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SOBRE A DEFICIÊNCIA VISUAL


Adagiário: O Sentido da Visão

Hernâni Matos

Estremoz-O AmorECego-irmas Flores_Inacia&Perpetua Fonseca
O Amor é Cego | boneco de Estremoz - irmãs Flores


A visão (vista) é um dos sentidos que permite observar e analisar o meio ambiente:

  • A cegueira quando dá é pela vista.

  • A malícia tem vista fraca e memória forte.

  • A paciência é boa para a vista.

  • Cada um vê mal ou bem, conforme os olhos que tem.

  • Doença que não é vista, não é conhecida.

  • Entre amigos, a vista basta.

  • Longe da vista, longe do coração.

  • Mais faz a vista do amo do que as suas mãos.

  • Morte não vista é mal crida.


Os órgãos sensoriais da visão são os olhos:

  • A juventude é a idade em que os olhos brilham sem ver.

  • Dois olhos enxergam mais que um só.

  • Graça de olhos tarde envelhece.

  • Olho de mãe, olho de falcão.

  • Olho de menino, olho de diabinho.

  • Olhos que não choram não sabem ver.

  • Os mortos aos vivos abrem os olhos.


O mecanismo da visão tem por base os raios luminosos que atingem o globo ocular:

  • A luz que vai adiante é a que alumia.

  • A candeia que vai à frente alumia duas vezes.

  • A candeia, debaixo do alqueire, não comunica a sua luz.

  • À luz da candeia faz tua meia.

  • À luz da candeia, não há mulher feia.

  • A luz se apaga mais depressa do que se acende.

  • A luz, onde está o fogo, aparece.

  • Mais vale um raio de Sol que um arrátel de sabão.

  • O excesso de luz produz a cegueira.

  • O sol quando nasce é para todos.


Para a maioria de nós:

Os ouvidos são mais infiéis que os olhos.


Os olhos dizem muita coisa:

Os olhos não enganam, nem mesmo quando pretendem enganar.

Os olhos são o espelho da alma.


À cor dos olhos são atribuídos significados:

Olho azul em portuguesa é erro da natureza.

Olho azul em raça portuguesa é velhaco com certeza.

Olhos verdes, olhos de traidor.


O movimento dos olhos cronometra o tempo:

Menos tempo gasta um postilhão a andar uma légua, que um preguiçoso a abrir os olhos.

Num volver de olhos ao mau vento, volta-lhe o capelo.


É através do mecanismo da visão que se forma no cérebro a imagem do que vemos, assim como dela a forma, a volumetria, a medida, a profundidade, a textura, o contraste, a luminosidade, o brilho e naturalmente a cor:

  • Azul e verde, ranho na parede.

  • Das cores a grã; da fruta a maçã.

  • Em vendo amarelo, todo me descanelo.

  • Gostos e cores não se discutem.

  • O azul é o almoço do sol.

  • O castanho-escuro corre o mole e o duro.

  • O verde é esperança; quem espera sempre alcança.


Os espelhos reflectem a nossa imagem e assim, através deles, a maioria de nós consegue observar o seu rosto:

  • Ao cego não dão cuidado os espelhos.

  • Levantou-se a torta e pôs-se ao espelho.

  • Para quê cego com espelho?

  • Tiraram-me o espelho por feia, e deram-no à cega.


Há dificuldades de visão (astigmatismo, estrabismo, hipermetropia, miopia) que podem ser corrigidas, através do uso de óculos com lentes adequadas:

Quatro-olhos vêem mais que dois.

Se não vejo pelos olhos, vejo pelos óculos.


A falta do sentido da visão constitui a cegueira:

  • A cegueira quando dá é pela vista.

  • A ver vamos como diz o cego.

  • A ver vamos, dizia o cego e cada vez via menos.

  • Achou o cego um dinheiro.

  • Antes cegues que mal vejas.

  • Antes torto que cego de vez.

  • Bem cego é quem muito vê por aro de peneira.

