

imagem: FRAGILE - Projecto
europeu VoArte - é um encontro de dois mundos onde bailarinos e intérpretes com deficiência visual procuram desenvolver uma linguagem comum, enquanto exploram a sua própria voz individual.
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RESUMO | O objetivo geral deste estudo foi caracterizar o nível de
Equilíbrio (Eq) de indivíduos com Deficiência Visual (DV),
nomeadamente com cegueira (CG) e baixa visão (BV),
relacionando-a com a prática de atividade física,
preferência manual (PM), preferência podal (PP),
prematuridade e curso de Orientação e Mobilidade. O género e
a idade serão igualmente analisados. A amostra foi
constituída por 23 crianças e adolescentes com deficiência
visual, com idades compreendidas entre os 9 e os 18 anos,
praticantes e não praticantes de atividade física regular.
Esta análise será realizada através da aplicação da “The
Berg Balance Scale” ,na versão traduzida e adaptada para a
língua portuguesa. A PM será avaliada através do “Inventário
de Preferência manual de Edinburgh (modificado)” e a PP
através do Questionário de preferência podal de Porac e
Coren. Os resultados revelaram relativamente ao Eq
diferenças estatisticamente significativas entre o tipo de
DV, os sujeitos com BV obtiveram resultados superiores,
assim como no possuir o curso de Orientação e Mobilidade,
onde os sujeitos sem curso de orientação e mobilidade obtido
melhores resultados.
INTRODUÇÃO
Em 2001 havia 636 059 pessoas com deficiência em Portugal
das quais 163 467 tinham deficiência visual (DV),
representando mais de um quarto da população com deficiência
(4).
O desenvolvimento da criança cega, em termos posturais e
de deslocamento, é mais lento que o da criança normovisual
(5). Assim quando a estimulação da criança cega não é
precoce, a coordenação motora, tónus e o equilíbrio (Eq)
estático e dinâmico são afetados (6).
A capacidade de manter o corpo em Eq quando este sofre
alguma perturbação é designada por estabilidade postural (7,
8). A manutenção do Eq estático e dinâmico em sujeitos com
DV ou normovisuais é feita através da visão (cerca de 80%)
(9), pois esta processa e integra os feedbacks ambientais e
escolhe a melhor estratégia para manter o Eq (10).
Shumway-Cook e Woollacott (8) afirmam que a estabilidade
postural é mantida através de 3 sistemas.
O sistema visual (dá a relação ambiente-corpo e
vice-versa), sistema vestibular (fornece informação sobre a
gravidade) e o sistema proprioceptivo, (recolha da
informação relativa ao tipo de superfície de apoio). Quando
um destes sistema se encontra comprometido, ocorre um
deficit na estabilidade postural. Schmid et al. (10),
Giagazoglou et al. (11) compararam o Eq entre normovisuais e
sujeitos com baixa visão (BV), verificando que a visão
residual existente pode levar ao aumento da oscilação
corporal e postura.
A capacidade de manter-se equilibrado neste estudo provou
que os CG tinham melhores desempenhos do que os normovisuais
vendados. Skaggs e Hopper (12) sugerem que a baixa
performance motora dos sujeitos com DV deve-se não só à
ausência de input visual mas também à falta de oportunidades
de interagir com o meio. Contudo num estudo realizado por
Çolak et. al.(13) em praticantes e não praticantes de
goalball, os parâmetros avaliados foram EQ, força de
apreensão, flexibilidade, salto vertical pico de torque,
tendo os resultados demonstrando que os sujeitos praticantes
obtiveram melhores resultados do que os não praticantes.
A preferência lateral é definida por o uso assimétrico
dos membros ou sentidos, sendo a PM a mais estudada, apesar
de verificar-se assimetrias também nos pés, olhos e ouvidos
(14). Esta é estabelecida na infância, onde será definido
que lado terá mais força, precisão e agilidade (15) Cratty e
Sams (16) concluíram que a idade média do desenvolvimento da
lateralidade numa criança com deficiência visual rondava os
9 anos. No entanto, sugeriram que se uma criança tiver o
devido treino, poderá ter o desenvolvimento da lateralidade
eficazmente aos 7 anos.
A PM de um sujeito é construída com base em vários
fatores tais como: a prática, a aprendizagem, a experiência
(17), assim como as pressões sociais e o ambiente a que
esteve exposto na infância (18). Peters (19) menciona que o
pé preferido é usado para atividade de manipulação de
objetos enquanto que o pé não preferido é utilizado para
suporte postural.
Não foram encontrados estudos sobre a PP na DV. Assim, o
objetivo geral deste estudo foi caracterizar o nível de Eq
de indivíduos com DV, nomeadamente com CG e BV,
relacionando-a com a prática de atividade física, a PM, PP,
nascimento prematuro e detenção do Curso de Orientação e
Mobilidade (COM).
