Silvio Santiago Vieira
& Francisco Hermes Santos da Silva

A Matemática sempre foi vista pelos alunos como sendo a
disciplina mais difícil do currículo escolar e para alguns, chega a torna-se
um entrave na vida acadêmica. Quando se pensa em Educação Inclusiva, a
situação fica pior, pois se o aluno “normal” em termos de canais de
comunicação (visual, auditivo, etc) já sente esta rejeição, os alunos com
necessidades especiais de comunicação, sofrem as intempéries da falta de
preparo dos profissionais da Educação para tratar deste problema específico.
Apesar dos avanços da Educação no tocante à
Educação Inclusiva, ainda se observa na prática docente da maioria dos
professores de Matemática, uma certa insegurança para ensinar Matemática e
em especial a geometria a alunos com deficiência visual, porque há
necessidade de utilização de outros recursos metodológicos que não façam da
visão a principal porta de entrada da informação.
O despreparo desses professores, os fazem
deixar de lado esse conteúdo, abrindo com isso uma grande lacuna no
aprendizado do aluno, trazendo-lhe conseqüentemente grandes dificuldades
posteriores. Esse despreparo se deve entre outras causas, à formação
deficiente do professor no conteúdo geometria e
na abordagem dada pelos livros didáticos em capítulos finais de livros,
obedecendo ao currículo escolar, o que induz os professores a não
abordá-los, com a justificativa de falta de tempo (PAVANELLO, 1993).
No entanto, tais
obstáculos não podem servir de justificativa para o descaso com o ensino
deste conteúdo, necessitando de uma postura crítica dos docentes no sentido
da reflexão de suas práticas com objetivo de enfrentar um novo desafio: a
reformulação de sua própria postura profissional tanto na superação de suas
lacunas de formação do conteúdo, como de suas lacunas no tocante a novas
técnicas de abordagem dos conteúdos geométricos.
Quais as metodologias que podem favorecer o
ensino de Geometria para alunos portadores de deficiência visual (alunos
cegos e de visão reduzida)?
Sobre a situação, Barbosa discorre que:
“Buscar os recursos mais adequados para trabalhar com
alunos portadores de deficiência visual é tarefa que exige do professor
enxergar além da deficiência, lembrando que há peculiaridades no
desenvolvimento de todas as crianças, tendo elas deficiência ou não. A
cri actividade foi e continua sendo um elemento indispensável para o homem
superar problemas e desafios gerados pelo seu ambiente físico e social. É
encarada como uma construção do indivíduo em suas interações com as
propriedades do objeto. O trabalho voltado para a cri actividade auxilia muito
o processo ensino-aprendizagem de Geometria.” (BARBOSA, 2003, p 19).
O presente artigo tem como objetivo discutir
formas de flexibilização do conteúdo de Geometria através de recursos
táteis, em alto relevo e por meio do sistema Braille para facilitar a
entrada desse grupo de alunos no universo matemático. Esse artigo parte de
uma pesquisa ação que desenvolvi com alunos deficientes visuais com quem
trabalho e servirá como possível material de apoio para outros profissionais
da educação inclusiva que pretendem reformular as suas atuações
didático-pedag
ógicas.
O ENSINO DE GEOMETRIA
Para resolver problemas geométricos não
adianta apenas ser conhecedor da álgebra, aritmética e tão pouco conhecer
todas as fórmulas que encontramos nos livros didáticos. Para resolver
questões de Geometria o aluno necessita ter noções espaciais que permitam
interpretar as imagens.
Se para o aluno que vê a falta de um ensino sistemático de Geometria constitui-se uma perda
significativa, muito mais para o aluno de visão reduzida ou para o aluno
cego, pois eles necessitam de materiais adequados às suas especificidades,
materiais estes não disponíveis na sala de aula comum. Então, como ensinar
Geometria de forma a proporcionar aos alunos cegos ou de baixa visão, a
percepção e poder de interpretação das imagens geométricas?
