
fotografia de Nicholas Nixon, 1992
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RESUMO: Deficiência visual é um dano no sistema visual na sua globalidade ou
parcialidade, podendo
variar quanto às suas causas e/ou natureza. Foi feito o enquadramento desta
deficiência à luz do modelo de auto-regulação da aprendizagem, sendo este um processo que permite ao
aluno iniciar, controlar e desenvolver a sua aprendizagem. Os alunos com deficiência visual
podem frequentar programas de educação integrada ou escolas especiais, sendo uma das dificuldades
de uma escola normal as limitações e obstáculos existentes no espaço escolar. É importante e
necessário um acompanhamento psicológico destes indivíduos, de forma a evitar sentimentos de
desvalorização pessoal, de inutilidade, bem como apoio psico-pedagógico no contexto escolar.
INTRODUÇÃO
A educação constitui não só a área que reúne um maior número de psicólogos
portugueses, mas também a que talvez mais tem contribuído para o progresso e o
desenvolvimento da psicologia como ciência e como profissão.
A intervenção psicológica no contexto educativo português é ainda principiante e
pouco clara. De facto, já se assiste a uma considerável interpretação da Psicologia e
da Educação, quando Portugal só muito recentemente começou a dispor de esquemas
institucionais para a intervenção de psicólogos.
O nosso caso de estudo tem por tema “ O apoio psicopedagógico ao deficiente
visual”. A razão que nos levou a optar por este tema foi considerarmos que existe uma
lacuna na prestação de apoio psicopedagógico ao deficiente visual. Pretendemos portanto, que este trabalho contribua, de alguma forma, para
complementar a nossa formação e, fundamentalmente, para a melhoria da qualidade de vida destes
indivíduos.
Para efectuar um estudo transversal com finalidades de conhecimento
longitudinal, contactaremos algumas instituições especializadas no apoio ao deficiente visual,
que nos facilitarão a recolha de informação, nomeadamente a ACAPO e a escola de
referência para a deficiência visual de Coimbra.
A fim de orientar o nosso trabalho, considerámos mais relevantes as seguintes
questões:
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Como é que o deficiente visual vivencia a componente social nos contextos
escolares?
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Que tipo de escola frequentam/frequentaram os deficientes visuais consultados?
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O braille poderá contribuir como um recurso de inclusão/ melhorar a comunicação
entre o deficiente visual e o normovisual?
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Quais são as limitações da escola a nível de mobilidade, da rotina diária, no
acesso a materiais de aprendizagem, possíveis de ultrapassar?
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Existem programas/modelos de educação internacionais promissores?
A questão fulcral do nosso trabalho centra-se no papel que o psicólogo pode desempenhar na melhoria da qualidade de vida e no apoio psico-educativo do
deficiente visual.
Enquadramento Teórico
Consideramos ser importante definir, em primeiro lugar, o que é deficiência.
Deficiência é um conceito social ao qual foi atribuído, ao longo do tempo, diferentes
significados, algumas vezes ambíguos. Então, deficiência é o termo usado para definir a ausência ou a
disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatómica, no que diz respeito à biologia
da pessoa (Silverstone, Lang, Rosenthal & Faye, 2000).
Segundo a OMS, a deficiência visual é um dano no sistema visual na sua
globalidade ou parcialidade, podendo variar quanto às suas causas (traumatismo, doença,
malformação, deficiente nutrição) e/ou natureza (congénita, adquirida, hereditária) e
traduz-se numa redução ou numa perda de capacidade para realizar tarefas visuais (ler, reconhecer
rostos, etc.). (ACAPO, 2009)
O termo deficiência visual é utilizado muitas vezes indistintamente, pois é
empregue tanto no que diz respeito a problemas de visão parcial, como no que respeita à
cegueira (Silverstone, Lang, Rosenthal & Faye, 2000).
Há que distinguir a ambliopia, a baixa visão, a visão sub-normal, a visão
reduzida e ainda visão parcial, no que diz respeito à deficiência visual.
Ambliopia, medicamente falando, diz respeito à deterioração da função visual sem
que existam anomalias orgânicas no olho, isto é, o doente tem uma capacidade visual
reduzida, a qual não está sujeita a melhoras mesmo que se recorra à correcção óptica (Marcus,
1999). Ainda dentro da ambliopia, podem diferenciar-se três tipos: a ambliopia profunda, em
que a acuidade visual é abaixo de 1/10; a ambliopia orgânica, quando há lesão do globo ocular
ou das vias ópticas e ainda ambliopia funcional, quando não existem danos orgânicos (ACAPO,
2009).
A baixa visão, por seu turno, subdivide-se em dois tipos, moderada ou severa. No
entanto, este défice não deve ser só definido pela acuidade visual mas também pela
eficiência e visão funcional. O conceito de visão reduzida define-se por “diminuição significativa
na capacidade visual” (Rodrigues, 2004, p.10)
Quanto à cegueira propriamente dita, os critérios que a definem e distinguem da
visão reduzida são ainda muito discutidos. No entanto, a Classificação Internacional
de Doenças, Incapacidades e Desvantagens categoriza a cegueira consoante o grau de visão em
cegueira profunda, quase total e total (SNR, 1999).
Podemos, ainda, fazer uma distinção do tipo de cegueira conforme o momento do
seu aparecimento. Congénita, quando aparece até ao primeiro ano de vida; se o seu
aparecimento surgir entre o primeiro e o terceiro ano de vida, denomina-se por cegueira
precoce; caso surja depois do terceiro ano de vida, considera-se o termo cegueira adquirida (Hatwell,
1966, citado em Moura & Castro, 1998). Outra forma de discriminar os tipos de cegueira é
quanto ao seu
aparecimento, podendo categorizar-se por gradual, progressiva ou repentina (Dodds,
1993; Tuttle, 1984; Tuttle & Tuttle, 1996).
A compreensão desta temática pode ser simplificada com o recurso ao quadro de
classificação de deficiências visuais, da OMS, a CID-10 (WHO, 2009). Nesta
podemos encontrar a classificação das condições de saúde relacionadas com doenças, transtornos ou
lesões, através de um modelo fundamentado na etiologia, anatomia e causas externas das lesões.
Na classificação da cegueira, considera-se a acuidade visual do indivíduo e o seu
grau de comprometimento, categorizado em classes (ver Quadro 1).
