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A "Legenda Áurea" é uma reunião de biografias de santos escrita por volta de
1260 por Jacopo de Varazze com a intenção de difundir valores morais edificantes
e arregimentar um maior número de fiéis para a Igreja Católica. O objectivo
imediato do autor era fornecer aos frades material para elaboração de sermões,
de modo a proporcionar uma pregação mais eficiente.
A colectânea conheceu enorme sucesso na Idade Média e tornou-se referência nos
estudos religiosos. No século XVI, contudo, deu-se o colapso de sua reputação: A
reacção contra a Legenda Áurea foi liderada no sec. XVI por dois estudiosos,
discípulos de Erasmo de Roterdão. No século XX ocorreu a reabilitação da Legenda
Áurea agora interpretada como um espelho das sinceras devoções do século XIII.
O livro buscou compilar o folclore tradicional sobre os santos venerados na
época de sua compilação, de modo frequentemente imaginativo e "embelezando" a
biografia com fábulas sobrenaturais de incidentes que envolveram a vida do santo
biografado. Muitas das histórias também terminam com contos milagrosos de
relatos de pessoas que teriam invocado o nome do santo para ajudá-los ou
utilizado as relíquias do santo.
"Legenda" aqui não significa conto ou história mas simplesmente o que deve ser
lido. O epíteto "dourada" ou melhor ‘de ouro‘ tem a ver com o peso e o valor do
conteúdo.
Santa Lúcia | Santa Luzia
c. 283 - 304 d.C.
Santa Lúcia de Siracusa, mais conhecida simplesmente por Santa Luzia (santa
de luz), segundo a tradição da Igreja Católica, era uma jovem siciliana.
Venerada pelos católicos como virgem e mártir cristã, morreu durante as
perseguições de Diocleciano.
O episódio da cegueira, que a iconografia representa, deve estar ligado ao seu
nome Luzia/Lúcia derivado de lux (= luz), elemento indissolúvel unido não só ao
sentido da vista, mas também à faculdade espiritual de captar a realidade
sobrenatural. Por este motivo Dante Alighieri, na Divina Comédia, atribui-lhe a
função de graça iluminadora.
É assim a padroeira dos dos cegos, dos oftalmologistas, a protectora dos olhos e
daqueles que têm problemas de visão.
Luzia nasceu na cidade italiana de Siracusa e era de uma família rica e cristã.
Era considerada uma das jovens mais belas de sua cidade. O pai morrera quando
ela tinha 5 anos e a mãe, Eutíquia, sofria de graves hemorragias internas. Luzia
tinha uma grande convicção cristã, que a fez consagrar-se, secretamente, ao
Senhor Jesus, e oferecer-lhe a virgindade perpetuamente. Um dia ela e a mãe
foram peregrinar à cidade de Catânia onde se encontrava o corpo da Grande Santa
Águeda, que morrera por não se converter aos ídolos. O Evangelho pregado na
Santa Missa desse dia foi o da mulher que sofria com hemorragias internas,
iguais às da mãe de Luzia. Luzia então pensou: "Se aquela mulher ao tocar nas
vestes do Senhor ficou curada, será que Santa Águeda não pedirá ao Senhor que
cure minha mãe da mesma forma que curou aquela mulher?" Então disse à mãe que
esperasse todos saissem da Igreja, para elas irem rezar junto ao corpo da Santa.
Durante esse meio tempo Luzia dormiu, e em êxtase sonhou que anjos rodeavam
Santa Águeda, e que a mesma lhe disse: "Luzia minha irmã, porque pedes a mim uma
coisa que tu mesma podes conceder?" Luzia rapidamente saiu do êxtase e despertou
do sonho. Foi procurar a mãe, que lhe disse que tinha sido curada. Luzia
aproveitou esse momento para revelar à mãe que tinha feito um voto de virgindade
a Jesus, e que iria distribuir todos os seus bens aos pobres. Um jovem pagão,
muito rico, politeísta de nascença, que já era apaixonado por Luzia, perguntou à
mãe o motivo de tanto esbanjamento de dinheiro,e Eutíquia respondeu: "Luzia é
muito providente, ela achou bens muito mais valiosos do que esses e por isso é
que estamos fazendo isso." O jovem logo teve a certeza que Luzia era cristã e
denunciou-a ao prefeito de Siracusa, que a mandou ao Imperador Diocleciano.
Diocleciano vendo que nada a convertia, mandou atirá-la para um prostíbulo,
cheio de homens sedentos de um corpo virginal como o de Luzia, mas foi em vão:
ninguém conseguia tirar Luzia dali. Era como se os pés estivessem fincados no
chão, como raízes de plantas. Tentaram depois deitar-lhe fogo, mas as chamas
nada fizeram contra ela. Como nada havia resultado e Luzia não se convertia de
nenhum modo aos falsos deuses, um soldado, a mando do imperador, arrancou-lhe os
olhos e entregou-os num prato a Luzia. Mas milagrosamente ao entregar o prato
com os olhos de Luzia, no rosto da mesma, nasceram-lhe dois lindos olhos, sãos,
perfeitos e mais lindos do que os outros.
Vendo que nada a convencia a converter-se ao paganismo, deceparam-lhe a cabeça
no momento em que Luzia dizia: "Adoro a um só Deus verdadeiro, e a ele prometi
amor e fidelidade". No mesmo instante a sua cabeça rolou pelo chão.
Era 13 de Dezembro do ano de 304 D.C. os cristãos recolheram-lhe o corpo
virginal e sepultaram-na nas catacumbas de Roma. A sua fama de Santa espalhou-se
por toda a Itália e Europa e depois por todo mundo. Hoje é venerada e honrada
como a "Santa da Visão". É comemorada a 13 de Dezembro.
Oração a Santa Luzia