METODOLOGIA
Amostra
Participaram neste estudo 23 crianças de ambos os sexos
entre os 9 e os 18 anos (14,83±2,44) com deficiência visual,
nomeadamente baixa visão e cegueira, praticantes e não
praticantes de atividade física (ver tabela 1 abaixo). Foram
excluídos todos os sujeitos com outra deficiência associada
ou défice cognitivo.

Procedimentos
A recolha de dados foi feita na escola que os sujeitos
frequentavam e todos os responsáveis pelas crianças
assinaram um termo de consentimento, o qual explicava os
procedimentos e objetivos do estudo. Todos os testes
decorreram de forma individual, em locais com condições
desejáveis para o efeito, nomeadamente em termos de
segurança e barulho possibilitando assim bons níveis de
concentração.
Após a recolha dos dados procedeu-se ao estudo e
tratamento da informação recolhida.
Instrumentos
O Questionário de Preferência Podal (3), consiste em 5
itens relativos a atividades simples, unipodais, da vida
diária. Em cada item, o participante responde ao avaliador
se utiliza o pé direito, o pé esquerdo ou se não tem
preferência por qualquer deles para realizar as tarefas que
estão descritas no questionário.
O Inventário de Preferência Manual de Edinburgh
(modificado) proposto por Oldfield (2), foi utilizado para a
avaliação da PM. A versão original é constituída por 20
perguntas e a modificada por 10 relacionadas com as
atividades quotidianas do sujeito. A versão modificada
contém as seguintes atividades: “lançar”, “usar a escova dos
dentes”, “usar a colher”, “abrir uma caixa”, “abrir a tampa
de uma garrafa”, “usar o garfo”, “usar o pente”, “levantar
pesos leves”, “abrir/fechar o casaco”, “segurar uma
caneca/copo”.
A Escala de Equilíbrio de Berg (1) é constituída por 14
tarefas, onde cada uma é pontuada de 0 a 4, de acordo com o
desempenho do sujeito na tarefa. Na pontuação 0, o
participante é incapaz de fazer a tarefa solicitada ou
necessita de máximo auxílio para sua execução, e a pontuação
4 mostra que o participante é capaz de completar a tarefa
sem dificuldades, conforme solicitado. A pontuação máxima do
teste é de 56 pontos (1).
Na tarefa 5 para além da explicação verbal dada aos CG,
foi dada a possibilidade de palpação de forma a facilitar a
localização da cadeira.
Na tarefa 9 foi substituído o objeto (sapato) por um
novelo de lã, pois é de mais fácil apreensão tendo em conta
o tipo de população.
Procedimentos estatístico
O tratamento estatístico foi precedido pela análise
exploratória de dados que garantiu a normalidade da
distribuição através do teste de Shapiro-Wilk.
Posteriormente, utilizou-se o t teste de medidas
independentes para efetuar as comparações do Eq entre os de
DV (BV e CG), prática desportiva (P, NP), COM, sexo,
prematuridade. A análise estatística foi realizada por meio
do software estatístico SPSS, versão 21.0. O nível de
significância assumida foi de p <0.05.
RESULTADOS
Na tabela 2 (abaixo) é apresentado o estudo estatístico descritivo
e inferencial do Eq, sexo, tipo de DV, prática desportiva
com curso de Orientação e Mobilidade (COM) e prematuridade.

DISCUSSÃO de
resultados
O primeiro objetivo foi verificar diferenças entre o tipo
de DV e o Eq. Os resultados da T-teste de medidas
independentes revelaram diferenças estatisticamente
significativas entre os dois grupos avaliados (t (21)
=4,264; p <0,001). O grupo com BV obteve um resultado mais
elevado (48,2±13,31) do que o grupo com CG (40,78±5,10). O
t-teste não revelou diferenças significativas entre prática
e não prática (t(21)=0,851; p=0,404). Contudo existe
diferenças significativas entre o Eq e os sujeitos com COM
(t(21) = -2,714 p=0,013) sendo que os sujeitos que não
tinham COM os que obtiveram resultados mais elevados
(48,40±3,27) do que quem tem (42,92±5,68) No t-teste também
não foi observado qualquer relação entre Eq e sexo
(t(21)=0,718; p=0,480). A relação entre Eq e prematuridade
também não foi observada (t(21)=0,288; p=0,219). Como não
houve nenhum sujeito SIN não foi possível verificar a
possibilidade de lateralidade cruzada mão-pé entre SIN e
DES. Também não foi possível avaliar a relação entre a PP e
Eq pois apenas um dos sujeitos tinha PP esquerda.
