S. Hugonnier-Clayette, M. Bourron-Madignier,
P. Magnard
& A. Hullo

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Índice dos assuntos
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Noção de função visual -
O que é uma deficiência visual? Os diferentes tipos de cegueira Definição legal da cegueira na França Classificação das deficiências visuais de Delthil e Crouzet
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A cegueira A visão subnormal
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Os acometimentos do campo visual Os distúrbios da refração Os distúrbios da visão das cores e os acometimentos do sentido
luminoso Os distúrbios da visão binocular: estrabismo e ambliopia
funcional, heteroforia, paralisia ocular, nistagmo Doenças orgânicas dos globos oculares Acometimento da mácula, acometimento da retina, acometimento das
vias ópticas, doenças do cristalino, doenças da córnea, doenças
da úvea, os glaucomas
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Organização geral da detecção precoce Prevenção e detecção das diferentes afecções oculares As afecções oculares congênitas, prevenção do descolamento
de retina, prevenção e detecção dos glaucomas, prevenção e
detecção das complicações retinianas das doenças sistêmicas,
prevenção das doenças oculares iatrogênicas, prevenção dos
acidentes oculares do trabalho, prevenção dos acidentes oculares
de trânsito
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A reeducação e suas regras gerais A reeducação de acordo com a patologia Apresentação clínica dos distúrbios visuais que justificam
uma reeducação Os tratamentos Tratamento da ambliopia funcional Tratamento dos distúrbios da visão binocular O estrabismo convergente do primeiro ano, a "síndrome de
bloqueio" ou esotropia com nistagmo manifesto latente, o
estrabismo convergente essencial precoce, o estrabismo convergente
acomodativo, o estrabismo divergente, as heteroforias e a
insuficiência de convergência, o nistagmo congênito Conclusões sobre a reeducação
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As técnicas paliativas de auxílio O que é o Braille Quais são os meios de auxílio ao deslocamento dos cegos A bengala longa, o cão-guia, os auxílios visuais ópticos, as
lupas, os sistemas microscópicos, os sistemas telescópicos, as
telelupas Os auxílios eletrônicos Quais são os auxílios visuais eletrônicos para amblíopes? Quais são os auxílios electrônicos para hemeralopes? Quais são os auxílios eletrônicos para cegos? Auxílios electrônicos para locomoção Auxílios electrônicos para a comunicação e para a leitura A readaptação da criança com visão subnormal O que pode ser feito para a criança deficiente visual? A orientação dos pais, a aprendizagem visual Qual é a orientação escolar, na França, para a criança com
visão subnormal? Que estabelecimentos escolares Ihe são oferecidos? A readaptação da criança cega Que fazer perante uma criança cega? Qual é a orientação escolar para esta criança? Julgamento de conjunto sobre ensino especializado Readaptação do jovem e do adulto recém-cegos Readaptação dos sujeitos idosos recém-cegos
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PRÓLOGO
À memória de René
Hugonnier.
Sua ausência se fez sentir
diariamente durante a elaboração
deste trabalho. Nossa equipe,
formada à luz de seus
ensinamentos, espera permanecer digna dele.
Há poucas situações tão variadas quanto as de um doente que
apresenta um déficit visual importante. O distúrbio advindo à
visão tem conseqüências extremamente variáveis: a baixa da
acuidade visual de longe ou de perto, o acometimento do campo
visual, o da motricidade, o da visão binocular criam outras tantas
situações diferentes. Mas o modo como esse déficit é aceito,
assimilado, superado depende, no mais alto grau, da capacidade de
adaptação do sujeito e de sua família. Desde já afirmamos,
repetiremos durante este trabalho e nunca deixaremos de repetir que
uma criança deficiente visual não deve jamais ser colocada em
escola especializada por causa da simples constatação de um
déficit da visão de longe, e também que ele pode ser detectado
por meio de um exame sistemático não especializado. Os problemas
suscitados pelo cego são muito diferentes. Para ele, é necessária
uma estrutura particular, seus estudos devem ser realizados de
acordo com técnicas adaptadas e guiados por professores formados
para tal fim. Se o objectivo é sempre a integração do cego na
sociedade, dando a ele sua autonomia e seu ofício, os meios
empregados são totalmente diferentes dos necessários ao deficiente
visual. A redação deste trabalho deparou constantemente com o
pluralismo das situações, que não está longe de abranger a
patologia ocular em sua totalidade. Este pluralismo é encontrado
também na maneira de conceber a readaptação.
A readaptação ensina o sujeito a aproveitar ao máximo sua
capacidade visual, por mais fraca que seja. Ensina-o a viver o
melhor possível com uma deficiência visual. Mas quando se trata de
distúrbio da visão binocular e de ambliopia funcional, a
readaptação se torna mais ambiciosa. Trata-se de uma verdadeira
terapêutica que visa a suprimir o déficit visual; fala-se então
de reeducação.
Seria missão impossível examinar as deficiências em
oftalmologia no quadro de uma obra limitada? Esse julgamento caberá
ao leitor, se ele quiser seguir-nos através destas páginas.
Nos primeiros capítulos relatamos a freqüência e as causas da
deficiência visual, bem como os meios de limitar sua incidência
através da prevenção e da detecção precoce.
Apenas de modo limitado, falaremos de terapêutica, na medida em
que o tratamento do distúrbio visual está condicionado a uma
readaptação.
Se a causa do déficit for orgânica, a reeducação funcional
será inoperante. Veremos isso no capítulo IV.
Depois, veremos as soluções propostas aos deficientes visuais
para se adaptarem o melhor possível a uma enfermidade adquirida.
Cada capítulo forma um todo que, de certa forma, pode ser lido
separadamente.
I. HlSTÓRICO
Em todos os tempos, a cegueira preocupou o espírito dos homens.
Os cegos sempre foram vistos com temor, compaixão, ou admiração
por sua capacidade de adaptação e seu talento. Assim, a tradição
atribui a um autor cego, Homero, os mais célebres poemas da
História do Mundo: a Ilíada e a Odisseia. R. Etienne, num artigo
recente (1982) nos lembra o grande enfoque dado aos cegos nos
Evangelhos. Parece ser em São Mateus que os encontramos em maior
escala: quatro curas milagrosas e a parábola dos cegos que se
conduzem mutuamente e vão para o abismo. São Marcos propõe o
problema da hereditariedade a propósito de um cego de nascença:
"seus pais pecaram?". São Lucas relata o célebre caso do
cego de Jericó e a invocação "Filho de Davi, tem piedade de
mim", e São João, a propósito de uma cura de cegueira
congênita, descreve a primeira readaptação, pois à pergunta:
"O que você está vendo?", a resposta "estou vendo
sombras" traduz uma visão muito imperfeita: a plenitude da
acuidade não é obtida de imediato, é necessária uma educação
da percepção.
Tudo está, portanto, no Evangelho. A noção de assistência aos
cegos também e tão antiga quanto o mundo. P. Bonin
("L'ophtalmologie des origines à nos jours", 1981) lembra
a máxima de São Jerônimo: "Sede o braço do fraco e o olho
dos cegos".
É no século V que parece ter sido fundada, por São Lino, na
Síria, a primeira comunidade para cegos.
É provável que tenha existido um lar para cegos em Jerusalém
no século VII, e a mesquita de El Aghar, fundada no Cairo no
século X, dispunha de uma secção especial para cegos,
No Ocidente, no século Xl, Guilherme, o Conquistador criou
quatro hospitais para cegos, a fim de expiar o pecado de se ter
casado com sua parente.
O célebre hospital dos Trezentos, em Paris, é obra de São
Luís, mas não sabemos a data exata de sua fundação, que está
situada nos meados do século Xlll. A "Casa dos Trezentos Cegos
de Paris" (quinze vezes vinte) não se destinava, como se diz
com freqüência, a receber os cruzados acometidos de cegueira no
Oriente, mas a trezentos cegos da cidade de Paris, simplesmente. O
poeta Rutebeuf cantou:
O rei pôs num retiro
Mas não sei bem porque o fez
Trezentos cegos, lado a lado.
Trata-se de alojar, alimentar e aquecer os cegos, mas ninguém
ainda tem a ideia de ensinar-lhes um ofício e reintegrá-los na
vida social. Esta ideia só aparecerá muito mais tarde. É a um
francês, Valentin Haüy que vai caber esta honra: tentar adaptar os
jovens cegos à sua condição. Para estes, ele funda, em 1784, uma
casa que, sob o Diretório tornou-se Instituto Nacional dos Jovens
Cegos, e depois foi ligada por Napoleão aos Trezentos. Valentin
Haüy dedicará toda sua vida a esta obra e fundará casas similares
em São Petesburgo e Berlim. Ele já havia elaborado uma escrita em
relevo que prestou grandes serviços. Mas é a Luís Braille que se
deve a descoberta essencial na matéria: a escrita Braille.
Tornando-se cego aos três anos, aluno do Instituto Nacional dos
Cegos, Braille torna-se professor, ao mesmo tempo em que exerce o
ofício de organista em várias paróquias de Paris. Para facilitar
seu ensino, elabora, em 1825, um sistema de escrita baseado no ponto
saliente perceptível ao tacto, com utilização de seis pontos cuja
posição permite identificar as letras do alfabeto, os sinais de
pontuação, os números e os sinais matemáticos.
Ao mesmo tempo em que os institutos de cegos se multiplicam, a
escrita Braille vai se difundindo. Mas nada se fazia com relação
aos amblíopes e deficientes visuais. Seria preciso esperar 1911
para que fosse fundada por Redslob, em Estrasburgo, então cidade
alemã, a primeira classe de amblíopes. Só muito lentamente esta
iniciativa é seguida por outros. Em 1924, Pierre Villey intervém
junto ao conselho Superior de Assistência Pública de Paris em
favor de escolarização e de uma formação profissional das
crianças deficientes visuais, diferente da dos cegos. Em 1934, é
criada a primeira classe de amblíopes de Paris, no décimo oitavo
distrito, à Rua Camille Flammarion, num edifício que hoje não
existe mais.
Na França, as classes para amblíopes se multiplicaram então, e
hoje existem uma ou mais em cada departamento.
A ideia de readaptação é, portanto, recente em relação à
ideia de assistência, no que diz respeito aos cegos e aos
deficientes visuais. Por outro lado, a ideia de tratar o estrabismo
por meio de readaptação e muito antiga.
Em 1700 a.C., o papiro de Erbers faz menção dela. No século V
de nossa era, Paulo de Egina, físico grego, utiliza máscaras com
perfurações situadas na frente dos olhos para fazê-los olhar
direito.
Na realidade, as primeiras tentativas de tratamento por meio de
máscaras, prefiguração da atual oclusão setorial, datam de
Ambroise Paré e de Bartisch no século XVI. Possuímos as
reproduções dessas máscaras. Algumas eram adaptadas ao estrabismo
convergente e outras ao estrabismo divergente. Ao que parece, tais
autores apenas retomaram a ideia de Paulo de Egina. No século
XVIII, Georges Louis Leclerc, conde de Buffon, estrábico e
amblíope, apresenta uma comunicação na Academia Real das
Ciências de Paris: "Sobre a causa do estrabismo e dos olhos
tortos". Ele emite a hipótese de que o estrabismo é devido à
preguiça de um olho, ou à ambliopia, e aconselha a tratar a
ambliopia pela oclusão do olho são. Se o conde de Buffon se tornou
célebre por seus trabalhos de naturalista, de foi também o
primeiro a descrever a oclusão do olho na ambliopia funcional, que
conserva toda a sua atualidade.
Mais tarde, depois do cavaleiro John Taylor, oculista ambulante
um tanto charlatão, surge um grande interesse pela cirurgia do
estrabismo, e, em 1842, cem anos após a comunicação de Buffon,
Velpeau enumera 27 diferentes processos operatórios.
Mas, na segunda metade do século XIX retoma-se a ideia de
tratamento funcional e de readaptação.
Franz Cornelius Donders demonstra a importância dos vícios de
refração e do uso constante de lentes corretoras, atitude
indispensável e primeiro passo de toda reeducação.
Louis Emile Javal (1839-1907) é o verdadeiro fundador da
estrabologia moderna. Engenheiro de minas, volta-se para a medicina
e para a oftalmologia porque seu pai foi operado, sem sucesso, de
estrabismo (de convergente, passou para divergência acentuada), e
porque sua irmã tem o mesmo defeito, com ambliopia de um olho. Sem
se opor à cirurgia, ele cria o tratamento por meio de exercícios
que chama de "ópticos" e que hoje denominamos
"ortópticos", destinados a restabelecer a visão
binocular, a fusão entre as imagens que chegam a cada olho. Ele
utiliza o estereoscópio com cinco movimentos, precursor do moderno
sinotóforo, e preconiza muitas horas diárias de reeducação. Seu
tratado do estrabismo contém, ao menos potencialmente, todas as
noções modernas, expostas naquela Iinguagem clara, tão prezada
por nossos predecessores. Sua imensa obra (ele inventou, entre
outros, um aparelho destinado a medir o astigmatismo, o
"Javal", encontrado em todo consultório oftalmológico)
foi interrompida por um glaucoma agudo bilateral, cujos sintomas
logo descreveu, mas que o levou à cegueira em 1900.
As ideias de Javal tornam-se obsoletas, ao menos na França. Mas
são retomadas nos Estados Unidos, onde Worth elabora o célebre
"grande amblioscópio", ou sinotóforo, e, principalmente,
na Inglaterra. Mary Maddox é secretária e assistente do
oftalmologista Ernest Maddox, seu pai, que tem muito interesse pelos
estrabismos. Ela é jovem, encantadora e atrai a simpatia das
crianças.
Seu pai, sobrecarregado de trabalhos, pede-lhe que faça os
tratamentos ortópticos, utilizando o grande amblioscópio de Worth.
Muitas moças pediriam a Srta. Maddox para ensinar-lhes o método.
Ela funda, juntamente com Sheila Mayou, a "Escola de
Treinamento Ortóptico Maddox-Mayou". Em 1929, é instalado no
"Royal Westminster Ophthalmic Hospital", o primeiro
serviço de ortóptica.
A ideia da readaptação dos estrabismos retorna a França depois
da Segunda Guerra Mundial: Hartmann e a Sra. Braun Vallon fundam, no
hospital Lariboisière, um centro de exames, de tratamento e de
ensino. Em 1957, são criadas simultaneamente, em Nancy, por Thomas,
e em Lyon, por R. Hugonnier, as primeiras escolas de Ortóptica. Sob
a influência de R. Hugonnier em particular, as técnicas
ortópticas são melhor conhecidas. Ortoptistas instalam-se por
quase toda a França, onde a noção de reeducação do estrabismo
está agora difundida até junto ao grande público.
Enfim, dois grandes nomes ilustram a época moderna, Cüppers e
Bargerter, que vão contribuir grandemente para o estudo do
estrabismo e da ambliopia funcional.
Um francês, Javal, tivera as ideias, um americano, Worth,
inventara um instrumento, e os ingleses, tendo Mary Maddox como
precursora, organizaram a ortopsia. O gênio particular de cada um
desses três grandes povos do Ocidente se encontra, assim, na
história da ortóptica.
Esta recapitulação histórica demonstra mais uma vez a marcha
difícil e desigual do progresso médico e científico: ideias
brilhantes, que freqüentemente caem em desuso, retomadas por outros
e aperfeiçoadas, em sua aplicação, por homens de todos os
horizontes. A noção de assistência dá lugar à de readaptação.
Nada, afinal, deve fazer esquecer que estamos somente num momento
de evolução das ideias. Como um poderoso rio, a renovação dos
homens e das ideias nos arrebata continuamente.
A ideia de assistência aos cegos é velha como o mundo;
"Sede o olho do cego".
A ideia de admiti-los entre nós, de dar-lhes um lugar e um
emprego em nossa sociedade só data do fim do século XVIII.
A de ensinar, aos deficientes visuais, ofícios compatíveis com
sua capacidade só apareceu no século XX.
Em contrapartida, tratar o estrabismo, anomalia tão freqüente,
através de uma readaptação, é uma ambição de todos os tempos.
Guardemos algumas ideias simples para nos orientarmos no meio de
tantas técnicas novas, e tenhamos sempre em mente que um duplo
esforço deve ser mantido:
-
científico, para o tratamento das afecções invalidantes e
para aparelhagem dos deficientes;
-
social e médico, no sentido da prevenção, dos meios de
detecção e da reintegração dos deficientes.
II. O OLHO, A VISÃO E A DEFICIÊNCIA VISUAL
Na opinião de muitos, a visão, função essencial, intervém no
desenvolvimento psicológico do lactente, mas sem que os cegos de
nascença apresentem retardamento mental importante, se não houver
algum outro distúrbio. Entretanto, no homem, o conhecimento do
mundo exterior é efetuado essencialmente por meio da visão,
diferentemente de certos animais, como o cão, que mesmo
praticamente cego, ainda é capaz de caçar. Na espécie humana, o
paralelismo dos olhos possibilita um campo visual binocular vasto e
uma visão binocular que permite uma apreciação correcta da
distância e do relevo, se não houver desvio patológico de um dos
olhos.
Noção de função visual
Percepção das cores
Esta função visual essencial só permite, entretanto, a
percepção de uma íntima parte das radiações luminosas, que
correspondem ao espectro visível. A luz branca é composta de sete
cores fundamentais: violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja e
vermelho. As radiações de pequeno comprimento de onda e de alta
freqüência correspondem ao violeta; acima dele está o
ultravioleta; as radiações de grande comprimento de onda e de
baixa freqüência correspondem ao vermelho; abaixo dele, está o
infravermelho. A cada gradação de radiação corresponde a visão
de uma cor precisa, o que podemos constatar facilmente, observando
uma fonte de luz branca através de um prisma: vemos, então,
aparecerem as cores fundamentais, que são as do arco-íris.
A mistura, duas a duas, de certas cores fundamentais dá a
sensação de branco: é o caso do azul e do laranja e,
principalmente, do verde e do vermelho. Essa propriedade é
utilizada freqüentemente em oftalmologia, em particular para a
verificação da visão binocular. As anomalias da visão das cores,
ou discromatopsias, são freqüentes. Na maioria das vezes são
congênitas e hereditárias. Às vezes, fazem parte do quadro de
determinadas afecções oculares.
Noção de capacidade visual
Se a acuidade visual de certos animais, como as aves de rapina,
parece muito maior do que a do homem, a visão binocular e a visão
das cores parecem ser muito mais aperfeiçoadas na espécie humana,
de maneira que a "capacidade visual" do homem é
considerada a mais alta.
Essa noção capital de capacidade visual abrange, não só a
acuidade visual, mas também a visão binocular, o campo visual, a
visão das cores, a adaptação às diferentes luminosidades, a
capacidade de resistência à ofuscação.
Deste breve relato da visão no homem, salientaremos
principalmente que um comprometimento da visão, embora de pequena
importância, pode originar uma deficiência importante.
Esta noção é muito difundida entre o público. Ela se traduz
por palavras simples e verdadeiras que o oftalmologista ouve a cada
dia: "os olhos são preciosos", "é preferível
perder as pernas do que os olhos", etc.
Modificação da função visual com a idade
Por mais essencial que seja, a capacidade visual não é inata em
toda a sua integridade.
O desenvolvimento progressivo da visão de acordo com a idade é
uma noção antiga pela qual nos temos interessado muito nos
últimos anos. Comummente, admite-se que a acuidade visual do
lactente é fraca. R. Hugonnier apresenta o seguinte quadro a
respeito do desenvolvimento da acuidade visual na criança:
-
6 meses: 1/30
-
9 meses: 3/20
-
1 ano: 1/6
-
2 anos: 1/2
-
3 anos: 2/3
-
4 anos: 8/10
-
5 anos: 10/10
Estas cifras são confirmadas pelos métodos recentes de
verificação da acuidade visual do lactente: Jane E. Gwiada, Eileen
E. Birch e Richard Held concluem que a acuidade visual atinge um
nível máximo por volta dos 4 anos. Estes autores concluem também
que a visão binocular começa a estabelecer-se por volta dos 4
meses, e que a estereoacuidade se estabelece num nível alto por
volta dos seis meses. Entretanto, nesse momento, ainda não estão
estabelecidos os reflexos necessários para uma boa utilização da
visão e da visão binocular. O primeiro a aparecer é o reflexo de
fixação. Aos 2 meses, a criança pode seguir um objecto em
movimento; aos três meses, começa a voltar a cabeça para uma
fonte de luz; aos 4 meses, olha para sua mão e tende a pegar um
objecto. O reflexo de convergência é precoce: a convergência se
estabelece por volta de um ano. A acomodação parece desenvolver-se
mais tardiamente que a convergência, elaborando-se lentamente entre
6 meses e três anos, idade em que se fixa, geralmente, o início
dos estrabismos acomodativos. O conjunto destes fatos permite a R.
Hugonnier concluir que, nas condições normais, o desenvolvimento
da visão binocular só se completa por volta da idade de 5 a 6
anos. Tais considerações são essenciais: qualquer distúrbio
advindo ao aparelho da visão na primeira infância terá
conseqüências temíveis. Por exemplo, é preciso abster-se, a
menos que haja necessidade absoluta, de colocar curativo no olho de
um bebé: disso pode resultar um distúrbio considerável de seu
desenvolvimento visual.
