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- excerto -

Marie-Laure vive em Paris com o pai, perto do Museu de História Natural, onde ele trabalha. Aos seis anos, fica cega e, numa tentativa de a ajudar a
orientar-se, o pai cria uma miniatura perfeita da vizinhança deles. É dessa forma que ela consegue aprender os caminhos que a levarão de volta para casa. Alguns
anos depois, os nazis ocupam Paris e eles são obrigados a fugir para a casa de um tio em Saint-Malo...
O DEPÓSITO DE CHAVES
Catarata congênita. Bilateral. Incurável.
— Você consegue ver isso? — perguntam os médicos. — Consegue ver isso?
Marie-Laure não verá mais nada pelo resto da vida. Espaços que um dia lhe foram
familiares — o apartamento de quatro cômodos que ela divide com o pai, a pequena
praça com corredores de árvores no final da rua onde eles moram — se tornaram
labirintos arrepiantes cheios de perigos. As roupas de baixo nunca estão onde
deveriam. O banheiro é um abismo. Um copo de água está perto demais, longe
demais; os dedos dela, grandes demais, sempre grandes demais.
O que é a cegueira? Onde deveria haver uma parede, as mãos nada encontram. Onde
não deveria haver nada, uma perna de mesa arranha sua canela. Roncos de carros
nas ruas; murmúrio de folhas pelo céu; o sussurro do sangue em seus ouvidos. Na
escada, na cozinha, mesmo ao lado da sua cama, vozes de adultos falam sobre
desespero.
— Pobre criança.
— Pobre monsieur LeBlanc.
— Ele não teve uma vida fácil, sabe? O pai morreu na guerra, a mulher morreu no
parto. E agora isso?
— Como se estivessem amaldiçoados.
— Olhe para ela. Olhe para ele.
— É melhor mandar a menina embora.
São meses de machucados e desventuras: quartos inclinando-se como veleiros,
portas entreabertas atingindo o rosto de Marie-Laure. Seu único santuário é a
sua cama, a barra da colcha até o queixo, enquanto o pai fuma outro cigarro na
cadeira ao lado dela, reduzindo pouco a pouco o tamanho de um dos seus
pequeninos modelos, o pequeno martelo fazendo tap tap tap, a pequena lixa
quadrada com seu raspar ritmado, calmante.
***
O desespero não dura. Marie-Laure é jovem demais, e seu pai é paciente demais.
Maldições, ele lhe assegura, não existem. Existe sorte, talvez, boa ou má. Cada
dia com uma leve inclinação ao sucesso ou ao fracasso. Mas maldições, não.
Seis manhãs por semana, ele a acorda antes do amanhecer, e ela estende os braços
no ar enquanto ele a veste. Meias, vestido, suéter. Se têm tempo, ele tenta
fazer com que ela amarre os sapatos sozinha. Então eles bebem uma xícara de café
juntos na cozinha: quente, forte, com a quantidade de açúcar que ela quiser.
Às seis e quarenta, ela pega a bengala branca no canto, engancha um dedo na
parte de trás do cinto do pai e o segue descendo quatro andares e andando seis
quarteirões até o museu. [...]
***
Em casa, à noite, o pai guarda os sapatos dos dois no mesmo canto, pendura os
casacos dos dois no mesmo gancho. Para chegar à mesa, Marie-Laure passa por seis
fitas antiderrapantes coladas equidistantes nos azulejos da cozinha; segue uma
tira de barbante da mesa até o banheiro. Ele serve o jantar em um prato redondo
e descreve a localização dos diferentes tipos de alimento fazendo uma analogia
com os ponteiros de um relógio. Batatas às seis horas, ma chérie. Os cogumelos,
às três horas. Depois o pai acende um cigarro e se põe a trabalhar em suas
miniaturas em uma bancada no canto da cozinha. Ele está construindo uma maquete
de todo o bairro, as casas de janelas altas, os bueiros, a laverie, a
boulangerie e a pequena place no final da rua com os quatro bancos e as dez
árvores. Nos dias mais quentes, Marie-Laure abre a janela do quarto e escuta os
barulhos enquanto a noite cai sobre as sacadas, os telhados e as chaminés,
lânguida e pacífica, até que o bairro real e a miniatura se mesclem em sua
mente.