O principal objetivo do nosso estudo foi verificar se
havia relação entre o tipo de DV e o Eq, o qual foi
confirmado no nosso estudo. Sendo que os sujeitos com BV
apresentaram melhor Eq do que os com CG. Os resultados
obtidos vêm ao encontro dos resultados obtidos por
Figueiredo e Iwabe (20), Rodrigues (21). Contudo no estudo
Houwen e Visscher (22), os autores não obtiveram diferen ças
significativas entre as crianças com CG e BV.
Outra das relações estabelecidas através do nosso estudo
foi a relação entre Eq e COM. No nosso caso, os resultados
foram favoráveis para os sujeitos sem COM. O COM é
normalmente lecionado nos sujeitos com CG, contudo, na nossa
amostra os sujeitos com BV também o possuíam. No caso das
crianças com BV, o COM apenas foi ministrado nos casos onde
a perda de visão é progressiva e a cegueira é uma
possibilidade. Os sujeitos que não tinham COM tiveram um
desempenho melhor no Eq. A visão ajuda o corpo a orientar-se
no espaço, indicando onde o pé pode pousar com segurança a
fim de conseguir o controlo, deste modo a cegueira
influencia negativamente o Eq da criança (23). A importância
de ter referências visuais para a manutenção do Eq pode ser
comprovada quando normovisuais perdem a visão
momentaneamente, uma vez que há o aumento das oscilações
corporais (11). Portanto apesar da visão nos sujeitos com BV
estar comprometida, a visão residual fornece pistas sobre o
meio ambiente que ajudam na manutenção do Eq.
Outro dos objetivos principais era avaliar a PP,
relacionando-a com a PM e Eq. As possíveis relações não
foram possíveis avaliar no nosso estudo pois apenas um dos
sujeitos tinha PPE. Contudo, foi recolhido o pé escolhido
para o Eq estático durante a tarefa nº14 da EEB, e apenas 6
das 23 crianças e adolescentes escolheram o pé direito como
preferido. Sendo curioso observar que um dos 6 sujeitos que
escolheu o pé direito como preferido foi o sujeito com PP
esquerda. O facto de não haver nenhum SIN na amostra
contradiz os resultados obtidos por Caliskan and Dane (24)
onde os autores concluíram que havia mais SIN com DV do que
em normovisuais. Sendo assim impossível avaliar diferenças
no Eq, prática desportiva, COM, género e prematuridade em
SIN e DES e sujeitos com PP esquerda e direita. Quanto à
relação entre género e Eq não foi encontrada nenhuma relação
estatisticamente significativa.
A relação entre Eq e prática desportiva não foi
estatisticamente significativa, apesar de haver bastantes
praticantes de desporto na amostra (n=17). Os nossos
resultados vêm contradizer os resultados obtidos por Çolak,
Bamaç (13). Contudo é necessário fazer-se notar que todos os
sujeitos da amostra frequentavam aulas de educação física na
escola e praticaram desporto como atividade extra-curricular
no passado. Houwen, Visscher (22) sugerem que a prática
desportiva pode ajudar no desenvolvimento motor assim como o
desenvolvimento motor ajuda na prática desportiva.
A falta de diferenças entre os géneros não corrobora os
resultados obtidos em outros estudos (25, 26) onde foi
encontrada uma relação entre os sexos. As crianças do género
feminino obtiveram resultados superiores aos seus pares do
sexo masculino no Eq. Estes resultados devem-se ao facto de
as raparigas tenderem a participar mais em jogos recreativos
do que os rapazes, como macaquinho chinês, estátua, macaca,
saltar à corda entre outros (26). No nosso estudo a relação
poderá não ter sido verificada devido à proporção género
masculino ser maior do que a do género (n=14 e n=9
respetivamente). Não foi possível também verificar a relação
entre prematuridade e Eq uma vez que o n de prematuros foi
bastante inferior ao n dos não prematuros.
Sugerimos que nos futuros estudos reúnam uma amostra
maior para que possa ser verificada as relações entre Eq e
género, e PP e Eq assim como a relação entre PP com PM e DV.
CONCLUSÃO
A relação entre DV e Eq foi verificada neste estudo. As
relações Eq e prática desportiva, assim como Eq e género, e
prematuridade e Eq não foram estatisticamente
significativas.
A PP e a relação com a PM não foi possível ser analisada
assim como a relação PP e Eq.
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'Equilíbrio em crianças e jovens cegos e de baixa
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Diana Rocha (1);
Olga Vasconcelos (1);
Paula Cristina Rodrigues
(1) (2). (1) Lab. de Aprendizagem e Controlo Motor, CIFI2D, Faculdade
de Desporto da Universidade do Porto [PT] (2) RECI -
Research in Education and Community Intervention - Instituto
Piaget [PT] in "Estudos em Desenvolvimento Motor da
Criança VIII" editores: VITOR P. LOPES e CELINA GONÇALVES
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO do INSTITUTO POLITÉCNICO DE
BRAGANÇA 2015
Δ
14.Nov.2017
publicado
por
MJA
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