Aliás, é antes dos cinco anos que se desenvolve uma afecção
freqüente, cujas conseqüências podem ser importantes para a
visão de um olho: o estrabismo, na metade dos casos, complicado por
ambliopia funcional unilateral, ou seja, visão medíocre de um dos
olhos.
Ao contrário, devemos procurar agir muito cedo sobre os
problemas visuais do lactente. É necessário tratar cedo da
ambliopia funcional do estrabismo. É preciso operar muito
precocemente a catarata congênita bilateral, caso contrário não
obteremos um desenvolvimento correto da visão, mesmo que o acto
cirúrgico tenha sido perfeito. Enfim, exames preventivos devem
começar muito cedo, desde a creche, antes mesmo da escola maternal.
Voltaremos a falar sobre todas essas noções, mas é preciso
também sublinhar que, a partir dos 40 anos, irá produzir-se uma
deterioração progressiva da função visual. A acomodação
diminui rapidamente, até criar, por volta dos 47 anos, em
princípio, uma diminuição da visão de perto, ou presbiopia. A
adaptação à obscuridade e a própria visão noturna se degradam
visivelmente por volta dos cinqüenta anos. E, mesmo fora de
qualquer estado patológico, a acuidade visual diminui com a idade,
para atingir fisiologicamente 6/10 em torno dos 80 anos. Portanto,
envelhecimento e certa deficiência visual constantemente caminham
lado a lado.
O que é uma deficiência visual?
A própria definição da cegueira não é tão simples de ser
dada como se possa imaginar. A classificação das deficiências
visuais varia de um país a outro. Segundo G. Bietti, haveria 65
definições nacionais da cegueira na França.
Os diferentes tipos de cegueira
Algumas noções clássicas permitem distinguir:
A cegueira de locomoção ou prática: a visão está num nível
tal, que o sujeito já não pode encontrar seu caminho por meio da
visão. Admite-se que a cegueira é real quando o sujeito não pode
contar os dedos à distância de dois metros, ou quando o campo
visual está reduzido a menos de 10°. Uma combinação de baixa da
acuidade visual e de acometimento do campo visual também pode
chegar a uma cegueira de locomoção sem que as cifras acima citadas
sejam atingidas.
A cegueira legal: é o grau de acometimento visual que permite a
um indivíduo receber um auxílio. Este auxílio varia evidentemente
de acordo com o país em que tal indivíduo vive. É concedido
também para níveis de visão diferentes, segundo o país.
A cegueira profissional ou cegueira econômica: é a que impede
um sujeito de desempenhar um trabalho qualquer. Corresponde à
acuidade de 1/10 no olho melhor.
Classificação das cegueiras e das visões subnormais segundo a
OMS
Como essas definições não parecem suficientemente precisas, a
OMS propôs a seguinte classificação.
Tipo de acometimento
visual
|
Acuidade com a
melhor
correcção possível
|
|
Máximo <
|
Mínimo >
|
Deficiência visual
|
1
|
3/10 (0,3)
|
1/10 (0,1)
|
2
|
1/10 (0,1)
|
1/20 (0,05)
|
Cegueira
|
3
|
1/20 (0,05)
|
1/50 (0,02)
|
4
|
1/50 (0,02)
|
Percepção de luz
|
5
|
Nenhuma percepção de luz
|
O campo visual também é levado em conta: os sujeitos que têm
um campo visual inferior a 10°, mas superior a 5°, são
considerados pertencentes à categoria 3; as limitações do campo
visual a 5° correspondem à categoria 5, mesmo não havendo
modificação da acuidade visual.
São considerados acometidos de cegueira os sujeitos que
pertencem às categorias 3, 4 e 5, e como deficientes visuais os
sujeitos que pertencem às categorias 1 e 2.
Essa distinção se mostra essencial. As possibilidades profissionais, as de reclassificação no
adulto, o comportamento na vida diária, a autonomia real são
diferentes no deficiente visual e no sujeito acometido de cegueira.
Definição legal da cegueira na França
Na França existem definições legais precisas que condicionam a
atribuição de auxílios sociais e financeiros e a indenização
consecutiva a acidentes.
A cegueira prática: é reconhecida quando a acuidade visual do
olho melhor é inferior a 1/20 ou quando o déficit do campo visual
ultrapassa 20° de cada lado. O uso da bengala branca é permitido
quando a acuidade visual é igual ou inferior a 1/10.
A ambliopia bilateral é um estado de deficiência visual; sua
definição legal é a de uma acuidade visual compreendida entre
4/10 e 1/20 para o olho melhor, com correção.
Classificação das deficiências visuais de Delthil e Crouzet
Estas definições legais cifradas e precisas são,
indubitavelmente, indispensáveis. Entretanto não relatam o que é
comum chamarmos de capacidade visual prática.
A capacidade visual prática é determinada por vários fatores e
só pode ser avaliada por médico especialista, freqüentemente
depois de vários exames, e levando-se em conta características
psicológicas de determinado indivíduo.
O balanço da capacidade visual compreende:
-
O exame da acuidade visual de longe e de perto, se possível à
luz do dia atenuada, e não em sala escura. O estudo da visão de
perto é essencial.
Certos sujeitos que apresentam visão de longe medíocre podem
seguir estudos por vezes muito difíceis e de alto nível, graças a
uma boa visão de perto.
-
o registro do campo visual central e periférica,
-
o estudo da visão das cores,
-
a sensibilidade luminosa: uma falha na visão crepuscular ou
noturna deve ser conhecida.
-
eventualmente exames eletrofisiológicos, eletrorretinograma,
eletrooculograma, potenciais visuais evocados, que permitam
verificar se um distúrbio tem fundamento orgânico, ou
estabelecer um prognóstico. Mas o conjunto destes mesmos dados
não leva em conta a capacidade do indivíduo para adaptar-se a
seu estado visual. Esta é extremamente variável, dependendo da
idade em que se iniciou o acometimento da função visual, da
inteligência do sujeito, de sua vontade de adaptar-se ou
readaptar-se, do meio no qual ele vive, de seu desejo maior ou
menor de autonomia psicológica e material. Todos os
oftalmologistas foram testemunha, nesta ordem de ideias, de
fatos admiráveis.
Uma jovem acometida de albinismo, de nistagmo e de hipermetropia
acentuada, com uma acuidade visual de 1/10 de longe e Parinaud 4 (no
Brasil, utiliza-se a escala de Jaeger) de perto, permitindo ler
apenas as manchetes do jornal, conclui o segundo grau, aprende duas
línguas vivas e desempenha perfeitamente sua profissão de
secretária. Entretanto, seu oftalmologista se recusa a permitir que
ela dirija automóvel.
Um homem acometido, desde a primeira infância, de atrofia
óptica bilateral, com 1/10 de visão exerce as funções de
tabelião depois de passar por todos os exames necessários e vai
regularmente à caça; só atira nas aves cuja silhueta se destaca
no céu.
Estes exemplos ilustram a extraordinária utilização, por parte
de certos sujeitos, de uma capacidade visual reduzida. Eles
permitem, de antemão, detetar as dificuldades de readaptação que
deve ser adequada a cada sujeito.
Podemos dizer, de antemão, seguros de sermos aprovados por todos
os oftalmologistas que, quaisquer que sejam os resultados do exame,
não se deve encaminhar para escolas especializadas uma criança que
consegue seguir uma escolaridade normal.
Estas considerações esclarecem também que as classificações
das cegueiras e das visões subnormais estabelecidas por
oftalmologistas são diferentes das da OMS ou da legislação
francesa.
Se observarmos os trabalhos da Sra. Delthil (1963) e de Crouzet
(1970), distinguiremos quatro categorias de deficientes visuais:
-
Categoria I: Os totalmente cegos, sem nenhum resquício de visão
(subgrupo A) ou praticamente totais (subgrupo B) que só possuem uma
simples percepção da luz (reconhecimento do dia e da noite).
-
Categoria II: Os parcialmente cegos. Têm restos de visão que
permitem a percepção das massas e dos volumes, o que facilita seus
deslocamentos e sua apreensão do mundo exterior. Têm, assim, certa
autonomia, mas sua visão de perto é muito defeituosa e não tem
nenhuma utilidade prática, escolar ou profissional.
-
Categoria III: Os profundamente amblíopes. O volumes são mais
definidos, as cores percebidas nitidamente. O deslocamento e a
orientação são fáceis. Há uma visão de perto com alguma
utilidade que permite a aquisição da leitura em tinta preta. Esses
doentes são capazes de ler grandes títulos, de distinguir um
esquema ou um mapa.
-
Entretanto a visão de perto não Ihes permite utilizar
exclusivamente a escrita em tinta preta. Terão necessidade do
Braille.
-
Categoria IV: Os levemente amblíopes. Sua visão de perto
permite-lhes a leitura a tinta.
A própria existência destas diferentes classificações mostra
que um problema pode aparecer com certa freqüência: como
classificar um deficiente visual? ou ainda, como determinar se um
dado sujeito é um deficiente visual? As classificações legais
são indispensáveis para a indenização por danos corporais e para
a atribuição de auxílios, mas uma classificação como a de
Delthil e Crouzet, por evocar amplamente a visão de perto, sem
dúvida está mais próxima da realidade clínica e cotidiana.
III - EPIDEMIOLOGIA
A freqüência da cegueira, e mais ainda, da visão subnormal é
difícil de ser avaliada. Este fato pode parecer surpreendente.
Entretanto, estas afecções não são objecto de nenhuma
declaração obrigatória na França. Os próprios recenseamentos
são, às vezes, contestados: se estendermos o problema para o mundo
inteiro, ele se torna mais complexo ainda.
A cegueira
Segundo a OMS (1979), para uma população mundial estimada em 4
bilhões de pessoas, entre 28,1 e 42,2 milhões teriam um máximo de
1/10 de
acuidade visual no olho melhor. Esta cifra estaria multiplicada
por dois no ano 2000, e por cinco, no ano 2050. Na França, o
número de sujeitos acometidos de cegueira prática seria de 50.000.
Nos Estados Unidos seria de 400.000, na União Soviética de 180.000
e no Reino Unido de 120.000. A OMS estabeleceu também uma
classificação das principais causas de cegueira no mundo. São em
numero de seis:
1. O tracoma permanece a primeira causa de cegueira mundial.
Haveria atualmente 5 milhões de tracomatosos no mundo, dos quais
dois milhões são cegos. Esta afecção causa danos nas regiões
superpovoadas, onde imperam a falta de higiene e de água tratada, a
pobreza e a multiplicação das moscas. A luta contra esta temível
causa de deficiência visual não diz respeito apenas aos
oftalmologistas e aos médicos, mas também aos higienistas e aos
organismos encarregados do meio ambiente, do saneamento das águas.
2. A xeroftalmia e a ceratomalacia por deficiência de vitamina A
e de proteínas constituem, para surpresa das populações da Europa
ocidental, a segunda causa de cegueira no mundo. No Sudeste da Ásia
e na América do Sul, porém, podem afetar 20% das crianças de 1 a
6 anos. Neste aspecto, entramos no quadro da luta contra a fome no
mundo.
3. A oncocercose é devida a um parasita, um nematelminto
descoberto em 1875 por John O'Neil, a Oncocherca volvulus. Na
África é chamada "a cegueira dos rios". Um mosquito
negro transmite a microfilária responsável pelo acometimento
ocular. Segundo a OMS (1974), ela daria origem a 50.000.000 de casos
de cegueira na África Ocidental e na América do Sul.
4. A catarata parece benigna, mas precisa ser operada. Na Índia
55% dos casos de cegueira são devidos à catarata. Há 30.000.000
de pessoas necessitando de cirurgia para a qual não há número
suficiente de oftalmologistas do país. No Quênia, para 18.000.000
de habitantes, há 90.000 cegos em razão de catarata.
5. O glaucoma crônico ocupa somente o 5º lugar nas causas de
cegueira mundial, mas nos países evoluídos está em primeiro
lugar. Não se conhece com exatidão a freqüência do glaucoma
crônico na França. No Reino Unido, foram efetuadas diversas
pesquisas precisas: pode-se fixar uma prevalência (Prevalência -
percentagem de indivíduos atingidos num dado momento, em dada
população; incidência - percentagem de arrolamento de novos casos
durante um dado tempo) de 1% depois dos 40 anos. Mas esta
prevalência vai aumentar com a idade: mais de 5% depois dos 70
anos. O glaucoma crônico nos interessa, pois, em primeiro lugar:
além de causa mais freqüente de cegueira nos países ocidentais,
cria deficiências no velho, no momento da vida em que é mais
difícil superar uma deficiência.
6. O traumatismo ocular: nos Estados Unidos, por exemplo, há
160.000 acidentes oculares por ano, na idade escolar. Na Nigéria,
25% dos casos de cegueira por trauma ocular aconteceram durante a
idade escolar.
Os fogos de artifício, os diferentes explosivos, os brinquedos
de flechas, os estilingues continuam sendo temíveis inimigos do
olho. Os oftalmologistas, aliás, permanecem partidários convictos
do cinto de segurança que previne contra os ferimentos devidos à
quebra do pára-brisa.
Se na França não há casos de tracoma, de xeroftalmia e de
oncocercose, se a operação da catarata quase não constitui
problema, em compensação, outras causas de cegueira em primeiro
plano:
-
o diabetes: a freqüência e a gravidade da retinopatia
diabética já são bem conhecidas, por isso não é preciso
insistir sobre esse assunto;
-
o descolamento da
retina, cujo tratamento cirúrgico deve ser
precoce;
-
a catarata
congênita, freqüentemente associada a
malformações múltiplas, como na rubéola.
A visão subnormal
É ainda mais difícil estabelecer suas cifras, do que para a
cegueira. Há alguns anos, a UNESCO estimava em 62.000 o número de
deficientes visuais na França, dos quais 37.600 tinham mais de 65
anos.
Está sendo realizada uma pesquisa coordenada pela Organização
Francesa da Prevenção da Cegueira, com a colaboração do INSERM.
Segundo Genensky, haveria, nos Estados Unidos, 1.666.000 amblíopes
bilaterais.
As principais causas da visão subnormal não são melhor
conhecidas . Nos indivíduos jovens , as cataratas congênitas, as
diversas malformações, as degenerações tapetorretinianas e os
nistagmos congênitos parecem estar no primeiro plano, com a miopia
forte. No adulto, atrofias ópticas, descolamento da retina,
diabetes e traumatismos oculares parecem desempenhar o papel mais importante.
A freqüência do estrabismo e da ambliopia funcional talvez
melhor avaliada em razão do carácter impressionante da doença que
impele a consultar o médico. Admite-se que existam 3% de crianças
estrábicas, metade das quais apresentam ambliopia funcional, com a
visão de um dos olhos não ultrapassando 4/10. Embora este tipo de
afecção não leve à cegueira, sua extrema freqüência justifica
uma atenção particular.
A necessidade de estatísticas precisas é evidente. Só elas
permitem orientar a prevenção, estabelecer as necessidades de
estabelecimentos especializados de readaptação, precisar as
direções mais essenciais da pesquisa médica.
É difícil avaliar a freqüência da cegueira e da visão
subnormal no mundo. Porém conhecemos as principais causas de
cegueira:
tracoma, xeroftalmia, oncocercose, catarata, glaucoma e
traumatismo.
Para a visão subnormal, enfatizaremos a importância
do nistagmo e para a ambliopia unilateral, a do estrabismo.
IV - AS CAUSAS DAS DEFICIÊNCIAS EM OFTALMOLOGIA
A monoftalmia
A deficiência visual da pessoa monocular (monoftalmo) é menos
importante do que se pode imaginar. Ao perder um olho, não se
perde, absolutamente, a metade da visão.
A acuidade visual diminui muito levemente apenas.
O campo visual é atingido de modo mais importante. Entretanto,
no ser humano, o campo visual recobre cerca de 170° e a maior parte
é representada pelo campo visual binocular. Um quadrante temporal
de 20 a 25° representa a parte monocular do campo visual, pouco
utilizado na prática. Assim, pela perda de um olho, o campo visual
fica privado de uma faixa estreita, na qual, aliás, a acuidade
visual é muito reduzida (Uma pessoa monocular só perde um
quadrante temporal de 30º).
A visão binocular é suprimida brutalmente, com perda da visão
do relevo e distúrbio da avaliação das distâncias: o monoftalmo
recente indica, com o dedo, um objecto ao lado de seu lugar real,
despeja o vinho ao lado do copo. Mas a visão binocular não é o
único factor a permitir a avaliação da distância e do relevo:
intervêm também certo número de fatores, cuja utilização o
monoftalmo vai desenvolver: mascaramento relativo dos objectos,
tamanho das imagens retinianas, deformação das perspectivas, jogo
das sombras e atenuação dos contrastes pelo distanciamento,
acomodação, paralaxe monocular.
Não se deve pensar em nenhuma técnica de readaptação
especial. Há dois casos:
- Um olho foi perdido desde a infância ou desde a primeira
infância: os distúrbios da visão do relevo e da distância estão
praticamente ausentes: a adaptação se produziu ao mesmo tempo em
que se desenvolvia a própria visão e a inteligência. A pessoa
monocular jovem tem, portanto, um comportamento visual totalmente
normal.
- No adulto que acaba de perder um olho, ao contrário, as
perturbações são bem evidentes: dificuldades para pegar um
objecto, para descer das calçadas. Estes distúrbios vão se atenuar
progressivamente, através de um mecanismo que permanece
desconhecido, mas no qual intervêm os fatores secundários da
avaliação da distância e do relevo dos quais acabamos de falar. O
tempo necessário para esta readaptação espontânea é bastante
longo: de 1 a 18 meses, na maioria dos casos, e, quanto mais jovem
for o sujeito, mais curto ele será. Arondel e Pierre calculam que
são necessários três meses para dirigir veículos novamente.
Verriest e Hermans calculam 6 meses. O piloto americano Brady
dedicou a seu caso pessoal, depois da perda de um olho por
traumatismo, um livro que é um verdadeiro guia para as pessoas que
precisam habituar-se à visão monocular.
Em última análise, a deficiência funcional do
monoftalmo
parece muito limitada. Em particular, ele é perfeitamente capaz de
um trabalho prolongado, de várias horas de leitura e de fixação
atenta de pequenos objectos durante um tempo prolongado.
Os acometimentos do campo visual
- Os diversos escotomas passam despercebidos, mesmo que sejam
extensos, pois são compensados pelo campo visual binocular.
- As contrações concêntricas são, por muito tempo, ignoradas
pelo doente. Só quando muito acentuadas acarretam reais
dificuldades de orientação.
- As perdas de um quadrante do campo visual são, muitas vezes,
percebidas como sinais de alarme de diferentes afecções do nervo
óptico e da retina. O distúrbio visual que resulta delas é
atenuado pela readaptação espontânea.
- As hemianopsias, por outro lado, causam uma deficiência
nitidamente acusada, que é descrita como dificuldade visual
lateral, em caso de hemianopsia bitemporal, e como a perda de um
olho, em caso de hemianopsia lateral homônima. A hemianopsia
lateral homônima direita, perda do campo temporal direito e nasal
esquerdo é descrita como a perda do olho direito. A hemianopsia
lateral homônima esquerda, mais molesta, pois acarreta dificuldades
na leitura para encontrar o início das linhas, é descrita como
perda do olho esquerdo. Neste caso também pode se manifestar uma
melhora espontânea. Ela pode chegar até o esquecimento da
hemianopsia num prazo que varia de 6 meses a 1 ano. Mas este fato
não é constante e não há terapêutica.
Os distúrbios da refração
Quando são leves ou moderados, não causam uma deficiência
real. Uma miopia não corrigida incomoda uma criança para enxergar
na lousa, uma hipermetropia não corrigida incomoda um adulto para
ler, um astigmatismo não corrigido incomoda de longe e de perto,
mas o uso de lentes corretoras adaptadas é suficiente para suprimir
rapidamente esta deficiência. Não se pode, por exemplo, atribuir
um baixo rendimento escolar a um distúrbio moderado de refração.
Por outro lado, quando os distúrbios da refração são
importantes, dão origem a deficiências reais.
Um astigmatismo forte, mesmo corrigido, pode dar origem a uma
ambliopia relativa bilateral, com visão entre 4/10 e 6/10,
impossibilitando determinado número de carreiras.
A miopia forte constitui, mesmo sem qualquer complicação, uma
deficiência real: a espessura e o peso das lentes acarretam
diminuição do campo visual e do campo do olhar, dificuldade para
centrar as lentes e para manter uma distância olho-lente
estritamente constante, ocasionando com freqüência uma acuidade
visual medíocre. Freqüentemente, a miopia forte evolui durante
toda a vida, e na idade da presbiopia, é difícil encontrar
aparelhagem que convenha ao mesmo tempo para longe e para perto.
Então, muitas vezes, a visão de longe é sacrificada, preferindo
os sujeitos ler de perto e trabalhar assim.
A hipermetropia forte, mais rara, causa uma deficiência visual
freqüentemente clara: a visão de longe permanece medíocre e,
mesmo na criança a acomodação não é suficiente para compensar a
dificuldade para ver de perto. Podemos ser obrigados a prescrever
lentes bifocais desde a infância.
