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1. O Professor como Agente Essencial no Processo de Inclusão
O aluno com deficiência visual existe em todos os níveis de ensino e está
inserido nas classes regulares. Esta deficiência traz limitações importantes de
acesso ao conhecimento, assim o uso de recursos tecnológicos e ferramentas
específicas garantem a equiparação de oportunidades ao processo de
ensino-aprendizagem frente aos alunos videntes.
Para que estas oportunidades de acesso e conhecimento sejam garantidas, é
necessário que os professores estejam preparados para o uso desses recursos
diferenciados em sala de aula. Desta forma, o ambiente educacional se torna
inclusivo de fato, com professores preparados e seguros de suas ações
pedagógicas com alunos satisfeitos portando as ferramentas necessárias para o
melhor desenvolvimento acadêmico.
Portanto, neste capítulo será discutida a formação dos professores para o
trabalho voltado para os alunos com necessidades educativas especiais e na área
da tecnologia específica para o aluno cego ou com baixa visão, possibilitando
uma maior reflexão sobre a prática com o objetivo de difundir a importância
desta formação para os profissionais da área de educação.
2. A Formação voltada para o Aluno com Necessidades Educativas Especiais
No Brasil, a discussão sobre a inclusão teve início durante a década de 1990. A
partir daí, começaram os debates relacionados à política de inclusão na escola
regular e consequentemente a formação do professor, agente fundamental no
processo de inclusão.
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
criada pelo Ministério da Educação se refere a inclusão como “uma ação política,
cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo
de discriminação”. (BRASIL, 2008, p. 1).
Muito se tem discutido em relação à formação do professor. Este profissional é o
elemento-chave no processo de inclusão e deve ter sua formação focada no
assunto. O conhecimento adquirido precisa estar de acordo com a realidade vivida
para fazer sentido. A preparação do professor necessita ser coerente para que o
conhecimento teórico seja de fato aproveitado na prática, para que o processo de
inclusão seja efetivo para o aluno em termos de aprendizagem.
A inclusão, agora tão comentada na escola, dá oportunidade de educação a todos.
Propõe uma nova perspectiva à escola e faz com que os profissionais da área de
educação assumam a função de gestores da educação (Candau, 1997), sendo
fundamental a formação desse profissional de maneira mais pontual, centrada e
específica.
Em relação à inclusão e a educação especial, foram implementadas políticas de
formação de professores para o atendimento deste público em especial. Assim, a
Resolução CNE n.02/2001 apresenta dois tipos de professores para trabalhar com
as necessidades educativas especiais: os capacitados e os especializados
(Brasil, 2001). Neste mesmo documento é definido as competências de cada um
desses profissionais.
Os professores capacitados são aqueles que trabalham em salas de aula regular
com o aluno com necessidades educacionais especiais e que comprovadamente
tiveram a formação específica em educação especial no nível médio ou superior.
As competências esperadas do professor capacitado segundo a Resolução CNE
n.02/2001 (Brasil, 2001, p. 5) são:
“perceber as necessidades educacionais
especiais dos alunos e valorizar a educação inclusiva; flexibilizar a ação
pedagógica nas diferentes áreas de conhecimento de modo adequado às necessidades
especiais de aprendizagem; avaliar continuamente a eficácia do processo
educativo para o atendimento de necessidades educacionais especiais e atuar em
equipe, inclusive com professores especializados em educação especial.”
Como a formação dos professores capacitados pode ser realizada tanto a nível
médio como superior, a qualificação destes pode ser feita através de disciplinas
específicas que contemplem as necessidades educativas especiais, preparando este
profissional para exercer as competências a ele destinadas junto ao aluno com
deficiência.
Os professores especializados planejam e organizam as dinâmicas pedagógicas que
serão desenvolvidas pelos professores capacitados que atuam junto aos alunos com
necessidades educativas especiais. A formação dos professores especializados
deve ser em nível superior ou em especialização segundo a LDBEN (Brasil, 1996).
São considerados professores especializados aqueles que identificam as
necessidades educacionais especiais, definem e implementam estratégias
pedagógicas relacionadas a flexibilização e adaptação curricular, a criação de
alternativas para o atendimento dessas especificidades e apoio ou orientação ao
professor capacitado que atua nas classes regulares inclusivas.
