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Polifemo — filho de Poseidon e da ninfa Teosa —
só
tem um olho, no meio da testa.
No lugar onde deveriam
estar os dois olhos,
há buracos para enganar vitimas.
Herói de muitas aventuras, Ulisses teve de servir-se de rapidez de espírito, de força e de manha para
derrotar o ciclope Polifemo. Ulisses estava
afastado da pátria há dez longos anos
quando visitou a ilha dos ciclopes. Eram
gigantes aterradores, com um único olho no meio da testa. Criavam ovelhas, que comiam inteiras.
Ulisses e alguns dos camaradas entraram numa caverna onde
descansaram e se abrigaram. Era a casa
de um ciclope chamado Polifemo, que era um dos filhos de Poseidon, deus do
mar. Ao fim do dia, o gigante de um só
olho regressou com o rebanho. Depois de
as ovelhas estarem em segurança dentro, a enorme e hedionda criatura tapou a entrada da caverna com uma
pedra imensa. Era de tal maneira grande
e pesada que nenhum ser humano nem nenhuma equipa de humanos ― podia ter
pretensões a movê-la. Ulisses e os
seus homens estavam encurralados.
Avistando os aterrados humanos, o ciclope Polifemo agarrou
em dois dos companheiros de Ulisses e engoliu-os inteiros. Na manhã seguinte, comeu mais dois, e depois
afastou a pedra para as ovelhas saírem. Não conseguia acreditar na sua sorte: tinha uma despensa cheia de
humanos!
― Como é que te chamas, homenzinho? ― perguntou o gigante,
ao sair da caverna e ao começar a rolar mais uma vez a pedra para a entrada da caverna. ― És um desses heróis de que tanto ouço falar?
― Eu, um herói? ― gargalhou Ulisses.
― Sou um ninguém. ― E
então começou a formar-se-lhe uma ideia na mente. ― De facto, o meu nome é Ninguém.
― Os meus cumprimentos, Ninguém. Estou ansioso por te comer quando voltar ― sorriu o ciclope, quando o gigantesco penhasco tapou o sol.
Nessa noite, Polifemo regressou com as ovelhas e,
enquanto Ulisses observava impotente, agarrou em mais dois homens e
comeu-os. A seguir o ciclope bebeu um
pouco de vinho, e caiu num sono profundo.

Ulisses e os seus companheiros cegam o Ciclope
Polifemo enquanto ele dorme -
Jan van der Straet
Ulisses não perdeu tempo. Agarrou num enorme poste de madeira, que tinha escondido nas sombras,
aqueceu a ponta no fogo e depois trepou para o peito do gigante
adormecido. Com toda a sua força,
enterrou o poste no único olho de Polifemo. O gigante berrou, suficientemente alto para atrair os outros ciclopes
à entrada da caverna.
― Estás bem, Polifemo? ― gritou um deles, através da rocha
que tapava a entrada. Não a queria
afastar, não fosse dar-se o caso de Polifemo estar apenas a ter um pesadelo...
e não lhe achar graça nenhuma se as ovelhas lhe fugissem todas por dá cá aquela palha!
― Estás a ser atacado? ― perguntou outro ciclope, sabedor
de que se tinham avistado estranhos na ilha.
Lembrando-se do nome que Ulisses lhe dera, Polifemo
gritou: ― Ninguém está a magoar-me!
Interpretando erradamente os berros de Polifemo, e
contentes por ele não estar em perigo os outros ciclopes regressaram para os
seus lugares da ilha.
― Ninguém está a magoar-me! ― berrou o ciclope, à espera de socorro.

A cegueira de Polifemo - ânfora grega, séc. VII a.C.
Na manhã seguinte, cego mas não vencido, Polifemo tacteou
o caminho ao longo das paredes de pedra da sua gruta. Afastou a enorme rocha apenas o suficiente
para passar uma ovelha.
Vou deixar as minhas ovelhas pastar uma a uma, Ninguém ― declarou. Mas tu e os teus homens ficam cá até eu me decidir a comer-vos. Não preciso de ver para comer; basta-me um apetite sadio e uns dentes
aguçados.
À medida que cada ovelha passava através da fenda na
entrada da caverna, Polifemo apalpava-lhe a lã para verificar se se tratava
realmente de uma ovelha e não de um humano a tentar escapar-se-lhe.
Tal não foi a sua surpresa ao ouvir a voz de Ulisses do
exterior da caverna.
― Devias ter pensado em apalpar debaixo das ovelhas ― bramiu ele. Prendemo-nos às barrigas delas.
Só para ter a certeza de que o ciclope sabia quem
é que o
tinha excedido em astúcia, acrescentou:
― E podes crer
que não sou nenhum ninguém. Chamo-me
Ulisses. Nunca te esqueças!
FIM
MITO ou LENDA?
Muito antes de as pessoas saberem ler ou escrever, as
histórias eram transmitidas oralmente. De cada vez que eram contadas, mudavam um pouco, acrescentando-se uma
nova personagem aqui e uma mudança na trama acolá. Os mitos e as lendas nasceram dessas
histórias em constante mutação.
O QUE é UM MITO?
Um mito é uma história tradicional que não se baseia em
algo que realmente aconteceu e fala, normalmente, de seres sobrenaturais. Os antigos Gregos chamavam a essas pessoas
heróis. Os mitos são inventados, mas
ajudam a explicar os costumes locais ou os fenómenos naturais como a trovoada.
O QUE é UMA LENDA?
A lenda assemelha-se muito ao mito. A diferença está no facto de a lenda poder basear-se num
acontecimento que realmente ocorreu ou numa pessoa que realmente existiu. O que não significa que a história não tenha
mudado ao longo dos anos. Os
antigos Gregos não separavam a história verdadeira das histórias
inventadas a respeito do seu passado. As
duas tinham-se interligado de tal maneira que é muito dificil distinguir entre
a realidade e a ficção.
QUEM ERAM os ANTIGOS GREGOS?
A Grécia situa-se entre aquilo que é agora a Itália e
a Asia Menor. É constituída por uma grande península ― uma área de terra que entra pelo mar dentro ― e uma série de ilhas dispersas. Cerca de 2000 a. C. (o que significa
há quase 4000
anos, várias tribos nómadas chegaram à península grega e instalaram-se junto do povo que aí vivia. Com o passar do tempo, as cidades cresceram,
as pessoas adoravam os mesmos deuses, e os Gregos transformaram-se numa
potência na Europa. O império e a
cultura dos antigos Gregos dominaram a Europa até os Romanos se apoderarem da
Grécia em 146 a. C.
GREGOS E ROMANOS
Durante o domínio romano, a influência grega continuou. Os Romanos até adoptaram os mitos e as lendas
gregas, mudaram os nomes dos deuses e dos heróis, e serviram-se deles como
seus. Por exemplo, o herói grego
Héracles transformou-se, pura e simplesmente, no heról romano Hércules
COMO SABEMOS?
Os mitos e as lendas gregas começaram a crescer no século
VIII a. C., quando os poemas de um poeta grego chamado Homero se
popularizaram. As duas obras escritas
mais antigas e conservadas da literatura grega são dois poemas épicos
intitulados Ilíada e Odisseia, que se dizem ter sido escritos por ele. Falam do cerco da cidade de Tróia e das
aventuras do herói Ulisses.
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Ulisses e o Gigante de um só Olho in "Mitos e Lendas Gregas" contados por Philip Ardagh Título original: Ancient Greek Myths & Legends Belitha Press Limited, Londres 1997 Editorial Estampa 1.ª edição Lisboa, 1999
8.Dez.2013
Publicado por
MJA
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