A operação da catarata cria uma hipermetropia forte, origem de
deficiência inevitável.
Em caso de intervenção unilateral, o doente privado de seu
cristalino, dito "afácico", não tem mais possibilidade
de acomodação e apresenta diferença de refração entre os dois
olhos, de modo que é preciso tapar o olho não operado para
possibilitar o uso do olho operado. A esta perda da visão binocular
acrescentam-se a perturbação do tamanho das imagens retinianas,
diminuição do campo visual ligado à aberração periférica da
lente corretora e, por causa do mesmo fenômeno, aquilo que os
anglo-saxões chamam de "the Jack-in-the-box phenomenon":
os objectos aparecem na periferia do campo visual, desaparecem
bruscamente para reaparecer não menos bruscamente em direção ao
centro. Este fenômeno, junto aos outros, torna o recém-operado de
catarata absolutamente incapaz de se orientar sozinho durante os
primeiros tempos do uso da aparelhagem. Por outro lado, existe um
aumento de cerca de 30% da imagem na visão de perto que permite,
com freqüência, uma leitura bastante fácil, enquanto a visão de
longe não ultrapassa de 4/10 a 5/10.
Depois da intervenção no segundo olho, a visão binocular
reaparece, mas os outros inconvenientes persistem, e a adaptação
às lentes de catarata se faz em tempo e de forma variáveis: há
possibilidade de todas as situações intermediárias entre o
operado que leva uma vida normal, dirige seu carro, pratica
esportes, e aquele que terá problemas durante toda sua vida.
É por essa razão que são feitas pesquisas constantes no
sentido da aparelhagem dos afácicos, com lentes de contacto ou pelo
implante de cristalinos artificiais intra-oculares que suprimem
essas dificuldades. Mas esses métodos também têm seus
inconvenientes, e a atitude dos cirurgiões diante do problema da
afacia depende de cada caso em particular.
A deficiência devida aos distúrbios da refração é, na
maioria das vezes, resolvida pelo uso de óculos.
A hipermetropia forte, conseqüente à operação da catarata
ainda cria problemas que necessitam de técnicas especiais: lentes
de contacto, implantes intra-oculares. A miopia forte também é
melhorada pelas lentes de contacto.
Os distúrbios da visão das cores e os acometimentos do sentido
luminoso
As discromatopsias congênitas apresentam múltiplas variantes
clínicas, que vão da ausência total da visão das cores aos
distúrbios leves, detectáveis através do exame, passando pelo
clássico "daltonismo", anomalia tipo Dalton, com
confusão do vermelho e do verde. Freqüentemente encontramos um
carácter hereditário e familiar. Estas afecções são, muitas
vezes, e por muito tempo, desconhecidas: o próprio sujeito pode
ignorar sua incapacidade de identificar as cores. Acarretam
deficiências moderadas: impedimento para determinadas carreiras da
aeronáutica, das ferrovias e da electrónica em particular,
dificuldades em certas profissões, como por exemplo a venda de
tecidos. Não há terapêutica.
Os distúrbios do sentido luminoso são constituídos por:
- Sensibilidade excessiva à luz, encontrada principalmente em
casos de albinismo. O sujeito albino é sempre muito fotófobo e
apresenta ambliopia por aplasia macular e nistagmo.
- Distúrbios de adaptação às baixas luminosidades,
caracterizados por hemeralopia ou cegueira noturna. Esta,
geralmente, está ligada à retinite pigmentar. Existem alguns
casos de hemeralopia essencial.
Os distúrbios da visão binocular: estrabismo e ambliopia
funcional, heteroforia, paralisia ocular, nistagmo
Os estrabismos podem criar uma deficiência, pois podem dar
origem a uma ambliopia funcional.
O texto que segue é de autoria de René Hugonnier. Foi
encontrado em seu escritório depois de seu falecimento, talvez
destinado a uma publicação que ignoramos. Vamos transmiti-lo sem
mudar nada.
"As causas e o mecanismo de aparecimento dos estrabismos
ainda são imensamente hipotéticos.
Admite-se que, na maioria dos casos, é o desvio dos eixos
visuais que aparece em primeiro lugar, sendo a causa desse desvio
conhecida somente num pequeno número de casos, os de estrabismos
"acomodativos", devidos à hipermetropia, que provoca um
desequilíbrio entre a acomodação e a convergência.
Depois de aparecido, o desvio provoca distúrbio da visão
binocular, para a qual uma condição essencial é de que os dois
olhos se dirijam para o objecto fixado. No adulto, resulta uma
diplopia, sinal que não existe na criança, por causa da
intervenção de mecanismos antidiplopia, que são: por um lado a
neutralização, pelo cérebro, da imagem formada no olho desviado,
por outro lado, a correspondência retiniana anômala, que é uma
tentativa, pelo cérebro, de criar uma visão binocular, apesar das
condições motoras anormais, tentativa essa que, aliás, nunca
chega a concretizar-se plenamente.
Todos os estrabismos, portanto, apresentam distúrbio da visão
binocular.
Mas, pelo menos na metade dos casos, o olho desviado perde suas
potencialidades visuais: torna-se "preguiçoso", sua
acuidade visual permanece baixa, mesmo que o olho fixador esteja
ocluso (menos de 1/10): é a ambliopia.
Além disso, o próprio desvio provoca um dano estético um tanto
grande. É a origem de diferentes distúrbios do carácter,
freqüentemente leves, mas por vezes, importantes: é "o
elemento psíquico" dos estrabismos, que aparece às vezes por
volta dos 3 ou 4 anos e aumenta com a idade.
Portanto, as deficiências provocadas por um estrabismo são:
- Na totalidade dos casos, má visão binocular.
- Na metade dos casos, ambliopia unilateral.
- Finalmente, distúrbios do carácter, "complexos"
sentidos mais ou menos profundamente pelos sujeitos estrábicos.
Dessas três deficiências, as duas primeiras são mais
importantes. A má visão binocular torna a visão do relevo
imperfeita, porém menos do que poderíamos pensar, pois a visão do
relevo existe, mesmo sem a visão binocular, em sujeitos que têm
esse defeito desde a infância. De fato, na vida cotidiana, um
estrábico só é perturbado em pequenas proporções pela
imperfeição de sua visão do relevo. Mas isso impede o sujeito de
ocupar certos cargos, especialmente na segurança.
A ambliopia unilateral é uma deficiência mais importante, mesmo
sem levar em conta os casos, felizmente raros, em que sobrevém um
acidente com o olho são, o que pode transformar o sujeito numa
pessoa de visão realmente subnormal. Toda uma série de carreiras
são proibidas, por regulamentos, aos amblíopes unilaterais. Em
nossa opinião, chegamos muito longe neste sentido, mas é bem certo
que há problemas médico-legais: por exemplo, num acidente do
trabalho (em que não se leva em conta a situação anterior), é
evidente que a perda de um olho tem implicações financeiras que
não podemos deixar de considerar. Quanto ao problema estético e
suas conseqüências psíquicas ele é, acima de tudo, um caso
pessoal. Freqüentemente, os sujeitos tendem a exagerar a
deficiência, mas é um fato que eles sentem, por vezes, de modo
muito intenso.
Evidentemente tudo isso argumenta em favor de um tratamento mais
precoce possível dos estrabismos, pois assim ele é mais eficaz, e
isto é verdade em particular para a ambliopia, curável em poucos
dias na criança pequena, e de cura tanto mais demorada à medida
que os anos vão passando, até ser, em geral, irrecuperável na
idade de 8 a 10 anos.
Portanto, é preciso cuidar muito rapidamente dos estrábicos.
Isto pode parecer uma evidência, mas mesmo atualmente, muitas vezes
nós os vemos tarde demais, o que torna a cura completa muito
difícil e, por vezes, impossível de ser obtida".
O estrabismo é responsável por desgaste estético, curável
clínica ou cirurgicamente, e na metade dos casos, ocasiona
ambliopia funcional unilateral, muitas vezes grave, que impõe um
tratamento muito precoce no decorrer do primeiro ano de vida.
As paralisias oculares se traduzem pela diplopia. As diplopias
constantes adquiridas do adulto obrigam a ocluir um olho. Esta
situação incômoda é, ademais, mal-aceita pelo doente. Portanto,
será necessário um tratamento clínico, através de prisma ou
cirurgia. Uma diplopia não reduzida, com tratamento, ou reduzida
incompletamente, pode obrigar a mudar de profissão ou ser a causa
de incapacidade parcial ou total.
As heteroforias criam uma deficiência real quando os sinais
funcionais são acusados.
O nistagmos congênitos freqüentemente acarretam distúrbios da
visão binocular. Seu tratamento está intimamente ligado ao dos
distúrbios da visão binocular.
Em casos raros, o nistagmo pode ser conseqüência de ambliopia:
por exemplo, quando as lentes de contacto, ao melhorar a acuidade
visual na miopia forte, fazem ceder o nistagmo. Na maioria das
vezes, o nistagmo congênito é a causa da ambliopia. Sua origem é
desconhecida. É uma causa freqüente e temível de deficiência.
Entretanto, existem formas em que os movimentos do nistagmo
cessam em determinadas condições, na maioria das vezes, por
ocasião da fixação de perto, ou em determinadas direções do
olhar. Esta posição de bloqueio, que é melhor chamar de mecanismo
de compensação do nistagmo, freqüentemente é obtida à custa de
uma posição anormal da cabeça, necessária para manter a
imobilidade dos olhos. Esta posição é variável: na maioria das
vezes, posição lateral e algumas vezes, posição queixo-peito.
É de capital importância não contrariar esses mecanismos
naturais de defesa, principalmente nas crianças. Ademais, essas
posições de bloqueio proporcionam uma possibilidade terapêutica
de que voltaremos a falar.
Em outros casos, não existe nenhum mecanismo de compensação. A
deficiência então é importante e definitiva, mas não se
agravará.
Doenças orgânicas dos globos oculares
Para abordá-las é necessário fazer uma longa enumeração.
Acometimentos da mácula
Trazem baixa da visão central, sem atingir o campo visual. Nos
piores casos, o doente não pode ler mais nada, mas pode governar-se
e conservar sua autonomia.
As degenerações maculares juvenis são hereditárias e
familiares, algumas vezes associadas a distúrbios do
desenvolvimento psíquico. Felizmente são raras.
As degenerações maculares senis, por outro lado, são muito
freqüentes e privam as pessoas idosas das actividades de visão de
perto: leitura, costura, que se tornam mais importantes com o
avançar dos anos. A idade, por si mesma, torna a readaptação
difícil.
As maculopatias por intoxicações iatrogênicas (antimaláricos
de síntese) podem acometer os sujeitos jovens ou adultos.
O traumatismo pela luz, oftalmia dos eclipses, gera uma pequena
lesão macular, muitas vezes irreversível, que pode ser evitada com
algumas precauções.
A miopia forte pode ser complicada com perda da visão central
por coroidose macular, hemorrágica ou não, que pode sobrevir cedo
na vida, entre 20 e 30 anos.
Acometimentos da retina
A retinopatia dos prematuros relacionada com a hiperoxigenação
neonatal não deveria acontecer mais. Quando sobrevém, é sempre
séria, levando à cegueira bilateral por fibroplasia retrolental.
As degenerações tapetorretinianas são raras. A retinite
pigmentar, hereditária e familiar, acarreta cegueira noturna
precoce, diminuição evolutiva do campo visual e acometimento
tardio da visão central, mantida durante muito tempo.
As pessoas acometidas por essa lesão têm visão fortemente
subnormal. O mesmo acontece para certo número de afecções
vizinhas.
No descolamento de retina, por outro lado, há perigo imediato de
cegueira, que sobrevém em caso de malogro da cirurgia. Mesmo que
haja cura cirúrgica, pode persistir um déficit visual que tornará
os doentes deficientes visuais. Mas, felizmente o sucesso total da
intervenção cirúrgica é cada vez mais freqüente (entre 85% e
90% atualmente).
A retinopatia diabética é uma importante causa de visão
subnormal e cegueira. Pode sobrevir desde a adolescência.
Para Francis A. L'Espérance e William A. Vannes, de 1,5 a 5% da
população mundial é acometida de diabetes e a freqüência da
retinopatia atinge 47% dos diabéticos. Nos Estados Unidos 10% dos
casos de cegueira são devidos a complicações do diabetes.
Existem duas formas distintas de retinopatia diabética. Em sua
forma exsudativa, a doença ameaça a visão central por causa do
edema da mácula e cria deficientes visuais. Em sua forma
neovascular, leva à cegueira por hemorragia retinovitreana
recidivante. A forma neovascular sobrevém principalmente no
diabético insulinodependente, em qualquer idade, porém
freqüentemente no sujeito jovem.
Os acometimentos retinianos vasculares, complicações da
hipertensão arterial ou da arteriosclerose conduzem mais à visão
subnormal (perda da visão de um olho por oclusão da artéria
central da retina, ou trombose da veia central) do que à cegueira
(que podemos observar no mal de Horton, ou na isquemia aguda do
nervo óptico).
Os tumores da retina são raros, porém dramáticos. O glioma da
retina ou retinoblastoma sobrevém na criança pequena e
freqüentemente obriga à enucleação, mesmo que seja bilateral. No
adulto, melanoma maligno primitivo da coróide pode, por vezes, ser
objecto de tratamento conservador, mas a enucleação permanece
necessária na maioria dos casos.
Acometimento das vias ópticas
-
O acometimento eletivo do feixe papilomacular do nervo óptico
cria um comprometimento da visão central comparável ao das
lesões maculares. Existe uma forma hereditária e familiar (mal
de Leber). A perda da visão central se efetua por volta dos 20
anos de idade.
-
As outras neurites ópticas têm origem tóxica,
etilotabágica em particular, ou inflamatória, como a esclerose
em placas. A longo prazo, também levam à perda da visão
central.
-
O acometimento global do nervo óptico pode levar à atrofia
óptica e à cegueira. Podem ser encontradas numerosas formas de
atrofias ópticas tóxicas, infecciosas ou por compressão.
-
O acometimento das vias ópticas intracerebrais provoca as
diversas hemianopsias laterais homônimas ou bitemporais. As
causas são múltiplas, permanecendo como as principais os
traumatismos cranianos abertos ou fechados, as lesões
vasculares e os tumores cerebrais.
-
A cegueira total pode ser observada nas hemianopsias duplas
sem conservação da mácula e nos acometimentos do córtex
occipital que produzem a cegueira cortical.
Doenças do cristalino
A catarata congênita é uma afecção grave.
Unilateral, ela conduz à ambliopia irremediável do olho
acometido, apesar de tudo o que se fizer.
Bilateral, obriga a um tratamento cirúrgico precoce, antes de um
ano quando é total, e a uma cirurgia freqüentemente delicada
quando é parcial. As freqüentes lesões associadas comprometem o
resultado. A aparelhagem por meio de lentes corretoras comporta
todos os inconvenientes já expostos, que do os do afácico.
A catarata senil: a cirurgia, neste caso, dá excelentes
resultados. O uso da correção requer uma adaptação por vezes
difícil. As lentes de contacto e, para alguns, a implantação de
cristalino artificial constituem os meios de possíveis soluções.
Doenças da córnea
Podem evoluir para uma forte ambliopia ou para a cegueira. As
causas são diversas:
-
ceratites infecciosas: atualmente as mais freqüentes são
virais;
-
ceratopatias esclerosantes: já vimos a importância mundial da
xeroftalmia e da avitaminose A. Na França, incidem como parte do
quadro das síndromes de Stevens Johnson e de Lyell, ou ainda como
complicação de uma síndrome seca de Gougerot-Sjögren;
-
distrofias e degenerações corneanas: freqüentemente são
curáveis por ceratoplastia, assim como numerosas distrofias
hereditárias e o ceratocone.
Doenças da úvea
Algumas malformações congênitas podem dar origem a ambliopia
profunda, como os colobomas iridocoróides. A anirídia total
contém sempre um glaucoma grave associado a ela. As afecções
inflamatórias (uveítes) quase sempre são curáveis, mas podem
deixar seqüelas mais ou menos importantes.
Os glaucomas
O glaucoma crônico simples continua sendo uma das grandes causas
de cegueira. Esta será perfeitamente evitável, se for efetuada uma
detecção precoce da doença, o que só pode ser feito pelos
oftalmologistas por ocasião da prescrição de óculos ou de lentes
de contacto. Este fato enfatiza a importância de não se confiar
estas tarefas a pessoas não habilitadas.
A deficiência originada pelo glaucoma por fechamento do ângulo
iridocorneano depende mais ainda da precocidade do diagnóstico e da
qualidade da terapêutica. Lembremo-nos de que se trata de caso
cirúrgico e que diagnosticá-lo equivale a indicar cirurgia.
O glaucoma congênito e infantil ainda é uma afecção temível
que, apesar dos progressos da terapêutica, continua a ser a causa
de muitas ambliopias.
Os diversos glaucomas secundários têm gravidade variável
segundo a causa. O glaucoma neovascular, por exemplo, com seus vasos
no nível do ângulo, significa sempre um acometimento muito grave
do olho.
As afecções oculares que podem resultar em deficiência são
muitas.
Se a França é poupada pelo tracoma e pela oncocercose, se a
xeroftalmia é rara e a catarata facilmente curável, o glaucoma
crônico e os traumatismos oculares ocupam o primeiro lugar como
causas de deficiência visual na Europa Ocidental. É preciso
ressaltar também a gravidade e a freqüência da retinopatia
diabética e das cataratas congênitas na França.
Nesses quatro casos: glaucoma crônico, traumatismo ocular,
retinopatia diabética e catarata congênita, a prevenção é
possível em certa medida e a detecção precoce é essencial. Como
acontece o mesmo com o estrabismo, grande causador de ambliopia
unilateral, só podemos enfatizar a importância capital da
prevenção e da detecção.
V - PREVENÇÃO E DETECÇÃO PRECOCE
Evidentemente, a acção mais eficaz contra uma deficiência
consiste em impedir que apareça. Este resultado pode ser obtido:
- tanto agindo antes que a doença se estabeleça: é a
prevenção.
- tanto detectando-a em seus estágios mais precoces, quando uma
terapêutica eficaz é capaz de manter uma visão correcta, ou de
recuperar o que foi perdido.
As noções de prevenção e detecção precoce, que poderíamos
imaginar diferentes, na prática estão estreitamente ligadas. A
detecção procura não só os sujeitos já acometidos, mas também
os sujeitos ditos "de risco", para os quais poderemos
realizar uma eficaz acção de prevenção.
Esta dupla acção de prevenção e detecção, médica e
socialmente eficaz, não é tarefa dos oftalmologistas somente: por
um lado, todos os médicos levados a praticar exames sistemáticos
frequentes em determinada faixa de população, clínico, pediatra,
médicos de Centros de Saúde e do INAMPS devem participar dela; por
outro lado, a tarefa é tão imensa que determinadas incumbências
poderiam ser confiadas aos auxiliares qualificados que são os
ortoptistas.
Todos os irmãos e irmãs de uma criança na qual se
descobriu um estrabismo com ambliopia devem ser examinados; todos os
irmãos, irmãs e filhos de um doente no qual se acaba de descobrir
um glaucoma crônico simples devem ser controlados.
Organização geral da detecção precoce
Na criança
O risco hereditário é avaliado por ocasião do exame da mãe;
exame pré-nupcial, exame pré-natal e, se necessário, consulta
genética.
As crianças com risco são aquelas que:
-
apresentam afecção ocular em sua ascendência. Veremos a
lista delas. É por ocasião do exame pré-nupcial que esse risco
deve ser assinalado. É então indispensável que se faça uma
consulta com um geneticista especializado.
-
sofreram uma infecção da mãe durante a gravidez:
evidentemente, a rubéola é a mais temível, mas qualquer afecção
a vírus antes do 4° mês pode criar risco, como a toxoplasmose, as
intoxicações, as radiações ionizantes. Deve-se dar uma atenção
especial aos exames dessas crianças desde o nascimento.
Porém, toda criança deve ser submetida a um exame preventivo:
- no 8° dia
- no 9° mês
- no 24° mês.
O distúrbio visual descoberto ou suspeito deve ser anotado na
ficha de saúde e requer uma consulta especializada.
Os métodos de detecção são variáveis de acordo com a idade:
No 8° dia, compreendem a avaliação da morfologia dos globos,
da transparência da córnea, dos reflexos pupilares, da luz
pupilar. A nosso ver, deve ser pedido um exame ocular especializado
para toda criança com risco.
No 4° mês, a prova de estimulação visual deve provocar:
- um reflexo fotomotor claro,
- acompanhamento ocular, sinal importante,
- um princípio de coordenação prática.
A criança deve seguir a luz e não deve apresentar reflexo de
defesa à oclusão de um olho.
Em nossa opinião, enfim, o teste de Hirschberg (estudos dos
reflexos da córnea), com teste de oclusão desde esse tempo, e o
tratamento do estrabismo convergente com ambliopia também deve ser
empreendido (ver capítulo terapêutico).
No 9º mês, o exame pode detectar os estrabismos pouco aparentes
por meio de óculos diagnósticos equipados de oclusores setoriais.
