
-excerto-

O ser humano é diferente dos outros seres pela consciência individual de que
dispõe,
esta dá-lhe a facilidade de tomar decisões e de compreender essas mesmas
decisões.
As razões das escolhas que faz são frequentemente primárias, fundamentadas na
necessidade de alimentação, de abrigo, de calor, etc, diz Berninger (2004). A
percepção do que é necessário fá-lo desejar as coisas muito antes de estas serem
procuradas. Frequentemente a primeira atracção por um objecto vem da sua
capacidade de proporcionar algo. Porque é necessário para uma função, há o
desejo de
o conseguir.
Berninger (2004) faz referência à beleza de um objecto como um atributo
universal,
mas definido individualmente. Muitos objectos são apreciados unicamente pela sua
beleza, pelos seus valores estéticos, que apelam à personalidade de cada
observador.
O custo, a identidade, ou a singularidade são factores que quase não têm efeito
no
desempenho de um objecto, mas que condicionam a sua escolha. O valor artístico
de
um objecto pode ser a sua qualidade mais imediata e evidente, mas não deve ser a
única.
Os objectos mudam o ambiente em que são colocados não apenas fisicamente, mas
também na forma como as pessoas se sentem perante eles. Diz ainda Berninger
(2004)
que o impacto social que um objecto produz pode estender a sua influência a uma
população além daquela que conhece a sua existência.
“Design for the Young People and you exclude the old, design for the old and you
include the young” - Bernard Isaacs, Director do “Birmingham Center of Applied
Gerontology”.
Design Inclusivo é um conceito de design que desenvolve produtos ou cria
ambientes
que permitem a sua utilização pelo maior número de pessoas possível,
independentemente da idade ou condição física. Tem por objectivo contribuir para
que não haja descriminação social, e para que todos tenham igual acesso às
oportunidades disponibilizadas (Santos et al 2007). Escrevem ainda os autores
que os
produtos ou ambientes concebidos segundo este princípio devem ser passíveis de
ser
utilizados por todos, sem necessidade de haver criações específicas para pessoas
com deficiências ou condição física inusual. Este princípio tem como fundamento
a
compreensão da diversidade humana.
Ferrés (2005) reforça a ideia que design inclusivo, ou universal, é o design de
produtos, ambientes, e comunicação que podem ser usado por todos, sem
necessidade
de adaptação ou design especializado. O design como base para a independência e
participação de todos desenvolveu-se para dar resposta à realidade demográfica e
social: há cada vez mais pessoas a viverem com incapacidades físicas e/ou
dificuldades.
O destinatário deste design é a população em geral, mas, sem dúvida que os mais
beneficiados com o desenvolvimento deste conceito são as pessoas que apresentam
algumas incapacidades na sua condição física. Ferrés (2005) não tem dúvidas ao
referir que ao serem desenvolvidos produtos ou ambientes sob este conceito se
está a
acrescentar uma mais-valia ao seu resultado, há um maior número de utilizadores
a
usufruir do produto ou ambiente desenvolvido.
Pode ser muitas vezes confundido com design criado para situações específicas de
pessoas com deficiência ou doentes, idosos ou crianças pequenas, mas o design
inclusivo não é isso, tem sim por objectivo desenvolver produtos ou ambientes
que
possam ser utilizados por todas as pessoas sem que haja necessidade de qualquer
adaptação específica, criando-se assim, e sendo criado, numa prática
profissional com
responsabilidade social. Continuando com esta linha de pensamento, Santos et al
(2007) referem que esta vertente do design ainda não faz parte do normal
desenvolvimento do design, há poucos exemplos práticos de aplicação deste
conceito.
Mas todos podem usufruir dos benefícios do design inclusivo, que é
substancialmente
valorizado quando é desenvolvido com o propósito de integrar, quando se
proporcionam as escolhas correctas, quando se projecta para e com as pessoas.
Investigadores do “Helen Hamlyn Center” foram pioneiros da pesquisa para a
integração de pessoas com incapacidades ou idosos, em 1991 iniciaram um programa
de investigação com o propósito de alertar os designers e a indústria sobre a
forma
como eram encaradas estas alterações sociais.
Coleman (2006), relembra que design inclusivo não é uma nova disciplina, ou
sequer
uma especialidade do design, mas sim um meio de aproximação ao design em geral,
uma estratégia que procura se assegurar de que produtos ou ambientes são
acessíveis
a um vasto número de pessoas.
Para que um produto possa ser realmente incluído na categoria de Design
Inclusivo,
este deve ser concebido a pensar nas necessidades ou condicionalismos da pessoa
com
deficiência, sem nunca esquecer o universo dos utilizadores em geral. Outra
condição
fundamental é que se conheçam os “Princípios do Design Universal”, definidos
pelo “
Center for Universal Design – College of Design” da Universidade do Estado da
Carolina do Norte, Estados Unidos da América (design, 2008), e que são:
-
Princípio 1: Uso equitativo, deve garantir a todos os utilizadores a mesma
possibilidade de utilização, deve ser atractivo a todos, sem estigmatizar
pessoas
com dificuldades ou deficiências.
-
Princípio 2: Flexibilidade no uso, deve permitir escolher a forma de utilização
adequada, deve dar a possibilidade de ser adaptável, promovendo ao mesmo
tempo a precisão de utilização.
-
Princípio 3: Uso simples e intuitivo, deve ser de compreensão fácil, mesmo por
utilizadores inexperientes, com dificuldade de desempenho ou comunicação.
Deve estar ao nível das expectativas do utilizador, não deve ser complexo.
-
Princípio 4: Informação perceptível, a informação necessária à sua utilização
deve
ser visível, inteligível e compreensível a todos os utilizadores,
independentemente das suas dificuldades ou condições de uso.
-
Princípio 5: Tolerância ao erro, deve minimizar as consequências negativas
resultantes de possíveis erros de utilização, acidentais ou não intencionais,
camuflar os factores que levam ao erro, divulgar os possíveis riscos.
-
Princípio 6: Baixo esforço físico, deve possibilitar a sua utilização com o
mínimo
de dispêndio de energia, com um baixo esforço físico e minimizando as
operações repetitivas.
-
Princípio 7: Tamanho e espaço para uso e aproximação adequados, devem ser
acautelados os espaços, a visibilidade e o tamanho necessários à sua utilização
por qualquer pessoa, independentemente das suas dificuldades de mobilidade,
volume, altura ou postura.
Seguindo estes princípios a constatação final é que o design inclusivo/
universal é
benéfico e proveitoso para todos.
O desafio lançado pelo design inclusivo é projectar algo que possa ser usado por
todos
a pensar num público específico, com deficiências ou mobilidades reduzidas.
Atingir
esta meta é condição suficiente para que a sociedade em geral seja satisfeita e
as
pessoas com deficiência consigam viver de uma forma mais independente, como
refere Coleman (2006). Os produtos assim desenvolvidos são aceites mais
facilmente
pelo mercado, são mais apelativos e atractivos ao consumidor.
O desenvolvimento do design, em função do design universal, teve início nos anos
posteriores à segunda guerra mundial, com especial desenvolvimento nos anos 50,
sendo prestada uma especial atenção ao design para pessoas com incapacidades,
momentâneas ou permanentes. Na Europa, Japão, e Estados Unidos, o design sem
barreiras, como na altura foi denominado, desenvolveu-se com o objectivo remover
os
obstáculos existentes, em especial em espaços arquitectónicos, com que se
deparavam
as pessoas com incapacidades físicas, (adaptenv, 2008).
Inicialmente objecto de segregação, por se destinar apenas a pessoas com
limitações
físicas sérias, para casos de dificuldades de mobilidade, nos anos 70 a Europa e
os
Estados Unidos começaram a desenvolver algo para além das soluções específicas
criadas para indivíduos incapacitados, onde começava a surgir o conceito de
normalização e integração. A terminologia adoptada foi design acessível, com
intenção de ultrapassar a segregação associada a “design sem barreiras”.
As normas jurídicas mundiais ainda usam “Design Acessível” como o termo
correcto.
Nos Estados Unidos, o movimento dos direitos das pessoas com incapacidades surge
na segunda metade dos anos 70, foi então o design reconhecido, pela primeira
vez,
como meio necessário para se conseguir igualdade e acesso equitativo a
oportunidades. Ainda nos anos 70, o arquitecto Michael Bednar, foi o precursor
da
ideia de que a capacidade funcional de todos é valorizada quando as barreiras
ambientais são eliminadas. Era necessário, para este arquitecto, a sociedade
adoptar um novo conceito, além da acessibilidade, que deveria ser mais lato e
universal
(adaptenv, 2008).
Numerosas tendências de design acessível surgiram nos anos 80 em diversos
países,
resultado da organização de pessoas com incapacidades. Assim foram capazes de
estruturar perspectivas partilhadas, com o objectivo comum de desenvolver e
tornar o
design acessível em algo eficaz e fundamental para a sociedade. Observaram, no
entanto, algumas consequências indesejadas para o progresso deste conceito, a
definição da incapacidade como uma condição rara e estática, tinha como
resultado
um design que, apesar de acessível, era exclusivo e diferente, (adaptenv, 2008).
Já em
1987, um grupo de designers irlandeses empenhados em encontrar uma solução, no
“World Design Congress”, recomendou aos designers de todo o mundo que deveriam
ter em conta, no desenvolvimento do seu trabalho, o factor da incapacidade e do
envelhecimento das populações.
Ronald Mace, um arquitecto Norte-americano, utilizador de cadeira de rodas,
resultado de uma poliomielite quando criança, começou a investigar a
possibilidade
de relacionar os termos “design universal”, e ”design acessível”. Constatou que
o
design universal "não é uma ciência nova, ou um estilo, ou sequer algo
exclusivo.
Apenas exige a tomada de consciência das necessidades do mercado e uma
aproximação ao senso comum, para que tudo que se projecta e produz seja útil a
todos, na maior amplitude possível", (adaptenv, 2008).
Posteriormente Ronald Mace, fundador do “The Center for Universal Design”,
reconheceu que “universal” não era o termo correcto, porque poderia ser
interpretado
como promissor de um modelo impossível. Mesmo que o comprometimento do
designer seja total, mesmo que sejam cumpridos todos os preceitos do design
universal, mesmo que seja desenvolvido a pensar em todos os utilizadores, é
natural
que exista sempre um reduzido número de pessoas que não vão poder usufruir
daquele produto ou ambiente criado, porque não é “o ideal” ou porque
simplesmente
não é funcional para aquela situação ou pessoa, (adaptiveenvironments, 2008).
O interesse no desenvolvimento do conceito “design universal” progrediu
amplamente nos anos 90, gerou-se até um pequeno ideológico que estabeleceu como
sua disciplina de base o design industrial, mas, tal como observado na página
adaptenv.org (2008), este é um campo do design quase inteiramente
desresponsabilizado do cumprimento das exigências legais para o design
acessível.
Na generalidade pode-se constatar que os produtos são desenvolvidos para
utilizadores jovens e sem qualquer tipo de doença, incapacidade física ou
mental. O
conceito da sociedade ideal está presente, como mencionam Santos et al (2007),
uma
parte substancial dos projectos de design são desenvolvidos a pensar em pessoas
de
estatura e medidas antropométricas consideradas as ideais, sem condicionantes
sensoriais ou de mobilidade. Esta é uma visão que não reflecte a sociedade
actual, que
está a envelhecer, que inclui pessoas com deficiências ou com restrições
temporárias.
Por essa razão o conceito de design inclusivo torna-se cada vez mais actual.
Como referem Falcato e Bispo (2006) a população, nos países industrializados,
está a
envelhecer, a esperança de vida aumentou para valores que fazem prever que no
ano
2050 em Portugal a percentagem de população acima dos 80 anos seja de 70%.
Conscientes de que acima dos 75 anos se agravam os problemas de mobilidade,
agilidade, equilíbrio, se acentuam as dificuldades de visão, de percepção do
meio, se
reduzem as capacidades de concentração, memória e de decisão e que os reflexos
são
gradualmente mais lentos, referem que as pessoas mais idosas se deparam com
grandes barreiras no seu dia-a-dia.
Estima-se que só na Europa haja cerca de 37 milhões de pessoas com deficiências
(dados de 2006). A deficiência, qualquer que seja, é uma das principais razões
de
exclusão social, de impedimento de acesso à participação equalitária na
sociedade. As
pessoas portadoras de deficiências são de facto as mais penalizadas pela
inadequação
de um meio ambiente adverso (Falcato & Bispo, 2006).
Mas não é apenas a deficiência ou a idade avançada que intensifica os
obstáculos, há
ainda outra parte da população que, temporariamente ou não, se depara com alguns
condicionamentos à sua mobilidade ou total uso das suas faculdades. Falcato e
Bispo
(2006) incluem neste caso crianças, grávidas, obesos, idosos, pessoas que
transportam
carrinhos de bebé, pessoas que durante algum tempo necessitam de apoio na
deslocação, portadores de doenças debilitantes, entre outros. Consideram estes
problemas limitadores de uma actividade normal. São factores que contribuem para
a
necessidade de ter objectos ou ambientes que não sejam impeditivos de um uso
semelhante, apesar da tendência generalizada de se considerarem estas limitações
temporárias, refere Coleman (2006).
Há a tendência para o conformismo: é uma situação transitória, mais cedo ou mais
tarde voltará ao normal…
Os graus de deficiências podem variar, podem ser incapacidades quase totais, ou
apenas desvantagens, podem ser de carácter permanente ou apenas temporárias,
podem nem ser consideradas deficiências, ser apenas a condição física natural de
uma
qualquer pessoa, mas todas condicionam as actividades diárias das pessoas, todas
impedem que se realize algo em algum momento.
Aceitar e respeitar as diferenças não é suficiente, a tomada de consciência e a
sensibilização da sociedade para esta realidade devem ser um factor relevante
para o
êxito da inclusão, (Santos et al, 2007). Consideram os autores no seu estudo que
há já,
na sociedade, a convicção de que todos devem ter acesso às mesmas oportunidades
e
os mesmos meios para atingir essas oportunidades, mas para isso produtos e
ambientes devem ser desenvolvidos de forma a se adaptarem às condições do
utilizador.
A Assembleia Geral das Nações Unidas, a 10 de Dezembro de 1948, divulga a
Declaração Universal dos Direitos do Homem, que no seu Artigo 1 proclama: “Todos
os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos (…)”.
Partindo deste princípio o design inclusivo deve ser um imperativo social, uma
necessidade de todos os cidadãos e um contributo para a igualdade de direitos.
Imrie e
Hall (2001) reforçam ainda a ideia de que ao design inclusivo pode também ser
atribuída a responsabilidade de promover o desenvolvimento de sociedades mais
tolerantes, cooperantes e equilibradas, respeitadoras do conceito dos direitos
humanos.
Como já foi referido, inicialmente dirigido apenas a pessoas com deficiência, só
nos
anos 80 começa a ser utilizado sob uma filosofia mais abrangente. Reconhece-se
então o Design Inclusivo como algo vantajoso para todos e uma forma de como não
descriminar, Coleman (2006) reforça-o como promotor da integração social e da
participação activa na sociedade de pessoas que até então estavam
impossibilitadas de o fazer. Falcato e Bispo (2006) consideram que uma sociedade
que promove o design
inclusivo está mais predisposta à interacção social, apresenta menos
dificuldades de
carácter social e proporciona o “desenvolvimento sustentável” das comunidades.
