A hipertensão arterial, conhecida popularmente como pressão alta, é uma das doenças mais prelevantes no mundo, acometendo cerca de um terço da população adulta.
Nas últimas décadas o número de hipertensos tem aumentado progressivamente devido a fatores como maior expectativa de vida, maior incidência de obesidade,
sedentarismo e maus hábitos alimentares.
Um dos grandes problemas da hipertensão arterial é o facto desta ser assintomática até fases avançadas. Não existe
um sintoma típico que possa servir de alarme para estimular a procura por um médico.
A definição mais aceite hoje em dia sobre hipertensão é a seguinte:
Normotensos: Pressões menores ou igual a 120/80 mmHg
Pré-hipertensos: Pressões entre 121/81 - 139/89 mmHg
Hipertensos grau I: Pressões entre 140/90 - 159/99 mmHg
Hipertensos grau II: Pressões maiores ou iguais a 160/100 mmHg
Hipertensão e Olhos
A hipertensão arterial leva à lesão dos vasos que irrigam os olhos causando perda progressiva da visão. Um exame de fundo de olho
pode revelar lesões precoces que ainda não causam sintomas. O exame de fundo de olho - aquele exame simples em que o médico dilata a nossa pupila e depois observa
o olho com uma lanterna especial.
Olho normal
Olho com retinopatia hipertensiva avançada
Comparem as duas fotos acima de um exame de fundo de olho. A primeira é de um olho normal. O segundo é um olho com retinopatia hipertensiva avançada. As
manchas vermelhas arredondadas são hemorragias e as manchas claras são pus. Reparem na deformidade dos vasos.
A hipertensão arterial sistémica, doença extremamente
comum no idoso, pode acometer os olhos. Geralmente a parte mais afetada do olho é a
retina, parte responsável pela transformação da luz em impulso nervoso, que é captado pelo cérebro, permitindo enxergar. A doença de retina causada pela hipertensão
arterial, chamada de retinopatia hipertensiva, e a doença do nervo óptico, que também pode
ser acometido, podem causar baixa de visão nestes pacientes.
As alterações
vasculares causadas pela hipertensão arterial no olho dependem da rapidez de instalação da mesma,
tempo e duração da doença e da idade do paciente. As alterações que ocorrem nos vasos retinianos ocorrem de forma semelhante nos rins, cérebro e outros órgãos. Ao contrário dos
outros órgão, a realização de um exame oftalmológico da retina permite que o especialista observe
esses vasos ao vivo, determinando a gravidade da doença. Este é o chamado exame do fundo
de olho direto e/ou indireto.
Classificamos as alterações vasculares da retina decorrentes da hipertensão arterial como arterioscleróticas ou hipertensivas, agudas
ou crônicas. Tais alterações são basicamente decorrentes da vasoconstrição e modificações estruturais
na camada muscular e íntima dos vasos mais finos.
As alterações arterioscleróticas
ocorrem de maneira lenta e gradual, geralmente ao longo dos anos. No exame de fundo de olho o
médico observa: mudança no reflexo arteriolar (chamadas artérias em “fio de cobre” ou “fio de prata”), cruzamentos
patológicos arterio-venosos (chamados “sinal de Gunn” e “sinal de Salus”), dilatação e
tortuosidade dos vasos, embainhamento dos vasos, alteração da permeabilidade vascular
retiniana resultando na formação de exsudatos duros (formados por lipídeos e
lipoproteínas).
As alterações classificadas como “hipertensivas” estão relacionadas a
modificações mais agudas, que podem surgir com certa rapidez, sendo causadas pela doença
“sair do controle”. No exame oftalmológico o médico observa alterações como: espasmo
ou estreitamento arteriolar, manchas algodonosas, hemorragias superficiais (“chama de
vela”) ou profundas (puntiformes, arredondadas) e edema de papila.
Uma das causas de
baixa de visão nos pacientes com hipertensão arterial é decorrente do acometimento da mácula,
por micro sangramentos ou edema (inchaço). A mácula é região da retina responsável pela
visão de detalhes. É importante lembrar que estas alterações (sangramento e edema)
não são observadas do lado de fora do olho do paciente, apenas pelo exame de fundo de olho e
podem ser confirmadas por exames como angiofluoresceinografia e OCT (tomografia de
coerência óptica).
Outra causa de baixa de visão nos pacientes hipertensos são os quadros de oclusão tanto
arteriais como venosas. Já que a parede dos vasos é alterada pela doença, aumenta a chance do fluxo sanguíneo ser
interrompido e o vaso “entupir”. Tais oclusões podem acometer vasos centrais da retina ou
ramos, responsáveis pela irrigação de áreas mais afastadas do centro da visão. Dependendo da
região acometida o paciente vai apresentar perda de visão.