Quadro 1 – Classificação da deficiência visual
(adaptado do CID-10, OMS)
Classificação da visão
(OMS)
|
Grau da
Deficiência
|
Acuidade visual com a
melhor correcção possível
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Denominações semelhantes
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Visão
Baixa visão
|
Nula
|
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Da ordem da visão normal
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Ligeira
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0.8 ou melhor (5/6, 6/7.5, 20/25 ou melhor)
|
Visão quase normal
|
Moderada (categoria 1)*
|
Menos de 0.8 (< 5/6, 6/7.5, ou 20/25)
|
Ambliopia normal
|
Grave (categoria 2)*
|
Máximo inferior a 3/10 (0,3)
Mínimo igual ou melhor que 1/10 (0.1)
|
Ambliopia grave
ou cegueira legal
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Máximo inferior a 1/10 (0,01)
Mínimo igual ou melhor que 1/20 (0,05)
|
Cegueira
|
Quase total (categoria 3)*
|
Máximo inferior a 1/50 (0,02)
Mínimo: conta dedos a 1 m
Percepção de luz
|
Cegueira grave ou quase total
|
Total (categoria 9)*
Indeterminada
|
Sem percepção de luz
Indeterminada não específica
|
Cegueira total
Perda de visão indeterminada
|
|
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*categorias definidas pela CID-10, da OMS.
É sabido que a deficiência visual tem um grande impacto na vida do indivíduo
invisual e na vida de quem o rodeia. Langelaan et al., em 2007, realizaram um estudo em que
estabelecem
uma comparação entre indivíduos com deficiência visual, sujeitos normo visuais e
doentes crónicos. Então, verificou-se que a deficiência visual tem um grande impacto
negativo na qualidade de vida dos sujeitos.
Como referiu Tuttle (1984) e Tuttle & Tuttle (1996), a deficiência visual tem
implicações a variados níveis: na escrita, na leitura, nas possibilidades de emprego, na
realização das mais simples tarefas domésticas, tais como, comer, vestir-se, etc. Em Portugal, por
exemplo, a maioria dos invisuais empregados são-no por membros das suas redes sociais. Ainda assim,
havendo uma adequação e adaptação ao local do trabalho, estes indivíduos são tão rentáveis,
empenhados e competentes como um qualquer trabalhador normo visual (ACAPO, 2009).
Relativamente a aspectos psicológicos, não é obrigatório que a pessoa portadora
de deficiência visual possua problemas no desenvolvimento psicológico ou, pelo
menos, não é manifesto que a deficiência visual grave associe obrigatoriamente problemas
psicológicos ou deficiências de desenvolvimento. Apesar das experiências do indivíduo estarem
reduzidas, o organismo dispõe de outras vias de recolha de informação que podem complementar
a via visual, com a adequada orientação e apoio, aproximando-o do indivíduo com um “padrão
normal”.
Sabe-se contudo que uma criança cega fica mais tempo do que uma criança
normovisual em algumas etapas do desenvolvimento, pois a ausência de visão pode actuar como um
obstáculo ao desenvolvimento, tornando-se mais lenta a passagem de uma etapa a outra (Martin
& Bueno, in Bautista, 1997).
Socialmente, é de referir os estereótipos ainda existentes, quer da parte dos
que vêem, como daqueles que não vêem, o isolamento e afastamento social, a passividade e
também a dependência dos invisuais. Ainda relativamente a estes últimos, e a nível
psicológico, há dificuldades de aprendizagem de conceitos – sobretudo em cegos precoces que não
têm qualquer noção – dificuldades de integração, no caso de estar num grupo maioritariamente
de normo visuais, entre outros. Mas, no geral há sempre espaço para um processo de
ajustamento, durante o qual é muito importante estar presente uma boa auto-estima (ACAPO, 2009).
Carrol (1968), indica ainda outras alterações nas pessoas que têm cegueira
adquirida, tais como perda do tónus muscular, sensação de fadiga, sono desregulado, etc.
Relativamente às tarefas da parentalidade, Couto (2008) refere que investigações
recentes realizadas neste âmbito concluíram que a adaptação às tarefas e cuidados do bebé
são progressivas e eficazes, onde a aprendizagem é feita por tentativas e erro.
Comparando a vida social e estado emocional de adolescentes com pais invisuais e
adolescentes filhos de pais normo visuais, conclui-se que no que respeita ao
estado emocional, relações de amizade e sentimentos relativos aos pais são mais positivos em
adolescentes filhos de pais cegos. Também no que respeita à interacção social são os filhos de pais com
deficiência visual que têm resultados mais positivos. Uma explicação para estes resultados é
a sua maior flexibilidade intelectual, em que estes jovens são menos preconceituosos e mais
tolerantes com os outros. Com isto, podemos verificar que a deficiência visual em nada
influencia a qualidade das funções parentais (Couto, 2008).
Modelo Conceptual
Atendendo ao tema escolhido e aos objectivos pretendidos, exploraremos o
seguinte modelo conceptual: Modelo de Auto-regulação da Aprendizagem.
O nosso objectivo é o de tentar compreender a aquisição das estratégias de
aprendizagem, ao longo do processo de escolarização para posteriormente podermos compreender
esta aprendizagem auto-regulada na deficiência visual. Para isso, atendendo a uma
ideologia de igualdade entre a aprendizagem dos alunos portadores de cegueira e dos
normovisuais, foi feito o enquadramento desta deficiência à luz do modelo de auto-regulação da
aprendizagem.
A nosso ver, o aluno portador de deficiência visual, a fim de conseguir uma
maior produtividade académica deve, de acordo com este modelo conceptual e com a
possível intervenção do psicólogo, adquirir competências de autonomia para que possa
fazer uma gestão mais eficaz do seu estudo.
Técnicas de Estudo
Vivemos numa sociedade vasta em informação e em conhecimento múltiplo, onde há
necessidade de actualizar as aprendizagens ao longo da vida. Neste sentido,
reconhece-se a incapacidade do homem para captar toda a informação, sendo, por isso,
indispensável desenvolver o indivíduo como um ser estratégico, gestor da multiplicidade de
dados com que tem que lidar (Simão, 2002).
Sem dúvida que “há uma tendência antiga nas escolas portuguesas para considerar
o saber como um conjunto de conhecimentos puramente intelectuais (…). [Porém,] o saber
irriga a personalidade inteira, dá-lhe capacidades de resolver situações dentro e fora de
quem o possui” (Simão, 1998, citado por Simão, 2002).
Contudo, é também inegável que, actualmente, existe o risco da sociedade se
cindir entre “aqueles que podem interpretar, aqueles que só podem utilizar, e aqueles que são
marginalizados numa sociedade que os assiste”, sendo que os portadores de deficiência visual se
enquadram, a maior parte das vezes, neste último ponto. Aqui se encontra a principal função
da escola: compreender os mecanismos de funcionamento desta mesma sociedade para, desta
forma, auxiliar os invisuais e melhorar a sua qualidade de vida (Simão, 1998, citado
por Simão, 2002).
Actualmente, torna-se necessário que o processo educativo se baseie, não tanto
na transmissão de conhecimentos e informações mas, mais em orientar e facilitar a
formação do pensamento e acção do cidadão, como aponta (Pérez Gómes,1996 in Simão, 2002). Portanto, tendo em conta a complexidade dos fenómenos educativos, é exigida uma
aproximação interdisciplinar entre a educação e a psicologia (Hernandéz, 1997,
citado por Simão, 2002).
