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O cego - Hans Wulz, 1948
A tarde daquele sábado se transformara numa bênção: jacarandás e suas sombras a balançar nas
calçadas, o zumbido de insetos acrescentando-se ao silêncio da rua vazia. Eu, sem dever de nenhuma espécie, tornei-me também lenta. Lenta e feliz, e a marca da felicidade
incrustou-se em mim. Dessa maneira, o jantar de obrigação, dali a pouco, enfadava-me antecipadamente. Sabia que nós, os convidados, esperaríamos a hora da comida bebendo
com ressentimento, beliscando castanhas sem a unção da fome, dizendo não é aqui que eu quero estar agora, não agora, quando é noite de sábado, véspera de um dia duro como
o domingo.
Toquei a campainha. Atendeu-me a dona da casa.
De fato, para que eu não me envergonhasse do pensamento rancoroso e da avareza de não querer
repartir meu sábado com ninguém, ali as pessoas falavam alto, num burburinho monótono. Ela me serviu um cálice de ponche; serena e certa de sua obrigação, apontou-me um
lugar no grande sofá. Sentei.
Na poltrona ao meu lado estava esse homem, que se fixava
na mesa de centro com o olhar bem límpido e muito aberto. Tinha a mão cheia de castanhas: colocando-as na boca uma a uma, mastigava com método paciente, sem desviar
jamais a atenção daquele ponto vago. Não sei se era um homem belo; beleza, não sei. No perfil de linhas retas havia substância de ossos e resistência de músculos; o
queixo se revelava um pouco débil para tantos ângulos. Ele virou-se para mim.
Os olhos
eram imensos, com um fino veludo branquicento a encobrir as pupilas. Ele me olhava e mastigava, sem nada falar. Mastigava. Olhava. Até que me dei conta de que o homem só
mastigava, que não podia olhar.
O homem era cego.
Um mal-estar me travou; num instante, ocorreu-me a cortesia piedosa, essa boa vontade que as
pessoas têm com os cegos, envolvendo-os com gestos de carinho protetor. Queria dizer ao homem que eu já sabia que ele era cego e que, portanto, estava disponível para
qualquer ato eficaz. Mas o homem, abotoando e desabotoando os enormes olhos, piscando uma inútil lágrima, prescindia da eficiência de meu afeto. Foi ele o primeiro a
falar:
― Prazer, meu nome é Márcio. E o seu?
A voz tinha um timbre másculo, porém brando. Declinei meu nome bem devagar e bem alto; ouvir-me era patético. Ele sorriu, apenas.
Os olhos permaneciam abertos, com sua gelatina móvel, com suas lágrimas orgânicas, mas cintilava neles o vazio de retina seca. Ele inclinou o corpo para a frente,
escorando os cotovelos sobre os joelhos: esperava.
Esperava o quê, aquele homem?
O que se diz quando um cego espera? Os cegos esperam o quê?
Eu sempre associara escuridão a silêncio ― as vozes seriam luzes ― e, portanto, o silêncio era a
forma perfeita de um cego, a forma que, agora, ele aguardava. No mutismo, o escuro se reconduzia ao escuro, e eu me abismava de ver um cego mastigando castanhas,
apoiando-se em sua própria penumbra muda e perfeita. Fui conivente com sua cegueira e não disse palavra.
Salvou-nos da generosidade mútua a dona da casa, que apareceu na sala batendo palmas: o jantar estava na mesa. Eu repeti, falando
bem alto, que o jantar estava na mesa. Ele sorriu, e só. A boca restou entreaberta, as pálpebras comprimidas, os cílios muito espessos, feito dois riscos negros. Ele se
levantou e ficou parado. Parado de uma imobilidade definitiva, sem decidir o próximo passo. Eu quis ajudá-lo e puxei-o pelo braço. Ele ensinou: melhor que se apoiasse em
mim, preferia seguir-me. Devagar, contornando a mesa de centro, nos encaminhamos à outra sala.