A aproximação entre as comunidades é um factor positivo, todos podem partilhar
os
mesmos equipamentos, serviços ou ambientes independentemente da condição física
individual, socialmente é promotor de aproximação entre diferentes, (Imrie e
Hall,
2001).
O aspecto económico é também relevante referem Ferrés (2005) e Falcato e Bispo
(2006), ao permitir um maior número de utilizadores para um determinado objecto
ou
produto está a ser aumentado o seu mercado alvo, o que vai permitir maior lucro
ou
retorno financeiro. Implícito neste tipo de design está o factor ambiental, ao
ser
concebido um único design para todos não há necessidade de ter vários produtos
para
diferentes utilizadores, pode até ser considerado um design ecológico ou
sustentável.
Todas as vantagens do Design Inclusivo são confirmadas pela necessidade tornada
evidente com a legislação emitida por instituições e entidades internacionais,
sobre a
obrigatoriedade da aplicação deste conceito aos produtos ou ambientes que se
criam.
A Assembleia Geral das Nações Unidas aprova, em 1982, o “Programa Mundial de
Acção Relativo às Pessoas com Deficiência” em que aconselha a adopção de “uma
política que garanta o acesso das pessoas deficientes a todos os novos edifícios
e
repartições públicas, habitações sociais e sistemas de transportes públicos” e a
adoptar
“medidas que facilitem o acesso aos edifícios repartições e transportes já
existentes”
Em 1992, o Conselho da Europa, no seu documento “Uma Política Coerente para a
Reabilitação das Pessoas com Deficiências”, estabelece uma política favorável às
pessoas com deficiências recomenda que “Deverão, (...) ser autorizadas normas
fundamentais para supressão de todas as barreiras no meio ambiente (...)”.
Em 1993 as Nações Unidas nas “Normas sobre Igualdade de Oportunidades para
Pessoas com Deficiências” recomendam a que sejam desenvolvidos programas que
visem a interacção do meio envolvente em função da pessoa, deve ser acautelado o
acesso à informação através dos meios de comunicação social.
Consequentemente, vários governos ou países seguem estas directrizes e redigem
leis
ou normas de qualidade adaptadas à sua própria realidade.
“O melhor design de produto e serviço resulta do conhecimento das necessidades
das
pessoas que o irão usar” para Alison Black (2006) este é o princípio base do
design
centrado no utilizador, isto é, o design tem que adequar o produto ou serviço ao
seu
utilizador, e não deve nunca ser o utilizador a ter que se adaptar ao produto. O
produto
deve adaptar-se às necessidades do momento e às características específicas dos
utilizadores. Os produtos desenvolvidos nesta perspectiva visam a segurança e a
comodidade dos utilizadores, ao mesmo tempo que aumentam a eficácia dos
processos envolvidos, (designcouncil, 2006).
Este conceito de design teve origem no Design Industrial e na disciplina de
Ergonomia. O processo foi divulgado e vulgarizado após a sua publicação no livro
"Designing for People", editado em 1955, de Henry Dreyfuss, designer industrial,
que
aí desenvolve um estudo sobre antropometria simplificada. Tem como princípio o
envolvimento dos utilizadores em todas as fazes do processo de criação, desde a
concepção ao protótipo.
Design centrado no utilizador é um conceito de design que facilita o
desenvolvimento
de um design de um produto tendo um prévio conhecimento das necessidades dos
utilizadores, baseia-se nos conceitos e na aplicação das metodologias de
usabilidade.
Requer o envolvimento activo dos designers com os potenciais utilizadores,
centrar a
atenção no utilizador ao longo de todo o desenvolvimento de qualquer produto,
serviço ou ambiente, pela observação dos seus hábitos e costumes (Black, 2006).
É
um envolvimento necessário para que se conheçam as suas dificuldades,
necessidades
e limitações. E no final, para que seja testado e avaliado o produto
desenvolvido.
O design centrado no utilizador surgiu como reacção às anteriores abordagens ao
design de produtos que não apresentavam resultados positivos. A maior vantagem
deste conceito é a adaptação do produto ou serviço aos utilizadores,
distanciando-se
assim o designer das suas preferências ou gostos pessoais. Ainda antes do início
do desenvolvimento de um produto o público-alvo é definido, as suas necessidades
são
detectadas e o produto é desenvolvido para conseguir satisfazer essas
necessidades da
melhor forma possível. Black (2006) refere que quando os designers projectam
apenas
“para os utilizadores” baseiam a sua percepção na sua experiência pessoal ou em
resultados de estudos de mercado, criando produtos que não satisfazem
completamente os utilizadores. Ao contrário, os designs resultantes de uma
abordagem centrada no utilizador são normalmente produtos ou ambientes bem
aceites, porque os designers mantêm contacto directo com os futuros
utilizadores,
conhecendo as suas particularidades e necessidades.
O contacto estabelecido entre designer e utilizador tem como finalidade o
conhecimento exaustivo de todos os aspectos relacionados com a vida diária do
utilizador. A observação é feita sobre todo o tipo de tarefas, de carácter
profissional
ou de lazer. Tem por finalidade o conhecimento do social e emocional, a
compreensão
dos aspectos culturais ou das necessidades não declaradas e que seriam
impossíveis de
detectar sem este tipo de observação (Black 2006).
A aproximação do designer ao utilizador é particularmente útil quando um novo
produto ou serviço vai ser introduzido no mercado, salienta Black (2006). A
experiência e o conhecimento das necessidades dos utilizadores finais pode
ajudar os
designers a repensar e a pôr em dúvida práticas pré-estabelecidas e suposições,
e pode
proporcionar a inovação de um produto que certamente ajudará a promover o
benefício ao utilizador.
Norman (2004) considera que os produtos desenvolvidos através do conceito de
design centrado no utilizador são um meio de aliviar tensões e frustrações
geradas
pela confusão e sentimento de incapacidade, sentidas perante situações e
objectos
criados para o cidadão em geral, quando utilizados por pessoas com limitações da
sua
condição física. Ao utilizarem objectos criados por este processo de design
sentem
que conseguem controlar as situações com que se deparam.
O utilizador final do produto é quem de facto deve ser consultado para a tomada
das
decisões essenciais, é, por isso, tão importante a pesquisa para o sucesso do
design
centrado no utilizador. Para que o resultado final seja o melhor possível, o
utilizador
deve estar envolvido em todas as fases de desenvolvimento do produto, desde o
seu início até ao final. Sherman (2006) refere que este método de aproximação
designer/utilizador pode ser feito de várias formas. A observação do utilizador, por
parte do
criativo, é fundamental. O designer deve ter conhecimento de todas as limitações
e
facilidades do utilizador e, para que isto aconteça ou seja possível, o designer
deve
passar algum tempo com o destinatário das suas criações, por vezes pode até ter
necessidade de simular as suas dificuldades, dando como exemplo a utilização de
cadeira de rodas ou o uso de vendas nos olhos para simular a falta de visão.
Promover a facilidade de utilização de um produto ou serviço, por parte de
alguém
que apresenta incapacidades, é o objectivo a atingir; para isso deve ser
adoptado um
conjunto de métodos e técnicas que a permitam melhorar. Esta facilidade de
utilização
pode ser definida como “usabilidade”, isto é, a capacidade de um produto de
responder às necessidades dos utilizadores. Preece et al (2002) assinalam que
para que
um design possa realmente ser considerado um bom design, deve satisfazer o
utilizador em alguns aspectos importantes e proporcionar-lhe uma excelente
experiência de utilização, ao mesmo tempo que lhe consegue garantir a plena
satisfação apenas pelo seu uso.
Nielsen (2003) define o conceito de “usabilidade de um produto” pela capacidade
deste satisfazer os cinco aspectos seguintes:
-
Facilidade de Aprendizagem: deve ser fácil para o utilizador realizar tarefas simples num primeiro contacto com um produto.
-
Eficiência: após um conhecimento do produto deve ser possível realizar as tarefas com alguma rapidez.
-
Memorização: Deve ser fácil e intuitiva a utilização do produto após algum tempo de pausa na sua utilização.
-
Erros: Devem ser poucos os erros cometidos e a gravidade dos mesmos ser mínima.
-
Satisfação: A utilização do produto deve ser agradável.
A “International Organization for Standardization” (ISO) refere-se à usabilidade
como “A set of attributes that bear on the effort needed for use, and on the
individual assessment of such use, by a stated or implied set of users.”
1 ISO
9126 (1991), ou
“The extent to which a product can be used by specified users to achieve
specified
goals with effectiveness, efficiency and satisfaction in a specified context of
use.” (Um conjunto de propriedades relacionadas com o esforço necessário ao uso, e
com a avaliação individual desse uso, por um conjunto restrito de utilizadores.)
2 ISO
9241-11 (1998), (iso, 1991, 1998). (Limite até ao qual um produto pode ser usado por utilizadores específicos para
atingir ganhos com eficácia, experiência e satisfação no contexto do seu uso
específico.)
Nielsen (2003) reforça a ideia que a usabilidade se revela importante pelas
vantagens
que apresenta, tanto para os utilizadores como para os produtores. Os
utilizadores
terão facilidade em atingir os seus objectivos tanto eficientemente como
eficazmente,
e certamente ficam satisfeitos com a utilização do produto. Retiram prazer da
sua
utilização e conseguem estabelecer com este uma relação de confiança.
Economicamente os criadores conseguem um retorno financeiro mais rápido do
investimento realizado, ao reduzir o tempo e os custos de produção e de
formação. O
produto é mais depressa disponibilizado no mercado, não se dispensando grande
tempo na sua concepção e preparação. Com a observação dos utilizadores são
reduzidos, com certeza, alguns dos possíveis erros dos utilizadores, sendo por
isso o
produto mais facilmente aceite por todos.
Design centrado no utilizador e usabilidade são conceitos de design normalmente
associados à criação de interfaces para sistemas informáticos. Mas a apropriação
destes pressupostos a qualquer tipo de produto seguramente lhe vai acrescentar
um
valor que será reconhecido por quem o utilizar.
“A pessoa portadora de deficiência deve receber uma educação que lhe permita
adaptar-se ao ambiente que a rodeia e também encontrar o caminho e os meios que
lhe permitam adaptar-se às situações futuras” (Canziani, 1985 p.47).
Os termos défice visual, visão sub normal, baixa visão ou visão residual
referem-se a
uma redução da Acuidade Visual Central, o que se consegue ver a determinada
distância, ou a uma perda do Campo Visual, que é a amplitude da área alcançada
pela
visão, (visaolaser, 2009). Défice visual é entendido como uma alteração
permanente
nos olhos ou nas vias de condução do impulso visual. Isto causa uma diminuição
da
capacidade de visão que constitui um obstáculo para o desenvolvimento normal do
portador desta deficiência, necessitando por isso de uma atenção particular para
as
suas necessidades especiais.
A Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) refere que a deficiência
visual pode ter diferentes origens: traumatismos, doenças, malformações ou até
uma
deficiente nutrição; pode também ser de natureza: congénita que surge dos 0 ao 1
ano
de idade; precoce se surge entre o 1º e o 3º ano de idade ou adquirida quando
surge
após os 3 anos de idade. Traduz-se sempre numa redução ou perda de capacidade
para
realizar tarefas visuais: ler, reconhecer rostos, distinguir cores ou formas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a deficiência visual engloba duas
grandes categorias: a Cegueira e a Baixa Visão, que é a privação total ou
parcial da
capacidade de ver.
O bom funcionamento visual não depende apenas da amplitude do campo visual ou da
acuidade visual, a capacidade de adaptação e o uso que é feito da visão são
factores de
grande relevância.
Lowenfeld (1971) defende que o deficiente visual está em desvantagem no
conhecimento global dos objectos e das situações. A visão é o sentido utilizado
pelos normovisuais para aglutinar os conceitos obtidos pelos outros sentidos.
Diz ainda este
autor que a capacidade funcional e de adaptação do deficiente visual
repercute-se na
sua locomoção, na capacidade de leitura e na possibilidade de gerir a sua
individualidade. Esta capacidade pode ser o meio que ele necessita para se
sentir mais
auto-confiante.
Martín e Bueno (1993) referem que é um facto que a deficiência visual interfere
na
aquisição de aptidões e capacidades, no entanto, com um acompanhamento precoce,
com uma preparação adequada para a aquisição de conhecimentos, competências e
habilidades e com o recurso a programas e serviços especializados, a perda da
visão
total ou parcial não ameaçará a capacidade de o cego ou portador de baixa visão
ter
uma vida plena e produtiva.
No início das suas aprendizagens as crianças cegas ou de baixa visão podem ter
necessidade de dispor de mais tempo para a concretização das experiências
realizam,
tanto formalmente como cognitivamente, a estruturação do seu pensamento faz-se
de
uma forma mais lenta, de acordo com as competências que conseguem desenvolver
(Aranha, 2005).
A inexistência de estímulos pode prejudicar o normal desenvolvimento de todo o
processo de aprendizagem das crianças com deficiências visuais, essencialmente
nos
aspectos relacionados com a aquisição de conceitos, de orientação espacial e
reconhecimento do ambiente. A autora supra referida continua, dizendo que a
criança
deficiente visual percepciona o mundo através dos seus sentidos remanescentes,
mas a
informação obtida por esses sentidos muitas vezes é incompleta, podendo resultar
daí
a aquisição de conceitos diferentes ou até incorrectos dos percebidos por todas
as
outras crianças, sem deficiências visuais.
A criança com baixa visão vê pouco, mesmo com o uso de óculos. Deve ser
estimulada a usar a sua visão residual ao máximo, não é cega nem deve ser
reconhecida como tal, deve ser, sim, ensinada a ver e estimulada para isso, para
que
então consiga usar plenamente as suas capacidades visuais.
As aprendizagens destas crianças fazem-se através dos meios visuais de que ainda
dispõe, mesmo que seja necessário usar recursos especiais para optimizar ou até
para
que lhes seja permitido utilizar essa reduzida capacidade visual.
Para Lueck (2004), existem dois tipos de trabalho a desenvolver com estas
crianças: o
treino de competências visuais, e o programa de estimulação da visão. Este
último,
segundo o mesmo autor, deve ser implementado quando as crianças são ainda muito
novas, quando o sistema visual se encontra em desenvolvimento.
A criação de ambientes organizados, que integrem estímulos visuais escolhidos de
acordo com o fim desejado e controlados, de forma a permitirem que seja atingido
o
objectivo, visa optimizar as competências visuais da criança e promover o
desenvolvimento do seu sistema visual, ao serem activadas as estruturas visuais
neurológicas da criança (Kinds & Moonen, 2002).
Como estímulos visuais podemos considerar, por ex.: a criação de situações
visuais
com elevados contrastes, ou até a ampliação de páginas de livros (imagens) de
histórias. Deve-se considerar então que os objectos utilizados devem ser
portadores de
uma certa especificidade, no que respeita ao seu tamanho, contraste, cor,
iluminação,
posição ou complexidade dos mesmos.