Esses alunos necessitam vivenciar todo o
universo que os cerca, pois as formas e imagens rodeiam permanentemente o
homem e, esse aluno, mais do que outro qualquer deve ter a oportunidade de
integrar-se ao “mundo” dos objetos, a fim de capacitar-se para fazer
associações, transferências, adquirindo mecanismos interpretactivos e
formadores de conceitos e imagens mentais. CANZIANI (1985, p. 12) ressalta
bem essa característica da integração: “A pessoa portadora de deficiência
deve receber uma educação que lhe permita adaptar-se ao ambiente que a
rodeia e também encontrar o caminho e os meios que lhe permitam adaptar-se
às situações futuras”.
Durante séculos, a Geometria foi ensinada na
sua forma dedutiva. A partir da metade do século passado, porém, o chamado
Movimento da Matemática Moderna levou os matemáticos a desprezarem a
abrangência conceitual e filosófica da Geometria Euclidiana, reduzindo-a a
um exemplo de aplicação da Teoria dos Conjuntos e da Álgebra Vetorial. Desta
forma a geometria foi praticamente excluída dos programas escolares e também
dos cursos de formação de professores do ensino fundamental e médio, com
conseqüências que se fazem sentir até hoje.
A partir dos anos setenta, iniciou-se em todo
mundo, um movimento em favor do resgate do ensino da Geometria, visando
ampliar sua participação na formação integral do educando.
Dentro desse contexto, o ensino de Geometria
no Brasil, sofreu e vem sofrendo profundas modificações tentando, na medida
do possível, aproximar cada vez mais os conteúdos a situações do cotidiano
do aluno, afinal vivemos num mundo repleto de formas geométricas.
Seja na escola, na rua, na casa, a geometria está
constantemente presente. Para os alunos deficientes visuais a situação não é
diferente, a perda da visão não os limita de sentir e presenciar as formas
geométricas que os cercam, pois, a partir do toque, esses alunos podem
“visualizar” toda a beleza do mundo geométrico em sua volta. O que parecia
então vazio e sem forma, com um simples toque ganha forma e vida na mente
desses alunos possibilitando-os, assim, acompanhar os conteúdos.
Mas, apesar dos esforços de pesquisadores da
educação matemática em sistematizar o ensino de Geometria, o grande problema
da não aprendizagem da disciplina pelos alunos é o fato dos professores de
Matemática, em sua maioria, não conhecerem bem a Geometria e por esta razão
acabam seguindo demasiadamente o livro didático, quase sempre,
preocupando-se mais com a técnica que com o despertar da percepção
geométrica. Os estudos de LORENZATO (1993, p. 3) verificam que muitos
professores não possuem conhecimentos suficientes para ensiná-la.
Além desses problemas levantados, o aluno
portador de deficiência visual enfrenta mais um problema: professores que se
queixam não terem sido preparados para ensinar um aluno deficiente visual,
logo destinam maior parte de sua responsabilidade para o auxílio técnico da
sala de recursos.
Deve-se considerar que o aluno com deficiência visual acentuada ou de visão
reduzida “é considerado normal no âmbito da educação” (CARNEIRO, 1998, p.
127) e portanto mantêm suas faculdades cognitivas inalteradas (a não ser que
se trate de um caso com deficiência visual associado a deficti cognitivo,
por exemplo, o qual não será objeto de estudo desse trabalho). Este aluno
possui uma limitação que pode ser suprida explorando-se os outros sentidos
remanescentes.
“Apesar de possuir uma restrição que impõe certos
limites, o deficiente visual pode ter uma vida tão agitada quanto a de um
vidente, desde que haja cooperação entre os membros sociais. Como qualquer
outra pessoa, tem condições de estudar, trabalhar, namorar, dentre tantas
outras actividades que fazem parte da rotina diária. O que muitas vezes falta
são oportunidades para ele mostrar seu potencial. É comum, quando as pessoas
se deparam com um deficiente visual, o aparecimento de sentimentos de
compaixão e dó, como se ele fosse apenas um corpo vagando pelas ruas e que,
sem ajuda não consegue prosseguir. Muitas vezes ficam até impressionadas
quando o mesmo se destaca em actividades comumente destinadas a videntes.