Aos 2 anos, muitas vezes é ilusório querer avaliar a acuidade
visual. Na prática, esse exame será idêntico ao do 9.° mês,
porém muito mais preciso.
Na escola maternal, pode ser começada a medida da acuidade
visual:
-
de longe: quatro tipos de testes, o que mostra que nenhum
deles é perfeito.
-
testes direcionais: Anel de Landolt, E de Snellen,
-
testes de imagem de Rossano, de Weiss ou de Pigassou,
-
testes letras de Sheridan, com apresentação de letras
isoladas, podendo a criança responder por emparelhamento,
-
testes geométricos, redondo, quadrado, teste de Dor.
-
de perto: testes de Rossano, de Hazemann-Rossignol-Weiss
(figs. 5.3 e 5.4). Muitas vezes as respostas são obtidas mais
rapidamente de perto. Há, então, uma causa de erro importante,
que é a acomodação, mas pode-se descobrir uma ambliopia
profunda.
Na idade escolar, o exame sistemático de acuidade visual deveria
ser praticado a cada ano. Para estes diferentes exames devem
colaborar:
-
o médico generalista,
-
o obstetra,
-
o pediatra,
-
o médico do Centro de Saúde.
A menor anomalia constatada deve desencadear um exame
oftalmológico. Neste aspecto, é melhor pecar por excesso do que
por omissão. É um ponto que as famílias devem ser levadas a
admitir. E, se não podemos criticar um clínico geral por ter
pedido um exame especializado numa criança normal, podemos
censurá-lo por não ter feito notar um defeito que mais tarde se
tornou inacessível à terapêutica.
Em 1981, ano internacional das pessoas deficientes, foi criada,
no Baixo Reno, uma comissão departamental que reuniu um grupo de
trabalho compreendendo geneticista, ginecologista, pediatra,
otorrinolaringologista, oftalmologista, psiquiatra, médicos da
P.M.I. (Protection Maternelle Infantile) e da DDASS (Direction
Départementale de l'Action Sanitaire et Sociale), médico inspetor
geral da saúde, representantes dos centros de readaptação
funcional e das associações de auxílio aos deficientes. Eles
elaboraram uma publicação sobre "A detecção e prevenção
precoce dos riscos de deficiência".
Mas o departamento do Baixo Reno foi mais longe no âmbito
ocular: foi criado um cargo de ortoptista de detecção em 1974,
duplicado em 1978 com um segundo cargo. Os ortoptistas formados
especialmente em detecção dos distúrbios visuais atuam nas
creches, nos jardins de infância possuem a técnica do exame dos
reflexos pupilares e do teste de oclusão. Parece que podem examinar
dez crianças por hora.
Assim, pode ser realizada uma detecção de massa, confiável e
rápida. Para o ano de 1980-81, os resultados obtidos pelo
ortoptista do departamento foram estes:
-
Número de crianças examinadas em escola: 4383
-
Número de comunicados enviados às famílias: 423
-
Número de comunicados devolvidos com observações do
oftalmologista consultado: 290
-
Número de crianças vistas nas creches: 305
-
Número de comunicados enviados às famílias: 50
-
Número de comunicados devolvidos com observações do
oftalmologista consultado: 10
O baixo índice de comunicados devolvidos mostra que é preciso
prosseguir num trabalho de informação.
O material básico utilizado é o seguinte:
-
optotipos para a visão de longe e de perto: conjunto de
Rossano Weiss ou de Pigassou,
-
lâmpada portátil puntiforme,
-
brinquedos sonoros e figurinhas recortadas para captar a
atenção na visão de perto,
-
óculos diagnósticos com oclusores setoriais,
-
óculos reversíveis com oclusão alternada. Material idêntico
foi indicado por F. e N. Jeanrot.
O consenso está, pois, feito em relação à técnica.
A organização de um serviço de detecção confiado ao
ortoptista deve merecer nossa atenção.
A municipalidade de Lyon acaba de criar um serviço de
observação assegurado por ortoptistas.
Tais exames são essenciais para a criança. Afora as afecções
retinianas degenerativas que não são passíveis de tratamento,
eles permitem apenas a detecção e o indispensável tratamento
precoce:
-
- da ambliopia funcional tão frequente,
-
- da catarata congênita,
-
- do nistagmo,
-
- do temível mas felizmente excepcional glioma da retina.
Portanto, foi feito um admirável esforço no sentido da
detecção precoce na criança. Provavelmente seja possível fazer
mais.
No adulto
Dos 16 aos 65 anos, na França, a única obrigação legal de
exame sistemático é o exame de medicina do trabalho.
Observemos que a medicina do trabalho não abrange toda a
população: os não assalariados ainda representam cerca de 20% da
população francesa.
Portanto, e ainda neste caso, se faz necessária uma informação
do público sobre a necessidade de exames oculares sistemáticos .
O papel do médico do trabalho também é essencial nesse caso.
-
O questionário feito ao sujeito examinado permite detectar os
indivíduos com risco: antecedentes de descolamento de retina, de
glaucoma, de catarata.
-
O exame do médico do trabalho deve compreender a medida da
acuidade visual de longe e de perto, o exame morfológico dos globos
e dos reflexos pupilares.
-
O médico do trabalho procura encontrar afecções geradoras de
deficiência ocular: hipertensão arterial e diabetes,
particularmente.
-
Enfim, ele organiza a adaptação do sujeito a seu trabalho, em
função de suas capacidades visuais, e se interessa continuamente
pela prevenção dos acidentes do trabalho em relação aos olhos.
A organização geral da prevenção e da detecção requer o
emprego dos meios essenciais e um grande contingente de recursos
humanos. A menor anomalia deve determinar um exame feito pelo
especialista, que é a única pessoa apta a julgar se há ou não
necessidade de terapêutica.
Prevenção e detecção das diferentes afecções oculares
Não voltaremos a falar sobre um ponto capital: a necessidade da
detecção precoce do estrabismo e da ambliopia funcional. Esta
observação decorre, efetivamente, da organização da observação
geral da criança. É a ambliopia funcional que será descoberta na
maioria das vezes e poderá ser tratada, nestas condições, com bem
grandes possibilidades de sucesso.
Prevenção e detecção estão voltadas a uma patologia variada:
-
Afecções oculares congênitas.
-
Afecções hereditárias.
-
Doenças infecciosas e parasitárias que repercutem no feto.
-
Medicamentos tóxicos para o olho do feto.
-
Descolamento de retina.
-
Glaucomas.
-
Complicações retinianas das doenças sistêmicas:
-
Hipertensão arterial e diabetes.
-
Doenças oculares iatrogênicas.
-
Acidentes oculares do trabalho.
-
Acidentes oculares do trânsito.
As afecções oculares congênitas
Afecções hereditárias
Trata-se de distúrbios inatas do metabolismo, que se transmitem,
em sua grande maioria, de maneira autossômica recessiva, o que
significa que o risco de reaparecimento só existe dentro de uma só
e mesma geração de irmãos, sendo de 25% o risco para os irmãos.
Quando não existe tratamento, a única prevenção possível reside
na eugenia e no aconselhamento genético.
Para que o aconselhamento genético seja válido, é necessário
reconhecer os sujeitos acometidos, ditos homozigotos. Na
descendência de um sujeito acometido há apenas heterozigotos, cujo
número vai diminuir nas gerações sucessivas. As afecções só
aparecem em caso de casamento entre dois heterozigotos. Na prática,
esta eventualidade só pode vir a realizar-se em caso de casamento
consangüíneo.
Esta transmissão autossômica recessiva se encontra, para citar
apenas as afecções mais freqüentes, no albinismo generalizado
ligado ao sexo, nas mucopolissacaridoses, tais como a doença de
Tay-Sachs, com seu acometimento macular, a doença de Refsum, com
sua retinite pigmentar. Algumas outras afecções têm transmissão
diferente: a síndrome oculocerebral de Lowe, o albinismo ocular, a
doença de Fabry são recessivas ou intermediárias ligadas ao sexo.
Nas afecções citadas anteriormente, não há terapêutica.
Portanto, a única actuação possível é a prevenção pelo
aconselhamento genético, cuja importância nunca será
suficientemente ressaltada; uma detecção precoce não impede a
evolução. Em contrapartida, a detecção precoce tem grande
interesse quando há possibilidade de uma terapêutica. É o caso:
-
da homocistinúria, distúrbio congênito do metabolismo da
metionina que se complica pela luxação do cristalino. A
piridoxina, vitamina B6, parece bloquear sua evolução.
-
galactosemia congênita pode dar origem a uma catarata
pós-natal precoce, cujo aparecimento pode ser evitado eliminando-se
a galactose da alimentação. Deve-se prescrever uma dieta sem
galactose durante a gravidez às mulheres que têm filhos
galactosêmicos. O diagnóstico pré-natal, por outro lado, pode ser
feito determinando-se a actividade transferásica nas células
amnióticas em cultura de tecidos.
Doenças infecciosas e parasitárias que têm repercussão no
feto
A rubéola é a mais freqüente e a mais temível pois provoca
uma catarata congénita bilateral grave e, às vezes, retinite
pigmentar.
A vacinação de todas as jovens antes da puberdade é a única
solução. Mas a duração da imunização ainda é discutida, por
isso pode-se pensar no sorodiagnóstico pré-nupcial, com
vacinação, se for negativo. Uma rubéola comprovada biologicamente
nas primeiras semanas da gravidez propõe o problema do aborto
terapêutico.
Outras afecções virais da mãe podem ter efeito teratogênico
para o globo ocular: gripe, caxumba, hepatite viral, herpes-zoster.
O isolamento da mulher grávida em período epidêmico é a única
acção possível.
A toxoplasmose, doença parasitária contraída pela ingestão de
carnes de boi ou de carneiro mal cozidas, ou ainda pelo contacto com
os gatos, origina malformações oculares importantes por
acometimento coriorretiniano em particular. Há diversos casos:
-
se uma mulher apresenta, antes da gravidez, uma sorologia
muito positiva, ela está imune a uma crise aguda durante a
gravidez, e não há risco algum para o feto.
-
se uma mulher tem uma sorologia negativa e está grávida,
deve evitar as causas de contágio: comer carnes bem cozidas e
não ter contacto com gatos.
-
o caso mais molesto é o da sorologia que se torna positiva
durante a gravidez: é preciso, então, fazer um tratamento com
espiramiana e diversas sorologias de controle.
Medicamentos tóxicos para o olho do feto
Felizmente esta eventualidade é rara.
Os antimitóticos podem provocar malformações muito graves:
microftalmia, catarata, anoftalmia.
A quinina, em doses maciças durante as primeiras semanas da
gravidez, pode ocasionar malformações graves com acometimento da
órbita.
As radiações ionizantes dirigidas para a pequena bacia, na dose
de 100 rads, ou seja, muito maus que um simples exame radiológico,
podem provocar catarata, microftalmia e acometimento
coriorretiniano.
Para encerrar este capítulo, insistiremos novamente no papel
capital da genética na prevenção das afecções hereditárias e
na gravidade da rubéola na gestante.
Prevenção do descolamento de retina
Ela depende inteiramente do oftalmologista, que atualmente tem a
seu dispor um meio que permite excluir as lesões que expõem ao
descolamento: o laser de argônio.
Mas, para que possam ser tratadas, estas lesões devem ser
conhecidas e pesquisadas. Somente o exame de fundo de olho com lente
de três espelhos permite detectá-las. Portanto, é preciso
realizá-lo de modo sistemático nos sujeitos de risco:
-
os míopes com mais de três dioptrias: quanto mais forte for a
miopia, maior será o risco; a partir dos 20 anos o exame com lente
de três espelhos, a cada dois anos mais ou menos, é
indispensável.
-
a família de um doente acometido de descolamento de retina,
especialmente irmãos e irmãs.
-
os operados de catarata, principalmente os míopes.
As lesões são constituídas pelas rupturas retinianas, pela
degeneração látice, pela retinósquise e outras.
A degeneração látice tem aspecto característico de coroas de
espinhos, traços brancos entrelaçados, misturados mais ou menos
estreitamente ao pigmento.
A retinósquise é um descolamento intra-retiniano que atinge as
camadas médias da retina.
Um grau a mais, e vemos aparecerem as diferentes espécies de
rupturas retinianas: redondas, com opérculos, em retalhos.
Diante dessas lesões, a atitude dos oftalmologistas é
variável. Em sua maioria, os autores preferem agir de modo seletivo
sobre as lesões retinianas de risco, principalmente rupturas
retinianas e degeneração látice.
O tratamento com laser é simples e sem perigo. É praticado de
forma ambulatorial, não é doloroso e não impõe a interrupção
da actividade do sujeito.
A necessidade de um exame de fundo de olho periódico no míope e
a necessidade do exame da família de um sujeito acometido de
descolamento de retina devem ser enfatizadas e difundidas entre o
público.
Esta informação do público é ainda mais necessária no que
diz respeito ao glaucoma.
Prevenção e detecção dos glaucomas
O glaucoma simples
Apresenta carácter hereditário inegável. Embora não se possa
precisar com exatidão o modo de transmissão, é certo que todo
indivíduo que tenha um glaucomatoso na família deve ser observado
regularmente.
Para a prevenção, há pouca coisa a ser feita. Entretanto, os
corticóides locais com instilação prolongada podem ocasionar
glaucoma crônico. Cabe aos oftalmologistas evitá-los. Os
corticóides de uso sistêmico também apresentam risco, e a
pressão ocular deve ser observada de modo regular.
Na realidade, a questão toda se resume na detecção: o glaucoma
crônico simples, no início, não se traduz efetivamente por nenhum
sinal funcional, mas por uma tríade de sinais de exame que só um
oftalmologista é capaz de detectar: elevação da pressão ocular,
alteração da papila óptica, acometimento do campo visual.
Por outro lado, o estudo da freqüência do glaucoma crônico
mostra seu aparecimento depois dos quarenta anos. Portanto, é
essencial que se realize periodicamente um exame oftalmológico em
indivíduos de mais de quarenta anos. Uma ótima ocasião para isso
é a da prescrição de lentes para os presbíopes, que deve ser
acompanhada obrigatoriamente por exame de fundo de olho e medida da
pressão ocular. Estes exames são sempre realizados pelo
oftalmologista. Evidentemente, eles não serão feitos se a
prescrição das lentes for feita pelo opticista. Assim, nos países
anglo-saxões, onde o exame da refração e a prescrição de lentes
são confiadas a optometristas, são lançadas regularmente
campanhas pelos oftalmologistas com o tema: "Mande medir sua
pressão ocular."
Temos o dever de sublinhar a importância do exame ocular
sistemático por um oftalmologista, por ocasião de cada
prescrição de lentes. É esse o único meio de detecção precoce
do glaucoma crônico simples, que continua sendo a primeira causa de
cegueira nos países ocidentais.
A detecção precoce é essencial: a terapêutica no glaucoma
crônico simples pode apenas estacionar a doença, ela é impotente
para recuperar a visão perdida. Portanto é absolutamente
necessário fazer-se um diagnóstico precoce para pôr em prática a
terapêutica, enquanto a visão ainda está boa.
O glaucoma de ângulo fechado
Seu carácter hereditário é bem menos estabelecido que o do
glaucoma crônico simples. Por outro lado, um aspecto muito
particular é evidente: praticamente trata-se sempre de sujeitos
hipermétropes, com córnea pequena e posição anterior do
cristalino.
Antes da dramática crise de glaucoma agudo, a doença pode se
manifestar por crises intermitentes de fechamento do ângulo
iridocorneano. O exame entre as crises é normal. Os "testes
provocadores" que o oftalmologista emprega então, para criar
artificialmente um aumento da pressão ocular, são verdadeiros actos
de detecção precoce. Eles são variados, os mais empregados
atualmente parecem ser a prova do escuro durante uma hora e o
decúbito ventral também durante uma hora.
Enfim, convém ter sempre em mente o papel do possível
desencadeamento de uma crise pelo uso de certo número de
medicamentos:
-
Todos os colírios dilatadores da papila. Só um
oftalmologista que tenha examinado a profundidade da câmara
anterior está autorizado a dilatar a pupila de um
hipermétrope.
Os medicamentos com acção atropínica, ou próxima, de uso
sistêmico, tais como:
-
os parassimpaticolíticos antiespasmódicos, do tipo atropina
ou beladona, utilizados em inúmeras especialidades; em particular,
o emprego da atropina, deve ser desaconselhado antes de uma
anestesia geral ou durante a mesma, em sujeito suspeito.
-
os psicotrópicos, psicolépticos ou neurolépticos, do tipo
clorpromazina e outras fenotiazinas;
-
os psicoanalépticos, do tipo anfetaminas;
-
os timolépticos e imipraminas;
-
os antiparkinsonianos;
-
certos anti-histamínicos.
Podemos concluir este capítulo sobre os glaucomas insistindo
sobre:
- a necessidade de melhor informação do público.
- a necessidade de melhor informação dos médicos generalistas
sobre o perigo de certas terapêuticas com acção hipertônica
ocular como os corticóides.
- a necessidade de uma detecção sistemática dos glaucomas
primitivos por ocasião de qualquer exame oftalmológico em adultos
de mais de 40 anos.
Prevenção e detecção das complicações retinianas das
doenças sistêmicas
A hipertensão arterial
Os acidentes oculares da hipertensão arterial, obstrução das
veias ou das artérias são violentos e marcantes: baixa acentuada e
rápida da visão de um olho. O problema da detecção quase não
existe. Somente o da prevenção pode ser levantado: é a questão
do tratamento da pressão arterial.
Sempre que haja oportunidade, o oculista deve enfatizar junto a
seus pacientes a importância da observação regular da pressão
arterial e da rigorosa observância dos tratamentos medicamentosos e
das instruções higiênico-dietéticas.
O diabetes
No diabetes, cuja importância entre as causas de deficiência
visual e de cegueira cresce continuamente, tanto a prevenção
quanto a detecção são essenciais.
Pode-se prevenir a retinopatia diabética?
Certamente cada oftalmologista dará uma resposta diferente. A
própria freqüência da retinopatia é avaliada de modo diverso:
segundo alguns, ao final de 20 anos de evolução, ela atinge 50%
dos diabéticos, segundo outros, 90%. Somente uma coisa parece
certa: quanto mais antigo é o diabetes mais freqüente é a
retinopatia. O equilíbrio do diabetes desempenharia algum papel?
Autores eminentes acham que não. Mas a própria noção de
equilíbrio do diabetes é vaga e discutida. Para uns, é uma total
ausência de açúcar na urina e glicemia constantemente normal.
Para outros, uma pequena glicosúria não apresenta importância.
Entretanto, parece que atualmente considera-se necessária a
melhor regulação possível do metabolismo dos hidratos de carbono,
e que quanto melhor é o equilíbrio, mais tardia é a retinopatia.
Por serem ignorados os fatores exatos que provocam a retinopatia
diabética, e por termos como única certeza a de que ela é
específica do diabetes, a lógica exige que este último seja
reduzido no mais alto grau. O oculista deverá insistir junto a todo
diabético para que, mesmo na ausência de qualquer sinal no fundo
do olho, ele siga seu regime e controle regularmente seu diabete. De
conformidade com todos os diabetólogos, insistirá também na
restrição das gorduras no regime e na observância de uma rigorosa
higiene de vida.
O problema da detecção depende do médico generalista, da
medicina do trabalho, do diabetólogo. São estes, realmente, que
devem insistir junto aos pacientes para que façam com regularidade
exame de fundo de olho, anualmente ou a cada dois anos, desde que o
diabete foi constatado.
O oftalmologista deverá realizar um exame ocular que compreenda
a medida da acuidade visual, a medida da pressão ocular, pois o
glaucoma crônico é freqüente no diabético, e o exame de fundo de
olho com lente de três espelhos e com dilatação da pupila.
Quando o fundo do olho e normal, é preciso praticar
sistematicamente uma angiografia fluoresceínica capaz de detectar
sinais antes que apareçam no fundo de olho? A questão é
controvertida. De nossa parte, a angiografia num fundo de olho
normal nunca nos trouxe informações essenciais. Em caso algum
levou-nos a uma sanção terapêutica eficaz, sendo a
fotocoagulação a laser o único tratamento das lesões evolutivas.
Talvez, ao final de longos anos de evolução, ao final de 10
anos, por exemplo, possamos realizar uma angiografia a título de
controle. Mas nem sempre este exame é benigno. Repetido com muita
freqüência, pode levar à alergia à fluoresceína, que impedirá
sua utilização quando realmente for necessário, quando a
retinopatia já se tiver manifestado.
Convém utilizar com moderação e prudência este exame
essenciaI na retinopatia diabética, que é a angiografia
fluoresceínica. Por outro lado, nunca teremos insistido o
suficiente sobre a necessidade de exames regulares de fundo de olho
para o diabético, pois é importante tratar a retinopatia desde
seus primeiros estágios.
Prevenção das doenças oculares iatrogênicas
Os medicamentos tóxicos para os olhos são muito numerosos.
Mesmo limitando-nos aos principais, sua lista é longa. Todas as
partes do olho podem ser atingidas.