« Ó Santa Luzia, que preferistes que os teus olhos fossem vazados e arrancados antes de renegares a tua fé e compuscar a tua alma; e Deus com um
milagre extraordinário, vos devolveu dois olhos perfeitos para recompensar vossa virtude e vossa fé, e vos constituiu protetora contra as doenças dos olhos. Eu
recorro a vós para que protejais minhas vistas e cureis a doença de meus olhos.
Ó Santa Luzia conservai a luz dos meus olhos para que possa ver as belezas da criação o brilho do sol, o colorido das florestas e o sorrido das
crianças.
Conservai também os olhos de minha alma, a fé, pela qual eu possa compreender seus ensinamentos, reconhecer o seu amor para comigo e nunca
errar o caminho que me conduzirá onde vós Santa Luzia, vos encontrais , em companhia dos Anjos e Santos.
Santa Luzia, protegei meus olhos e conservai minha fé. Amem
»
O olho de St.ª Lúcia
Hoje em dia, encontra-se em Marselha e em toda a bacia do Mediterrâneo, uma
concha cujo opérculo é chamado "o olho de St.ª Lúcia".
É considerada protectora/benfazeja e é bem conhecida no Mediterrâneo. Na
Córsega, no dia de Santa Lúcia, as mães passam uma toalha embebida em água do
mar nos olhos das crianças recitando uma oração, e é claro que tem de se
encontrar o olho de Stª Lúcia na praia.
No norte da Europa o solstício de inverno e o alongamento dos dias são
celebrados no dia de Santa Lúcia.
Novena a Santa Luzia, protectora contra as doenças dos olhos
Santa Luzia, Virgem e Mártir que
tanto glorificastes ao Senhor preferindo sacrificar a vida a lhe ser infiel,
vinde em nosso auxílio e, pelo amor deste mesmo Senhor amantíssimo,
livrai-nos de toda a enfermidade dos olhos e do perigo de perde-los. Possamos
por vossa poderosa intercessão passar a vida na paz do Senhor, e chegar a
vê-lo, com nossos olhos transfigurados, no eterno resplendor da Pátria do
céu. Amém.
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória.
Fonte: “Novenas para todas as necessidades”
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Santa Odília da Alsácia
660 - 720 d.C.
A vida de Santa Odília, é conhecida graças a um texto anónimo escrito pouco
antes de 950. Ela é a Padroeira da Alsácia e da boa visão.
No século VII, a Alsácia fazia parte da Alemanha. O governante era Aldarico,
que desejava um filho para ser seu sucessor na cidade. O duque havia sido
baptizado há pouco e não era um cristão muito fervoroso, mas aprovava as obras
de caridade feitas pela sua esposa, Benvinda, uma cristã fervorosa. Aldarico
recebeu a notícia de que sua esposa teria um filho, e ficou muito feliz.
Todavia, ao saber que havia nascido uma menina cega, expulsou-a do castelo. A
menina foi entregue às religiosas de um mosteiro, onde foi educada. Um dia,
receberam a visita do bispo Heraldo que dizia que um anjo lhe dera a ordem de
ir àquele mosteiro para baptizar uma menina. Apresentaram-lhe a pequena cega,
que ele baptizou com o nome de Odília, que significa "luz de Deus". No momento
do baptismo, o bispo Heraldo disse: "Que os teus olhos do corpo se abram, como
foram abertos os teus olhos da alma". Odília, deste momento em diante, passou a
ver e recebeu o dom da profecia. Tornou-se uma das maiores místicas cristãs,
com previsões que impressionam ainda hoje.
Aos poucos cativou o coração do pai Aldarico, que se converteu e veio a fundar
um mosteiro para ela, no castelo de Hohenbourg. A primeira abadessa foi Odília.
Ali atendiam os pobres, principalmente os doentes incuráveis e abandonados,
tendo também ali criado um hospital. Mais tarde, Aldarico e Benvinda
ingressaram no mosteiro, onde morreram amparados pelos cuidados da amada filha
e futura santa. Todos os castelos herdados foram transformados em hospitais e
mosteiros.
Odília morreu em paz. Era no dia 13 de Dezembro de 720. Foi sepultada no
mosteiro. Desde então, por sua intercessão, os devotos que molham os olhos
doentes com água proveniente da fonte do mosteiro, conseguem a graça da cura.
Santa Odília é muito venerada como protectora dos doentes da visão, dos cegos e
dos médicos oftalmologistas. Os mosteiros e os hospitais fundados por ela foram
entregues aos monges beneditinos, que mantiveram a finalidade inicial dada por
Santa Otília: a assistência aos pobres e doentes incuráveis.
Aparece vestida de Abadessa Beneditina, o que a distingue de Santa Lúcia de
Siracusa, e as suas representações também a mostram com um livro da Regra
beneditina, com dois olhos em cima, ou a segurar um ramo igualmente com dois
olhos.
S. Tomás de Canterbury
c. 1118 - 1170