Para que o treino dos estímulos visuais tenha o sucesso desejado deve ser
desenvolvido por todos os que rodeiam a criança, devendo haver sempre
disponibilidade e meios para a sua implementação.
Na criança cega as aprendizagens devem fazer-se através da assimilação pelos
sentidos que estão preservados.
Se ainda resta à criança algum resíduo visual (p. ex.: percepção da
luminosidade), ela
deverá ser incentivada a usar essa capacidade nas suas actividades da vida
diária
(sempre que possível), deve também ser conduzida a “activar” todos os sentidos
de
que dispõe para conseguir optimizar a sua utilização.
No futuro o seu meio de leitura e escrita será, provavelmente, o sistema
Braille. Deve
então, desde cedo, desenvolver competências relativas à sensibilidade e ao
tacto, que
lhe poderão facilitar a aquisição dessa habilidade.
A criança cega forma a maior parte dos seus conceitos ouvindo, cheirando,
sentindo,
tocando, isto é, utilizando todos os sentidos de que dispõe, e para que isto se
processe
deve dar-se a esta criança a oportunidade de conhecer objectos, locais e
situações do
dia-a-dia. É esta a forma de que dispõe para apreender a realidade que a rodeia
(Lowenfeld, 1971).
Para este autor, as crianças cegas devem criar hábitos de independência; se elas
forem
encorajadas e ensinadas a fazer as coisas por si mesmas desenvolvem então a
autoconfiança necessária para a sua vida futura. Refere ainda que estas crianças
necessitam de experiências enriquecedoras, através da manipulação e
experimentação
de objectos reais, para conseguirem adquirir a verdadeira, ou a mais aproximada
possível, consciência do mundo real.
No mesmo sentido Swallow (1976) faz a apologia da pedagogia por métodos activos,
que pode facilitar a interacção da criança com o meio de uma forma espontânea.
Para
esta autora o desenvolvimento cognitivo é um processo gradual e evolutivo,
dependente do desenvolvimento social, emocional e físico, não podendo ser
entendido
isoladamente. O crescimento individual e específico de cada criança influencia o
seu
funcionamento, sendo também afectado pela sequência, diversidade e qualidade das
experiências simbólicas. O conhecimento do real deve ser desenvolvido e
construído através das actividades da criança ao nível da sua estrutura
cognitiva. Deve ser
possibilitado o desenvolvimento de actividades que promovam a exploração
espontânea, tanto física como intelectual, não devendo ser minimizado o papel da
mediação verbal na resolução de tarefas. Um trabalho orientado para o
desenvolvimento cognitivo aumenta e reforça o raciocínio espaço-temporal e o
lógico-matemático. A aprendizagem dinâmica, geradora, apoia-se na espontaneidade
e na criatividade da criança, enquanto a aprendizagem de factos vem através da
prática, da repetição e da memorização.
Segundo Dias (1995), Lowenfeld no seu livro “The visually handicapped child in
school” define como cinco os princípios fundamentais para o desenvolvimento
destas
crianças:
Princípio da individualização - Todas as crianças devem ser reconhecidas e
aceites como seres humanos completos, quer sejam cegas ou não. A causa da
cegueira ou o grau de visão, os cuidados e condições actuais dos olhos bem
como a idade em que a criança cegou, são elementos básicos que devem ser
identificados e compreendidos.
Princípio da concretização - As crianças com dificuldades visuais devem de
aprender a conhecer as pessoas e os objectos utilizando os seus sentidos,
devem enfrentar sozinhas algumas situações. Este contacto directo com o
mundo vai-lhe permitir que os conceitos sejam formados de forma a daremlhe
uma ideia mais real do mundo. Citando Lowenfeld, Dias (1995, p. 41)
escreve: “...as necessidades mais profundas e fundamentais das crianças
cegas são a experiência rica e íntima das coisas comuns e o conhecimento
directo das muitas personagens que se movem nas cenas da vida diária e nas
actividades por elas exercidas”.
Princípio da globalização do ensino - Uma criança cega está em desigualdade na
percepção do mundo à sua volta, para contornar essa desvantagem os novos
conhecimentos devem ser transmitidos de forma a que a sua assimilação seja feita
num contexto de fácil compreensão. Todas as propriedades tácteis,
auditivas, olfactivas e gustativas são importantes, devendo ser descobertas e
conhecidas pelas crianças.
Princípio da estimulação e mobilidade - A criança adquire uma mobilidade
maior quanto maior for a sua capacidade de entrega e contacto espontâneo
com novas experiências, deve, por isso, ser persuadida movimentar-se
sozinha desde cedo. Refere ainda Dias (1995, p. 42), citando Lowenfeld, “o
cego utiliza praticamente todos os sentidos para encontrar o caminho. A sua
audição está constantemente em actividade, na captação de toda a espécie de
sons, incluindo ecos; interpreta cheiros que lhe vêm de muitas origens; nota
as mudanças de correntes de ar e da temperatura; os seus pés sentem a
natureza do terreno, se o caminho o conduz para cima ou para baixo, se é
macio, pavimento de madeira, alcatifado ou de cascalho; observa as
distâncias em termos de tempo, através do movimento e do som. Qualquer
informação que obtenha é interpretada em função de uma locomoção segura
e inseparavelmente, também de orientação”.
Princípio da actividade própria - A criança cega não consegue imitar os outros,
necessita que os padrões sociais de comportamento lhe sejam transmitidos,
para que a sua integração na sociedade seja facilitada.
Estes princípios conseguem definir as necessidades de uma criança com
dificuldades
visuais, é com base neles que deve ser baseada a sua educação e orientação.
Todos se
interligam, não se pode desenvolver apenas um, pois há o risco de ficar isolado
do seu
contexto e ser mal interpretado.
Para Lois Harrel (1984), estas crianças precisam de viver muitas experiências
novas,
de viajar, conhecer sítios diferentes do seu mundo, devem poder tocar em
objectos,
sentir sons e odores, estas actividades devem ser sempre acompanhadas por
descrições, explicações. A sua mobilidade deve ser incentivada, assim conseguirá
apreender o conceito de espaço; o contacto com pessoas favorecido, assim começa
a
ter a noção do seu corpo; as suas mãos guiadas para que sinta texturas
diferentes,
assim a sua curiosidade será estimulada e o seu conceito de pegar, segurar nos
objectos estabelecido;
O mundo deve tornar-se interessante para elas, a curiosidade deve ser
estimulada, os
medos desmistificados. Devem aprender a conviver com as outras crianças, a
brincar
com os mesmos brinquedos, a sentir que são iguais a todas as outras.
Um conceito é a representação, imagem ou ideia de algo que conhecemos, forma-se
a
partir da observação de objectos, de acontecimentos ou de experiências.
A elaboração de conceitos faz-se naturalmente (Horton, 1988), retira-se a
informação,
ordena-se, agrupa-se e dá-se-lhe uma designação. A informação acumula-se e
torna-se
cada vez mais comum, posteriormente passa-se à etapa da generalização, outras
coisas
têm analogias com o objecto observado, onde se podem reconhecer e aplicar as
informações adquiridas. Está formado um conceito.
O mundo em que vivemos está concebido para ser apreendido por uma predominância
visual, a primeira impressão de tudo o que rodeia o ser humano normovisual é
feita
através do suporte visual.
Um deficiente visual não dispõe dessa capacidade, não vê, ou vê muito pouco,
poderá
por isso ser prejudicado no seu conhecimento do mundo em que vive.
A formação de conceitos por uma criança invisual é um aspecto importante para a
sua
formação e aprendizagem. Mas não se pode pensar que o conhecimento não pode ser
feito de outras formas.
Por vezes as crianças cegas, apenas por ouvirem repetidamente, conseguem
excelentes descrições verbais, mas não conseguem ter a verdadeira compreensão
desses conceitos (Horton, 1988). Para este autor “é indispensável transmitir os
conceitos a uma criança cega”. Defendendo uma aprendizagem activa, com
experiências novas e diferentes.
Para Lobato (2002) a criança deficiente visual baseia todo o seu desenvolvimento
em
referenciais transmitidos por estímulos auditivos e tácteis, sendo esta a sua
fonte de
informação mais imediata. A audição e o tacto são os sentidos privilegiados para
o
seu desenvolvimento, dando-lhe os estímulos fundamentais e indispensáveis para o
seu desenvolvimento.
Defende ainda o autor supracitado (2002, p.4) que a “estimulação precoce das
sensações tácteis e auditivas, associadas à interpretação e associação de
movimentos,
texturas, sons, etc. é fundamental para que a criança sinta vontade de se mover
e
explorar o mundo que a rodeia, (...) Aprenderá também a comunicar e a interagir
com
os outros...”
Uma criança deficiente visual não está impossibilitada de se desenvolver
plenamente,
apenas tem que o fazer de uma forma diferente.
Batista (2005, p.10) descreve as conclusões de um estudo por si realizado e por
Laplane em 2003, com 25 professores de crianças em idade pré-escolar e primeiro
ciclo do ensino básico, onde conseguiu identificar quatro conceitos que, segundo
estes
professores, devem ser tidos em conta na aprendizagem destas crianças, são eles:
-
A discriminação táctil constitui-se em habilidade básica, que deve ser bem treinada em crianças cegas.” O tacto será assim a principal forma de aquisição
de informação para o invisual. Deve ser treinado intensivamente, principalmente no
que se refere à distinção dos diferentes materiais e aspectos dos objectos, quer
sejam relativos à forma, peso ou textura.
-
O que não é apreendido pelos olhos, deve ser ensinado por meio de modelos tácteis.” Para os professores ouvidos nestes estudo, a formação de conceitos
depende de informações básicas, que resultam dos sentidos disponíveis, sendo o tacto o principal substituto da visão.
-
Deve-se oferecer à criança cega uma grande quantidade de objectos, que a ajudarão a construir conceitos.” A ideia de dispor de um acervo de objectos representativos do real, ou reais suscita, no entanto, a dúvida quanto à
representação de objectos/situações impossíveis de representar em modelos, como conseguir transmitir esse conceito ao invisual?
-
Representações visuais devem se converter em representações tácteis, para
ensejar a formação de conceitos.” A dúvida centraliza-se, aqui, em como transformar representações bidimensionais em objectos perceptíveis pelo tacto, se em
situações como mapas ou figuras pode ser mais concretizável, em desenhos, fotografias ou esquemas será certamente mais difícil de concretizar.
Batista (2005) conclui que o papel do tacto deve ser redefinido, deve ser tido
em conta
como um importante recurso, não pode ser considerado como o substituto da visão.
Mas a elaboração de recursos auxiliares na compreensão de diferentes conceitos e
sistemas de conceitos recorre certamente a este sentido. Deve ser também
ponderado
o conceito de representação, para a referida autora será esta a estrutura que
irá definir
o planeamento e concepção de recursos. Devem ser elaborados e apresentados de
forma a que se estabeleça uma interligação dos sistemas conceptuais já
adquiridos ou
em fase de aquisição pelas crianças.
Em crianças de baixa visão é importante desenvolver o gosto de ver, a criança
deve
ser estimulada a usar ao máximo a sua visão, mas é também essencial que ela
cultive
os outros sentidos: audição, olfacto, paladar e tacto, pois é a utilização de
todos, em
conjunto, que a vai auxiliar no reconhecimento do ambiente à sua volta, das
características e pormenores às quais não tem acesso por falta da visão.
Dias (1995) refere ainda a importância do desenvolvimento desses sentidos, que,
sobretudo nas crianças deficientes visuais, não ocorre naturalmente, é preciso
educálos,
devendo aproveitar-se, para isso, todas as actividades da criança. Os brinquedos
são um bom recurso para incentivar o uso da visão: são cativantes, têm cores
variadas,
formas diferentes e representam um desafio para a criança.
As crianças cegas, por seu lado, necessitam de outros estímulos. Não vêem, não
conhecem o seu corpo, não conhecem os objectos, não sabem como é a natureza.
Devem, por isso, ser incentivadas a tocar diferentes objectos do seu dia-a-dia,
a
recolher informações sobre o ambiente que as rodeia, a movimentar o seu corpo.
Ao
ser guiada e incentivada para essa exploração, a criança começa também a
perceber
que pode servir-se das mãos, ajudando a aumentar assim a destreza dos dedos e
tomando conhecimento de noções fundamentais para o seu desenvolvimento: a
dimensão, o peso e a forma.
A ausência da visão requer experiências alternativas de desenvolvimento, a fim
de
cultivar a inteligência e promover capacidades sócio-adaptativas (Grifin &
Gerber,
1996).
A primeira fase do desenvolvimento táctil é a tomada de consciência das
qualidades
tácteis dos objectos: textura, temperatura, superfícies de diferentes
consistências e
vibráteis.
Pelo movimento das mãos, as crianças cegas reconhecem texturas, materiais,
contornos, tamanhos e pesos. Essas informações são recebidas sistematicamente,
evoluindo dos movimentos manuais grossos até à motricidade fina (exploração mais
detalhada e pormenorizada dos objectos).
A consciência táctil implica em que as crianças aprendam a mover as mãos para
explorar objectos, o que as ajuda a perceber a presença destes no seu ambiente.
Vários autores referem o tacto como um sentido de fundamental importância para o
conhecimento do mundo por pessoas cegas ou de baixa visão. Batista (2005) vai
mais
longe ao diferenciar “tacto passivo” e “tacto activo”.
Tacto passivo são todas as informações recebidas de forma não intencional,
quando
não há o propósito de receber qualquer informação, mas que, mesmo assim, é
processada.
Tacto activo recebe a informação que é desejada e procurada, desenvolvendo a
comunicação entre o mundo interior e exterior. A compreensão da informação
recebida e a exploração do ambiente é feita de uma forma dinâmica e intencional.
A identificação dos objectos é a primeira e mais imediata função atribuída ao
tacto. É
também um veículo que ajuda a sintetizar as informações recolhidas acerca das
relações espaciais e um método para ajudar a organizar as relações espaciais dos
objectos uns com os outros (Fields, 1964).
A autora supracitada refere ainda que a apropriação de informação através do
tacto se
faz de uma forma lenta, sequencial e sistemática. Enquanto a visão tem um
carácter
totalizador ou global, o tacto requer uma maior disponibilidade de todos os
sentidos
para que seja possível um conhecimento total e mais real dos objectos. Permite
conhecer características e propriedades dos objectos tais como a textura, a
temperatura, a forma (em objectos pequenos ou através de protótipos ou modelos)
e as
relações espaciais.
Para um cego, a textura de um objecto é a sua cor, é essa propriedade que o
distingue
dos outros. As diferenças quase imperceptíveis que o cego consegue sentir
através do
tacto podem ser comparadas com a gradação de cor que é visível para um
normovisual (sac, 2009). A exploração de diferentes relevos, formas ou texturas
é um
factor importante para o aperfeiçoamento da sua organização mental dos objectos
e do
espaço.
Horton, (1988, p.13) em “Education of Visually Impaired Pupils in Ordinary
School”
é peremptório em afirmar: “É através do sentido do tacto que a criança
deficiente
visual adquire um conhecimento concreto e preciso do mundo que a cerca. Só o
tacto
e a exploração táctil estão em condições de fornecer informações exactas acerca
da
forma de um objecto, das suas dimensões, do seu peso, da sua dureza, das
características da sua superfície e da sua temperatura.” Para este autor a
exploração
táctil deve ser fomentada desde que a criança nasce, desde bebé.
