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The Blind Doe - desenho de Walter Crane (1887)
Uma corça, que apenas tinha um olho, andava a pastar perto do mar. Para se sentir mais segura,
mantinha o seu lado cego virado para o mar, de onde achava que não lhe viria
qualquer mal e com o olho bom vigiava o prado onde se alimentava. Desta maneira
achava que se encontrava em absoluta segurança.
Entretanto, um caçador ardiloso acompanhado de outros dois ou três, que há vários
dias tentavam, sem sucesso, apanhá-la, arranjaram um barco e deslizando com cautela
ao longo da costa, aproximaram-se dela e mataram-na. Mortalmente ferida, nas
agonias da morte, a pequena corça lamentou-se consigo própria:
"Oh destino cruel! Temia o perigo vindo do lado de terra, de onde ninguém
me atacou e não acautelei nunca o perigo vindo do lado do mar. Foi essa a minha
ruína: afinal ter sido atacada pelo lado de onde não esperava que nenhum perigo
me chegasse".
FIM

Moral da história |
A vida é tão cheia de
acidentes e incertezas que, por mais precauções que tomemos, nunca se pode dizer
que estamos totalmente livres de perigo. E embora haja apenas uma maneira de
virmos ao mundo, as possibilidades para sairmos dele são inúmeras. Podemo-nos
precaver, tanto quanto quisermos, dos males mais visíveis e ameaçadores, mas
ainda assim deixaremos um lado desprotegido perante tantos perigos escondidos, presentes ao nosso redor. A moral, portanto, que tal reflexão nos sugere, é não
sermos nem demasiado seguros, nem demasiado obcecados quanto à segurança das nossas pessoas;
pois é impossível mantermo-nos sempre fora de perigo; também não seria razoável
nem humanamente possível estarmos constantemente com medo daquilo que não está ao nosso alcance impedir.
ϟ
The One-eyed Doe
Versão de Samuel Croxall
em 'Fábulas de Esopo'
fonte:
https://fablesofaesop.com/
19.Dez.2024
Publicado por
MJA
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