Acometimento corneano, por depósito do medicamento nas camadas
da córnea:
-
ceratopatia da amiodarona: pontilhados corneanos reversíveis
após suspensão do tratamento.
-
sobrecarga da córnea pelos antimaláricos de síntese,
superficial, benigna e reversível.
-
ceratopatia da indometacina e das fenotiazinas.
Os glaucomas iatrogênicos: o glaucoma da cortisona é devido à
instilação prolongada de colírio com cortisona. Freqüentemente o
índice da pressão ocular é elevado, entre 30 e 50mm Hg, após
evolução bastante breve. A suspensão do tratamento nem sempre é
suficiente para deter a evolução, e é necessário um tratamento
antiglaucomatoso e, por vezes, cirurgia.
Todos os parassimpatolíticos, a maioria dos psicolépticos e os
medicamentos à base de atropina podem desencadear crises de
glaucoma por fechamento de ângulo.
A catarata iatrogênica: é principalmente a complicação da
corticoterapia prolongada, sistêmica e local. É uma catarata
posterior, bilateral, de evolução freqüentemente rápida e que
muitas vezes será necessário operar.
Os acometimentos retinianos: o mais clássico é o acometimento
pela cloroquina. Resulta de uso prolongado do medicamento: pelo
menos 200 mg por dia, até uma dose de 100 g. No fundo de olho, os
sinais são constituídos por pigmentação perimacular que se
tornará irreversível, com escotoma paracentral que irá
estender-se.
Um distúrbio da visão das cores é precoce, e permite detectar
as lesões no início.
Portanto, a administração prolongada dos antimaláricos
comporta, depois de um balanço oftalmológico inicial, um controle
a cada seis semanas durante 3 meses, depois, de 3 em 3 meses. O
eletrorretinograma (ERG) dá sinais precoces e pode ser um meio de
controle.
Os acometimentos do nervo óptico: são os mais freqüentes dos
acometimentos oculares iatrogênicos. O medicamento mais perigoso,
por ser o mais utilizado, é o etambutol, medicação
antituberculosa. Pode provocar neurite retrobulbar que evolui
classicamente em três estágios:
-
discromatopsia central
-
baixa visual com papila normal
-
estágio irreversível com palidez papilar
Portanto, cumpre prevenir essa neurite óptica:
-
Não administrar etambutol aos insuficientes renais, pois nesse
caso o medicamento é mal eliminado.
-
Observação regular da visão das cores e suspensão do
tratamento ao primeiro sinal de acometimento ocular.
Inúmeros outros medicamentos podem provocar neurites ópticas.
Citaremos alguns deles:
- a isoniazida,
- a penicilamina,
- cloranfenicol,
- os l.M.A.O.,
- os arsenicais.
A observação regular, bem como o uso prudente da terapêutica
evitarão determinado número de deficiências visuais.
Prevenção dos acidentes oculares do trabalho
A acção do médico é importante para:
- Controle da aptidão visual dos sujeitos para determinado
trabalho, através do exame ocular completo, compreendendo não
só a medida da acuidade visual, mas também o estudo da visão
das cores, do campo visual e, em certos casos, da adaptação
às baixas luminosidades.
- Controle do local de trabalho, cabendo um papel essencial à
iluminação: a luz deve chegar em quantidade suficiente até o
objecto fixado, mas não deve causar ofuscação nem reflexos
nocivos.
- Controle dos aparelhos oculares de segurança:
-
óculos de proteção que devem ser leves, bem centrados e
permitir a ventilação quando são necessários protetores
laterais.
-
óculos-máscara e óculos guarda-fogo.
-
máscaras faciais.
É possível incluir, nas lentes protetoras, a correção de uma
ametropia. Por fim, algumas reacções elementares diante de um
trauma ocular devem ser conhecidas em todas as fábricas. O mais
importante é a necessidade de lavagem imediata e abundante em caso
de projeção de substância tóxica, qualquer que seja ela.
Prevenção dos acidentes oculares de trânsito
É a prevenção dos acidentes de trânsito em geral, com todas
as dificuldades nela implícitas.
No que diz respeito à visão, enfatizaremos a importância da
iluminação da estrada, sendo o ponto capital evitar as
alternâncias de zonas de sombra e luz. Também é importante a
sinalização para o dia, que deve ser colocada bem antes do
obstáculo, no mínimo a 300 metros, distância que um veículo
rodando a 120 km/h percorre em nove segundos.
VI - A REEDUCAÇÃO NA TERAPÊUTICA
A reeducação e suas regras gerais
Indicações
A reeducação diz respeito somente à ambliopia funcional e à
visão binocular. Deve ser dirigida pela equipe
oftalmologista-ortoptista.
A ambliopia funcional, definida como acuidade visual baixa que
uma lesão orgânica não explica, é devida a um defeito do uso do
olho. Na metade dos casos, atinge o olho estrábico. Esta ambliopia
funcional unilateral é uma deficiência; como tal, deve ser
reeducada em si mesma. Se a ambliopia funcional persistir, a
reeducação da visão binocular será impossível.
Por outro lado, no caso particular do nistagmo, a reeducação
está voltada para uma ambliopia funcional bilateral.
Para evitar qualquer ambigüidade, especificaremos que, no quadro
da reeducação, o termo ambliopia equivale a "ambliopia
funcional monolateral". A ambliopia orgânica não é caso para
a reeducação. Quando falarmos de ambliopia funcional bilateral
(caso do nistagmo), especificaremos.
A visão binocular (VB) é perturbada a cada vez que o uso
simultâneo dos olhos não se realiza perfeitamente, o que acontece
toda vez que há desequilíbrio oculomotor, evidenciado pelo teste
de oclusão, seja no caso de estrabismo, heteroforia ou de paralisia
oculomotora. Mas, nesse acometimento da VB, é preciso distinguir o
déficit motor e o déficit sensorial.
Um estado motor normal caracteriza-se pela ortoforia: os dois
olhos se dirigem sem dificuldade para o objecto fixado. A ortoforia
é o suporte necessário para que a VB funcione livremente.
Um bom estado sensorial requer antes de mais nada a percepção,
por cada olho, de imagens análogas; em especial, a acuidade visual
deve ser mais ou menos equilibrada nos dois olhos.
Princípios fundamentais
1. Toda reeducação visa à "restitutio ad integrum"
Os distúrbios congênitos estão excluídos. A ambliopia
funcional não deverá ter evoluído sem tratamento durante os
primeiros anos da vida, quando a acuidade visual se desenvolve. É
preciso que tenha existido visão binocular, mesmo que esboçada.
A reeducação não cria. Ela protege contra uma evolução
defeituosa ou restitui aquilo que foi perdido e melhora-o. Deve ser
iniciada assim que for possível.
2. A reeducação deve ser qualificada
É efectuada a pedido do oftalmologista, após um balanço do
qual faz parte o exame ortóptico. Deverá ser executada por um
ortoptista diplomado. Na França, o diploma de ortoptista requer
três anos de estudos em estágios hospitalares permanentes junto a
uma Escola de Ortóptica. Um diploma nacional sanciona o sucesso nos
exames. A equipe oftalmologista-ortoptista funciona com algumas
variações conforme as organizações locais, mas é de sua coesão
que depende o sucesso.
O ortoptista pode trabalhar em seu consultório particular, ou
instalado junto a um oftalmologista especializado em distúrbios da
visão binocular, ou ainda dentro de uma clinica oftalmológica. As
reeducações podem ser feitas também no meio hospitalar, se a
organização do serviço de oftalmologia assim o permitir, e em
particular se dele constar uma Escola de Ortóptica.
3. A cooperação família-criança deve ser boa ou mesmo
excelente
Quando já está decidida e aceita, a reeducação deve
desenrolar-se sem entraves, e isso depende frequentemente do
"know-how" do ortoptista que se encarregará "de
explicá-la". Podemos citar os conselhos coligidos pelo zelo de
dois estudantes de Ortóptica num relatório de final de curso. Y.
Bruni, F. Nodet: "Guide pour le traitement du strabisme à
l'usage des parents." Mémoire de fin d'études, Lyon, 1973.
-
Em primeiro lugar, conselhos sobre o uso dos óculos, pelo
qual começa a maior parte do tempo de tratamento. Com muita
frequência, os óculos são prescritos após instilação de
atropina.
"Recomendaremos o uso constante dos óculos de dois a três
meses antes de empreender qualquer outro tratamento: em certos casos
eles podem modificar um estrabismo. Entretanto, a finalidade dos
óculos não é eliminar o desvio; não se pode absolutamente
suprimi-los sob o pretexto de não se constatar nenhuma melhora
estética! Por outro lado, eles poderão ser retirados,
temporariamente ou não, durante um tratamento, unicamente por
decisão do oftalmologista."
-
Conselhos a propósito da atropina e dos colírios:
"A atropina dilata a pupila, perturba principalmente a
visão de perto; uma luz forte também pode incomodar a criança. O
efeito da atropina perdura de 8 a 15 dias depois da suspensão da
instilação."
"O prazo de validade da atropina, bem como de qualquer outro
colírio, é curto: o frasco deve ser inutilizado ao final de um
mês."
Atenção: todo colírio de atropina é veneno. Não deixá-lo ao
alcance das crianças. "Cada colírio tem um efeito
específico: é necessário utilizá-lo sob controle médico; por
exemplo, não utilizar o que foi prescrito para um filho, a pretexto
de ter os olhos inchados e vermelhos."
-
Depois, conselhos muito práticos que estabelecem boas
relações ortoptista-família:
"Seu filho foi visto por um oftalmologista. Com os óculos,
foi obtido o máximo de visão. Ele o coloca agora nas mãos do
ortoptista. A partir desse momento sua cooperação é
indispensável."
"A primeira tarefa é a de preparar a criança: se ela
compreender o porquê de seu tratamento, só poderá ser mais
cooperante. Saibam também que sua atitude influenciará a dela: ela
perceberá a menor hesitação de sua parte e fará mal seus
exercícios. Ao contrário, será estimulada se vocês participarem
de seu tratamento e o levarem a sério. O modo é simples:
- esforçar-se por chegar na hora
- não esquecer as sessões (em caso de impossibilidade, é
normal telefonar)
- respeitar as instruções dadas (trocar o tampão, fazer com
que a criança se exercite regularmente, se isto lhes for pedido).
"Não fiquem com pena dela: ela deverá levar uma vida tão
normal quanto possível, entretanto será preciso encorajá-la
muito."
"Apesar de toda sua boa vontade, poderemos ser levados a
suspender ou a adiar um tratamento. Na realidade, a colaboração da
criança também é indispensável. Em certos casos, atribuímos
maior importância a ela do que à própria idade da criança. Uma
criança demasiado nova, demasiado tímida, frequentemente dará
respostas lentas demais ou imaginativas demais, que deturparão a
reeducação baseada em grande parte sobre elas.
Não se desesperem com isso, de nada adiantaria repreendê-la:
muitas vezes, alguns meses são suficientes para
transformá-la."
"Podem surgir outros problemas. É absolutamente necessário
relatá-los ao ortoptista antes de empreender o tratamento:
- problemas de transporte ou de horários: em certos casos é
possível hospitalizar a criança
- problemas sociais: não será pedido o mesmo ritmo de
tratamento a uma criança que não puder ser acompanhada
regularmente (se pertencer a uma família numerosa ou se estiver em
internato...)
"É preferível também que ela não siga vários
tratamentos ao mesmo tempo: por exemplo, sessões de terapia motora,
de foniatria, que já solicitam muito esforço de sua parte."
4. O tratamento deve permanecer razoável para que a cooperação família-criança seja adquirida
Tudo depende do desequilíbrio oculomotor em questão e, mais
ainda, das condições sociais. Esta regra fundamental desempenha
importante papel na indicação de um tratamento.
É preciso que não haja desproporção entre os esforços a ser
feitos e os resultados que se pensa obter.
- O tratamento da ambliopia requer continuidade no esforço. Este
esforço deve ser motivado.
- A reeducação ortóptica não exige esforços excessivos. A
duração da reeducação não ultrapassa três séries de 15
sessões. Freqüentemente é mais curta. Especificaremos os
esforços que devem ser feitos de cada caso clínico. Se para
alguns, isto ainda for demasiado é preciso saber desistir.
A reeducação de acordo com a patologia
Cabe ao oftalmologista decidir quem deve ser reeducado. Além
disso é necessário que ele examine a criança. Cabe aos que
convivem directamente com a criança, observá-la em seu
comportamento diário. Conhecer os distúrbios que podem afetar sua
visão binocular facilita esta observação.
[...]
VII - A READAPTAÇÃO NA CEGUEIRA OU NA
AMBLIOPIA BILATERAL
Alguns processos ópticos ou eletrônicos podem ser postos à
disposição da pessoa com visão subnormal para melhorar sua
deficiência visual.
Para os cegos, ao lado dos métodos paliativos (Braille e
técnicas que facilitam a locomoção), existem auxílios visuais
eletrônicos que podem ser úteis na área da leitura ou do
deslocamento. Procuraremos expor os diferentes métodos,
inspirando-nos no recente Relatório das Sociedades de Oftalmologia
da França, de Boissin, Perdriel, Catros e colaboradores a respeito
dos auxílios ópticos e eletrônicos.
Depois deste estudo dos meios colocados à disposição das
equipes médicas e de reeducação, vamos nos dedicar a descrever e
a precisar as diversas etapas e métodos da readaptação
propriamente dita dos deficientes visuais.
As técnicas paliativas de auxílio
As técnicas paliativas de auxílio aos cegos e às pessoas de
visão subnormal são representadas pelo Braille e pelos meios que
facilitam os deslocamentos: bengala longa e cão-guia.
O que é o Braille?
Louis Braille, cego também, concebeu, em 1929, uma escrita em
relevo acessível pelo tacto. O "Braille" é obtido pela
justaposição de pontos em relevo, 6 no máximo, cujas diferentes
combinações permitem reproduzir todas as letras do alfabeto, os
algarismos, a pontuação e a notação musical. O aprendizado do
Braille é muitas vezes difícil e longo (de 4 a 12 meses). Uma
leitura rápida só é possível quando o dedo percebe facilmente o
frágil relevo dos pontos e identifica globalmente a disposição
destes.
O Braille possibilita não só a leitura, mas também a escrita.
Esta é difícil, pois exige a inversão da disposição dos pontos,
devendo o cego escrever da direita para a esquerda, sendo o próprio
signo invertido para que a leitura possa ser feita normalmente da
esquerda para a direita.
A aprendizagem do Braille deve ser decidida com prudência junto
a um sujeito que aceita sua deficiência, no quadro mais global do
desenvolvimento do conjunto dos mecanismos de adaptação a ela,
pois do ponto de vista psicológico, "Braille" significa
cegueira.
Quais são os meios de auxílio ao
deslocamento dos cegos?
A aquisição, pelo cego ou pelo deficiente visual, de uma
independência para seu deslocamento em relação a uma terceira
pessoa, constitui um elemento importante de sua vida cotidiana e o
auxilia em sua integração social. Esse deslocamento é facilitado
por uma bengala longa e um cão-guia.
A bengala longa
A utilização, segundo o método de Hoover, de uma bengala
longa, adaptada à altura de seu usuário, permite ao cego detectar
os obstáculos à sua passagem, e portanto evitá-los graças a um
movimento de varredura da direita para a esquerda.
Entretanto, a aprendizagem dessa técnica constitui apenas um dos
elementos da aprendizagem ou da reaprendizagem da locomoção, bem
como o desenvolvimento do sentido da orientação depois do
contornar de um obstáculo, a interpretação dos ruídos ou a
representação mental do espaço. A utilização de uma bengala
branca permite ao público reconhecer as pessoas de visão subnormal
como tais, e assim propor-lhes a ajuda necessária.
O cão-guia
O cão-guia pode se constituir num auxiliar precioso para certos
cegos, elemento de segurança e companheiro de todos os dias.
O cego deve aprender a utilizar o cão, na maioria das vezes,
através de um curto estágio num centro de treinamento. Deve
confiar nele para reconhecer e contornar os obstáculos e parar por
ocasião dos perigos.
Entretanto, a presença de um cão não é aceita sem problemas
em toda parte (transportes coletivos, local de trabalho). Por outro
lado, como a duração média da vida de cão é breve, o cego terá
de readaptar-se a outros cães.
Por fim, o custo de um cão-guia e de sua manutenção é alto.
Alguns organismos humanitários (Lyons Club) podem contribuir
financeiramente para a compra de um cão.
Os auxílios visuais ópticos
Os auxílios visuais ópticos são destinados a melhorar
qualitativa ou quantitativamente, ou dos dois modos simultaneamente,
as competências visuais restantes das pessoas de visão subnormal.
Eles são utilizáveis somente pelas pessoas de visão subnormal e
não pelos cegos.
Quais são os processos ópticos destinados a compensar as
deficiências?
O primeiro processo de compensação de uma deficiência visual
é a correção precoce de qualquer ametropia (ou seja, de qualquer
distúrbio da refração: miopia, hipermetropia, astigmatismo).
Foram feitos progressos importantes na correção precoce das
ametropias especialmente nas crianças muito pequenas, nas quais o
exame com fonte de luz Skia sob atropina permite determinar o grau
de ametropia. É um exame praticado pelo oftalmologista após 8 dias
de uso de colírio de atropina e que permite saber se a criança tem
necessidade de óculos, estudando o reflexo pupilar. Esse exame
será praticado em caso de suspeita de visão subnormal, em caso de
estrabismo ou de antecedentes familiares de estrabismo ou de
ametropia forte.
Os óculos podem ter verdadeiro valor terapêutico para melhorar
a acuidade visual de crianças acometidas de distúrbios congênitos
de refração. Actualmente podemos aparelhar crianças a partir do
6º mês.
Os processos ópticos de compensação das deficiências visuais
têm finalidade de melhorar a qualidade da imagem retiniana, ou
aumentá-la, ou ampliar o campo visual.
Melhorar a qualidade da imagem recebida pela retina
O princípio consiste em tentar normalizar novamente o trajeto
dos feixes luminosos que contribuem para a formação da imagem
retiniana. Podem ser utilizados três processos: as lentes de contacto, os sistemas diafragmados e os sistemas estenopêicos.
-
As lentes de contacto: a qualidade da imagem recebida pela
retina depende especificamente da forma e da transparência da
córnea. Assim, em certos casos de ambliopia relativa ligada a
doenças da córnea, tais como o ceratocone (deformação em
cone da córnea, em "bola de rugby"), a baixa visual
pode ser compensada, em parte, por lentes de contacto especiais.
-
Os sistemas diafragmados: estes sistemas se aplicam a certos
casos patológicos muito particulares acompanhados de grande
fotofobia (isto é, de grande sensibilidade à luz).
O efeito de diafragma pode ser obtido simplesmente
incorporando-se protetores laterais e superiores. Esses protetores
evitam uma difusão excessiva de luz no olho, e assim diminuem o
incômodo de certos doentes, em especial daqueles que apresentam
uma opacificação do cristalino que não atinge o eixo óptico
(catarata parcial).
Pode-se obter também o efeito de diafragma por meio de lentes
de contacto com íris artificial e de lentes de contacto esclerais
(isto é, de grande dimensão) cuja íris é tingida, e a parte
que repousa na esclera, opaca. São utilizadas em casos de
albinismo ou em casos de destruição importante ou total da
íris, (aniridia congênita, isto é, ausência total da íris,
coloboma iridiano, isto é, ausência parcial da íris ou
iridectomia traumática consecutiva a ferimento perfurante do
olho). Permitem criar uma pupila artificial que diminui a
fotofobia (horror à luz) intensa sentida por esses sujeitos.
-
Os sistemas estenopéicos: São lentes opacas que contêm um
orifício central ou numerosos orifícios mais ou menos juntos
ou fendas ou cruzes que, com a finalidade de evitar a
distorção das imagens ligadas à irregularidade da córnea
permitem algum aumento visual diminuindo a difração dos feixes
luminosos que incidem no nível das deformações da córnea,
reduzindo, assim, a mancha de difusão formada na retina.
Esses sistemas simples e pouco onerosos são utilizáveis
apenas para observações estáticas, pois reduzem
consideravelmente o campo visual.
Ampliar a imagem retiniana
O aumento da imagem retiniana pode ser obtido por três tipos de
processos: a aproximação da distância de observação, a
correção de uma ametropia através de lentes de contacto, e, enfim,
a utilização de um sistema óptico de aumento.
-
Aproximação da distância de observação: O primeiro gesto
que o amblíope efetua instintivamente, seja qual for a sua
idade, para melhor ler um texto é o de aproximá-lo a uma
distância mínima de visão distinta. Assim, uma criança
amblíope que dispõe de uma posição de acomodação de cerca
de 14 dioptrias obtém, ao ler a 7 cm, uma ampliação da imagem
retiniana de cerca de 4 vezes, em relação a um sujeito que
fixa o mesmo texto a 25 cm. - Isto explica porque numerosas
crianças amblíopes preferem ler sem óculos a uma distância
muito pequena, pois muitas vezes os óculos perturbam suas
capacidades fisiológicas.
