunda vez, e à
falta da resposta perguntou uma terceira. Dídimo confessou que sim, a cegueira o
afligia, o bloqueava.
Segundo os seus biógrafos, Santo Antão disse-lhe nessa
oportunidade: "Admiro-me muito que um homem sábio como você se aflija por haver
perdido aquilo que as formigas e as moscas possuem, em vez de se alegrar de ter
o que os santos e os apóstolos tinham. É mais importante preocupar-se com a alma
do que com esses olhos dos quais um só olhar poderá perder o homem eternamente".
Dídimo foi Diretor da Escola de Alexandria do ano 345 até ao ano anterior à
sua morte. Dentre seus alunos mais renomados podem ser citados São Jerónimo,
Rufino e Paládio. Dídimo escreveu diversos estudos. Deles os mais famosos são
"Sobre o Espírito Santo" e "Sobre a Trindade".
FIM
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'Dídimo,
Teólogo Cego - Diretor da Escola de Alexandria'
in A EPOPÉIA IGNORADA:
A Pessoa Deficiente na História do Mundo de Ontem e de Hoje
Autor: Otto Marques da Silva
São Paulo
CEDAS, 1987
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