Isso quando não é desprezado.” (FERRONATO, 2002, p.37).
ENSINO DE
MATEMÁTICA E DEFICIÊNCIA VISUAL.
Como se ensina Matemática para um deficiente visual? Foi a pergunta que me
fiz quando convidado a ministrar aula de Matemática para portadores de
necessidades educacionais especiais. Essa mesma pergunta é feita a mim,
automaticamente, quando alguém sabe que lido com o aluno deficiente visual.
A
Matemática é estigmatizada como um “bicho de sete cabeças” e a falta de
recursos metodológicos colaboram para aumentar as dificuldades no processo
ensino – aprendizagem do deficiente visual. É constante ouvir também
perguntas como:
“Como resolvem eles as questões?” ou “Como entendem eles os problemas?”
Quando se fazem essas perguntas, se esquece que as faculdades cognitivas de
um deficiente visual se mantêm inalteradas. Não há dúvida de que o
grau de dificuldade dos deficientes visuais na disciplina Matemática aumenta
quando não há recursos didáticos adequados à sua especificidade. O aluno com
baixa visão tem possibilidades de acompanhar a resolução de um problema no
quadro, mas o aluno cego não! Então é preciso, de alguma forma, criar
alternativas que minimizem as dificuldades que a deficiência visual traz aos
alunos.
O
objetivo de estudo deste artigo não pretende dar ênfase à deficiência do
aluno, mas suas potencialidades que devem ser estimuladas, para que haja um
aprendizado efetivo. A
relevância existe porque se tem observado que alguns professores de
Matemática da rede regular de ensino, ainda não se voltaram para a questão
das especificidades do deficiente visual. Prova disso, é a grande
dificuldade que o aluno deficiente visual tem para aprender a disciplina
Matemática. Isso porque o professor de Matemática da sala regular de ensino,
por não estar integrado à proposta de inclusão, na maioria das vezes, não
busca meios para facilitar o processo ensino-aprendizagem.
Um
exemplo clássico que comprova essa desconexão entre professor e aluno é o
fato da maioria dos professores desconhecerem o Sistema Braille, algo
indispensável para quem precisa atuar pedagogicamente com o deficiente
visual. [...] Mas, se tem o professor da sala de recursos, para que o professor da sala de
aula regular precisa conhecer o Sistema Braille?
O
educador Matemático precisa conhecer o Braille, porque o professor da sala
de recursos quase sempre não tem o conhecimento matemático necessário para
ensinar a disciplina, afinal, quase sempre ele não é professor de
Matemática!
Então, é possível que a educação matemática ensinada na sala de
recursos seja fragmentada, assim como a Matemática ensinada na sala regular
para uma pessoa com deficiência visual, será também fragmentada se o
professor não apresentar recursos metodológicos que possibilitem a
compreensão dos conteúdos que serão ministrados. Por esta razão, o professor que atua com o deficiente visual,
deve ter conhecimento da escrita de seu aluno, portador de necessidades
educativas especiais.
Ferronato, sobre a situação, corrobora:
“Quem usualmente conhece esse sistema é quem tem a
necessidade direta dele, ou seja, alunos cegos e professores
“especialistas”. Os professores das classes regulares dificilmente sabem
como utilizá-lo, talvez porque não vejam nele um instrumento de grande
importância. Isso dificulta muito o aprendizado do aluno cego, uma vez que
ele não tem a possibilidade de fazer anotações sem o seu código de escrita,
depende sempre da sua boa memória para poder abstrair o que está sendo
passado. Também pode ocorrer de o professor não entender o que ele escreveu,
justamente por não conhecer o Braille, e em conseqüência direta, possíveis
dúvidas podem ficar sem resposta” (FERRONATO, 2002, p. 42).