Para atuar como professor especializado em educação especial, o profissional
deve segundo a CNE 02/2001 (Brasil, 2001, p. 5), ter “formação em cursos de
licenciatura em educação especial ou em uma de suas áreas, preferencialmente de
modo concomitante e associado à licenciatura para a educação infantil ou para os
anos iniciais do ensino fundamental; complementação de estudos ou pós-graduação
em áreas específicas da educação especial, posterior à licenciatura nas
diferentes áreas de conhecimento”.
Esta mesma resolução ressalta que a formação do professor poderá ser feita de
forma continuada quando estes profissionais já se encontram atuando, e que esta
é de responsabilidade dos municípios não tendo o número de horas
pré-estabelecido.
De acordo com Garcia (2004), a resolução CNE 02/2001 define o trabalho que deve
acontecer nas escolas. Com a política de inclusão, os professores especializados
devem estar dentro das escolas orientando o que deve ser aplicado ao aluno com deficiência ou necessidade educativa especial
pelo professor capacitado.
O Ministério da Educação desenvolve a formação de professores para a educação
inclusiva junto aos municípios. A idéia é formar multiplicadores que desenvolvam
ações com o objetivo de modificar o sistema educacional no país, tornando-os, de
fato, inclusivos. Correia (2004) destaca que a política de inclusão não se trata
apenas de inserir indivíduos com deficiência na rede regular, ela se constitui
como uma “ideologia” a partir do recebimento de todos os alunos e suas
individualidades no ambiente educacional.
Para Lück (2014), deve-se reforçar a necessidade que alguns alunos têm à atenção
diferenciada e a responsabilidade do professor com sua formação e sua
competência na forma com que cada aluno aprende, pois os recursos diversificados
existentes para uso em sala de aula são apenas instrumentos que podem melhorar a
dinâmica de ensino, mas essa potencialidade está intimamente ligada a forma como
esta é utilizada na aprendizagem do aluno. A formação dos professores está
focada para o ensino de indivíduos uniformes, mas a escola que queremos é aquela
preparada para as diferenças, as individualidades dentro de um mesmo grupo.
Pesquisas referentes à educação vêm sendo desenvolvidas frequentemente. Uma
delas, relacionada à qualidade da educação nos países da América Latina de
Carnoy (2009), apresentou as características das práticas pedagógicas que
promovem êxito na aprendizagem dos alunos. Essas práticas de sucesso são bem
planejadas, ativas mantendo a atenção dos alunos, orientadas e passíveis de
possíveis ajustes, com bom gerenciamento de tempo e inclusivas.
Já no Congresso Internacional Icsei 2013 (ICSEI, 2013) foi afirmado que, dentre
outras condições, o fato dos professores serem mais seguros e confiantes promove
maior respeito por parte dos alunos. Para que o profissional esteja seguro
diante das situações diversas que a rotina escolar apresenta, é necessária
formação específica e continuada.
Importante que a formação dos professores que pretendem trabalhar com alunos com
deficiência se dediquem às potencialidades destes alunos. Isto garante a
transformação do papel da escola e do professor envolvido neste tipo de relação
de ensino-aprendizagem, seja ele professor capacitado ou especializado.
3. A Formação em Tecnologias Específicas ao Aluno Cego ou com Baixa Visão
Houve um tempo em que os deficientes visuais só podiam contar com o Sistema
Braille para o acesso a leitura e escrita. Este sistema ainda é utilizado e
considerado de fundamental importância para os alunos cegos assim como os
materiais ampliados e com alteração de contraste e cor são importantes para quem
tem baixa visão. No entanto, a escola não pode mais se defender das inovações
disponíveis e necessita estar aberta para um mundo de máquinas e recursos que
vão muito além dos livros didáticos. A escola precisa ser de emancipação,
precisa ser uma escola de qualidade para todos e a tecnologia é um bom meio de
se chegar a esse objetivo.
Como afirma Kearsley (1996, p.4), “se queremos ver a tecnologia ter mais impacto
nas escolas e nas organizações de treinamento, precisamos ter como nossa
principal prioridade a preparação de bons professores.”
Um dos problemas enfrentados pelos professores é que eles recebem atualmente a
mesma formação de décadas atrás, sendo pouco ou nada preparados para o uso das
tecnologias educacionais. Esta discussão é antiga, mas mantém-se atual no
sentido do problema não ter sido sanado mesmo nos dias atuais.