Crianças amblíopes com uma acuidade visual restante de 1 a
2/10, freqüentemente podem ler, a uma distância muito pequena,
(8 a 10 cm), textos correspondentes a caracteres de tamanho médio
da escala Parinaud (n° 5 ou 6). Graças a seu grande poder de
acomodação, a criança apresenta desempenhos visuais de perto
bem superiores aos do adulto, para uma idêntica acuidade visual
restante. Isto constitui a diferença entre a ambliopia do adulto
e a da criança.
-
Correção de uma ametropia por meio de lentes de contacto: A
correção de certas ametropias fortes (miopia forte ou
hipermetropia forte) ou das afacias (ausência de cristalino)
por meio de óculos, apesar dos progressos realizados, diminui o
tamanho da imagem retiniana, donde o interesse das lentes de
contacto que, ao reduzir a distância lente-olho, aumentam o
tamanho da imagem retiniana.
As lentes de contacto são, nesses casos, verdadeiros auxílios
visuais que permitem uma melhoria mais significativa da acuidade
visual e do campo visual em relação aos óculos.
- Nos sujeitos idosos, a dificuldade de manipulação das lentes
de contacto são muitas vezes embaraçosas demais e os fazem preferir
os óculos.
- As lentes com forte hidrofilia (lentes moles com 70 ou 80% de
hidrofilia) ou as lentes gás permeáveis (lentes permeáveis ao
oxigênio) podem ser utilizadas permanentemente em certos casos,
especialmente nos afácicos operados de catarata, quer se trate de
cataratas congênitas, traumáticas ou senis. A operação da
catarata acarreta uma ametropia maior que, quando unilateral, é
responsável por uma aniseicônia que produz anomalia da visão
binocular consecutiva à diferença de tamanho das imagens
retinianas. A implantação de um cristalino artificial (lentícula
intra-ocular) permite reduzir de forma importante a aniseicônia da
afacia unilateral, em relação às lentes de contacto. Mas existe
certo número de fatores pré e pós-operatórios que podem
contra-indicar a colocação de lente intra-ocular.
- Nas crianças pequenas operadas de catarata congênita, o risco
de perda das lentes de contacto é importante e representa um
obstáculo significativo à utilização desse tipo de correção,
donde a necessidade dos óculos.
-
Utilização de sistemas ópticos de aumento: esses sistemas
são caracterizados tanto por sua potência (em dioptrias),
quanto por seu aumento dito comercial, designado pelo número x
de vezes com que o objecto é aumentado e calculado para uma
distância de observação de 25 cm. Quanto mais elevada for a
potência, mais importante será o aumento. Realmente, a
grandeza real do auxílio proporcionado ao sujeito é diferente
do aumento comercial. Ela depende das condições de
utilização das reservas de acomodação do sujeito, que são
importantes na criança, e fracas ou nulas no idoso.
Existe quatro grandes tipos de sistemas ópticos de aumento: as
lupas, os sistemas microscópicos, os sistemas telescópicos e as
telelupas.
-
As lupas: são o primeiro auxílio visual que o amblíope é
levado a utilizar para a leitura.
As lupas comportam uma ou várias lentes convergentes. Sua
utilização permanece de serventia limitada, pois seu aumento não
excede a 5 vezes, o que, não raro, é insuficiente.
Distinguem-se diversos tipos de lupas:
- As lupas manuais: são, ou lupas simples, que contêm uma só
lente ou compostas, que associam duas lentes convergentes de grande
potência.
Os adultos utilizem esse tipo de lupa segurando-as longe dos
olhos; o aumento é máximo quando o sujeito não acomoda. Portanto,
os presbíopes que utilizam lupa devem usar sua correção para
perto. Por outro lado, a criança aproxima instintivamente a lupa do
olho, pois utiliza a totalidade de sua acomodação, o que lhe
possibilita o máximo aumento.
- As lupas com lâmpada, muito apreciadas pelos amblíopes
adultos e pelos sujeitos idosos, são colocadas directamente sobre o
texto a ser lido; a iluminação reforça os contrastes e suprime os
reflexos parasitas na superfície anterior da lupa. Seu aumento vai
de 2 a 7 x.
- Lupas apoiáveis:
-
A régua-lupa aumenta o objecto e permite ao sujeito ler na
linha.
-
A Visolette ou "Sovibloc", meia esfera em vidro,
permite obter fortes aumentos. É a lupa mais comumente
utilizada em classes de amblíopes na França.
-
A lupa L.H.P. (Loupe Haute Performance) associa uma
régua-lupa e uma lente esférica.
-
As lupas em ponte e as lupas com pé, muito numerosas, têm a
vantagem de permitir que os amblíopes executem trabalhos
manuais.
-
As lupas de Fresnel são lupas geralmente moldadas em matéria
orgânica que se apresentam em forma de folhas muita finas de
grande dimensão, estriadas com círculos concêntricos. Seu
principal inconveniente é a falta de contraste na imagem
observada.
Os sistemas microscópicos: são todos os sistemas ópticos
fortemente convergentes, simples, montados numa armação de
óculos, isto é, colocados bem perto do olho, a cerca de 12 mm da
córnea.
Na maioria das vezes esses sistemas são compostos de uma só
lente esférica ou asférica para as grandes potências.
O contraste da imagem percebida pelo observador é excelente.
Por sua simplicidade, apresentam a vantagem de reduzir o quanto
possível as perdas de luminosidade, o que é muito apreciado pelos
pacientes que apresentam distúrbios de transparência dos meios
oculares, tanto mais por ser fácil acrescentar um filtro colorido
amarelo. É o auxílio visual que melhor se adapta às deficiências
visuais na criança.
Além disso, seu preço ao consumidor é relativamente baixo e
eles são pouco volumosos, pouco frágeis e relativamente
estéticos.
Apesar dessas vantagens, seu uso permanece limitado, pois quanto
mais a potência aumenta, mais se reduz a distância de leitura e
mais o campo de visão diminui em conseqüência das aberrações
produzidas. Os amblíopes adultos se adaptam mais dificilmente a
esses sistemas, na medida em que sua idade aumenta, por reduzirem
muito a distância de observação e por ser a latitude de ajuste
função da amplitude de acomodação restante.
Em contrapartida, a criança pode tirar proveito deles por causa
de sua importante amplitude de acomodação. Podem-se obter fortes
aumentos que vão de 2 a 15 vezes.
Existem diversos tipos de sistemas microscópicos.
- Os sistemas microscópicos "pleno campo"
constituídos de uma ou mais lentes asféricas, dão aumentos de 10
a 15 vezes.
- Os sistemas bifocais são utilizados para as actividades
escolares, pois permitem ver de longe e de perto. Permitem aumentos
de 1,5 a 8 vezes).
Em geral são sistemas monoculares.
Porém, quando o aumento necessário é fraco, inferior a 2
vezes, e idêntico para os dois olhos, é possível realizar
sistemas binoculares, quer de óculos meia-lua, quer de lentes
bifocais, incluindo-se um efeito prismático para abrandar o
esforço de convergência imposto aos dois olhos.
Os sistemas telescópicos: são pequenos binóculos adaptados a
uma armação de óculos, constituídas de:
- uma luneta de Galileu, parte fixa, montada na lente dos
óculos, servindo para a visão de longe, que por sua vez
compreende:
-
uma objetiva fortemente convergente, formada de lentes
convexas.
-
uma ocular fortemente divergente, formada de lentes côncavas.
- uma lente adicional que modifica a distância focal, que se
monta no sistema para a visão aproximada.
O interesse dessa combinação está em obter aumentos muito
fortes, permitindo ao sujeito uma distância maior de leitura (15
cm).
Os sistemas telescópicos são utilizáveis:
- quer na visão de longe, unicamente para curtas observações
estáticas (nome das ruas, leitura em lousa, televisão) mas não
para caminhar ou dirigir automóvel.
- quer na visão de perto, principalmente.
Os sistemas telescópicos são variados e é especialmente
possível diminuir a potência da objetiva para utilizar
simultaneamente a visão de longe e de perto. Somente a
experimentação prática é que permite ao opticista definir a que
convém melhor.
É possível realizar sistemas telescópicos binoculares, mas seu
aumento não pode ultrapassar 3 ou 4 vezes, pois a distância de
trabalho diminui quando o aumento é maior. Na verdade, devido ao
acometimento predominante de um dos dois olhos no amblíope, a
maioria dessas aparelhagens é realizada monocularmente.
Esses sistemas telescópicos têm inconvenientes, principalmente
sua apresentação inestética e seu alto custo.
Os sistemas telecontato são sistemas telescópicos especiais,
constituídos pela associação de uma lente de contacto fortemente
divergente que serve de ocular e de uma lente de luneta que serve de
objetiva. Esses sistemas podem ser preferidos por razões estéticas
ou práticas, ligadas à melhora do campo de visão. Assim podemos
obter aumentos de 2 vezes, muito úteis em casos de miopia forte.
- As telelupas: são sistemas ópticos compostos, de um lado, de
uma objetiva e de outro lado, de uma ocular convergente, segundo o
principio da luneta de Kepler, que os diferencia dos sistemas
telescópicos. Um sistema prismático endireita a imagem do objecto
observado.
Possibilitam aumentos mais importantes que os sistemas
telescópicos, ao mesmo tempo que proporcionam uma leitura a maior
distância.
Assim, para um aumento de 6 x, uma telelupa possibilita uma
leitura a 24 cm de distância (contra 7 cm para um sistema
telescópico e 4 cm para um sistema microscópico).
Existem telelupas binoculares de grande aumento. As telelupas
são utilizáveis em visão de longe como os binóculos, permitindo
aumentos de 4 a 8x.
Esse tipo de sistema é muito apreciado por certos amblíopes,
para ler, por exemplo, o nome de uma rua ou um painel de editais.
Dessa forma, um sujeito que possui acuidade visual restante de
1/10 pode, com uma telelupa de 8 x de aumento, obter uma melhora
útil de sua visão de longe.
Esses sistemas, que conferem aos amblíopes certa autonomia na
vida diária, têm inconvenientes como a contração do campo visual
sobretudo, muito molesta para o paciente. o preço elevado, seu
volume, seu peso, que obrigam a incorporá-los em armações
especiais.
Ampliar o campo visual
Os sistemas ópticos que tendem a minorar a perda do campo visual
(sistemas ambli-contacto, sistemas telescópicos grande angular,
sistemas catópticos, ou são totalmente ineficazes, ou difíceis de
adaptar, para um resultado muito incerto. Esses processos não podem
ser considerados um auxílio prático para as pessoas de visão
subnormal.
Que processos visam a compensar as deficiências da visão das
cores?
Os processos que visam a melhorar a anomalia da visão das cores
(ou discromatopsias) praticamente nunca são utilizados no cotidiano
e só dizem respeito a casos muito particulares.
- As lentes coloridas vermelhas, dispostas em armações
clássicas poderiam, em certos casos, melhorar a visão de
determinadas cores, como o vermelho.
- O reconhecimento das luzes do semáforo pode ser obtido pelos
discromatopatas, utilizando uma tela a "Rhodoid 279" que
transmite o vermelho e o verde em proporções muito diferentes.
- A lente de contacto "X chrom", proposta ao
discromatopata, e usada somente no olho não fixador, não parece
trazer vantagens suplementares em relação à simples lente
vermelha.
A quem são dirigidos os auxílios visuais ópticos?
As indicações dos auxílios visuais é da competência do
oftalmologista que deve insistir junto a seu paciente sobre a
necessidade de treinos sérios. O equipamento é organizado por
opticistas especializados que atuam em estreita colaboração com o
oftalmologista.
Os auxílios visuais ópticos são indicados somente para os
amblíopes.
Indicações de acordo com a profundidade da ambliopia
Os auxílios visuais ópticos são indicados para os sujeitos que
apresentam um acometimento apenas parcial da mácula, pequena zona
central privilegiada da retina que permite a visão central ou seja,
a visão dos detalhes, sobretudo a leitura de longe e de perto.
A destruição da mácula (por degeneração ou traumatismo)
acarreta uma perda importante do valor funcional do olho,
conservando o sujeito apenas um campo visual graças ao resto da
retina.
De fato, a visão dos detalhes e a leitura são possíveis devido
à mácula, área central da retina, com diâmetro pequeno, que
comporta apenas um tipo de células visuais, os cones (80% dos 6 a 7
milhões de cones da retina). A mácula corresponde ao ponto de
fixação do olho. A densidade dos cones, crescente em direção ao
centro da retina, determina duas zonas concêntricas: a fóvea,
comportando 25.000 cones e o feixe central, formado pela
justaposição de 25.000 cones. Assim, uma palavra de 3 sílabas,
extraída do nº 5 da escala de Parinaud, vista a 40 cm projeta-se
inteiramente na fóvea; a discriminação das letras dessa palavra
efetua-se graças à diferença de sensibilidade dos cones contidos
na fóvea e no feixe central.
O acometimento parcial da mácula acarreta uma deficiência da
visão central, caracterizada pela diminuição da discriminação e
do reconhecimento das formas. Neste caso, somente uma varredura
ocular pode permitir que o sujeito reconstitua de memória as
palavras, sílaba por sílaba.
Os auxílios visuais, ao aumentar a imagem retiniana, têm por
finalidade melhorar as possibilidades visuais restantes do amblíope
estimulando um número maior de cones maculares, a fim de compensar
a deficiência da visão central. Entretanto, o sujeito deve ter uma
acuidade visual de pelo menos 1/20.
Quando a destruição da mácula é total, a leitura não é mais
possível, mesmo aumentando-se consideravelmente a imagem retiniana.
Neste caso, se o sujeito ainda pode ver a forma das letras que
compõem as sílabas vizinhas - isso graças às células visuais
paramaculares - e se ainda pode contá-las, não pode ler a palavra
inteira. Então, os auxílios visuais não têm mais nenhuma
utilidade. Se a quantidade de cones maculares, ainda funcionais, for
insuficiente, o sujeito perderá a faculdade de ler em linha, mesmo
aumentando-se muito a imagem, enquanto consegue, paradoxalmente,
perceber pequenos elementos isolados.
Assim, os auxílios visuais ópticos só são indicados para os
sujeitos que apresentam perda parcial da mácula e que podem esperar
recuperar a faculdade de ler, graças ao aumento da imagem
retiniana. São destinados aos amblíopes binoculares.
Seleção dos auxílios visuais ópticos de acordo com
a
importância da ambliopia
(segundo Lissac Frères)
(VL - Visão de longe; VP - Visão de perto)
A. Ambliopias fracas de 3/10 a 1,5/10
VL |
- Correção total da ametropia |
VP |
- Leve adição esférica binocular |
|
- Sistemas microscópicos monoculares |
|
- Sistemas telescópicos binoculares |
B. Ambliopias médias de 1,5/10 a 1/20
VL |
- Sistemas telescópicos binoculares ou monoculares |
VP |
- Sistemas microscópicos monoculares |
|
- Sistemas telescópicos monoculares |
|
- Sistemas objetivos |
C. Ambliopias importantes de 1/20 a 1/50
VL |
- Sistemas telescópicos monoculares |
VP |
- Sistemas telescópicos monoculares - Sistemas objetivos |
A ambliopia binocular é uma deficiência visual de origem
orgânica. Sua conseqüência é a perda da visão central. É uma
enfermidade em nada comparável à cegueira: com freqüência o
paciente pode ir e vir sem demasiada dificuldade. Se ele pode
reconhecer uma pessoa pela silhueta, em compensação é incapaz de
distinguir seus traços precisos. Não pode ler, nem escrever, nem
dedicar-se a qualquer trabalho em precisão. Essa visão paradoxal
do amblíope pode desnortear seus circunstantes. Para compreender
tal fenômeno, é preciso considerar que o olho é composto de duas
partes, uma delas servindo unicamente para a visão espacial,
permitindo perceber as formas dos objectos, e a outra, correspondente
a retina central, que permite a visão dos detalhes e a leitura.
Indicações de acordo com a idade
A criança amblíope de determinada idade toma consciência do
interesse que certos auxílios visuais podem proporcionar-lhe,
principalmente se for chamada para passar de uma classe especial,
para classe comum onde não terá todo o auxílio e toda a
proteção que tinha na classe especial.
Excetuando-se os amblíopes recentes, os amblíopes adultos
recorrem pouco aos auxílios visuais, principalmente quando tinham
actividade intelectual.
Quanto aos sujeitos idosos, os auxílios visuais são mais
difíceis de adaptar-se a eles por causa do cansaço que podem
ocasionar.
Indicações de acordo com a origem da ambliopia
A percentagem de casos equipados de acordo com as causas da
ambliopia é mais alta para certas afecções, principalmente as
cataratas congênitas (operadas ou não), certos casos de miopia
forte, de albinismo, de retinopatia pigmentar, de retinopatia
diabética, de degeneração macular (degeneração macular inicial
de evolução lenta). Os malogros da aparelhagem são observados
principalmente em certos tipos de glaucoma e em certas atrofias
ópticas pronunciadas. Quanto mais profunda é a lesão, menores
são as probabilidades do aparelhamento.
Quais são as condições para aparelhamento de um amblíope
Somente os sujeitos que obedecerem às três condições
seguintes podem esperar obter benefício de um auxílio visual de
aumento:
-
Condição de acuidade visual: a acuidade visual deve ser
superior ou igual a 1/20.
A medida da acuidade visual para longe deve ser feita com
optótipos (letras) agrupados que permitem avaliar imediatamente as
dificuldades de leitura em linha.
Para os sujeitos cuja acuidade visual é inferior a 1/10, é
preciso aumentar a sensibilidade da medida por meio de um sistema
óptico de aumento, colocado nos óculos de prova diante da
correção da ametropia.
Em muitos casos, a correção da ametropia é suficiente para
recuperar urna acuidade visual satisfatória, sem recorrer às
aparelhagens especiais.
O conhecimento pelo adaptador das capacidades visuais restantes
do sujeito na visão de perto representa a ambliopia aparente, muito
útil, pois permite notar se o sujeito consegue ler em linha, mesmo
tratando-se de caracteres grandes, com a distância de leitura e o
nível de iluminação adaptados da melhor maneira. A disparidade
entre a ambliopia real e a ambliopia aparente pode ser grande.
-
Condição de fixação: Apenas os sujeitos que ainda possuem
fixação central ou paracentral podem obter melhora.
-
Condição de campo visual: o sujeito deve conservar um campo
visual periférico mais ou menos intacto. Para os doentes que
apresentam um campo de visão contraído em "cano de
espingarda", é impossível obter melhora visual com os
auxílios ópticos de aumento.
Como e por quem é efetuado o aparelhamento
O exame, efetuado por opticista especializado depois de exame
oftalmológico, compreende cinco fases:
-
Análise das possibilidades visuais restantes do sujeito para
visão de longe e de perto.
-
Análise subjetiva da correção da ametropia por meio de um
sistema telescópico, para visão de longe.
-
Determinação do aumento necessário para perto, de acordo com
a natureza da tarefa que o sujeito deverá realizar.
-
Provas binoculares.
-
Escolha do aparelho.
São necessários controles regulares, uma ou duas vezes por ano,
pois é freqüente haver necessidade de diminuir a potência do
sistema óptico.
Escolha da aparelhagem
A escolha é efetuada através de provas, em óptica, de cada um
dos três grandes tipos de aparelhagem (lupa, sistema microscópico,
sistema telescópico), e permite observar as dificuldades do
amblíope com relação à nitidez do campo de visão, à latitude
de ajuste, à distância de leitura e ao contraste. Será feita a
pesquisa da aparelhagem que melhor se adapte, levando-se em conta a
origem da ambliopia, a tarefa a cumprir, a idade do sujeito e suas
capacidades de adaptação.
Os sistemas telescópicos convêm melhor nos casos de
acometimento macular do adulto.
Os sistemas microscópicos convêm melhor à criança, e também,
qualquer que seja a idade, nos casos de distúrbio de transparência
dos meios oculares ou nas lesões das vias ópticas (neurites
ópticas ou atrofias ópticas parciais).
A escolha da aparelhagem varia segundo as épocas da vida:
Na criança:
- Entre 1 e 4 anos, é preciso corrigir o quanto possível a
ametropia da criança, e isto desde a idade entre 4 e 6 meses,
quando há afecção ocular constatada desde o nascimento ou
precocemente;
- No início da escolarização da criança com visão subnormal,
é preciso utilizar auxílios visuais simples, como a impressão em
caracteres grandes para a leitura, ou as pranchetas com ranhuras,
colocadas sob a folha de papel, servindo de guia para a escrita em
linha.
Para todos esses trabalhos, a criança deve estar munida de sua
correção, acrescentando-se um bifocal com adição de + 5 ou + 6
dioptrias, correspondentes a distâncias de leitura de 15 a 20 cm.
- Quando os mecanismos de leitura estão adquiridos, no curso
elementar, a criança pode ser aparelhada com sistemas ópticos, na
maioria das vezes microscópicos, cujo aumento deverá ser
modificado progressivamente para permitir a leitura em caracteres
comuns.
Durante esse período, a criança deve seguir um treinamento
intensivo na leitura para compensar sua lentidão ao ler, ligada às
dificuldades de percepção para constituir as palavras.
O aprendizado da datilografia é muito útil para a vida
profissional dos deficientes visuais.