É
sabido que o processo de inclusão é, sem dúvida, um grande passo positivo,
quanto à possibilidade de socialização do indivíduo deficiente. No entanto,
percebe-se ainda, que na questão educacional, ela ainda caminha a passos
lentos e curtos, pois verifica-se nas classes regulares, professores mal ou
não preparados para atuar com o aluno com deficiência e observa-se também a
falta de recursos didáticos adequados e necessários em sala de aula normal
que abriga esses alunos.
O
Brasil cuida mal ou não cuida do aluno portador de necessidades educacionais
especiais, talvez porque não tenha conseguido resolver questões mais gerais
da Educação Básica. De um modo geral, há um despreparo técnico dos
profissionais que lidam com a educação do portador de necessidades
educacionais especiais. Evidencia-se demais a deficiência dos alunos em
detrimento das possibilidades de adequação dos meios de ensino e avaliação
desse educando.
Logo, trabalhar matemática com alunos
deficientes visuais parece ser uma tarefa não muito fácil. Isso porque esses
alunos precisam estar em contato direto com o que está sendo ensinado. Ou
seja, eles precisam literalmente “sentir” para poder fazer suas abstrações.
Não que os outros alunos não tenham essa necessidade, mas é que no caso dos
deficientes visuais, o concreto é um dos únicos meios possíveis de
conhecimento das coisas que os cercam. Desse modo, ao professor cabe a
responsabilidade de estar buscando estratégias concretas que possibilitem a
compreensão de todos os alunos.
A teoria construtivista de Jean Piaget muito
auxilia o docente nessa tarefa, uma vez que defende que o desenvolvimento
cognitivo é facilitado quando se trabalha concretamente. Para ele o
conhecimento parte de ações sobre objetos concretos, repousando no tripé
sujeito (quem aprende), objeto (o que se aprende) e social (o outro ou o
meio).
O aluno, sob essa perspectiva, não é passivo
e sim sujeito activo de sua aprendizagem, pois agindo sobre o objeto tem a
possibilidade de construir o conhecimento e não simplesmente “absorvê-lo”.
GROSSI (1993) citado por FAINGUELERNT (1994, p. 24) coloca que “o
construtivismo inaugura a valorização do agir de quem aprende como elemento
central para se compreender algo”. E valorizar a ação do educando é
fundamental, principalmente em se tratando de alunos deficientes visuais
que, muitas vezes segregados pela sociedade, possuem auto-estima baixa e não
acreditam, de certa forma, em suas potencialidades.
Entretanto, MACEDO (1994) faz um alerta
quando afirma que a essência do método desenvolvido por Piaget só tem
sentido quando a ação do sujeito é espontânea, ou seja, o educando deve ser
instigado a agir sobre o concreto, sem interferências externas, a fim de
assimilar e acomodar às estruturas pré-existentes em sua mente, os novos
conceitos e habilidades agora requeridos. O aluno é agente da construção do
seu conhecimento pelas conexões que estabelece em seu sistema cognitivo num
contexto de resolução de problemas. Isso porque todos os alunos,
independente das diferenças físicas ou culturais, possuem uma experiência
anterior, uns mais que outros, que não pode ser desprezada e essa
experiência auxilia muito na aprendizagem.
São poucas as alternativas que os docentes
têm para trabalhar conceitos matemáticos de forma concreta. Porém, a partir
de estratégias simples criadas pelo próprio educador, os alunos podem ser
estimulados a estarem buscando novas aprendizagens. São possibilidades que
estão emergindo com maior intensidade nas últimas décadas, decorrentes
principalmente da proposta inclusiva, que prima por salas heterogêneas o
que, de certa forma, estimula o professor a estar buscando alternativas que
possibilitem a aprendizagem de todos os alunos e não apenas de parte deles.
O professor não precisa mudar seus
procedimentos quando tem um aluno deficiente visual em sua sala de aula, mas
apenas intensificar o uso de materiais concretos, para ajudar na abstração
dos conceitos. Ao criar recursos especiais para o aprendizado de alunos com
necessidades especiais, acaba beneficiando toda a classe, facilitando para
todos a compreensão do que está sendo transmitido.