A branca toalha de linho fora coberta com abundância, um escândalo de cores. Frutas, arranjadas no centro da mesa, eram muitas:
havia desde maçãs que pareciam prestes a rebentar de tão vermelhas a mangas de pele lisa e rósea. A melancia tinha a faceirice dos caroços negros resistindo à carne
aquosa. Dois pernis descansavam em suas bandejas, flanqueados por tranças de fios de ovos em arreganhos de amarelo. O arroz cintilava com passas, as nozes eram duras e
oleosas. Também havia o alvoroço das batatas de mistura a ameixas e damascos; as alfaces, crespas, possuíam um verde líquido, e os talos de aipo alteavam-se de uma copa
com gelo. Para mim, que chegara àquela casa ruminando contrariedade, tudo se revertia: me vinha uma grande fome, como se, finalmente, a avareza se partisse, como se o dia
seguinte não fosse domingo. No entanto, para Márcio, presumi, aquilo tudo pouco se lhe dava, inclusive minha intenção de ser boa e justa à mesa. Envergonhei-me, de
repente, e passei a considerar que a dona da casa e eu não tínhamos o mínimo senso do ultraje.
Ajudei-o com a cadeira, dei-lhe o guardanapo ― que ele desdobrou e fez descansar ao colo ― e disse-lhe o que tínhamos de comida.
Ele escolheu servir-se frugalmente, não costumava comer muito à noite. Eu dispunha em seu prato iguarias em preto e branco, uma coisa ao lado da outra, feito um tabuleiro
de xadrez. Ele comeu com a dureza reverberada de cego, inocente, vagaroso; parecia que descobrir o nome das coisas apenas depois de provar do gosto era seu luxo maior.
Finda a refeição, todos voltaram à sala para o café. Ocupamos os mesmos lugares, agora mais
íntimos. A dona da casa novamente bateu palmas, pedindo silêncio: anunciou que era hora de ouvir Márcio, o músico convidado. Surpreendi-me. Ele se pôs de pé. A anfitriã
veio até nós e conduziu-o ao piano de armário, na outra extremidade da sala; com a mão pousada sobre a dele, mostrou-lhe o teclado e a banqueta. Márcio ajeitou-se,
reconhecendo os pedais e alisando as teclas, muito de leve, como quem pede permissão para tocar um corpo vivo. Susteve o tronco, teso. Alguns convidados acercaram-se.
Márcio movimentou a cabeça em compasso ritmado, até que, com um arranco dos ombros, as mãos
armadas, percutiu os primeiros acordes. Era um estudo ligeiro, que, imaginei, demandava do executante mais o sentido de humor do que o virtuosismo. Antes que a peça
chegasse ao fim, um grupo viu-se no direito à conversa. Márcio, sem se mostrar incomodado, emendou aquele primeiro estudo num segundo, agora com tons mais solenes e
bravos. A terceira peça foi precedida por uma pausa, capaz de resgatar o silêncio à sala. Ele ergueu o rosto para a cena eqüestre do quadro na parede: uma nota plangente
e logo um arpejo. Reconheci: a Fantasia-Improviso. Ele tocava com grave intensidade, como se tivesse uma profecia dentro de si.
Só interrompeu a música quando a dona da casa veio avisar que os licores e bombons estavam servidos; para quem se dispusesse,
havia uma cascata de merengues recheados com doce de ovos.
Fui até o piano e dei-lhe os
cumprimentos. Chopin, ele esclareceu. Chopin, repeti. Ele enganchou o braço no meu e pediu que o conduzisse até a cascata de merengues. Não parecia minimamente afrontado.
Perto da meia-noite, os convidados já se iam, e me ofereci para levá-lo, morava não muito longe de
minha casa. Entrou no carro sem dificuldades; orientava-me pelas ruas, refazendo um trajeto conhecido. Com destreza de movimentos, logo tinha as chaves na mão e me dizia
onde parar. Antes de bater a porta, disse que esperava minha visita, vivia sozinho e pessoas sempre eram bem-vindas. Agradeci e assegurei que iria aparecer.
Domingo amanheceu amargo. O céu estava encoberto, e a sensação asfixiante de calor imperava. Não
havia mais as sombras da rua, as cores dos jacarandás eram chapadas contra um fundo cinzento. Eu tinha o rosto de Márcio vivo na lembrança: recordei-me que, de vez em
quando, ele falava de olhos fechados ― já que prescindia de olhos. Num movimento talvez solidário, na tentativa de ver a escuridão que os cegos vêem, experimentei também
fechar os olhos: parecia que girava em torno de mim mesma, numa tontura não de todo desagradável. Quis ir até o quarto assim, cega, as mãos procurando apoio, mas a
desconfiança de poder pisar em algo me espantava e, involuntariamente, eu abria os olhos.