Para De Corte (Valls, 1993), o principal objectivo cognitivo da aprendizagem
escolar é a aquisição de procedimentos, que distingue em quatro categorias:
1 – aplicação
flexível de um conhecimento bem organizado, específico de uma área que compreenderá conceitos,
regra, princípios, fórmulas e algoritmos;
2 – métodos heurísticos para a análise e
transformação do problema;
3 – competências que incluem, por um lado, o conhecimento relativo ao
funcionamento cognitivo próprio e, por outro, actividades que se relacionam com
o autocontrolo e a regulação dos próprios processos cognitivos;
4 – estratégias de
aprendizagem, ou seja, as actividades que ocupam o estudante durante a aprendizagem com o fim de adquirir
qualquer dos três tipos de destrezas anteriores (Simão, 2002).
Pozo (Pozo, 1996) apresenta uma ordenação de estratégias de aprendizagem
explicitada na figura seguinte.

1-Programa desenhado por Danserau (1985), parte de ideia de que “o material deve
transformar-se em redes ou mapas de conexão entre pontos de intersecção. Durante a aquisição, o aluno
identifica os conceitos ou ideias importantes (pontos de intersecção) e representa as suas inter-relações
(conexões) em forma de um mapa ou rede”.
Como ajuda a este trabalho, ensina-se aos alunos uma série de conexões
etiquetadas que podem usar-se para codificar as relações entre as ideias.
2-Novak e Gowin (1996), partindo da teoria da aprendizagem de Ausubel (1963),
desenvolveram uma técnica para ajudar os alunos a “aprender a aprender”, baseada no ensino de
diversos tipos de mapas: mapas conceptuais e os mapas em V (Simão, 2002).
A concepção de Monereo do ensino das estratégias de aprendizagem está vinculada
à metodologia de ensino/aprendizagem utilizada pelo professor para favorecer a
reflexão, ou seja, o “pensar sobre como se pensa ao aprender” (Monereo, 1995, citado por Simão,
2002).
Também Noguerol (1994) apresenta uma classificação dos procedimentos com o
objectivo de orientar a organização das actividades escolares. Entende, por procedimento,
o conjunto de acções ordenadas, orientadas para atingir uma meta, referindo-se aos processos
mentais que realizam os alunos nas tarefas escolares (Simão, 2002).
Estratégias de Aprendizagem
A deficiência visual traduz-se numa redução da informação que o sujeito capta do
meio ambiente, restringido uma grande quantidade de dados que este proporciona e que
são muito importantes para a edificação do conhecimento sobre o mundo exterior (Martin &
Bueno, in Bautista, 1997).
Na área motriz observam-se com bastante frequência lacunas, detenções e atrasos
no desenvolvimento, assim como anomalia e/ou ausência de condutas motrizes
adequadas e eficazes (Tardón & Jiménes, 1989).
A maioria das crianças cegas e amblíopes apresentam um atraso intelectual e
escolar (Tardón & Jiménes, 1989).
As dificuldades na resolução adequada de diferentes tarefas remetentes a áreas
de ordem cognitiva distintas, levam-nos a concluir que a construção da estrutura do
intelecto nas crianças cegas apresenta características próprias, marcadas basicamente pela dificuldade
que se supõe ser trabalhar com um código háptico-auditivo, com o que de dificuldade comporta para
a criação da bagagem representacional da inteligência (Tardón & Jiménes, 1989).
A avaliação intelectual de crianças cegas é difícil visto que não há
instrumentos de medida devidamente desenhados para esta população (Tardón & Jiménes, 1989).
As crianças cegas e amblíopes podem apresentar um baixo nível de conhecimentos
gerais em tarefas de ordem matemática e em compreensão de palavras de vocabulário (Tardón
& Jiménes, 1989).
Um outro problema que pode ser apresentado por estas crianças é o verbalismo,
que consiste em utilizar no discurso palavras sem compreender o seu significado ou
sem conhecimento algum daquilo a que o mesmo se refere (Tardón & Jiménes, 1989).
A acção educativa orientada para crianças portadoras da deficiência visual deve
compreender a aplicação de estratégias ou técnicas específicas para a
estimulação visual; orientação e mobilidade; aquisição de capacidades para actividades da vida
diária como por exemplo a leitura, escrita e cálculo; utilizando materiais específicos adaptados
e aplicando materiais auxiliares que possibilitem a ampliação da imagem visual (Martin &
Bueno, in Bautista, 1997).
As estratégias de aprendizagem situam-se a um nível bem distinto do das técnicas
de estudo. Estas dizem respeito a operações ou actividades mentais que facilitam e
desenvolvem os vários processos de aprendizagem escolar, e permitem-nos processar, organizar,
reter e recuperar a informação que temos que aprender (Simão, 2002).
Weinstein e Mayer (1980) definem estratégias de aprendizagem como conhecimentos
ou condutas que influenciam os processos de codificação e facilitam a aquisição e
recuperação do novo conhecimento (Simão, 2002).
As estratégias de aprendizagem podem ser definidas como planos formulados pelos
estudantes para atingirem objectivos de aprendizagem, assim como qualquer
procedimento adoptado para a realização de uma determinada tarefa (Lopes da Silva e Sá,
citado por Simão, 2002).
As estratégias de aprendizagem têm uma grande importância, tanto para a prática
educativa como para a teoria psicológica. As teorias psicológicas da
aprendizagem foram abandonando, progressivamente, os modelos segundo os quais o conhecimento do
sujeito era uma simples réplica da realidade, assente na mera prática, tendo-se aproximado
de posições construtivistas, nas quais o conhecimento alcançado depende da interacção entre
a informação apresentada e os conhecimentos anteriores do sujeito. As teorias psicológicas da
aprendizagem tendem a orientar-se, cada vez, mais para a análise da interacção entre os
materiais de aprendizagem e os processos psicológicos processados pelo sujeito (Simão, 2002).
Por outro lado, os professores descobriram que o seu trabalho não se devia
apenas focar em proporcionar conhecimentos e em assegurar certos produtos ou resultados da
aprendizagem, mas que deviam fomentar, também, os processos mediante os quais esses produtos
podem alcançar-se, isto é, as estratégias de aprendizagem (Simão, 2002).
O conhecimento metacognitivo e o uso de estratégias
A metacognição e o seu papel nos processos de desenvolvimento e aprendizagem têm
vindo a expandir-se desde o início da década de 1980. Esta corrente prescreve
que o ensino não se deve limitar a transmitir conhecimentos, mas deve dar ênfase a ensinar os
alunos a aprender (Simão, 2002).
A metacognição pode referir-se a duas ideias: o conhecimento sobre os processos
cognitivos (Flavell, 1987) e a regulação dos processos cognitivos (Brown, 1987,
citado por Simão, 2002).
“A metacognição abrange não só o conhecimento e cognição sobre os objectos
cognitivos e outros (emoções, motivos) como pode significar igualmente qualquer forma de
monitorização do sistema cognitivo ou emocional” (Flavell, in Lopes da Silva e Sá, 1993:22,
citado por Simão, 2002).