LEVE-NOS PARA CASA
Marie-Laure, em geral, é capaz de resolver os quebra-cabeças de madeira que o
pai constrói nos aniversários dela. Frequentemente são caixas no formato de
casas e contêm algum brinde escondido. Abri-las envolve uma série engenhosa de
etapas: encontrar uma junção com as pontas dos dedos, deslizar o fundo para a
direita, deslocar a cantoneira, retirar uma chave escondida dentro da
cantoneira, destrancar a parte de cima e descobrir a pulseira que está escondida
na caixa.
No seu sétimo aniversário, um diminuto chalé de madeira depositado no centro da
mesa da cozinha, no local onde deveria estar o pote de açúcar. Ela abre uma
gaveta escondida, descobre um compartimento oculto sob a gaveta, retira uma
chave de madeira e encaixa a chave na chaminé. Dentro do chalé, uma barra de
chocolate suíço a espera.
— Quatro minutos — o pai dela ri. — Vou ter que me esforçar mais no ano que vem.
Por muito tempo, entretanto, ao contrário dos quebra-cabeças, a maquete da
vizinhança fez pouco sentido para ela. Não é como o mundo real. O cruzamento em
miniatura da Rue de Milbel com a Rue Monge, por exemplo, a apenas um quarteirão
de distância do apartamento, não é como o cruzamento real. O real apresenta um
anfiteatro de barulhos e fragrâncias: no outono, cheira a tráfego e óleo de
rícino, pão da padaria, cânfora da farmácia Avent, delfínio, ervilha-de-cheiro e
rosas do quiosque de flores. Nos dias de inverno, mergulha no odor de castanhas
assadas; nas noites de verão, ele se torna lento e letárgico, cheio de conversas
sonolentas e o arrastar de pesadas cadeiras de ferro.
Porém, a miniatura do mesmo cruzamento feita pelo pai só cheira a cola seca e
serragem. As ruas estão vazias, as calçadas, estáticas; aos dedos dela, são
apenas uma cópia pequena e insuficiente. Ele insiste, pedindo a Marie-Laure que
passe os dedos sobre ela, reconhecendo casas diferentes, os ângulos das ruas. E,
em uma fria terça-feira de dezembro, quando Marie-Laure já estava cega havia
mais de um ano, o pai sobe a Rue Cuvier com ela até chegar à extremidade do
Jardin des Plantes.
— Aqui, ma chérie, é o caminho que fazemos toda manhã. Seguindo pelos cedros à
frente está a Grande Galeria.
— Eu sei, Papa.
Ele a levanta e a gira três vezes.
— Agora — diz ele —, você vai nos levar para casa.
Ela fica boquiaberta.
— Quero que você pense na maquete, Marie.
— Mas não consigo de jeito nenhum!
— Vou ficar um passo atrás. Não vou deixar que nada aconteça. Você tem sua
bengala. Você sabe onde está.
— Não sei!
— Sabe, sim.
Exasperação. Ela não é capaz nem de dizer se os jardins estão na frente ou
atrás.
— Acalme-se, Marie. Um centímetro de cada vez.
— É longe, Papa. Seis quarteirões, no mínimo.
— Exatamente seis quarteirões. Use a lógica. Para que lado devemos ir primeiro?
O mundo gira e ruge. Os corvos gritam, os freios assobiam, alguém à sua esquerda
bate em algum metal com um instrumento que parece ser um martelo. Ela arrasta os
pés enquanto sua bengala flutua no espaço. O limite da calçada? Um lago, uma
escadaria, um despenhadeiro? Ela vira noventa graus. Três passos para a frente.