Depois do almoço, ocorreu-me a idéia. Decidi ir à casa de Márcio.
Ele fez com que eu entrasse, cortês. As janelas estavam abertas, e a luz vinda de fora esmaecia as cores do tapete. O apartamento,
todo ele, era arrumado com minúcia. Sobre a cristaleira da sala, um biscuit ― uma alegre camponesa ― descansava em cima de um trilho de croché. Ao lado dela, outros
enfeitezinhos, igualmente graciosos. Na parede oposta, um piano de armário refulgia de verniz. A estante abrigava vários, inúmeros, livros; no alto da última prateleira,
pude ver o AngloSaxon Reader, de Sweet. Pensei, de imediato, em cegos ilustres que haviam trocado o querido mundo das aparências por compensações exclusivas à esfera do
invisível.
Ele me convidou à cozinha, ia passar café. A idéia me pareceu extravagante e
estive a ponto de detê-lo. Mas o impositivo da voz fez-me esquecer, inclusive, de perguntar o que eram, pelos céus, aqueles livros na prateleira. Segui-o, e ele caminhava
desenvolto, parecendo alguém que escuta o rumor das coisas. Vendo-o no malabarismo de colheres, coadores e bules, era impossível dizer que era cego. Em pouco tempo, toda
a casa se enchia dos vapores olorosos e macios. Antes de voltar para a sala, reparei que, na área de serviço, violetas estavam prestes a florir.
Sentamos. Elogiei o café; ele agradeceu, polido e lacônico. Como o silêncio se prolongasse, vi por
bem iniciar a conversa, o calor que fazia, vinha chuva na certa, não era mesmo? Márcio teceu o comentário obrigatório ― é, vai chover ― e largou a xícara sobre a mesa,
sem mais uma única palavra. Cruzei as pernas, ajeitei-me melhor no sofá; só me ocorriam banalidades. Ele não dizia quase nada, e eu procurava me salvar respondendo às
poucas e eventuais perguntas. Em algum momento, tive vontade de reverter aquele teatro, também queria o direito a perguntas e respostas; principalmente queria o direito
de perguntar se ele nascera cego. Logo me dei conta da tolice: Márcio era cego porque era cego ― aceitava a ausência de razões em prol da certeza presente. Além do mais,
ele não precisava ver para pensar.
Quando começou a chover, e uma aragem úmida entrava
pela janela, ele foi ao piano, abriu-o e sentou-se na banqueta. Fiquei de pé, a seu lado. Vi que o rosto se armava num ricto, a boca contraída, os dedos sobre as teclas.
Ele se submetia a uma espécie de profunda sonolência em guarda, uma meditação quase metafísica sobre a própria música. De repente, calcou o pedal, ergueu os braços,
arremetendo contra o teclado. Era a Fantasia-Improviso, que ele tocava contrito, olhos para o alto. Foi o único momento em que me pareceu triste.
Várias vezes, durante a semana que se seguiu, voltei à casa de Márcio. Tive outras mostras de que
ele era de pouca, pouquíssima, fala, preferindo a intimidade do piano à conversa. Primeiro, considerei que se tratava de um rapaz tímido, pelos motivos óbvios, e que essa
timidez era, digamos, importante. Depois, passei a crer que os silêncios e, mais do que tudo, a sua música, constituíam a maneira de existência que ele escolhera. Numa
espécie meio torta de livre-arbítrio, já que algo superior à sua vontade determinara por primeiro a cegueira, ele escolhia ora o afastamento das palavras, ora o
extraordinário mundo de melodias e dissonâncias. Com o passar do tempo, o jeito lacônico
já nem me incomodava tanto; havia ocasiões, porém, em que me considerava excluída daquele universo trevoso, feito só de sons. Depois, percebi que esse modo de não
entender era, em si, o primeiro passo para o mistério. Ainda não era possível saber se eu tinha coragem de me juntar àquele enigma, mas vontade, essa não me faltava.
No sábado seguinte, novamente me vinha o desejo de ser feliz: jacarandás e suas sombras a balançar
nas calçadas, o zumbido de insetos acrescentando-se ao silêncio da rua vazia, e eu sem dever de espécie alguma. Fui à casa de Márcio. Justamente porque não tinha
obrigação.