Por vaidade e para se tornar mais bela, uma dama inglesa desejava muito ter
olhos vairões, isto é olhos de cores diferentes. Para isso fez uma promessa e
dirigiu-se descalça ao túmulo de S. Tomás da Cantuária. Ao levantar-se, no
final da oração, viu-se cega. Então arrependeu-se e começou a rezar a S. Tomás
para pelo menos lhe devolver os olhos como eram antes. A muito custo, tal
foi-lhe concedido.
São Longino

De acordo com os relatos dos Evangelhos, pelo facto de ao pôr do sol se iniciar
o shabat, e para que os corpos dos condenados não profanassem o dia santo, as
suas pernas deveriam ser quebradas para assim apressar a morte. Quando os
soldados chegaram junto a Jesus, viram que ele já estava morto, e para
comprovar-lhe o óbito, um dos soldados - o centurião romano Longino -
perfurou-lhe o corpo com uma lança. O sangue e a água que verteram do ferimento
espirraram-lhe para os olhos - que eram virtualmente cegos devido a graves
cataratas. Quando Longino limpou os olhos, aconteceu um milagre e ele
de imediato recuperou totalmente a faculdade da visão!
Sabe-se que, mais tarde, o centurião, profundamente arrependido do seu acto
insano e cruel, se converteu ao Cristianismo, abandonou o exército romano e
se transformou num monge, que percorreu a Cesareia e a Capadócia, na
actual Turquia. Por causa de sua fé cristã, São Longino foi preso e torturado.
Foram-lhe arrancados os dentes e cortada a língua.
A lança que feriu o peito de Jesus, conhecida pelos nomes de Lança do Destino
ou Lança Sagrada ou ainda A Lança de Longinus, transformou-se através dos
tempos, juntamente como o Santo Graal, a Coroa de Espinhos e o Sudário de
Turim, num dos símbolos místicos máximos do Cristianismo. Diziam as antigas
Tradições que aquele que a possuísse tornar-se-ia o senhor do mundo, invencível
e dotado dos mais ilimitados poderes.
Santa Maria Madalena

Um homem privado de visão veio à Abadia de Vézelay visitar o corpo de Santa
Maria Madalena. Quando o condutor lhe disse que já se começava a avistar a
igreja, o cego gritou em alta voz: "Ó Santa Maria Madalena! Que eu ao menos
tivesse a felicidade de ver uma vez a tua igreja!" E nesse instante os seus
olhos abriram-se.
São Lourenço
225 - 258 d.C.