Actualmente, tem-se dado ênfase à função auto-reguladora e não só à função
cognitiva da metacognição (Simão, 2002). A metacognição é o factor mais relevante e responsável da qualidade e eficiência
da aprendizagem e da sua transferência para situações novas. O sujeito aprende a
aprender à medida que essa transferência ocorre (Valente, 1992, citado por Simão, 2002).
Sternberg (1995), refere que não se deve pensar em ensino de estratégias sem se
ter o suporte de uma teoria da inteligência. Na sua compreensão, abordada a partir de
uma perspectiva de processamento da informação, considera a inteligência constituída por três
componentes principais: metacomponentes (processos executivos de nível superior utilizados
no planeamento, monitorização e tomada de decisão), componentes do desempenho (processos
utilizados na execução de uma tarefa) e componentes de aquisição de conhecimento (processos
utilizados na aprendizagem de nova informação) (Simão, 2002).
A metacognição é útil para que conhecimentos e competências possam ser
construídos com maiores possibilidades de sucesso e de transferência, assim como para aprender
estratégias de resolução de problemas que favoreçam o êxito e a transferência e, portanto, a
auto-regulação, e ainda para um sujeito poder ser mais autónomo na gestão das tarefas e nas
aprendizagens (ser auto-regulado e saber fazer-se ajudar), para que possa desenvolver uma motivação
para aprender e para a construção do conceito de si como aprendente (Doly in Grangeat
1997:27-28, citado por Simão, 2002).
Auto-regulação na aprendizagem
A aprendizagem auto-regulada é um processo em que o aluno pode iniciar,
controlar e desenvolver a sua aprendizagem. “O acento tónico passa das circunstâncias mais
próximas ou mais distantes, socioculturais, familiares ou pessoais, para se situar no papel
de agente activo que é capaz de assumir a iniciativa de o controlar em maior ou menor grau e nas suas
diversas vertentes” (Costa, 2001, p. 134).
Segundo Zimmerman (1989), para maximizar o desempenho escolar é fundamental actualizar e potencializar as capacidades do aluno para aprender, devendo os
aprendizes coordenar as aptidões cognitivas, metacognitivas e motivacionais por serem
cruciais no modo de aprendizagem, a par do conhecimento dos conteúdos.
Podem distinguir-se dois tipos de regulação na aprendizagem: a regulação externa
(efectuada pelos professores, livros ou computadores); e a regulação interna ou
auto-regulação, levada ao seu término pelo próprio aluno, (Simons & Beukhof, citado por
Figueira, 1994, p.16).
A auto-regulação é a competência de ser “auto-ensinante”, ou seja, ser capaz de
preparar, facilitar e regular a aprendizagem, facultar feedback e apreciações de
realização, estimular a motivação e a concentração. Tal implica um conhecimento metacognitivo, controlo
executivo ou processos de regulação, transformações ou aptidões executivas, e motivação.
(Simons & Beukhof, citado por Figueira, 1994, p.16).
Então, a auto-regulação seria, encarada segundo três directrizes: grau de
desenvolvimento activo no processo de aprendizagem; processo cíclico de modificação de
comportamentos; dependência de aspectos motivacionais (Costa, 2001).
Existem várias perspectivas relativamente à aprendizagem auto-regulada. Neste
trabalho vamos focar três abordagens consideradas, por nós, mais importantes: abordagem
comportamentalista, construtivista e sócio-cognitiva.
1. Perspectiva comportamentalista
Esta abordagem não considera aspectos não observáveis, reconhecendo estímulos
antecedentes e consequentes dos comportamentos. Esta perspectiva baseia-se nos
princípios de Skinner. Este defende que a auto-regulação seria todo o comportamento operante,
isto é, seria controlada pelas suas consequências, em virtude do facto dos estímulos
relevantes estarem presentes (Mace, Belfiori & Shea,1989).
Os procedimentos em que se basearia a aprendizagem seriam a auto-monitorização,
a autoinstrução e o auto-esforço. Os aspectos desenvolvimentais são desvalorizados, dando ênfase
a procedimentos como a modelagem, a instrução directa e o reforço da conexão com
aspectos
externos, produzindo a automatização da auto-regulação. A auto-consciência pode
ser deduzida pela auto-reacção do sujeito face à necessidade de controlar o método de
aprendizagem (Mace, Belfiori & Shea, 1989).
2. Perspectiva construtivista
Os construtivistas afirmam que a base de toda a aprendizagem são esquemas
(considerados planos que especificam as relações entre conjuntos de ideias e objectos) e que
os estudantes vão construindo representações da realidade cada vez mais complexas e desenvolvendo
um empenho de adaptação do seu comportamento (Costa, 2001).
Para Zimmerman (1989), as principais referências da perspectiva construtivista
são os estudos de Bartlett e as pesquisas de Piaget, tendo na sua essência seis ideias
essenciais: existe uma motivação intrínseca para a procura de informação; ocorrem reajustes
progressivos ao nível de aprendizagem; os alunos possuiriam limitações desenvolvimentais; e a reflexão
e a reconstrução estimulam a aprendizagem (Paris & Byrne, 1989).
O papel auto construtivo do sujeito no processo de auto-regulação da
aprendizagem é valorizado segundo esta perspectiva. Paris e Byrne (1989) expõem quatro aspectos
essenciais de aprendizagem auto-regulada, apelidados por teorias, e que têm a particularidade
de ser um resultado da construção do sujeito, a partir de percepções de auto-eficácia,
atribuições e metacognições: teoria da auto-competência, teoria do esforço, teoria das tarefas e a teoria das
estratégias. Segundo os construtivistas o aluno é visto como sendo capaz de
planear, estabelecer objectivos, empenharem-se e envolverem-se na tarefa, de uma maneira optimista e
positiva sendo, portanto, indispensável que tenham tido acesso a um variado número de
estratégias de aprendizagem.
A motivação é intrínseca à procura de informação, e o conflito cognitivo provoca
acomodações. É de considerar também novos conceitos e noções, como a teoria do
esforço pessoal, iniciativa pessoal e controlo. “A auto-consciência é (de)limitada pelo
desenvolvimento cognitivo do sujeito, que começa por ser egocêntrico e só atinge um pleno
desenvolvimento no período das operações formais.” (Costa, 2001, p.143-144).
A teoria da auto-regulação centra-se no self, no empenho, nas tarefas escolares
e nas estratégias para trabalhar com elas, segundo esta perspectiva (Costa, 2001).
3. Perspectiva sócio-cognitiva
A perspectiva sócio-cognitiva foca-se na interacção sujeito-meio-comportamento,
sendo a auto-regulação motivada pela auto-eficácia e pelos resultados da realização
(Costa, 2001; Zimmerman & Schunk, 2003).