Ele me recebeu com suas boas-vindas, e era como se me esperasse havia tempo:
o café, pronto, e doces cobertos de glacê festejavam minha chegada. Olhei por cima de seu ombro; vi o Anglo-Saxon Reader no topo da última prateleira.
Aconcheguei-me naquele que se tornara meu lugar no sofá. Sem mais aviso do que me oferecer a
travessa de doces, perguntou:
― Você é bonita?
Fiquei assim como estava, boca aberta, salivando, a mão com o docinho parada no ar. Que diferença
podia fazer o fato de eu ser feia ou bonita? Engoli o doce, numa justificativa para meu silêncio.
Os olhos de Márcio me fitavam numa abstração intensa, que me punha em íntimo contato com meus pudores de mulher. Ele ergueu a mão
e aproximou-a de meu rosto. Encantada pela inédita maciez e pela doçura, deixei que me tocasse primeiro a testa e os olhos, os dedos descendo pelo nariz, pela boca,
delineando-me o queixo. Temi decepcioná-lo, como se pelo tato ele voltasse à esfera das aparências.
― Você é bonita ― disse-me então, seguro, os dedos brincando com minha gargantilha de ouro.
Para uma mulher que reflita um só momento antes de se entusiasmar, as lisonjas seguidamente
parecem tolices. Mas, no caso, não fora juízo emitido por um homem qualquer, cujos olhos ordenam o desejo; fora juízo emitido por um homem cujos dedos, de alguma forma,
construíam minha fisionomia para que à voz correspondesse um rosto ― talvez nem um rosto completo, mas uma testa, um par de olhos, um nariz e uma boca, unidos apenas pela
profunda avidez que a mente tem por coerência. Um delírio, e assediou-me o receio de que a figura que ele havia formado de mim fosse nada mais do que uma miragem. E
existia ainda o desejo, que brotava de uma ilusão de ótica. Olhando o rosto anguloso, parecia que a cobiça lhe transbordava das órbitas. Tornei-me tão delicada, tão
frágil, uma suavidade que, sem os dedos de Márcio, seria gratuita. Um susto: eu era uma pessoa amada.
Márcio me pegou pela mão. Caminhamos até o quarto, cujas janelas permaneciam abertas. De pé ainda, me beijou. Pela delícia e pelo
ardor, soube que eu não era a primeira mulher que ele beijava e que não seria a última. Mas então, esvaziando-me de tudo, vinha essa alegria afiada que nos assalta no
meio da vida. Dentro do egoísmo de felicidade, tirei com prazer o vestido. Márcio tinha uma aura de fascínio e de paciência, esperar fazia parte do desejo, e me aguardava
sem pressa. Lenta, aprendendo dele a contar com o amadurecimento do tempo, ajudei-o também
a se despir: a construção da nudez, coisa leve, não podia brutalizar qualquer gesto. Outros beijos se seguiram, e cada beijo era
um passo dado para a frente, às cegas, como é o avanço de duas pessoas no querer.
Os
sentimentos adensaram o ar, a respiração dificultosa, e, no capricho da demora, a carne se denunciava hirta, tormenta de dentes sulcando a pele, borbotões estancados por
músculos cheios de sangue. A claridade de meus olhos vergava-se à escuridão, e percebi que estava posta à prova: teria de querer inclusive o mistério. Para ser igual a
ele, porque as pessoas são iguais no amor, e para me juntar àquele enigma, me entreguei à última ardência de olhos enfim fechados.
Depois, quando nos amansamos, senti o peso total de Márcio sobre meu corpo. O cheiro adocicado de
suor, a textura de pêlos, a placidez do silêncio morno. Eu apenas via a luz do crepúsculo integrando-se à calma profundidade do mistério, porque um homem descansava,
lânguido, sobre mim. Acabava de saber, como se escolhesse, que o queria. A escuridão se fez plena de vento pela janela, trevas que encontram outras trevas, e o cansaço me
derrubou com alguma misericórdia no sono.