O Papa Sisto II deu ao jovem diácono Lourenço instruções sobre os tesouros da
Igreja, aconselhando-o a que os repartisse entre os pobres. Lourenço atento à
solicitação do Santo Padre, procurou todos os pobres, viúvas e órfãos da Igreja
e entre eles repartiu o dinheiro. Objectos de ouro, prata e pedras preciosas,
vasos sagrados de grande valor, tudo foi vendido e com o dinheiro sustentou os
milhares de pobres da Igreja.
O Imperador Décio perguntou a Lourenço: "Onde estão os tesouros da Igreja que
sabemos terem sido deixados contigo?"
Ora como Lourenço não respondeu, o prefeito Valério, a mando do imperador,
meteu-o na prisão.
Atrás das grades, estava um gentil-homem chamado Lucílio, prisioneiro de muitos
anos, que à força de chorar, tinha perdido a visão. Como Lourenço prometeu
devolver-lhe o uso dos olhos, se ele acreditasse em Jesus Cristo e recebesse o
baptismo, o preso pediu para ser baptizado. Isso foi feito e Lucílio recuperou
imediatamente o uso dos olhos.
São Dinis de Paris
séc. I a.C.

Dinis estava a conversar com Paulo, quando viu passar um cego. Então disse a
Paulo: "Se disseres a este cego: 'Em nome de Deus, vê!' e ele passar a ver, eu
acreditarei em ti; mas sem palavras mágicas, que tu és bem capaz de conhecer
palavras com esse poder. Vou dizer-te exactamente as palavras que poderás
usar".
Para afastar qualquer suspeita, Paulo pediu a Dinis que pronunciasse ele mesmo
as palavras.
Dinis dirigiu-se ao cego, dizendo-lhe: "Em nome de Jesus Cristo, nascido de uma
virgem, crucificado e morto, que ressuscitou e subiu ao céu, vê."
E, assim que ele acabou de falar, o cego viu.
Dinis, com a mulher Damarie e toda a família, recebeu o baptismo e a fé e dali
partiram para converter a cidade de Atenas e uma grande parte da Grécia.
Santa Isabel da Hungria
1207 - 1231

O dia 8 de abril de 1232. A criança, Teodorico, tinha nascido cego. Ganha a
vista aos cinco anos, enquanto reza sobre o túmulo de Elizabeth, em Marburg. Uma
película, que não se tinha fendido, cobria-lhe os olhos. A mãe levou-o ao
túmulo da bem-aventurada Santa Isabel e esfregou-lhe os olhos com terra do
sepulcro, enquanto invocava os méritos da santa. E eis que a pele se rasgou ao
meio e à vista apareceram os pequenos olhos turvos e sanguinolentos. A criança
pôde, assim, graças à santa, gozar da felicidade do dom da visão. O declara a
mãe sob juramento, o confirmam o sacerdote da capela Goffredo e alguns cidadãos
de Marburg - Ermanno, Alberto e Ditmaro. É testemunho também o próprio mestre
Corrado, o qual verificou de pessoa e interrogou testemunhos.
Outras curas de cegueira por Santa Isabel da Hungria:
-
Eiiwina, completamente cega, foi curada por Elizabeth que lhe aparece.
-
Adelaide uma menina de cinco anos, doente aos olhos desde o nascimento e que
depois ficou cega, foi curada por Santa Elisabeth.
-
Matilde uma menina de nove anos foi curada por Santa Elizabeth da cegueira de
um olho. A menina não enxergava a sete anos.
-
Geltrude, uma menina cega de um olho, foi curada.
-
Cristina uma moça de dezoito anos foi curada por Santa Elisabeth da cegueira
num olho, que contraiu quando tinha doze anos.
-
A Senhora Matilde restabelece-se completamente da cegueira do olho esquerdo
graças à intervenção de Santa Elisabeth.
-
A Senhora Bezela foi curada por Santa Elisabeth de cegueira contraída durante a
gravidez e suportada por sete anos.
São Josse
c. 593 - c. 668 d.C.
São Josse viveu como eremita na região da Picardia e morreu em
Saint-Josse-sur-mer (Pas-de-Calais), que se tornou um local de peregrinação
muito popular. Seguindo o conselho dos pais, uma jovem nascida sem olhos foi
levada a São Josse. Agindo de acordo com uma visão que tivera, lavou a cara e
a parte onde deviam estar os olhos, com a água de que o santo homem se servira
para lavar as mãos. Instantaneamente lhe apareceram os olhos e ela começou a
ver claramente.
Santo Othmar
(c. 689 – c. 759)

A Biblioteca da Abadia de Saint Gall (Suiça) fundada por São Othmar
Santo Othmar construiu um hospital onde eram acolhidos cegos pobres. A sua
solicitude para com eles ia ao ponto de sair do claustro durante a noite, para
lhes prestar serviços urgentes. Devido a uma falsa acusação foi condenado ao
exílio e relegado, como um miserável, para uma ilha do Reno, onde acabou por
morrer, após imenso sofrimento.
Bibliografia
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Textos e imagens - recolha e
tradução: Maria José Alegre, 2015
Δ
11.Fev.2015
Publicado por
MJA
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