No caso específico do ensino da matemática
para deficientes visuais, por enquanto, não se tem notícia de muitas
alternativas. Normalmente ela é transmitida tendo-se como recurso
fundamental o sorobã ou ábaco, instrumento usado tradicionalmente no Japão
para fazer cálculos matemáticos. No Brasil ele foi adaptado em 1949 para
o uso de alunos cegos, sendo que hoje é adotado em todo o país. Com ele é
possível realizar operações de adição, subtração, multiplicação, divisão,
radiciação e potenciação com certa rapidez. É um objeto de baixo custo e
grande durabilidade.
Entretanto, vários conteúdos matemáticos não
são possíveis de serem explicados utilizando-se o sorobã. Principalmente os
que se referem à Álgebra e à Geometria, pois estes dois blocos têm seus
respaldos teóricos em situações visíveis, concretas. Trabalhar Funções,
Estatística ou Trigonometria, por exemplo, não é possível utilizando esse
recurso pedagógico, porque ele não possibilita a construção de gráficos ou a
visualização concreta das equações.
Dessa forma, esses conteúdos são, na grande
maioria das vezes, trabalhados superficialmente com alunos deficientes
visuais, isso quando não são substituídos por outros, com menor carga de
dificuldade.
Para que isso ocorra, as
experiências com materiais concretos podem e devem ser aproveitadas pelo
professor, que pode conseguir êxito levando em consideração o conhecimento
das crianças, fruto de seu meio. Quanto mais os educandos se deparam com
situações concretas de aprendizagem, independente de terem ou não restrição
sensorial, mais fácil conseguirão fazer suas abstrações.
Afirmamos isso tendo respaldo na teoria construtivista de
PIAGET (1986), que pesquisando durante anos como se efetiva o
desenvolvimento cognitivo nas crianças, chegou à conclusão de que elas
aprendem melhor a partir de situações concretas criadas pelo educador e sem
interferências externas. “O conhecimento (...) é o resultado das relações
que podem existir entre o homem e o meio” (ROSA, 1998), sendo facilitado
quando as mesmas são mediadas por instrumentos concretos. LEITE (1989), ao
se referir à teoria construtivista de Piaget, faz uma importante observação:
“Agindo [a criança] assimila novos conceitos e adquire novas habilidades,
refaz conceitos anteriormente adquiridos e refaz suas estruturas mentais
(...). O refazer de estruturas mentais torna possível a verdadeira
aprendizagem”.
Sendo assim, a abstração dos conceitos pode ser
facilitada quando se trabalha com o concreto, com o palpável. Com o auxílio
do material e de forma independente, o educando pode visualizar
concretamente o que é proposto pelo professor, sem, no entanto, ficar
dependente do material. É um recurso que auxilia na abstração e, quando a
mesma se efetiva, torna-se dispensável.
“Assim que os conceitos que se deseja construir estejam
prontos, pode-se trabalhar (...) de forma abstrata, sem a manutenção de uma
relação direta com o aparelho. (...) O aparelho pode deixar de existir
materialmente em classe, mas ele continuará a existir sob a forma de
evocação, dentro da representação de cada sujeito que agiu sobre ele.”
(ROSA, 1998, p. 30).
Para o deficiente visual a utilização de materiais
concretos se torna imprescindível, haja vista que tem no concreto, no
palpável, seu ponto de apoio para as abstrações. Ele tem no tato seu sentido
mais precioso, pois é através da exploração tátil que lhe chega a maior
parte das informações. É através dela que ele tem a possibilidade de
discernir objetos e formar idéias. As mãos, dessa forma, têm um papel
fundamental, pois são elas que vão suprir, de certa maneira, a “inutilidade”
dos olhos.
Entretanto, o processo de explorar e conhecer através das
mãos é demorado e requer grande esforço do deficiente visual. Ele precisa de
situações adequadas sem que haja precipitação nem impaciência.