Agora a bengala encontra a base de uma parede.
— Papa?
— Estou aqui.
Seis passos sete passos oito. Um barulho estrondoso — um dedetizador saindo de
uma casa, a bomba ressoando — os surpreende. Doze passos além, o sino pendurado
na maçaneta de uma loja repica, e duas mulheres saem, esbarrando nela ao passar.
Marie-Laure deixa a bengala cair e começa a chorar.
O pai a levanta e a aperta contra o peitoral estreito.
— É grande demais — sussurra ela.
— Você consegue, Marie.
Ela não consegue.
LUZ
Uma terça-feira após a outra ela fracassa. Conduz o pai em desvios de seis
quarteirões que a deixam irada, decepcionada e ainda mais longe de casa. Porém,
no inverno do ano de seu oitavo aniversário, para a surpresa de Marie-Laure, ela
começa a acertar. Passa os dedos sobre a maquete na cozinha deles, contando
miniaturas de bancos, árvores, postes de luz e portas de entrada. Todo dia algum
detalhe novo emerge — cada bueiro, banco de parque e hidrante da maquete tem sua
contraparte no mundo real.
Marie-Laure traz o pai para mais perto de casa a cada tentativa frustrada.
Quatro quarteirões três quarteirões dois. E em uma terça-feira nevoenta de
março, quando o pai a leva para mais um novo ponto de partida, muito perto das
margens do Sena, e a faz girar três vezes antes de dizer “Nos leve para casa”,
ela percebe que, pela primeira vez desde que começaram esse exercício, não
sentiu o pavor revirar seu estômago.
Em vez disso, ela se agacha na calçada.
O odor levemente metálico da neve caindo a envolve. “Acalme-se. Escute.”
Os carros espalham água ao longo das ruas, e a neve derretida percute ao longo
de córregos; ela pode ouvir os estalidos e cliques dos flocos de neve nas
árvores. Pode sentir o cheiro dos cedros do Jardin des Plantes a quatrocentos
metros de distância. Nessa direção, o metrô ressoa por baixo da calçada: é o
Quai Saint-Bernard. Naquela, o céu está desimpedido, e ela ouve os estalidos dos
galhos: trata-se da estreita faixa de jardins atrás da Galeria de Paleontologia.
Aqui, imagina ela, deve ser a esquina do cais com a Rue Cuvier.
Seis quarteirões, quarenta prédios, dez pequeninas árvores em uma quadra. Essa
rua cruza essa rua que cruza essa rua. Um centímetro de cada vez.
O pai dela mexe as chaves nos bolsos. À frente, assomam as altas e grandiosas
casas que ladeiam os jardins, rebatendo o som.
— Vamos para a esquerda — diz ela.
Começam o percurso da Rue Cuvier. Um trio de patos voa enfileirado para a
direção oposta, batendo as asas em sincronia, seguindo para o Sena, e, à medida
que as aves passam por cima de suas cabeças, ela imagina a luz repousando sobre
suas asas, batendo em cada pena.
À esquerda na Rue Geoffroy Saint-Hilaire. À direita na Rue Daubenton. Três
bueiros quatro bueiros cinco. Mais adiante à esquerda deve estar a cerca de
ferro aberta do Jardin des Plantes, suas finas barras semelhantes às de uma
enorme gaiola.
Do outro lado agora estão: a padaria, o açougue, a delicatéssen.
— Podemos atravessar com segurança, Papa?
— Podemos.
À direita. Depois reto. Eles estão na rua de casa agora, ela tem certeza disso.
Um passo atrás dela, o pai inclina a cabeça para cima e oferece ao céu um enorme
sorriso. Marie-Laure sabe disso mesmo à frente de seu pai, mesmo sem uma única
palavra dele, mesmo sendo cega — o cabelo espesso do Papa está molhado da neve e
se arrepiando em uma dúzia de ângulos diferentes, o cachecol dele está disposto
assimetricamente sobre seus ombros, e ele está escancarando um sorriso para a
neve que cai.