Esta perspectiva baseia-se na teoria de Bandura (1986), que estuda três
determinantes do funcionamento humano e da auto-regulação, como estando em constante interacção:
factores pessoais (cognições, afectos), circunstâncias ou variáveis do meio e acções ou
comportamentos.
Bandura reconheceu três sub-processos na auto-regulação, que interagem entre si:
auto-observação, auto-julgamento e auto-reacção.
De acordo com Zimmerman (1989), a auto-regulação define-se como o grau de participação dos alunos de forma activa na sua aprendizagem, no aspecto
metacognitivo, motivacional e comportamental. Ao nível metacognitivo, salienta-se a
planificação, definição de objectivos, organização, auto-monitorização e auto-avaliação durante a
aprendizagem, segundo uma atitude auto-consciente, knowledgeable e decisória (Corno, 1989). No âmbito
motivacional, a auto-eficácia, auto-atribuições e o interesse intrínseco pelas tarefas
escolares, fomentador de iniciativa pessoal, esforço continuado e persistência durante o processo de
aprendizagem, seriam os aspectos mais relevantes (Zimmerman, 1990). Respeitante aos aspectos
comportamentais, identificar-se-iam estratégias de selecção, estruturação e criação de ambientes
propícios à aprendizagem.
A abordagem sócio-cognitiva considera que a auto-regulação não se adquire indiferentemente através de interacções com o meio, nem se desenvolve
automaticamente com a idade, sendo resultado da interacção particular entre a aprendizagem de skills e
desenvolvimento (Schunk, 1989). Segundo esta perspectiva, os treinos que visam a auto-regulação
de aprendizagem devem centrar-se não só a nível comportamental, mas também
metacognitivo e motivacional (como por exemplo, as crenças de auto-eficácia para aplicar
determinada estratégia auto-regulada), procurando desenvolver processos como a auto-monitorização dos
progressos, a observação de modelos, estabelecimento de objectivos, comparação sicail,
contingências de reforço, feedback atribucional e treino de estratégias (Schunk, 1989). O mesmo
autor considera os treinos auto-instrucionais os mais apropriados para desenvolver a capacidade
de auto-regulação da aprendizagem.
A abordagem sócio-cognitiva refere as expectativas dos resultados como sendo os
determinantes da motivação, sendo que, posteriormente, Bandura (citado por
Zimmerman, 1989) inferiu a existência de um outro construto motivacional: a auto-eficácia, que
seria a percepção da competência para promover acções necessárias para o alcance de determinados
índices de realização, orbitando-se na avaliação pessoal das performances, nos domínios da
tarefa.
Zimmerman (1989) considera dois tipos de expectativas nesta perspectiva: a
expectativa de eficácia pessoal e a expectativa dos resultados. As expectativas de eficácia
pessoal relacionam-se com a selecção de tarefas, persistência, esforço despendido e obtenção de
capacidades, dependendo da auto-conceito de competência, da sua avaliação e do grau de
dificuldade da tarefa (Schunk, 1989). Zimmerman refere que os alunos auto-regulados e auto-controlados
possuem um elevado sentimento de auto-eficácia das suas capacidades, sendo mais
perseverantes,
persistentes, esforçados e motivados intrinsecamente para as suas actividades,
recorrendo a mais estratégias de aprendizagem a fim de alcançarem os objectivos a que se propõem e
obterem melhor desempenho nas tarefas.
A intervenção do Psicólogo num estabelecimento de ensino especial
É fundamental ter em conta que a utilidade do contexto institucional em que se
desenvolve o processo de educação é o resultado da intervenção do meio na criança em
desenvolvimento. A intervenção do meio pode ser causadora de danos irreversíveis, ou incrementadora
do potencial de desenvolvimento na criança (Hunt, 1971; Lourie, 1971, citados por Greenspan &
colaboaradores, 1975).
As crianças portadoras de deficiência visual, objecto de cuidados nos
estabelecimentos de ensino especial, são crianças que estão lesadas no seu processo de
desenvolvimento. Estas crianças encontram-se numa situação fragilizada e expostas às influências do
meio envolvente, isto é, são incapazes de retirarem alguns ganhos das influências positivas do
meio.
Assim sendo, assume particular relevância a organização do contexto
institucional, onde se concedem cuidados às crianças com este tipo de deficiência, devendo o mesmo ser
tido em consideração na preparação de programas de educação dirigidos a estas crianças.
A vida familiar e social em que estas participam é também merecedora de atenção especial. É
ainda de referir que, a maioria dos professores e dos educadores não têm formação especial para
prestar cuidados especiais a estas crianças não dando relevo a certas questões especiais (Hunt,
1971; Lourie, 1971, citados por Greenspan & colaboaradores, 1975). Deste modo, consideramos
ser importante uma maior formação na área da educação especial, para que possa ser dada mais
atenção a crianças portadoras de deficiência, contribuindo assim para um melhor
desenvolvimento destas.
O psicólogo tem grandes responsabilidades quando é contratado para trabalhar num
estabelecimento de ensino especial. Este deve adoptar um referencial teórico na
sua intervenção para poder seleccionar os fenómenos ou factos de uma realidade (Hunt, 1971;
Lourie, 1971, citados por Greenspan & colaboaradores, 1975).
Existem três aspectos que o psicólogo deve ter em consideração: o primeiro,
relaciona-se com a dinâmica interna da instituição; o segundo aspecto refere-se à interacção
contingente da instituição com o sistema social onde se integra; e por fim o terceiro diz
respeito às relações pessoais, quer dos educadores com as crianças, quer dos elementos da equipa
pedagógica entre si. No entanto, o que no fundo é importante é evitar os sentimentos de
desvalorização pessoal nos portadores de deficiência visual e fomentar ganhos de auto-estima, quer nos
educadores, quer nas crianças (Hunt, 1971; Lourie, 1971, citados por Greenspan & colaboradores,
1975).
Pode dizer-se que, para o psicólogo que é contratado para um estabelecimento de
ensino especial, a criança, a família, o educador, a equipa pedagógica e a instituição,
são seres individuais ou colectivos que necessitam de atendimento específico, a partir do
que cada um deles traz relativamente à problemática da deficiência e da inadaptação. Podemos
dizer que a criança é a portadora da problemática, a família é o contexto social que
enquadra o sofrimento inerente à deficiência e à inadaptação, o educador é o agente social
reabilitador ou cuidador, a equipa é o contexto social que organiza a acção educativa e de reabilitação, e a
instituição é o sistema sócio-técnico (Hunt, 1971; Lourie, 1971, citados por Greenspan &
colaboaradores, 1975).
Programas de Escolas Especiais vs. Programas de Educação Integrada
Os deficientes visuais (crianças cegas, cuja visão é nula ou reduzida) podem ter
acesso a dois tipos essenciais de programas educativos:
-
Programas de escolas especiais;
-
Programas de educação integrada.