Para qualquer cidadão normovisual há gestos e actividades instintivas, que estes
realizam sem terem a noção que há outras pessoas que necessitam de estímulos
para
as realizarem: apanhar e segurar objectos, passar objectos de uma mão para a
outra,
explorar esses objectos, mexer os dedos... Mas estas são actividades que uma
criança
cega tem dificuldades em realizar, ao não conseguir ver os gestos dos outros ao
mesmo tempo não consegue ver as suas mãos, não tem consciência que as pode
utilizar ou como as utilizar.
Horton (1988) elucida: a criança cega, em vez de agarrar os objectos com os
dedos,
utiliza a palma da mão, por essa razão, ao agarrar um objecto a criança tem
tendência
a deixá-lo cair, ou a executar a actividade de uma forma desajeitada. Também não
sabe tactear os objectos no seu todo, pode ignorar uma parte, ou pode não o
conseguir
tocar com convicção, segurança ou pormenor. A criança pode ter dificuldade em
efectuar tarefas que exijam a aplicação da motricidade fina dos dedos. Para
colmatar
estas dificuldades deve aprender a utilizar convenientemente o seu sentido do
tacto,
desenvolver a coordenação manual e a mobilidade dos dedos, a capacidade de
discriminação táctil e a motricidade fina (utilização de pequenos músculos como
os
dos dedos).
A criança deve ser ensinada a utilizar as duas mãos na manipulação de um
objecto, a
discriminar texturas, formas, peso, sabor ou temperatura dos objectos. São
conceitos
que a criança cega adquire ao realizar experiências reais.
Lowenfeld (1971, p.147) refere que “as crianças cegas reagem com todos os
sentidos
aos estímulos que recebem do meio ambiente. Mas só através da observação pelo
tacto é que elas adquirem o conhecimento real dos objectos que as rodeiam, da
sua
forma, tamanho, peso, dureza, qualidades de superfície, maleabilidade e
temperatura.”
Para este autor o conhecimento autêntico dos objectos só pode ser adquirido
através
da observação completa pelo tacto. As mãos e os dedos são as partes mais
sensíveis,
sendo o toque e o manuseio dos objectos fundamentais para o conhecimento da sua
forma, tamanho, peso e textura. Mas esta observação real nem sempre é possível,
há
objectos demasiado grandes, ou demasiado pequenos, ou demasiado frágeis. A
solução, nestes casos, será o recurso a modelos, opção que pode ter
desvantagens,
podem perder-se as características do tamanho, e textura e só o seu formato é
preservado.
Para Dias (1995) a imagem mental construída deve ser, sempre que possível,
complementada com experiências tácteis, auditivas ou olfactivas acompanhadas de
explicações orais. Exemplifica com uma laranja: quando se consegue associar a
forma, textura e cheiro, percebendo o que é, é sinal que se dispõe de mais de um
canal
informativo para a compreensão do mundo, quanto mais sentidos forem implicados,
mais o seu conhecimento será enriquecido.
É importante frisar que o tacto não deve ser visto como um substituto da visão
(Batista, 2005) mas sim como um recurso valioso para o desenvolvimento de
crianças
invisuais, deve ser trabalhado, em conjunto com os outros sentidos, para que
possa
ajudar a criança deficiente visual na apropriação de conhecimentos fundamentais
para
o seu crescimento.
Para um normovisual a visão tem um papel unificador dos outros sentidos. O cego
utiliza os sentidos de que dispõe para conhecer o seu mundo e conseguir viver
nele.
Há vários factores que intervêm na forma com se faz o reconhecimento do mundo. A
partir de diferentes experiências o cérebro associa, interpreta, sintetiza e
organiza as
informações recolhidas.
Através do tacto os objectos são percebidos na sua textura, peso, dureza ou
maciez,
pela visão distinguem-se-lhes as características, formas, cores e dimensões
(Ferland,
2006). Esta autora refere ainda que nas crianças, o conhecimento dos objectos
faz-se
pelo reconhecimento destas características.
Um objecto ocupa um espaço tridimensional e corresponde a uma função previamente
definida, é por isso mais fácil de ser percepcionado. As coisas são percebidas
pela
imagem que o cérebro detém das mesmas, e não pela imagem que se forma na retina
(Reis & Rodrigues, 2004), a percepção da forma, cor, constância da forma e
figura/fundo são conceitos que, quando associados, completam o processo que
conduz
à representação da imagem dos objectos.
A FORMA
A forma, que pode incluir configurações e contornos, é o factor principal para a
identificação do que se vê, é através dela que se processa a integração das
informações sensoriais da aparência dos objectos (Berns, 2002).
A diferenciação dos contornos conduz à percepção da superfície (Rubinstein,
1973).
De acordo com este autor, para que se faça o conhecimento integral da forma dos
objectos é necessário ter a noção da percepção da profundidade, ter experiência
e
alguma imaginação.
Diz ainda o referido autor que as crianças, desde muito cedo, percebem as formas
concretas e objectivas a partir dos contornos dos objectos. Completa o
pensamento
referindo que esta facilidade pode ser desenvolvida e orientada com a ajuda da
percepção da cor, que em crianças pequenas é predominante.
A luz e a sombra são as primeiras impressões que o sistema visual tem para
perceber a
forma dos objectos (Nefs, 2008).
Arnheim (1997) faz a distinção entre forma e configuração de um objecto. A
configuração serve para “informar sobre a natureza das coisas através da sua
aparência externa” (pág. 89), a configuração pode ser entendida como “a forma de
um
conteúdo” e nunca é relacionada com apenas um objecto, mas sim com um vasto tipo
de coisas.
A forma é um óptimo meio de identificação de objectos, que permite que estes
sejam
reconhecidos qualquer que seja o ângulo pelo qual são observados (Arnheim,
1997);
as características que a distinguem são muito resistentes às variações do
ambiente,
permanecem inalteradas, quaisquer que sejam as condições físicas e ambientais de
observação dos objectos. A forma, que pode incluir configurações e contornos, é
o
factor principal para a identificação do que se vê, é através dela que se
processa a
integração das informações sensoriais da aparência dos objectos (Berns, 2002).
A COR
A cor é percebida através da visão. A percepção da cor é muito importante para a
compreensão de um ambiente. A cor dá significado aos objectos e suas às formas
(Reis & Rodrigues, 2004).
A cor é algo tão familiar que se torna difícil compreender que não corresponde a
propriedades físicas, mas sim à sua representação interna, a nível cerebral. Ou
seja, os
objectos não têm cor; a base para a percepção da cor é a absorção e reflexão
selectiva
da luz pelos objectos. As células receptoras na retina são sensíveis à luz de
comprimentos de onda específicos (Berns, 2002).
“Os físicos explicam a cor como função da luz”, refere Zita Areal, (pág. 12,
1995), diz
ainda que a maneira como as cores são percebidas resultam do processo de como os
olhos recebem, registam e classificam os estímulos, os transferem para o cérebro
e,
posteriormente, da forma como esses sinais são descodificados pelo cérebro.
Arnheim (1997) refere que os limites que determinam a configuração dos objectos
resultam da capacidade de se distinguirem áreas com diferentes cores. As cores
podem ser um factor que pode induzir o observador em erro, já que a sua
constância existe até certo ponto, e é sempre auxiliada pela facilidade da
retina se adaptar à
iluminação existente.
A TEXTURA
Textura é o aspecto de uma superfície que permite que esta seja identificada e
distinguida de outras formas. A textura possui simultaneamente propriedades
visuais e
tácteis, ao ser tocada ou olhada, a superfície observada possibilita algumas
conclusões
relativamente à rugosidade, suavidade, aspereza ou ondulação. As diferentes
texturas
ajudam a percepcionar o espaço ou a reconhecer a separação de áreas.
A textura permite ainda que seja percebido o conceito de profundidade, isto
porque se
torna cada vez mais indistinta à medida que se vai afastando do observador (Reis
&
Rodrigues, 2004), também a tridimensionalidade de um objecto pode ser percebida
pela observação da sua textura.
O conhecimento de texturas é resultado de sensações visuais ou tácteis, mas é
através
do tacto que melhor se compreendem as diferentes características dos objectos
(Ferland, 2006)
Arnheim (1997) considera que a textura favorece a figura, já que, à medida que
aumenta a sua densidade, a figura apresenta-se mais perceptível, tanto à visão
como
ao tacto.
Segundo a directiva 88/378/CEE (1988) “por «brinquedo», entende-se qualquer
produto concebido ou manifestamente destinado a ser utilizado em jogos, por
crianças
de idade inferior a 14 anos.”
Um brinquedo é um objecto que proporciona ou conduz a uma actividade lúdica.
Esta
actividade é geralmente associada a crianças e voltada única e especialmente
para o
lazer. Em pedagogia, um brinquedo é qualquer objecto que a criança pode usar no
acto de brincar.
Durante um longo período os brinquedos foram associados a algo fútil, como
referem
Bandet e Sarazanas (1972), mas salientam também que há cada vez mais psicólogos,
antropólogos, sociólogos e médicos que se interessam pelo papel que desempenha
no
desenvolvimento das crianças.
Os brinquedos são de fundamental importância para o desenvolvimento e educação
da
criança: facilitam o desenvolvimento simbólico, estimulam imaginação, a
capacidade
de raciocínio e elevam a auto-estima.
Alguns brinquedos têm uma função ambivalente, enquanto permitem que as crianças
se divirtam, ensinam-nas, ao mesmo tempo, sobre determinado assunto. É então
reconhecida a função educativa do brinquedo. Bandet e Sarazanas (1972, p.133)
enquadram nesta categoria os brinquedos que: “- auxiliam o desenvolvimento motor
geral (…); - desenvolvem a construção muscular (…); - apelam para a afectividade
(…); - auxiliam a descoberta de si mesmos e dos outros (…); - favorecem o acesso
ao
pensamento lógico e à descoberta da regra (...)”.
A criança vai construindo o seu conhecimento do mundo com brincadeiras, jogos,
dramatizações e regras, como refere Machado (2001). Os brinquedos são objectos
que
as crianças devem utilizar a seu modo, sem que haja a exigência de que sigam
sempre as regras ou instruções da embalagem, “Importa como e porque as crianças
brincam”
(Machado, pág.72), como evidencia esta autora, ao referir Bruno Bettelheim: “os
brinquedos educativos tornam-se absolutamente mortais quando se espera que a
criança aprenda aquilo que eles foram projectados para ensinar”.
Bandet e Sarazanas (1972) definem o brinquedo educativo como um instrumento
privilegiado na aquisição de conhecimentos da criança, que deve servir o seu
interesse, no sentido de facilitar a transição das crianças do seu mundo
restrito de
fantasia, para a compreensão de um mundo com regras e ordem.
Estas autoras referem que um brinquedo educativo é “susceptível de
aproveitamento
para funções determinadas” (Bandet & Sarazanas, pág. 125), e que deve ser
utilizado
espontaneamente pela criança, visando a aquisição de conhecimentos e destrezas,
referem ainda que: “A variedade de experiências é condição da sua eficácia, e
não
pode haver um só objecto próprio para o desenvolvimento de uma mesma função
mental”. Os brinquedos educativos são muitas vezes imitações de objectos
utilizados
por adultos: a criança valoriza o seu aspecto técnico, sente a necessidade de
saber
como funciona, mas também se interessa pelo seu aspecto científico.
Um brinquedo educativo deve ser utilizado, segundo Bandet e Sarazanas (1972),
tendo em conta qual o fim a atingir, a idade da criança, os seus interesses e as
suas
necessidades, mas deve sempre permitir que seja deixado espaço à sua
criatividade e
capacidade inventiva, deve ser “inspirador de actividades gratuitas”. Podem
também
ser utilizados em tratamento psicoterapêutico, em crianças com problemas
emocionais, distúrbios de comportamento ou baixo rendimento escolar.
As crianças não vivem sem brinquedos, este é o suporte material das suas
brincadeiras, como referem Cruz e Santos (1999), são estes objectos que servem
de
elo de ligação da criança com o meio. Garvey (1979, p.65) afirma que os
brinquedos
proporcionam a interacção social com os adultos ou com outras crianças, são
também
“oportunidades para a criança representar ou expressar os seus sentimentos,
preocupações ou interesses dominantes”. Para esta autora, um brinquedo novo
suscita várias explorações e repetidas brincadeiras que visam o conhecimento,
não apenas do
objecto em causa, “uma sequência muitas vezes repetida que poderá eventualmente
conduzir a uma concepção mais madura das propriedades do mundo físico (forma,
textura, tamanho) ” (1972, p.66).
O brinquedo pode ser caracterizado como suporte de brincadeira, mas também como
fornecedor de significados, Silva (2005) menciona os valores que o brinquedo
pode
ter: - valor funcional, ou as qualidades intrínsecas do brinquedo; - valor
experimental,
o que a criança pode fazer com esse brinquedo ou as várias actividades que pode
desenvolver; - valor de estruturação, o conteúdo simbólico inserido no objecto;
- valor
de relação, como ele pode ser favorável ao estabelecimento de relações da
criança
com os seus pares.
Um brinquedo não deve condicionar as brincadeiras da criança, mas sim
oferecer-lhe
um suporte para os diferentes significados que cada uma terá, tal como diz Silva
(2005), o brinquedo é um objecto cultural, com significados e representações
específicos.
Machado (2001, pág. 74) diz que uma criança estimulada a brincar “crescerá com
menos rigidez e maior flexibilidade (…) terá liberdade para sentir-se à vontade
para
arriscar, buscar as suas próprias soluções (…) com auto-confiança e
criatividade”;
“Brincar é também raciocinar, descobrir, persistir e perseverar (...)” é
aprender.
“A criança precisa de tempo e espaço para trabalhar a construção do real pelo
exercício da fantasia” (Moraes Dias 1996, p.50), esta linguagem fantasiosa é um
instrumento fundamental no processo de construção do pensamento e da linguagem,
ressalta a autora.
Cruz e Santos (1999) consideram que brincar é a primeira conduta inteligente do
ser
humano, é de natureza sensório-motora, favorece o conhecimento de si mesma e
contribui para a construção do conhecimento e da personalidade. As autoras, no
seu
livro “Brinquedo e Infância”, salientam alguns aspectos da evolução global da
criança. Referem a grande importância do seu desenvolvimento visual e táctil, as
experiências tácteis provocadas pelas diferentes texturas dos brinquedos que
enriquecem a sua sensibilidade; do desenvolvimento da linguagem e do pensamento
simbólico, que também se fazem através da brincadeira, a construção das imagens
dos
objectos são produzidas sobre imagens de algo já visto ou vivido; do
desenvolvimento
motor que é sem dúvida marcado pelas brincadeiras, da sua mobilidade e
motricidade
fina que são sucessivamente melhoradas, movimentar-se e manejar pequenos
objectos
torna-se gradualmente mais fácil; e do desenvolvimento da noção de espaço e de
tempo ao dar à criança a orientação precisa sobre determinados lugares ou
espaços,
relacionando, ainda que de uma forma incipiente, noções como passado, presente e
futuro.
