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SOBRE A DEFICIÊNCIA VISUAL


Naamyam | canções narrativas cantonenses cantadas por cegos


 Dou Wun, um músico cego, lendário intérprete de Naamyam Fotografia: Dr. Bell Yung
 

As Naamyam Cantonenses” - canções narrativas ou histórias cantadas - são uma tradição local original da região do Delta do Rio das Pérolas. Eram originalmente cantadas por cegos, em dialecto cantonês, na forma de narração de histórias e canto, enraizando-se gradualmente na comunidade. Foram famosos cantores como Chung Tak (1860-1929), Dou Wun (1910-1979), Yuen Siu-Fai e Au Kwan-Cheung.

No séc. XIX as Naamyam eram interpretadas por cantores cegos e constituíam uma forma popular de entretenimento em Cantão e Hong Kong. Espaços comuns para o seu desempenho incluiam locais públicos, como restaurantes, casas de chá, bordéis, casas de ópio, clubes e locais de reunião, espaços destinados ao comércio ou a um ofício específico, como açougueiros ou comerciantes de arroz e mesmo casas particulares.

O cantor era contratado para uma única representação ou para espectáculos regulares distribuídos por um período prolongado de tempo.

A partir de meados do século XX, as Naamyam deixaram de ser apresentadas no seu contexto tradicional. A sociedade em rápida mudança e o crescimento explosivo dos meios de entretenimento modernos, ditaram a morte do género tradicional de desempenho das Naamyam. Apesar disto, alguns artistas da ópera cantonense começaram a usar algumas das técnicas do canto Naamyam nas suas representações.
 

 

Nos anos 50, as Naamyam começaram a ser transmitidas pela estação de Rádio 'Vila Verde de Macau' e pela Rádio Televisão de Hong Kong, podendo uma única canção narrativa/história durar vários meses. Este período marcou também a influência mais universal da Naamyam Cantonense. A sua transmissão radiofónica foi, contudo,  descontinuada tanto em Hong Kong como em Macau, nos anos 60, face à ocidentalização gradual da sociedade.

As Naamyam possuem um método distinto de escrita da música e melodias, mais adequado às características linguísticas dos residentes do Delta do Rio das Pérolas. Muitas das obras mais representativas reflectem genuinamente as condições precárias e sem esperança e a vida instável e precária das pessoas mais pobres e desfavorecidas.

O canto é acompanhado por instrumentos musicais tais como o Guzheng (tipo de cítara), o Yehu (alaúde feito de casca de coco), ou o Yangqin (dulcimer? martelado), juntamente com um instrumento de percussão - matracas de madeira. O instrumento ou instrumentos eram tocados quer pelo próprio cantor ou cantora ou pelo cantor em dueto com o músico.
 


Emissão filatélica dos Correios de Macau, associando-se à iniciativa de preservação das “Naamyam Cantonenses” .

Algumas Naamyam são relativamente curtas, levando cerca de 20 minutos a executar; são geralmente líricas, expressando pensamentos e estados de espírito ao invés de contarem uma história complicada. Um tema comum nestas canções é o lamento sobre amores infelizes nas casas de prazer. Estas canções tendem a ter um texto relativamente fixo, muitas vezes atribuído a um autor ou intelectual conhecido, mais literário do que coloquial, refinado na escolha das palavras e frases, e com versificação de estrutura regular. A canção Naamyam era cantada como uma unidade, de uma só vez, sem linhas faladas. O exemplo mais conhecido é a Ketu Qiuhen (Lamento de Outono do Viajante), no qual o cantor exprime o seu anseio pelo amor de uma cortesã que ele deixou para trás nas suas andanças.

Também podem ser muito longas, com centenas ou mesmo milhares de versos, requerendo dezenas ou mesmo centenas de horas de execução. São adaptações de acontecimentos históricos, lendas ou histórias. Ao contar estas histórias longas, o cantor(a) inseria passagens curtas, em verso, faladas. Estas canções longas eram normalmente improvisadas embora textos impressos fossem publicados para consumo pelos leitores. Por não seguirem um texto fixo, os cantores ganham uma grande flexibilidade na manipulação da história, acrescentando, eliminando ou rearranjando elementos do enredo. O cantor também improvisa na forma de exprimir estes elementos, por meio da sua escolha de palavras e frases, assim como varia o uso de detalhes, dependendo da quantidade de tempo que tem disponível para cantar.
 


letras de Naamyam impressas

Em 1975, o Dr. Bell Yung, da Universidade de Pittsburgh gravou canções Naamyam de Dou Wun na Casa de Chá Fu Long em Hong Kong, deixando-nos 40 horas de gravações ao vivo e valiosas fotografias.

Hoje em dia, as Naamyam Cantonenses raramente são improvisadas por cantores cegos e a forma longa de narração já não é usada; contudo, as características regionais únicas e os valores culturais e artísticos que lhes são peculiares estão mais difundidos e são mais bem compreendidos e reconhecidos pelas pessoas.

As Naamyam Cantonenses foram inscritas na Lista Provisória dos Itens do Património Cultural Imaterial da R.A.E. de Macau em 2009 e na Lista Nacional do Património Cultural Imaterial em 2010.

FIM

 

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fonte do texto:  Wikipedia
Recolha de imagens, tradução e adaptação: Maria José Alegre

 

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14.Ago.2020
Maria José Alegre