No que se refere às escolas especiais são instituições de ensino em que todos os
alunos são deficientes visuais. Muitos deles são internatos onde as crianças vivem e
estudam durante todo a ano lectivo, indo só a casa aos fins-de-semana (Horton, 2000).
Podemos, então, dizer que as escolas especiais constituem o programa educativo
das crianças deficientes visuais mais importante. Este programa conta com algumas
vantagens, como o facto de os docentes das escolas especiais receberem formações especiais ou
contínuas em educação de crianças cegas ou com visão reduzida; uma vez que todos os alunos
são cegos ou com uma visão reduzida, a instituição dispõe mais facilmente de meios para obter
equipamentos especiais, obras em Braille, livros impressos em caracteres ampliados e
materiais destinados ao tacto; regra geral o número de alunos por turma é mais reduzido, e, por fim,
como normalmente os alunos são internos, os educadores dispõem de mais tempo, antes, durante e
depois das aulas, para ensinar aos deficientes visuais determinadas matérias especiais que não
figuram no programa, tais como a orientação e a locomoção, as actividades da vida diária
(Horton, 2000).
Quanto aos programas de educação integrada os deficientes visuais frequentam uma
escola regular na zona onde vivem. Normalmente frequentam as mesmas escolas que os seus
irmãos, têm exactamente as mesmas aulas que os alunos normovisuais, mas dotando de uma
ajuda complementar ou de um apoio pedagógico dado por um docente especializado no
trabalho com cegos (Horton, 2000).
Algumas vantagens destes programas têm a ver com o facto de estes alunos
necessitarem de cuidados especiais e como frequentam escolas regulares, não precisam de se
separar dos seus pais, irmãos e irmãs, continuando, assim, a viver no seio das suas famílias;
este tipo de programa é menos dispendioso do que as escolas especiais e nos programas integrados, as
crianças cegas ou com visão reduzida são misturadas com as crianças normovisuais, o que faz com
que possam brincar e aprender diariamente (Horton, 2000).
No entanto, ambos os programas têm certas vantagens e desvantagens. Por isso não
podemos dizer qual o melhor programa para uma criança de deficiência visual. É,
pois, muito mais importante conhecer todas as vantagens e desvantagens destes dois programas
do que saber qual deles é o melhor (Horton, 2000).
Escola inclusiva é um local onde todos os alunos aprendem em conjunto, sempre
que possível, independentemente das dificuldades e diferenças que apresentam
(Declaração de Salamanca, 1994).
A integração é um processo caracterizado pela diversidade, podendo ser encarado
através de diferentes perspectivas: legal, social, pessoal e curricular (Bayliss, 1995).
Limitações existentes no espaço escolar
Hoje em dia, apesar de alguns progressos, ainda se verificam algumas
dificuldades em contexto escolar. Essas dificuldades traduzem-se no acesso à documentação
bibliográfica (de estudo, de consulta e de referência) e à recolha de informação nas aulas, o
método de estudo, a partir de textos gravados aulas/livros/revistas/artigos/e outros) obriga a um
trabalho acrescido, moroso e penoso, pois prevê a sua audição para posterior organização,
dificuldades em recolher informação de carácter geral que geram nos placares de avisos/informações,
dificuldade em seguir, com o mesmo ritmo dos colegas, aulas que pressuponham análise textual ou
realização de cálculos e dificuldade no reconhecimento dos espaços da escola e meio envolvente
(GAE,2009).
No entanto, não há só dificuldades no contexto escolar, como também há boas
práticas neste mesmo contexto. Por exemplo, a imprescindibilidade de centros de recursos
que editem toda a documentação necessária à sua formação, em formato adequado: Braille,
áudio, amplificações, relevos ou digital; a distribuição antecipada dos textos a
utilizar nas aulas práticas, em formato adequado e disponibilização de catálogos e documentação em
suportes susceptíveis de serem trabalhados por deficientes (GAE,2009).
No que diz respeito à orientação e mobilidade no condicionamento visual é
importante defender apoios no âmbito da mobilidade, orientação e reconhecimento dos espaços
das salas de aula, dos locais de estudo, de convívio, de lazer, circuitos de entrada e saída
da escola, entre muitos outros, especialmente nos primeiros meses de contacto com o
estabelecimento e uma disponibilização de apoios pedagógicos e didácticos específicos na maior
selectividade de bibliografia a consultar; majoração do tempo na prestação das provas escritas;
instituir época especial para a realização de exames e incentivar os alunos a aproveitarem os
tempos lectivos dos docentes dedicados ao atendimento dos alunos, pois é indispensável o
contacto estreito com os docentes para que o apoio seja o mais personalizado possível (GAE,2009).
O psicólogo tem um contributo de elevada importância junto da população de
portadores de deficiência visual no contexto escolar, pois é uma mais valia na prestação de
apoio sócioafectivo, tanto para o indivíduo portador, como para a sua família que por vezes não tem
informação suficiente para ultrapassar certos problemas resultantes da
integração escolar de uma criança invisual numa escola integrativa (GAE, 2009).
Existem diferenças nas necessidades de apoio psicológico sentidas por um
indivíduo cego à nascença, e um indivíduo que adquire a cegueira numa outra etapa do seu
desenvolvimento. Um indivíduo que adquire a cegueira, pode eventualmente ter mais dificuldade na
aceitação do seu estado, assim como na forma de lidar com este nos momentos inicias, isto é, é
necessária uma adaptação para a realização das actividades do quotidiano (ACAPO,2009).
O psicólogo pode diminuir a revolta, o sentimento de inutilidade, ou qualquer
outro problema do foro psicológico de um portador de deficiência visual, através do
aconselhamento e do recurso a terapias cognitivo-comportamentais, terapias de grupo, entre
outras. Associações centradas no apoio à deficiência visual constituem uma ajuda fulcral para estes
indivíduos, pois permitem a interacção com outros sujeitos na mesma situação, de forma a
partilhar vivências e experiências; ajudam também no apuramento e redireccionamento dos restantes
sentidos para a reaprendizagem das tarefas diárias. Estas recebem, na sua generalidade, a
colaboração de um psicólogo (ACAPO, 2009).
Para melhor intervir no indivíduo com deficiência visual, o psicólogo pode
aplicar provas de avaliação psicológica. No entanto, enfrenta algumas dificuldades nesta área,
já que as provas adaptadas a este tipo de deficiência são praticamente inexistentes. Um exemplo
desta inadaptabilidade são as provas projectivas, sendo estas impossíveis de aplicar.
Tendo em conta esta lacuna, consideramos que é necessário haver iniciativa por parte dos
psicólogos para o desenvolvimento e/ou adaptação de provas de avaliação psicológica, bem como
investir na investigação nesta área (J. Mário, 2009).
No contexto escolar, o psicólogo pode ajudar os professores/educadores a saberem
lidar melhor com estas crianças e adolescentes. Por outro lado, estes alunos
necessitam de um apoio especializado para uma melhor adaptação ao espaço físico e às exigências
educativas (J. Mário, 2009).