Despertei com os acordes do piano. Mozart, em
suas gráceis piruetas, um tecido de notas tão denso que se podia tocar. Ou ver. O quarto era uma fina penumbra, mas a luz da sala estava acesa. Fui até ele, coloquei-me a seu lado. Ele sorriu. Compreendi que, na cegueira, primeiro o homem possui a solidão de um mundo
escuro e largo, depois, com o tempo, adquire o sorriso beato de quem, sem culpa ou dolo, levou uma bofetada e oferece a bater a outra face. Cabia a mim protegê-lo a todo
custo. Antes, no entanto, esquecendo a certeza presente, senti-me no direito de perguntar como ele se tornara cego. Ele respondeu, interrompendo-se ao piano:
― Mas não sou triste sendo cego. ― E, retomando a música do ponto onde tinha parado, disse a bem
de finalizar o assunto: ― Escute, é Mozart.
Eu estava, assim, livre do dever moral da
ternura. Fui terna apenas como uma mulher é terna com um homem, e pousei a mão sobre seu ombro.
Depois do viço de Mozart, os acordes permaneceram ecoando, dentro
do jeito surpreendente de entusiasmo. Pedi, desconheço por que motivo, a Fantasia-Improviso. Ele fez um gesto com a cabeça e
apertou muito as pálpebras. Notei que os pés procuravam os pedais: tocou a primeira nota com redobrada plangência, e o arpejo saiu-lhe como uma bordadura impetuosa. A dor
tão reconhecível se amplificava em mim, mas para suportar a dor fomos feitos, até que, num momento de mágica, ela desaparece.
Fui até a prateleira de livros; na ponta dos pés, peguei o volume do Anglo-Saxon Reader e estendi-me no sofá. Feliz, lenta ― era
justo ali que eu queria estar naquela noite de sábado, véspera de um dia duro como o domingo -, apertei o livro contra os seios. Adormeci quando a música ia pela metade.
FIM
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Cíntia Moscovich nasceu em Porto Alegre, em 1958. É
escritora, jornalista e Mestre em Teoria Literária pela PUCRS. Estréia na literatura em 1996 com o volume de contos O reino das cebolas (indicado ao Prêmio Jabuti). Em
1998 publica o romance Duas iguais, em 2000, o livro de contos Anotações durante o incêndio ― ambos vencedores do Prêmio Açorianos de Literatura -, e, em 2004,
Arquitetura do arco-íris (contos). Participou de diversas antologias de contos no Brasil e no exteior, entre elas, Geração de 90: manuscritos de computador, Ficções
fraternas, 25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira e Putas: novo conto português e brasileiro. Tem contos publicados em espanhol e inglês, e, dentre
vários prêmios literários conquistados, destaca-se o primeiro lugar no Concurso de Contos Guimarães Rosa, instituído pelo Departamento de Línguas Ibéricas da Rádio France
Internationale. Atualmente é editora de livros do jornal Zero Hora.
Se a solidão contagia, é uma
doença, no conto “Fantasia-improviso”, os dois personagens encontram-se no reino da música. A narradora, no texto, contempla um cego (que não masca chicles como o de
Clarice Lispector em
Amor, mas come castanhas) e as suas reflexões remontam a “cegos ilustres que haviam trocado o querido mundo das aparências por compensações exclusivas à esfera
do invisível”. Essa esfera, ou reino invisível, dá-se, sobretudo, quando uma dor reconhecível se amplifica até ao limite do insuportável e para atravessá-la, o sujeito
necessita de um momento mágico, epifânico, “uma bordadura impetuosa” em que, muitas vezes, as palavras são inúteis, mas imperativas.
Arquitetura do arco-íris
é uma reunião de contos que nasceu já elogiada por Luis Fernando Verissimo. Apresenta diversas situações ligadas a extremos da vida.
Transcendendo as marcas de sua origem, Cíntia experimenta narradores diversos em momentos igualmente diversos: ali está a jovem que sai de casa após a morte do pai para
viver uma situação de estranheza com uma colega de aula, como em "Cartografia", a relação amorosa entre uma moça e um músico cego, caso de
Fantasia-Improviso, passando pela jornalista que deve enfrentar um irascível tradutor, como em 'O tempo e a memória'. Com o fino estilete da ironia, a autora desses novos contos arquiteta, em torno do universo feminino, narrativas que
prendem o leitor numa espécie de labirinto narrativo, numa cartografia imaginária. [Fontes: Lyslei
Nascimento & Cíntia Moscovich]
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texto integral:
'Fantasia-improviso'
conto de
Cíntia Moscovich
in
Arquitetura do arco-íris, 2004
Edições
Record ―
Rio de Janeiro
20.Fev.2013
Publicado por
MJA
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