A aparelhagem definitiva para longe e para perto é realizada
geralmente no último ano do primeiro ciclo, salvo em caso de
evolução da deficiência.
Geralmente é também nessa época que vai ser preciso orientar o
deficiente visual para uma escolaridade normal ou para um ensino
profissional especializado.
No adulto: em caso de ambliopia
adquirida, com muita freqüência, é necessária uma
reorientação. O uso dos auxílios visuais requer, no adulto, um
importante esforço para habituar-se, começando por caracteres
grandes (livros especiais) a fim de adaptar-se à nova distância de
leitura. O adulto deverá adquirir o reflexo de movimentar o texto
conservando a cabeça imóvel. O sistema será adaptado às
condições de trabalho.
Uma boa iluminação do plano de trabalho faz necessária uma
lâmpada especial de baixa tensão, que pode ser colocada bem perto
do texto.
Nos sujeitos idosos: os auxílios
técnicos são menos utilizados nos sujeitos idosos cujas
necessidades visuais específicas são freqüentemente limitadas.
Muitos conservam certa autonomia na vida diária, mas não podem
ler.
Os auxílios eletrônicos
Nos últimos anos, os progressos incessantes da electrónica, os
da informática depois e da telemática despertaram grandes
esperanças e reais possibilidades no setor dos auxílios técnicos.
-
Os auxílios visuais eletrônicos para amblíopes são
representados pelos diferentes dispositivos de televisão em
circuito fechado, que têm por finalidade ampliar a imagem
retiniana. Esses dispositivos facilitam muito a leitura para certos
amblíopes e são utilizados para a instrução coletiva nas classes
especializadas.
-
Os auxílios eletrônicos para hemeralopes ou sujeitos
acometidos de cegueira noturna são representados por uma luneta de
amplificação de brilho, mas cuja utilização permanece ainda
muito restrita.
-
Os auxílios eletrônicos facilitam, para os cegos, a leitura,
a escrita e o cálculo. As máquinas de ler representam uma das
grandes esperanças dos cegos, bem como os computadores pessoais
com vozes sintéticas e impressoras Braille.
Quais são os auxílios visuais eletrônicos para amblíopes?
Os auxílios visuais eletrônicos para amblíopes são
representados pela televisão em circuito fechado, que aumenta, no
vídeo, qualquer texto impresso.
Princípio: O sistema de televisão em circuito fechado (T.C.F.)
compreende uma câmara de televisão equipada com um zoom que
aumenta o documento a ser lido, disposto sobre uma plataforma. A
imagem aparece num vídeo, muito aumentada, quer em negro sobre
fundo branco, quer em branco sobre fundo negro.
Indicações: Somente os sujeitos que apresentam uma lesão
parcial da mácula e que assim têm uma acuidade visual compreendida
entre 1/40 e 1/10 podem esperar a recuperação da faculdade de ler
com o aumento da imagem retiniana.
A T.C.F., utilizada como auxílio individual permite a leitura
dos jornais, da correspondência.
Permite mostrar às pessoas de visão subnormal que elas podem
ler caracteres aumentados, o que facilita a motivação para os
auxílios ópticos.
Pode ser utilizada também para facilitar a instrução coletiva
dos amblíopes, a reeducação profissional das pessoas de visão
subnormal e a distribuição dos empregos.
Sujeitos acometidos de retinite pigmentar ou de degeneração
macular, cuja acuidade visual está situada entre 1/40 e 1/20 podem
ler assim várias horas por dia. A velocidade de leitura pode
alcançar 130 palavras por minuto, com um nível de cansaço menor
do que o provocado pela utilização de auxílios ópticos.
Os albinos já não podem usufruir tanto dessa técnica, pois sua
fotofobia pode ser incompatível com o brilho da tela.
Vantagens: os aparelhos de televisão permitem obter um aumento
superior em relação aos sistemas ópticos de aumento. O sujeito
pode ler a uma distância confortável, ao passo que, com um sistema
óptico, a redução da distância de leitura é muitas vezes mal
tolerada pelos amblíopes adultos.
A aberração das imagens são menores do que nos sistemas
ópticos.
A identificação do texto pode ser facilitada pelas
modificações de brilho e de contraste.
A inversão da imagem em branco sobre preto permite prolongar a
leitura, enquanto a imagem em preto sobre o branco se torna
inconfortável. Operações para as quais é necessária uma
coordenação precisa entre o olho e a mão, como a escrita com
caneta, são mais fáceis de ser executadas.
Inconvenientes: Os inconvenientes estão ligados
-
à utilização exclusiva da T.C.F. para perto. Os auxílios
ópticos permanecem indispensáveis quando o sujeito sai de sua
casa.
-
a limitação do campo de leitura que requer, como nos sistemas
ópticos de aumento, um deslocamento do texto.
-
ao volume, ao peso, à dificuldade de transporte e ao preço
dos aparelhos. Na opinião de alguns amblíopes, parece preferível
dispor de dois aparelhos do T.C.F., um em casa e outro no lugar de
trabalho, em vez de dispor de um aparelho transportável.
-
à aptidão técnica necessária para manipular a aparelhagem
(regulagem do brilho, do contraste, do diafragma, do ajuste, do
zoom, do ângulo de iluminação do texto) que certos sujeitos
idosos podem encontrar dificuldades em adquirir.
-
à dificuldade de aprendizagem da técnica por crianças cuja
deficiência visual é congênita ou contraída na primeira
infância.
-
à necessidade de uma aptidão particular para apreender o
conjunto de um texto, a partir de fragmentos de palavras. Os
sujeitos intelectuais são favorecidos.
Conclusões: a televisão em circuito fechado representa, em
certos casos, o único processo a permitir a leitura aos deficientes
visuais, especialmente os que não podem adaptar-se às lunetas
telescópicas. Ela se revela um auxílio eletrônico precioso para
os deficientes visuais cuja acuidade visual está próxima de 1/10.
Pode ser também um complemento dos auxílios ópticos, que
permanecem indispensáveis quando o sujeito sai de sua casa. Seu uso permanece limitado por causa de seu preço.
Quais são os auxílios eletrônicos para hemeralopes?
Os sujeitos acometidos de hemeralopia, ou cegueira noturna, são
particularmente deficientes por causa dessa enfermidade que muitas
vezes é agravada por uma contração do campo visual.
Essa alteração da sensibilidade luminosa é encontrada na
hemeralopia congênita, na retinopatia pigmentar (hereditária ou
adquirida), em certas formas de coroidose miópica e nos glaucomas
crônicos evoluídos.
A melhora da hemeralopia pode ser obtida através de um aparelho
monocular, o pocketscope, cujo emprego permanece muito limitado. Ele
consiste em amplificar a luminosidade residual dos objectos, isto é,
em colocar o olho de um sujeito acometido de cegueira noturna nas
condições de uma visão fotópica (isto é, em luz do dia).
Essa luz com amplificação de brilho permite a um sujeito normal
reconhecer uma silhueta humana a 275 metros (ao passo que só
poderia distingui-la a 40 metros sem o pocketscope).
Os hemeralopes congênitos encontrariam em ambiente noturno a
acuidade visual máxima que apresentavam nas condições fotópicas.
Uma luneta de mira binocular é uma perspectiva futura para a
locomoção noturna dos hemeralopes com os progressos da
miniaturização.
Quais são os auxílios eletrônicos para cegos?
Os auxílios eletrônicos têm a finalidade de facilitar, para os
cegos, tanto a locomoção quanto a comunicação e a leitura.
Auxílios eletrônicos para a locomoção
São representados pela bengala-laser e pelos guias
ultra-sônicos de deslocamento.
Bengala-laser
É utilizada nos Estados Unidos e na Suécia; seu princípio
consiste em transformar uma emissão laser, sobre um obstáculo,
numa vibração tátil ou num sinal sonoro percebido pelo cego.
As informações fornecidas por três feixes laser infravermelhos
são transformadas numa vibração que o dedo do cego percebe na
altura do arco da bengala. Conforme a freqüência das vibrações,
função da direção do feixe laser, o cego pode localizar um
obstáculo (transeuntes, degraus de escada) a uma distância de 3
metros. Sua utilização prolongada pode tornar-se penosa por causa
de seu peso.
Guias ultra-sônicos de deslocamento
O "Sonic Guide": é difundido nos Estados Unidos e no
Canadá (Telesensory Systems); seu princípio fundamenta-se na
emissão de ultra-sons por um aparelho situado no centro de uma
armação de óculos.
Os ultra-sons são refletidos pelos obstáculos situados diante
do cego e recebidos através de receptores situados nos óculos. Em
seguida, em razão de um circuito eletrônico incluído nas hastes
dos óculos, são transformados em sons percebidos por meio de
aparelhos ligados às hastes.
Assim, o cego pode deslocar-se, ao avaliar a altura do som, a
natureza do obstáculo de acordo com o timbre do ouvido direito,
quando o obstáculo está situado à direita.
O alcance deste aparelho vai até uma distância de 5 metros. Tem
o inconveniente de só perceber os obstáculos situados à altura
humana e ignorar os obstáculos baixos, como um buraco ou pedra de
calçada.
Os aparelhos táteis a ultra-som: Certos aparelhos recentes a
ultra-som, em fase de experiência e não comercializados na França
(aparelho austríaco AKG) são usados ao redor do pescoço com um
chipe na pele. Permitem conhecer a existência de um obstáculo
enquanto deixam as orelhas livres, o que é muito importante durante
os deslocamentos dos cegos. Portanto parecem ser mais interessantes
que o "Sonic Guide".
De fato, apesar da complexidade desses materiais, restam enormes
problemas para ser resolvidos, antes que esses auxílios possam
substituir com grande vantagem a bengala branca, principalmente a
dificuldade em detectar com suficiente antecedência os desníveis
do solo e os buracos.
Auxílios eletrônicos para a comunicação e para a leitura
São representados principalmente pelos "Dispositivos de
braille sem papel", pelos microcomputadores pessoais e pelas
"máquinas de ler".
A readaptação da criança com visão subnormal
O que pode ser feito para a criança deficiente visual?
O desenvolvimento dos restos visuais nas crianças visualmente
deficientes é fundamental. A eficácia visual depende de uma boa
orientação dos pais e de uma aprendizagem visual adaptada.
A orientação dos pais
Os pais de uma criança deficiente visual devem ser dirigidos
para um centro de orientação de pais, voltado para as crianças,
desde o nascimento até os 6 anos e às suas famílias. Esses
centros trabalham:
-
Com a família, a fim de trazer-lhe um apoio e conselhos
indispensáveis para uma melhor aceitação da deficiência do
filho e para uma melhor compreensão de suas possibilidades. Os
centros dão um apoio psicológico aos pais. Os primeiros
contatos permitem-lhes exprimir seus temores, seus desejos, e
encarar as possibilidades reais do filho. Os pais se encontram
estreitamente ligados à readaptação. É por isso que
participam das diversas actividades da equipe de orientação.
-
Com a criança, na forma de exercícios de estímulo e de
controles regulares. A equipe educadora garante um encargo da
criança deficiente. O campo de investigação da criança deve
ser ampliado progressivamente. É preciso permitir que ela
utilize os meios de informação que os outros sentidos
constituem para que descubra o que a rodeia, motivando a
abordagem através do brinquedo e pelo aproveitamento dos
momentos importantes: refeições, cuidados corporais. A
finalidade é abrir a criança para o mundo exterior e ajudar em
sua plena integração na família. Para assumir esse encargo,
leva-se em conta a disponibilidade dos pais, a distância
geográfica e as necessidades e possibilidades da criança. É
preciso que a criança pequenina possa brincar com outras
crianças em grupos de estímulo. Essa actividade deve
possibilitar sua transição da família para as diferentes
comunidades nas quais ela terá de integrar-se.
-
Com todas as estruturas educativas que possam integrar a
criança pequena (berçários, creches, abrigos de menores,
escolas maternais, jardins de infância) o mais perto possível
de sua residência.
-
Com os médicos da família (generalistas, oftalmologistas...)
e os serviços hospitalares.
-
Com as associações de pais de crianças deficientes visuais
para permitir, aos que manifestam esse desejo, ter contatos com
outras famílias com as mesmas dificuldades.
A aprendizagem visual
O princípio do desenvolvimento da eficácia visual, fundamentado
nos trabalhos de Piaget e de Vurpillot, é simples. É preciso
tentar dar um sentido prático à visão para que ela seja
utilizável nas actividades cotidianas, desenvolvendo a coordenação
do olho e da mão. Isso está em consonância com as teorias
defendidas pelo Dr. Alfred Bangarter e aplicadas em seu centro de
educação visual na Escola Pleóptica de Saint-Gall (Suíça). Cabe
a certas reeducadoras especializadas (Por reeducação especializada
compreendemos uma reeducação que não tem finalidade terapêutica,
mas que, diante de uma enfermidade adquirida, tem por finalidade
ensinar a utilizar ao máximo a capacidade visual restante. De fato,
a barreira entre uma reeducação terapêutica e esta reeducação
especializada é menos clara do que nossa definição possa supor.)
em continuidade aos trabalhos da Sra. Clénet, ortoptista em Nantes,
o papel de procurar desenvolver nas crianças deficientes visuais:
1) O HÁBITO DE OBSERVAR OS DETALHES NA VISÃO DE
PERTO (detalhes suficientemente grandes para ser percebidos por uma
retina periférica) MAS TAMBÉM, O QUANTO POSSÍVEL, NA VISÃO DE
LONGE. Na visão de perto, o material pedagógico utilizado é
variado. Na visão de longe, é possível utilizar diapositivos com
jogos de emparelhamento, de loto, de dominó, de imitação de
gestos.
2) A COORDENAÇÃO DO OLHO E DA MÃO. A perda da visão central
acarreta ainda distúrbios de localização. É preciso ensinar
essas crianças a reajustar seus movimentos através de exercícios:
a criança deve emparelhar os E colocados em diferentes posições
num tempo estabelecido:
-
de perto: exercícios de perfuração de lâminas e de
decalques são então utilizados,
-
de longe: exercícios de mira, de localização de objectos com
lanterna ou bastão são muito úteis.
3) A ORIENTAÇÃO E A LOCALIZAÇÃO NO
ESPAÇO.
Em decorrência de sua má visão a criança tem dificuldades para
apreender o espaço, situar-se e orientar-se, donde o interesse de
exercícios:
-
de perto: reconstituição de desenhos em papel quadriculado
de maquetes, puzzles, exercícios de desenvolvimento da
percepção visual.
-
de longe: reprodução de desenhos projetados, elaboração de
percursos.
4) A MEMÓRIA VISUAL
5) O ACOMPANHAMENTO DO OLHAR. "A actividade motora com mais
distúrbios é, com muita freqüência, a do olhar". Muitas
dessas crianças não sabem explorar com os olhos ou utilizam mal
sua visão restante. Os exercícios são variados: acompanhar
objectos móveis (bolas, bolinhas, carrinhos mecânicos ou com
controle remoto), pegar objectos suspensos em corda. Esses
exercícios fazem parte da reeducação em psicomotricidade. O
trabalho é efetuado em grupo ou em sessões individuais,
multiplicando-se os jogos. Certos auxílios ópticos ou técnicos
podem ser particularmente úteis. A aprendizagem da percepção
visual tem por finalidade modificar, não a acuidade visual, mas sim
o comportamento da criança deficiente visual.
Infelizmente, esse tipo de reeducação só pode ser realizado em
institutos especializados que existem em número bem pequeno.
Estamos distantes da ortóptica tradicional, quanto a isso.
Qual é a orientação escolar, na França, para a criança com
visão subnormal?
Diante de uma criança acometida de um déficit visual bilateral
surge a questão da escolarização. Deve-se deixá-la em classe
comum ou conduzi-la a uma escola especializada?
Antes de mais nada, é preciso efetuar um exame ocular e levar em
conta sua inteligência e seu meio social.
Critérios visuais
É preciso estudar:
-
a acuidade visual de longe e principalmente de perto.
-
a extensão do campo visual (um amblíope pode ter uma acuidade
visual mais ou menos correcta de perto e um campo visual perturbado
que não lhe permite utilizar essa acuidade visual).
Em todo deficiente visual é a qualidade da leitura que vai
determinar em grande parte a orientação escolar e profissional. É
ela que vai poder ser melhorada por meio dos sistemas ópticos de
aumento, da impressão em caracteres grandes e da escolha mais
eficiente dos caracteres, dos contrastes e da paginação. Para
apreciar bem seu valor, é preciso observar o que o sujeito pode ler
correntemente e também aquilo que ele não consegue decifrar.
Dessas constatações pode depender a escolha de um tipo de
classe ou de escolarização.
De acordo com as normas de acuidade visual definidas para a
admissão em classes e estabelecimentos escolares especializados, é
preciso distinguir três grupos de deficientes visuais:
-
O grupo dos amblíopes simples é constituído pelas crianças
cuja acuidade visual para longe está compreendida entre 1 e 4
para o olho melhor com correção. Para perto, a acuidade visual
é normal (Parinaud 3 ou Parinaud 2). Essas crianças devem
tentar seguir uma escolaridade normal, ao menos para os cursos
preparatório e elementar 1. Isso na França. A inteligência da
criança e a colaboração trazida por seu meio familiar
intervêm tanto quanto a cifra da acuidade visual.
-
O grupo dos amblíopes profundos é constituído pelas
crianças cuja acuidade visual para longe está situada entre
1/10 e 1/20 aproximadamente. Aí ainda a acuidade visual para
perto permite distinguir dois subgrupos:
- os que atingem Parinaud 3 ou Parinaud 2,
- os que têm menos de Parinaud 6. Para estes é indispensável a
orientação para a escola especializada. A aprendizagem do Braille
será discutida, sendo freqüente a dificuldade em decidir o momento
oportuno para isso. A decisão deverá ser tomada pela equipe
médica e pela equipe docente e de acordo com os pais. A atitude
desfavorável destes poderá retardar em alguns meses as decisões
da comissão. Por vezes intervirá a noção de uma provável
evolução para o enfraquecimento da acuidade visual, as técnicas
Braille constituem-se então numa útil medida de precaução.
Também intervirá o nível intelectual da criança: o ensino do
Braille se impõe na medida em que as aptidões intelectuais são
mais elevadas.
-
O 3° grupo é constituído pelas crianças cuja acuidade
visual para longe é inferior a 1/20 e para perto, inferior a
Parinaud 28. Ele está vinculado ao grupo dos cegos.
Critérios psicológicos e familiares
A orientação deve levar em conta o psiquismo da criança e seu
nível mental.
A colaboração da família também deve ser levada em
consideração. A escola de amblíopes não deve ser um meio de se
livrar da criança rejeitada por pais que apresentam um sentimento
de culpabilidade. Essa atitude dos pais pode provocar na criança
graves distúrbios (inquietude, ansiedade), assim como uma atitude
de superproteção que não raro entrava seu desenvolvimento,
acarretando passividade e recusa de qualquer esforço. A admissão
em classe ou estabelecimento especializado permitirá a essas
crianças encontrar não só uma estrutura escolar acolhedora, mas
também uma ajuda para adaptar-se à sua deficiência, ajuda essa
trazida por seus educadores.
Que estabelecimentos escolares lhe são oferecidos?
Na França, certo número de classes e de estabelecimentos
especializados recebem jovens deficientes visuais.
Seu objectivo é colocar à disposição dos alunos as condições
materiais de trabalho, os instrumentos e as técnicas pedagógicas
que são necessárias ao bom desenvolvimento de seus estudos. Cada
elemento desse dispositivo deve ser, o quanto possível, pouco
segregativo. Deve permitir às crianças o maior número de
actividades em comum com os não deficientes, e acima de tudo, deve
ter como perspectiva sua reintegração no meio escolar normal.
Em numerosos casos, a contribuição específica necessária às
pessoas de visão subnormal é constituída essencialmente por uma
adaptação do meio (locais, mobiliário, iluminação muito forte
com lâmpadas adicionais individuais), o recurso a sistemas ópticos
de aumento (lupas, lunetas telescópicas, sistemas de aumento para
televisão), o emprego de métodos pedagógicos adaptados e das
reeducações que podem ser úteis (correção do gesto, da postura,
educação perceptiva sistemática, diferentes técnicas
paliativas).
O problema da integração
Tratamos aqui da orientação da criança de escola primária.
A integração pensada, preparada e vigiada pode ser dedicada
somente a certos tipos de crianças amblíopes que correspondem a
determinados critérios:
-
No plano de visão, a criança deve ter uma acuidade visual de
perto que lhe permita uma rapidez de leitura subnormal. Ela faz
parte quer dos amblíopes simples quer dos amblíopes profundos, mas
que lêem Parinaud 2 ou Parinaud 3. Um conforto visual relativo é
desejável, caso contrário o cansaço diminuirá claramente os
desempenhos escolares.
-
No plano pessoal, a criança deve ser autônoma e sociável.
-
No plano familiar, uma participação da família, escolar e
afectiva ao mesmo tempo, e indispensável para a integração.