CONCLUSÃO
A deficiência visual é um tipo de deficiência que carece de apoio psicológico,
inclusive no contexto educativo. Este trabalho permitiu-nos contactar com as dificuldades que os portadores de
deficiência visual possuem, desde as suas dificuldades do quotidiano, às actividades de motricidade/mobilidade. Para isso, foi valioso o contributo que obtivemos
através das entrevistas que realizámos.
Constatámos que existem ainda lacunas a vários níveis: apoio psico-pedagógico,
formação de professores/vigilantes e outros profissionais na área educativa,
recursos materiais de apoio ao estudo, materiais lúdicos, entre muitos outros. O psicólogo tem um contributo de elevada importância junto da população de
portadores de deficiência visual. É uma mais-valia na prestação de apoio sócio-afectivo, tanto
para o indivíduo portador, como para a sua família.
A intervenção junto do deficiente visual passa em primeiro lugar por
desdramatizar e desmistificar a situação, em segundo, por ajudar o indivíduo na sua preparação
tendo em vista o ajustamento à nova realidade e em terceiro na integração da comunidade.
Existem diferenças nas necessidades de apoio psicológico sentidas por um
indivíduo cego à nascença e um indivíduo que adquire a cegueira numa outra etapa do seu
desenvolvimento. Um indivíduo que adquire a cegueira, pode eventualmente ter mais dificuldade na
aceitação do seu estado, assim como na forma de lidar com este nos momentos inicias, isto é, é
necessária uma adaptação para a realização das actividades do quotidiano.
O psicólogo pode diminuir a revolta, o sentimento de inutilidade, ou qualquer
outro problema do foro psicológico de um portador de deficiência visual, através do
aconselhamento e do recurso a terapias cognitivo-comportamentais, terapias de grupo, entre
outras. Associações centradas nesta deficiência constituem um apoio fulcral a estes indivíduos, pois
permitem a interacção com pessoas na mesma situação, de forma a partilhar vivências e
experiências; e ajudam no apuramento e redireccionamento dos restantes sentidos para a
reaprendizagem das tarefas diárias. Estas recebem, na sua generalidade, a colaboração de um
psicólogo.
Para melhor intervir no indivíduo com deficiência visual, o psicólogo pode
aplicar provas de avaliação psicológica. No entanto, enfrenta algumas dificuldades nesta área,
já que as provas adaptadas a este tipo de deficiência são praticamente inexistentes. Um exemplo
desta inadaptabilidade é as provas projectivas, sendo estas impossíveis de aplicar.
Tendo em conta esta lacuna, consideramos que é necessário haver iniciativa por parte dos psicólogos
para o desenvolvimento e/ou adaptação de provas de avaliação psicológica, bem como
investir na investigação nesta área.
No contexto escolar, o psicólogo pode ajudar os professores/educadores a saberem
trabalhar melhor com estas crianças e adolescentes. Estes alunos necessitam,
também, de um apoio especializado para melhor se adaptarem ao espaço físico e às exigências
educativas.
BIBLIOGRAFIA
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ANEXOS
Entrevista à professora Celina
O nosso grupo considerou importante falar com Celina Miranda, professora de
ensino básico e com formação em Braille. Foi e é (agora só como prestadora de apoio),
professora de uma aluna invisual desde nascença. Ana Filipa tem dez anos e é uma aluna do
quinto ano.
Grupo: Já há quantos anos é professora de alunos invisuais?
Celina: Há 23 anos.
G: Neste momento quantos alunos tem?
C: Neste momento só a Ana Filipa.
G: E já é professora dela há muito tempo?
C: Desde o primeiro ano.
G: Qual o seu método de ensino?
C: Trabalho com a Filipa sempre em Braille.
G: Foi fácil para a Filipa adaptar-se ao Braille?
C: No inicio foi difícil adaptar-se. A parte escrita foi mais complicado de
aprender do que a leitura. É necessária uma certa sensibilidade que ao princípio a Filipa não tinha. E quando
não se tem sensibilidade não adianta ensinar o abecedário.
G: Como pede o material necessário para a Filipa?
C: Os livros são pedidos ao Centro de Recurso de Lisboa.
G: Estes livros são diferentes dos outros alunos normovisuais?
C: Não, são exactamente iguais só que em Braille.
G: E como se lê gravuras ou mapas?
C: As gravuras são substituídas por legendas ou esquemas muito breves e simples.
Os mapas vêm com relevo num papel que se chama termoforme.
G: E os testes também são iguais?
C: São, o que pode acontecer é mudar o conteúdo da pergunta para que esta fique
mais simples.
G: E os testes são impressos ou feitos à mão?
C: Todos os testes são passados à mão. Só nas escolas de referência é que têm
impressoras próprias para imprimir trabalhos em Braille.
G: E a Filipa tem o mesmo tempo que os restantes alunos para fazer os testes?
C: A Filipa normalmente faz os testes na minha sala, não faz na sala com os
outros alunos para não se distrair e tem mais tempo sempre que for preciso.
G: E como se processa depois a correcção dos testes?
C: A Filipa responde tudo em Braille. Tal como os professores me dão os testes
para eu passar em Braille, a Filipa depois de fazer os testes dá-me a mim e eu passo a transcrição para negro
para dar aos professores para poderem corrigir.
G: Então a Filipa está integrada numa turma normal?
C: Sim, a Filipa está integrada numa turma de 20 alunos. Tem exactamente o mesmo
horário que os restantes colegas, pois não a podemos sobrecarregá-la nem retirar alguma disciplina já que
a Filipa tem que ser avaliada em todas as disciplinas do programa de quinto ano. Mas em certas disciplinas, como
Educação Física e Estudo Acompanhado, retiramos alguns minutos para áreas específicas de Braille.
G: E não recebe apoio dos restantes professores?
C: Há professores que a ajudam isoladamente quando sentem que a Ana tem mais
dificuldade em alguma matéria.
G: Quais as disciplinas que ela tem mais dificuldade?
C: Matemática e Francês.
G: E nas disciplinas em que tem mais dificuldade como faz?
C: Nas aulas destas disciplinas acompanho a Filipa, ditando os sumários que a
professora escreve no quadro, e quando são palavras novas, dito letra a letra.
G: Qual a disciplina preferida?
C: TIC. Ela gosta de mexer no computador. É claro que ela usa um computador com
um programa próprio para invisuais, que contém gravação de voz. Como também usa uma máquina
calculadora a matemática áudio.
G: A Filipa recebe algum apoio?
C: A Filipa recebe apoio da ACAPO de Viseu.
G: Em que consiste essa ajuda?
C: Todas as semanas vem de Viseu uma técnica e uma psicóloga ensinar as técnicas
de mobilidade, actividades da vida diária e técnica de bengala.
G: Mas nunca teve nenhuma ajuda psicológica?
C: Não, nunca.
G: E acha que não precisa?