Estão a meio-caminho na Rue des Patriarches. Estão do lado de fora do prédio
onde moram. Marie-Laure encontra o tronco da castanheira que cresce até sua
janela no quarto andar, a casca da árvore sob seus dedos.
Velha amiga.
Mais meio segundo e as mãos do pai erguem Marie-Laure por baixo dos braços,
balançando-a para o alto. Ela sorri, e ele ri uma risada genuína, contagiante,
uma risada que ela não quer esquecer nunca, pai e filha girando na calçada em
frente ao seu edifício, rindo juntos enquanto flocos de neve escapam dos galhos
acima deles.
A VOLTA AO MUNDO EM OITENTA DIAS
Dezasseis passos para o chafariz, dezesseis de volta. Quarenta e dois para a
escada, quarenta e dois de volta. Marie-Laure desenha mapas na cabeça, desenrola
cem metros de um barbante imaginário, e então dá meia-volta e o enrola
novamente. A Botânica tem cheiro de cola e mata-borrão e flores prensadas. A
Paleontologia tem cheiro de pó de rocha, pó de ossos. A Biologia tem cheiro de
formol e fruta velha; está abarrotada de potes de vidro pesados onde flutuam
coisas que descreveram só para ela: cascavéis pálidas enroladas como cordas,
mãos decepadas de gorilas. A Entomologia tem cheiro de naftalina e óleo: um
conservante, explica o dr. Geffard, que é denominado naftaleno. Os escritórios
têm cheiro de papel carbono, ou fumaça de charuto, ou conhaque, ou perfume. Ou
os quatro juntos.
Ela se guia por cabos e canos, trilhos e cordas, cercas e calçadas. Pega as
pessoas de surpresa. Nunca sabe se as luzes estão acesas.
As crianças que encontra a enchem de perguntas.
— Dói?
— Você fecha os olhos quando dorme?
— Sabe que horas são?
Não dói, ela explica. E não existe escuridão, não do jeito que as outras
crianças imaginam. Tudo é composto de teias, tramas, turbulências de sons e
texturas. Ela caminha em círculo em torno da Grande Galeria, navegando pelo
rangido das tábuas; ouve pés marchando para cima e para baixo nas escadas do
museu, o grito estridente de um bebê, o gemido cansado de uma avó se prostrando
sobre um banco.
Cor — outra coisa que as pessoas não sabem. Em sua imaginação, em seus sonhos,
tudo tem cor. Os prédios do museu são de cor bege, castanha, marrom. Seus
cientistas são lilás, amarelo-limão e castanho-avermelhado. Acordes de piano se
distendem de dentro do rádio portátil na guarita, projetando azuis complexos e
pretos suntuosos pelo corredor em direção ao depósito de chaves. Os sinos da
igreja desenham arcos de bronze pelas janelas. As abelhas são prateadas; os
pombos são castanho-avermelhados e de vez em quando dourados. Os imensos
ciprestes pelos quais ela e o pai passam nas caminhadas da manhã são
caleidoscópios cintilantes, cada galho um polígono de luz.
Ela não tem recordações da mãe, mas a imagina como um brilho branco e mudo. O
pai irradia mil cores, opala, vermelho-morango, ferrugem forte, verde
extravagante; o odor parecido com óleo e metal, a sensação de uma chave abrindo
a porta de casa, o som de seus chaveiros tilintando à medida que ele caminha.
Ele é verde-oliva quando fala com um chefe de departamento, tons de laranja em
crescendo quando conversa com a mademoiselle Fleury das estufas, vermelho vivo
quando tenta cozinhar. Ele resplandece em safira quando se senta na bancada de
trabalho à noite, murmurando uma canção de maneira quase inaudível enquanto
trabalha, a ponta do cigarro cintilando um azul prismático.