Acompanhamento
Desta maneira, deve-se examinar o paciente e tentar identificar alterações
relacionadas à hipertensão arterial. As alterações podem ser detectadas precocemente e o paciente pode ser
encaminhado ao tratamento adequado com boas chances de controle do quadro e até
regressão de parte das alterações. A realização do exame da retina pelo oftalmologista mediante
a dilatação da pupila deve ser indicada não apenas para diagnóstico, mas também como
parâmetro de prognóstico. É importante lembrar que no começo o paciente não sente alteração na visão, até a retina estar comprometida,
quando é mais difícil tratar e impedir perda da visão.
Tratamento
Ainda não existe cura para a retinopatia hipertensiva, mas há como evitá-la, evitar a
sua evolução e em alguns casos recuperar parte do dano. Pacientes com hipertensão arterial
sistémica devem realizar um exame de fundo do olho no momento do diagnóstico da hipertensão, seguido de
exames anuais. Já que estes pacientes costumam ter mais de 40 anos e podem apresentar outras
doenças associadas como glaucoma ou diabetes, o exame serve para garantir que não somente
a hipertensão, mas estas outras doenças não ameaçam a visão.
Manter os níveis pressóricos bem controlados associado à prática de exercícios e
boa alimentação podem evitar ou controlar melhor a doença.
Nos casos das oclusões arteriais ou
venosas existem condutas específicas para cada caso sendo necessária uma avaliação detalhada,
muitas vezes associada a exames complementares.
Os hipertensos podem apresentar complicações diretas, como a retinopatia, e ainda ter risco aumentado para outras doenças oculares.
Uma série de manifestações oculares está direta ou indiretamente associada à hipertensão arterial sistémica (HAS). As consequências diretas incluem retinopatia
hipertensiva, coroidopatia e neuropatia óptica. Indiretamente, a HAS é um fator de risco significativo para oclusão venosa e arterial da retina, retinopatia
diabética, degeneração macular relacionada à idade e glaucoma.
A fundoscopia e o mapeamento de retina com dilatação pupilar devem integrar o exame físico em todos os pacientes com hipertensão recentemente diagnosticada, uma
vez que a retina é a única parte da vasculatura que permite visualização de forma não invasiva.
Os sinais de retinopatia hipertensiva podem ser agudos ou crônicos. Os primeiros incluem constrição arteriolar, manchas algodonosas, hemorragias retinianas,
exsudatos duros, coroidopatia hipertensiva, descolamento seroso da retina e edema de disco óptico. Cronicamente, há estreitamento arteriolar generalizado, aumento
do reflexo dorsal arteriolar, maior tortuosidade vascular, manchas algodonosas e hemorragia retiniana.
Dessa maneira, exames como a retinografia, angio-fluoresceinografia e tomografia de coerência óptica podem ser indicados para avaliar a perfusão vascular retiniana e
a possível necessidade de uso da fotocoagulação a laser ou da injeção intraocular de corticoide e/ou de anti-VEGF. Vale adicionar que não existe tratamento
oftalmológico específico para as lesões retinianas causadas pela HAS.
Na gestação, a toxemia gravídica, decorrente da eclâmpsia e da pré-eclâmpsia, pode desencadear estreitamento arteriolar, hemorragia retiniana, exsudatos
algodonosos, depósitos lipídicos, edema retiniano e papiledema. Existe ainda a possibilidade de descolamento seroso da retina bilateral em gestantes hipertensas,
porém há uma entidade com os mesmos achados denominada coriorretinopatia serosa central. O que a difere da retinopatia hipertensiva é a apresentação unilateral,
assim como o bom prognóstico pós-puerpério.
A retinopatia hipertensiva é caracterizada por uma alteração da vascularização da retina provocada por uma hipertensão arterial grave. A pressão arterial elevada
causa uma constrição focal e também generalizada das arteríolas da retina devido à autorregulação.
A elevação crónica da pressão arterial, e as alterações degenerativas da parede arteriolar, manifestam-se oftalmoscopicamente por: atenuação das arteríolas
retinianas, alterações do reflexo arteriolar, e cruzamentos arteriovenosos.
O aumento da permeabilidade vascular pode provocar depósitos lipídicos (exsudatos
duros) e hemorragias em chama de vela. As alterações hemodinâmicas na hipertensão arterial podem originar oclusão vascular, isquemia focal e enfartes da camada de
fibras nervosas (manchas algodoadas).
Uma elevação marcada e aguda da pressão arterial pode dar origem a uma coroidopatia hipertensiva. Podem ocorrer áreas de enfarte, aparecendo como lesões
hiperpigmentadas com um halo de hiperpigmentação - manchas de Elschnig. Os enfartes da coroideia muitas vezes aparecem com uma configuração hiperpigmentada ao
longo de um determinado meridiano - estrias de Siegrist.
A hipertensão maligna está associada a edema e hemorragias retinianas peripapilares.