Brincar com objectos requer um desenvolvimento da coordenação dos movimentos
dos olhos e das mãos de forma a que a criança os possa apanhar, segurar e
voltar,
refere Garvey (1979). Esta autora diz ainda que brincar é um meio de expressão
que
simboliza as experiências das crianças, é a representação da sua realidade.
Também para a construção e afirmação da personalidade brincar é importante,
segundo Vial (1981) esse é “o poder afectivo dos jogos”, refere também a sua
“acção
benéfica” na valorização afectiva da criança para com os outros. Este autor
menciona
ainda a atenção, a seriedade e o esforço que a criança gasta com a brincadeira,
estabelecendo a comparação com o trabalho de um adulto.
Essencial para o desenvolvimento de todas as crianças, brincar é natural e
necessário
para a educação de crianças com deficiência, ajuda-as na aprendizagem de como
superar as suas dificuldades.
Bandet e Sarazanas (1972) referem a brincadeira como uma forma de expressão
muito
útil, com um reconhecido papel terapêutico.
Kishimoto (1996) diz que ao brincar uma criança expressa os seus problemas,
permitindo assim aos terapeutas o diagnóstico de dificuldades, inadaptações ou
atrasos do seu desenvolvimento. Isto dá-se porque a criança, quando brinca,
expõe as
suas representações mentais.
Silva (2003) salienta que todas as crianças necessitam de estímulos, mas as
crianças
deficientes dependem desses estímulos para se desenvolverem, refere ainda no seu
estudo, que como estas crianças fracassam frequentemente, brincar é para elas
uma
forma de se aventurarem em novas iniciativas, ou de adoptarem alternativas
diferentes, já que, sendo brincadeira, não necessitam de alcançar resultados
positivos.
É também uma forma de os terapeutas descobrirem o que estas crianças conseguem
alcançar, ou quais são as suas habilidades.
Para Marisa Siqueira Campos, pedagoga do “Laramara”, em crianças com deficiência
visual os brinquedos são a maneira pela qual conhecem um mundo que não podem
ver. Diz ainda que tacteando os brinquedos elas descobrem a forma de construções
ou
de objectos do dia-a-dia, como carros, casas, ferramentas, móveis e utensílios
de
cozinha. Assim, elas saem do isolamento e passam a achar o mundo mais
interessante
(saci, 2004).
Já se referiu que a criança passa a maior parte do seu tempo a brincar, que é
através da
brincadeira, e do brinquedo, que faz as suas primeiras explorações, as suas
primeiras
aprendizagens, que começa a comunicar com o mundo que a rodeia. Mas brincar
também é pôr na boca, puxar, abrir, desmontar…
Brincar tem apenas uma regra: quase tudo é permitido, o limite é a imaginação da
criança.
Para Armando Fernandes, Pediatra (mundodacrianca, 2008), o brinquedo deve ser
simples, adequado, engraçado, seguro e proporcionar momentos de entretenimento,
deve sugerir à criança algo que ela possa fazer estimulando-lhe a originalidade
e
exercitando o seu pensamento.
Mas as crianças não utilizam os brinquedos tal como um adulto espera, ou prevê,
ou
com os cuidados a que este obriga. Para a criança tudo pode ser um brinquedo,
muitas
vezes brincam com objectos que se tornam atraentes pela sua forma, cores ou sons
que produzem. Estes objectos não são brinquedos, mas são usados, manuseados e
explorados como tal. As crianças rapidamente lhes encontram uma utilidade.
Estes são comportamentos normais e esperados nas crianças, é por isso
indispensável
manter fora do seu alcance todos os objectos potencialmente perigosos e fazer
uma escolha cuidada e criteriosa dos brinquedos que lhes são disponibilizados,
de forma a
garantir que sejam seguros e que não apresentem risco de as magoar enquanto
brincam.
Os brinquedos são produtos indispensáveis ao desenvolvimento psicomotor e
social, e
à criatividade da criança. Um brinquedo proporciona à criança momentos de grande
prazer, mas é necessário ter em atenção a sua segurança. É um ser em
desenvolvimento e aprendizagem e muitas vezes não tem a noção do perigo.
A segurança é fundamental em qualquer circunstância, mas quando se trata de
brinquedos deve ser um pouco mais cuidada. Um brinquedo é para divertir, para
usar
com à-vontade, logo, é importante que apresente garantias mínimas de segurança,
que
seja adequado à idade da criança a que se destina, que o material em que é
construído
seja resistente e que não ponha em risco a integridade física da criança,
(dadospessoais, 2008).
Na pesquisa efectuada nas lojas de
brinquedos os resultados obtidos foram
bastante elucidativos: não é possível
encontrar brinquedos feitos a pensar
exclusivamente em crianças cegas ou de
baixa visão. A possibilidade que se depara a
qualquer comprador é adaptar os brinquedos
existentes a este tipo de crianças.
Mesmo que isto não seja um obstáculo à
compra do brinquedo, é um obstáculo ao
desenvolvimento integral destas crianças,
que, como já foi referido, necessitam de
grande estimulação: é importante que
desenvolvam a sua criatividade, e despertem
os seus sentidos.
Na categoria de brinquedos em materiais
têxteis, a oferta é vasta. São brinquedos
normalmente com desenhos estampados, ou
com a junção de tecidos de cores diferentes.
Os materiais não são tóxicos, são facilmente
manuseáveis, os desnhos sugestivos e as
cores utilizadas cativantes e apelativas. Estes
são brinquedos que podem, com relativa
facilidade, ser adaptados a crianças com baixa visão, com as suas cores
vibrantes
chamam a sua atenção, por vezes os
contrastes deveriam ser mais expressivos ou
intensos, mas dependendo do grau da
deficiência, podem ser adaptados.
As crianças cegas ficam claramente em
desvantagem com este tipo de brinquedos,
salvo algumas raras excepções, onde o
recurso à forma é elemento fundamental, mas
mesmo esta deveria ser trabalhada de uma
maneira mais consistente.
Os brinquedos em tecido “vivem” das cores,
dos desenhos estampados, elementos que os
cegos não conseguem observar, já que é
através do tacto que conseguem “ver” e
nestes brinquedos a superfície é normalmente
toda igual, lisa e sem texturas.
Por outro lado, as formas são por vezes ou
muito elaboradas, complicando a observação
tactual, ou demasiado simples, não
fornecendo pontos de referência no seu
reconhecimento.
Os tamanhos, distractivos ou camufladores,
por vezes não ajudam a que a criança tenha a
noção do objecto real.
É difícil considerar estes brinquedos uma boa
opção para crianças cegas.
No que diz respeito aos brinquedos
educativos, também neste caso a adequação a crianças com deficiências visuais
não é
imediata. São brinquedos que requerem
alguma capacidade visual para serem
utilizados da forma mais correcta e para que
se tire partido de todas as suas
potencialidades.
Verifica-se novamente alguma viabilidade no
seu uso por crianças de baixa visão. Em
crianças cegas o seu uso pode ser considerado
ineficiente, não retiram deles qualquer maisvalia.
Soma-se ainda a condicionante do material
em que são construídos, geralmente de
madeira ou plásticos fortes. Se é funcional
para crianças sem problemas visuais, não o é
para crianças cegas ou com dificuldades
visuais. Podem até constituir algum perigo
para estas crianças, já que estes materiais
podem pôr em causa a integridade física dos
utilizadores mais descontraídos.
Para crianças cegas, pequenas, os brinquedos
devem ser construídos em materiais macios e
flexíveis, para que estas brinquem protegidas
de qualquer risco de se magoarem. Esta
poderia ser uma situação contraproducente,
uma vez que as crianças, ao sentirem-se em
risco, retrair-se-iam a novas experiências com
estes brinquedos.
Recorrendo ao segundo modo de procura
definido, a pesquisa na internet, e efectuando uma procura rápida em motores de
busca com
a utilização de palavras-chave como
“brinquedos”, “cegos”, “brinquedos
educativos”, ou entrando directamente em
páginas de marcas conhecidas, a busca
revelou-se um pouco mais produtiva.
No que respeita aos brinquedos específicos
para crianças cegas ou de baixa visão, a
procura teve resultados positivos, há
brinquedos feitos a pensar nestas crianças.
Mas numa leitura mais aprofundada dos sítios
visitados, chega-se à conclusão que estes
brinquedos não estão ao alcance de todas as
crianças que deles necessitam. Quem os
desenvolve são instituições ou associações
ligadas aos cegos, o que até aqui não seria
problema, mas são de países que não
Portugal, como Brasil: Laramara, e
Argentina/ Espanha: ONCE ou Finlândia:
Lea Hyvärinen.
A Laramara nasceu pela necessidade sentida
por uma mãe, professora/educadora, de,
quando nasce a sua filha cega, encontrar um
local de referência para a promoção do
processo de aprendizagem e desenvolvimento
da criança com deficiência visual.
Funda então esta instituição à qual,
simbolicamente, dá o seu nome (Mara) e o da
sua filha (Lara). Situada em São Paulo no
Brasil, é uma organização que, como refere na sua página da internet, “visa
apoiar a
inclusão educacional e social da pessoa com
deficiência visual: cegos, baixa-visão ou
múltipla deficiência”, (laramara, 2009).
Esta instituição é um espaço de pesquisa de
recursos pedagógicos e brinquedos
adequados, de desenvolvimento e adaptação
de materiais, de métodos e técnicas
inovadoras, e um espaço aberto às
necessidades dos deficientes visuais.
“Laramara” é uma instituição que se
preocupa com o desenvolvimento integral da
criança com deficiência, por isso dispõe de
um “Centro de Estudos e Pesquisas Natalie
Barraga” (laramara, 2009) onde desenvolve
conceitos e tecnologias que se adaptam às
necessidades destas crianças.
É neste centro que se desenvolvem os
brinquedos que posteriormente comercializa e
onde se encontra o acervo de publicações e de
vídeos, dedicados à deficiência visual,
elaborados pelos técnicos da instituição
(laramara, 2009).
Inicialmente eram oficinas de trabalho para
pais de crianças cegas, onde estes concebiam
e construíam os brinquedos com que
ajudavam os seus filhos a superar algumas
dificuldades do dia-a-dia e a desenvolver
conceitos e habilidades que futuramente lhes seriam necessários.
Neste momento, a criação de objectos vai
para além da criação de brinquedos,
desenvolve produtos para a reabilitação, edita
livros, promove cursos de formação para pais
e educadores.
A instituição tem uma loja on-line onde é
possível fazer compras, após a criação de um
registo de cliente, no entanto esta facilidade
está apenas disponível para clientes
residentes no Brasil.
A “ONCE”, Organização Nacional de Cegos
Espanhola, é uma associação sem fins
lucrativos com a missão de melhorar a
qualidade de vida das pessoas com
deficiência visual de Espanha. Trabalha em
colaboração com países da América Latina,
(once, 2009).
Lea Hyvärinen é uma médica oftalmologista
Finlandesa que dedicou algum do seu tempo
a investigar e desenvolver materiais de ensino
para crianças deficientes visuais. Os seus
objectos não estão disponíveis para venda,
apenas servem de modelo para referências ou
até cópias, as quais autoriza na sua página da
internet: lea-test (2009).
É então nas duas instituições referidas que se
concentram os materiais desenvolvidos a
pensar nestas crianças.
O boneco “Braillín” foi criado por uma
professora Argentina que trabalha com
deficientes visuais, foi um boneco premiado
num Concurso de Investigação Educativa,
posteriormente testado em crianças,
redesenhado e comercializado pela ONCE.
Este boneco foi desenvolvido em 2004, foi
distribuído gratuitamente pelas escolas
espanholas onde havia crianças com
deficiência visual a estudar, e também
vendido em lojas da ONCE. A compra pela
internet não é acessível, sendo que descobrir
onde se pode fazer a encomenda não é tarefa
fácil.
No que respeita aos outros tipos de
brinquedos, em materiais têxteis e educativos,
as conclusões são similares às obtidas na
pesquisa em lojas da especialidade, não há
produtos desenvolvidos a pensar em crianças
com deficiência visual, todos os existentes
têm que ser adaptados pelos utilizadores de
forma a que seja possível retirar o melhor
partido dos mesmos.
O “brinquedo inclusivo” é um conceito que
não parece existir ainda. Há o brinquedo feito
para ser utilizado por crianças sem
deficiências, há objectos/materiais
desenvolvidos por instituições ou educadores
para serem utilizados por crianças com
problemas de desenvolvimento ou deficiências, mas não é possível a um
qualquer consumidor entrar numa loja de
brinquedos e adquirir um brinquedo feito a
pensar nas crianças com alguma deficiência
visual, e que possa ser também agradável e
atraente para uma criança sem qualquer
problema a esse nível.
A importância da existência deste tipo de
brinquedos é comprovada por vários estudos
académicos. A inclusão de crianças com
deficiências não pode passar apenas pela
integração destas crianças em escolas
regulares, deve ser feita também pela
promoção da partilha e intercâmbio de
vivências, experiências ou aprendizagens.
Isto só é possível se crianças diferentes
utilizarem os mesmos objectos e ambientes e
tiverem oportunidades iguais.
A ideia subjacente ao brinquedo inclusivo é
afastar a necessidade de produtos especiais
para crianças com deficiência. Os mesmos
brinquedos podem divertir crianças com e
sem deficiência, proporcionado às crianças
com necessidades especiais as mesmas
vivências, contribuindo para que sejam no
futuro mais autónomas. Para as crianças sem
deficiências o ganho é a oportunidade que
têm de se tornar cidadãos mais respeitadores
das diferenças dos outros.
Os brinquedos ajudam as crianças a adquirir conhecimentos sobre a realidade, o
brinquedo
concebido para todas as crianças deve ainda
ter um carácter pedagógico, deve
proporcionar aprendizagens significativas e
estimular a procura de novos conhecimentos.
Brincar e jogar fazem parte das actividades
das crianças, se as crianças realizarem essa
actividade em conjunto com outras, então
estão a realizar a socialização. Para as
crianças deficientes visuais esse lado é ainda
mais relevante, porque as estimula para a
aprendizagem, quando são confrontadas com
as brincadeiras desenvolvidas pelas outras
crianças.
Pode-se retirar ainda como conclusão desta
pesquisa o limitado desenvolvimento da
indústria de brinquedos em Portugal
adaptados à realidade das crianças do nosso
país. Apenas é visível no segmento dos
brinquedos educativos, em empresas com
uma vertente característica, normalmente
ligadas a editoras escolares e que muitas
vezes não estão ao dispor da sociedade em
geral.
Uma das causas desta retracção pode ser a
proliferação de brinquedos importados de
países como a China, que chegam com um
baixo preço, mas onde a qualidade pode ser
posta em causa, como atestam alguns estudos
feitos pela revista “Proteste”. (deco, 2008) Na compra destes brinquedos é
necessário ter um
grande cuidado e atenção para que não estes
ponham em causa a integridade física da
criança, especialmente quando se compra
para crianças com deficiências visuais.
Também presentes no mercado português
estão empresas multinacionais que
demonstram uma grande preocupação com a
criação de brinquedos: são normalmente
atractivos, pelas cores utilizadas, pelas
formas e desenhos que apresentam, e
geralmente são seguros para as crianças.
Associam o carácter educativo ao lúdico,
conseguindo com isso um vasto leque de
compradores preocupados com o
desenvolvimento integral das crianças.