Dessa forma o professor pode se esforçar no sentido de
trabalhar concretamente os conteúdos, para que os resultados finais sejam
maximizados. Trabalhar de forma concreta com deficientes visuais implica
materiais que eles possam tocar, pois é com as mãos que eles têm a
possibilidade de enxergar. Segue, então na próxima sessão, algumas sugestões
de actividades que podem facilitar o ensino de Geometria em classes que
abarcam a pessoa com deficiência visual assim como alunos videntes.
SUGESTÕES DE ACTIVIDADES
Seguem-se situações que considero úteis para a
sala de aula que abriga o aluno deficiente visual.
O ensino de Geometria voltado ao aluno
deficiente visual pode ser basicamente trabalhado a partir de
actividades
como dobrar, recortar, moldar, deformar, decompor, situações essas que
permitem uma “visualização” tátil do material utilizado.
Actividade 1:
Composição e decomposição de figuras planas
Material
utilizado: de fácil
acesso e baixo custo, pode ser confeccionado em cartolina ou pode ser
utilizadas caixas de perfumes, remédios, creme dental, etc, pois permitem a
decomposição do sólido possibilitando a planificação do mesmo a partir do
desmonte das embalagens.
Actividades desenvolvidas:
-
pedir que o aluno identifique as figuras planas presentes nas caixas desmontadas;
-
trabalhar os conceitos geométricos de forma sistematizada;
-
pedir ao aluno para compor a caixa;
-
pedir ao aluno que identifique através do toque as partes do sólido geométrico
utilizado;
-
o professor irá trabalhar os conteúdos geométricos de forma sistematizada;
-
possibilitar que o aluno estabeleça a diferença entre sólidos geométricos e
figuras geométricas planas.
Essa actividade pode parecer mero passatempo, porém é de
fundamental importância para o aluno deficiente visual para a construção de
sua percepção geométrica.
Actividade 2:
Sugestões de como trabalhar a Geometria e gráficos através da
Tábua de Geoplano e do
Multiplano.
Geoplano:
É constituído por uma tábua onde pinos desenham uma rede quadricular.
Borrachas podem materializar o contorno.
Trata-se de um material aberto, que pode receber várias
aplicações em variados níveis de desenvolvimento dos alunos, desde os
primeiros passos até o fim do ensino básico.

Actividades desenvolvidas
-
Identificação de direções (horizontal, vertical, diagonais);
-
Identificação, classificação ou reprodução de polígonos;
-
Construção de figuras semelhantes a outras já realizadas;
-
Medição e comparação de áreas e perímetros;
-
Conceito de ângulo (medição)
-
Relações entre triângulos semelhantes
-
Seno, cosseno tangente de um ângulo.
Para desenvolver
o conteúdo de Geometria pode-se utilizar elástico de qualquer espessura.
Devido a Tábua de Geoplano ser constituída por vários pinos, ela permite que
o deficiente visual perceba a forma e a dimensão das figuras planas através
do contorno do elástico, facilitando a compreensão de áreas e figuras. Com a
ajuda do professor o aluno poderá saber o valor da base e da altura de um
retângulo, por exemplo, a partir da determinação do espaçamento entre os
pinos.
Multiplano:
Trata-se de um instrumento concreto que possibilita ao deficiente visual uma
aproximação maior com a Matemática.
É
uma placa com furos eqüidistantes, dispostos em linhas e colunas
perpendiculares. "Com o
Multiplano o deficiente visual consegue fazer gráficos, figuras geométricas
e cálculos avançados, além de entender melhor volume e distância."
(FERRONATO, 2002, p. 25). Nos furos são colocados pinos que, contornados por
elásticos, desenharão:
Figuras
Planas | Gráficos

Assim como o Geoplano, ele permite que o aluno visualize através do tato.
ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES
É importante para o professor que queira
melhorar a qualidade do ensino, reconhecer o aluno deficiente visual como um
indivíduo dotado de limitações e potencialidades como os demais.