Ela se perde. Secretárias ou botânicos, e certa vez até o assistente do diretor,
levam-na de volta ao depósito de chaves. Ela é curiosa: quer saber a diferença
entre uma alga e um líquen, um Diplodon charruanus e um Diplodon delodontus.
Homens famosos a seguram pelo cotovelo e a acompanham através dos jardins ou a
conduzem pela escadaria. Eles dizem: “Também tenho uma filha.” Ou: “Eu a
encontrei no meio dos beija-flores.”
— Toutes mes excuses — responde o pai dela. Ele acende um cigarro; retira chave
após chave dos bolsos dela. — O que vou fazer com você? — sussurra.
No seu nono aniversário, ao despertar, ela encontra dois presentes. O primeiro é
uma caixa de madeira sem nenhuma abertura que ela consiga encontrar. Ela a gira
para lá e para cá. Leva certo tempo para perceber que uma das laterais é
acionada por mola; ela a pressiona, e a caixa abre um lado. Lá dentro há um
único cubo de Camembert cremoso que ela leva diretamente para dentro da boca.
— Fácil demais! — diz o pai, rindo.
O segundo presente é pesado, embrulhado com papel e barbante. Dentro da
embalagem está um volumoso livro espiralado. Em braille.
— Disseram que é para meninos. Ou meninas muito aventureiras — diz o pai, e ela
pode senti-lo sorrir.
Ela desliza os dedos no relevo da página da capa. A. Volta. Ao. Mundo. Em.
Oitenta. Dias.
— Papa, é caro demais.
— Você não tem que se preocupar com isso.
Naquela manhã, Marie-Laure se enfia por baixo do balcão do depósito de chaves,
se deita de bruços e posiciona os dez dedos em uma linha de uma página. O
francês parece antiquado, e os pontos, gravados muito mais próximos do que ela
está acostumada. Porém, após uma semana, torna-se fácil. Ela encontra a fita que
usa como marcador de página, abre o livro, e o museu se distancia.
O misterioso sr. Fogg leva a vida como uma máquina. Jean Passepartout se torna
seu obediente pajem. Quando, depois de dois meses, ela alcança a última linha do
romance, volta para a primeira página e começa tudo de novo. À noite, ela passa
as pontas dos dedos sobre a maquete do pai: a torre do sino, as vitrines.
Imagina os personagens de Júlio Verne caminhando pelas ruas, conversando em
lojas; um padeiro de pouco mais que um centímetro faz pães do tamanho de um grão
deslizarem para dentro e para fora dos seus fornos; três minúsculos assaltantes
traçam planos enquanto passam lentamente de carro pela joalheria; pequenos e
barulhentos automóveis se apertam na Rue de Mirbel, os limpadores de para-brisas
deslizando para um lado e para o outro. Por trás de uma janela do quarto andar
de um prédio na Rue des Patriarches, uma versão em miniatura do pai dela
senta-se em uma bancada de trabalho em seu apartamento miniatura, exatamente
como ele faz na vida real, polindo uma pequenina peça de madeira; do outro lado
do cômodo, a miniatura de uma garota muito magra e inteligente, um livro aberto
no colo; dentro do seu peito, pulsa algo imenso, algo cheio de desejos, algo
destemido.
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Anthony Doerr é historiador e autor dos
livros: The Shell Collector e Memory Wall (contos), Four Seasons in Rome (memórias)
e About Grace (romance). Anthony Doerr dedicou 10 anos a escrever 'Toda Luz
Que não Podemos Ver':
- livro finalista do National Book Award em 2014
- livro vencedor do Prémio Pulitzer de ficção 2015

excerto de:
Toda Luz Que não Podemos Ver
Anthony Doerr
título original: All the Light We Cannot See
Scribner, 2014
[22.Abr.2015]
Publicado por
MJA
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