De entre os brinquedos analisados na pesquisa de mercado efectuada, são os
fabricados em materiais têxteis os que interessam verdadeiramente a este estudo.
Os brinquedos feitos com este tipo de materiais oferecem às crianças em geral, e
particularmente às crianças com deficiências visuais, um elevado nível de
segurança
no seu manuseamento, uma vez que a sua suavidade e leveza não põem em causa a
integridade física de quem os utiliza. São normalmente macios e também por isso
são
considerados seguros e indicados para crianças.
Verifica-se que as fibras mais usadas são o algodão, o poliéster e o acrílico. A
escolha
destes materiais deve-se, aos resultados que eles proporcionam ao brinquedo
quando
produto final: as cores vivas e duráveis, a facilidade de manutenção e limpeza,
a
flexibilidade e manuseabilidade são propriedades relevantes. Também a sensação
de
conforto ou desconforto que a superfície dos brinquedos proporciona é
fundamental
para que a criança deseje brincar com esse objecto.
A aplicação do material têxtil a brinquedos para crianças com deficiência visual
pode
por vezes necessitar uma adaptação ou organização para melhor serem aproveitadas
as suas características.
Há que considerar alguns aspectos importantes para que seja rentabilizado o seu
uso e
seja mais fácil à criança compreender as figuras ou imagens desenhadas. Os
brinquedos fabricados em materiais têxteis oferecem à criança uma grande
variedade
de oportunidades de exploração de todos os sentidos: o toque da superfície do
tecido,
a cor, o som provocado pelo manuseamento e até pelos aromas com que pode ser
impregnado.
Outra característica dos brinquedos em materiais têxteis é o conforto sensorial
oferecido pelos tecidos. As características das diferentes texturas da
superfície, que são perceptíveis pelo tacto, dependem da estrutura do tecido, da
composição e
características das fibras e do tipo de acabamento a que é submetido.
Relativamente ao sentido da visão, a diversidade de cores disponíveis para
utilizar
estimulam a curiosidade das crianças, por serem apelativas e atractivas ao
olhar.
Os tecidos são materiais que podem ser fabricados a partir de uma vasta gama de
matérias-primas, naturais, artificiais ou sintéticas, em diferentes estruturas a
que
correspondem diferentes texturas. A sua estrutura pode ser bidimensional -
quando
apenas se percebem duas dimensões (comprimento e largura) - ou tridimensional -
quando se pode observar a terceira dimensão (altura ou volume).
A forma como os tecidos se relacionam com os sentidos depende principalmente da
matéria-prima, da cor e da textura
A primeira impressão de um objecto ou ambiente é sentida através da visão, mas
quando esta é reduzida ou inexistente, é o tacto que ajuda a que as sensações
relativas
esse ambiente sejam adquiridas e processadas.
Para que um produto seja desejado este deve satisfazer todos os sentidos do
observador, mas para um cego, ou portador de baixa-visão, a sensação transmitida
pelo tacto é fundamental para o encantamento que um produto deve proporcionar se
desencadeie.
No que se refere aos materiais têxteis o toque de uma fibra ou de um tecido é
uma
propriedade de grande relevância, que interfere na aceitação ou não do produto
ou
objecto.
A sensação, agradável ou desagradável, que um tecido proporciona quando entra em
contacto com a pele vai condicionar a aquisição dessa peça, se a sensação for
desconfortável a compra dificilmente será efectuada.
Nogueira et al. (2008), no estudo por elas desenvolvido, referem que a avaliação
das
sensações experimentadas, é sempre subjectiva e feita de uma forma inconsciente.
O
que para um sujeito é agradável, para outro pode ser muito desconfortável, já
que a
avaliação feita “recorre à consciência sensorial e mental de cada pessoa,
utilizando não apenas a visão e o tacto, mas também as percepções sensoriais
como sentimentos,
memória e lembranças, que cada ser humano poderá sentir”.
No que respeita aos brinquedos para crianças, em materiais têxteis, a
necessidade de
uma aprovação, ao nível sensorial, é preponderante na aceitação, e consequente
desejo, desse brinquedo.
Na pesquisa de mercado realizada e nos brinquedos observados presencialmente, a
sensação do toque era normalmente suave e agradável. As texturas
apresentavam-se,
na generalidade, macias e maleáveis, convidativas à interacção. Relativamente à
segurança, denota-se o cuidado com a libertação de pêlos ou fios, situação
sempre
prevista.
A sensação de cor é produzida no cérebro, como resposta aos estímulos produzidos
pela luz em diferentes comprimentos de ondas. Diferentes objectos respondem de
maneira diferente a diferentes comprimentos de onda, por essa razão são
observadas
cores diferentes.
A cor comunica. A cor tem um aspecto funcional, de comunicação visual e
psicológica, mas necessita de critérios para ser utilizada (Munari, 1968), o uso
da cor
deve ser correctamente definido para que o objecto ou ambiente criado seja
agradável
e não demasiadamente cansativo, ou até repelente ou repulsivo.
Em muitos aspectos, defende Munari (1968), o uso da cor natural do material a
ser
usado é o mais correcto, isto porque cria atmosferas mais orgânicas e naturais.
Alerta ainda, esse autor, para o facto de a cor não se adaptar da mesma forma a
materiais diferentes, muda segundo o material em que é utilizado. Também a luz é
factor de grande relevância e influência na percepção da cor.
A cor varia na sua intensidade, saturação e brilho. Na escolha de uma cor para
um
objecto há dois factores importantes a observar: o contraste e a capacidade das
cores
para serem distinguidas (Clarkson, 2008).
Contraste, pode ser definido como a diferença de luminosidade entre a cor do
fundo e
a do elemento/ objecto percepcionado.
Para pessoas portadora de baixa visão ou de dificuldades visuais quanto maior
for o
contraste figura/fundo mais facilmente é percebida a cor. Também o brilho é
relevante
para que a percepção da cor seja feita de uma forma evidente e espontânea.
A cor está repleta de informação, quer por valores instituídos socialmente
(símbolos,
sinais), quer por relação com a natureza, ou até pela sensação que transmite.
É sem dúvida um veículo de comunicação visual por excelência. Pode ainda
representar alguns códigos que se podem considerar detentores de alguma
subjectividade.
A cor é geradora de emoções e sensações. Em psicologia as cores têm um
significado
específico, em algumas culturas podem ter significados diferentes, podem também
provocar sentimentos e lembranças às pessoas.
Segundo a psicóloga Célia Maria Amorim, (mundocor, 2009) o uso de cores na
educação de crianças com baixa visão é de grande importância para que adquiram
não
só o conceito da cor, mas também para que saibam discriminar coloridos
contrastantes, contribuindo assim para a melhora de sua percepção e eficiência
visual
em todas as actividades.
"A cor promove o raciocínio infantil, ajudando até mesmo em exercícios que
envolvem postura e motricidade", diz a fisioterapeuta Márcia Silva (mundocor,
2009).
Para os portadores de cegueira total, a cor não passa de um conceito teórico e
subjectivo mas, para os que possuem um grau de baixa visão que permita a
aquisição
de conceitos através da visão, todos os artifícios que melhorem a sua utilização
são
muito importantes. Por exemplo, na questão da leitura, usar o máximo de
contraste
entre a cor de fundo e a cor das letras, ou utilizar papel espesso e opaco, para
que a
luz não seja reflectida na superfície, o que dificulta a leitura.
A cor dos objectos é um dos aspectos de grande relevância na sua aparência,
facto que
é ainda mais considerável quando se trata de objectos criados a pensar no
desenvolvimento de crianças. Projectar um bom design inclusivo passa também pelo
respeito desses factores, relativos à utilização da cor.
Chama-se textura à superfície de um material a que o tacto é sensível, há
diversos
tipos de texturas, suaves, ásperas, duras e macias (Iturrondo, 1994), a textura
é uma
característica de todos os objectos que permite que, quando tocados, não seja
necessário observá-los para que possa ser identificada.
A textura está relacionada com as propriedades do material por que é feito, e
com os
resultados dos tratamentos que sofre a superfície de um qualquer material,
quando
desenvolvido artificialmente. A textura dos objectos facilita a percepção e o
conhecimento do geral, isto é, conhecer o que nos rodeia alarga as
possibilidades de
contacto com a realidade, permite que o mundo seja mais e melhor conhecido
(Munari, 1968). Para o referido autor cada textura tem uma estrutura própria,
difere de
qualquer outra e isso dá-lhe um significado único e particular. Este é um
aspecto que é
potenciado e adaptado pela indústria têxtil: a possibilidade de imbuir os
tecidos de um
“efeito táctil particular” (1968, pág. 20).
Uma característica das texturas criadas artificialmente é a uniformidade, que
ajuda a
que esta seja apercebida como superfície.
A discriminação e percepção táctil de cada textura não é consensual, Sonneveld e
Schifferstein (2008) referem vários estudos levados a cabo, onde cada
interveniente
define as estruturas observadas de maneiras ou com conceitos diferentes.
Já se referiu que para um cego a textura é a "cor" dos objectos. As diferenças
sentidas
pelo tacto estabelecem uma comparação com as nuances distinguidas nas cores.
As texturas são normalmente reconhecidas através da percepção táctil, elemento
de
grande importância para o desenvolvimento, na criança, da consciência do seu
próprio
corpo e das suas sensações, e que deve ser utilizada e desenvolvida
intensivamente.
Grifin e Gerber (1996) elucidam que é através da deslocação das mãos que as
crianças
cegas percepcionam e percebem texturas, sentem a presença de diferentes
materiais, o
que lhes é agradável, mas sobretudo necessário para a organização mental do
mundo
que necessitam de realizar.
Oliveira et al (2002) mencionando um estudo desenvolvido, referem que
inicialmente
as texturas devem ser contrastantes, contrastes que podem variar entre: mole e
duro,
macio e áspero; posteriormente devem ser apresentadas nas suas gradações para
ajudar as crianças cegas a serem mais destras na sua diferenciação. Gradualmente
tornar-se mais fácil o reconhecimento de texturas mais pormenorizadas, assim as
crianças aprendem os conceitos de pesado e leve, grande ou pequeno, e os
diferentes
graus desses paralelismos.
Por vezes as crianças cegas encontraram certas particularidades e
características de
um objecto, o que ajuda na sua discriminação. Dependendo da complexidade dos
objectos, por vezes a identificação ou reconhecimento dessas particularidades
requer
algum tempo a ser detectada.
Brincar é uma das actividades mais importantes no desenvolvimento da criança.
Seja
a brincadeira de que tipo for, é esse o meio da criança se expressar e a
possibilidade
de expressar os seus sentimentos e fantasias. É a principal actividade da
infância, as
crianças que brincam naturalmente desenvolvem a criatividade, expressam desejos
ou
medos e aprendem a controlar impulsos.
O brinquedo, objecto usado nas brincadeiras das crianças, foi sofrendo
alterações
através dos tempos, adquiriu diferentes formatos, adaptou-se a novos materiais e
serviu de orientação às actividades lúdicas das crianças. Actualmente os
brinquedos e
os jogos fazem parte de uma nova era, tecnológica e digital, onde proliferam
brinquedos que falam, andam, choram, quase mágicos, aos olhos das crianças, para
além de jogos virtuais e fantasiosos. Mas ainda é necessário que existam
brinquedos
simples, sem complexidades, que permitam às crianças fantasiarem, e não terem a
fantasia pronta, imaginarem e não terem a brincadeira definida.
A simplicidade dos brinquedos é, por vezes, evidenciada pelos materiais por que
são
fabricados. A adequação dos materiais, à idade da criança, à funcionalidade do
brinquedo, torna-os eficazes e permite que cumpram algumas características
fundamentais que devem ter.
Os brinquedos devem ajudar a criança ano seu desenvolvimento físico, intelectual
e
até emocional, estimular a coordenação motora, percepção visual e táctil e o
reconhecimento das cores. Os produtos devem ser fiáveis, agradáveis, atraentes,
leves,
alegres e coloridos. É importante salientar que os brinquedos educativos
apresentam
geralmente cores e formas diferentes, para propiciar à criança o desenvolvimento
dos
sentidos, da coordenação, do conhecimento de formas, cores e até a aprendizagens
da
leitura ou matemática.
Todos os brinquedos estão sujeitos a normas técnicas específicas, que devem
cumprir
escrupulosamente. Uma das advertências básicas é a de que as superfícies e
cantos acessíveis dos objectos não devem apresentar lascas, arestas ou bordas
cortantes,
pontas agudas ou saliências perigosas. Além disso, devem ser evitados, na
fabricação
das peças, materiais facilmente inflamáveis.
Substâncias declaradas como perigosas para a saúde não podem ser aplicadas nos
brinquedos, e nunca em quantidade ou de forma que afectem a saúde das crianças.
Qualquer material empregue na fabricação dos brinquedos apresenta vantagens e
desvantagens. Na pesquisa de mercado efectuada os materiais encontrados mais
frequentemente foram a madeira, o cartão e o tecido. A espuma EVA é um material
que está a começar a ser utilizado, sobretudo num grupo particular de
brinquedos.
MADEIRA

Descrição do brinquedo: Dominó em madeira, pintado com tintas e vernizes à base de água, não
tóxicos.
Vantagens:
A Madeira é um material natural que estimula os sentidos.
Dependendo do tratamento a que é submetida, a sua superfície pode ser rugosa ou
lisa, mas apresenta sempre alguma textura, mesmo que seja apenas visível ou
pouco
perceptível.
A dureza é outro aspecto que pode ser variável, dependendo da espécie de madeira
utilizada, esta pode ser pesada e dura, ou macia e leve, pode apresentar também
um
odor ou perfume característico. O som que produz vai do mais suave ao mais
forte.
Relativamente à cor, esta pode ser clara ou escura, pode ter tons avermelhados
ou
castanhos, que podem ser valorizados pelos tratamentos a que é submetida.
A sua durabilidade é inquestionável, é resistente ao uso, e à acção de
organismos
destruidores (fungos ou bolores), se se partir pode ser consertada e é
reciclável, o que a torna “amiga” do ambiente. A madeira é um material
confortável, conforto que se
traduz pela temperatura aconchegante e pela não toxicidade.
Por todas estas qualidades fabricar brinquedos em madeira torna-os apropriados
para
as crianças.
Desvantagens:
Como todos os materiais também apresenta aspectos negativos. Um dos que se
salienta é não dever ser utilizada em brinquedos para crianças muito pequenas,
pode
apresentar riscos para a sua integridade física. As crianças ao brincar,
sozinhas ou
acompanhadas, atiram objectos com alguma intensidade, podendo atingir-se a si
próprias ou às outras.
A possibilidade de terem pontas aguçadas é outro inconveniente dos brinquedos
feitos
em madeira.
Muitas vezes as tintas ou vernizes com que são revestidas na superfície podem
conter
produtos tóxicos, o que os torna potencialmente perigosos. Uma característica
das
crianças é gostarem de levar tudo à boca, especialmente tratando-se de crianças
pequenas.
Também para crianças cegas não será uma boa opção, especialmente em crianças que
ainda estão a familiarizar-se com o mundo desconhecido à sua volta.
TÊXTEIS

Descrição: Tapete muito macio, em tecido, base de jogo em forma de flor.
