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 SOBRE A DEFICIÊNCIA VISUAL

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A Audiodescrição na Escola

Lísia Michels & Mara Silva

-excerto-

 

Resumo: A audiodescrição é uma técnica que descreve cenas ou imagens, traduzindo o visual em palavras para pessoas com deficiência visual. Este artigo procura trazer algumas reflexões sobre a necessidade do uso desta técnica em ambientes educacionais, em nível de Educação Básica ou Ensino Superior, considerando-a uma tecnologia assistiva necessária para a atual inclusão educacional.

 

O Uso da Audiodescrição nos Espaços Educacionais

Diante da falta de rigor, em cumprir com a legislação estabelecida do uso da audiodescrição em termos sociais, daremos ênfase ao uso desta técnica nos espaços educacionais.

Considerando que a escola é um espaço de construção de saberes e de formação de cidadãos, no qual se encontra uma diversidade de alunos, entre eles, alunos com deficiência visual, e nela há uso de vídeos, figuras e imagens, apresentações culturais em diversos momentos, é importante destacar a necessidade da implantação dos recursos de audiodescrição.

De acordo com Silva (2015) essa técnica, mesmo sendo necessária para que o conhecimento atinja a todos, não está presente nas escolas.

[...] o recurso da audiodescrição, considerada uma forma de acessibilidade para os alunos com deficiência visual são pouco encontrados nas escolas regulares que possuem alunos com deficiência visual. Na maioria das escolas, os vídeos educativos não possuem audiodescrição ou professores com formação continuada em audiodescrição para que possam orientar e auxiliar os professores do ensino comum diante dessas situações (SILVA, 2015, pag. 05).

Com a inclusão de alunos com deficiência nas escolas regulares, após a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – PNEE-EI (2008), as escolas se mobilizaram para se adaptarem para o recebimento desses alunos. Desde então, o Ministério da Educação começou a implantar nas escolas o Atendimento Educacional Especializado, destinado aos alunos com algum tipo de deficiência. Os professores especialistas na área da Educação Especial atuam nesta complementação do ensino e necessitam ter conhecimentos para atuarem com alunos com deficiências variadas. Os professores que atuam no Atendimento Educacional Especializado com os alunos com deficiência visual, necessitam estar preparados para trabalhar diversas técnicas e para isso, são necessárias capacitações. De acordo com Silva (2015):

As capacitações aos professores especialistas envolvem: Escrita Braile, Soroban, Orientação e Mobilidade, Atividades de Vida Diária, Informática, Reeducação visual entre outras que auxiliam estes a complementar o processo de aprendizagem dos alunos cegos ou com baixa visão (SILVA, 2015, pag. 07).

Ao investigar a oferta de cursos de capacitação o Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual - CAP, um dos responsáveis em capacitar esses professores, ressalta que a técnica em audiodescrição, não faz parte dos conteúdos programáticos, deixando lacunas para a complementação dos professores especialistas na área da deficiência visual. Visto que, os professores especializados nas escolas regulares têm como uma das suas funções, orientar demais professores, sobre meios de adaptação curricular, adaptação de materiais e meios pedagógicos para que desenvolva as funções psicológicas superiores dos alunos com deficiência. Assim, orientar estes profissionais sobre o uso de vídeos, imagens e figuras, se torna essencial para que aluno com deficiência visual complemente seus conhecimentos, e para que essa meta seja cumprida, o uso da audiodescrição, precisa fazer parte do conteúdo programático dos cursos de capacitação desses professores.

Parece que descrever figuras, cenas e imagens, principalmente em momentos na sala de aula, é algo fácil. No entanto, há que se ter alguns cuidados, pois sendo uma técnica ou tecnologia assistiva, em que se realiza uma tradução visual, requer estratégia e procedimentos especiais, para que possibilite a pessoa com deficiência visual uma forma de aprender ou conhecer, no mesmo patamar que as pessoas videntes.

Para Lima (2011), a tradução visual na forma de audiodescrição pode ser considerada uma tecnologia assistiva, pois:

[...] consiste em uma atividade que proporciona uma nova experiência com as imagens, em lugar da experiência visual perdida (no caso de pessoas cegas adventícias), e consiste em tecnologia assistiva, porque permite acesso aos eventos imagéticos, em que a experiência visual jamais foi experimentada (no caso das pessoas cegas congênitas totais). Em ambos os casos, porém, é recurso inclusivo, à medida que permite participação social das pessoas com deficiência, com igualdade de oportunidade e condições com seus pares videntes (LIMA, 2011, p. 09).

Nesta perspectiva, a audiodescrição sendo uma tecnologia assistiva em que se realiza uma tradução visual, se torna uma técnica inclusiva, a qual deveria ser utilizada também nas salas de aula da educação básica, bem como no ensino superior. Neste sentido, percebe-se a grande relevância da presença urgente do uso da audiodescrição na educação, merecendo cobranças por meio de legislações, não apenas com ênfase nas cobranças desta técnica nas redes de televisão, visto que esta é de suma importância para as pessoas/alunos que estão desenvolvendo suas funções psicológicas superiores, por meio de todas as formas e meios construídos ao longo dos processos históricos socialmente construídos.


Considerações Finais

Diante do exposto, percebe-se que há leis e decretos que são formulados e reformulados, em relação ao uso da audiodescrição em diversos ambientes de lazer, social e educacional no contexto brasileiro. No entanto, a aplicabilidade destas legislações tem sido pouco efetivada e fiscalizada, o que ainda marginaliza as pessoas com deficiência visual em relação à inclusão, tanto social como educacional.

Assim, percebe-se que em diversos momentos da aplicabilidade de legislações brasileiras, iniciou-se em âmbito educacional, o que não poderia ser diferente com o uso da técnica da audiodescrição, a qual é considerada uma tecnologia assistiva, que amplia as possibilidades de acesso aos conhecimentos e oportuniza o acesso aos processos históricos acumulados socialmente e culturalmente pelos indivíduos, por meio de figuras, imagens e cenas de filmes utilizados na educação básica ou universidade.

Para concluir, sugerimos que nos programas de formação continuada de professores, seja incluído a audiodescrição, para que os professores tenham condições de fazer a leitura desse mundo imagético e também ensinem seus alunos a fazer esta leitura de imagens, cenários, gráficos, mapas, entre outros.

FIM

 

AUTORAS:
Lísia Regina Ferreira Michels é Doutora em Educação: Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2007). Atualmente é professora da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: educação inclusiva, educação especial, desenvolvimento humano e formação de professores. E-mail: lisia.michels@uffs.edu.br.
Mara Cristina Fortuna da Silva é Mestre em Educação pela Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Chapecó (UFFS). Atua como professora na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), e professora de Educação Especial da Secretaria de Educação do Estado do Paraná. Tem experiência na área da Educação, com ênfase em Educação Especial, Deficiência Visual, Deficiência Intelectual, Transtornos Funcionais Específicos. E-mail: maracris193@yahoo.com.br ou mara.silva@uffs.edu.br.

 

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in
Audiodescrição: práticas e reflexões
Daiana Stockey Carpes (organizadora)
Santa Cruz do Sul:
Catarse, 2016.

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16.Jul.2021
Maria José Alegre