Quando essas três condições são preenchidas, é possível
encarar a integração da criança com visão subnormal numa
escolaridade normal. Então é preciso que os professores sejam
sensíveis à sua deficiência, colocando-a na primeira fileira da
classe, escrevendo na lousa com letras grandes, falando mais devagar
e permitindo que ela leia com uma lupa. Entretanto a cooperação do
professor, embora importante, de nada valerá se a família não
ajudar a criança. Existem na França livros impressos em caracteres
grandes na coleção "Largevision".
A readaptação da criança cega
Trata-se de crianças que não enxergam ou que têm somente um
resto de visão e cuja acuidade visual no melhor olho é inferior a
1/20 e inferior a Parinaud 6 ou 8. Com freqüência restam-lhe
pequenas áreas de campo visual e sensações de cores muito úteis.
Essas crianças serão conduzidas a escolas especiais a fim de
aprender o Braille.
Que fazer perante uma criança cega?
A criança que nasceu cega está ameaçada por um grave
retardamento psicomotor. Ela deve ser favorecida desde o primeiro
ano de vida com cuidados educativos especiais. Será muito útil aos
pais recorrer a um Centro de Orientação de Pais, que os
esclarecerá sobre os perigos que ameaçam o desenvolvimento da
criança e sobre a melhor forma de remediá-lo.
Muito cedo eles devem preocupar-se em ajudar a criança a travar
conhecimento com seu ambiente suprindo a falta das sensações
visuais pelas sensações táteis e auditivas, olfativas e
gustativas (ver também o problema dos sistemas vestibular,
cinestésico, térmico).
- Incentivar o andar (muitas vezes retardado em quem tem visão
subnormal), dar à criança os mesmos brinquedos do vidente e
desenvolver a linguagem;
- Utilizar ao máximo o tacto e a audição.
A aprendizagem manual é uma etapa importante.
É preciso desenvolver a audição da criança por meio de
discos, fitas e gravador.
Ademais, mostra-se de fundamental importância não separar a
criança cega ou amblíope das videntes. É uma grande vantagem para
ela ter irmãos e irmãs videntes de idade próxima. Quando se trata
de filho único, é preciso favorecer ao máximo os contatos com
crianças videntes.
Qual é a orientação escolar para esta criança?
No ensino primário
Existem escolas ou classes especiais. Assim, na França, em 1982,
cerca de trinta estabelecimentos particulares ou públicos e perto
de dez classes especiais podiam receber cegos.
Desde a escola maternal, a criança cega deve receber uma
educação psicomotora que lhe possibilitará a descoberta de seu
esquema corporal, a descoberta de seu espaço e a aprendizagem dos
gestos próprios da vida comum. A educação deve possibilitar o
conhecimento do ambiente. Deve recorrer ao tacto e à inteligência
da criança e permitir-lhe a aquisição de atitudes gestuais e
comportamentais. Essa educação dá à criança uma boa relação
com o mundo que a cerca. Assim, o prazer que ela sente por ocasião
de um acto bem sucedido é um factor cuja eficácia não pode ser
desprezada. A educação psicomotora, através de uma iniciação
progressiva proporciona boas condições de aprender o Braille.
As modalidades do ensino do Braille na França foram
especificadas em 1973. Este ensino exige uma colaboração estreita
entre o professor de Braille e o professor primário. É um ensino
progressivo. A iniciação à leitura é feita em um trimestre
aproximadamente; depois será o estágio da leitura corrente e de
seu aperfeiçoamento. O ensino da escrita virá em seguida: escrita
a mão e - isto é aconselhado - o emprego da máquina de escrever o
Braille. Por fim, o ensino da matemática. Um apoio familiar sempre
é benéfico. Os pais que o desejarem poderão familiarizar-se com o
Braille com a ajuda do professor deste método.
Qual é a orientação profissional para a criança cega?
A lista dos ofícios aos quais o cego pode ter acesso na França
é relativamente variada. Os ofícios tradicionais como os de
cesteiro e cadeireiro estão abandonados atualmente devido à falta
de comercialização. Em compensação, a música é uma
possibilidade para certas crianças, que podem tornar-se afinadores
de piano, organistas ou músicos. A terapia cinestésica é um bom
ofício para cego. O acesso a certos ofícios de escritório:
estenodatilógrafo, operador de central telefônica e, num nível
mais elevado, certas carreiras da informática ou a preparação aos
concursos da Administração são totalmente possíveis atualmente.
É preciso lembrar, a esse respeito, a existência do decreto de 7
de dezembro de 1975 que destina determinado número de empregos aos
deficientes, tanto no setor público como no privado. A mecânica
(torneamento, fresagem, eletromecânica) é acessível aos cegos.
Estes podem tornar-se manipuladores nos serviços hospitalares de
radiologia (desempacotamento dos filmes). As jovens cegas têm a
possibilidade de ser recepcionistas ou horticultoras. Podem seguir
os cursos de ensino de prendas-domésticas. Enfim, o ensino na
França é perfeitamente acessível aos cegos para quem textos
recentes propiciaram acesso as Escolas Normais de Saint-Cloud e de
Fontenay, para o ensino de filosofia, letras, línguas vivas, e
técnicas econômicas, ciências sociais.
Julgamento de conjunto sobre ensino especializado
As escolas de amblíopes e as escolas de cegos são
indispensáveis. Entretanto é preciso ter presente no espírito o
considerável risco de segregação que encerram, daí o interesse
das classes especiais nos estabelecimentos comuns. Isso também
explica a tendência atual que é fazer com que as crianças saiam o
mais cedo possível dessas escolas e freqüentem classes normais,
com os videntes. Parece que o período mais favorável e o final do
primeiro grau. É nessa fase que as crianças deverão aprender um
ofício ou entrar no segundo grau e preparar-se para vestibular,
porém de preferência num estabelecimento comum.
Readaptação do jovem e do adulto recém-cegos
Aceitar a deficiência
A aceitação da deficiência é o principal problema, pois nada
é possível sem a aceitação e o esforço do interessado. Ainda
hoje muitos cegos recentes persistem em procurar uma cura
impossível e se recusam a empreender qualquer trabalho de
readaptação. Não raro essa situação psicológica é favorecida
por um baixo nível intelectual e cultural.
O papel do oftalmologista, e principalmente do círculo familiar
é essencial para conduzir o recém-cego no caminho certo. É
preciso dizer-lhe a verdade sobre seu futuro e esclarecê-lo na
escolha das possibilidades que lhe são oferecidas.
Duas etapas para a readaptação
O recém-cego irá defrontar-se com o problema de sua
reintegração na vida cotidiana e na vida profissional.
Reintegração na vida cotidiana
O cego precisa aprender a ser auto-suficiente: a locomover-se
sozinho, telefonar, etc. Atualmente existem na França centros de
readaptação muito eficientes que permitem alcançar esse resultado
em 2 ou 3 meses na grande maioria dos casos.
Reintegração profissional
Sempre que for possível o cego deve retornar a seu trabalho
anterior com o auxílio de aparelhagens ópticas. Caso não haja
essa possibilidade, deverá seguir cursos de formação em outro
ramo, após avaliação de suas aptidões profissionais.
Após estágio num centro especializado de readaptação para
recém-cegos, diversas orientações podem ser propostas:
-
reintegração imediata num ambiente normal de trabalho:
retomada do antigo emprego ou mudança de emprego;
-
complementação de formação profissional (aperfeiçoamento
da datilografia, por exemplo);
-
reeducação profissional em centro especializado
(secretariado, operador de central telefônica);
-
admissão em ambiente protegido (oficina protegida, centro de
auxílio pelo trabalho) quando a reintegração num ambiente de
trabalho normal não é possível devido à existência de uma
deficiência importante associada à cegueira;
-
entrada em casa de retiro para cegos ou não, isso para pessoas
idosas.
Por vezes há uma recusa em retomar uma actividade profissional,
preferindo certos sujeitos viver de uma pensão em vez de
arriscar-se a perder seu benefício ao retomar uma actividade
profissional remunerada.
Quando a cegueira sobrevém na idade adulta num sujeito
anteriormente vidente, as dificuldades de adaptação à vida são
particularmente importantes. A cegueira acarreta a imobilidade, o
medo de chocar-se com obstáculos e um medo puramente nervoso em
presença do desconhecido, do vazio, do espaço.
A incapacidade para ler ou escrever toca profundamente a
personalidade, prejudica as relações sociais e atinge a liberdade
dos contatos com outras pessoas.
A cegueira dificulta também a comunicação oral
(impossibilidade de perceber um sorriso, um piscar de olhos, uma
expressão do rosto). Tudo isso contribui para o isolamento do cego
em relação ao grupo social no qual ele estava inserido. O problema
psicológico mais importante, excluindo-se os problemas criados pela
cegueira no plano material (actividades cotidianas, deslocamentos,
lazeres), é o do relacionamento com os semelhantes. Ser privado da
percepção visual da beleza e do prazer da visão é uma grave
perda. É o sofrimento de não mais contemplar um rosto amado, por
exemplo. A cegueira também acarreta a perda do sentido da
perspectiva. Disso resulta para o cego um "silêncio
visual", que se traduz por uma sensação de monotonia e de
tédio. O totalmente cego não percebe nem mesmo a alternância da
luz do dia e da escuridão da noite. A luz é um elemento de
segurança do qual o cego se encontra privado. A cegueira acarreta,
enfim, uma perda de contacto com a realidade. O tacto pode informar
somente em relação ao meio ambiente imediato e os sons não são
suficientes para relatar a realidade, donde a impressão de profunda
angústia e de intenso isolamento.
A tudo isso, muitas vezes vem juntar-se a perda da actividade
profissional, causa de importante diminuição dos proventos. Daí
podem resultar dois tipos de comportamento:
- ou uma atitude de total dependência em relação ao próximo,
com o cego perdendo progressivamente o senso de suas
responsabilidades;
- ou uma atitude de fechamento em si mesmo e de isolamento,
limitando o cego suas necessidades, e portanto, o auxílio dos
outros.
A reeducação se fundamenta na convicção de que a pessoa cega
pode voltar a encontrar uma vida normal e a alegria de viver,
apoiando-se não na piedade ou no auxílio dos outros, mas numa
plena realização de si mesma.
Alguns versos da Sra. Galeson de Calonne ("Entre
Aveugles"), também cega, expressam bem todos os recursos dos
cegos:
NÃO IMPORTA!
Não mais vejo o esplendor das rosas
Mas o céu deu um fado a cada um
Que importa o brilho!? Tenho a essência das coisas
Não mais vejo o esplendor das rosas
Mas posso sentir seu perfume.
Não vejo mais teu meigo olhar
Quando sinto que em mim o pousas
Que importa! Seria blasfêmia lastimar
Teu olhar amante não mais vejo
Porém possuo o teu beijo.
...
É preciso ajudar o cego a analisar objetivamente a carga que a
cegueira constitui e a aceitá-la. Importa também dar-lhe a
possibilidade de dominá-la, desenvolvendo os outros meios
sensoriais de percepção. Ao mesmo tempo, é preciso intervir junto
à família e conduzi-la também a uma atitude objetiva e positiva
perante a cegueira.
Contudo, para que uma reeducação seja empreendida com um
mínimo de probabilidades de sucesso, é preciso que certas
exigências sejam satisfeitas.
-
A primeira de todas é o desejo de participação efetiva do
cego em sua readaptação. É somente com essa condição que
ele pode estar apto para produzir os esforços necessários e
utilizar validamente o auxílio dispensado por reeducadores
especializados. Dificilmente pode existir essa motivação
pessoal quando toda a sua atenção permanece concentrada na
esperança de recuperar a visão num futuro próximo.
Portanto, é patentemente nefasto alimentar tal esperança,
quando o carácter irreversível das lesões está estabelecido.
Quando a pessoa não se considera cega, uma tentativa de
readaptação só pode traumatizá-la e terminar em fracasso.
É preciso conduzir o cego a uma tomada de consciência de seu
estado atual. Proporcionalmente aos resultados obtidos através da
reeducação, o cego aceitará mais naturalmente a ideia do
carácter definitivo de sua cegueira.
-
Em segundo lugar, intervém o estado físico do cego. Como a
reeducação exige um esforço importante e regular, é de se
desejar que o período de convalescença tenha terminado. Do
mesmo modo, é necessário um mínimo de possibilidades
intelectuais. A idade também constitui um factor importante. O
sujeito jovem tem maior facilidade de adaptação.
Para ser eficaz, a reeducação deve ser global e estar
relacionada aos múltiplos aspectos da deficiência. É por isso
que o internato parece ser um elemento muito favorável que
permite ao cego encontrar-se consigo mesmo. Em geral o estágio de
reeducação dura três meses. Os estágios são mistos mas
compreendem somente um pequeno número de participantes.
- O primeiro aspecto da reeducação é o desenvolvimento das
outras funções sensoriais (audição, tacto, olfacto) e a
utilização da memória visual, do sentido da orientação, do
sentido e da memória cinestésica. O ensino da locomoção
(utilização da bengala longa, identificação e localização
dos ruídos) permite encontrar a independência nos deslocamentos.
- A restauração da escrita a mão, possível através de uma
plaqueta que serve de guia, e o ensino da datilografia permitem
restabelecer uma comunicação escrita directa com outras pessoas.
- É também a finalidade da ergoterapia e dos exercícios
variados (tecelagem, confecção de redes, cerâmica).
Acrescentam-se a isto, exercícios em máquinas de madeira ou
metais que exigem grande autodomínio.
- O ensino do sistema de leitura e escrita Braille permite não
só restabelecer um meio de comunicação escrita, directamente
acessível à pessoa cega, mas também desenvolver o sentido
tátil.
- Enfim, o cego aprende a dominar as múltiplas dificuldades da
vida cotidiana (cozinha, arrumação da casa, lavagem e alisamento
de roupa, costura, independência à mesa, cuidados de urgência,
telefone, identificação do dinheiro) e a ocupar seu lugar no
lar. Isso o obriga a desenvolver a memória e os outros sentidos.
- O lazer e os esportes não devem ser esquecidos,
principalmente a ginástica, a natação, a caminhada pelos
bosques.
- A intervenção do psicólogo é indispensável, quer em
entrevista individual, quer em psicoterapia de grupo. Também as
entrevistas da família com o psicólogo e a assistente social
especializada são indispensáveis, a fim de que cada um possa
expor suas dificuldades.
A reintegração na vida sócio-profissional constitui o
objectivo final da reeducação. A orientação profissional não
pode ser imposta ao cego. Deve, sim, corresponder a uma motivação
para um trabalho bem adaptado. Deve, se possível, utilizar os
conhecimentos e a experiência anterior adquirida. É preciso evitar
a orientação imediata para um "ofício de cego".
Muitas vezes é necessária uma reorientação total, e uma
formação profissional para ofícios classicamente abertos aos
cegos é uma das modalidades freqüentemente adotadas. Conforme a
idade e o nível intelectual, ela dá acesso a diversos ofícios:
operário em máquina ferramenta, trabalhador rural,
estenodatilógrafo, operador de central telefônica, fisioterapeuta.
Readaptação dos sujeitos idosos recém-cegos
A partir dos 60 anos, o auxílio que poderemos levar ao cego
será ensinar-lhe a ser auto-suficiente na vida cotidiana para não
sobrecarregar sua família. Ele será favorecido, na França, com
auxílios sociais e financeiros, como a carteira de cegueira com
estrela verde, que lhe concede o auxílio de uma terceira pessoa. A
entrada em casa de retiro pode ser uma solução.
Em geral, a aprendizagem do Braille é difícil. Entretanto,
existem serviços de locação de fitas magnéticas de gravações
de livros ou de jornais recentes que são de grande valia para os
cegos.
CONCLUSÃO
O histórico nos mostrou como a ideia de assistência aos
deficientes deu lugar, recentemente, à integração dos deficientes
na sociedade.
Portanto, importa, em primeiro lugar, não criar deficiências
artificiais. Estrábicos, amblíopes unilaterais e até monoftalmos
estão longe de ser
grandes deficientes. Apresentam um déficit visual superável,
contanto que não lhes sejam impostas demasiado importantes
restrições de trabalho. Ora, se admitimos que os empregos de
segurança possam ser interditos aos amblíopes unilaterais,
admitimos bem menos que a legislação francesa feche praticamente o
acesso ao serviço
público a essas pessoas. Certamente essa restrição pode ser
contornada pelo expediente dos empregos reservados, mas estes só
existem em número limitado e não são destinados aos deficientes
visuais. Impõe-se então uma revisão da legislação. A supressão
dessas restrições suprimiria o principal "peso" dos
estrábicos, amblíopes laterais e monoftalmos.
Dito isto, o problema permanece imenso. As deficiências oculares
em sua diversidade em suas múltiplas formas exigem um duplo
trabalho médico e social.
Na criança e no jovem, o trabalho se fundamentará:
- na prevenção, enfatizando a importância do aconselhamento
genético, do tratamento das moléstias infantis, e do
desenvolvimento da higiene nos países castigados pela oncocercose e
pelo tracoma. A prevenção não é tarefa apenas dos
oftalmologistas e dos médicos, ela está ligada ao conjunto da
organização social;
- a detecção precoce, primordial, organizada desde a creche,
com prosseguimento na escola maternal, deve ser efetuada por um
pessoal bem mais especializado: médicos pediatras, oftalmologistas
e ortoptistas;
- o tratamento precoce é a conseqüência da detecção precoce.
Ele evitará o aparecimento de numerosas deficiências.
Especialmente importante na catarata congénita, no estrabismo e na
ambliopia funcional, é tarefa exclusivamente do especialista. Mas o
doente deve chegar a tempo até ele.
Quando a prevenção, a detecção e a terapêutica precoces não
tiverem podido impedir o aparecimento de um déficit visual
importante, deficiente pode e deve encontrar seu lugar na sociedade.
Os pais terão um papel capital durante os primeiros anos: é a
orientação dos pais, acompanhada da educação dos restos visuais
que irá permitir a melhor utilização possível da capacidade
visual restante. Depois, é importante que sigam estudos normais em
classes comuns todas as crianças cuja capacidade visual permite
seguir esses estudos, qualquer que seja o estado do campo visual, da
visão central, da visão das cores, e dos outros elementos
constituintes da capacidade visual. Somente o malogro escolar
acarretará a orientação para escola especializada. Nenhuma
constatação médica pode impô-la por si só.
Quando a colocação nesse tipo de escola não pode ser evitada,
devem ser feitos todos os esforços para que as crianças se
reintegrem no circuito normal ou nas classes especializadas que
permitem estudos completos por meio de técnicas adaptadas.
O papel do corpo docente é então essencial. A formação dos
professores especializados é capital. Somente os realmente cegos
deverão ser dirigidos a escolas especializadas. Depois da
aprendizagem do Braille, a educação especializada e a formação
profissional caminham ao lado do melhor desenvolvimento escolar
possível.
No adulto, a prevenção e a detecção precoce também estão
intimamente ligadas. Sublinharemos sua importância nas três
moléstias que são as causas mais importantes de cegueira na Europa
Ocidental e na América do Norte: o glaucoma, no qual somente um
tratamento precoce permite a conservação da visão, o descolamento
da retina, para o qual é indicado o tratamento a laser das lesões
de risco, o diabetes, onde o melhor equilíbrio retarda ou impede o
aparecimento da retinopatia.
Constituído o déficit, a própria readaptação é mais
difícil e menos bem organizada no adulto do que no sujeito jovem. A
aprendizagem de uma nova vida é bem mais delicada e as dificuldades
psicológicas muitas vezes são mais graves.
Salientaremos o interesse das aparelhagens especiais, desde as
mais simples lupas até os mais sofisticados sistemas eletrônicos,
por certo suscetíveis de desenvolvimentos inesperados.
Mas, quer para o adulto, quer para a criança, um grande
princípio que diz respeito a todos os deficientes deve ser
respeitado com maior atenção: não transformar o deficiente em
protegido. Abster-se ao mesmo tempo do abandono e da
superproteção. Essa atitude psicológica, não raro difícil de
ser mantida, revela-se um ponto essencial. Muito já foi feito,
muito ainda está para se fazer. Conservemos presente no espírito a
célebre fórmula: "É preciso prosseguir no caminho, sabendo
que não chegaremos até o fim".
ϟ
Transcrição adaptada de parte da
obra:
"As Deficiências Visuais na Criança - deficiências e readaptação"
Autores:
>>
S. Hugonnier-Clayette - Oftalmologista Responsável pelo curso na
U.E.R. Técnicas de Readaptação, Lyon. Fundadora da Escola de
Ortóptica de Lyon.
>>
M. Bourron-Madignier - Oftalmologista Responsável pelo curso na
U.E.R. Técnicas de Readaptação, Lyon. Responsável pela Escola de
Ortóptica de Lyon.
>>
P. Magnard - Oftalmologista Ex-chefe de Clínica na Faculdade.
Assistente dos Hospitais de Lyon. Responsável pelo curso na U.E.R.
Técnicas de Readaptação, Lyon.
>>
A. Hullo - Oftalmologista Assistente dos Hospitais de Lyon.
Delegado Regional da Organização de Prevenção da Cegueira.
Editora Manole Ltda - 1989 - Rua Conselheiro Ramalho, 516 - Bela Vista
CEP 01325 - São Paulo - SP (Brasil) - Caixa Postal 1489 - Impresso no Brasil
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publicado
por
MJA
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