Vantagens:
Os tecidos são materiais de grande versatilidade. A flexibilidade e a
envolvência que
proporcionam transmitem à criança uma sensação de conforto ao manusear os
brinquedos feitos por este material.
Em brinquedos, o tipo de tecidos mais utilizado é o algodão e o poliéster, um
natural,
outro artificial, materiais confortáveis e flexíveis, duráveis, resistentes e de
toque
agradável.
O poliéster, é um material que quando molhado seca rapidamente, é muito
resistente
ao uso e mantém-se em bom estado após uso intensivo. Ao ser tingido permite
cores
vivas e atraentes.
O algodão, suave e macio, resiste bem ao uso intensivo.
Os dois materiais permitem uma enorme criatividade na concepção e confecção de
brinquedos, adaptam-se facilmente a um sem número de formas, feitios e
variedades
de soluções.
São também seguros, não põem em risco os seus utilizadores, como são macios não
magoam, são porosos, não asfixiam e não há possibilidade de terem pontas afiadas
ou
partirem.
Desvantagens:
O algodão quando tingido não possibilita cores muito vivas e tem tendência
desbotar
com o tempo. O tempo de secagem do algodão pode ser longo.
O poliéster está sujeito a queimar com facilidade, quando próximo de fontes de
calor
intenso. A electricidade estática é uma propriedade que se pode considerar
desvantajosa.
Por serem materiais bastante flexíveis condicionam algumas possibilidades de
realização de objectos.
Se a origem dos fabricantes não for fidedigna, os brinquedos podem oferecer
algum
perigo, os tintos utilizados nos tingimentos podem conter substâncias perigosas,
o que
se torna mais grave em brinquedos que as crianças gostam de pôr na boca.
CARTÃO/ PAPEL

Descrição: Jogo composto por dez cartões reversíveis, que pode ser transportado.
Vantagens:
Uma qualidade dos brinquedos fabricados em papel ou cartão é a sua leveza, são
facilmente manuseados por crianças pequenas.
Este material é essencialmente empregue na construção de jogos e puzzles. A
facilidade de impressão de imagens ou fotografias, que permitem pormenores muito
acentuados é uma característica que os valoriza.
Também o emprego de cores vivas é facilitado e valorizado na impressão em papel.
O papel é um produto proveniente da madeira, logo pode ser considerado um
material
natural, que mantém algumas características do material que lhe deu origem, uma
dessas características é a sensação de conforto que transmite.
É suave e macio, o que torna agradável o seu toque, o que não condiciona a
possibilidade de ser rígido, e não deformável, isto depende da densidade com que
é
fabricado.
Não é previsível que possa por em risco a segurança da crianças quando
utilizadora
dos jogos.
Desvantagens:
A pouca textura perceptível ao tacto é um factor que coloca o papel em
desvantagem
relativamente a outros materiais aqui referidos. É um material muito liso e
uniforme, e
ao serem impressas imagem, evidencia-se ainda mais essa característica.
Um factor de risco na utilização dos jogos de cartão com crianças é a
possibilidade de
este se desfazer com a humidade, e as fibras por que é composto poderem ser
ingeridas pelas crianças, que têm uma tendência e necessidade natural de levarem
todos os brinquedos à boca.
Pelo mesmo facto as tintas das impressões devem ser atóxicas, o que nem sempre
se
verifica. Por vezes o cheiro que emite, proveniente das impressões, não é
agradável,
provocando mesmo algum desconforto no utilizador.
ESPUMA EVA

Descrição: Brinquedo constituído por placa rectangular em espuma EVA, de textura
rugosa e formas
geométricas.
“EVA” é a sigla de Espuma Vinílica Acetinada, material derivado da matéria-prima
Ethylene Vinyl Acetate.
Vantagens:
É um material termoplástico, uma espuma sintética com preço acessível, muito
usada
para produtos infantis, essencialmente material escolar e pedagógico.
É muito utilizado em trabalhos artesanais e que as crianças apreciam pela sua
textura,
suave ao toque, e fácil utilização. É maleável, macio, não tem cheio, colorido e
lavável.
Tem ainda como características a flexibilidade e elasticidade. É resistente,
durável e
leve. Os produtos fabricados com este material adquirem um visual alegre, bonito
e
atraente. Podem ter a textura que se desejar.
Pela sua leveza e suavidade não é um material agressivo, é muito utilizado em
tapetes
e revestimentos de chão pela sua capacidade de amortecer as quedas das crianças.
São
resistentes à humidade.
Na sua produção as formas são facilmente moldadas e permitem uma criatividade
ilimitada, e mantêm-na constantemente. São resistentes ao choque.
Desvantagens:
Esta espuma é um material muito leve, não é indicada para fabricar brinquedos
que
necessitem de estabilidade.
Quando fabricada com uma elevada densidade não permite ser dobrada, é muito
resistente à pressão exercida pelo toque, mantém sempre a forma original.
As cores podem ser variadas, mas nunca são muito vivas ou brilhantes.
Quando destruído, rasgado ou partido, não permite que seja reparado, ou até
reaproveitado. Não se pode considerar um material “amigo do ambiente”.
Em análise recente (Setembro de 2009) efectuada pela “Deco”, publicada no jornal
Público (2009) foi detectada a presença nestes produtos de formamida. É uma
substância que os fabricantes de brinquedos com espuma EVA utilizam para reduzir
os maus odores, e que está classificada como tóxica, pondo em risco a saúde das
crianças. Foi também detectada a presença de amoníaco e outras substâncias
irritantes
para a pele, olhos e vias respiratórias.
Segundo a mesma fonte, a União Europeia está em condições de retirar do mercado
os
produtos fabricados com este material.
–> Jogos e Terapias Desenvolvidas com as Crianças
Todo este subcapítulo se baseou em reuniões informais que a autora do
estudo
manteve com a Drª Fátima Lopes da Equipa de Apoio Pedagógico à Deficiência
Visual de
Coimbra, com as terapeutas do CAIPDV, nas reuniões de controlo do CAIPDV e
equipa de
professoras do ensino especial, onde esteve presente, em Aveiro, Viseu e
Coimbra.
O desenvolvimento das crianças com deficiência, qualquer que seja, é uma tarefa
que
requer um grande esforço de todos os intervenientes, pais, educadores e das
próprias
crianças, que necessitam de um empenho extraordinário para conseguirem
ultrapassar
as dificuldades.
Já se concluiu que o desenvolvimento deve ter início logo que a criança
apresente os
sintomas da incapacidade de que é portadora. É certeza de que será muito mais
vantajoso e os resultados produzir-se-ão muito mais rapidamente.
Já foi também largamente analisada a dependência do cérebro em relação à visão
como canal transmissor da informação, a maior parte da informação chega através
da
visão, sendo também o sentido unificador de toda a informação captada pelos
outros
sentidos.
Uma criança, neste caso, que se vê privada da visão, se não for estimulada a
desenvolver os outros sentidos em todo o seu potencial, estará provavelmente
condicionada no completo desempenho de muitas das actividades que poderia
desenvolver por toda a sua vida.
A criança cega ou portadora de baixa visão deve fazer desde cedo a aquisição de
um
conjunto de competências específicas que lhe facilitem a transposição das
desvantagens consequentes da falta de visão.
A integração das crianças com deficiências visuais em ambientes não segregados é
um factor positivo para o seu desenvolvimento como ser social, mas a integração
como elemento isolado não é suficiente, deve ser proporcionado à criança
actividades, jogos, brincadeiras com que ela possa interagir com os que a
rodeiam.
As educadoras de infância, terapeuta e psicóloga que se disponibilizaram para
colaborar com o presente estudo referiram que a interacção social e pedagógica
não
se deve resumir ao tempo em que as crianças passam nas instituições de ensino, o
papel dos pais, família e amigos é de grande importância para a concretização de
todas as aprendizagens feitas. Por essa razão se torna necessário que a criança
disponha de materiais, brinquedos ou jogos também no seu espaço familiar para
que
possa continuar com todas as suas aprendizagens.
A autora deste estudo participou, mediante convite, em reuniões da equipa do
CAIPDV com as educadoras de infância que prestam apoio às crianças com
deficiência visual. Durante as reuniões foram debatidos quais seriam os melhores
processos a utilizar para que as capacidades e competências das crianças fossem
constantemente desenvolvidas.
O trabalho desenvolvido pelas técnicas no acompanhamento de crianças cegas ou de
baixa visão vai no sentido de, primeiro compreender as necessidades individuais
das
crianças, e através da interacção, partilha e comunicação com os outros,
facilitar a
construção do conhecimento como um todo, partindo do princípio de que o
conhecimento é adquirido pelas vivências que se realizam, pelo sentido e
significado
que se atribui aos objectos com que se interage. As actividades são
desenvolvidas
com o sentido de despertar a curiosidade e o interesse por coisas novas, factor
de
grande relevância em crianças com deficiências visuais, particularmente nas
crianças
cegas.
Para as terapeutas, o desenvolvimento visual e o desenvolvimento táctil evoluem
por
etapas, e devem ter uma sequência coerente. Nas crianças com deficiências
visuais
acentua-se ainda mais essa necessidade de hierarquias na aprendizagem. As
crianças
primeiro devem sentir a presença dos objectos, sentir que existem, perceber
depois
que são diferentes uns dos outros, que o revestimento que têm é diferente e pode
transmitir sensações distintas, que podem ter diversos graus de rigidez e
densidade.
Depois já podem começar a perceber a noção de grandeza, que uns podem ser
maiores que os outros. As crianças com baixa visão podem perceber também que as
cores têm intensidades diferentes, pela mais fácil percepção de umas do que de
outras.
Posteriormente as crianças estão em condições de perceberem as diferenças ou até
pormenores existentes nas figuras ou objectos com que convivem: as crianças
cegas
apenas pela percepção táctil, as de baixa visão também pelos contrastes de cor.
Nesta
altura já estão preparadas para associar as relações entre os objectos, pela
forma, cor
ou textura.
Nas crianças cegas o tipo de actividades a desenvolver prende-se também com a
necessidade da construção da noção de espaço/ambiente, da permanência do objecto
e
do sistema de interpretação.
A construção da noção de espaço e de permanência do objecto deve ocorrer para
que
a criança adquira a consciência do ambiente que a rodeia, do seu corpo e do
espaço
que este ocupa. Em estreita relação, está a construção da noção do objecto como
elemento que ocupa um espaço físico. Estas aprendizagens fazem-se pela
interacção
com os objectos pelo toque, pelo som e pela relação do corpo com os objectos.
A construção do sistema de significação é proporcionada por acções que simulam
situações ou objectos do uso diário, também aqui se fazem as aprendizagens pelo
toque e manuseio de objectos. A segurança e a tranquilidade que as sensações
produzidas por este tipo de actividades proporcionam ajudam a criança cega a ser
mais receptiva nas actividades que precisa de desenvolver.
As educadoras de infância referiram que para atingir este objectivo, adquirir e
consolidar estas noções, utilizam terapias e desenvolvem actividades que se
baseiam
essencialmente na exploração de objectos com formas, texturas e cores
diferentes.
Promovem com as crianças situações onde estas necessitam encontrar um brinquedo
perdido, em cima de uma mesa – neste caso a actividade é realizada com as mãos,
ou
por baixo da mesa – explorando o espaço com os pés, que podem até estar
descalços,
para que obtenham uma referência à sensibilidade dos pés, ou à volta do seu
corpo, ao lado ou atrás. Depois de encontrado o brinquedo exploram-no
tactilmente,
percebendo a sua forma, tamanho ou texturas que apresentem.
Outra situação que proporcionam às crianças, com a utilização do que chamam de
Painel Táctil, é a de procurar objectos tridimensionais fixos, com fita velcro,
a este
painel ou tapete, que está dividido por espaços delimitados, os objectos estão
em
zonas temáticas, das formas geométricas, dos animais, dos frutos ou utensílios
das
actividades do dia-a-dia, podem também ser organizados por cores ou por
texturas. A
criança procura os objectos removíveis e coloca-os em locais previamente
definidos e
também distintos uns dos outros. Este é um tipo de actividade que pode ser
realizada
tanto por crianças cegas, que recorrem à percepção táctil pela forma e texturas
de que
as figuras dispõem, mas também por crianças com baixa visão, já que os bonecos
são
coloridos, com cores fortes e brilhantes.
Para as educadoras de infância ouvidas esta é uma actividade que ajuda a criança
a
conseguir distinguir formas e tamanhos, textura e cores. A coordenação motora é
favorecida, a motricidade fina é também desenvolvida e ajuda ainda no
reconhecimento de objectos.
Outro tipo de jogo utilizado é o que relaciona figuras geométricas com objectos
do
uso diário das crianças, este já dirigido a crianças com um desenvolvimento mais
adiantado e apurado sensorialmente. É constituído por painéis com desenhos em
relevo de objectos, frutos ou animais, com cores e texturas diferentes, e por
figuras
geométrica “soltas” e que podem ter ou não cores iguais às das figuras dos
painéis, e
que as crianças vão ter que relacionar, segundo a textura, a forma ou a cor.
Este jogo
relaciona e agrupa figuras planas, apesar de os painéis terem os desenhos em
relevo,
mas a brincadeira pode também ser desenvolvida com objectos tridimensionais e
formas geométricas.
As terapeutas referem que esta actividade proporciona à criança a noção de que
os
objectos construídos se podem relacionar com a natureza que a rodeia, que é a
partir
do conhecimento desta que tudo se forma e se cria. Além de que desenvolve a
atenção e a concentração, necessárias para quando se faz o reconhecimento da
forma.
Para crianças mais pequenas, ou com um desenvolvimento sensório motor menos
adiantado, outro brinquedo que se pode utilizar é o móbil, onde devem ser
pendurados objectos que sejam já conhecidos da criança, com cores vivas e
atraentes
ao olhar, colocado no seu campo visual e ao alcance do seu corpo, para que, as
crianças de baixa visão sejam atraídas pelas cores e pelo toque e se sintam
impulsionadas a interagirem com os elementos pendurados no móbil, e as crianças
cegas, ao serem tocadas pelos bonecos sintam vontade e curiosidade de procurar o
que as toca.
É uma actividade que as terapeutas utilizam quando as crianças ainda não se
sentem à
vontade com o toque dos objectos, porque não foram orientadas nesse sentido.
Sensibiliza-as para os objectos com suavidade e leveza, proporciona-lhes
sensações
que podem estimular a curiosidade e a vontade de lhes tocar voluntariamente.
Como
os objectos estão presos a algo, não desaparecem do campo visual ou do alcance
das
mãos, ajuda as crianças com menos mobilidade na exploração desses brinquedos,
porque estão sempre ao seu lado, mesmo quando saem das suas mãos.
As terapeutas referiram ainda a necessidade de dispor de brinquedos que não
associam a nenhuma brincadeira ou jogo previamente definido, mas que consideram
de grande importância para que as crianças contactem com diversos objectos.