“O professor, na maioria das vezes, é preparado para o ensino de ontem e não
para o de amanhã, e se por acaso for preparado para o ensino de amanhã, logo se
verá impedido de utilizar o seu preparo ao deparar-se com a realidade de seu
primeiro emprego. A partir de então seu crescimento profissional é, na melhor
das hipóteses, problemático. (...) É claro que os sistemas não se modernizarão
sem que todo o modo de formação de professores passe por uma completa revisão,
dinamizado pela pesquisa pedagógica, torne-se intelectualmente mais rico e
estimulante, e vá além da formação pré-serviço, para tornar-se uma contínua
renovação profissional para todos os professores.” Coombs (1976, p.238).
É necessário que se forme o professor da maneira que desejamos que seja sua
atuação. Preparar estes profissionais através de recursos convencionais para o
trabalho com novas tecnologias não parece funcionar bem. Adequar realidade e
formação são um desafio que precisa ser discutido, avaliado e proposto a fim de
garantir o trabalho mais seguro e adequado por parte do professor e um
aprendizado mais efetivo pelo aluno.
Dessa forma, a formação do professor deve ser prático e instrumental para que
ele seja capaz de melhor lidar com as tecnologias e com alunos que
historicamente foram excluídos do ambiente escolar. A formação do professor no
uso das tecnologias educacionais específicas para o aluno deficiente visual é
necessária e urgente. O professor é o agente fundamental no processo de inclusão, é o gestor da educação e sua formação, segundo propõe o governo
brasileiro, deve ser utilitarista e baseada na prática. (Michels, 2006) A
formação do professor para a educação especial é o elemento essencial para a
mudança da escola que se deseja inclusiva.
“Cabe à escola não só assegurar a democratização do acesso aos meios técnicos de
comunicação os mais sofisticados, mas ir além e estimular, dar condições,
preparar as novas gerações para a apropriação ativa e crítica dessas novas
tecnologias. É função da educação formar cidadãos livres e autônomos, sujeitos
do processo educacional: professores e estudantes identificados com seu novo
papel de pesquisadores, num mundo cada vez mais informacional e informatizado”.
Belloni (1995, p.143)
O uso das tecnologias educacionais exige formação específica para que o
professor seja capaz de criar estratégias de uso e avaliar o trabalho realizado
simultaneamente, transformando o ambiente educacional em um espaço mais dinâmico
e prazeroso para todos os alunos independente de suas necessidades individuais.
Assim, a escola será aquela que desejamos, onde o professor tem uma formação
inicial e continuada e os alunos sejam preparados para se tornar cidadãos
autônomos frente ao conhecimento proposto e os recursos disponíveis. Não existe
como o professor resolver situações complexas sem uma formação adequada, no
entanto o saber utilizar os recursos tecnológicos educacionais o faz desempenhar
sua função de maneira mais criativa e interessante.
Existem pesquisas que colocam a tecnologia como elemento chave de uma nova
pedagogia. (Pretto, 1996). Sua inserção na sala de aula deve ser crítica e
reflexiva, utilizada como um meio facilitador que exige preparo do professor em
sua técnica de ensino e planejamento.
Para Borges (2002), professor do Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ
responsável pela criação do Sistema DosVox, deve-se promover treinamentos e
produzir publicações na área da tecnologia específica para o deficiente visual
para que este assunto seja amplamente divulgado e de conhecimento do abrangente.
Ele ressalta que a tecnologia existe e é de simples aplicação, sendo necessário
o domínio de uso por parte dos envolvidos na utilização dos recursos,
viabilizando melhor aproveitamento das ferramentas disponíveis. Os deficientes
visuais necessitam de uma educação adaptada à sua realidade e o uso das
tecnologias pode diminuir as barreiras existentes durante este processo.
A formação específica do professor para o trabalho com tecnologias educacionais
é importante para os alunos deficientes visuais e sua relação com os
profissionais regentes. Segundo (Borges, 2002) a execução e avaliação das
atividades propostas podem ser realizadas de maneira muito similar para os
alunos cegos e videntes com o auxílio do computador.
Quando não existe formação, uma parcela do potencial de uso do computador se
perde. Muitos recursos não são utilizados e o acesso pleno a ferramenta pode ser minimizado levando o aluno ao uso incorreto ou fragmentado
dos programas disponíveis.
Barreto (2004) afirma que o trabalho docente vem sendo “reconfigurado” a medida
que as tecnologias se tornam presentes no dia-a-dia escolar, sendo este fato
motivo de discurso freqüente na área pedagógica.