Assim, ao professor da classe comum cabe, quando se
deparar com um aluno deficiente visual, aproveitar ao máximo os outros
sentidos dele. Pode falar em voz alta o que está sendo escrito no quadro
negro, facilitando a apreensão por parte deste aluno do que está sendo
tratado. Além do mais, pode ser cauteloso ao se comunicar com a classe,
evitando fazer comparações, para que não provoque sentimentos de
inferioridade. Na medida do possível, pode passar a esse aluno a mesma lição
dada aos outros, para que a faça na classe ou em casa, a fim de valorizar o
deficiente visual ante aos demais, fazendo-o perceber que é capaz,
contribuindo para melhorar sua auto-estima. Além disso, quanto mais os
educandos se deparam com situações concretas de aprendizagem, independente
de terem ou não restrição sensorial, mais fácil conseguirão fazer suas
abstrações.
Portanto, a utilização de recursos metodológicos
adequados às necessidades do aluno deficiente visual implica em melhor
rendimento no aprendizado, ou seja, os alunos demonstram compreender melhor
a matemática a partir da “sensação tátil”. Portanto, a metodologia proposta
pode ser utilizada nas salas de aula como alternativa para alcançar melhores
resultados no processo de ensino/aprendizagem de Geometria para alunos
deficientes visuais e também para os alunos videntes.
É importante que o professor de Matemática se
conscientize da relevância do seu papel no processo educacional do aluno
cego e/ou com baixa visão. Que ele busque uma preparação mais adequada,
inicialmente, aprendendo o sistema Braille e em seguida procurando
alternativas metodológicas que satisfaçam as necessidades exigidas pelo
aluno.
REFERÊNCIAS
-
BARBOSA, P. M. O estudo da Geometria. IBC: Rio de
Janeiro, 2003.
-
CANZIANI, M. L. B. Educação Especial: Visão de um
processo dinâmico e integrado. Curitiba: EDUCA, 1985.
-
CARNEIRO, M. A. LDB Fácil – Leitura Crítico
Compreensiva artigo a artigo. São Paulo: Vozes, 1998.
-
FAINGUELERNT, E. K. Educação Matemática:
representação e construção em geometria. Porto Alegre: Artes Médicas Sul,
1999.
-
FERRONATO, R. Multiplano: Instrumento de Inclusão no
Ensino da Matemática. Florianópolis: UFSC, 2002.
-
LEITE, A. S. Cores e furos: material concreto na
linha de Piaget. São Paulo: Manole, 1989.
-
LOPES, M. L., NASSES, L. Geometria: na era da
imagem e do movimento. Rio de Janeiro, UFRJ, 1996.
-
LORENZATO, S. Por que não ensinar Geometria? In:
Revista SBEM – A educação matemática em revista, n°. 4, ano III, 1995.
-
MACEDO, L.
Ensaios construtivistas. São Paulo: Casa do Psicólogo Livraria e Editora
Ltda, 1994.
-
PAVANELO, R. M. O Abandono do ensino de Geometria no
Brasil: causas e conseqüências. In: Revista Zetetiké, Campinas, n°.1,
1993.
-
PIAGET. J. O Possível e o Necessário: evolução dos
necessários na criança. [trad. Bernardina Machado de Alburquerque]. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1986.
-
ROSA, S. B.
“Principais conceitos dos modelos existentes”. In: A integração do
instrumento ao campo da engenharia didática: o caso do perspectógrafo.
1998. Tese de Doutorado “Engenharia de Produção”.
ϟ
autores:
Silvio Santiago Vieira - Mestrando do Programa de Pós
Graduação em Educação em Ciências e Matemáticas – PPGECM – do Núcleo
Pedagógico de Apoio ao Desenvolvimento Científico – NPADC – da
Universidade Federal do Pará – UFPA.
Francisco Hermes Santos da Silva - Dr. em Educação Matemática e
professor do PPGECM – NPADC – UFPA.
Fonte:
http://www.sbem.com.br/
Δ
21.Set.08
publicado
por
MJA
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