As terapeutas mencionam a importância de ter também jogos que as crianças possam
jogar quando estão em escolas ou ambientes com outras crianças, a interacção
entre
elas é uma forma de as crianças deficientes visuais se consciencializarem de que
podem interagir entre todas. Referem ainda a necessidade de haver uma
continuidade
do trabalho que desenvolvem nas instituições, por parte da família, em casa. Por
vezes é aí que o desenvolvimento global da criança atrasa, porque muitas vezes
por
falta de informação, outras por faltas de meios, as famílias não conseguem dar
continuidade ao trabalho por elas desenvolvido. Referem que sentem essa falha
essencialmente quando as crianças regressam após as férias escolares, por vezes
até a
paragem por um fim-de-semana é suficiente para uma desaceleração no seu
desenvolvimento.
Sentem a necessidade de que haja no mercado brinquedos disponíveis e adequados a
estas crianças, para que os seus familiares os possam possuir para com elas
interagir de uma forma saudável e sem receios: de as magoar ou de não saberem
prosseguir o
desenvolvimento dos seus estímulos.
Já foi referido no ponto 2.4 que para as crianças com deficiências visuais
brincar é
uma actividade imprescindível. É também esta a posição das terapeutas e
educadoras.
A interacção que se dá entre a criança cega ou de baixa visão e os que com ela
desenvolvem actividades lúdicas resulta muito positiva para o desenvolvimento
social
destas crianças.
A partilha da afectividade com os objectos ajuda as crianças cegas a
desenvolverem o
seu lado afectivo, uma vez que são muito centradas nelas próprias, ficando assim
mais aptas para desenvolver assa afectividade também com os outros, ao aprender
a
partilhar objectos aprendem também a partilhar afectos.
Ao brincarem as crianças aprendem gradualmente a executar todas as actividades
úteis para a sua vida diária, adquirindo ao mesmo tempo a autonomia necessária
para
as realizarem sozinhas. São as brincadeiras/actividades que as educadoras
propõem
que proporcionam às crianças as competências necessárias para concretizarem no
seu
dia essas aprendizagens. Quanto mais competências desenvolveu a criança, maior é
a
sua facilidade na realização das tarefas desejadas.
Também para a locomoção é importante o jogo e os brinquedos, deslocar-se para
procurar um brinquedo que caiu, ajuda-a a perder o medo do espaço desconhecido,
referem novamente a ideia já transmitida da brincadeira com meio de ultrapassar
os
receios e medos.
É ainda convicção das educadoras de infância que apoiam estas crianças, que ao
brincarem as crianças libertam os seus medos, quer seja do ambiente que as
rodeia,
das pessoas que não fazem parte dos seus dias, ou até dos objectos que usam.
Explicam a opinião com a observação de situações de rejeição ou mesmo repulsa de
objectos desconhecidos que oferecem a estas crianças, que os rejeitam pelo toque
desconhecido da sua textura, especialmente quando esta é um pouco mais agressiva
ou menos suave, fazendo-se notar esta situação nas crianças cegas. Mas ao
brincarem
as crianças seguram inadvertidamente em objectos novos e diferentes daqueles a
que
estão habituadas, não percebem que são experiências novas as que estão a
realizar, ao brincarem adquirem a auto confiança que necessitam para deixar de
sentir medo pelo
desconhecido, sente que não é pela razão de ser desconhecido que o objecto é
mau.
A brincadeira é também uma forma privilegiada para descobrirem o funcionamento
do mundo que as rodeia.
As terapeutas que colaboraram com este estudo e orientaram as reuniões de que se
faz
referência asseguram que a idade da criança pode por vezes conduzir a uma
avaliação
errada das suas capacidades. A presença de síndromes associados ou o grau de
estimulação que lhes foi proporcionado desde bebés são elementos fundamentais
para
uma avaliação das suas competências e desenvolvimento.
Projectar um brinquedo ou um jogo destinado a crianças pode ser um acto
meramente
comercial, onde não é importante a sua contribuição para o desenvolvimento
integral
da criança, da sua inteligência, motricidade, ou até personalidade, onde apenas
interessa fabricar algo que depois de colocado na prateleira das lojas atraia a
atenção
do consumidor e seja um sucesso de vendas, Munari (1968).
No entanto, projectar um brinquedo também pode ser uma questão educativa, útil
para a formação da criança como indivíduo e como cidadão, que construa
referências
para a vida como adulto. Neste caso não deve ser descurada a função que o
brinquedo
ou jogo deverá desempenhar bem como a idade da criança para o qual é destinado.
Porque o conhecimento do mundo se faz através dos sentidos, todas as crianças
necessitam de brinquedos que estimulem esses sentidos e exercitem a sua
coordenação motora. Para satisfazer esta necessidade os brinquedos devem estar
aptos a que a criança olhe, ouça, toque, morda. Numa criança cega esta
estimulação
deve sobrevalorizar o tacto, com o recurso a texturas diversas, e numa criança
de
baixa visão deve estimular o uso da visão que ainda resta, com o recurso a cores
fortes, contrastantes e brilhantes.
Para que o brinquedo seja adequado à criança é então necessário que quem o
desenvolve saiba especificamente o que deve projectar, isto é, deve conhecer as
necessidades das crianças, além de que deve o simplificar e adaptar à idade e
condição física da criança.
O brinquedo deve ainda ser um estímulo para a imaginação e até criatividade da
criança. Ela deve poder criar brincadeiras e funcionalidades adequadas ao
brinquedo,
mas que podem até nem ser as esperadas. O brinquedo que é um todo acabado, não
permite que seja estimulada esta competência.
Ao contactar com um brinquedo uma criança procura através da percepção
descodificar todos os atributos e dar um significado muito próprio a essas
qualidades
encontradas. Por vezes o que desperta a atenção da criança não é o esperado, ou
a
brincadeira que se vai desenrolar não é aquela para a qual o brinquedo foi
pensado,
mas isso não será de importância relevante se o brinquedo cumprir outra das suas
finalidades: contribuir para o desenvolvimento integral da criança.
Especialmente nas
crianças com deficiências visuais essa é uma finalidade deveras importante,
senão
fundamental.
Para que se consiga satisfazer as necessidades específicas de cada um, o design
destes
brinquedos deve ser cuidado e criteriosamente desenvolvido, deve sobretudo ser
capaz de cativar estas crianças para a brincadeira com estes objectos.
Como já foi largamente referido, estas crianças devem ver as suas necessidades
específicas satisfeitas, para que lhes seja possível crescerem e
desenvolverem-se num
ambiente propício e facilitador das suas aprendizagens, gerador de competências.
Assim todo o seu percurso de vida será facilitado. Ao brincar as crianças fazem
a
representação das suas vivências e evocam as suas experiências, organizam e
estruturam o seu pensamento lógico e abstracto, tomam consciência da sua
realidade
como seres actuantes e construtores de uma realidade. Muitas vezes apenas
necessitam que lhes sejam fornecidos os elementos necessários a essa tomada de
conhecimento, que são os brinquedos e os jogos adequados à sua realidade e
condição
física.
A brincadeira é um veículo de socialização para as crianças, especialmente para
crianças com dificuldades visuais pois ajuda-as a interagir com os seus pares.
Já se referiu que brincar faz parte do processo de desenvolvimento e
aprendizagem
para crianças com necessidades especiais, sejam quais forem, e fazê-lo com jogos
e
brinquedos específicos revela-se ainda mais produtivo ao crescimento e evolução
destas crianças. Dar-lhes brinquedos específicos é sem dúvida uma mais-valia,
mas se
esses brinquedos lhes proporcionarem e facilitarem a integração nas brincadeiras
das
crianças sem necessidades especiais será ainda mais interessante, está-se a
fornecerlhes
ferramentas que a vão ajudar a conviver com as pessoas, a explorar objectos,
situações e lugares, isto é a conhecer melhor o mundo.
A existência de brinquedos ou jogos que atendam às necessidades específicas
destas
crianças, mas que simultaneamente sejam adequados a crianças sem qualquer
problema de desenvolvimento e que proporcionem actividades de socialização e
integração, ajudam ainda mais a que as crianças se expressem e exteriorizem as
suas
opiniões e ambições e que aceitem os outros e, ainda mais importante, que sejam
desde cedo aceites pelas outras crianças como iguais em direitos e deveres.
Também
na aceitação e adaptação a novas situações é importante a inclusão e
entrosamento
com outras crianças, a desmitificação da novidade é feita de uma forma
involuntária,
natural, os brinquedos e as brincadeiras são explicadas e vividas de uma forma
positiva, ajudando a que seja adquirida auto-confiança e à vontade perante novas
situações.
Com base no atrás referido, todo a material desenvolvido a pensar em crianças
deve
ser produzido com o objectivo de ser útil às diversas condições de utilização e
níveis
de aprendizagem das mesmas. Quanto mais estímulos estiver apto a oferecer a
nível
visual, táctil, sonoro, etc., mais rico em significação será, e poderá assim ser
generalizadamente utilizado por todas as crianças, portadoras ou não de alguma
deficiência.
Na criação desses brinquedos deve haver alguns critérios a seguir para alcançar
a
desejada eficiência na sua utilização.
No que se refere ao Tamanho, os materiais devem ser confeccionados ou
seleccionados em dimensões adequadas às condições físicas e mentais das
crianças.
Materiais excessivamente pequenos não salientam os pormenores ou perdem-se com
facilidade. O exagero no tamanho pode prejudicar a apreensão da totalidade da
forma.
Especialmente para crianças com problemas visuais o Significado Táctil é um
conceito de importância relevante, mas todas as crianças necessitam desenvolver
a
sua percepção táctil, para isso, o brinquedo deve ter um relevo perceptível e,
tanto
quanto possível, apresentar diferentes texturas. Contrastes do tipo: liso/áspero
ou
fino/espesso, permitem distinções adequadas. O material não deve provocar
rejeição ao manuseio, não deve agredir ou irritar a pele, o que poderia provocar
reacções de
desagrado ou rejeição.
A Estimulação Visual deve ter um papel relevante em objectos desenvolvidos para
a
deficiência visual, mas qualquer criança é atraída por cores vivas, brilhantes e
fortes
ou contrastes. Estes contrastes e estas cores devem obedecer a pressupostos e
regras
que definem o que melhor se adapta às necessidades visuais de cada criança, por
exemplo, as crianças são mais atraídas pelas cores primárias, ou cores puras. A
concepção sensorial das cores também não pode ser negligenciada, a sensação de
volume, de distância ou proximidade, de calor ou frio, são aspectos que ajudam
na
representação do real.
Os modelos, ou representações de modelos, devem reproduzir o real tão fielmente
quanto possível, a Fidelidade é um conceito igualmente importante, ajuda a criar
referências com o mundo visual: com objectos ou seres desconhecidos.
A Facilidade de Manuseio dos materiais deve ser elevada, deve proporcionar às
crianças uma utilização prática e espontânea.
A Resistência dos brinquedos deve ser prevista, são objectos que terão uma
utilização
intensiva, frequente e até descuidada, logo devem ser confeccionados com
materiais
que não se estraguem com facilidade.
Os materiais não devem oferecer perigo para as crianças, a Segurança deve ser
prevista, quer a nível formal, quer na questão dos materiais utilizados na sua
produção.
Este estudo versou sobre a contribuição do design para a existência de uma
sociedade
inclusiva, sobre a forma como pode esta disciplina contribuir para a completa
integração das pessoas com deficiência na sociedade. No final conclui-se que não
são
necessárias grandes mudanças de procedimentos ou que se criem de novas
tecnologias
para se obterem de objectos ou ambientes que integrem estas pessoas.
Agradar ao ser humano e satisfazer as suas necessidades são os pressupostos
pelos
quais se guia todo o processo de design. É importante para quem o desenvolve
estar
atento ao meio ambiente e às pessoas que o habitam, às necessidades e
particularidades de cada um, para que através do conhecimento de todos esses
factos
possam ser desenvolvidos produtos que satisfaçam as funções estabelecidas como
necessárias e para as quais foram projectados, mas que para além disso consigam
ainda estabelecer uma relação positiva com o utilizador.
Todos os objectos devem ser apelativos, devem criar no destinatário a vontade de
interagir com o produto, de o obter. Este princípio torna-se ainda mais
verdadeiro
quando se trata de criar brinquedos para crianças, estas necessitam de se sentir
cativadas pelos “seus pertences”.
A criação de brinquedos, porque são objectos destinados à utilização por
crianças,
deve ser uma tarefa cuidada, delineada e realizada de acordo com os objectivos
definidos e com os projectos organizados através de um processo de design
correctamente estruturado.
No caso concreto, no que se refere aos conceitos do design centrado no
utilizador, os
brinquedos são projectados a pensar nas crianças com deficiência visual, total
ou
parcial, que necessitam que sejam projectados objectos que as ajudem a aumentar
e
enriquecer as suas experiências de vida, a alcançar informações e conhecimentos
que
pela sua deficiência não lhes são intuitivos tal como são para as outras
crianças.
Cada criança possui a sua própria história, patologia ou capacidade interior de
se
desenvolver, que a limita e cria muitas vezes uma ilha à sua volta, mas brincar
permite-lhe interagir de forma agradável e produtiva para o desenvolvimento das
suas
potencialidades e na preparação para a vida adulta.
É importante garantir às crianças cegas ou com baixa visão a interacção com
materiais
e brinquedos que favoreçam a percepção multissensorial, ou seja, um brinquedo
deve
facilitar a percepção da noção de forma, tamanho e cor, ao mesmo tempo que deve
favorecer o desenvolvimento da capacidade de preensão, da coordenação motora, da
motricidade fina e noção de contraste figura/fundo e a noção de
tridimensionalidade
de um objecto.
É nossa convicção que se a criança deficiente visual for estimulada a
desenvolver a
sua sensibilidade e percepção desde pequena, através da utilização do tacto ou
pelo
treino da visão de que ainda dispõe, durante o seu crescimento conseguirá, com
alguma facilidade, construir as estruturas do seu saber de maneira equilibrada.
O
processo de organização e apropriação das suas vivências poderá ser mais lento,
mas a
construção da sua personalidade e a aquisição da noção de objectos ou ambientes
farse-
á sem grandes dificuldades.
Também o conceito de design inclusivo foi um aspecto importante para a concepção
e
construção do design dos brinquedos. Estes devem ser apelativos igualmente a
crianças sem qualquer tipo de deficiência visual, aliás, a qualquer criança,
portadora
de deficiência ou não.
Alcançar a meta da inclusão através da brincadeira parece tarefa fácil, as
crianças
facilmente se integram, mas quando há alguns obstáculos, esta função pode ser um
pouco mais complicada, e a não existência de brinquedos universais é um desses
obstáculos. Todas as crianças se devem sentir motivadas e cativadas pelos mesmos
brinquedos, para que possam usufruir conjuntamente deles.
A interacção da criança deficiente visual com outras crianças será
verdadeiramente
enriquecedora para todas, dá-lhes a possibilidade de desenvolver comportamentos
e
atitudes que as ajudam a encarar e interagir adequadamente com a diferença.
ϟ
excerto de
Design Inclusivo - Um Estudo de Caso: Tocar
para Ver - Brinquedos para Crianças Cega
e de Baixa Visão
Maria Leonor Duarte Pereira
Tese de Mestrado em Design e Marketing:
Área de Especialização em OPÇÃO TÊXTIL
Universidade do Minho -
Escola de Engenharia
Setembro de 2009
Δ
28.Jan.2016
publicado
por
MJA
|