  • Cego é aquele que vê e não quer ver.

  • Cego é quem não vê por uma peneira.

  • Deus podia ter botado os cegos no mundo, para vigiar os que vêem.

  • É mais cego aquele que não quer ver do que aquele que não vê.

  • Janelas fechadas são olhos de cego.

  • Louvar-me num cego para julgar das cores.

  • Maria, antes com um olho só, do que com um filho.

  • Marido, não vejas! Mulher, cega não sejas!

  • Na terra dos cegos, quem tem um olho é rei.

  • Não há cego que se veja.

  • Não pode o cego distinguir cores.

  • O ambicioso é um cego a caminhar com pernas de pau.

  • O olho do cego é na mão.

  • O pior cego é o que não quer ver.

  • Os cegos desesperados por si se consolam.

  • Quem dá a vista aos outros, cego fica.

  • Quem não enxerga por trás de cerca de vara é cego.

  • Se o cego guia o cego, correm ambos o risco de cair.

  • Sonhava o cego que via.

  • Um cego não pode ser guia de outro cego.

  • Um cego não pode ser juiz em cores.


Uma boa visão exige cuidados de saúde:

  • A palha no olho alheio e não a trave no nosso.

  • Cada um vê o argueiro no olho do vizinho, e não vê a tranca no seu.

  • Nada é bom para os olhos.

  • O mal do olho cura-se com o cotovelo.

  • Quando o nó se faz piolho, com mal anda o olho.

  • Quem quiser olho são, ate a mão.

  • Sol roxo, água a olho.


Quando dormimos fechamos os olhos:

Se não dorme meu olho, folga meu osso.


A religião não podia deixar de ter múltiplas ligações aos olhos:

  • Com o olho e com a fé não zombarei.

  • Fui para me benzer e quebrei o olho.

  • O amor e a fé nos olhos se vê.

  • Quem, por virtude, se abate aos olhos dos homens, eleva-se aos olhos de Deus.

  • Santos da Catalunha, olhos grandes e vista nenhuma.


O amor nasce com o próprio acto de visão:

  • O amor e a fé nos olhos se vê.

  • O amor é cego mas vê muito longe.

  • O amor, ainda que cego para ver, é lince para adivinhar.

  • A mão na dor e o olho no amor.

  • Os olhos da namorada têm luz mais viva do que a do sol.

  • Coração de mãe, olhos de mãe.

  • O amor nasce da vista e vai ao coração.


Os olhos são sentinelas que nos mantêm alerta em relação às ameaças a que podemos estar sujeitos:

  • Abre um olho para comprar e os dois para vender.

  • Ao amigo que não é certo, com um olho fechado e outro aberto.

  • Chaves de Faro, prados de Loulé, e criados de S. Brás, olho vivo e pé atrás.

  • Contas na mão e olho no ladrão.

  • Mãos na roca, olhos na porta.

  • Não fies nem um tostão de quem põe os olhos no chão.

  • Não metas em tua casa quem dois olhos haja, senão trigo e cevada.

  • Os que falam com olhos fechados querem ver os outros enganados.

  • Quem com mau vizinho há-de vizinhar, com um olho há-de dormir e com outro vigiar.

  • Traze de olho o criado que ronha.

  • Um olho no burro, o outro no cigano.

  • Um olho no prato, outro no gato.


A mulher marca presença no adagiário da visão:

  • A mulher do cego para quem se enfeita?

  • A viúva rica com um olho chora e com outro repenica.

  • Devemos procurar a mulher antes com os ouvidos que com os olhos.

  • Levantou-se a torta e pôs-se ao espelho.

  • Mulher honrada não tem ouvidos nem olhos.

  • Olho de mãe, olho de falcão.

  • Quem não tem mulher, muitos olhos há mister.


Os olhos têm naturalmente a ver com sentimentos:

  • A doçura tira nojo e a gordura abre olho.