Para Santarosa (2007), As tecnologias podem ser as mediadoras que facultam o
desenvolvimento humano. Neste sentido, o uso das tecnologias em sala de aula tem
um papel significativo, mas para que este recurso seja de fato uma ferramenta
facilitadora do aprendizado e da comunicação na escola, os alunos precisam saber
utilizá-lo com autonomia e os professores estarem aptos a desenvolver seu
trabalho com o recurso específico, do contrário, o computador será apenas uma
máquina sem grande utilidade. A formação específica é o que dá oportunidade ao
aluno e ao professor de aproveitar ao máximo os mecanismos existentes com
autonomia e a garantir a igualdade nas situações de aprendizagem na escola,
evitando circunstâncias onde o deficiente visual para ter acesso a qualquer
conteúdo dependia de uma pessoa, geralmente um voluntário ou parente, para a
realização de leituras diversas.
Para o deficiente visual, o uso da tecnologia a partir de recursos sonoros é a
base para o contato com o mundo virtual e todas as alternativas e oportunidades
de conhecimento que ele pode oferecer. No entanto, pelo menos a principio, esses
alunos precisam de profissionais capacitados para ensinar o manuseio das
ferramentas disponíveis. É o professor que irá apresentar e favorecer o uso da
tecnologia por esses alunos. É na escola, principalmente no atendimento
educacional especializado, que esses alunos se tornarão autônomos frente ao
recurso tecnológico. É a partir dos ensinamentos de um professor com formação em
tecnologia específica para o deficiente visual que os alunos cegos ou com baixa
visão terão a chance de usufruir do computador, do mundo virtual e de todas as
possibilidades que este cenário oferece.
Pesquisa recentemente apresentada a cerca dos desafios da formação de
professores para o uso das tecnologias assistivas com a deficiência visual
(Pretti et al, 2014), afirma que uma das maiores dificuldades com alunos deficientes visuais na sala regular é a falta de formação dos professores. Nos
resultados da pesquisa, foram relatadas que a resistência ao uso das tecnologias
tem íntima relação com o entendimento referente à deficiência e as mudanças nas
práticas pedagógicas comumente utilizadas. Essa resistência, segundo a pesquisa,
se dá pela falta de conhecimento no assunto, pelo não entendimento das questões
tanto tecnológicas como da própria deficiência, pelo não saber como proceder a
frente a situações tão específicas.
O acesso à aprendizagem pelos alunos com deficiência visual, segundo Santos
(2007), é limitado. Para que esta aprendizagem seja realizada de forma efetiva,
com diminuição das barreiras impostas pela deficiência, é necessário
planejamento e uso de recursos alternativos.
A formação do professor deve se apropriar dos novos saberes e técnicas, e estas
devem ser inseridas nas instituições de ensino de modo a equiparar as
oportunidades para todos os que estão inseridos no processo de
ensino-aprendizagem. É a partir do conhecimento, do domínio das novas
tecnologias, que a educação desses alunos se tornará mais autônoma. O desafio é
ter profissionais capacitados para o trabalho qualificado com os alunos
deficientes visuais.
4. Barreiras na Formação dos Professores
Para Guevara e Rosini (2008), a formação do professor para a utilização dos
computadores, quando realizada de forma adequada, auxilia na melhor prática
educativa, provendo não somente informação, mas conhecimento. Mas, segundo
Campelo (2010), as instituições de ensino que formam professores, em sua
maioria, mostra maior interesse e preocupação em manter a questão técnica e
deixam o a parte pedagógica em segundo plano.
O modelo de ensino conservador também reflete na formação do professor atual
frente às novas tecnologias. Torna-se necessário que este profissional reconheça
os atuais recursos como um facilitador no processo de ensino-aprendizagem,
sabendo que se utilizada com adequação, favorece e contextualiza o conteúdo auxiliando para todos. Neste panorama, torna-se
necessária mudança de paradigma educacional, onde o professor se atualize e
reconheça a tecnologia como um recurso disponível a seu favor. Moura e Santos
(2012).
Propostas já existentes na formação de professores em tecnologia para o aluno
deficiente visual foram discutidas anteriormente nas ações promovidas pelo
Ministério da Educação (MEC), mas estas ainda não atendem a todos, sendo ainda o
início de trabalho que deve ser ampliado.
ϟ
excerto de
FORMAÇÃO DE PROFESSORES: TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA O ALUNO DEFICIENTE VISUAL
Angela de Oliveira Antelo Tesch
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
Área de Especialidade Educação e Tecnologias Digitais
Dissertação Orientada pelo Professor Doutor Fernando Antônio Albuquerque Costa
INSTITUTO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE DE LISBOA
2015
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