C: Toda a ajuda de um psicólogo nunca é demais. Mas acho que na altura em que a
irmã nasceu ela deveria ter tido esse apoio. Ela sentiu-se um pouco revoltada, talvez com medo de que as
pessoas de quem ela gostava dessem mais atenção à irmã do que a ela.
G: E agora?
C: Agora está feliz com o nascimento da irmã. Está sempre a mostrar a foto da
pequenina aos amigos.
G: A Filipa alguma vez fez avaliação psicológica?
C: Que eu saiba não. Não consta no relatório da Filipa.
G: Defende que os alunos invisuais deveriam frequentar escolas de referência?
C: Na minha opinião era bom que as crianças frequentassem esse tipo de escolas
mas a maior parte das crianças que frequentam essas escolas têm que se separar dos pais. Isto porque
há escolas de referência só em alguns distritos.
A escola de referência mais perto daqui é de Vila Real.
G: Na sua opinião em que medida o psicólogo pode ajudar uma criança invisual?
C: Ajuda na medida em que a sua formação pode ajudar a criança na revolta que
possa sentir como sendo cega. Também é fundamental no acompanhamento dos pais que por vezes a família
fica desestruturada quando nasce uma criança cega.
Entrevista ao psicólogo José Mário da ACAPO, Delegação de Coimbra
Consideramos importante entrevistar José Mário, psicólogo da ACAPO (delegação de
Coimbra) e portador de deficiência visual.
Grupo: Existem instrumentos de avaliação psicológica adequados ao portador de
deficiência visual?
José Mário: Existem alguns materiais, tais como as escalas de desenvolvimento
para crianças mas na ACAPO são utilizadas muito esporadicamente e muitas vezes pelos Terapeutas
Ocupacionais. Quanto a escalas de inteligência ou de personalidade não são utilizadas na ACAPO porque não existem
meios económicos suficientes. Existe uma escala de avaliação a ser desenvolvida nos E.U.A. mas da qual eu não
tenho mais informação. As provas de realização não são fiáveis, porque “ver não é a mesma coisa que
tocar”. A modalidade perceptiva do tacto não funciona da mesma forma que a visão. Um visual passa do
global para o pormenor, mas um invisual tem que analisar o pormenor, depois estudar o global e posteriormente
passar novamente para os pormenores dos objectos, o que faz com que não seja possível compara tempos. Quanto às provas escritas, os testes podem ser impressos em Braille.
G: Como fazer técnicas projectivas?
J.M.: É impossível. Apenas podem ser feitos testes com palavras, de
completamento de frases por exemplo.
Foi uma vez feito um teste projectivo baseado em música.
G: Como é que o psicólogo pode ajudar as pessoas com deficiência visual?
J.M.: Uma pessoa com deficiência visual pode estar sujeita às mesmas
vulnerabilidades que uma outra pessoa qualquer. E pode estar sujeita ainda a outras tantas: quando já estão
numa situação de fragilidade emocional, algumas atitudes das outras pessoas (ex.: “Ai coitadinho…”), podem levar a que
se sintam pior. Quanto à intervenção no seio da Família, se por um lado as famílias por vezes
não lidam da melhor forma com esta deficiência, pois integram as normas existentes na sociedade, por outro
uma família está muito possibilitada à ocorrência de desestruturação. Todas as áreas de intervenção que existem na psicologia existem para os cegos.
Mas há uma área da psicologia cuja importância se destaca, que é a reabilitação. No fundo, uma pessoa portadora de deficiência visual sofre uma grande carência,
porque não ver implica uma privação significativa daquilo que é o contacto com a realidade. O portador de deficiência visual não tem noção da sua imagem corporal e por isso
mesmo, o próprio toque é muito penalizador. O invisual apresenta frequentemente rigidez corporal e
estereotipias, tais como balanceamentos.
Neste sentido, há duas questões importantes para um psicólogo: será que estas
são reflexo de alguma coisa de psicológico? E até que ponto estas estereotipias motoras serão um obstáculo à
integração social?
G: O que é necessário ser feito por um psicólogo/ técnico?
J.M.: Um psicólogo deve intervir na interiorização que o invisual faz destas
estereotipias, de forma a tentar perceber o significado destes manuseamentos/contrabalanceamentos. É necessário que haja uma colaboração entre os psicólogos e os terapeutas
ocupacionais, professores de Braille e professores de Orientação e Mobilidade. É também importante ter
atenção especial às nas áreas da orientação espacial, da discriminação táctica, auditiva e quinestésica, do
treino da motricidade fina, e ainda da organização pessoal. É também necessária uma atenção especial à situação da
marginalização social.
G: Quais são os apoios efectuados pela ACAPO?
J.M.: A ACAPO não trabalha ainda com crianças. Temos neste momento uma sala de
estimulação e desenvolvimento, que se baseia em dois programas, um da Fundação Lara Mara no
Brasil e outro da Organização Nacional de Cegos de Espanha. Ensinamos a adultos Braille, informática, a
assinatura a tinta, e a desenvolver a destreza da percepção táctil ao treinar a motricidade fina e mobilidade da mão. Temos como projecto a curto prazo a criação de uma sala polivalente em que o
objectivo é “iniciar” a vida sem ver para crianças e adultos. Para as crianças irá incidir em aspectos mais
psico-educativos, enquanto para os adultos irá sobretudo focar-se na aprendizagem de actividades da rotina
quotidiana. Temos também uma intervenção disciplinar que se intitula “Oficinas Corpo e
Mente”, em que se trabalham dinâmicas de grupo ao nível das competências psico-emocionais e competências de
reabilitação.
G: Considera melhor para uma criança portadora de deficiência visual fazer o seu
percurso escolar numa escola dita normal ou numa especializada?
J.M.: O objectivo do Ministério da Educação é integrar estas crianças numa
escola normal, mas estas escolas muitas vezes não investem muito nestas crianças nem têm as condições
necessárias. Numa escola especializada as crianças parecem sair muito bem preparadas mas sem muitas competências sociais.
A grande lacuna das escolas especializadas é que como há poucas muitas vezes, as crianças que viviam mais
longe, tinham que ser retiradas da família. Antigamente existiam as chamadas equipas de apoio itinerante que eram a solução
ideal mas que entretanto foram extintas. Há muitas crianças cegas a serem apoiadas por pessoas não especializadas na
deficiência visual. A melhor forma de aprendizagem para um cego é sentir as coisas no real.
ϟ
APOIO PSICOPEDAGÓGICO AO DEFICIENTE VISUAL
Trabalho realizado no âmbito da Unidade Curricular de Psicologia da Educação,
2009
autores:
Ana Carolina de Campos Sousa Soares, Andreia Sofia Tomás Fontinho, Cristiana Raquel Alves Duarte, Inês Rodrigues Marques, Mariana Sabina Felisberto Matias
Estudantes do Mestrado Integrado em Psicologia da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra
(Portugal)
www.psicologia.com.pt
16.Fev.2015
publicado
por
MJA
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