  • A inveja tem os olhos vesgos para o bem, e pulmões de ferro para apregoar o mal.

  • Ao medo sobejam os olhos.

  • Aos olhos da inveja, todo o sucesso é crime.

  • Facilmente aos olhos se afigura aquilo que se pinta ao desejo.

  • Gente baixa só tem olho no interesse.


Com os olhos se chora, produzindo lágrimas, em estados emocionais alterados: casos de dor, medo, aflição, raiva, tristeza, depressão, saudade, alegria exagerada, etc.:

  • A linguagem das lágrimas, não a entendem os corações de argila.

  • As chamas da caridade secam as lágrimas da dor.

  • As grandes desventuras não têm lágrimas.

  • As lágrimas são o forte das mulheres.

  • As lágrimas são, quase sempre, o último sorriso do amor.

  • Ás mulheres parece que trazem as lágrimas numa bilha.

  • Chorar com um olho e rir com o outro.

  • Chorar por um olho azeite e, por outro, vinagre.

  • Chorem olhos de teu amigo e ele enterrar-nos-á vivo.

  • Fugi do homem orgulhoso, que se envergonha de verter lágrimas.

  • Lágrimas abrandam pedras.

  • Lágrimas abrandam penas.

  • Lágrimas com pão ligeiras são.

  • Lágrimas de herdeiros, risos secretos.

  • Lágrimas de mulher são tempero de malícia.

  • Lágrimas de mulher valem muito e custam-lhe pouco.

  • Lágrimas de sermão e chuva de trovoada, cai na terra e não vale nada.

  • Nada seca mais depressa do que as lágrimas.

  • Não choram os olhos as perdas das coisas que não cansaram os braços.

  • Não os olhos que choram, senão as mãos que trabalham.

  • Os olhos que não têm chorado, não vêem nada.

  • Que mil olhos chorem, menos os meus.


Os animais também estão presentes no adagário sobre a visão:

  • Aos olhos tem a morte quem a cavalo passa a ponte.

  • Cria o corvo, tirar-te-á o olho.

  • Em tempo nevado, o olho vale um cavalo.

  • Não há coisa encoberta senão olhos de toupeira.

  • O cavalo engorda com o olho do dono.

  • O olho do amo engorda o cavalo.

  • Quem a cavalo passa a ponte, ao olho vê a morte.


Através dos olhos conseguimos percepcionar a beleza:

  • A beleza da mulher é uma das suas armas, as lágrimas são outra.

  • A beleza depressa se acaba.

  • A beleza é frágil; a virtude é eterna.

  • A beleza enche os olhos mas não enche a barriga.

  • A beleza está nos olhos de quem a vê.

  • A beleza exterior inspira amor; a interior inspira estima.

  • A beleza não se põe na mesa.

  • A beleza não tem senão a profundidade da pele.


Podemos também apreender a boniteza:

  • Boniteza não põe mesa.

  • Bonito é o que bonito parece.

  • Lindos olhos, feio bicho.


Podemos igualmente ter ou não a noção de feiura:

  • À luz da candeia, não há mulher feia.

  • Nem tudo o que é feio é mau.

  • O desejo torna formoso o que é feio.


A acção do olhar precede a alimentação:

  • Abre o olho, que assam carne.

  • Comer sem beber, cegar e não ver.

  • Mau é ter os olhos maiores do que a barriga.

  • Os olhos comem primeiro que a boca.

  • Os olhos não comem sopas.

  • Os olhos também comem.

  • Pão com olhos, queijo sem olhos, e vinho que salte aos olhos.

 

 
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Adágios, sistematizados por vinte e quatro tópicos. Naturalmente, que mais uma vez, este trabalho corresponde a uma sinopse que deixa de parte, variantes e corruptelas.
autor: Hernâni Matos
in Blog 'Do Tempo da Outra Senhora'
maio de 2011
https://dotempodaoutrasenhora.blogspot.com/

 

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20.Set.2021
Maria José Alegre